O Super-Homem nasceu no número um da revista Action Comics, publicada pela Detective Comics, Inc (depois National Comics Publication) em junho de 1938, criado por dois jovens estudantes Jerry Siegel (texto) e Joe Shuster (desenhos). Siegel inspirou-se no romance de ficção científica, Gladiator, escrito por Philip Wylies em 1930 e baseou sua historia em três temas, que depois se tornaram clichês: o visitante de um outro planeta, a criatura super humana e a dupla identidade.
Pouco antes do Planeta Kripton ser destruído, um bebê, filho do cientista Jor-El, é enviado ao espaço num foguete.Aterrissando na Terra, o bebê é encontrado por um casal de fazendeiros, Jonathan e Martha Kent. Eles adotam a criança e logo descobrem que ela possui poderes sobrehumanos, como correr mais rápido do que um trem, saltar sobre edifícios, levantar pesos tremendos, etc. Aos poucos os poderes vão se tornado ilimitados: ser invulnerável a qualquer tipo de arma, voar com mais velocidade do que a luz ou possuir uma visão raio-X. Só um elemento é capaz de afetá-lo: a kriptonita, um minério do seu planeta natal.
Os Kent lhe dão o nome de Clark Kent e lhe dizem: “Esta sua força – você deve escondê-la das outras pessoas porque senão elas ficarão com medo de você! Mas quando o momento certo chegar, deverá usá-la em beneficio da humanidade!”
Após a morte de seus pais adotivos, Clark vai trabalhar como repórter no Planeta Diário, porque imagina que ali poderá ter conhecimento das notícias mais prontamente e assim ter melhores condições de ajudar, como Super-Homem, os oprimidos. Na redação Clark conhece a colunista Lois Lane e sempre que ela é molestada por bandidos, ele finge desmaiar e minutos depois surge como o Super-Homem para salvá-la das garras de seus agressores. Ironicamente, Clark Kent está em constante competição consigo mesmo pela mulher que ama.
O aparecimento dos quadrinhos do Super-Homem no Brasil aconteceu em 1939 no suplemento Gazetinha do jornal “A Gazeta”. Em 1940, Adolfo Aizen adquiriu os direitos de publicação e as aventuras do Homem de Aço passaram a sair na revista “O Lobinho”. Clark começou se chamando Edu e Lois era Miriam.
O Super-Homem foi a suprema fantasia de todo leitor que sonhava ser alguém maior ou mais poderoso do que ele realmente era, uma combinação dos homens fortes da mitologia e os heróis da ficção e do cinema favoritos de Siegel e Shuster. O nome da cidade onde o Super-Homem vive suas aventuras, Metrópolis, vem do filme de Fritz Lang com este título e o nome de Clark Kent, dos atores de cinema, Clark Gable e Kent Taylor.
Artisticamente, a versão rudimentar e amadorística de Joe Shuster caiu no esquecimento, depois que ele deixou de desenhar o personagem. O traço de Wayne Boring, um dos vários desenhistas que o sucederam, foi o que prevaleceu, sendo considerado o melhor de todos.
O personagem chegou às telas em setembro de 1941 primeiramente sob a forma de desenhos animados, realizados por Max e Dave Fleischer e distribuídos pela Paramount. Eram ao todo 17 cartoons coloridos, exibidos no Brasil com títulos como Super-Homem, O Autobala, O Terremoto Elétrico, O Vulcão, A Mão Infalível, Sabotagem e Cia., O Segredo da Múmia, etc. e neles foi utilizada a voz de Clayton “Bud” Collyer, o Super-Homem da versão radiofônica.
Em 1940, a Republic Pictures tentara obter os direitos de produzir um seriado sobre o Super-Homem, mas seus esforços foram em vão. Até que, em 1948, Sam Katzman, um produtor que trabalhava para a Columbia, animou-se com o projeto, convocando para a direção Spencer Gordon Bennet e Thomas Carr.
Katzman tinha a fama de saber controlar muito bem os custos de produção e em O Super-Homem / Superman ele conseguiu isso, utilizando intérpretes relativamente desconhecidos, cenários já existentes e filmagens em locação, prática que, na época, era econômica.
Quanto aos efeitos especiais, Katzman experimentou inicialmente seqüências de vôo ao vivo, suspendendo o ator por fios e usando back projection de nuvens, porém como os fios apareciam na tela, terminou optando pelo desenho animado.O ator foi dublado em uma seqüência pelo stuntman Paul Stader.
Kirk Alyn foi escolhido para o papel principal, mas seu nome somente aparecia nos créditos relacionado a Clark Kent e, estranhamente, ali se dizia que o Super-Homem era interpretado …“por ele próprio”. Alyn faria depois mais três seriados na Republic, A Filha de Don Q / Daughter of Don Q / 1946, O Segredo dos Túmulos / Federal Agents vs. Underworld Inc./ 1949 e O Rei dos Espiões / Radar Patrol vs. Spy King / 1950 e um seriado na Columbia, O Falcão Negro / Blackhawk / 1952, tendo sido cognominado “O Último Rei dos Seriados”.
