O CINEMA FRANCÊS DURANTE A OCUPAÇÃO

janeiro 10, 2015

Em 14 de junho de 1940, os alemães ocuparam Paris. O território nacional foi dividido em duas zonas, uma no norte, ocupada pelo exército alemão, que ali exercia um controle administrativo rígido; outra, no sul, chamada “livre’, colocada sob a autoridade de um poder de fato instalado em Vichy, cuja margem de decisão era reduzida. Todos os cinemas foram fechados.

Os alemães entram em Paris

Os alemães entram em Paris

Soldaten Kino

Soldaten Kino

Interior de um Soldaten Kino

Interior de um Soldaten Kino

No dia 25 de junho, assinado o armistício, sessenta cinemas reabriram suas portas em Paris, dos quais quatro ficaram reservados às tropas alemãs (Soldaten Kino): Rex, Marignan, Empire e a sala do Palais de Chaillot. A partir de julho, foram reabrindo outros cinemas. Os três grandes centros de atividade cinematográfica durante a Ocupação eram Paris, Marselha (estúdios de Marcel Pagnol) e Nice (estúdios de La Victorine).

Estúdio de Marcel Pagnol

Estúdio de Marcel Pagnol

Estúdios de La Victorine

Estúdios de La Victorine

A zona ocupada, na qual se incluía a capital, estava submetida ao Propaganda-Abteilung (Serviço de Propaganda) subordinado ao escritório berlinense de Joseph Goebbels e, mais particularmente, à Referat Film (Serviço de Cinema), dirigida pelo dr. Otto Dietrich, chefe de imprensa do Terceiro Reich e depois integrante da SS (após ter sido julgado em Nuremberg e condenado a sete anos de prisão, Dietrich escreveu um livro de memórias, publicado nos Estados Unidos como “The Hitler I Knew”). A zona livre, à qual estavam ligados os estúdios de Marselha e Nice, era diretamente administrada pelo governo de Vichy, tendo sido organizado, no quadro do Ministério de Informação e Propaganda, um Service du Cinéma, colocado sob a direção de Guy de Carmoy e a responsabilidade provisória de Jean-Louis Tixier-Vignancour, para gerir as questões do cinema.

Otto Dietrich

Otto Dietrich

ocupação dietrich best livtoOs alemães tinham como objetivo criar condições favoráveis à expansão de um mercado do filme alemão em todo o país, por meio de uma legislação que propiciasse o controle da indústria de cinema em todos os domínios: pessoal, produção, distribuição e exibição. Assim, uma lei instituiu um estatuto dos judeus, proibindo-os de exercer uma série de profissões como, por exemplo, a de diretor, administrador ou gerente de empresas que tivessem por finalidade a fabricação, distribuição e exibição de filmes cinematográficos; gerente de cinemas, diretor ou cinegrafista, artista dramático, cinematográfico ou lirico. Não obstante, houve exceções: Jean-Paul le Chanois (cujo verdadeiro sobrenome era Dreyfus) conseguiu trabalhar como roteirista e diretor sem ser perturbado.

Jean-Paul le Chanois

Jean-Paul le Chanois

Foram também proibidas a projeção de filmes anglo-saxões (deixando o mercado livre para a produção alemã, alguns filmes italianos difundidos pela firma Scalera e para os filmes franceses); o programa duplo (para abrir mais espaço para os documentários); o formato reduzido de 17,5 mm (permitindo-se apenas o de 16mm para favorecer a Degeto, filial da Tobis, que fabricava esse material); os filmes cujo lançamento na França havia sido anterior a 1 de outubro de 1937 (visando a uma melhor exibição de filmes alemães).

Os outros decretos concerniam às empresas. A reabertura dos cinemas, firmas de distribuição, fábricas e laboratórios só poderia ocorrer com o consentimento do ocupante. Para obter a autorização, era preciso satisfazer condições específicas: aceitar as encomendas vindas da indústria alemã e/ou fabricar material de guerra e/ou permitir participações acionárias. Correndo o risco de não reabrir e de ter de despedir seus empregados, os patrões concordaram.

A censura operava em dois níveis. De uma parte, o Conselho de Controle, que dependia de Vichy. Constituido de representantes dos diversos ministérios (Família, Interior, etc), ele favorecia evidentemente os filmes que exaltavam as virtudes morais saudáveis e redentoras da revolução nacional (vida ao ar livre, retorno à terra, esporte). De outra parte, os censores alemães tinham como missão descartar todo assunto que fosse hostil ao III Reich. Em vista disso, os realizadores procuraram a evasão: o fantástico, a lenda, o passado e o que Jean-Pierre Jeancolas (Histoire du Cinéma Français, 1995) chamou de “o contemporâneo vago”, um presente sem asperezas do qual desapareceu todo traço especifico da época.

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Em novembro de 1940, por iniciativa de Tixier-Vignancour, foi retomada a produção e exibição de jornais cinematográficos, interrompida desde junho. Um único jornal filmado substituiu os cinco difundidos anteriormente: France-Actualités-Pathé-Gaumont, editado em Marselha e resultante da fusão do Pathé-Journal e do France-Actualités (que nascera em 1932 do Gaumont-Actualités). O terceiro jornal filmado francês (Éclair-Journal) e os dois jornais americanos (Actualités Fox-Movietone e Actualités Paramount) foram suprimidos. Mas a liberdade que o France-Actualités-Pathé-Gaumont desfrutava era relativa: uma parte do material filmado utilizado era de origem alemã (40% da ações da Societé France-Actualités estava nas mãos do jornal cinematográfico alemão Deutsche Wochenschau); imagens e comentários estavam submetidos à dupla vigilância dos serviços de informação de Vichy e das autoridades de Ocupação, cujo visto continuava indispensável.

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Ao mesmo tempo, alguns colaboracionistas especializaram-se na produção de filmes de propaganda alemã. Foi o caso de Robert Muzard, que estudou na Universidade de Berlim e depois trabalhou como figurante na UFA, onde conheceu o dr. Dietrich. A partir de 1937, tornou-se produtor de cinema na Tchecoslováquia e na Hungria. Em 1939, Muzard voltou para a França. Mobilizado, foi aprisionado pelos alemães, mas se valeu de suas relações com Diedrich para ser libertado e abrir a produtora Nova-Films. Os alemães lhe impuseram a realização de filmes acusando os judeus (Les Corrupteurs) e franco-maçons (Forces Ocultes) de terem grangrenado o corpo social francês. Outro colaboracionista, conhecido como M. Badal, de origem armênia e nacionalidade iraniana, frequentou igualmente o meio cinematográfico alemão nos anos 1930. Em 1942, os alemães deram-lhe permissão para instalar a sua produtora Busdac em Paris e o encarregaram de realizar filmes que atacavam os maquis (Résistance) e os comunistas (Patriotisme) ou tentavam mostrar que o desemprego acabara graças aos alemães, que haviam aberto aos operários franceses as portas de suas fábricas (Français, Souvenez-Vous).

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Durante a exibição dos filmes de propaganda ou do jornal cinematográfico alemão – que passava em versão francesa com o título de Actualités Mondiales – os espectadores vaiavam e a projeção continuava com a sala semi-iluminada, a fim de que a polícia municipal pudesse identificar melhor os manifestantes. Nas salas de espera, os exibidores colocavam cartazes pedindo ao público que não vaiasse, porque o cinema poderia ser fechado caso isso ocorresse.

O desenvolvimento do mercado do filme alemão impunha o estabelecimento de novas estruturas econômicas. Disto se ocupou Alfred Greven, um piloto de caça ferido na guerra de 1914-1918, amigo e protegido de Goering, que exercera as funções de produtor nos estúdios da UFA em Berlim. Funcionário graduado da Cautio-Treuhandgesellschaft, a poderosa empresa através da qual Goebbels controlava toda a indústria de cinema alemã, Greven foi nomeado delegado do cinema na França. Com o apoio financeiro da Cautio e de seu diretor Max Winkler, ele colocou em funcionamento uma verdadeira concentração vertical de empresas. Assim, foram associadas uma firma produtora, a Continental (destinada a produzir na França filmes com capital alemão e mão de obra francesa); uma distribuidora, Alliance Cinématographique Européenne – ACE (filial da UFA que fora criada em Paris em 1926); uma exibidora, a SOGEC (encarregada de adquirir, por meio de testas de ferro, os cinemas explorados por judeus como Léon Siritzky); e um estúdio, Paris-Studio-Cinéma. Havia ainda uma segunda distribuidora de filmes alemães, Tobis-Film, e sua filial Degeto.

Alfred Greven no meio de artistas

Alfred Greven no meio de artistas

Concomitantemente com a Continental e a Tobis, funcionavam as companhias produtoras francesas Gaumont, Synops-Minerva Films, C.C.F.C., Régina, Roger Richebé, Films Raoul Ploquin, e outras. Em suma, a produção continuou a ser relativamente fragmentada. Em 1941, os 47 filmes anuais (excluídos os da Continental) foram produzidos por 31 firmas; em 1942, 70 filmes foram produzidos por 41 firmas: em 1943, 49 filmes por 34 firmas. Somente 19 das 61 firmas desse período tiveram uma existência ativa contínua por mais de três anos.

cinema ocupação Continental logo

Na mente de Greven, a implantação da Continental era um símbolo da tradição da colaboração franco-alemã em matéria de cinema. Consciente da mediocridade do cinema do Reich e fã incondicional do cinema francês, ele tinha a intenção de fazer um cinema desembaraçado de todo cunho político e desejava contratar os melhores profissionais. Em 1 de novembro , o jornal corporativo Film publicou a lista dos primeiros contratados: Maurice Tourneur, Marcel Carné, Christian-Jaque, Georges Lacombe e Léo Joannon como diretores; Pierre Fresnay e Louis Jouvet como atores. Carné e Jouvet não chegaram a cumprir seus contratos.

Harry Baur em O Assassinato de Papai Noel

Harry Baur em O Assassinato de Papai Noel

Harry Baur, protagonista da primeira produção da Continental, O Assassinato de Papai Noel (na TV) / L’Assassinat du Père Nöel / 1941, dirigida por Christian-Jaque, teve um fim trágico. Acusado de “neoariano”, Baur mandou publicar uma retificação, atestando que não era judeu. Os alemães então pressionaram-no para que partisse em excursão pelas cidades alemãs e que aceitasse o papel principal em Symphonie eines Lebens, 1942, um filme musical de Hans Bertram. Desde o fim da filmagem, as suspeitas recaíram sobre Baur. De retorno à França, ele foi encarcerado na prisão de Cherche-Midi, onde o acusaram de ser um agente inglês e de ter favorecido a evasão de vários prisioneiros. Em abril de 1943, esgotado pelas torturas físicas e morais às quais foi submetido, o grande ator faleceu.

cinema ocupaçãoi Symphonie

Algumas atrizes tiveram relacionamentos amorosos com oficiais alemães. Arletty tornou-se amante de um oficial da Luftwaffe, Hans Jürgen Soehring. Mireille Ballin apaixonou-se por um oficial da Wermacht, Birl Desbok. Corinne Luchaire, filha do editor de jornais Jean Luchaire, teve um filho com o capitão da Luftwaffe, Woldar Gelrach. Após a Libertação, Ginette Leclerc, Danielle Darrieux, Viviane Romance, Suzy Delair, Josseline Gael, Yvonne Printemps foram repreendidas ou punidas por confraternização com o inimigo ou pela prestação de serviços para Continental. Atores (Pierre Fresnay, Maurice Chevalier, Albert Préjean, Fernandel, Raimu, Charles Vanel, Jean Servais, Roger Duchesne), diretores (Sacha Guitry, Marc Allégret, Claude Autant-Lara, Marcel Carné, André Cayatte, Maurice Tourneur, Henri Decoin, Henri-Geroges Clouzot, leo Joannon, Alberto valentin)e roteiristas (Louis Chavance, Henri Jeanson, Marcel Aymé, Pierre Véry, Jacques Viot, Jean Anouilh, Jean Cocteau, Pierre Bost) e outros trabalhadores ou empresários da indústria cinematográfica passaram pelos mesmos dissabores. As penas mais graves impostas pela Corte de Justiça de Paris recaíram sobre Jeam Mamy (pseudônimo de Jean Riche), diretor do filme de propaganda antimaçônica Forces Ocultes, fuzilado por ter denunciado e enviado para a morte alguns membros da Resistência, e Robert Le Vigan, cujo antissemitismo lhe valeu uma condenação de dez anos de trabalhos forçados. Mas Le Vigan obteve liberdade condicional em 1948, fugiu para a Espanha e daí para a Argentina, onde morreu.

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A Continental levantou o nível do cinema francês, estabelecendo altos padrões de profissionalismo, valores de produção e competência técnica, que seriam mais tarde exaltados como uma “tradição de qualidade”. O fato de essa tradição ter surgido, até certo ponto, dos esforços de um produtor nazista é uma das grandes ironias da história do cinema francês.

Annabella, Jean Gabin e Robert Le Vigan em A Bandeira / La Bandera / 1935

Annabella, Jean Gabin e Robert Le Vigan em A Bandeira / La Bandera / 1935

O governo de Vichy, por sua vez, preparou a reorganização da indústria cinematográfica, inspirando-se diretamente no relatório sobre reestruturação do cinema que Guy de Carmoy apresentara em julho de 1936. Foi o próprio Carmoy quem elaborou a nova lei de 26 de outubro de 1940. Esta previa, entre outras medidas, a criação do Comité d’Organization de l’Industrie Cinématographique -COIC (depois transformado em Centre d’Organization de l’Industrie Cinématographique, dirigido por Raoul Ploquin (um produtor que havia supervisionado as versões francêsas da UFA de 1917 a 1939) e depois por seu colega Roger Richebé.

Raoul Ploquin

Raoul Ploquin

Ploquin unificou o mercado, saneou a profissão, protegeu os direitos dos produtores e distribuidores, reestimulou a atividade nos estúdios, eliminou as firmas duvidosas, enquanto Carmoy pôde anunciar, de sua parte, a instituição de um comitê de censura franco-alemão, um crédito orçamentário de 20 milhões para adiantamentos à produção e simplificações fiscais em favor do cinema.

Seu sucessor, Louis-Émile Galey, providenciou a criação do Institut des Hautes Études Cinématographiques – IDHEC, inaugurado em 6 de janeiro de 1944 por seu presidente Marcel L’Herbier, um cineasta que há vinte anos nunca deixara de lutar por uma melhor formação profissional e, desde 1922, abrira sua produtora Cinégraphic para estagiários como Claude Autant-Lara, Jean Dréville, Alberto Cavalcanti etc. Graças à compreensão, para não dizer a cumplicidade, de Galey a Cinemateca Francêsa passou a receber, a partir de 1942, uma subvenção regular.

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Marcel l'Herbier

Marcel L’Herbier

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Enfim, muitas idéias propostas nos diferentes relatórios e enquetes sobre o cinema no período de antes da guerra foram aplicadas sob o governo de Vichy. O que os governos sucessivos dos anos 1930 não conseguiram fazer em oito anos foi feito em menos de um, embora imposto à profissão por um regime autoritário e racista.

Apesar da penúria, das condições difíceis, das interdições profissionais antissemitas (vg. Raymond Bernard teve de ficar escondido na zona sul, depois em Vercors), do êxodo de diretores e artistas (Jean Renoir, René Clair, Julien Duvivier, Jacques Feyder, Max Ophuls, Pierre Chenal, Robert Siodmak, Jean Gabin, Charles Boyer, Louis Jouvet, Michèle Morgan, Françoise Rosay, Marcel Dalio, Victor Francen etc.), o cinema francês teve um grande impulso durante a Ocupação. Graças à ação conjugada de Guy de Carmoy e Raoul Ploquin, a produção, que era de sete filmes de longa-metragem em 1940, passou a ser de 58 filmes em 1941. O filme francês beneficiou-se de condições ideais no mercado, livre da concorrência terrível do cinema americano, que o cinema alemão estava longe de substituir. Outras razões para esse sucesso foram a falta de entretenimento alternativo para o público, o toque de recolher em todos os bares às 22 horas, o aquecimento dos cinemas (que era melhor do que os dos apartamentos), e a necessidade de escapismo.

FILMES BÍBLICOS NO CINEMA MUDO AMERICANO

dezembro 26, 2014

Desde os seus primórdios o Cinema Americano produziu filmes cujas tramas e personagens são baseados no Antigo e no Novo Testamento. Porém temos que distinguir: 1. Filmes que respeitam bastante o texto da Bíblia (vg. Da Manjedoura a Cruz, cujos intertítulos foram extraídos diretamente dos Evangelhos; 2. Filmes que contam uma história da Bíblia, porém acrescentam personagens e situações não incluídas no Livro Sagrado (vg. Os Dez Mandamentos, que apresenta a história de Moisés do Livro do Êxodo, mas também adiciona outro enredo desenrolado na era moderna; 3. Filmes que focalizam um personagem ou história relativamente secundários da Bíblia (vg. Salomé, no qual a filha de Herodes, é transformada em um personagem principal embora seu nome nunca seja mencionado nos Evangelhos); 4. Filmes nos quais os eventos bíblicos são apenas elementos subsidiários na história do filme (vg. Ben-Hur que, apesar de seu subtítulo A Tale of the Christ, é na verdade a história do seu personagem-título, um judeu aristocrata que se encontra momentanemente com Jesus durante a narrativa).

The  Passion Play 1896

The Passion Play 1896

O primeiro filme bíblico americano foi exibido em 30 de janeiro de 1898. Chamava-se The Passion Play e foi produzido por Richard G. Hollaman, presidente do Eden Museum (museu de cera que também apresentava concertos musicais até 18 de dezembro de 1896, quando filmes começaram a ser projetados) e Albert Eaves, dono de uma companhia especializada em confeção de trajes para teatro. A Passion Play é uma representação dramática descrevendo o sofrimento de Jesus Cristo (algo parecido com o espetáculo de Nova Jerusalém em Pernambuco). O filme de Hollaman foi realizado relativamente em segredo por dois motivos principais: primeiro, porque estava sendo produzido sem licença de Edison nem dos empresários Klaw e Erlanger, que achavam que detinham os direitos de filmagem de todas as Paixões de Cristo, porque haviam adquirido dos habitantes de Horitz, na Boêmia, os direitos de filmagem das performances ao vivo da Paixão de Cristo internacionalmente conhecida, que ali vinham sendo apresentadas há séculos; segundo, porque a intencão de Hollaman-Eaves era apresentar audaciosamente seu filme como um registro autêntico filmado de outra Paixão de Cristo famosa, encenada em Oberammergau na Bavária desde 1634. Henry C. Vincent supervisionou a produção, pintou os cenários, fabricou os adereços e selecionou os atores. Frank Russell interpretou Cristo, Frank Gaylor assumiu os traços de Judas e Fred Strong o papel de Pilatos. William Paley fotografou as cenas com sua câmera no telhado do Grand Central Palace em Nova York. Como a filmagem só era possível nos dias de sol e mesmo assim somente por umas poucas horas, ela levou seis semanas para acumular 23 cenas. Filmadas em trinta fotogramas por segundo, elas produziram dezenove minutos de projeção. As cenas, com seus cenários escassos e composições simples e frontais, evocavam a longa e poderosa tradição das pinturas religiosas.

The Star of Bethlehem 1909

The Star of Bethlehem 1909

Em 1898, Sigmund Lubin fez em Filadélfia uma versão da Paixão de Cristo, sua produção mais cara e ambiciosa até então. Lubin era muito interessado em religião e bem versado em história bíblica. Ele empregou quase mil pessoas na realização do espetáculo religioso. Cada participante ganhava um ou dois dólares por dia além do transporte e almoço grátis. O próprio Lubin participou da filmagem, interpretando alguns dos papéis principais, inclusive o de Pôncio Pilatos. O filme foi oferecido com uma palestra impressa, escrita por Lubin, e instruções para proporcionar uma apresentação a mais eficiente. Lubin ficou tão satisfeito com a sua primeira grande produção que, durante anos, enviou projetores, projecionistas e cópias da sua Passion Play para conventos, missões e prisões – gratuitamente.

Jehptah's Daughter 1913

Jehptah’s Daughter 1913

Joseph in the Land of Egypt 1914

Joseph in the Land of Egypt 1914

Nos próximos anos foram feitos outros filmes bíblicos curtos respectivamente por três companhias: Edison Manufacturing Company (The Star of Bethlehem / 1909), Kalem (Ben-Hur / 1907 com Herman Rotter como Ben-Hur e o futuro grande cowboy da tela William S. Hart como Messala; David and Goliath / 1908; Jerusalem in the Time of Christ / 1908), Vitagraph (The Judgement of Solomon/ 1909 com William Humphrey como Salomão, Jephtah’s Daughter / 1909 com a nadadora australiana Annette Kellerman no papel-título); Saul and David / 1909 com Maurice Costello como David e William V. Ranous como Saul; Salome com Florence Lawrence como Salomé e Maurice Costello como Herodes; The Way to the Cross / 1909; The Life of Moses / 1909 com Pat Hartigan como Moisés; The Deluge / 1911; Adam and Eve / 1912 com Harry T. Morey como Adão e Leah Baird como Eva; Powers Picture Play (Jephtah’s Daughter / 1913 nova versão com os atores inglêses Constance Crawley e Arthur Maude); Tanhauser (Joseph in the Land of Egypty / 1914 com James Cruze (depois diretor) como José e Marguerite Snow como a mulher de Potifar).

FILMES BÍBLICOS DE LONGA-METRAGEM (MAIS DE 50 MIN.) REALIZADOS NO PERÍODO SILENCIOSO: 

DA MANJEDOURA A CRUZ / FROM THE MANGER TO THE CROSS / 1912.

Dir: Sidney Olcott. El: Robert Henderson-Bland (Jesus), Gene Gauntier (Maria), Alice Hollister (Maria Madalena), Samuel Morgan (Pilatos), James Ainsley (João Batista), Robert G. Vignola (Judas), George Kellog (Herodes).

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Da Manjedoura à Cruz

Da Manjedoura à Cruz

Primeiro filme bíblico com mais de 50 minutos realizado pela Kalem com intertítulos extraídos pelo roteirista Gene Gauntier (que também interpretou o papel da mãe de Jesus) diretamente da versão do Rei James dos Evangelhos e cenas filmadas em Belém, Nazaré e Jerusalem – que eram certamente melhores do que os cenários pintados dos filmes anteriores. Não se sabe porque Gauntier não mostrou o batismo de Jesus ou sua ressurreição do túmulo. Porém, na sua maior parte, o espetáculo – que se assiste como uma peça teatral, sem close-ups ou movimentos de câmera – é fiel à Bíblia, com cenários e vestuário que parecem razoavelmente autênticos. Quando a Kalem o pré-estreou para membros da igreja ele foi muito elogiado, mas teve alguns problemas com alguns padres hostís, que questionavam se filmes religiosos seriam apropriados para serem exibidos em um cinema para fins de entretenimento, revivendo os mesmos transtôrnos que as Paixões de Cristo haviam enfrentado no final do século passado.

JUDITH OF BETHULIA / 1913-1914.

Dir: D.W. Griffith. Blanche Sweet (Judite), H.B. Walthall (Holofernes), Mae Marsh (Naomi), Robert Harron (Nathan), Lillian Gish (Jovem mãe), Dorothy Gish (Mendiga aleijada), Harry Carey (Traidor assírio).

Judith of Bethulia

Judith of Bethulia

Comumente considerado como o clímax do período de Griffith na Biograph, trata-se mais propriamente de um começo de sua transferência para o filme de longa-metragem. Sem que a Biograph soubesse o que ele estava fazendo, Griffith realizou secretamente seu primeiro filme de quatro rolos (na velocidade da projeção silenciosa cerca de uma hora) em Chatsworth, California. Achando que o filme, por sua longa duração, não seria viável comercialmente, a companhia adiou o lançamento até 1914, depois que Griffith havia deixado de pertencer aos seus quadros. O filme foi baseado em uma peça inspirada no Livro de Judite do Velho Testamento, sobre o cerco da cidade israelita de Bethulia pelos Assírios. Griffith segue o texto bíblico fielmente apenas com uma mudança: Judite se apaixona por Holofernes embora estivesse determinada a seduzí-lo e depois assassiná-lo, para salvar seu povo. O fato de estar apaixonada por ele cria uma tensão dramática: ela vai ou não vai prosseguir com o seu plano? William K. Everson (American Silent Film, 1780) achou que o espetáculo não precisava ser tão longo, criticou as cenas de batalha, mas reconheceu alguns méritos, principalmente as interpretações de Henry B. Walthall e Blanche Sweet. Judith of Bethulia é apontado como o primeiro filme a manter uma orquestra no set. Os historiadores dizem que Griffith usou-a para ajudar Blanche Sweet em algumas cenas emocionais. Porém Blanche não conseguiu se lembrar se músicos estiveram presentes em alguma etapa da produção. Como ela observou, Griffith usava a música praticamente menos do que qualquer outro director. Ele declarou certa vez que jamais empregaria um ator “que não fosse capaz de sentir o papel o suficiente para chorar nos ensaios” – cf. Kewin Bronlow em The Parade’s Gone By, 1968.

INTOLERÂNCIA / INTOLERANCE / 1916.

Dir: D. W. Griffith. Lillian Gish (A mulher que embala o berço). Episódio judaico: Howard Gaye (O Cristo), Lillian Langdon (Maria, a mãe), Olga Grey (Maria Madalena), Gunter von Ritzau e Erich von Stroheim (Os fariseus), George Walsh (O noivo de Caná), Bessie Love (A noiva de Caná). Obs. No anúncio brasileiro do filme vem o nome do ator Wallace Reid como intérprete do Cristo, mas trata-se de um erro: Wallace Reid fez uma pequena ponta não creditada como um menino que morre em uma batalha.

Intolerância

Intolerância

Intolerância

Intolerância

Captura de Tela 2014-11-19 às 20.10.31Antes de empreender Nascimento de uma Nação / The Birth of a Nation / 1915, Griffith havia terminado um melodrama intitulado The Mother and the Law, baseado no massacre de Ludow no Colorad, onde várias dezenas de grevistas de uma mina morreram. O sucesso estrondoso de Nascimento de uma Nação assim como certas críticas que o apontavam como racista, o levaram a imaginar, a partir do núcleo de The Mother and the Law, um espetáculo cujo gigantismo e mensagem de importância universal silenciaria os seus detratores. Assim, ele enriqueceu o melodrama contemporâneo com três evocações, três metáforas históricas, da Intolerância através dos tempos (Queda da Bailônia, A Crucificação do Cristo, e a Noite de São Bartolomeu), que dariam ao conjunto uma amplitude espacio-temporal jamais vista. A originalidade essencial do filme reside no entrelaçamento desses quatro episódios, por meio de uma montagem audaciosa, que abolia o princípio da continuidade e da linearidade narrativa. A medida em que o filme progride, os trechos de cada um dos episódios tornam-se cada vez mais curtos e esta aceleração intensifica, sob o plano dinâmico, o conteúdo dramático de cada história.