Nos outros papéis de destaque estavam Noel Neill (Lois Lane), Pierre Watkin (Perry White, redator-chefe do jornal O Planeta Diário), Tommy Bond /(Jimmy Olsen) e Carol Forman como a malvada “Spider Lady”, a rainha do submundo que ameaçava destruir toda a cidade de Metrópolis com um raio mortífero e acabava sendo vitimada por ele.
Em 1950, a Columbia fez uma continuação O Homem Atômico contra o Super-Homem / Atom Man vs. Superman com direção apenas de Spencer Bennet e ainda com Kirk Alyn e Noel Neill liderando o elenco. O vilão desta vez era o arquiinimigo do herói, Lex Luthor, vivido por Lyle Talbot (usando uma peruca de látex para esconder das câmeras os seus cabelos), coadjuvante de certo renome em longas-metragens na década de trinta.
No ano seguinte, os produtores Robert Maxwell e Bernard Luber associaram-se ao colega Barney Sarecky e, sob o pseudônimo coletivo de “Richard Fielding”, entregaram à Lippert o roteiro de um longa-metragem, Superman and the Mole Men. A Lippert resolveu filmá-lo não com Kirk Alyn mas com George Reeves, ator que já tinha um razoável currículo cinematográfico pois havia participado de … E O Vento Levou / Gone with the Wind / 1939, trabalhado ao lado de Merle Oberon, Claudette Colbert e Marlene Dietrich em filmes de prestígio, em séries como Hopalong Cassidy e Jim das Selvas e, finalmente, conquistado o papel principal no seriado Os Cavaleiros do Rei Artur / The Adventures of Sir Galahad / 1949. Na nova versão do Super-Homem, Lois Lane era Phyllis Coates e , por motivo de poupança, as figuras de Perry White e Jimmy Olsen foram extirpadas.
Entretanto, na série de tevê que os mesmos produtores realizaram em seguida como o mesmo Reeves, eles voltaram, interpretados de Jack Larson e John Hamilton, criando-se ainda o personagem do inspetor William J. Hamilton da Polícia de Metrópolis, encarnado por Robert Shayne. Nas seqüências de vôo, George Reeves começou alçado por fios, como uma marionete e depois o técnico Si Simonson providenciou um optical work extremamente competente.
A versão oficial divulgada pela imprensa de que o pobre George Reeves ficou tão marcado como Super-Homem, que acabou se suicidando por não conseguir sobreviver no mundo do Cinema, tem sido contestada recentemente. Os autores Sam Kashner e Nancy Schoenberger (Hollywood Kryptonite: The Bulldog, the Lady , and the Death of Superman, Booksurge, 2006) sustentam que a amante de Reeves, Toni Mannix, esposa do gerente geral da MGM, Eddie Mannix, planejou sua morte. E.J. Fleming (The Fixers, McFarland, 2005) diz que a assassina foi uma outra amante de Reeves, Leonore Lemon.. Mas tudo não passa de especulação.
Quando a Fawcett Publishing decidiu publicar sua nova linha de histórias em quadrinhos, escolheu o escritor Bill Parker para liderar o empreendimento. Juntamente com o artista C.C. Beck (Charles Clarence Beck) ele criou o Captain Thunder para o número um da Whiz Comics, que afinal nunca entrou em circulação. Pouco antes do lançamento da revista, o personagem foi modificado para Capitão Marvel (Captain Marvel), surgindo pela primeira vez em fevereiro de 1940 no número dois da Whiz.
Vestindo um uniforme vermelho e dourado com capa branca curta e modelado na imagem física do ator cinematográfico Fred MacMurray, o novo herói tornou-se logo um enorme sucesso, ultrapassando em venda o seu antecessor e se tornando o personagem dos quadrinhos mais popular dos anos quarenta.
O herói surgiu assim: o jovem Billy Batson, pobre órfão que trabalhava como jornaleiro, estava vendendo seus jornais no metrô, quando uma figura misteriosa o chamou e mandou que o seguisse através de um túnel, até chegar a uma câmara na qual, sob um pomposo trono de mármore, estava sentado um ancião de longas barbas brancas. “Seja bemvindo, Billy Batson”. “Como o senhor sabe o meu nome?”, indagou o jovem surpreso. “Eu sei tudo. Eu sou Shazam!”, foi a resposta do velho. De repente, ouviu-se o barulho de um trovão, vindo não se sabe de onde, e uma inscrição explicando o significado de cada letra da palavra Shazam, apareceu na parede daquele local subterrâneo: S tem a ver com Salomão (Sabedoria), H com Hércules (Força), A com Atlas (Resistência), Z com Zeus (Poder), A com Aquiles (Coragem) e M com Mercúrio (Velocidade). O velho então explicou: “Durante 3.000 anos eu usei a sabedoria, a força, a resistência, o poder, a coragem e a velocidade que os deuses me deram, para combater as forças do Mal. Agora você vai ser o meu sucessor. Basta falar o meu nome e se tornará o homem mais forte e poderoso do mundo: o Capitão Marvel!”.