Intolerância Ep.  Crucificação do Cristo

Intolerância Ep. Crucificação do Cristo

Intolerance também foi inovador na sua fotografia quando, por exemplo, Billy Bitzer montou a câmera em um elevador móvel para criar movimentos rápidos sobre o cenário colossal da côrte babilônica. A filmagem durou 16 semanas e custou 400 mil dólares (cifra enorme para a época). Foram construídos cenários monumentais e reunidos 5 mil figurantes. Segundo declarou Lillian Gish, “Griffith não tinha um diretor de arte; só havia um carpinteiro que era um gênio. Ele se chamava Huck Wortman. Griffith lhe dizia ou desenhava o que queria e este pequeno carpinteiro ia e construía”. Porém o fotógrafo Karl Brown revelou (Adventures of D.W. Griffith, 1973) que havia um membro da equipe chamado W. L. Hall com o título de artista cênico. A metragem da película impressa equivaleu a 76 horas de projeção, mas o filme no seu lançamento comportava 14 bobinas (13.500 pés), ou seja, o correspondente a cerca de três horas de projecão. O sucesso tanto na América como no exterior não ficou a altura das esperanças e sobretudo das somas de dinheiro investidas. O filme perdeu o mesmo valor da metade do seu orçamento e deixou Griffith endividado por longo tempo. Para tentar recuperar o prejuízo, Griffith montou as histórias moderna e da Babilônia separadamente e as lançou como filmes autônomos. No Basil, Intolerância teve sua exibição somente em 1920 e depois, em 1922, foi lançado somente o filme separado da Babilônia. No episódio que nos interessa, Griffith não teve a intenção de contar toda a história do Cristo. Ele e sua roteirista Anita Loos escolheram algumas partes dos Evangelhos que pareciam ilustrar o tema da intolerância. Já o episódio da Babilônia, este não está diretamente baseado na Bíblia, mas contém alguns personagens nela mencionados.

SALOMÉ / SALOME / 1918.

Dir: J. Gordon Edwards. El: Theda Bara (Salomé), G. Raymond Nye (Rei Herodes), Albert Roscoe (João Batista), Herbert Heyes (Sejanus), Bertram Grassby (Príncipe David), Genevieve Blin (Rainha Miriam), Vera Doria (Naomi), Alfred Fremont (Galba).

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biblia salome poster theda bara

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Herodes, rei tirânico da Judéia, casa-se com Miriam a irmã do herdeiro legítimo do trono, Príncipe David. Salomé, a prima bela e traiçoeira de Herodes convence-o a outorgar o cargo poderoso de alto sacerdote a David, a fim de acalmar os judeus; porém depois ela ordena secretamente a Sejanus, que está apaixonado por ela, a afogar o príncipe. Depois que Salomé persuade Herodes de que Miriam está tentando matá-lo, a rainha, também, perde sua vida. João Batista chega na Judéia, denuncia publicamente a corte de Herodes, despertando a curiosidade de Salomé. Esta vai procurar João no deserto e tenta em vão seduzí-lo. Durante sua prisão, o santo homem rejeita-a novamente e ela promete destruí-lo. No festim do aniversário de Herodes, Salomé executa uma dança sensual e pede a cabeça de João Batista como recompensa.

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Theda Bara

Theda Bara

Quando ela beija seus lábios sem vida, ocorre uma tempestade e Herodes, aterrorizado, ordena a execução imediata de Salomé. Algumas igrejas protestaram contra a divergência entre a intriga do filme e o texto bíblico como nas cenas em que Salomé declara seu amor por João Batista bem como contra a aparência jovem de João e o vestuário usado por Theda Bara. O director Gordon Edwards respondeu as críticas dizendo que a sua Salomé não foi inspirada em uma única versão da história, mas sim em uma combinação de muitas versões e que ele fez uso de licença poética. Segundo os críticos, o diretor reconstituiu com autenticidade a antiga Jerusalem e a vida dos seus habitantes, mas apontaram duas notas discordantes: a representação de um João Batista bem barbeado e a sua caminhada pelo deserto carregando uma cruz. Nascida com o nome de Theodosia Goodman, Theda Bara encarnava na tela a mulher vampiro, que arrastava cruelmente os homens para a tragédia e, portanto, era uma intérprete ideal para o papel de Salomé. A publicidade da Fox divulgou que Theda descendia de um artista (ou sheik do deserto) e de uma atriz francêsa (ou de uma princesa egípcia) e que seu nome seria um anagrama para “Arab death”. O público adorou o mito e Theda se tornou um dos artistas mais populares do cinema entre 1915 e 1919, ao lado de Mary Pickford e Charles Chaplin.

A RAINHA DE SABÁ / QUEEN OF SHEBA / 1921.

Dir: J. Gordon Edwards. Betty Blithe (Balkis, Rainha de Sabá), Fritz Leiber (Salomão), Claire De Lorez (Esposa de Salomão), George Siegmann (Rei Armud), Herbert Heyes (Tamaran), Nell Craig (Vashti), Herschel Mayall (Menton), G. Raymond Nye (Adonija, irmão de Salomão), George Nichols (Rei David), William Hardy (O escravo gigante, Olos), Joan Gordon (Nomis).

Biblia the queen of sheba poster

Salomão é coroado Rei de Israel, e seu irmão Adonijah torna-se seu maior inimigo. Quando o país de Sheba é conquistado pelo Rei Armud, ele captura as donzelas locais. Uma delas, Nomis, afoga-se para escapar de seus algozes. Quando a multidão fica sabendo do suicídio, irrompe uma revolução e Armud tem que fazer uma concessão. Ele oferece casamento a Balkis, irmã de Nomis e Rainha de Sabá (embora ele estivesse prometido para a Princesa Vashti), para acalmar a tensão. Balkis finge que aceita sua proposta e o apunhala no dia do matrimônio. Novamente Rainha de Sabá, Balkis ruma para a corte do Rei Salomão a fim de pedir seu conselho sobre como governar seu reino. Infelizmente, a princesa Vashti conseguiu se refugiar lá e, ajudada por Adonijah, conspira contra Balkis e o rei Salomão, que haviam se apaixonado um pelo outro. Após alguns incidentes (inclusive uma corrida de bigas conduzida por Balkis e Vashti), Salomão e Balkis assumem sua paixão, porém ele está casado com a filha do faraó. Temendo uma guerra com o Egito, Balkis decide deixar Salomão, depois de ter passado uma noite com ele e de lhe ter dado um filho, David. Cinco anos depois, ela manda o menino para conhecer seu pai, mas Vashti e Adonijah sequestram David. Avisada por Salomão, Balkis arma um exército e mata Adonijah. Ela pensa que chegou tarde demais quando vê seu filho desacordado, porém as preces de Salomão produzem um milagre, e o garoto desperta. Balkis e seu filho retornam para o reino de Sabá enquanto Salomão os contempla de seu castelo.

Betty Blithe

Betty Blithe

Cena de A Rainha de Sabá

Cena de A Rainha de Sabá

Captura de Tela 2014-11-21 às 22.48.16Entre os cenários se destaca o Templo de Salomão. Betty Blithe contou que o diretor do filme tinha em seu escritório, como único adorno, um quadro magnífico do Templo, que depois foi duplicado no cenário tridimensional. Betty atingiu o estrelato graças a este filme e a sua disposição de aparecer semi-nua em frente da câmera (ela costuma brincar, dizendo que os vinte e oito trajes que usou no filme podiam caber em uma caixa de sapatos). Betty se tornou uma atriz popular nos Estados Unidos, mas atuou também na Europa ( Ela / She / 1925) . No cinema falado, ficou relegada a papéis coadjuvantes. Continuou ativa nos anos quarenta e fez sua última aparição na tela na sequência do baile em Minha Bela Dama / My Fair Lady / 1964. Nesta ocasião, Kevin Bronlown entrevistou-a para seu livro The Parade’s Gone By, 1968, e Betty lhe forneceu algumas informações sobre seu relacionamento com o diretor J. Gordon Edwards (avô de Blake Edwards), o teste que fêz, e a filmagem de The Queen of Sheba, notadamente a corrida de bigas eletrizante, tendo a frente duas mulheres. “Eu conduzia quatro cavalos brancos e ela (Nell Craig), conduzia quatro cavalos pretos. Eu tinha muita força nas minhas pernas e nos meus pés. É claro, que eles puzeram um homem deitado dentro da biga, caso algo saísse errado. E como aqueles cavalos corriam! Parecia que estavamos voando. Os cavalos sentiam que estavam competindo. Então Nell Craig foi puxada para a frente pelos animais. Ela tinha belas mãos, mas não havia força nelas. Quebrou duas costelas. Então colocaram um dublê; um dos homens vestiu sua roupa, e continuamos com a maravilhosa corrida de bigas. Foi realmente uma corrida. O público em Nova York levantou-se excitado. Tom Mix organizou os cavalos … eles não falaram nada para mim, mas muitos ficaram feridos”. 

SALOMÉ / SALOME / 1922.

Dir: Charles Bryant. Nazimova (Salome), Rose Dione (Herodias), Mitchell lewis (Herod), Nigel De Brulier (Jokaanan), Earl Schenck (Jovem sírio), Arthur Jasmine (Pagem), Frederic Peters (Naaman), Louis Dumar (Tigellinus).

Captura de Tela 2014-12-07 às 12.53.56

Alla Nazimova

Alla Nazimova

O filme foi baseado na peça em um ato de Oscar Wilde, que por sua vez se inspirou na história contada no Novo Testamento em Marcos e Mateus, embora estes dois Evangelhos não mencionem o nome de Salomé, referindo-se somente à “filha de Herodes”. Na peça, ela é a enteada do Rei Herodes da Judeia. A esposa de Herodes, Herodiades é amaldiçoada por Jokanaan (conhecido como João Batista na Bíblia). Ele proclama que o casamento do rei é ilegítimo porque Herodiades é a viúva do irmão de Herodes. Na Bíblia, Salomé ajuda sua mãe a se vingar da acusações de João Batista, mas na peça de Wilde sua motivação é outra. Enraivecida por causa da recusa de Jokaanan de receber o seu beijo, ela dança para Herodes em troca da cabeça do profeta. O rei concede seu pedido; porém sente repugnância ao ver Salomé, beijando a cabeça do decapitado, e ordena sua execução. Antes de morrer espetada pelas lanças dos guardas do palácio, ela exclama: “O mistério do Amor é maior do que o mistério da Vida”.

Cenas de Salomé / 1922

Cenas de Salomé / 1922

filmes biblicos naziomova salome IV

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A maior atração de espetáculo são os trajes e cenários ultra estilizados desenhados em preto e branco e ouro e prata por Natacha Rambova com inspiração nas ilustrações que Aubrey Beardsley fizera para a edição impressa da obra de Wilde. (Rambova teve a audácia de pintar mamilos no peito de um capitão sírio e coroar Nazimova como Salomé com bolinhas de vidro presas ao cabelo, que balançam com o movimento da cabeça). Por causa de sua pretensão artística, o filme teve dificuldade de encontrar um distribuidor e, quando estreou na primavera de 1922, foi rotulado como “bizarro”. Chamada simplesmente de “Madame”, a russa Alla Nazimova (Mariam Edez Adelaida Leventon) foi um sucesso no palco antes de entrar para o cinema. Seus filmes para a Metro foram exitosos, mas no começo de 1920, a popularidade diminuiu, e ela começou a produzir seus próprios espetáculos, inclusive Salomé. Embora tivesse recuperado sua reputação como grande atriz, os filmes foram moderadamente bem sucedidos nas bilheterias. Nazimova então voltou para o teatro e apareceu na tela esporadicamente em papéis secundários como a mãe de Robert Taylor em Fuga / Escape / 1940 ou a senhora Zofia Koslowska em Desde que Partiste / Since You Went Away / 1944. Nazimova estava com 44 anos  quando interpretou uma adolescente em Salomé, mas soube transmitir com eficiência o caráter petulante e depravado da personagem.

O REI PASTOR /THE SHEPPERD KING / 1923.

Dir: J. Gordon Edwards. Violet Mersereau (Princesa Micol), Nerio Bernardi (David), Edy Darclea (Princesa Herab), Virginia Lucchetti (Adora, irmã adotada de David), Guido Trento (Saul), Ferrucio Biancini (Jônatas), Alessandro Salvini (Doeg), Mariano Bottino (Adriel), Samuel Balestra (Golias), Adriano Bocanera (Samuel), Enzo De Felice (Ozem).

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Captura de Tela 2014-11-22 às 16.54.46

Saul, Rei de Israel, prepara-se para combater os Filisteus apesar das advertências do profeta Samuel que prediz que Saul perderá seu trono e escolhe David como o novo rei. O filho de Saul, Jônatas, acreditando que ele é o homem na profecia de Samuel, envia-o para uma armadilha na luta contra os filisteus. David retorna vitorioso e deixa a corte, depois da tentativa de Saul de matá-lo. Ele reune homens e quando os filisteus atacam Saul, David os vence. Saul e Jônatas são mortos na batalha; David é aclamado rei, e se casa com a filha de Saul, a princesa Micol. Drama bíblico produzido e distribuído pela Fox Film Corporation baseado em uma peça “The Shepherd King” de Wright Lorimer e Arnold Reeves. Produção suntuosa, filmada em parte no Egito e com um elenco formado quase todo por atores italianos. Nerio Bernardi começou sua carreira no teatro, participou de mais de duzentos filmes italianos ou estrangeiros entre 1918 e 1968 (vg. Osvaldo em O Imperador de Capri / L’Imperatori di Capri / 1949, La Franchise em Fan Fan la Tulipe / Fan Fan la Tulipe / 1952, Professor Greaves em Satanik / Satanik / 1968), foi dublador na Espanha durante a Segunda Guerra Mundial (vg. de Basil Rahtbone em A Marca do Zorro / The Mark of Zorro / 1940, de Donald Crisp em Como Era Verde o Meu Vale / How Green Was MyValley / 1941) e terminou seu longo percurso artístico na televisão (vg. Marquês Belmonte no primeiro episódio da série de TV francêsa Arsène Lupin / 1971). Violet Mersereau trabalhou com D. W. Griffith de 1908 a 1911 e depois assinou contrato com a Nestor Company, notabilizando-se como a heroina ingênua e desamparada perfeita, tão do agrado do público na era da cena muda. O Rei Pastor foi o penúltimo filme em uma carreira que se encerrou em 1925. 

OS DEZ MANDAMENTOS / THE TEN COMMANDMENTS / 1923.

Dir: Cecil B. DeMille. Prólogo: Theodore Roberts (Moisés), Charles deRoche (Ramsés), Estelle Taylor (Miriam, irmã de Moisés), Julia Faye (Esposa do faraó), Terrence Moore (Filho do Faraó), James Neill (Aarão, irmão de Moisés), Lawson Butt (Dathan), Clarence Burton (Capataz), Noble Johnson (O Homem de Bronze). História moderna: Edythe Chapman (Mrs. McTavish), Richard Dix John McTavish), Rod LaRoque (Dan McTavish), Leatrice Joy (Mary Leigh), Nita Naldi (Sally Lung), Robert Edeson (Inspetor Reading), Charles Ogle (Médico), Agnes Ayres (A rejeitada).

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filmes biblicos ten commandments poster

Um prólogo descreve as histórias bíblicas do Êxodo: o mau tratamento dos judeus pelos egípcios; sua fuga através das águas separadas do Mar Vermelho; a entrega dos Dez Mandamentos para Moisés; Moisés vendo os israelitas contemplar o Bezerro de Ouro e quebrando as tábuas da Lei. O resto do filme transcorre em uma San Francisco moderna, mostrando o destinos opostos de dois irmãos, Dan e John McTavish, ambos apaixonados por Mary Leigh. Ela escolhe Dan, que se torna um construtor bem sucedido, usando material de qualidade inferior e subornando o inspetor de obras. No final, Dan é procurado pelo assassinato de sua amante oriental, Sally Lang, da qual teria contraído lepra. Quando tenta sair do país, sua lancha bate nos rochedos e ele morre. Mary casa-se com John, modesto carpinteiro e moralmente correto. Jeanie Macpherson escreveu o roteiro a partir da sugestão recebida através de um concurso promovido pelo Los Angeles Times. A frase de abertura da sugestão do vencedor do concurso, F.C. Nelson de Lansing, dizia: “Você não pode transgredir Os Dez Mandamentos – eles te destruirão”. Com este tema nas mãos, DeMille e Macpherson resolveram trabalhar com uma estrutura em duas partes. Um prólogo bíblico recreando os episódios principais do Livro do Êxodo e uma história moderna alegórica referindo-se à frase de F.C. Nelson, unindo o espetáculo ao melodrama.

Cecil B. DeMille dirige Os 10 Mandamentos

Cecil B. DeMille dirige Os 10 Mandamentos

Cenas de Os 10 Mandamentos

Cenas de Os 10 Mandamentos

filmes biblicos ten commandments cena I

filmes biblicos rten commandments IIFoi o filme mais caro da Famous Players-Lasky até então. Os cenários egípcios de Paul Iribe eram espetaculares (notadamente a “Avenida das Esfinges” composta por quatro estátuas colossais e 24 esfinges) e baseados em pesquisa arqueológica. A cidade de Ramsés foi construida nas dunas de areia de Guadalupe no norte do condado de Santa Barbara, Califórnia. Uma cidade de tendas, chamada Acampamento DeMille, foi erguida para acomodar o elenco e a equipe técnica. De acordo com as estatísticas da produção publicadas na época foram empregados 500 carpinteiros, 400 pintores e 380 decoradores na construção dos desenhos de Iribe e 2.500 figurantes participaram da filmagem. O fotógrafo Bert Glennon foi coadjuvado por um pequeno exército de colegas incluindo J. Peverell Marley (que logo se tornou um dos cinegrafistas prediletos de DeMille) e Archie Stout (conhecido pela sua habilidade em filmar ao ar livre). Ray Rennahan, da Technicolor Motion Picture Corporation, rodou cenas coloridas do Êxodo, que foram integradas com cenas monocromáticas tingidas. Os efeitos especiais ficaram a cargo de Roy Pomeroy, (um especialista em miniaturas), salientando-se, além da divisão das águas do Mar Vermelho e o recebimento deslumbrante do Decálogo por meio de uma chuva de faíscas e explosões, o colapso da catedral e a tempestade marítima na segunda parte do espetáculo.

BEN-HUR / BEN-HUR / 1925.

Dir: Fred Niblo. Ramon Novarro (Judá Ben-Hur), Francis X. Bushman (Messala), May McAvoy (Esther), Betty Bronson (Maria), Claire McDowell (Miriam), Kathleen Key (Tirzah), Carmel Myers (Iras), Nigel De Brulier (Simonides), Mitchel Lewis (Xeque Ilderim), Leo White (Sanballat), Frank Currier (Quintus Arrius), Charles Belcher (Balthazar), Dale Fuller (Amrah), Winter Hall (José).

filmes biblicos ben hur poster

A trama gira em torno da disputa entre o aristocrata judeu Judá Ben-Hur e seu amigo de infância, o centurião romano Messala. Ao rever Messala, os dois conversam, e Judá percebe que ele não é mais um amigo compreensivo, mas um opressor. Mais tarde, quando Judá, sua mãe Miriam e sua irmã Tirzah assistem a uma parada em homenagem a Gratus, o novo comandante de Jerusalém, uma telha cai do terraço de sua residência e atinge a cabeça de Gratus, deixando-o desacordado. Os soldados romanos invadem a casa e prendem Judá e sua família. Embora Messala soubesse que foi um acidente, Judá é condenado a cumprir pena como escravo remador em uma galera, desconhecendo que destino levaram sua mãe e Tirzah. No percurso pelo deserto até o mar, um jovem carpinteiro de Nazaré sacia a sua sede. Durante uma batalha naval, Judá salva a vida de Quintus Arrius, o comandante da frota. Ele é adotado por Arrius e se torna popular e rico como um campeão de corrida de quadrigas.

Cenas de Ben-Hur

Cenas de Ben-Hur

O ajuste de contas com Messala ocorre em uma disputa na arena, que Judá vence espetacularmente, deixando seu adversário mortalmente ferido. No final, Judá reencontra a mãe e a irmã, que haviam contraído lepra e foram curadas por Jesus bem como seu fiel servidor Simonides e a filha deste, Esther, por quem sempre estivera atraído. A história dos bastidores dessa versão do romance de Lew Wallace envolveu mudança abrupta de elenco e equipe técnica. O diretor Charles Brabin e o ator George Walsh, incialmente escolhidos pela roteirista June Mathis, foram respectivamente substituídos por Fred Niblo e Ramon Novarro – depois de testados John Bowers, Robert Frazer, Antonio Moreno, Edmund Lowe, William Desmond, Allan Forrest, Buck Jones, e mais uma dúzia de outros atores, inclusive Ben Lyon. Este último contou para o historiador Kevin Bronlow, que achou rídicula a sua escolha para o papel, porque se achava muito magro; mas, mesmo assim, foi fazer o teste. “Quando tirei minha roupa, a turma da maquilagem disse: ‘Bem, teremos que fazer alguma coisa. Vamos pintar músculos em você’. Eles começaram a iluminar meu corpo e braços, para me fazerem aparecer mais musculoso. De repente, o assistente do maquilador teve uma idéia brilhante: ‘Sei como fazer para que ele pareça mais forte. Passar óleo nele, como fazemos quando vamos a praia’ . Então eles fizeram isto e eu fui para o set, fazer o teste. Eles acenderam luzes muito fortes e levou quinze minutos para me iluminarem. Quando eles estavam prontos para rodar, todos os meus músculos haviam desaparecido e eu não conseguí o papel. Acabei Ben Lyon em vez de Ben-Hur”.

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Captura de Tela 2014-11-23 às 21.48.29O homem originariamente esperado para dirigir Ben Hur era Rex Ingram, diretor de Os Quatro Cavaleiros do Apocalipse / The Four Horsemen of the Apocalypse / 1921 (o grande sucesso de Rudolph Valentino) e amigo íntimo de June Mathis. Havia uma cláusula no seu contrato com a Metro, estipulando que ele iria dirigir Ben-Hur; e, se o filme viesse a ser feito por outra companhia, ainda assim a Metro lhe daria a permissão para fazê-lo. O próprio Marcus Loew havia lhe prometido o filme. Quando Ingram soube que Ben-Hur seria feito sem ele, ficou muito abalado. Como recordou Ramon Novarro: “Sua reação foi cem por cento irlandesa – se é que você me entende”. A produção de Ben-Hur começou muito conturbada por: atrasos na filmagem – Francis X. Bushman contou para Bronlow que na sua chegada a Itália lhe disseram que suas cenas só seriam rodadas “em agosto próximo”. Bushman teve tempo visitar vinte e cinco países na Europa, até ser chamado de volta. Quando retornou a Itália, a produção continuava estagnada; demora na construção dos cenários em virtude de disputas trabalhistas e greves estimuladas por Mussolini; ineficiência profissional constatada pela exibição das cenas filmadas por parte de Louis B. Mayer, Irving Thalberg e Harry Rapf, os novos responsáveis pela produção após a fusão da Goldwyn Company com as companhias Louis B. Mayer e Metro. Eles resolveram jogar fora tudo o que havia sido filmado, fazer as substituições de Brabin por Niblo e de Walsh por Novarro, trocar June Mathis pelos roteiristas Bess Meredith e Carey Wilson e, finalmente (após novas atribulações como o afogamento de figurantes na refilmagem da sequência da batalha naval), trazer a produção para Hollywood. Apesar de ter gasto mais de três milhões de dólares, a MGM continuou a desembolsar somas extravagantes em uma escala impressionante. Um novo Circus Maximus foi erguido na interseção das ruas La Cienega e Venice em Los Angeles sob os cuidados de Cedric Gibbons e A. Arnold Gillespie, seguindo o modelo do cenário italiano e combinando miniaturas com a construção em tamanho normal.

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Cenas de Ben-Hur

Cenas de Ben-Hur

Ali foi filmada a sequência mais espetacular do filme: a corrida de quadrigas, filmada por B. Reeves Eason e seu assistente Silas Clegg e supervisionada por Fred Niblo, instalado em uma plataforma. As câmeras de quarenta e dois cinegrafistas foram escondidas em cada posição que pudesse render um ângulo eficaz (atrás dos escudos dos soldados, ocultas nas estátuas enormes, enterradas em covas etc.). A multidão foi dividida por seções e cada seção ficou sob o contrôle de um assistente de direção. Foram ainda convocados assistentes extras e entre os que ofereceram seus serviços estava um jovem da Universal: William Wyler. “Recebí uma toga e um jogo de sinais”, recordou Wyler para Bronlow. “Os sinais eram uma espécie de semáforo, e eu tinha que fazer a minha seção se levantar e aplaudir e se sentar de novo, ou fazer o que fosse preciso. Deve ter havido outros trinta assistentes fazendo o meu trabalho. Dizem que fui o assistente de direção responsável por toda a sequência, mas isto foi tudo o que fiz”. Trinta e quatro anos depois, Wyler seria o diretor da segunda verão da MGM de Ben-Hur. Havia doze quadrigas e quarenta e oito cavalos. Os dublês conduziram dez delas e os próprios Bushman e Novarro as suas. Apesar do número de cameramen – René Guissart, Percy Hilburn, Karl Struss, Clyde De Vinna, George Meehan, E. Burton Steene etc. – a fotografia é muito bonita e uniforme e a montagem, sob os cuidados de Lloyd Nosler – notadamente na corrida de bigas – é arrebatadora.Ben-Hur estreou no Cinema George M. Cohan em Nova York no dia 30 de dezembro de 1925. O custo final da produção chegou a pouco menos de quatro milhões de dólares. O filme rendeu mais do que nove milhões, porém os custos de distribuição, e os royalties de 50% pagos à Erlanger ‘s Classical Cinemas Corporation (detentora dos direitos autorais do livro de Wallace), deixou a MGM com pouco mais de três milhões de dólares. Entretanto, o prestígio que deu à MGM foi inestimável.

O REI DOS REIS / THE KING OF KINGS / 1927.

Dir: Cecil B. DeMille. H. B. Warner (Jesus, o Cristo), Joseph Schildkraudt (Judas), Ernest Torrence (Pedro), Dorothy Cumming (Maria), Jacqueline Logan (Maria Madalena), Rudolph Schildkraudt (Caifás), Sam De Grasse (O Fariseu), Victor Varconi (Pilatos), Robert Edeson (Mateus), James Neill (Tiago), Joseph Striker (João), Sydney D’Albrook (Tomé), William Boyd (Simão Cireneu), Montagu Love (Centurião romano), John T. Prince (Tadeu), Charles Belcher (Felipe), Clayton Packard (Bartolomeu), George Siegmann (Barabás), Marta (Julia Faye), Alan Brooks (Satã).

filmes biblicos the king of kings poster

DeMille havia planejado filmar The Deluge, baseado na história do Velho Testamento sobre Nóe e o Dilúvio, porém abandonou o projeto quando soube que a Warner Bros. intencionava produzir A Arca de Noé / Noah’s Ark / 1928. O roteirista Denison Clift, contratado de DeMille, sugeriu-lhe então uma outra história bíblica: a Vida de Cristo. DeMille gostou da ídéia, mas confiou a Jeanie Macpherson a tarefa de adaptar os Evangelhos para a tela. Devido ao sucesso de Os Dez Mandamentos, DeMille e Macpherson pretendiam originariamente que The King of Kings tivesse uma estrutura em duas partes, com uma história moderna tratando de um homem que tenta seguir os passos do Cristo; mas depois desistiram. Entretanto, DeMille queria desenvolver uma história de amor entre Judas e Maria Madalena, que constava em uma antiga lenda germânica da Idade Média pouco conhecida. Para interpretar o papel do Cristo, DeMille escolheu H. B. Warner. Henry Byron Warner, que alcançara seu maior êxito nos anos dez, tinha cinquenta e um anos em 1926 e estava quase esquecido em Hollywood, mas a idade e o relativo anonimato ajudaram na composição do personagem. No decorrer da filmagem, o padre jesuita Daniel A. Lord, consultor official da Igreja Católica no filme, estava perturbado (melhor dizendo, horrorizado) com as modificações que De Mille estava pretendendo fazer em relação ao Evangelhos mas, à medida que a produção prosseguia, algo de estranho começou a acontecer. Cristo começou a tomar conta do filme. Certo dia, DeMille tocou na mão do padre Daniel Lord. “Ele é grande, não é? disse DeMille. “Warner”? Lord respondeu. “Jesus. Ele é grande”. Depois, após uma pausa, “Tenho dúvida se vamos precisar da história de Maria Madalena e Judas” (cf. Robert S. Birchard em Cecil B DeMille’s Hollywood, 2004).

Cenas de O Rei dos Reis

Cenas de O Rei dos Reis

filmes biblicos king of kings IVO filme começa mostrando Maria Madalena como uma prostituta de luxo (ela tem um leopardo de estimação e uma biga puxada por zebras) que arde de ciúmes ao saber que seu amante Judas Iscariotes agora segue um carpinteiro de Nazaré; mas, felizmente, De Mille abandona logo este falso triângulo amoroso e o resto da narrativa prossegue muito reverenciosamente. DeMille preocupou-se em evitar acusações de anti-semitismo, incluindo uma cena que não está na Bíblia: depois do terremoto que se seguiu à crucifixação, Caifás cai se ajoelha e roga a Deus, “Senhor Deus Jeová, não lance sua ira sobre o povo de Israel – somente eu sou culpado!”. Por causa da preocupação de que qualquer escândalo pudesse arruinar as expectativas de bilheteria para The King of Kings, os atores comprometeram-se por escrito a manter um comportamento exemplar dentro e fora do estúdio. DeMille mandou seu fotógrafo, Peverell Marley, estudar as pinturas clássicas especialmente as do Renascimento para criar o aspecto visual da realização. Com a direção de arte de Mitchell Leisen (auxiliado por Anton Grot, Dan Sayre Groesbeck) e do decorador Theodore Dickson, foram reproduzidos com o maior cuidado alguns lugares do Templo de Jerusalém, a via dolorosa, a colina do calváro etc. Entre esses cenários (construidos em Culver City) se destacavam o palácio de Herodes e o Sinédrio por sua elegância arquitetônica. O Rei dos Reis foi lançado em duas versões. A versão “roadshow”, exibida em Nova York e em cidades maiores, tinha 155 minutos de duração e incluia várias cenas coloridas. A versão que a maioria dos americanos viu tinha 112 minutos de duração e apenas uma cena colorida.

A ARCA DE NÓE / NOAH’S ARK / 1929.

Dir: Michael Curtiz. Dolores Costello (Mary/Miriam), George O’Brien (Travis/ Japheth, Noah Beery (Nickoloff/ Rei Nephilim), Louise Fazenda (Hilda / Criada da taverna), Guinn “Big Boy” Williams (Al / Ham), Paul McAllister (Sacerdote / Noah), Nigel De Brulier (Soldado / Sumo Sacerdote), Anders Randolf (Alemão / Líder dos soldados), Armand Kaliz (Francês / Líder dos guardas do rei), Myrna Loy (Dançarina / Escrava), William V. Mong (Estalajadeiro / Guarda).

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Tal como Intolerância de D.W. Griffith e Os Dez Mandamentos de Cecil B. DeMille, A Arca de Noé tinha uma história moderna usada como contraponto paralelo a um segmento bíblico. Em um trem que vai de Constantinopla para Paris, Mary, jovem alsaciana integrante de uma trupe teatral, dois americanos, Travis e Al, um alemão, um francês, um russo e um sacerdote se envolvem em uma discussão a respeito da Cristandade, que é abruptamente interrompida por uma colisão. Eles encontram abrigo em uma estalagem, onde a discussão continua, quando chega a notícia de que a guerra foi declarada. Em Paris, Mary e Travis se apaixonam e Travis e Al se alistam; Mary torna-se dançarina em uma cantina sempre procurando por Travis. Quando Mary repudia um russo, ele faz com que ela seja incriminada como espiã alemã; porém no dia marcado para a execução, Travis a reconhece no último minuto. A esta altura é feita uma comparação entre a situação da Primeira Guerra Mundial e a história bíblica do Dilúvio. O êxito do Vitafone havia saneado os cofres do estúdio, permitindo a construção de cenários enormes nos terrenos de Burbank e forçado a introdução de algumas sequências faladas, já que fazer o filme inteiramente falado, seria excessivamente custoso e pouco recomendável, haja visto o número escasso de salas que poderiam exibí-lo.

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George O.Brien e Dolores Costello

George O.Brien e Dolores Costello

filmes biblicos noah's arch Iv

filmes biblicos noah's ark posterUm exército de artesãos construiu nos terrenos exteriores do estúdio uma pequena cidade com linhas telefônicas e alto falantes, pelos quais a voz do diretor e música ambiental pudessem ser escutados em todos os cantos. A construção dos cenários (desenhados por Anton Grot), que ocupavam uma extensão de quase 3 km quadrados, empregou um grande número de operários trabalhando em três turnos. O templo de Jaghuth, onde se desenrola a cena mais espetacular do filme, media uns 116 metros de um extremo a outro e sua viga mais elevada atingia 26 metros. A estátua de Moloch, o deus pagão, pesava 15 toneladas e media 31 metros de altura. O interior da Arca se extendia por 60 metros e estava dividido em níveis unidos por escadas – o primeiro para os animais, o segundo para a forragem e a comida, o terceiro para Noé e sua família – e incorporavam compartimentos separados para as distintas espécies de animais. O número de figurantes chegou a 10 mil e, para sequência da inundação, foram construidos grandes tanques nas colinas próximas do estúdio, capazes de armazenar e liberar 14 mil toneladas de água. Quando o fotógrafo Hal Mohr soube que Curtiz e Zanuck iriam despejar de verdade toda essa água sobre os dublês e milhares de figurantes, ele se negou a continuar a filmagem, e foi substituido por Barney McGill, que aceitou as explicações que lhe deram. O resultado final visto na tela foi o previsto e desejado, embora com consequências nefastas. Vários figurantes ficaram feridos gravemente e pelo menos um perdeu uma perna.

ASTROS INFANTÍS NO CINEMA MUDO AMERICANO

dezembro 11, 2014

  Quando se fala em astros infantís do passado, as pessoas se lembram de Shirley Temple, Mickey Rooney, Judy Garland, Deanna Durbin, Jackie Cooper, Freddie Bartholomew, Margaret O’Brien etc., porém intérpretes mirins de muita popularidade já existiam antes do advento do som.

Deixando de lado Mary Pickford, que embora tivesse desempenhado muitos papéis de menina, não era uma child star propriamente dita e a turma da série Os Peraltas / Our Gang porque formavam um grupo, que foi sendo modificado através dos anos, relembro, de maneira sucinta, os principais astros infantís de Hollywood no período silencioso.

Helen Badgley

Helen Badgley

HELEN BADGLEY  (1908-1977).

Nasceu em Saratoga Springs, Nova York e, aos três anos de idade já estava aparecendo no seu primeiro filme, Brother’s Bob’s Baby / 1911. Em 1912, ela trabalhou em onze filmes e, em 1913, este número subiu para vinte e três. Quando tinha seis anos, a pequenina atriz perdeu seus dois dentes de leite da frente e se afastou das telas até que os novos dentes nascessem. Ao todo fez 103 filmes e estava entre os artistas mais conhecidos da Thanhouser de sua época, ganhando o apelido de “The Thanhouser Kidlet”. A Thanhouser Film Corporation foi fundada em 1909 pelo empresário teatral Edwin Thanhouser, que costumava  incluir outras crianças nos seus filmes tais como Marie Eline (The Thanhouser Kid”) e Marion and Madeleine Fairbanks (“The Thanhouser Twins”), mas elas não alcançaram a mesma fama que Helen. Talvez seu filme mais conhecido tenha sido Zudora ou O Mistério de 20 Milhões de Dólares (obs. lançado em São Paulo com o título de O Detetive Misterioso) / Zudora, seriado estrelado por Marguerite Snow e James Cruze, produzido em 1917, ano em que Helen encerrou suas atividades na companhia.

Wesley Barry

Wesley Barry

WESLEY BARRY (1907-1994).

Nasceu em Los Angeles, Califórnia e tinha sete anos de idade quando foi aproveitado pela Kalem Company, cujo estúdio ficava perto de sua casa.  A princípio ele não chamou muita atenção, principalmente porque, nos primeiros tempos do cinema, tudo que fosse considerado um defeito facial era coberto com maquilagem, e o rosto de Wesley estava cheio de sardas. Foi o diretor Marshall Neilan que percebeu algo de especial no menino, contratou-o para a sua companhia produtora, e o colocou   (em Rebeca / Rebecca of Sunnybrook Farm, grande êxito de Mary Pickford) diante das câmeras sem maquilagem, deixando um punhado de seu cabelo avermelhado despenteado.  Wesley começou a se destacar e os fãs do cinema mudo  tiveram a satisfação de vê-lo atuar, por exemplo, mais uma vez  em um filme de Mary Pickford nas cenas de orfanato de Papaizinho Pernilongo / Daddy Long Legs / 1919, ou como o criadinho bisbilhoteiro Buttons, que espia pelo buraco da fechadura do quarto de Gloria Swanson até ser surpreendido pelo mordomo Crichton em Macho e Fêmea ou De Fidalgo a Escrava / Male and Female / 1919

astros infantis wesley barry penrodde Cecil B. De Mille. Wesley também causou boa impressão em Enganos e Desenganos / The Lotus Eater / 1921 (dirigida por Neilan) como Locko ao lado de John Barrymore e em outro filme do mesmo diretor, Homens de Amanhã / Penrod / 1922, interpretando o papel-título. Depois Wesley fez uma série de filmes para William Beaudine na Warner Bros. e, no cinema falado, atuou como adulto em pequenos papéis entre 1930 e 1943. Subsequentemente, tornou-se assistente de direção e/ou diretor de segunda unidade no cinema (vg. em Massacre em Chicago / The St. Valentine’s Day Massacre / 1967 de Roger Corman) e na telvisão (vg. série Esquadrão de Homicídios / Mod Squad / 1968-69), encerrando a carreira em 1975.

Jackie Coogan

Jackie Coogan

JACKIE COOGAN (1914-1984).

John Leslie “Jackie” Coogan Jr. nasceu em Los Angeles, Califórnia no seio de uma família do show business. Seu pai, John H. Coogan, era ator e dançarino e sua mãe havia sido atriz infantil no teatro. Com apenas dezoito mêses de vida Jackie apareceu, sem ser creditado, em um filme intitulado Skinner’s Baby / 1917 e, aos cinco anos de idade, começou a excursionar com a família em espetáculos de vaudeville. Desde algum tempo, Charles Chaplin vinha planejando um filme chamado The Waif, mas ficava sempre adiando a realização do projeto, porque não conseguia encontrar o menino certo para atuar a seu lado. Quando Chaplin o viu dançando em um dos prólogos de Sid Grauman (intitulado “The 1920 Bathing Girl Revue”) apresentado antes da exibição do filme A Filha do Contrabandista / A Daughter of the Wolf / 1919 com Lila Lee), teve a certeza de que sua busca havia terminado. Para testar Jackie, Chaplin colocou-o em Um Dia de Prazer ou Um Dia Bem Passado /  A Day’s Pleasure / 1919, e ele o convenceu definitivamente de que tinha qualidades para se tornar um astro. Chaplin contratou-o, por 75 dólares semanais,

Captura de Tela 2014-11-30 às 18.53.20 para o papel principal de seu primeiro longa-metragem – agora intitulado The Kid -, que foi lançado nos Estados Unidos em 1921 e exibido no Brasil como O Garoto. Neste seu primeiro filme de longa-metragem, Carlitos é um vidraceiro que adota um bebê abandonado, interpretado por Jackie. Cinco anos se passam e os dois começam a trabalhar juntos: o garoto  quebra a vidraça das casas e logo depois aparece Carlitos, oferecendo seus serviços. Até que os funcionários de um orfanato levam a criança a força, em uma das cenas mais emocionantes do cinema. Jackie prosseguiu sua carreira atuando em filmes de sucesso como O

astros infantis coogan poster owist Garotinho / Peck’s Bad Boy / 1921, Oliver Twist / Oliver Twist / 1922 ao lado de Lon Chaney como Fagin, O Reizinho / Long Live the King / 1923, O Pequeno Robinson Crusoe / Little Robinson Crusoe / 1924 e O Trapeiro / The Rag Man / 1925 e, no auge da fama, era um dos atores mais bem pagos de Hollywood. Além disso, Jackie encheu os cofres da Jackie Coogan Productions – fundada por seus pais – com a mercadização de bonés, bonecos, descansadores de copos, lápis, lancheiras e várias peças de roupas.  Jackie atuou em versões sonoras de Aventuras de Tom Sawyer / Tom Sawyer / 1930 e Mocidade Feliz / Huckleberry Finn / 1931, mas elas não foram tão populares quanto seus filmes da era silenciosa. Em 1935, ele foi o único sobrevivente de um acidente de carro, no qual seu pai e outras três pessoas morreram. Embora Jackie tivesse ganho mais de 4 milhões de dólares quando criança, estava praticamente sem dinheiro aos vinte anos de idade. Seus pais haviam gasto tudo com exceção de 250 mil dólares, sobre os quais sua mãe e seu padrasto ainda tinham o contrôle. Jackie entrou com uma  ação judicial contra eles e venceu a causa (mas, deduzidas as despesa legais, ficou somente com 126 mil dólares). Esta decisão levou à promulgação de uma lei no Estado da Califórnia (a Child Actor’s Bill, também chamada de Coogan Law ou Coogan Act), que dava proteção aos direitos dos atores infantís na indústria do entretenimento. Durante a Segunda Guerra Mundial, Jackie serviu nas Fôrças Armadas. Após o fim do conflito,  interpretou pequenos papeís em filmes modestos e aderiu à televisão, onde ficou mais conhecido como o Tio Fester na série A Famíla Addams / The Addams Family. Encontrei no jornal “O Paiz” de

Captura de Tela 2014-12-11 às 16.05.38

28/10/1922 anúncio sobre o filme 30 Jackies Coogan realizado por A. (Alberto Mancio) Botelho sobre o que foi o Concurso Odeon promovido por Francisco Serrador para promover O Garotinho. Realizado no Cinema Odeon, o concurso visava apurar qual a criança mais capaz de imitar o pequeno artista. Disputaram cerca de 30 candidatos.

VIRGINIA LEE CORBIN (1910-1942).

Virginia Lee Corbin

Virginia Lee Corbin

Virginia LaVerne Corbin (mudando depois o La Verne por Lee) nasceu  em Prescott, Arizona e. além de talentosa, era uma criança bonita. Com dois anos de idade, posou para a Art Calendar Company de Nova York, entre outros empregos, como modelo.Não se sabe ao certo como Virginia entrou para o cinema. Existem várias versões, sendo uma delas a que diz que, em 1915, os pais de Virginia se mudaram para Los Angeles. Mr. Corbin levou Virginia consigo para visitar um estúdio. Um dos diretores viu a menina e insistiu para que ela trabalhasse durante um dia em uma produção que ele estava dirigindo. Ela se saiu tão bem, “que não a largaram mais”. Segundo outra versão, Virginia foi descoberta por um diretor quando assistia sua irmã, Ruth Corbin, três anos mais velha que ela, representar uma cena em um filme da Balboa Amusement Producing Company dos irmãos H.M. e Elwood Horkheimer. Pelo que parece, Ruth foi obviamente ofuscada pela sua irmã mais nova e pouca informação pode ser encontrada a respeito dela. Quanto aos primeiros filmes de Virginia também há discordância. O primeiro filme atribuído a Virginia no Catalog of Feature Films do American Film Institute  é Heart Strings / 1917, produzido pela Universal e estrelado por Allan Holubar (também diretor) e Francelia Billington. Não se sabe quando ela completou seu trabalho em Heart Strings mas, em outubro de 1916, ela já assinara contrato com a Fox Film Company, uma mudança que lhe abriria caminho para se tornar uma verdadeira estrela. Em 1917, Virginia fez (acompanhada por outras crianças, Francis Carpenter, Carmen De Rue e Violet Radcliffe – que quase sempre fazia os papéis de “vilão”), quatro “Kiddies Features”: Joãosinho, o Matador de Gigantes /

astros infantis aladin corbin III bestJack and  the Beanstalk, Aladino e a Lâmpada Maravilhosa / Alladin and His Wonderful Lamp, A Ilha do Tesouro / Treasure Island e Realidade e Fantasia / Babes in the Woods, que foram todos dirigidos pelos irmãos Chester M. e Sidney Franklin. Nesta ocasião, ela recebeu o apelido de “The Dresden Doll of the Movies”. Em 1918, Virginia participou de Ajustando Contas / Six –Shooter Andy e A Filha da Neve / Ace High, ambos com o astro-cowboy Tom Mix. No mesmo ano, Fan Fan / Fan Fan trazia novamente os companheiros de Virginia nas “Kiddie Features”: Francis Carpenter é Hanki Pan, o filho do imperador Japonês e Virginia é Fan Fan, a garota com quem ele pretende se casar. Carmen De Rue interpreta o papel de Lady Shoo “uma velha feia e rabugenta”, que persegue o casal de namorados e Violet Radcliffe, o carrasco. O último filme de Virginia na Fox,  foi o drama The Forbidden Room / 1919, com Gladys Brockwell à frente do elenco. Em 1920, vamos encontrá-la em Honra Mal Vista / The White Dove, dirigido por Henry King; porém os próximos anos não lhe trouxeram o êxito Dos anos anteriores. Somente em 1923 ela voltaria às telas em Enemies of Children, provavelmente a única produção da Fisher Productions, estrelado por Anna Q. Nilsson. Em 1924, Virginia já havia se tornado uma mocinha e, como tal, apareceu em Pela Tua Felicidade e a Minha / The City That Never Sleeps, Vinho, Jazz, Riso e Amor! / Wine of Youth, Pecadores em Seda / Sinners in SilkPerdição / Broken Laws, Moças Irrefletidas / The Chorus Lady etc. A partir de 1925, VIrginia faria ainda 18 filmes para

Virginia Lee Corbin e Raymond Griffith em Golpes de Audácia

Virginia Lee Corbin e Raymond Griffith em Golpes de Audácia

vários estúdios, destacando-se duas comédias,  Golpes de Audácia / Hands Up! / 1926, na qual Virginia e Marian Nixon são duas irmãs apaixonadas por  um espião confederado, interpretado por Raymond Griffith (que perdeu a voz e não pôde expandir seus dotes de excelente comediante no cinema sonoro) e Que Escândalo / The Whole Town’s Talking / 1926, na qual Virginia contracena com outro comediante admirável, Edward Everett Horton. O primeiro filme eu vi, e adorei; o segundo, somente pelo seu enredo percebe-se que deve ser muito bom. Horton é Chester Binney, veterano da Primeira Guerra Mundial, que volta para casa pensando que lhe puseram uma placa de aço na cabeça e acha que deve evitar qualquer excitação. Seu patrão tenta arranjar um casamento entre ele (que herdou uma fortuna) e sua filha Ethel (Virginia Corbin), porém ela não se anima, achando-o pouco sedutor. O pai então divulga uma fotografia de uma atriz de cinema famosa (Dolores Del Rio), dedicada a Chester. O marido ciumento da atriz fica sabendo da história e surgem as complicações. O primeiro filme falado de Virginia foi Mademoiselle Fifi / Footlights and Fools / 1931 , seguindo-se no mesmo ano Trágica Aventura / X Marks the Spot, Morals for Women, Shotgun Pass (um western de Tim McCoy) e Forgotten Women, com o qual encerrou sua trajetória fílmica.

PHILIPPE DE LACY (1917-1995).

Philippe De Lacy em Peter Pan

Philippe De Lacy em Peter Pan

Nasceu em Nancy, França durante um ataque áereo no qual sua mãe foi tragicamente morta. Ele foi adotado por Mrs. Edith De Lacy, que estava associada com o Woman’s Overseas Hospital. Quando a Guerra terminou, Mrs. De Lacy levou Philippe para a América, onde a bela aparência do menino logo lhe criou oportunidades de trabalhar como modelo para anúncios de revistas. Seus compromissos como modelo chamaram a atenção de Hollywood e ele apareceu em seu primeiro filme em um pequeno papel com a idade  de quatro anos. Nos anos vinte, Philippe atuou como freelancer para vários estúdios mas, na maioria das vêzes, para a Paramount. Eis alguns exemplos: em 1923 ele foi o irmão de Rosita (Mary Pickford) em Rosita / Rosita de Ernst

Lubitsch dirige Philippe De Lacy em Rosita

Lubitsch dirige Philippe De Lacy em Rosita

Lubitsch; em 1924, ele interpretou o papel de Michael Darling  em Peter Pan / Peter Pan, estrelada por Betty Bronson; em 1926,  encarnou Don Juan com dez anos de idade em Don Juan / Don Juan, personificado por John Barrymore na vida adulta e o jovem Digby Geste, em Beau Geste / Beau Geste; em 1927, Philippe era o príncipe herdeiro Karl Franz no filme de Ernst Lubitsch, O Príncipe Estudante / The Student Prince in Old Heidelberg, estrelado por Ramon Novarro e Norma Shearer. Ainda em 1927, Philippe estava  ao lado de Greta Garbo e John Gilbert  em Anna Karenina / Love, uma versão da obra Anna Karenina de Tostoi. Neste filme, ele interpretava o papel do filho de Anna, Serezha Karenin. Quando chegou o cinema falado, a carreira de ator de Philippe estava em declínio e ele se retirou do cinema em 1931. Daí para frente, durante muitos anos, concentrou-se em outros ramos  da atividade cinematográfica e na publicidade. Foi assistente do diretor Louis De Rochemont, contribuindo como diretor técnico no documentário We Are The Marines  / 1942;  funcionou como associado editorial  no documentário Belonave / The Fighting Lady / 1944; dirigiu (com Robert L. Bendick) o documentário Cinerama Holiday / 1955 – produzido por De Rochemont; foi executivo da agência de publicidade J. Walter Thompson.

JANE LEE (1912-1957) e KATHERINE LEE (1909-1968).

Jane e Katherine Lee em We Should Worry, um dos filmes que fizeram com Kenean Buel

Jane e Katherine Lee em We Should Worry, um dos filmes que fizeram com Kenean Buel

astros infantis Jane Lee psoter

Nasceram em Glasgow, Escócia. Trabalharam no vaudeville em Nova York e Londres. No cinema, as duas atuaram sozinhas ou juntas em vários filmes curtos e/ou longas-metragens. Katherine começou a chamar atenção, interpretando o papel da Princesa Gloria, personagem de Annette Kellerman quando criança em A Filha de Netuno / Neptune’s Daughter / 1914, do qual Jane não participou. Entre os filmes que fizeram depois, estavam algumas produções dirigidas por Herbert Brenon  e / ou J. Gordon Edwards (vg. sob a direção de Brenon, Jane atuou sozinha em Infidelidade / The Clemenceau Case / 1915 e com Katherine em Uma Filha dos Deuses / A Daughter of the Gods / 1916; sob  direção de J. Gordon Edwards, Katherine atuou sozinha em Chamas do Ódio / The Galley Slave / 1915 e com Jane em Romeu e Julieta / Romeo and Juliet / 1916 – todos esses filmes foram estrelados por Theda Bara com exceção de Uma Filha dos Deuses, que tinha como atriz principal Annette Kellerman). Juntas, elas fizeram vários filmes com os diretores Arvid E. Gilsstrom, Kenean Buel e John G. Adolfi, e ambas deixaram as telas em 1936.

BABY MARIE OSBORNE (1911-2010).