O êxito do personagem deveu-se não somente à indubitável identificação das crianças com o jovem Billy Batson como também às historias bem humoradas elaboradas por seus roteiristas (principalmente Otto Binder), à arte caricatural de C.C. Beck e à impressionante galeria de vilões, entre os quais se destacavam: Thaddeus Bodog Sivana, o Dr. Sivana (no Brasil, Dr. Silvana), descrito como o cientista mais louco do mundo; Mr.Mind (Sr. Cérebro), uma centopéia verde com óculos de grau que falava usando um pequeno rádio pendurado no pescoço e o tigre falante Tawky Tawny (Sr. Malhado). Além desses coadjuvantes pitorescos, foi criada uma Mary Marvel, um Capitão Marvel Jr., um Tio Marvel (Dudley) e até um Coelho Marvel (Hoppy), chamado aqui no nosso país de Joca Marvel.
Na sua primeira história, o Capitão Marvel desbarata um bando de sabotadores de estações de rádio comandados pelo Dr. Silvana. O proprietário da estação Amalgamated Broadcasting então oferece um emprego para Billy como repórter radiofônico como gratidão por seus esforços na luta contra os malfeitores.
No Brasil, o Capitão Marvel apareceu pela primeira vez em 1943 na revista “Gibi Mensal”, onde Billy Batson recebeu o nome de Billy Gordon.
Quando o Capitão Marvel da Fawcett começou a vencer nas vendas o Super-Homem da National Comics Publication, esta empresa iniciou um processo judicial contra a sua concorrente, alegando que o Capitão Marvel era um plágio do Super-Homem.
A batalha judicial prolongou-se durante anos, encerrando-se em 1953 com um acordo proposto pela Fawcett que, devido à queda de arrecadação de sua revista no começo dos anos cinqüenta, havia decidido dedicar-se a outras atividades. Assim, o Capitão Marvel ficou esquecido até 1973, quando a National Comics, justamente a editora responsável por sua retirada extemporânea de cena, adquiriu da Fawcett os direitos de publicação do personagem. No entanto, a nova revista teve que se chamar Shazam!, porque desde 1967 a Marvel Comics havia se tornado detentora da marca Capitão Marvel, abandonada pela Fawcett, e criara o seu próprio Capitão Marvel.
O seriado da Republic, O Homem de Aço / The Adventures of Captain Marvel / 1941, mudou um pouco o conceito humorístico de C.C. Beck e Otto Binder, que tornou a história em quadrinhos memorável; mas foi realizado com muito senso de profissionalismo e certamente está entre os melhores de todos os tempos.
O herói era personificado por Tom Tyler, cujo rosto angular e físico privilegiado (Tyler fora campeão mundial de levantamento de peso) ajustavam-se perfeitamente ao papel. O ator começara no Cinema no Ben-Hur silencioso, fizera inúmeros faroestes como mocinho, inclusive a famosa série Os Três Mosqueteiros / The Three Mesquiteers, ocasionalmente aparecera como vilão, tal como aconteceu, por exemplo, em No Tempo das Diligências / Stagecoach / 1939 e chegou mesmo a encarnar um dos clássicos monstros da tela, Kharis, a Múmia em A Mão da Múmia / The Mummy’s Hand / 1940.
Entre os outros seriados que ele fez incluem-se: As Aventuras de Buffalo Bill / Battling with Buffalo Bill / 1931, O Fantasma do Oeste / The Phantom of the West / 1932, O Mistério das Selvas / The Jungle Mystery / 1932, Aventuras do Sargento Clancy / Clancy of the Mounted / 1932, O Avião Fantasma / The Phantom of the Air / 1933, O Fantasma Voador / The Phantom / 1943 e tinha portanto respeitável folha de serviço no gênero. Em 1943 ele faria outro grande seriado, O Fantasma Voador / The Phantom.
O bandido que o Capitão Marvel enfrentava era o Escorpião, porém, nos créditos, não saia o nome do ator: usava-se a voz de Gerald Mohr e, no episódio final, descobria-se que ele era o disfarce do personagem Professor Bentley, vivido por Harry Worth.
O ponto alto do espetáculo, dirigido por William Witney e John English, eram as cenas em que o Capitão Marvel voava, nascidas da conjugação dos efeitos especiais providenciados por Harry Zydecker com as acrobacias do stuntman Dave Sharpe. Nas cenas de vôo utilizou-se um boneco feito de papel maché, suspenso por fios e os pulos de Sharpe de um trampolim escondido. Quando o herói aterrissava, Sharpe saltava de uma grande altura, filmado em câmera lenta e, ao tocar o solo, começava a dar uma cambalhota; após um breve corte, Tyler completava a cambalhota e enfrentava os bandidos.
No elenco, além de Frank Coughlin Jr. (como Billy Batson) e Louise Currie (como Betty Wallace), estava o veterano ator da cena muda, Nigel Brulier (como Shazam, o guardião de um mausoléu sagrado no Sião que outorgava os maravilhosos poderes ao jovem ajudante de operador de rádio).
O seriado terminava com o Escorpião sendo desintegrado pelo próprio raio mortífero que inventara e o Capitão Marvel voltava a ser Billy Batson numa nuvem de fumaça mágica.