Baby Marie Osborne

Baby Marie Osborne

Helen Alice Myers nasceu em Denver, Colorado e logo se tornou – sob misteriosas circunstâncias – filha adotiva de Leon e Edith Osborn, que passaram a chamá-la de Marie e acrescentaram um “e” ao seu sobrenome, provavelmente para ocultar a adoção. Em 1914, os Osbornes se mudaram para Long Beach na Califórnia. Edith era uma atriz com o nome artístico de Babe St. Clair e Leon, um agente teatral. Eles alugaram um quarto e, sem terem condições de pagar uma babá, levaram Marie com eles ao Balboa Studios, onde arrumaram trabalho no cinema silencioso. A graciosa menina despertou a atenção do pessoal do estúdio a colocou em um filme chamado Kidnapped in New York. Em 1915- 1917, Henry King dirigiu oito filmes com ela, sendo que um

Baby Osborne em O Anjinho Louro

Baby Osborne em O Anjinho Louro

deles, O Anjinho Louro /Little Miss Sunshine, escrito especialmente para ela, fez um grande sucesso, tornando-a uma estrela internacional.  Entretanto, o diretor que trabalhou mais com Marie foi William Bertram, dirigindo-a em 11 filmes, produzidos pela Diondo Film Company, cujo vice-presidente era Leon Osborne, o pai adotivo de Marie: Sentimento Patriótico / The Little Patriot /1917; A Bebê do Papai / Daddy’s Girl / 1918, O Concurso de Marieta / Dolly Does Her Bit / 1918; Uma Filha da Região Mineira / A Daughter of the West / 1918; A Voz do Destino / The Voice of Destiny / 1918; Cupido por Procuração / Cupid by

Captura de Tela 2014-12-04 às 18.24.00Proxy / 1918; Conquistando a Avozinha / Winning Grandma / 1918; Marieta em Férias / Dolly’s Vacation / 1918; Sonho e Realidade / Milady o’ the Beanstalk / 1918; A Orfã do Circo / The Old Maid’s Baby / 1919; Boneca da Serragem / The Sawdust Doll / 1919. Em dois desses filmes, Marie interpretou a personagem Dolly (no Brasil, Marieta) e tinha a seu lado um pretinho chamado Sambo (no Brasil, Chiquinho), encarnado apor Ernest Morrison (Agradeço a Sergio Leemann, que me enviou a filmografia comentada de William Bertram, uma das mais de mil que integram seu “Diretores do Cinema Clássico Americano”, acompanhadas de mais de quinhentas fotografias inéditas dos cineastas, a ser publicada brevemente). Em 1919, a carreira de Baby Osborne no cinema mudo se encerrou. Ela voltou quinze anos depois a pedido do seu antigo mentor Henry King, para aparecer como figurante no seu filme Carolina / Carolina / 1934, estrelado por Janet Gaynor. Entre 1934 e 1950, Baby Osborne continuou atuando como extra e serviu de stand-in para atrizes como Ginger Rogers, Deanna Durbin e Betty Hutton. Em 1954, ela começou uma nova carreira como figurinista para a Western Costume, firma que supria a indústria cinematográfica de roupas. Ela trabalhou em vestuários para filmes como A Volta ao Mundo em 80 Dias / Around the World in 80 Days / 1956 e O Poderoso Chefão II / The Godfather: Part II / 1974, aposentando-se em 1977.

BABY PEGGY  (1918 – ).

Baby Peggy

Baby Peggy

Margaret (“Peggy Jean”) Montgomery nasceu em San Diego, Califórnia Seu pai, Jack Montgomery era dublê de Tom Mix. Peggy foi “descoberta” com a idade de dezenove mêses, quando sua mãe e um amigo que era figurante a levaram em uma visita ao Century Studios em Sunset Boulevard. Impressionado com menina, o diretor Fred Fishback colocou-a em um filme curto, Playmates / 1921, com o astro canino Brownie, the Wonder Dog. O filme foi um sucesso, e Peggy assinou contrato de longo têrmo com a Century, atuando em vários outros filmes com Brownie. Entre 1921 e 1924, ela fez paródias de longas-metragens entre os quais Artista de Cinema / Peg O’ The Movies / 1923 (fazendo deliciosas imitações de Pola Negri e Rudolph Valentino), Estrela Mirim / Little Miss Hollywood / 1923 (imitando Harold Lloyd, Carlitos e a vampiresca Estelle Taylor) e Carmen Junior

Captura de Tela 2014-12-03 às 19.33.47/ Carmen Jr. / 1923; apareceu em adaptações de contos de fadas como O Chapeuzinho Vermelho / Little Red Hiding Hood / 1922, O Feiticeiro / Hansel and Gretel / 1923 e Jack, o Gigante / Jack and the Beanstalk / 1924; em comédias contemporâneas; brevemente como ela própria, ao lado de um punhado de astros e estrelas em Hollywood / Hollywood / 1923; em alguns longas-metragens como Homens de Amanhã / Penrod / 1922 (dirigido por Marshal Neilan e produzido pela Marshall Neilan Productions) e A Querida de Nova York / The Darling of New York / 1923 (dirigido por King Baggot e produzido pela Universal – Jewel (de acordo com seu status de estrela, os filmes de Peggy na Universal foram produzidos e comercializados sob a marca Universal-Jewel, a classificação mais prestigiosa e cara do estúdio). A Querida de Nova York, juntamente com Os Filhos de

astros infantris baby peggy poster

astros infantis baby peggy posterHelena / Helen’s Babies / 1924 (Dir: Edward F. Cline) e Captain January / 1924 (Dir: William Seiter), ambos produzidos pela Principal Films de Sol Lesser, alcançaram grande sucesso. Por ocasião do lançamento de Captain January – que seria refilmado no futuro com Shirley Temple no papel principal – consta que Baby Peggy recebia 4.680 mil cartas de fãs por dia! Seus pais exploraram a sua imagem, comercializando bonecas, jóias (e caixa de jóias), roupas, bonecas de papel, papel de carta e uma variedade de outros ítens. A carreira cinematográfica de Baby Peggy terminou abruptamente em 1925 quando seu pai teve uma discussão com Sol Lesser a respeito do salário de sua filha. O produtor cancelou seu contrato e ela entrou em uma lista negra, que a impediu de trabalhar, conseguindo apenas um pequeno papel em April Fool / 1926, filme produzido por uma companhia menor, a Chadwick Pictures. Por outro lado, sua fortuna fôra exaurida por seus progenitores (tal como a de Jackie Coogan), obrigando-a se apresentar no vaudeville para sobreviver. Um retorno às telas no começo do cinema sonoro com seu novo nome

diana serra cary II

artístico  ”Peggy Montgomery” durou muito pouco. A ex-estrela infantil viveu em condições difíceis e sofreu abalos nervosos por muitos anos até que encontrou uma nova e inesperada carreira como editora de livros e escritora, usando o pseudônimo “Diana Serra Cary”. Como autora publicou: “The Hollywood Posse: The Story of a Gallant Band of Horsemen Who Made Movie History”; “Hollywood’s Children: An Inside Account of the Child Star Era”; Jackie Coogan: The World’s Boy King: A Biography of Hollywoood’s Legendary Child Star” e “What Happened to Baby Peggy: The Autobiography of Hollywood’s Pioneer Child Star”.

OS WESTERNS DE ANDRE DE TOTH

novembro 28, 2014

Creditado como Andre De Toth ou Andre de Toth, este diretor húngaro com um conhecimento profundo de seu ofício, noção precisa de economia narrativa e posicionamento da câmera, e cuidado especial com o detalhe, realizou filmes expressivos na sua carreira (Ninguém Escapará ao Castigo / None Shall Escape / 1944, Caminho da Tentação / Pitfall 1948, Museu de Cera / House of Wax /1953, Cidade Tenebrosa / Crime Wave / 1954, Espia de Duas Caras / The Two Headed Spy / 1958, Contra Espionagem / Man on a String / 1960, Inferno no Deserto / Play Dirty / 1969) e foi um dos diretores importantes no gênero western nos anos cinquenta. Seis dos dez westerns que dirigiu nessa década (Terra do Inferno / Man in the Saddle /1951, Ouro da Discórdia / Carson City / 1952, Torrentes de Vingança / Thunder over the Plains / 1953, O Pistoleiro / The Stranger Wore a Gun / 1953, Alma de Renegado / Riding Shotgun / 1954 e Feras Humanas / The Bounty Hunter / 1954) foram interpretados por Randolph Scott e são todos de boa qualidade. Os quatro restantes, Renegado Heróico / Springfield Rifle / 1952, O Sabre e a Flecha / Last of the Comanches / 1952, A Um Passo da Morte / The Indian Fighter / 1955 e A Quadrilha Maldita / Day of the Outlaw/ 1959, mantêm o mesmo padrão e, de um modo geral, se equivalem, o derradeiro sobressaindo um pouco sobre os demais. Além desses, De Toth dirigiu Abrasadora / Ramrod / 1947, estréia auspicosa no “cinema americano por excelência”.

Andre De Toth

Andre De Toth

ABRASADORA / RAMROD.

toth

O vaqueiro Dave Nash (Joel McCrea) torna-se capataz do rancho de Connie Dickason (Veronica Lake), depois que seu noivo deixou a cidade, ameaçado de morte por Frank Ivey (Preston Foster), rico proprietário da região, apoiado pelo pai dela (Charles Ruggles). Para se vingar de Frank e obter maior poder, Connie não hesita em seduzir Dave e seu amigo, o pistoleiro Bill Schell (Don DeFore), envolvendo-os nas suas intrigas, que trazem consequências trágicas.

toth ramrod cena

John Ford ia dirigir o filme para a Enterprise, uma nova companhia criada por Charles Enfeld e David Loew mas, ocupado com a filmagem de Paixão dos Fortes / My Darling Clementine / 1946, ele indicou De Toth para substituí-lo. Filmado no Zion National Park em Utah, é um western prematuramente adulto com elementos noir (fotografia escura, mulher fatal, ambição) girando em torno da velha história de criadores de ovelhas contra criadores de gado. De Toth mantém uma tensão permanente, utilizando com mestria os planos longos, e compõe algumas cenas originais (a narrativa começa no meio da história) e de violência chocante para a época (por exemplo, aquela em que Bill encosta o cigarro aceso na mão do capanga covarde de Frank, obrigando-o a sacar sua arma e, em seguida, matando-o friamente).

TERRA DO INFERNO / MAN IN THE SADDLE.

Cena de Terra do Inferno

Cena de Terra do Inferno

Laurie (Joan Leslie) casou-se por interesse com um fazendeiro rico, Will Isher (Alexander Knox), porém seus verdadeiros sentimentos dirigem-se para Owen Merritt (Randolph Scott). Com ciúmes de Owen, Will manda seus capangas, chefiados por Dutcher (Richard Rober), invadirem suas terras. Após várias escaramuças e morticínios, Owen vai procurar Will, sem saber que este já havia resolvido deixá-lo em paz, após ter obtido de Laurie o compromisso de que partiria em sua companhia para outro lugar. Neste momento, confundindo Owen com Will, Dutcher mata o patrão e, depois de um duelo sem misericórdia, vem a ser morto por Owen.

toth man in the saddle poster

Este primeiro filme no qual De Toth dirigiu Randolph Scott, beneficia-se de um elenco de apoio muito eficiente e um bom roteiro. Em acréscimo, tem a bela paisagem de Alabama Hills, Lone Pine, soberba fotografia noturna (vg. o tiroteio em um saloon totalmente no escuro, iluminado apenas pelo clarão dos tiros) e muita ação, salientando-se o estouro da boiada, o tiroteio no meio de uma tempestade de areia e a longa briga entre Owens e um dos bandidos (John Russell), quando os dois homens rolam pelo barranco ao lado da cachoeira.

OURO DA DISCÓRDIA / CARSON CITY.

Cena de Ouro da Discórdia

Cena de Ouro da Discórdia

O engenheiro Jeff Kinkaid (Randolph Scott) inicia a construção da ferrovia que vai ligar Virginia City a Carson City, contrariando os interesses de Jack Davis (Raymond Massey). Chefe de um bando de assaltantes de diligências, Davis faz tudo para impedir a obra e finalmente é desmascarado por Kinkaid, quando tenta roubar o primeiro trem a fazer o percurso.

O filme estava previsto para reunir o director Michael Curtiz e o ator Errol Flynn, que haviam trabalhado juntos em outros espetáculos do mesmo gênero. Porém Flynn se recusou a participar do projeto, e Curtiz também, alegando que não queria ser cobaia do novo sistema Warner Color. De Toth e Randolph Scott ocuparam seus lugares e o resultado foi um western com um detalhe curioso – os assaltantes oferecem um lanche regado a champanhe para os passageiros das diligências assaltadas, razão pela qual ficam conhecidos como “O Bando do Champanhe”- e muita ação, ilustrada principalmente pelo assassinato do cocheiro da carroça de carga (jogado inconsciente dentro do veículo em um despenhadeiro); a briga entre Kinkaid e seu empregado brutamonte; o episódio do desmoronamento da mina; o tiroteio ente Kinkaid e Jack Davis em um cânion rochoso; e o assalto ao trem no final.

RENEGADO HERÓICO / SPRINGFIELD RIFLE.

Andre De Toth e Gary Cooper

Andre De Toth e Gary Cooper

Em Fort Hadley, no Colorado, o Major Alexander Kearney (Gary Cooper) é julgado por uma corte marcial e expulso do exército. Trata-se de um ardil, para que ele possa se infiltrar como espião em um bando que rouba cavalos da União, para vendê-los aos confederados. Kearney descobre que os ladrões agem em ligação com o seu próprio comandante, Tenente Coronel John Hudson (Paul Kelly) e, com a ajuda de seis homens leais e um carregamento de novos fuzís Springfield, consegue capturá-los.

Cena de Renegadp Heróico

Cena de Renegadp Heróico

A trama tem um aspecto interessante: o desenvolvimento da contra-espionagem no exército da União durante a Guerra Civil. A experimentação do novo rifle Springfield, que dá título ao filme, funciona apenas como um elemento acessório. Gary Cooper interpreta com perfeição o militar que sacrifica tudo a serviço de sua pátria e De Toth mantém a narrativa constantemente dinâmica, com muitas peripécias e surpresas. Ele se serve muito bem da paisagem fotogênica de Alabama Hills, Lone Pine, coberta de neve ou de bruma, uma natureza selvagem na qual ocorrem as cenas emocionantes do combate final com os cavalos em disparada, o fogo cercando os bandidos, e o tiroteio entre Kearney e Hudson por entre as pedras.

O SABRE E A FLECHA / LAST OF THE COMANCHES.

Cena de O Sabre e a Flecha

Cena de O Sabre e a Flecha

Os Comanches incendeiam a cidade de Dry Buttes. Somente seis cavalarianos escapam da destruição e têm que percorrer centenas de quilômetros através do deserto, para chegar ao seu forte. “Nós sobramos – diz o Sargento Matt Trainor (Broderick Crawford), que assumira o comando dos sobreviventes – “talvez por sorte ou talvez por azar”. No meio do caminho, eles recolhem os passageiros de uma diligência, entre os quais está uma mulher, Julia Lanning (Barbara Hale) e depois um rapazinho Kiowa, Little Knife (Johhny Stewart), que os conduz a uma antiga missão espanhola, onde encontram um pouco de água e são intermitentemente atacados pelos índios.

Broderick Crawford e Barbara Hale em O Sabre e a Flecha

Broderick Crawford e Barbara Hale em O Sabre e a Flecha

Nesta refilmagem no gênero western do filme de guerra Sahara / Sahara / 1943, De Toth trabalha bem com a ação (ataque dos índios à cidade seguindo uma manada de cavalos em disparada, tempestade no deserto, angústia e sofrimento causados pela sede, o indiozinho cavalgando nas dunas em busca de socorro etc.) e com o problema da água (usada como arma em um blefe – Trainor exige que os índios entreguem suas armas e se retirem em troca do precioso líquido que, na verdade, já se esgotara) sustentando o suspense.

TORRENTES DE VINGANÇA / THUNDER OVER THE PLAINS.

Phillys Kirk e Randolph Scott em Torrentes de Vingança

Phillys Kirk e Randolph Scott em Torrentes de Vingança

Após a Guerra de Secessão, o Estado do Texas ainda não estava apaziguado e um exército de ocupação é encarregado de pacificar o país. Um “carpetbagger”, H. L. Balfour (Hugh Sanders) em conluio com o coletor de impostos corrupto, Joseph Standish (Elisha Cook Jr.), compra a preço vil o algodão dos fazendeiros que não podem pagar seus tributos. Um certo número de homens da região sob o comando de Ben Westman (Charles McGraw) ataca e destrói os carregamentos de algodão adquiridos por Balfour e a cabeça de Westman é posta a prêmio. Denunciado por um de seus concidadãos, Henley (Jack Woody), Westman consegue escapar, porém Henley é encontrado morto e as suspeitas recaem sobre Westman. O Capitão David Porter (Randolph Scott), de origem texana, é encarregado de capturar Westman. Ele consegue prendê-lo, mas Westman será enforcado dentro de três dias, se a prova de sua inocência não for feita. Arriscando sua carreira militar, Porter, veste-se de civil, aceita se unir ao fora-da-lei e obtém uma confissão de Standish, que lhe permite provar que Balfour fora o assassino de Henley. Westman é salvo e a ação de Porter leva à pacificação definitiva do Texas.

Lex Barker e Randolph Scott em Torrentes de Vingança

Lex Barker e Randolph Scott em Torrentes de Vingança

Uma subtrama envolvendo um jovem official de West Point mau caráter e conquistador, Bill Hodges (Lex Barker), e Nora (Phillys Kirk), a esposa solitária (mas leal) do capitão Porter, completa o enredo. Algumas cenas de ação se destacam como aquela em que o informante caminha pela escuridão enquanto um grupo de fazendeiros o segue, e um deles o mata a facadas; o momento em que Porter surpreende Hodges beijando Nora à fôrça e os dois lutam; e o tiroteio final, quando Porter enfrenta três bandidos pelas ruas desertas da cidade, e vai eliminando um a um.

O PISTOLEIRO / THE STRANGER WORE A GUN.

Ernest Borgnine, R. Scott e Lee Marvin em O Pistoleiro

Ernest Borgnine, R. Scott e Lee Marvin em O Pistoleiro

Após a Guerra Civil, o ex-confederado Jeff Travis (Randolph Scott), serve de espião para Quantrill mas, decepcionado com o incêndio e saque da cidade de Lawrence, desliga-se do bando, e se torna jogador profissional em uma barcaça do Mississipi, associado a Josie Sullivan (Claire Trevor). No curso de uma briga, Jeff vai ser abatido, quando seu adversário é apunhalado por um desconhecido. Refugiado em Prescott, no Arizona, Travis descobre que seu salvador é Jules Mourrett (George Macready), cidadão influente, mas que na realidade chefia uma quadrilha de assaltantes de diligências. Mourret quer que ele faça o mesmo que fazia para Quantrill, assumindo a identidade de um detetive que fora contratado por Jason Conroy (Pierre Watkin) e sua filha Shelby (Joan Weldon), donos da empresa que explora o serviço de transporte, para saber onde eles escondem o ouro que carregam, também cobiçado por Degas (Alfonso Bedoya), assaltante mexicano, rival de Maurrett. Quando os homens de Mourrett matam o cocheiro da diligência, Travis se passa para o lado dos Conroys, e elimina os bandidos.

toth the strange wore a gun poster

Repleto de lances movimentados (planejados para serem filmados em 3-D – toda espécie de coisas apontadas ou arremessadas em direção à câmera: socos, armas, tochas, jarros, cadeiras), o filme tem um compasso rápido e as figuras interessantes de Mourrett e seus capangas, Dan (Lee Marvin) e Bull (Ernest Borgnine), bem como o mexicano truculento, interpretado por Bedoya. A morte de Degas por Bull, ambos com um sorriso nos lábios; as cenas do duelo a bala entre Travis e Dan, e o confronto final entre Travis e Mourrett dentro do saloon em chamas, são as cenas que despertam mais excitação.

ALMA DE RENEGADO / RIDING SHOTGUN.

Cena de Alma de Renegado

Cena de Alma de Renegado

Larry Delong (Randolph Scott) trabalha como guarda de diligência, enquanto procura Dan Marady (James Millican), o assassino de sua irmã e sobrinho. Larry cai em uma emboscada, sendo capturado por Marady e seus capangas, que o deixam amarrado para morrer na montanha. O assalto da diligência não passa de um truque para afastar o xerife Tub Murphy (Wayne Morris) e seus homens da cidade, permitindo que o bando se apodere do cofre do casino local. Larry consegue escapar e revela aos cidadãos de Deep Water o projeto dos bandidos, mas ninguém acredita nele e o acusam de ter roubado aqueles que fora encarregado de proteger. Refugiado em uma cantina, Larry consegue fugir e liquidar Marady e seu assecla Pinto (Charles Buchinski, o futuro Charles Bronson).

Cena de Alma de Renegado

Cena de Alma de Renegado

O filme lembra um pouco Matar ou Morrer / High Noon / 1952, mostrando o herói sozinho tanto diante dos bandidos como da população de sua própria cidade. A única pessoa decente é o xerife, mas ele está mais interessado em comer do que em fazer justiça (em uma situação tensa na narrativa, ele dá um tempo para pegar um pedaço de torta). Narrado em voz over por Delong, a história começa nos exteriores e depois a intriga se transfere para as ruas e prédios de Deep Water, onde De Toth constroi uma tensão permanente, incutindo algum humor no enredo como, por exemplo, o dono da cantina (Fritz Feld hilariante) preocupado com o seu espelho novo durante o tiroteio ou a aparição de sua mulher e a filharada, para lhe confiscar o dinheiro recebido de Delong. A melhor cena de ação é o assalto final do casino e a morte de Pinto com a ajuda do menino e seu estilingue e o segundo revólver (a Berringer de bolso de estimação de Marady), que Delong trazia consigo .

FERAS HUMANAS / THE BOUNTY HUNTER

Cena de Feras Humanas

Cena de Feras Humanas

Jim Kipp (Randolph Scott) é um caçador de recompensas temido por todos os fora-da-lei do Oeste. Ele é contratado pela Agência Pinkerton para descobrir o paradeiro de três bandidos, que assaltaram um trem e roubaram cem mil dólares. Uma pista o leva até Twin Forks, onde faz amizade com Julia (Dolores Dorn), filha do dr. Spencer (Harry Antrim), que cuidara dos ferimentos de um dos assaltantes. Após mais algumas investigações, Jim identifica os três malfeitores e recupera o dinheiro roubado.

toth the bounty hunter poster

Filmado em 3-D, mas lançado no formato comum, não é dos melhores westerns de De Toth, mas tem alguns elementos susceptíveis do agrado do público. A idéia básica permite uma série de episódios, onde violência e paranóia (cada habitante da cidade suspeita de seu vizinho) se sucedem em ritmo acelerado. Um achado feliz é o truque de Jim, fazendo crer que tem a foto de um dos bandidos. Outro, a surpresa de que um dos bandidos era uma mulher.

A UM PASSO DA MORTE / THE INDIAN FIGHTER.

Kirk Douglas e Elsa Martinelli em A Um Passo da Morte

Kirk Douglas e Elsa Martinelli em A Um Passo da Morte

Kirk Douglas em A Um Passo da Morte

Kirk Douglas em A Um Passo da Morte

Por volta de 1870, perto de Fort Laramie, os Sioux, comandados por Red Cloud (Eduard Franz), recusam-se a deixar passar os comboios de emigrantes através de seu território. Eles se opõem também à procura de minas de ouro, que atraem aventureiros como Wes Todd (Waltet Matthau) e Chivington (Lon Chaney Jr.), culpados de várias mortes. Encarregado de uma missão de pacificação, o batedor Johnny Hawks (Kirk Douglas) apaixona-se por Onahti (Elsa Martinelli), filha de Red Cloud. Mas a trégua é rompida pelas atividades dos contraventores brancos.

toth india fighter poster

Acompanhando as peregrinações de um comboio ameaçado pelos índios, enganados por traficantes de armas e de álcool, o filme coloca com lucidez o drama das espoliações das quais as populações indígenas são vítimas e mostra com razoável realismo e equilibrio a sociedade indígena. Tem sobretudo a vantagem de ser um western autenticamente bucólico, pelo esplendor natural do Oregon e pela maneira como De Toth descreve a ligação amorosa entre o batedor e a índia. A direção chega ao ápice nas cenas de ataque ao forte e no duelo mortal entre Johnny Hawks e Gray Wolf (Harry Landers), um índio hostil.

A QUADRILHA MALDITA / DAY OF THE OUTLAW.

Cena de A Quadrilha Maldita

Cena de A Quadrilha Maldita

No início do enredo, temos uma situação clássica: a hostilidade de dois homens, Blaise Starett (Robert Ryan) e Hal Crane (Alan Marshal), causada por um deles, de cercar com arame farpado as suas terras. É o velho antagonismo entre criadores de gado e fazendeiros, sendo que, no caso presente, existe um conflito sentimental: Starett está apaixonado pela mulher de Crane, Helen (Tina Louise). No momento crucial, quando vai se travar um duelo aparentemente mortal, surge uma horda de sete foras-da-lei, liderados por um ex-capitão do exército sulista, Jack Bruhn (Burl Ives). O chefe do bando, embora fragilizado físicamente, utiliza seu prestígio para evitar atos abomináveis, impondo continência aos seus comandados. O filme fica então carregado de um curioso suspense, fruto da violência contida com o risco iminente de um massacre.

Cena de A Quadrilha Maldita

Cena de A Quadrilha Maldita

Cena de A Quadrilha Maldita

Cena de A Quadrilha Maldita

A história é muito bem narrada, com o aproveitamento magnífico dos cenários naturais do Mount Bachelor no Oregon (as planícies e as montanhas cobertas de neve, o vilarejo friorento, o vento) para se criar (com a ajuda da fotografia monocromática) um clima estranho e sombrio, uma impressão de tristeza e desolação. Uma das intervenções de Bruhn para conter os impulsos eróticos de seus homens ocorre durante uma dança de salão, focalizada por uma câmera vertiginosa, que contrasta com o fundo musical suave utilizado no decorrer da narrativa.

 

LEOPOLDO FRÓES NO CINEMA

novembro 14, 2014

“Até Leopoldo Fróes, o nosso teatro teve três épocas: a 1a de João Caetano, a 2a de Vasques e a 3a de Fróes. Seguiram-se, após, outras, como a de Procópio Ferreira, Jaime Costa etc. Mas não creio que alguma tenha marcado tanto quanto a do Fróes. O público adorava-o”, foi o que disse o crítico teatral e amigo íntimo do ator, Bricio de Abreu, no seu livro Esses Populares Tão Desconhecidos, 1963.

Sergio Viotti, no seu livro Dulcina e o Teatro de seu Tempo, 2000, acrescentou: “Fróes representava, na memória do teatro nacional, um fato único, talvez isolado mesmo, em seu tempo. Ninguém como ele exerceu tal imenso fascínio sobre o público. Era um ‘astro’, como nos habituamos a aceitá-lo, ainda hoje, em termos de renome, publicidade e chamariz. Foi, na verdade, um ídolo.”

Na opinião de seu biógrafo, Raimundo Magalhães Junior (As Mil e Uma Vidas de Leopoldo Fróes, 1966), “ele foi o maior ator brasileiro dos primeiros decênios deste século, e suas relações com o cinema, merecem ser divulgadas.”

Leopoldo Fróes

Leopoldo Fróes

Leopoldo Constantino Fróes da Cruz nasceu a 30 de setembro de 1882 na antiga Rua de São Francisco, em Niterói. A mãe D. Idalina, faleceu  quando o filho tinha apenas onze anos de idade. Seu pai era o advogado e professor de Direito Comercial Luis Carlos Fróes da Cruz , que militou na política fluminense, tendo sido membro do Congresso Constituinte de 1891, exerceu depois o mandato de deputado federal em mais de uma legislatura, e foi vereador e presidente da Câmara de Niterói.

O desejo mais ardente do pai era o de encontrar no filho um successor: na cátedra, na banca de advogado e nas posições políticas. Porém o jovem Leopoldo não tinha a menor vontade de ser advogado. Gostava, realmente, era de teatro. Representava, nas férias, com grupos de amadores. Em Niterói, fêz parte do Grêmio Dramático Assis Pacheco. À revelia do pai, escapava às vêzes, para o interior, em pequenas trupes, que percorriam vilas e cidades fluminenses, representando em palcos improvisados. Certa vez, quando se exibia em Barra Mansa, o juiz de direito local recebeu uma carta do Dr. Fróes da Cruz, pedindo-lhe o favor de recambiá-lo, sob as vistas de um oficial de justiça…

Porém, de nada valeria a oposição paterna. O teatro estava no seu sangue. Até o episódio da sua formatura fôra algo teatral. O rapaz o premeditara, como um ator, que prepara em silêncio uma grande cena, para com ela surpreender a platéia. Na colação de grau dos novos bacharéis, cada um declararia o nome de seu paraninfo e este, dando-lhe o braço, o acompanharia à mesa, para o recebimento do diploma. O professor Luis Carlos esperara, em vão, que o filho o convidasse para paraninfo mas o rapaz queria dar a nota sensacional da solenidade, com um elaborado coup de théâtre. A cerimônia seria assistida pelo Presidente da República, Campos Sales. Quando o director da Faculdade o chamou, Leopoldo se ergueu e, com a voz muito clara, para ser ouvido por toda a sala, declarou: “Meu paraninfo é o Exmo. Sr. Dr. Manuel Ferraz de Campos Sales, Presidente da República!”. Foi uma sensação! O chefe do Governo, surpreendido com o gesto de Froés, que não o consultara, mas delicado demais para recusar-se a servir de paraninfo e, ainda, por deferência ao professor Fróes da Cruz, seu companheiro do Congresso Constituinte de 1891, levantou-se e acompanhou o audacioso môço que, assim passava a ser, teatralmente, a primeira figura da festa, deixando em plano secundário o orador da turma.

Faculdade Livre de Direito

Faculdade Livre de Direito

Fróes chegou a ser delegado de polícia e advogado criminal, mas acabou reconhecendo sua incompatibilidade com essas profissões. Então resolve o pai enviá-lo a Londres, com um emprego em nossa Embaixada, onde nunca chegou, pois ficou em Paris até que o dinheiro que levava terminasse. Voltando ao Brasil, procura  novamente seguir o teatro. Os nossos recursos cênicos eram parcos e havia ainda a oposição da família. Resolve, então, embarcar para Lisboa, onde chegou em 11 de setembro de 1902. O que lhe importava agora era mostrar ao pai que poderia continuar na Europa, vivendo dignamente de uma profissão que no Brasil ainda era vista com verdadeiro horror pelos pais de família.

Embora gostasse mais da opereta não teve dúvida em aceitar o papel que lhe ofereceram em um drama de Marcelino Mesquita, “O Rei Maldito”, representado no Teatro do Príncipe Real pela Companhia Alves da Silva. Seguiram-se dois anos de ociosidade, nos quais faz relações no meio teatral e finalmente é chamado para interpretar o papel de um brasileiro na revista “O ano em três dias”, encenada pelo ator José Ricardo. Fróes ficou vinculado ao elenco por mais três anos, representando revistas, mágicas, operetas, zarzuelas. Depois de viver maritalmente com uma atriz, Maria Portuzellos, e de manter uma ligação com outra, Ausenda de Oliveira, Fróes envolveu-se com mais uma atriz, a espanhola Dolores Rentini, sua companheira na revista “O ano em três dias”.

Dolores Rentini

Dolores Rentini

Froés e Dolores (que era casada com o empresário José Loureiro) fugiram para a Espanha e, quando regressaram, seus lugares já estavam tomados na companhia de José Ricardo. Apareceu, então, uma oportunidade para ambos na Companhia Taveira, que estreou no nosso Teatro Recreio. Entretanto, as primeiras referências da crítica brasileira a Leopoldo Fróes, como ator profissional, “foram vagas, incolores, inexpressivas”, como diz R. Magalhães Junior na sua biografia do ator.

Quando a Companhia Taveira se despediu do Rio, vários de seus artistas permaneceram no Brasil entre eles o tenor Almeida Cruz, Fróes e Dolores, que resolveram organizar uma companhia de operetas, acreditando que a melhor época para o teatro seria a da Exposição Nacional, que comemorava os cem anos da Abertura dos Portos. A estréia se deu a 30 de outubro de 1908 com a mágica de Eduardo Garrido, “O gato prêto” (na qual Dolores fazia o papel de Florinda, Fróes o de um baixo cômico, Barnabé, e o tenor Almeida Cruz o do galã Jasmim), sendo apresentadas em seguida: a opereta “A Mascote” de Edmond Audran“A Capital Federal” e “A filha de Maria Angu” de Artur Azevedo;  a revista de Sousa Bastos “Tim-tim por tim-tim; “Os Sinos de Corneville” de Robert Planquette; “O Burro do Senhor Alcaide” de Gervásio Lobato e D. João Câmara; e uma revista brasileira, “Bumba, meu boi!” de Alvaro Colás.

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Passado o período da Exposição Nacional, o interesse pelo teatro começou a declinar e, logo, Fróes e Dolores  voltaram para Portugal, onde trabalharam (com José Simões Coelho e o cançonetista brasileiro Geraldo Magalhães), na companhia de operetas de Luís Galhardo, que, todavia, não despertou maior interesse, em virtude da pouca eficiência do empresário. Por sugestão de Geraldo Magalhães, formou-se então uma nova empresa , financiada por ele, Fróes e Simões Coelho, que acabou chegando ao nosso país, contratada por Juca de Carvalho para uma grande tournée pelas principais cidades brasileiras.

A estréia se deu em Belém a 6 de janeiro de 1911 com a opereta de Oscar Straus, “Sonho de Valsa”. Dolores fazia o papel da violinista Franzi, chefe de uma orquestra de moças de Viena e Fróes, o papel de Joaquim XIII, príncipe do fictício grão-ducado de Flausemberg, e a temporada prosseguiu com êxito por São Luiz, Fortaleza e finalmente Recife, onde, vitimada pela febre amarela, Dolores Rentini veio a falecer. Era a sexta figura da companhia que morria da mesma doença.

Fróes foi buscar um pouco de conforto e solidariedade no seio da família. Ficou algum tempo em Niterói até que reagiu e embarcou para Portugal, ingressando na companhia dramática de Angela Pinto, considerada a Sarah Bernhardt portuguêsa. Mas já no início de 1914 estava de novo no Brasil, para se fazer ator brasileiro e, na bela frase de R. Magalhães Junior, “marcar, com a ressonância do seu nome, três lustros da nossa vida teatral”.

Leopoldo Fróes e Lucilia Peres

Leopoldo Fróes e Lucilia Peres

No seu regresso de Portugal, Fróes encontra Lucília Peres, a grande atriz do teatro declamado daquela época e passa a viver com ela. Em pouco tempo eles fundaram a Companhia Lucília Peres-Leopoldo Fróes. A estréia se deu a 12 de maio de 1915 com a comédia “Mulheres Nervosas” de Lum e Touché. Fróes logo dominou a platéia encarnando um poeta que não tem remédio senão virar confeiteiro e dar expansão a sua inclinação para as letras – escrevendo versinhos para “balas de estalo”! Em sete meses e meio, de meados de maio a 31 de dezembro, Fróes e Lucília montaram exatamente vinte e uma peças, entre as quais a famosa “Dama das Camélias” de Alexandre Dumas Filho. Entretanto, devido as suas rixas a respeito da escolha de peças e distribuição dos papeís, além de uma vida íntima conturbada, os dois artistas resolveram se separar.

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Enquanto Lucília tentava organizar uma companhia no Rio, em São Paulo Fróes obtinha um êxito retumbante com a apresentação  no Teatro Boa Vista, da comédia “Flores de Sombra” de Cláudio de Sousa,” na qual compunha admiravelmente o papel de Osvaldo, “o rapaz bôemio e de bom coração, o galã espirituoso, que vinha  pôr o meio rural em polvorosa”. No Rio, a peça estreou a 23 de abril de 1917 no Teatro Trianon e teve cento e oito representações consecutivas, deixando Fróes cheio de dinheiro e satisfação. Seguiram-se várias peças, (inclusive a deliciosa comédia de França Junior ”As doutoras” e “Nossa terra” de Abbadie Faria Rosa (na qual Fróes, com uma face avermelhada e uma cabeleira loura, era um alemão ingênuo apaixonado pelo Brasil) até irromper outro êxito avassalador de Fróes: “O Simpático Jeremias” de Gastão Tojeiro, estreado a 28 de fevereiro de 1918.

Anúncio de Flores de Sombra

R. Magalhães Junior escreveu: “ … a peça, inegavelmente muito engraçada, dava a Leopoldo a oportunidade de interpretar o papel de um criado metido a filósofo. Tinha o nome extravagante de Jeremias Taludo e se declarava discípulo do filósofo Sirênio Calado, espécie de Diógenes moderno, entre cínico e pessimista. Ao mesmo tempo, Jeremias tocava violão, cantava modinhas e lia Schopenhauer, sem prejuízo do seu serviço na Pensão das Magnólias, em Petrópolis, onde surgira atendendo a um anúncio”.

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Entre outras grandes criações do ator estavam: o seu Brito de “O genro de muitas sogras” de Arthur Azevedo; Alberto Loriflan em “O Café do Felisberto” de Tristan Bernard; o Cardeal Gonzaga em “A Ceia dos Cardeais” de Julio Dantas; o criado do papel-título de “Admirável Chrichton” de J. M Barrie; o seringueiro Coronel Fortuna em “Quebranto” de Coelho Neto; o italiano pistonista e regente de uma banda de música do interior em “Sol de Verão” de Viriato Correia; Henri Levier em “As Vinhas do Senhor” de Flers e Croisset; Tonio em “Quando o amor vem” de Edouard Bourdet; Raoul de Trembley Matour em Senhorita Talharim de Félix Gandera; Pigmalião Sereno em O Comissário de Polícia de Gervásio Lobato, o Seu Aquele de Chame um Taxi de Raul Pederneiras; Henrique Clavel de O ilustre Desconhecido de Tristan Bernard; Paulo Normand de A Menina do Chocolate de Paul Gavault; Sebastião Viégas em “A pequena do Alvear” de Flers e Caillavet; e o motorista Andréa em “O Gigolô” de Renato Viana – peça que repetiu as façanhas de “Flores de Sombra” e “O Simpático Jeremias”. Além de atuar como intérprete, Fróes escreveu três peças: “O Outro Amor”, “Senhorita Gasolina”e, a mais notória, “Mimosa”, para a qual compôs uma canção, a que deu o mesmo título.

Fróes e Carmen Azevedo na peça Gigolô

Anúncio de GigolôRecordação de Brício de Abreu: “Conhecí e conviví com Fróes durante toda essa época. Talvez o sucesso, o dinheiro a aclamação do público que o cortejava e admirava tenham dado maior expansão a um temperamento já por si difícil de definir-se e suportar-se nos tempos dificultosos. Fróes era exatamente vaidoso e suscetível. Brigava com colegas, críticos e autores, mas, possuia um grande coração sempre pronto a ajudar e socorrer colegas necessitados”.

Leopoldo Fróes de palhaço

BUsto de Fróes no Retiro dos Artistas

Em 1918, ele se rebelou com a situação dos artistas em dificuldade, fundando com Eduardo Leite, a “Casa dos Artistas”, da qual seria depois o presidente de honra. R. Magalhães Junior fechou com estas palavras um dos capítulos de sua biografia: “Por ela, nunca pouparia canseiras nem sacrifícios. Estaria sempre pronto a ajudá-la, em suas dificuldades, com donativos ou festivais. Não hesitaria em pintar o rosto e aparecer como palhaço, no picadeiro do Circo Sarrasani, numa festa em benefício dos seus cofres. A Casa dos Artistas viria a alcançar subvenções do governo federal e do governo municipal. E, embora arrostando, por vezes, grandes dificuldades, sobreviveria como um marco da solidariedade e do espírito de classe da gente de teatro. E vale como um verdadeiro monumento à memoria de seu ilustre fundador, o comediante Leopoldo Fróes”.

Anúncio de O Conde Barão

Em 1927, deu-se a estréia da Companhia Leopoldo Fróes – Chaby Pinheiro com a peça “Maître Bolbec et son mari” de Louis Verneuil e Georges Berr (traduzida errôneamente como “O advogado Bolbec e seu marido”, pois no original francês o personagem era uma advogada), seguindo-se “O Leão da Estrela” de Félix Bermudes, João Bastos e Ernesto Rodrigues; ”Rosas de Outono”, comédia rômantica de Jacques Deval; “O Café do Felisberto”, no qual o comediante português se limitou a fazer o papel relativamente curto e sem importância do patrão do garçom Alberto, tendo no entanto o prazer de, em uma cena curta, magistralmente representada, arrancar uma ovação tão vigorosa quanto a que Fróes recebia no final da peça, depois de haver esgotado todos os seus recursos interpretativos (cf. Magalhães Junior); “Gigolô” (cabendo a Chaby outro papel inexpressivo); “O Conde Barão”, quando então Chaby teve mais oportunidade de mostrar seu enorme talento como um indivíduo boçal, com tanto de ignorante como de ousado e oportunista, dizendo títalo em vez de título, metamirfose em vez de metamorphose, muito obrigadíssimo em vez  de muitissimo obrigado, inzactamente em vez de exatamente – e , quando os monarquistas lhe acenam com um título de barão, quer que lhe dêem também um de conde (cf. Magalhães Junior); “Longe dos Olhos” de Abbadie Faria Rosa; e outros espetáculos.

Chaby Pinheiro

Chaby Pinheiro

A chegada de Fróes e Chaby

A chegada de Fróes e Chaby

Em 1928, o chamado “Período Leopoldo Fróes” começou a declinar. Havia propulsionado o nosso teatro de comédia incentivando o público, habituando-o ao teatro. Novos artistas foram surgindo e obtendo a preferência desse público. Mas, segundo Brício de Abreu, é inexato que tivesse ele abandonado o grande ator. “O que se deu foi que Fróes começou a fugir ao gênero que lhe dera popularidade, montando peças do chamado grande teatro”.

Em 1929, convidado, atuou ao lado de Adelina e Aura Abranches em Lisboa no Teatro Apolo. Depois passou para o Nacional de Lisboa, contracenando com Amélia Rey Colaço. Em 1930, foi a Paris, contratado pela Paramount, para fazer com Beatriz Costa, Minha Noite de Núpcias. No início do cinema falado,  a companhia americana resolveu produzir versões de seus filmes em vários idiomas nos estúdios de Joinville- Saint Maurice  e Minha Noite de Núpcias era a versão portuguêsa de Her Wedding Night / 1930 com Clara Bow e Ralph Forbes, dirigidos por Frank Tuttle.

Anúncio de Minha Noite de Núpcias

A revista Cinearte cobriu o acontecimento, anunciando que “um dos príncipes do teatro brasileiro” faria o papel masculino de maior realce, ao lado dos artistas portuguêses Beatriz Costa, Alvaro Reis, Estevão Amarante,  Maria Emilia Rodrigues e Maria Sampaio e de outros brasileiros como Francisco Azeredo, Maria Janocopulos e Mario Marano, orientados pelo director alemão E.W. Emo.

Cena de Minha Noite de Núpcias

Cenas de Minha Noite de Núpcias

Cenas de Minha Noite de Núpcias

Por ocasião da filmagem, cerca de cinquenta pessoas, representando doze nacionalidades, tomaram parte em um almoço que a Paramount ofereceu a Marlene Dietrich, quando de sua visita àquele famoso estúdio da companhia. Entre os convivas estavam: Conrad Veidt, Olga Tschecowa, Beatriz Costa, Leopoldo Fróes, Camila Horn, Adelqui Millar, Walter Rilla, Benno Vigny e muitos outros.

O enredo, do gênero vaudeville, aborda as aventuras de Claudio Mallet (Alvaro Dias), um compositor de canções populares que, para fugir ao assédio das fãs, deixa em seu lugar um amigo, Raul Laforte (Estevão Amarante). Este conhece com uma estrela de cinema, Gilberta Landry (Beatriz Costa), casa-se com ela por engano e surgem muitas complicações, envolvendo ainda João Pestana (Leopoldo Froes), amigo de Claudio, Julieta (Maria Emilia Rodrigues), a noiva de Claudio e Melusina (Maria Sampaio), uma linda morena apaixonada pelo compositor e muito ciumenta.

 Fróes já havia participado no Brasil de um filme, Perdida / 1916, realizado por Luis de Barros e exibido no antigo cinema Pathé na Avenida Rio Branco; porém teve umas desavenças com o director e o resultado não saiu bom.

Anúncio de Perdida

Em As Mil e Uma Vidas de Leopoldo Froés, Raimundo Magalhães Junior conta que a crítica na época malhou seu desempenho nestes termos: “Uma de nossas primeiras fitas foi levada à tela como concurso do Sr. Leopoldo Fróes, tendo o inteligente ator, tão aplaudido no palco, feito um trabalho positivamente infeliz”. Assim, o nosso inesquecível ator ficou uma tanto ressabiado com a sétima arte, e só aceitou filmar Minha Noite de Núpcias anos mais tarde em Paris, porque lhe ofereceram uma pequena fortuna.

Beatriz Costa e Leopoldo Fróes em Minha Noite de Núpcias

Beatriz Costa e Leopoldo Fróes em Minha Noite de Núpcias

O filme, apesar de todos os seus defeitos, divertiu muito o público e o melhor intérprete, o mais natural, o mais engraçado foi sem dúvida Leopoldo Fróes que, desta vez, mereceu os maiores elogios em todas as publicações, chegando mesmo um comentarista a dizer que ele “tinha cinema nas veias”.

Infelizmente o grande ator não pôde gozar o triunfo que representara  o lançamento de seu filme em Lisboa em maio de 1931, pois, durante as filmagens, apanhou um resfriado, que se transformou em pneumonia, obrigando-o a se recolher em um sanatório suiço, onde veio a falecer em 2 de março de 1932.

PIERRE FRESNAY

novembro 3, 2014

Profissional notável pela sua dicção incisiva e interpretações precisas, Pierre Fresnay foi um dos grandes atores do cinema francês ao lado de Harry Baur, Raimu, Louis Jouvet, Michel Simon e Jean Gabin.

Pierre Fresnay

Pierre Fresnay

Pierre Jules Louis Laudenbach, nascido em Paris, no dia 4 de abril de 1897, de origem alsaciana por parte do pai, Jean Henri Laudenbach, e lorena por parte da mãe, Claire Dietz, foi educado em um meio universitário (seu pai era professor de filosofia), mas descobriu desde a infância, que queria ser ator. As famílias Laudenbach e Dietz, ambas protestantes, poderiam ser suspeitas de serem refratárias a certos meios, como o do teatro, reputados frívolos, porém a vocação do jovem Pierre não provocou nenhuma hostilidade, nenhuma reticência. Pelo contrário, ele foi estimulado por seu tio Jules Dietz (conhecido pelo nome artístico de Claude Garry), ex-membro (sociétaire) da Comédie Française, que apresentou Pierre, então com quatorze anos de idade, a Réjane. Em 17 de fevereiro de 1912, a conhecida atriz colocou o rapaz em uma peça encenada no seu teatro, para dizer apenas duas frases. Em novembro de 1914, Pierre Laudenbach foi admitido no Conservatório, na classe de Georges Berr, e escolheu o pseudônimo de Pierre Fresnay.

Pierre Fresnay no Teatro

Pierre Fresnay no Teatro

Durante a Primeira Guerra Mundial, muitos intérpretes masculinos foram convocados, abrindo-se espaço para novos talentos. Em consequência, Fresnay, aluno do Conservatório, e ainda menor de idade para ser mobilizado, foi selecionado para atuar na Comédie Française. Ele estreou no papel de Clitandre em “Les Femmes Savantes” de Molière e, após dez meses de trabalho duro, que lhe permitiram se familiarizar com o repertório da grande companhia teatral, foi enfim chamado para servir à pátria. Antes de partir, assinou um contrato para integrar o elenco permanente da companhia (pensionnaire), quando voltasse ao seu país.

Ao retornar, em 1919,  nomeado membro da Comédie Française em 1924, ele se rebelou contra a negligência de alguns de seus colegas e contra os privilégios exorbitantes concedidos a outros; após um ato governamental, que ele considerou um abuso de poder, Fresnay pediu demissão. Quando estreou em um teatro do Boulevard (na peça de Sacha Guitry, “Un Miracle”) seus antigos patrões lhe moveram um processo, porque ainda o consideravam um membro da Comédie Française e, como tal, proibido de se apresentar em outro teatro. Fresnay foi condenado a pagar uma indenização por danos à instituição e, depois deste incidente, começou sua carreira no cinema sonoro com Marcel Pagnol.

Pôster de A Virgem Louca

Anos atrás, ele participara de alguns filmes mudos em pequenos papéis (Quand même / 1915, France d’abord / 1915, L’Essor / 1920, La Ballonée / 1922, Les Mystères de Paris / 1922, Le Diamant noir / 1922, Le Petit Jacques / 1923, Les Premières Armes de Rocambole / 1924, A Virgem Louca / La Vierge Folle / 1928) e de apenas um filme falado em curta-metragem, Ça aussi c‘est Paris / 1930), de pouca repercussão. Pierre Fresnay era tão pouco conhecido no meio do cinema, que muitos críticos escreviam seu nome … Fresnel.

Marcel Pagnol, Fresnay e Orane Demazis

Marcel Pagnol, Fresnay e Orane Demazis

Cena de Marius

Cena de Fanny

Cenas de Marius, Fanny, Cesar

Cenas de Marius, Fanny, Cesar

Como na cena silenciosa não foi possível ao ator demonstrar sua magnífica dicção tão particular, seu primeiro papel realmente marcante foi na famosa trilogia de Marius / 1931 (Dir: Alexander Korda) – Fanny / 1932 (Dir: Marc Allégret) – Cesar / 1936 (Dir: Marcel Pagnol), comédias de costume meridionais, que revelaram o mundo de Pagnol com sua humanidade simples e calorosa, seu folclore marselhês, imposto nas tela pelo texto e por atores maravilhosos. Como Marius, o rapaz atormentado pelo desejo de evasão, Fresnay ofereceu ao público um bom trabalho mas, ao lado de Raimu, por melhor que fosse sua atuação, não poderia ter sido senão um coadjuvante eficiente.

Pôster de Ame de Clown

Antes de ter a oportunidade de dar vida a um personagem que lhe permitiu demonstrar seu talento com maior intensidade em Sous les Yeux D’Occident / 1936 (Dir: Marc Allégret), Fresnay fez, entre Marius e Cesar, Ame de Clown / 1933 (Dir: Marc Didier, Yvan Noé); uma simples aparição em O Homem Que Sabia Demais / The Man Who Knew Too Much / 1934 (Dir: Alfred Hitchcock); A Dama das Camélias / La Dame aux Camélias / 1934 (Dir: Fernand Rivers, supervisionado por Abel Gance e primeiro dos oito filmes que fez com sua amante, Yvonne Printemps); KoenigsmarkKoenigsmark / 1935 (Dir: Maurice Tourneur); A Vida de um Homem Pobre / Le Roman d’un Jeune Homme Pauvre / 1935 (Dir: Abel Gance) e, depois da trilogia Pagnol, Mademoiselle Docteur / Mademoiselle Docteur ou Salonique, nid d’éspions (Dir: G. W.Pabst) / 1936. Em nenhuma dessas produções Fresnay atingiu a mesma capacidade artística que demonstrou, ao interpretar Razoumov, o personagem complexo, feito de inteligência e covardia, imaginado por Joseph Conrad no seu romance Under Western Eyes (1911). Em Sous les Yeux d’Occident, ele sobressaiu diante de seus ilustres colegas Jean-Louis Barrault, Michel Simon e Gabriel Gabrio, transmitindo com um vigor impressionante o desespero do protagonista, o estudante ambicioso que encontra escondido em seu quarto o assassino de um ministro da repressão tzarista, e se torna um traidor.

Pierre Fresnay e Yvonne Printemps em Adrienne Lecouvreur

Pierre Fresnay e Yvonne Printemps em Adrienne Lecouvreur

Pôster de Koenigsmark

Pierre Fresnay e Pierre Blanchar em Mademoiselle Docteur

Pierre Fresnay e Pierre Blanchar em Mademoiselle Docteur

Pôster de A Dama das Camélias

Pôster de A Dama das Camélias

Em 1937, Fresnay obteve novo triunfo em A Grande Ilusão / La Grande Illusion, uma das obras-primas de Jean Renoir. No decorrer das cenas em que Fresnay e Erich von Stroheim contracenam, interpretando dois aristocratas, o capitão de Boeldieu e o comandante von Rauffenstein, difícil dizer qual o melhor. As cenas nas quais o aristocrata francês, subindo no telhado da fortaleza, começa a tocar sua flauta, para atrair a atenção dos guardas, a fim de que seus dois companheiros possam escapar enquanto o aristocrata alemão sente uma angústia dilacerante, sabendo que vai ser obrigado a mandar seus homens atirarem no seu prisioneiro, são muito comoventes. Pouco depois, o alemão coloca uma flor sobre o peito do francês, que ele mandou matar, mas que poderia se tornar seu amigo – um momento ao mesmo tempo patético e poético.

Pierre Fresnay e Stroheim em A Grande Ilusão

Pierre Fresnay e Stroheim em A Grande Ilusão

Desde então catalogado como um “astro comercial” como Raimu, Jean Gabin, Pierre Richard Willm e alguns outros, Fresnay teve que se curvar às vezes ao mercantilismo, fazendo filmes de qualidade artística variada – La Bataille Silencieuse / 1937 (Dir: Pierre Billon); Chéri Bibi (De Volta à Ilha do Diabo) / Chéri-Bibi / 1937 (Dir: Léon Mathot); Mulheres Perdidas ou O Puritano / Le Puritain (Dir: Jeff Musso); Adrienne Lecouvreur / Adrienne Lecouvreur / 1938 (Dir: Marcel L’Herbier, com YP); Alerta no Mediterrâneo / Alerte en Méditerranée / 1938 (Dir: Léo Joannon); Três Valsas / Trois Valses / 1938 (Dir: Ludwig Berger com YP); Le Duel / 1938 (sua única incursão atrás das câmeras dirigindo ele mesmo, Raimu e YP); O Fantasma da Esperança / La Charrete Fantôme / 1939 (Dir: Julien Duvivier); Le Dernier des Six / 1941 (Dir: Georges Lacombe); Mamouret ou le Briseur de Chaînes / 1941 ( J. Daniel-Norman); Le Journal tombe à cinq heures /1942 (Dir: George Lacombe);

Cena de O Assassino Mora no 21

Cena de O Assassino Mora no 21

Pôster de A Mão do DiaboO Assassino mora no 21 / L’Assassin habite au 21 / 1942 (Dir: Henri-Georges Clouzot); A Mão do Diabo / La Main du Diable / 1942 (Dir: Maurice Tourneur; Sombra do Pavor / Le Corbeau / 1943 (Dir: Henri-Georges Clouzot); Je suis avec toi / 1943 (Dir: Henri Decoin com YP); L’Escalier sans fin / 1943 (Dir: Georges Lacombe); La Fille du Diable / 1945 (Dir: Henri Decoin); Le Visiteur / 1946 (Dir: Jean Dréville); Monsieur Vincent, Capelão das Galeras / Monsieur Vincent / 1947 (Dir: Maurice Cloche); Les Condamnés / 19447 (Dir: Georges Lacombe com YP); Sua Última Missão / Barry / 1948 (Dir: Richard Pottier); Horizontes Vencidos / Au Grand Balcon / 1948 (Dir: Henri Decoin); Vient de paraître / 1948 (Dir: Jacques Houssin; A Valsa de Paris / La Valse de Paris / 1948 (Dir: Marcel Achard com YP); e Ce Siécle a cinquante ans (Fresnay simplesmente se encarrega do comentário neste filme de montagem de Denise Tual) – mas mantendo sempre seu perfeccionismo interpretativo.

Pierre Fresnay em A Sombra do Pavor

Pierre Fresnay em A Sombra do Pavor

Como filme, Sombra do Pavor, produzido pela Continental, no qual ele era o doutor Rémy Germain, o médico acusado por cartas anônimas de ser amante da mulher de um psiquiatra, foi o melhor. Durante a Ocupação, Fresnay participou de quatro filmes da firma alemã, presidiu o Sindicato dos Atores, e manifestou simpatia por Pétain, o que lhe valeu, após a Libertação, seis semanas de detenção preventiva no comissariado de Neuilly.

Pierre Fresnay em Monsieur Vincent

Em termos de desempenho, o ator brilhou mais em Monsieur Vincent, Capelão das Galeras, que abordou os episódios da vida e obra de São Vicente de Paulo com apreciável rigor histórico e sem grandiloquência, apresentando um quadro convincente da França no século XVII. O filme de Maurice Cloche segue passo a passo o caminho do padre, misturando humildade e tenacidade, até chegar às portas da santidade. Foi um enorme sucesso internacional, graças principalmente à extraordinária composição de Pierre Fresnay. Ele assimilou totalmente o personagem de São Vicente de Paulo com o qual possuía certa semelhança física, e ficou ainda mais parecido com o biografado, graças a uma maquilagem incrivelmente hábil. Ganhou a Coppa Volpi de melhor Interpretação Masculina no Festival de Veneza.

Pôster de Deus Necessita de Homens

Nos anos cinquenta, Fresnay começou muito bem com Deus Necessita de Homens / Dieu a Besoin des Hommes / 1950, drama religioso a necessidade que uma população primitiva e sem padre, de receber todos os sacramentos. Ele faz o papel de um sacristão, Thomas Gourvennec, que tenta suprir a ausência do vigário na ilha de Sein, na Bretanha. Desencorajado pela atitude de seus paroquianos, que roubam os destroços dos navios naufragados, o vigário retorna ao continente e Thomas, crente atraído pelo cerimonial religioso, ocupa seu lugar. A performance de Fresnay neste filme situa-se sem dúvida entre as mais eletrizantes de sua carreira.

Pierre Fresnay em Desespero d'Alma

Pierre Fresnay em Desespero d’Alma

No curso da década, Fresnay apareceu ainda em: Monsieur Fabre / 1951 (Dir: Henri Diamant-Berger); Un Grand Patron / 1951 (Dir: Yves Ciampi); Le Voyage en Amérique / 1951 (Dir: Henri Lavorel com YP); Il est minuit, Docteur Schweitzer / 1952 (Dir: André Haguet); La Route Napoléon / 1953 (Dir: Jean Delannoy); Desespero d’alma / Le Défroqué / 1953 (Dir: Léo Joannon); Les Evadés / 1954 (Dir: Jean-Paul le Chanois); Les Aristocrates / 1955 (Dir: Denys de la Patellière); Vingança Diabólica / L’Homme aux Clefs d’or / 1956 (Dir: Léo Joannon); Les Oeufs de L’Autruche / 1957 (Dir: Denys de la Patellière); Les Fanatiques / 1958 (Dir: Alex Joffé); Et sa soeur / 1958 (Dir: Maurice Delbez); Tant d’Amour perdu / 1958 (Dir: Léo Joannon); Les Affreux / 1959 (Dir: Marc Allégret); La Millième Fenêtre / 1959 (Dir: Robert Ménegoz). Não foi uma fase muito feliz para o ator, mas ensejou a sua última grande atuação.

Pôster de Vingança Diabólica

Antes de Monsieur Vincent, Fresnay já havia interpretado personagens reais (o marechal de Saxe em Adrienne Lecouvreur;

Cena de Adrienne Lecouvreur

Cena de Adrienne Lecouvreur

Cena de A Valsa de Paris

Cena de A Valsa de Paris

PIerre Fresnay em Il est minuit Dr. Schweitzer

PIerre Fresnay em Il est minuit Dr. Schweitzer

o aviador pioneiro do Correio Aéreo, Didier Daurat – mas que aparece no filme sob o pseudônimo de Gilbert Carbot – em Au Grand Balcon; o compositor Jacques Offenbach em A Valsa de Paris) e prosseguiu depois assumindo as feições do entomologista Jean-Henri Fabre em Monsieur Fabre e do missionário Albert Schweitzer em Il est minuit, Dr. Schweitzer. Porém seu grande papel nesse período foi o de uma figura de ficção, o sacerdote apóstata Maurice Morand em Desespero d’alma. O filme é um combate espiritual que se trava entre a fé de um jovem convertido, Lacassagne, e o orgulho intelectual do apóstata. Em uma das cenas culminantes do espetáculo – que os espectadores jamais esqueceram – Morand, para ferir Lacassange, pronuncia as palavras da consagração sobre um balde de vinho em uma boate. O rapaz absorve o vinho consagrado e os frequentadores daquele ambiente sacrílego pensam que se trata de uma brincadeira. No dia de sua ordenação, Lacassagne vai visitar Morand e este o mata em um acesso de cólera. Depois, veste a batina do novo sacerdote e se entrega à polícia dizendo: “Maurice Morand, padre católico”, na perfeita compreensão do sacríficio que acabara de se consumar pela salvação de sua alma.

Fresnay, Jean Gabin, e Nöel em  A Velha Guarda

Fresnay, Jean Gabin, e Nöel em A Velha Guarda

Depois de fazer seu filme derradeiro em 1960, A Velha GuardaLes Vieux de la Vieille (Dir: Gilles Grangier), no qual se viu acompanhado por outros dois astros, Jean Gabin e Nöel-Nöel, mas que lhe causou decepção, Fresnay dedicou-se por mais um tempo às suas atividades no teatro, que vinha dividindo com as da tela, e finalmente se entregou à televisão e às emissões radiofônicas. Por sorte, os admiradores de seu domínio verbal e voz admirável, podem garimpar nos sebos e no you tube as gravações em disco das suas narrações de textos de alta qualidade como, por exemplo, as Fábulas de La Fontaine, as Confissões de Rousseau, as Memórias do Além-Túmulo de Chateaubriand, Terra dos Homens de Saint-Exupéry ou as cartas de amor à Josephine de Napoleão Bonaparte. Outra atividade anexa da carreira de Fresnay foi sua colaboração em longas-metragens de ficção ou documentários como narrador (vg. Les Inconnus dans la Maison / 1942 de Henri Decoin, O Direito de Matar / Justice est Faite / 1950 de André Cayatte, O Corcunda de Notre-Dame / Notre-Dame de Paris / 1956 de Jean Delannoy).

Pierre Fresnay faleceu no dia 9 de janeiro de 1975 e foi enterrado no cemitério de Neuilly-sur-Seine em um funeral pomposo assistido pelo presidente da República. Como relata Charles Ford no seu livro Pierre Fresnay, Le Gentilhomme du Cinéma (France-Empire, 1981), que muito me ajudou na elaboração deste artigo, três atrizes foram chamadas de “Madame Pierre Fresnay”: Rachel Berendt, Berthe Bovy e Yvonne Printemps.

Rachel, trabalhou somente no teatro e apareceu somente uma vez no cinema em Paris-Béguin / 1931, de Augusto Genina, ao lado de Jean Gabin e Fernandel. Berthe, conquistou na Comédie Française e no cinema uma situação invejável. Ela entrou em um estúdio cinematográfico muito cedo, integrando (como um pagem) o elenco de L’Assassinat du Duc de Guise / 1908) realizado por André Calmettes, fez mais alguns filmes mudos e, no cinema sonoro, outros tantos (vg. A Caminho do “Front” / Je t’attendrai de Léonide Moguy, La Belle Aventure de Marc Allégret, Anjo Pecador / Boule de Suif de Christian-Jaque, La Maison Bonnadieu de Carlo Rim).

Pierre Fresnay e Yvonne Printemps

Pierre Fresnay e Yvonne Printemps

Em 1935, Yvonne, divorciou-se de Sacha Guitry e Fresnay de Berthe. Yvonne assumiu a direção do Theâtre de la Michodière e Fresnay a função de diretor artístico. Yvonne nunca quís se casar com Fresnay, dizendo que o “sim” que ela havia pronunciado uma vez não dera certo. Na ocasião de seu divórcio, Berthe exigiu firmemente uma pensão alimentícia populda de Fresnay. O dinheiro foi depositado em uma conta especial e Berthe nunca tocou nele. Para alguns de seus amigos íntimos ela dizia: “É uma poupança para Pierre. No dia em que ele se desembaraçar dessa peste de Printemps, ele não terá nem mais um centavo, e poderá contar com este pecúlio”. O destino decidiu de outra forma, pois Fresnay morreu antes de Yvonne Printemps. A fidelidade de Berthe Bovy ao amor pelo seu marido era igual ao seu ódio por Yvonne Printemps. Afastada do mundo, enclausurada na sua residência, Berthe somente vivia com a esperança, alimentada por quarenta anos, de ver Yvonne Printemps desaparecer antes dela. Seu desejo foi atendido. Morta em abril de 1977, ela sobreviveu três meses à sua rival.

ESTÚDIOS BRITÂNICOS IV

outubro 8, 2014

TWICKENHAM

In 1913, a London Film Company, fundada pelo Dr. Ralph Tennyson Jupp, dono de uma cadeia de cinemas, que mais tarde se tornaria parte do Grupo Gaumont-British, anunciou sua primeira produção, filmada em St. Margarets, Twickenham, onde ele transformou um antigo rinque de patinação em estúdio. Com um capital de 40 mil libras e visando o mercado americano, o gerente de publicidade da nova companhia foi enviado para a América, a fim de contratar pessoas experientes no novo meio de expressão.

Sir Herbert Bierbohm como Svengali

Sir Herbert Bierbohm como Svengali

O resultado de sua busca incluiu os atores John East e Percy Nash e os diretores Harold M. (Marvin) Shaw e George Loane Tucker (diretor do controvertido  Traffic in Souls / 1913). Como as adaptações de obras literárias estavam na moda, Harold Shaw recebeu a incumbência de realizar um grande espetáculo, The House of Temperley, baseado em um romance de Arthur Conan Doyle e estrelado por Ben Webster. O filme obteve muito sucesso e a London Film Company resolveu prosseguir na mesma linha de produção, utilizando atores consagrados do teatro na época como Sir Herbert Beerbohm Tree, que interpretou Svengali no filme Trilby / 1914.

Médico especialista, que havia prestado serviço na Guerra dos Bôeres, o Dr. Jupp  ingressou no ramo da exibição de filmes (Provincial Cinematograph Theatres) porque ficou horrorizado com a falta de ventilação e higiene adequadas nas salas de projeção. Ele decidiu edificar prédios para serem exclusivamente cinemas em vez de converter em cinemas velhas igrejas ou salões e se preocupou em oferecer ao público filmes de melhor qualidade do que os dos demais competidores.

Edna Flugrath e suas irmãs Viola Dana e Shirley Mason

Edna Flugrath e suas irmãs Viola Dana e Shirley Mason

Em 1914, Jupp perdeu a colaboração de John East e Percy Nash, que resolveram abrir sua própria firma, Neptune Studios, em Elstree. Além disso, com a Primeira Guerra Mundial em curso e os filmes americanos inundando o mercado doméstico, o estúdio de Twinkenham sofreu sérios prejuízos em 1915-1916, apesar das boas realizações dos seus empregados americanos Shaw e Tucker, e de outros de nacionalidade inglesa, como Maurice Elvey (vg. Two Columbines / 1914  e V. C. / 1914, dirigidas por Shaw e tendo como atriz principal sua esposa Edna Flugrath (irmã de duas outras atrizes: Viola Dana e Shirley Mason); The Prisoner of  Zenda / 1915, dirigida por Tucker com Henry Ainsley, Jane Gail, Gerald Ames; When Knights Were Bold / 1916, dirigida por Elvey com Janet Ross e Gerald Ames).

Por um período de tempo, a Ideal Films alugou o estúdio e, em 1920, Jupp o vendeu para a Alliance Company, cuja diretoria era composta pelos atores A. E. (Alfred Edward) Matthews e Gerald du Maurier e pelo editor Sir Walter Frece. Eles compraram a British Actors Film Company (que fora fundada em 1915 por um grupo de proeminentes atores de teatro inclusive A. E. Matthews) e montaram um esquema de produção movimentado no seu pequeno Bushey Studios (adquirido de seu fundador, Sir Hubert von Herkomer, um pintor entusiasmado pelo cinema) e no novo Twickenham. A pouca experiência, levou-os a querer fazer muita coisa ao mesmo tempo, gastando demais, inclusive com a contratação de artistas de prestígio como Ivor Novello, Gladys Cooper, Ellen Terry e C. Aubrey Smith, para atuar em The Bohemian Girl / 1922.

The Bohemian Girl com Ivor Novello e Gladys Cooper

The Bohemian Girl com Ivor Novello e Gladys Cooper

Consequentemente, em 1922, a companhia encerrou suas atividades e, entre 1923-1928, os estúdios foram alugados para outras companhias (vg. a Astra-National (fundada em 1919 por Herbert Wilcox, juntamente com a distribuidora Astra Film) fez Miriam Rozella/ 1924 (Owen Nares, Moyna MacGill), The Shadow of Egypt / 1924 (Alma Taylor, Carlyle Blackwell), Bulldog Drummond’s Third Round / 1925 (Jack Buchanan, Betty Faire), The Flag Lieutenant / 1927 (Henry Edwards, Lilian Oldland) e Herbert Wilcox (pela sua Herbert Cox Productions) produziu e dirigiu  O Único Meio / The Only Way / 1925, baseado no romance de Charles Dickens, “A Tale of Two Cities” (John Martin Harvey no papel de Sidney Carton) e Mumsie / 1927 (Pauline Frederick, Herbert Marshall).

John Martin Harvey em The Only Way

Em 1927, houve mais uma mudança em Twickenham. Henry Edwards, que atuara em The Flag Lieutenant – juntamente com o produtor Julius Hagen, constituiu uma firma, registrada como Neo-Art, e alugaram o Twinckenham Studios. Em 1928, Hagen fundou a Twickenham Film Studios Limited, da qual se tornou presidente. Henry Edwards e os diretores Leslie Hiscott e Maurice Elvey dirigiram vários filmes da companhia. A primeira produção da Twickenham Film Studios Limited, sob a marca da Strand Pictures foi uma comédia muda, Ringing the Changes (depois reintitulada The Crowded Staircase), dirigida por Hiscott. No começo de 1929, eles começaram a produção de To What Red Hell, mas os “talkies” chegaram. Instigado por Edwards, Hagen concordou em instalar um equipamento de som RCA, e o filme, (com Sybil Thorndike, Bramwell Fletcher, John Hamilton), foi completamente refeito como “todo falado”.

Twickenham Studios

Nos anos trinta, tal como muitos estúdios contemporâneos, Twickenham foi dominado pela necessidade de produzir “quota quickies”. Considerando que era apenas um estúdio com apenas um palco de filmagem (outro seria adicionado em 1934) e uma área exterior, Julius Hagen conseguiu produzir uma quantidade espantosa de filmes. De Leslie Hiscott: At the Villa Rose / 1930 (Austin Trevor, Norah Baring), The Call of the Sea / 1930 (Henry Edwards, Chrissie White, Chili Bouchier), Alibi / 1931 (Austin Trevor, Elizabeth Allan); Double Dealing / 1932 (Frank Petingell, Zoe Palmer), The Missing Rembrandt / 1932 (Arthur Wontner como Sherlock Holmes e Ian Fleming – o ator australiano e não o escritor inglês – como Dr. Watson). De Maurice Elvey:  This Week  of Grace / 1933 (Gracie Fields, Henry Kendall), I Lived with You / 1933 (Ivor Novello, Ursula Jeans, Ida Lupino), The Lost Chord / 1933 (John Stuart, Elizabeth Allan), O Judeu Errante  / The Wandering Jew / 1933 (Conrad Veidt, Marie Ney). De Henry Edwards: The Man Who Changed his Name / 1934 (Lyn Harding, Betty Stockfeld), Lord Edgware Dies / 1934 (Austin Trevor, Jane Carr), The Private Secretary / 1935 (Edward Everett Horton, Barry McKay, Judy Gunn).

Cartaz de Alibi

Arthur Wontner em The Missing Rembrandt

Arthur Wontner em The Missing Rembrandt

Pôster de The Missing Rembrandt

Conrad Veidt em O Judeu Errante

Conrad Veidt em O Judeu Errante

Pôster de The Private SecretaryEntre os outros diretores que fizeram filmes no Twickenhmam na mesma ocasião: Michael Powell: Lazybones / 1935 (Ian Hunter, Claire Luce); Walter Forde: Lord Richard in the Pantry / 1930 e Condemned to Death/ 1934 (Edmund Gwenn, Jane Welsh, Gordon Harker); Guy Newall: Rodney Steps In / 1932 (Richard Cooper, Dorothy Seacombe, Marjorie Hume), Chinese Puzzle / 1932 (Austin Trevor, Elizabeth Allan); Bernard Vorhaus: The Ghost Camera / 1933 (Henry Kendall, Ida Lupino, John Mills); Miles Mander: The Morals of Marcus / 1935 (Lupe Velez, Ian Hunter).

Pôster de The Ghost Camera

No final dos anos trinta, Twinckenham esteve à beira de um colapso. Hagen conseguiu empréstimo para fazer filmes como The Spy of Napoleon / 1936 (Richard Barthelmess, Dolly Haas, Frank Vosper) e The Man in the Mirror / 1936 (Edward Everett Horton, Genevieve Tobin, Ursula Jeans), ambos de Maurice Elvey e Juggernaut / 1936 (Boris Karloff, Joan Wyndham) de Henry Edwards, mas não aliviou a situação. A companhia de Hagen entrou em liquidação e o estúdio foi vendido para a Studio Holdings Trust, que imediatamente o alugou para Hagen. Ele tentou produzir mais alguns filmes, porém já estava nas mãos dos agiotas. Em 1938, o estúdio foi fechado. Arruinado, Hagen morreu um ano depois.

Pôster de Juggernaut

Houve pouca atividade no Twickeham durante o breve período entre a morte de Julius Hagen e a eclosão da Segunda Guerra Mundial e, durante as hostilidades, o estúdio foi atingido por um bombardeio. Em 1946, formou-se a Alliance Film Studios Limited, que controlava entre outros estúdios – Southhall em Gladstone Road  (antigo hangar de avião adaptado para filmagens por G. B. Samuelson em 1924); Riverside em Hammersmith (construído pela PDC New Ideal Film Company); e o Twinckenham onde, até 1950, foi produzido apenas um filme, A Boa Sorte de GuilhermeJust William’s Luck / 1948 (William Graham, Garry Marsh, Jane Welsh). Convém mencionar que no final da guerra e durante o imediato pós-guerra, o produtor Sydney Box realizou no Riverside em Hammersmith alguns filmes esplêndidos (O Sétimo Véu / The Seventh Veil / 1945 (Ann Todd, James Mason, Herbert Lom); Suplício Eterno / The Years Between / 1946  (Michael Redgrave, Valerie Hobson, Flora Robson); Os Irmãos / The Brothers / 1947 (Patrocia Roc, Maxwell Reed, Duncan Macrae); A Taça da Amargura / The Upturned Glass / 1947 (James Mason, sua esposa, Pamela Kellino,  Rosamund John)

Cena de O Sétimo Véu

Cena de O Sétimo Véu

Pôster de A Taça da Amargura

Durante os anos cinquenta, o estúdio foi usado principalmente para a produção de shorts de meia-hora de projeção e filmes de televisão. Em 1959, Guido Coen (ex-produtor executivo da Two Cities Film) assumiu o cargo de diretor executivo e a década seguinte foi um grande marco para o Twickenham, com a realização de Saturday Night and Sunday Morning / 1960 (Albert Finney, Shirley Anne Field, Rachel Roberts) de Karel Reisz; A Hard Day’s Night / 1964 (os Beatles) de Richard Lester; Zulu / Zulu / 1964 (Stanley Baker, Jack Hawkins, Ulla Jacobsson, Michael Caine) de Cy Endfield; Como Conquistar as Mulheres / Alfie / 1966 ( Michael Caine, Shelley Winters) de Lewis Glbert; Estranho Acidente / Accident / 1967 (Dirk Bogarde, Stanley Baker, Jacqueline Sassard, Michael York) de Joseph Losey. Nos anos seguintes, outros filmes de perfil internacional seriam feitos em Twickenham, além de produções para a televisão e comerciais.

Albert Finney em Saturday Night, and Sunday Morning

Albert Finney em Saturday Night, and Sunday Morning

Cena de Zulu

Cena de Zulu

Pôster de Como Conquistar as Mulheres

Dirk Bogarde e Jacqueline Sassard em Estranho Acidente

Dirk Bogarde e Jacqueline Sassard em Estranho Acidente

WALTON-ON-THAMES

Em 1899, com 25 anos de idade, Cecil Hepworth alugou uma casa em Walton-on-Thames, no condado de Surrey,  por 36 libras por ano e a transformou em um estúdio. Suas primeiras produções foram um filme de truques, The Egg-Laying Man, no qual sua cabeça ocupava toda a tela e The Eccentric Dancer , no qual usava a câmera lenta. Depois, em The Bathers, Hepworth mostrava, em câmera invertida, os banhistas retornando da água para o trampolim. Sua filmagem do funeral da Rainha Vitória  e a coroação de Edward VI foi um feito extraordinário para a época.

Cecil Hepworth

Cecil Hepworth

Cena de Alice in Wonderland

Cena de Alice in Wonderland

Cena de Rescued by Rover

Cena de Rescued by Rover

Ele então realizou um filme mais ambicioso como  Alice in Woderland / 1903 (a assistente de montagem, Mabel Clark, como Alice e a mulher de Hepworth como o Coelho Branco). Em Rescued by Rover / 1905, um grande sucesso, a família de Hepworth teve participação ainda maior: Mrs. Hepworth escreveu o roteiro e interpretou a mãe aflita; Barbara, a filhinha de oito meses dos Hepworth, era a heroína; o cão Rover, que resgatava e menininha de um sequestro, pertencia à família Hepworth; e o próprio Cecil encarnava o pai da criança.

Alma Taylor e Chrissie White

Alma Taylor e Chrissie White

Hepworth ajudou a desenvolver o primeiro sistema de astros britânico e, com o êxito popular da série Tilly the Tomboy / 1910, protagonizada por Alma Taylor (Tillie) e Chrissie White (Sally), logo formou sua stock company, que incluía, além dessas duas jovens atrizes, Stewart Rome, Violet Hopson e Gladys Silvani, Hay Plomb, anunciados como The Hepworth Picture Players. Entre 1911 e 1914, ele ofereceu ao público Rachel’s Sin / 1911 (Gladys Silvani, Hay Plomb, Harry Royston); adaptações de romances de Charles Dickens dirigidas por Thomas Bentley: Oliver Twist / 1912 (Ivy Millais, John MacMahon, Hatty Royston, Alma Taylor), The Old Curiosity Shop / 1913 (Mai Decon, Warwick Buckland, Alma Taylor) e David Copperfield /1913 (Kenneth Ware,Eric Desmond, Alma Taylor); The Vicar of Wakefield / 1913 (Violet Hopson, Harry Royston, Warwick Buckland, Chrissie White); The Love Romance of Admiral Sir Francis Drake  / 1913 (Hay Plomb, Chrissie White, Violet Hopson).

Cena de Oliver Twist

Cena de Oliver Twist

Cena de David Copperfield

Cena de David Copperfield

Durante a Primeira Guerra Mundial, Hepworth  fez muitos filmes de propaganda e alugou seu estúdio para outras companhias como a Ivy Close Films (fundada por Elwin Neame no período do conflito mundial – o nome da firma era em homenagem à esposa de Neame, Ivy Close, mãe do diretor Ronald Neame) e a Turner Films, fundada pelo estrela americana Florence Turner (“A Garota da Vitagraph”) e Lawrence Trimble – que havia dirigido para Hepworth, The Awakening of Nora / 1914  (Alma Taylor, Stewart Rome).

Ivy Close

Ivy Close

Em 1919, o grande pioneiro do cinema britânico comprou outra propriedade e decidiu  abrir o capital de sua companhia, Hepworth Picture Plays Limited, a fim de levantar dinheiro para edificar um estúdio maior; porém as ações venderam pouco. Nessa ocasião, um jovem que havia sido ferido na guerra e estava indeciso quanto ao seu futuro, obteve um papel não creditado em um filme da Hepworth intitulado Sheba / 1919, estrelado por Alma Taylor, James Carew e Gerald Ames. Um ano depois, e ainda como o seu nome aparecendo no final dos créditos, ele apareceu em Anne the Adventuress. Seu nome era Ronald Colman e, após o término do filme, ele foi para a América, onde se tornou um astro de Hollywood, valorizado ainda mais no cinema sonoro por causa de sua bela voz inglesa.

Em 1920, apesar das dificuldades surgidas depois do crescimento súbito de todos os estúdios no pós guerra, Hepworth ainda conseguir realizar The Amazing Quest of Ernest Bliss, série de cinco episódios estrelada por Henry Edwards e Chrissie White. Dois anos depois, com a companhia em uma situação financeira difícil, ele ainda fez  Comin’ Thro’ the Rye, com Alma Taylor, James Carew e Shayle Gardner nos papéis principais. O filme foi lançado em 1923 e, seis meses depois, foi declarada a falência da Hepworth Picture Plays.

Cena de Coming'Thro' the Rye

Cena de Coming’Thro’ the Rye

Em 1926, a imprensa anunciou que Walton-on-Thames havia sido comprado por Archibald Nettlefold, produtor teatral e fundador da Anglia Films. Ele mudou o nome do estúdio para Nettlefold Studios e contratou Walter Forde, que dirigiu algumas comédias como Wait and See / 1928, What Next? / 1928 e Would You Believe It? / 1929 (todas com o próprio Walter Forde e Pauline Johnson).

Walter Forde a esquerda em uma filmagem

Walter Forde a esquerda em uma filmagem

Cena de Two Crowded Hours

Cena de Two Crowded Hours

No final de 1930, Nettlefold instalou o equipamento sonoro no seu estúdio e, tal como os outros estúdios estavam fazendo, aderiu à produção de “quota quickies” financiados por companhias americanas. A estréia de Michael Powell na direção deu-se em um deles, Two Crowded Hours / 1931 (John Longden, Jane Welsh), realizado para a Fox. Entre 1931 e 1936, Powell dirigiu 19 filmes, muitos dos quais foram feitos em Walton-on-Thames. Nos anos trinta, o estúdio foi usado por vários produtores, independentes surgindo, entre outros filmes: The Officers Mess /1931 (Richard Cooper, Harold French, Elsa Lanchester); Self-Made Lady / 1932 (Heather Angel, Henry Wilcoxon, Louis Hayward); Prince of Arcadia / 1933 (Carl Brisson, Margot Grahame, Ida Lupino); Virginia’s Husband / 1934 (Enid Stamp-Taylor, Reginald Gardiner); Twice Branded / 1936 (James Mason, Eve Grey); Father Steps Out / 1937 (George Carney, Dinah Sheridan); Espionagem de Guerra / Spies of the Air / 1940 (Edward Ashley, Felix Aylmer); Laugh It Off  / 1940 (Tommy Trinder); Old Mother Riley in Paris / 1942 (Arthur Lacan / Old Mother Riley, Kitty McShane / sua filha Sally).

Cena de Spies of the Air

Cena de Spies of the Ai

Arthur Lacan e Kitty McShane em Old Mother Riley

Arthur Lacan e Kitty McShane em Old Mother Riley

Em 1940, Walton-on-Thames foi requisitado pelo Ministério de Obras Públicas e, quando a fábrica de aviões Vickers-Armstrong foi bombardeada, transferiu parte de suas operações para lá. Em 1947, quando o estúdio voltou a funcionar, já era era de propriedade de Ernest G. Roy e continuou a produzir filmes modestos como: Morro dos Mistérios / The Hills of Donegal / 1947 (Dinah Sheridan, Moore Marriott); O Príncipe Regente / The First Gentleman / 1948 (Cecil Parker, Jean-Pierre Aumont, Joan Hopkins) dirigido por Alberto Cavalcanti; Calling Paul Temple / 1948 (John Bentley, Dinah Sheridan), adaptação de uma série radiofônica da época.

Cena de O Príncipe Regente

Cena de O Príncipe Regente

Pôster de O Monstro de Londeres poster

Pôster de Svengali

Pôster de Tiger by the TailNos anos cinquenta, o estúdio produziu: O Monstro de Londres / The Sleeping Tiger / 1954  (Dirk Bogarde, Alexis Smith, Alexander Knox), dirigido por Joseph Losey; Dance Little Lady / 1954  (Mai Zetterling, Terence Morgan); Svengali /  1954 (Hildegard Neff, Donald Wolifit, Terence Morgan); Tiger by the Tail /   (Larry Parks, Constance Smith). Mas, no final da década, por causa da concorrência da televisão e falta de financiamento para a produção, fechou, e foi demolido em 1961.

WELWYN

Em 1928, a récem-registrada Bristish Instructional Films começou a construir um estúdio em Welwyn Garden City, Hertfordshire. A companhia, fundada em 1919 por H. (Harry) Bruce Woolfe,  produzia filmes educativos tais como a série Secrets of Nature de Mary Field. Embora a dita série continuasse a ser feita no novo estúdio, Woolfe decidiu se concentrar quase que inteiramente na ficção e atraiu jovens bem relacionados, entre eles Anthony Asquith, cujo pai havia sido Primeiro Ministro do Reino Unido de 1908 a 1916.

Anthony Asquith

Anthony Asquith

Educado nas universidades de Winchester e Oxford, Asquith estivera em Hollywood com Mary Pickford e Douglas Fairbanks durante três meses, antes de retornar à Inglaterra e ingressar no mundo do cinema em 1926 na British Instructional Films. Sua primeira oportunidade de dirigir (em associação com A. V. Bramble), chegou com Shooting Stars / 1928 (Annette Benson, Brian Aherne, Chili Bouchier, Donald Calthrop). Asquith dirigiu o primeiro “filme sonoro” do estúdio, o admirável A Cottage on Dartmour / 1929 (Hans Schlettow, Uno Henning, Norah Baring), que na verdade era um filme silencioso, ao qual algum diálogo e música foram adicionados pela Klangfilm Company na Alemanha.

Cena de A Cottage on Dartmour

Cena de A Cottage on Dartmour

Em 1930, com o som já instalado no Welwyn Studios, a British International Pictures (BIP) – depois Associated British Picture Corporation (ABPC) – , chefiada por John Maxwell, o dono do Elstree Studios, absorveu a British Instructional Films. Asquith realizou Tell England / 1931 (Fay Compton, Tony Bruce, Carl Harbord)  e Dance Pretty Lady / 1932 (Ann Casson, Carl Harbord) porém ambos os filmes não deram lucro. Maxwell era um homem de negócios esperto, que não apreciava “filmes para intelectuais” e preferiu então produzir “quota quickies”, aproveitando a legislação protetora do Cinematograph Act Bill de 1927. Desgostoso, Woolfe deixou o estúdio e foi trabalhar para a Gaumont-British.

Pôster de Tell England

Durante os anos trinta, Wellwyn realizou uma quantidade desses filmes para programa duplo, que deram oportunidade para jovens atores, diretores e técnicos a chance de aprender sua profissão: The Return of Bulldog Drummond / 1934 (Ann Todd, Ralph Richardson); Honours Easy / 1935 (Margaret Lockwood, Greta Nissen, Patric Knowles); Landslide / 1937 (Dinah Sheridan, Jimmy Hanley); Save a Little Sunshine / 1938 (Dave Willis, Pat Kirkwood); My Irish Molly / 1938  (Binkie Stuart, Maureen O’Hara); O Monstro de Londres / Dark Eyes of London / 1939 (Bela Lugosi, Hugh Williams, Greta Gynt).

Pôster de The Return of Bulldog Drummond

Welwyn foi um dos poucos estúdios que não foram requisitados no início da guerra em 1939 e, como o outro estúdio de John Maxwell em Elstree ficou sob o controle do Ministério de Obras Públicas, ele transferiu a produção para Welwyn.

Cena de Quarto dos Horrores

Cena de Quarto dos Horrores

Pôster de I Live in Grovesnor Square

De 1940 a 1946, foram para as telas: The Flying Squad / 1940 (Jack Hawkins, Sebastian Shaw, Phyllis Brooks); Quarto dos Horrores / The Door with Seven Locks / 1940 (Lili Palmer, Leslie Banks); Spring Meeting / 1941 (Enid Stamp-Taylor, Michael Wilding, Margareth Rutherford); The Tower of Terror /1941 (Michael Rennie, Wilfred Lawson, Movita); The Night Has Eyes / 1942 (James Mason, Wilfrid Lawson, Mary Clare); Warn That Man / 1943 (Gordon Harker, Finlay Curie); I Live in Grosvenor Square / 1945 (Anna Neagle, Rex Harrison, Dean Jagger); Picadilly Incident / 1946 (Anna Neagle, Michael Wilding).

Richard Attenborough em  O Pior dos Pecados

Richard Attenborough em O Pior dos Pecados

Cena de A Dama de Espadas

Cena de A Dama de Espadas

No final do decênio, destacaram-se: O Pior dos Pecados / Brighton Rock / 1947 (Richard Attenborough, Hermione Baddeley, William Hartnell) e A Dama de Espadas / The Queen of Spades  /1949 (Anton Walbrook, Edith Evnas, Yvonne Mitchell).

Dennis Price em Homicídio sem Crime

Dennis Price em Homicídio sem Crime

Pôster de Murder Without CrimeNo início dos anos cinquenta a especulação da indústria de que a Associated British Picture Corporation poderia vender Welwyn, a fim de concentrar toda a produção em Elstree, se confirmou. Os últimos filmes feitos no estúdio de Welwyn em 1950 foram Homicídio sem Crime / Murder Without Crime (Dennis Price, Derek Farr, Patricia Plunkett); Talk of a Million (Jack Warner, Barbara Muller, Joan Kenny)  e The Franchise Affair (Dulcie Gray, Michael Denison). Em 1951, a ABPC vendeu-o para uma empresa de tabaco.

WEMBLEY

A British Incorporated Pictures foi fundada em 1927 por dois homens de negócios, Ralph J. Pugh e Rupert Mason, que pretendiam transformar o Palácio da Engenharia erguido durante a Exposição do Império Britânico de 1924 no Wembley Park, Brent, em um estúdio cinematográfico enorme no estilo americano. Embora a companhia tivesse adquirido a área para a edificação, faltou suporte financeiro e, um ano depois, a  De Forest Phono Films construiu ali um pequeno estúdio, para fazer seus filmes curtos, usando o sistema de som inventado por Lee De Forest. Este estúdio pegou fogo e, em abril de 1927, o financista I. W. Schlesinger e Harold Holt compraram a Phono Films e construíram outro estúdio. Eles ficaram  com as patentes da Phono Films (que entrou em liquidação em 1930) e fundaram a British Talking Pictures e uma subsidiária, British Sound Film Productions, para produzir filmes para o novo estúdio.

Pôster de Dark Red Roses

O primeiro filme da British Sound Film Productions, The Crimson Circle / 1929 (Stewart Rome, Lya Mara), foi uma produção anglo-germânica (Friedrich Zelnick dirigiu a parte silenciosa do filme e Sinclair Hill a parte sonora) e o segundo filme, Dark Red Roses / 1929 (Stewart Rome, Frances Doble), já totalmente falado, contava com uma breve participação do dançarino e coreógrafo Georges Balanchine.

No início de 1930, a British Talking Pictures fundiu-se com a Associated Sound Film Industries, companhia com capital de 1 milhão de libras, mas seus planos  grandiosos não se materializaram. Com exceção dos filmes de um rolo de John Grierson e The Bells / 1931 (Donald Calthrop, Jane Welsh) com música de Gustav Holst, e Quando o Coração Canta / City of Song / 1932 (Jan Kiepura, Betty Stockfeld), dois filmes multinacionais ambiciosos, suas operações desapontaram em termos de bilheteria.

Os donos de Wembley então alugaram o estúdio para  produtores independentes realizarem “quota quickies”, a fim de cumprirem o Cinematograph Films Act de 1927. A firma americana Fox Film necessitava produzir uma certa quantidade de filmes britânicos para que pudesse exibir seus filmes de prestígio na Inglaterra e assim formaram a Fox-British Pictures para preencher seus filmes de cota. Incialmente, ela usou Wembley assim como outros estúdios até 1934, quando assumiu sozinha o arrendamento do Wembley Studio, comprando o complexo em 1936.

Cena de Money for Speed

Cena de Money for Speed

Wembley tornou-se um centro de produção efervescente de “quota quickies”, da Fox-British, incluindo-se, entre eles: Wedding Rehearsal / 1932 (Roland Young, George Grossmith, John Loder); Two White Arms / 1932 (Adolphe Menjou, Margaret Bannerman, Claud Allister, Jane Baxter); Money for Speed / 1935 (John Loder, Ida Lupino, Cyril McLaglen); All at Sea / 1935 (Tyrell Davis, Googie Withers, Rex Harrison); Riverside Murder / 1935 (Basil Sydney, Judy Gunn, Alastair Sim); Sexton Blake and the Bearded Doctor / 1935 ( George Curzon, Henry Oscar); Troubled Waters /1936  (Virginia Cherrill, James Mason,  Alastair Sim); Wedding Group / 1936 (Fay Compton, Patric Knowles); Murder in the Family / 1938 (Barry Jones, Jessica Tandy Evelyn Ankers e, em pequenos papéis, Glynis Johns e Roddy MacDowall) – nesses filmes, a Fox-British empregou alguns diretores americanos como Albert Parker, Fred Niblo e Bernard Vorhaus.

George Curzon / Sexton Blake

George Curzon / Sexton Blake

Entretanto, a 20thCentury-Fox, companhia matriz da Fox-British, passou por um certo número de mudanças em seu mercado doméstico nos anos trinta e não estava satisfeita com as novas cotas impostas pelo Films Act de 1938. Como usava outros estúdios na Grã Bretanha, decidiu fechar as portas de Wembley. A situação política na Europa não passou despercebida pelas “majors” americanas e também pode ter influído nessa decisão. Uma das últimas produções da Fox-British foi Truques do Destino / Who Goes Next / 1938 com um jovem Jack Hawkins e direção de Maurice Elvey.

Pôster de The Spider

Antes de irromper a Segunda Guerra Mundial, o estúdio foi alugado para companhias independentes como Admiral Film (vg. The Spider / 1940 (Derrick De Marney, Diana Churchill) e Beaumont Film Productions, (vg. Toilers of the Sea / 1936 (Andrews Engelmann, Cyril McLaglen). Depois que a guerra começou,  Wembley parou de produzir. O Army Kinematograph Service usou-o para a realização de filmes de treinamento militar, com Thorold Dickinson encarregado da produção. Em 1950, a Fox ainda era dona de Wembley, porém o estúdio estava sendo alugado para companhias independentes – vg. Mercia Film Productions e Rayart Pictures – fazerem filmes comerciais. Entre 1955-1956, ele foi usado pela Associated-Rediffusion para produções de televisão.

ESTUDIOS BRITÂNICOS III

setembro 25, 2014

A Gaumont Company começou em Londres em 1898 quando dois irmãos, A. C. (Alfred Claude) e R. C. (Reginald Claude) Bromhead decidiram distribuir os filmes feitos por Léon Gaumont na França. Embora a maior parte do seu negócio fosse a distribuição / aluguel de filmes na época, eles resolveram entrar no ramo da produção em um pequeno estúdio em Shepherd’s Bush e, por volta de 1912, adquiriram outras propriedades próximas, construindo depois um estúdio maior, Lime Grove, inaugurado em 1913.

Em 1922, após longas negociações e a ajuda financeira dos irmãos Ostrer (Isidore, Maurice, Mark, David), os Bromhead compraram a participação acionária francêsa na agência Gaumont da Inglaterra, e esta se tornou uma companhia exclusivamente britânica. Antes de 1915, os Bromhead haviam se concentrado na produção de “atualidades” e desenhos animados mas, com a abertura do novo estúdio, decidiram investir nos longas-metragens. Eles contrataram Thomas Welsh como gerente geral e este, por sua vez, empregou George Pearson, que havia trabalhado para a Samuelson Film Company.

Pôster de Squibbs

Ex-professor e diretor de escola, educado em Oxford, Pearson foi o Pai do Cinema Britânico assim como D.W. Griffith foi o Pai do Cinema Americano. Em A Study in Scarlet / 1914 e depois com a série Ultus: The Man from the Dead (1915-1917), planejada para rivalizar com a congênere francêsa Fantomas, ele demonstrou aptidão para o gênero, sendo comparado a Louis Feuillade. Em 1918, Pearson e Welsh deixaram a Gaumont e formaram a Welsh-Pearson Film Company, abrindo um estúdio minúsculo, Craven Park em Harlesden, Brent, onde Pearson introduziu na tela Betty Balfour, que ele colocou em uma série de comédias Squibs como a jovem vendedora de flores Squibs Hopkins, transformando-a em estrela no filme Réveille / 1924, espetáculo muito elogiado, mostrando-a como mãe de três filhos durante a Primeira Guerra Mundial.

George Pearson no seu escritório

George Pearson no seu escritório

Cena de Réveille

Cena de Réveille

Em 1926, em virtude de dificuldades financeiras, Pearson e Welsh foram obrigados a vender Craven Park. Durante uma de suas visitas à América para obter financiamentos, Pearson interessou-se pelo desenvolvimento da tecnologia do som e, em 1930, supervisionou a gravação sonora de Journey’s End de James Whale em Hollywood. A Welsh-Pearson acabou falindo e, durante a Segunda Guerra Mundial, Pearson trabalhou com Alberto Cavalcanti na GPO Film Unit, sendo depois nomeado Diretor da Colonial Film Unit, onde ajudou a abrir escolas de cinema em países emergentes da Comunidade Britânica.

A saída de Pearson de Lime Grove causou uma crise de produção para a Gaumont-British e, embora algumas comédias “Brimston and Eve” com Eileen Molyneaux tivessem sido produzidas, o estúdio teve que aguardar até 1918, para realizar filmes mais importantes como Bonnie Prince Charlie / 1923 (Ivor Novello, Gladys Cooper, que se distinguiria como coadjuvante em Hollywood nos anos quarenta).

Eileen Molyneaux

Eileen Molyneaux

ivor novello e Gldys Cooper em Bonnie Prince CharlieEm 1926, os Bromheads, com o apoio dos irmãos Ostrer, Simon Rowson da Ideal Films e do distribuidor C. M. Woolf fizeram uma operação gigantesca, registrando uma nova firma, Gaumont-British Picture Corporation, que incorporava produção, distribuição e exibição, modelo que J. Arthur Rank iria seguir nos anos trinta. Maurice Elvey (o mais prolífico dos diretores do cinema britânico) foi contratado, para estimular a produção e, entre os filmes que ele dirigiu, incluíam-se: Mademoiselle de Armentieres / Mademoiselle from Amermentières / 1927 (John Stuart, Estelle Brody); Hindle Wakes / 1927 (John Stuart, Estelle Brody); Rosas de Picardia / Roses of Picardy / 1927 (John Stuart, Lillian Hall-Davis, Marie Ault): Quinneys / 1927 (Alma Taylor, Cyril McLaglen, Ursula Jeans).

Maurice Elvey

Maurice Elvey

Pôster de Mademoiselle de Armentieres

Cena de Hindle Wakes

Cena de Hindle Wakes

Pôster de Rosas de PicardiaEm 1929, com a chegada dos “talkies”, a Gaumont decidiu reconstruir seu estúdio em Lime Grove e, enquanto essa obra estava sendo feita, a Gainsborough, com seu estúdio em Islington, serviu como um ramal da produção da Gaumont-British. Em torno de 1930, Michael Balcon estava dividindo suas responsabilidades como produtor entre Islington e Shepherd’s Bush. Ele permaneceu como chefe da produção até 1936 e, durante esses anos, desenvolveu contatos com realizadores e técnicos, muitos dos quais o acompanharam no final da década para o Ealing Studios. Entre os filmes feitos no “novo” Lime Grove Studios em Shepherd’s Bush, sob a gestão de Balcon, destacavam-se: Rome Express / 1932 (Conrad Veidt, Esther Ralston); The Constant Nymph / 1933 (Victoria Hoper, Brian Aherne); Eu fui uma Espiã / I Was a Spy / 1933 (Madeleine Carroll, Herbert Marshall); O Vagabundo Milionário / The Guv’nor / 1933 (George Arliss, Viola Keats, Gene Gerrard); O Judeu Suss e na reprise O Homem Que não Podia Morrer / Jud Suss / 1934 (Conrad Veidt, Benita Hume, Cedric Hardwicke); O Duque de Ferro / The Iron Duke / 1934 (George Arlisss, Galdys Cooper, Emlyn Williams); Destino Glorioso / Forever England / 1935 (Betty Balfour, John Mills); O Homem Que Sabia Demais / The Man Who Knew Too Much / 1935 (Edna Best, Leslie Banks, Peter Lorre, Nova Pilbeam); Ao Serviço de Sua Majestade / O.H.M.S. / 1937 (Wallace Ford, Anna Lee, John Mills).

Pôster de Rome Express

Pôster de Eu Fui uma Espiã

Anunciada como a “Divindade Dançante”, Jessie Matthews ficou conhecida em revistas musicais no final dos anos vinte e, no início dos anos trinta, atingiu o auge de sua popularidade no cinema. Embora tivesse feito The Good Companions / 1933 com o jovem John Gieguld e Edmund Gwenn, seus filmes mais famosos foram Sempre Viva / Evergreen / 1934; o delicioso Mulher Acima de Tudo / First a Girl / 1935; e Ainda o Amor / It’s Love Again / 1936, todos dirigidos por Victor Saville e com Sonnie Hale. Jessie foi a grande estrela de Lime Grove.

Jessie Mathews e Barry MacKay

Jessie Mathews e Barry MacKay

Jessie Mathews, Sonnie Hale e Griffith Jones em Mulher Acima de Tudo

Jessie Mathews, Sonnie Hale e Griffith Jones em Mulher Acima de Tudo

Pôster de Ainda o AmorNo começo de 1937, Isidore Ostrer revelou que a Gaumont-British tinha uma dívida de quase 100 milhões de libras, o Lime Grove Studios iria ser fechado, e um número limitado de filmes continuariam a ser feitos pela Gainsborough em Islington. Então J. Arthur Rank e C. M. Woolf (cuja companhia, General Film Distributors, já era proprietária da metade do Pinewood Studio) prepararam um pacote de auxílio para a Gaumont-British, conforme o qual eles assumiriam a distribuição dos filmes da mesma juntamente com seu estúdio e, em contrapartida, a produção da Gaumont-British seria transferida para Pinewood. Entre as produções transferidas de Lime Grove para Pinewood estavam:  Young and Innocent / 1937 (Nova Pilbeam, Derrick De Marney, Percy Marmont), Gangway / 1937 e Navegando em Ritmo / Sailing Along / 1938 (ambos com Jessie Matthews e Barry MacKay).

Isidore Ostrer

Isidore Ostrer

Quando irrompeu a Segunda Guerra Mundial em 1939, muitos estúdios foram requisitados pelo Ministério da Guerra, inclusive Pinewood. O gerente-produtor do estúdio, Edward “Ted” Black, (que havia assumido este cargo em Islington após a partida de Michael Balcon em 1936), anunciou que, como havia uma possibilidade da chaminé do prédio ser destruída por um ataque aéreo, a produção teria que ser transferida para o Lime Grove Studios em Shepherd’s Bush.

No final de 1941, J. Arthur Rank havia se tornado presidente do Gaumont-British Group e também adquirido (de Isidore Ostrer, antes deste se aposentar), os 251 cinemas da Gaumont-British. O outro protagonista na direção da firma, C. M. Woolf, morreu em 1942.

Michael Redgrave em Kipps

Michael Redgrave em Kipps

Anteriormente ao início da guerra, a 20thCentury-Fox resolveu fechar seu pequeno estúdio em Wembley e alugar o Lime Grove Studios, onde fez Kipps / 1941 (Michael Redgrave, Phyllis Calvert, Diana Wyniard, Michael Wilding) e O Jovem Mr. Pitt / The Young Mr. Pitt / 1942 (Robert Donat, Phyllis Calvert, Robert Morley, John Mills). O acordo da Fox com o estúdio expirou em 1942 e, apesar da dificuldade relacionamento entre os dois, coube a Edward Black e Maurice Ostrer expandir a produção de filmes. Ostrer estava convencido de que aquilo que o público mais queria em tempo de guerra era escapismo e instigou a realização de uma quantidade de melodramas de época sob a marca Gainsborough.

James Mason e Margaret Lockwood em O Homem de Cinzento

James Mason e Margaret Lockwood em O Homem de Cinzento

O primeiro filme neste gênero foi O Homem de CinzentoThe Man in Grey / (James Mason, Margaret Lockwood, Stewart Granger, Phyllis Calvert), cujo sucesso criou nova perturbação na balança de poder entre Edward Black e Maurice Ostrer, resultando a saída de Black da companhia, para se juntar a Alexander Korda na MGM. Com o acréscimo de Jean Kent e Patricia Roc, Ostrer desenvolveu uma espécie de companhia de repertório e fez: Amor das Sombras / Fanny by Gaslight / 1944 (Phyllis Calvert, James Mason, Stewart Granger); Madona das Sete Luas / Madonna of the Seven Moons / 1945 (Phyllis Calvert, Stewart Granger, Patricia Roc); Malvada / The Wicked Lady / 1945 (Margaret Lockwood, James Mason, Patrícia Roc, Michael Rennie); Espadas e Corações / Caravan / 1946 (Stewart Granger, Jean Kent, Dennis Price); Jassy, a Feticeira / Jassy / 1947 (Margaret Lockwood, Patricia Roc, Dennis Price) – obs. ver meu artigo de 4 de abril de 2010, “Melodramas de Época da Gainsborough”.

Pôster de Amor das Sombras

Pˆsoter de Madona das Sete Luas

Pôster de Espadas e Corações

Pôster de Jassy, a FeticeiraO mais exitoso comercialmente foi Malvada, dirigido por Leslie Arliss, que se passava no reinado de Carlos II e contava a história da perversa Lady Barbara Skelton, interpretada por Margaret Lockwood, que fazia amizade com um ladrão de estrada (James Mason), e enveredava pelo crime. O filme teve problemas com a censura nos Estados Unidos, quando o Hays Office bloqueou sua distribuição, desaprovando os decotes muito ousados de Patricia Rock e Margaret Lockwood. J. Arthur Rank, dono do Shepherd’s Bush Studios em 1945, buscava desesperadamente um sucesso de bilheteria americano, e ordenou que as cenas ofensivas fossem refilmadas; mas, explorando habilmente a publicidade, garantiu um número de filas ainda maior em torno dos cinemas no Reino Unido.

James Mason e Margaret Lockwood em Malvada

James Mason e Margaret Lockwood em Malvada

Pôster de MalvadaO contrato de Maurice Ostrer encerrou-se em 1946 e ele foi substituido por Sydney Box. Sydney e sua esposa Muriel, produziam, escreviam e dirigiam seus filmes e já tinham prestígio na indústria cinematográfica britânica, quando Sydney assumiu a Chefia de Produção da Gainsborough. Ele se queixava da pouca produtividade da companhia e se gabava de que iria ser capaz de produzir doze filmes por ano comparado aos três produzidos por Ostrer. Entre as suas produções incluiram-se: Cupido em Férias / Holiday Camp / 1947 (Jack Warner, Flora Robson, Dennis Price, Hazel Court, Kathleen Harrison); The Man Within / 1947 (Michael Redgrave, Jean Kent, Joan Greenwood, Richard Attenborough); Easy Money / 1948 (Jack Warner, Masrjorie Fielding); The Calendar / 1948 (Greta Gynt, John McCallum); The Bad Lord Byron / 1949 (Dennis Price, Mai Zetterling, Joan Greenwood).

Dennis Price e Joan Greenwood em The Bad Lord Byron

Dennis Price e Joan Greenwood em The Bad Lord Byron

No final dos anos quarenta, o império Rank estava começando a ruir e John Davis, um contador que havia entrado na empresa em 1939, teve que tomar medidas extremas para que o Pinewood sobrevivesse. Ele cortou orçamentos, fechou os estúdios da Gainsborough em Islington e Lime Grove em Shepherd’s em 1949 e, no mesmo ano, os vendeu para a BBC Television.

SHEPPERTON

Em 1931, um homem de negócios escocês, Norman Loudon, comprou Littleton Park, uma casa construída no século XVII, e a área circundante (que incluia um trecho muito bonito do Rio Ash) em Shepperton, Surrey, com a finalidade de usá-las como sede de sua nova companhia, Sound City Film Producing & Recording, fundada em 1932. No final deste ano, a Sound City registrou cinco produções: três curtas-metragens para a MGM e dois longas-metragens, Watch Beverly (Henry Kendall, Dorothy Bartlam, Francis X. Bushman) e Reunion (Stewart Rome, Anthony Holles, Fred Schwartz).

Sound City/ Shepperton

Sound City/ Shepperton

Sound City, como o estúdio ficou conhecido, atraiu vários jovens diretores entusiasmados como George King, W. P. Lipscombe, John Baxter, Ralph Ince e John Paddy Carstairs. Em 1936, após um breve período fechado para sua modernização, o estúdio reabriu produzindo entre outros: Sweeney Todd, The Demon Barber of Fleet Street / 1936 (Tod Slaughter, Stella Rho); Mill on the Floss / 1937 (Geraldine Fitzgerald, James Mason); The Last Adventurers / 1937 (Niall MacGinnis, Linden Travers ); Wake Up Famous / 1937 (Nelson Keys, Gene Gerrard); Life of Chopin / 1938 (curta-metragem (36’) de James A. FitzPatrick); Sexton Blake and the Hooded Terror / 1938 (Tod Slaughter, Greta Gynt); Caçadora de Corações / French Without Tears / 1940 (Ray Milland, Ellen Drew, Janine Darcey).

Tod Slaughter em Sweeney Todd

Tod Slaughter em Sweeney Todd

Pôster de Mill on the Floss

Pôster de Caçadora de CoraçõesNa Segunda Guerra Mundial, o Ministério da Guerra considerou o Shepperton Studios um local seguro, pois estava afastado do centro de Londres. Porém os militares se esqueceram de que a enorme fábrica de aviões Vickers-Armstrong ficava próxima e a filmagem tinha que ser interrompida continuamente por causa das bombas extraviadas que caíam dos ataques aéreos alemães no terreno do estúdio. Eventualmente, a fábrica foi atingida e parte de sua operação foi transferida para o Walton-on-Thames Studios. A esta altura, o Ministério da Guerra requisitou imediatamente o Shepperton Studios e a habilidade de seus artífices para fabricar réplicas de aviões, que seriam usados no Oriente Médio como chamariz, armas de mentira, e pistas de pouso e decolagem.

Michael Wilding e Paulette Goddard em An Ideal Husband

Michael Wilding e Paulette Goddard em An Ideal Husband

Kieron Moore e Vivien Leigh em Anna Karenina

Kieron Moore e Vivien Leigh em Anna Karenina

Michèle Morgan e Ralph Richardson em O Ídolo Caído

Michèle Morgan e Ralph Richardson em O Ídolo Caído

Robert Donat em Um Caso de Honra

Robert Donat em Um Caso de Honra

Em 1946, a British Lion de Alexander Korda (que já possuía 50% do Worton Hall Studios em Isleworth) adquiriu 74% da Sound City Film juntamente com seu estúdio em Shepperton e os 50% restantes do Worton Hall Studios. Estas novas aquisições preencheram o lugar do estúdio da British Lion em Beaconsfield, que fora alugado ao governo por vinte e um anos. Entre os filmes realizados em Shepperton sob o novo regime incluíam-se: Uma Mulher no Meu PassadoAn Ideal Husband /1947 (Paulette Goddard, Michael Wilding, Glynis Johns, Diana Wyniard, Hugh Williams); Anna Karenina / Anna Karenina / 1948 (Vivien Leigh, Ralph Richardson, Kieron Moore); Encontro Inesperado / The Courtneys of Curzon Street / 1947 e Loucuras da Primavera / Spring in Park Lane / 1948 (ambos com Anna Neagle e Michael Wilding); O Ídolo Caído / The Fallen Idol / 1948 (Ralph Richardson, Bobby Henrey, Michèle Morgan); Um Caso de Honra / The Winslow Boy / 1948 (Robert Donat, Cedric Hardwicke, Margaret Leighton); O Terceiro Homem / The Third Man / 1949 (Orson Welles, Joseph Cotten, Alida Valli, Trevor Howard); O Pária das Ilhas / An Outcast of the Islands / 1951 (Ralph Richardson, Trevor Howard, Robert Morley); Sem Barreira no Céu / The Sound Barrier / 1953 (Ralph Richardson, Nigel Patrick, Ann Todd, Dinah Sheridan); O Outro Homem / The Man Between / 1953 (James Mason, Claire Bloom, Hildegarde Neff); Papai é do Contra / Hobson’s Choice / 1954 (Charles Laughton, John Mills, Brenda de Banzie); A Rua da Esperança / A Kid for Two Farthings / 1955 (Celia Johnson, Diana Dors); O Nosso Homem em Havana / Our Man in Havana / 1959 (Alec Guiness, Maureen O’Hara, Noel Coward, Ralph Richardson, Burl Ives). Na mesma década, Hollywood chegou em Shepperton: Pandora / Pandora and the Flying Dutchman / 1951 (Ava Gardner, James Mason, Nigel Patrick); Uma Aventura na África / The African Queen / 1951 (Humphrey Bogart, Katharine Hepburn, Robert Morley); Moulin Rouge / Moulin Rouge / 1952 (José Ferrer, Zsa Zsa Gabor, Colette Marchand).

Orson Welles em O Terceiro Homem

Orson Welles em O Terceiro Homem

Pôster de O Päria das Ilhas islands poster

José Ferrer em Moulin Rouge

José Ferrer em Moulin Rouge

Em 1948, a British Lion estava à beira da falência, mas a agência governamental récem-formada, National Film Finance Corporation, lhe concedeu empréstimos de alguns milhões de libras. A British Lion não saldou os empréstimos e, em 1954, o governo pediu a liquidação da devedora, tendo sido nomeado um liquidante. Duas novas companhias foram criadas: British Lion Films Limited e uma subsidiária, British Lion Studio Company Limited, para gerir as atividades da British Lion na área de distribuição e o estúdio de Shepperton (o de Worton Hall já tinha sido vendido em 1952 por motivo de economia). A NFFC reestruturou a diretoria, designando os irmãos Boulting (Roy e John), Frank Launder e Sidney Gilliat para compô-la, com a condição deles realizarem seus filmes futuros exclusivamente para a British Lion (e assim foi feito vg. Roy e John Boulting: Ultimatum / Seven Days to Noon / 1950 (Barry Jones); Sidney Gilliat: O Passado me Condena / The Constant Husband / 1955 (Rex Harrison, Kay Kendall); Frank Launder: Geordie / 1955 (Bill Travers, Alastair Sim).

Laurence Olivier e Ralph Richardson em Ricardo III

Laurence Olivier e Ralph Richardson em Ricardo III

Charles Chaplin em Luzes da Ribalta

Charles Chaplin em Luzes da Ribalta

Laurence Harvey e Simone Signoret em Almas em Leilão

Laurence Harvey e Simone Signoret em Almas em Leilão

Entre outras produções britânicas feitas em Shepperton nos anos cinquenta e sessenta, sobressaíram: Ricardo III / Richard III / 1955 (Laurence Olivier, Ralph Richardson, John Gieguld, Claire Bloom); Vida de Artista / The Entertainer / 1960 (Laurence Olivier, Brenda de Banzie, Roger Livesey, Alan Bates, Albert Finney); Um Rei em Nova York / A King in New York / 1957 (Charles Chaplin, Dawn Adams); Bom Dia, Tristeza / Bonjour Tristesse / 1958 (Jean Seberg, David Niven, Deborah Kerr);  The Entertainer / 1960 (Laurence Olivier, Brenda de Banzie, Roger Livesey, Alan Bates, Albert Finney); Momentos de Angústia / The Angry Silence / 1960 ( Richard Attenborough, Pier Angeli); A Mulher que Pecou / The L-Shaped Room / 1962 (Leslie Caron, Tom Bell); Othello / 1965 (Laurence Olivier, Maggie Smith, Frank Finley); e filmes da “New Wave” inglesa: Almas em Leilão / Room at the Top / 1959 (Laurence Harvey, Simone Signoret, Heather Sears); Ainda Resta uma Esperança / A Kind of Loving / 1962 (Alan Bates, June Ritchie); O Mundo Fabuloso de Billy Liar / Billy Liar / 1963 (Tom Courtnenay, Julie Christie); Darling – A Que Amou Demais / Darling / 1965 (Julie Christie, Dirk Bogarde, Laurence Harvey).

Pôster de Ainda Resta uma Esperança

Em 1964, a NFFC vendeu a British Lion para um consórcio presidido por Michael Balcon. O estúdio continuou em funcionamento (com a realização de grandes filmes), passando por outros donos (entre eles um consórcio presidido por Ridley e Tony Scott), e hoje faz parte do Pinewood Studios Group.

TEDDINGTON

Em 1914, Charles Urban, pioneiro anglo-americano do filme documentário, educativo, propagandístico e científico, adquiriu uma mansão isolada à beira de um rio em Teddington, chamada de Weir House, para fazer – na sua estufa – filmes usando o processo de coloração aperfeiçoado por seu sócio, George Albert Smith.

Charles Urban

Charles Urban

Em 1918, a Weir House foi alugada, e mais tarde comprada, pela Master Films Limited, que transformou a estufa em um verdadeiro estúdio com paredes de vidro, camarins, oficinas, local para guardar os adereços e cenários, e uma sala de projeção minúscula. Em 1927, a Ideal Film Company, que havia anteriormente alugado o Neptune Studios em Elstree, fundiu-se com a Gaumont-British, e alugou o estúdio por pouco tempo, porque ele foi destruído em parte por um incêndio em 1929. No final dos anos vinte, o ator Henry Edwards e E. G. Norman compraram o Weir House Studios em Teddington e construiram outro no local instalando o sistema RCA de som no filme. Edwards produziu filmes falados sob o nome Teddington Film Studios e também alugou o complexo para produtores independentes.

Irving Asher e Jack Warner

Irving Asher e Jack Warner

Em 1931, a Warner Bros. primeiro alugou e depois comprou o Teddington Studios, para produzir seus “quota quickies” britânicos, modernizou o estúdio, e de 1931 a 1939, Irving Asher dirigiu-o com muita eficiência. Os “quota quickies” serviram como um campo de treinamento para produtores, diretores, técnicos e atores (vg. o futuro produtor e diretor Mario Zampi trabalhou na Warner como montador; Ida Lupino (High Finance / 1933) e Errol Flynn (Murder at Monte Carlo / 1935) atuaram no início de suas carreiras; Michael Powell dirigiu The Girl in the Crowd / 1935 ainda novato).

Errol Flynn em Murder at Monte Carlo

Errol Flynn em Murder at Monte Carlo

No começo da Segunda Guerra Mundial, o estúdio fechou, mas reabriu novamente alguns meses depois sob a administração de Doc Salomon. Até que o prédio fosse atingido diretamente por uma bomba voadora em 1944, entre as produções ali completadas estavam: The Night Invader / 1943 (Anne Crawford, David Farrar, Marius Goring); Dark Tower / 1943 (Ben Lyon, Anne Crawford, David Farrar, Herbert Lom, William Hartnell, Ben Lyon); The Hundred Pound Window / 1943 (Anne Crawford, David Farrar, Richard Attenborough); Flight from Folly / 1945 (Pat Kirkwood, Hugh Sinclair, Sydney Howard).

David Farrar e Anne Crawford em The Night Invader

David Farrar e Anne Crawford em The Night Invader

David Farrar, Anne Crawford  e William Hartnell em Dark Tower

David Farrar, Anne Crawford e William Hartnell em Dark Tower

A produção foi suspensa após o bombardeio, porém o estúdio, devidamente reconstruído, voltou a funcionar em 1948. Entrementes, em 1946, a Warner Bros. havia adquirido do espólio de John Maxwell uma parte expressiva da Associated British Picture Corporation e, pouco depois, toda a produção da Warner transferiu-se para o estúdio da ABPC em Elstree.

Burt Lancaster e Eva Bartok em O Pirata Sangrento

Burt Lancaster e Eva Bartok em O Pirata Sangrento

Teddington fechou mais uma vez em 1952, sendo a última produção ali realizada O Pirata Sangrento / The Crimson Pirate (Burt Lancaster, Eva Bartok, Nick Cravat). Em 1955, a ABC Television Limited comprou o estúdio e em 1968, a ABC e a Rediffusion Television se fundiram para formar a Thames Television, resultando daí uma maior expansão das instalações do Teddington Television Studos.

ESTÚDIOS BRITÂNICOS II

setembro 12, 2014

ISLEWORTH

Em 1913, o pioneiro do cinema britânico, G. B. (George Berthold) Samuelson, concebeu a idéia de realizar um filme épico sobre o reino da Rainha Vitória, que ele admirava muito. Samuelson financiou e teve uma participação importante na produção de Sixty Years A Queen, rodado no Ealing Studios de Will Barker. O espetáculo obteve muito sucesso, e ele resolveu adquirir seu próprio estúdio, alugando, com opção de compra, uma grande área – na qual se situava uma mansão de quarenta quartos -, em Worton Hall, Isleworth.

Cena de Sixty Years a Queen

O primeiro filme feito no estúdio, A Study in Scarlet / 1914, baseado na história de Conan Doyle e dirigido por George Pearson, alcançou grande êxito. Animado, Samuelson envolveu Pearson em um novo projeto, A Cinema’s Girl Romance, que não foi avante porque, com o irromper da Primeira Guerra Mundial, eles resolveram realizar dois cine-jornais fictícios, The Great European War Day-By-Day e Incidents Of The Great European War, muito bem recebidos pelo público. Nos dias que se seguiram, Samuelson e Pearson trabalharam ininterruptamente, produzindo filmes que lotavam os cinemas, tendo como Fred Paul. Como ator principal. No final de 1915, Pearson deixou Worton Hall e foi para o Lime Grove Studio da Gaumont em Shepherd’s Bush. Fred Paul assumiu suas funções em Worton Hall, começando por dirigir a série The Adventures of Deadwood Dick /1915, ao todo seis westerns de dois rolos, baseados nas proezas de um inglês, Dick Harry (interpretado por ele mesmo), no Oeste americano, Em 1916, Worton Hall foi ampliado e, daquele ano até 1919, conquistou uma reputação invejável pela realização de adaptações de dois rolos de livros e peças clássicos (vg. The Vicar of Wakefield de Oliver Goldsmith; The Admirable Crichton de J.M. Barrie; Lady Windermere’s Fan de Oscar Wilde, as duas últimas produzidas pela Ideal Film Company de Simon Rowson).

Cena de A Study in Scarlet

Cena de A Study in Scarlet

Em 1922, Samuelson formou uma companhia com o distribuidor Sir William Jury, sob a denominação de British Super Films. O primeiro filme sob a nova marca foi Stable Companions / 1922, estrelado por Lillian Hall-Davis e Clive Brook, seguindo-se, com a mesma atriz, The Game of Life / 1922; The Faithful Heart / 1922; Brown Sugar / 1922; The Hotel Mouse / 1923; The Right To Strike / 1923. Samuelson fez de Lillian Hall-Davis uma estrela imensamente popular. O filme mais controvertido dela, Maisie’s Marriage / 1923, causou um acesso de indignação por parte da British Board of Film Censors, que não admitia que um livro, cujo tema principal era o amor livre, tivesse sido transformado em filme. O livro em questão intitulava-se Married Love, de autoria de uma defensora do controle de natalidade, Dra. Maria C. Stopes, que também escreveu o roteiro para a transposição cinematográfica.

Cartaz de Maisie's Marriage

Cena de Maisie's Marriage

Cena de Maisie’s Marriage

Em 1925, Samuelson empreendeu uma versão para a tela de Ela / She, de Sir Henry Rider Haggard, filmada em um estúdio de Berlin, com um elenco internacional. Dificuldades com sua estrela americana, Betty Blithe, resultaram em uma ação judicial, e os gastos colossais com o processo somados às despesas extras de produção por causa do litígio, causaram-lhe muito prejuízo. Em 1928, Worton Hall foi vendido para a British Screen Productions, que George Pearson havia fundado, e Samuelson continuou a atuar no cinema como diretor.

Betty Blithe em Ela

Betty Blithe em Ela

A British Screen Productions realizou alguns filmes silenciosos de qualidade inferior e, em 1930, entrou em liquidação. Em 1931, Richard Norton (encarregado da realização de “quota quickies” na Inglaterra para a United Artists e que mais tarde teria uma participação importante no Pinewood Studios), chegou a organizar um esquema de produção de seis “quickies” no estúdio e este também foi alugado para outras companhias fazerem, por exemplo, Madame Guillotine – Prod: Reginald Fogwel; Birds of a Feather – Prod: G&L Films; Guilt – Prod: Reginald Fogwell; e Jealousy – Prod: Majestic Films / New Era. Porém, em 1933, Worton Hall foi vendido para J. W. Almond e Edward Gourdeau, donos da Interworld Films.

Isleworth Studios 1930

Isleworth Studios 1930

Em 1934, Worton Hall foi totalmente modernizado com a instalação do sistema de som Western Electric e, no final do ano, Alexander Korda, com o apoio financeiro da Prudential Assurance Company, alugou o estúdio. Douglas Fairbanks e seu filho, Douglas Fairbanks Jnr., celebraram um acordo com Alexander Korda pelo qual Fairbanks Sr. ofereceria a Korda uma participação na United Artists enquanto que seu filho integraria o elenco da produção de Korda, Catarina, a Grande (em reprise, A Rainha Imortal) / The Rise of Catherine The Great / 1934.

Pôster de Noites de Moscou

Pôster de O Homem Que Fazia Milagres

Pôster de BozamboEm 1936, após longas negociações com a família Almond, Douglas Fairbanks, Jnr. e seus colegas Marcel Hellman, Paul Czinner e A. Cunningham- Reid (da diretoria da firma que ele havia fundado no ano anterior, Criterion Film Production), adquiriram Warton Hall. Entre os filmes realizados no todo ou em parte por Korda, Fairbanks, Jnr. e produtores independentes neste estúdio em 1935-1937, destacaram-se: O Fantasma Camarada / The Ghost Goes West (Robert Donat, Jean Parker); Noites de Moscou / Moscow Nights (Harry Baur, Penelope Dudley Ward, Laurence Olivier); O Homem Que fazia Milagres / The Man Who Could Work Miracles (Roland Young, Ralph Richardson); Daquí a Cem Anos / Things to Come (Ralph Richardson); Bozambo / Sanders of the River (Paul Robeson, Leslie Banks, Nina Mae McKinney); Acusada / Accused (Douglas Fairbanks, Jnr. Dolores Del Rio); Crime Over London (Margot Grahame, Paul Cavanagh); Larápio Encantador / Jump for Glory (Douglas Fairbanks, Jnr. Valerie Hobson). Estes três últimos filmes, produzidos pela Criterion, foram um desastre nas bilheterias, e Douglas Fairbanks Jnr. voltou para os Estados Unidos. A produção continuou em Worton Hall até o início da Segunda Guerra Mundial, sobressaindo: Fanfarronadas / The Invader / 1936 (Buster Keaton, Lupita Tovar), um “quota quickie” feito por Sam Spiegel para a MGM) e Under Secret Orders, versão inglêsa de Mademoiselle Docteur / 1937 (Erich von Stroheim, John Loder, Dita Parlo) de G.W. Pabst.

Buster Keaton e Lupita Tovar em Fanfarronadas

Buster Keaton e Lupita Tovar em Fanfarronadas

Pôster de Under Secret Orders

Em 1939, o produtor Maurice Wilson alugou Worton Hall por um período breve, mas pouco depois o estúdio foi requisitado pelo Ministério de Obras Públicas e ficou fechado durante a guerra. Em 1944, a British Lion Film Corporation comprou 50% de Worton Hall. Entre os longas-metragens realizados sob a marca British Lion estavam algumas cenas de Picadilly Incident / 1946 (Anna Neagle, Michael Wilding); The Shop At Sly Corner / 1947 (Oscar Homolka, Muriel Pavlow, Derek Farr); White Craddle Inn / 1947 (Madeleine Carroll, Michael Rennie, Ian Hunter). O estúdio passou por outra mudança de propriedade quando, em 1946-47, Alexander Korda, adquiriu o controle acionário da British Lion, que também operava o Shepperton Studios. E assim, Shepperton Studios e Worton Hall tornaram-se inexoravelmente ligados. Por exemplo, algumas cenas de O Ídolo Caído / The Fallen Idol / 1948 (Michèle Morgan, Ralph Richardson), filmado principalmente em Shepperton, foram rodadas em Worton Hall. Outras produções que não puderam ser completadas em Shepperton acabaram sendo efetivadas em Worton Hall: The Last Days of Dolwyn / 1949 (Richard Burton estreando nas telas, Emlyn Williams); The Small Back Room / 1949 (David Farrar, Jack Hawkins). No período 1949-1950 houve grande atividade nos estúdios, destacando-se: Segredo de Estado / State Secret / 1950 (Douglas Fairbanks Jnr., Jack Hawkins, Glynis Johns, Herbert Lom) e algumas cenas de Uma Aventura na África / The African Queen / 1951 (Humphrey Bogart, Katherine Hepburn). Entretanto, a vida do Worton Hall Studios em Isleworth estava prestes a ter um fim abrupto.

Anna Neagle e Michael Wilding em Picadilly Incident

Anna Neagle e Michael Wilding em Picadilly Incident

Douglas Faibanks Jr. , Glynnis Johns e Herbert Lom em Segredo de Estado

Douglas Faibanks Jr. , Glynnis Johns e Herbert Lom em Segredo de Estado

Katharine Hepburn e Humphrey Bogart em Uma Aventura na África

Katharine Hepburn e Humphrey Bogart em Uma Aventura na África

Nos anos quarenta, a British Lion Film Corporation de Alexander Korda, dona de ambos os estúdios de Shepperton e Worton Hall, recebeu um empréstimo massivo da National Film Finance Corporation. Quando chegou a data do empréstimo ser pago em outubro de 1951, foi anunciado que “nenhum pagamento poderia ser feito sem a redução da produção”. Parte da redução significou a venda do Worton Hall Studios para a empresa estatal National Coal Board em maio de 1952.

ISLINGTON

Gainsborough Studios 1945

Gainsborough Studios 1945

Em 1919, a Famous Players-Lasky Company of America fundou a Famous Players-Lasky British Producers Limited, quando adquiriu uma antiga usina geradora ferroviária em Islington e a converteu em um estúdio com dois palcos de filmagem, oficinas e escritórios. Entre as primeiras produções constavam The Great Day / 1920 e O Imã da Juventude / The Call of Youth / 1921, (ambos com Marjorie Hume), Três Fantasmas Vivos / Three Live Ghosts / 1922 e O Compatriota / The Man from Home / 1922 (ambos com Anna Q. Nillson); Paixões da Bela Espanha / Spanish Jade / 1922 (Evelyn Brent). Todavia, em 1924, Jesse L. Lasky resolveu se retirar dos seus investimentos britânicos e o estúdio foi vendido para Michael Balcon e seus sócios, Victor Saville e o financiador John Freedman. Para a sua primeira produção em Islington, Mulher Contra Mulher / Woman to Woman / 1923, realizada com a ajuda monetária do distribuidor C. M. (Charles Moss) Woolf, eles convidaram a estrela do cinema americano Betty Compson, colocando-a ao lado de Clive Brook e confiaram a direção a Graham Cutts, um dos principais diretores ingleses nos anos vinte. Alfred Hitchcock (que havia iniciado sua carreira como desenhista de letreiros) foi o assistente de direção, roteirista e cenógrafo e Alma Reville, sua futura esposa, a montadora e script girl. O filme fez grande sucesso, porém o próximo espetáculo, The White Shadow / 1924, foi decepcionante comercialmente, e C. M. Woolf não quis mais investir na companhia.

Pôster de Mulher contraMulher

Em 1924, Michael Balcon fundou uma nova firma, Gainsborough Pictures, nome e logo que se tornariam famosos na indústria cinematográfica britânica. Com a criação dessa companhia a reputação de Balcon como produtor estava firmada assim como a de Reginald Baker, seu contador, com o qual Bacon teve uma longo relacionamento profissional. Os primeiros filmes da companhia foram A Porta Fechada / The Passionate Adventure (Clive Brook, Alice Joyce, Lillian Hall-Davis, Victor MacLaglen) e The Rat / 1925 (Mae Marsh, Ivor Novello), ambos dirigidos por Graham Cutts; três filmes de Hitchcock: Estrangulador de Louras / The Lodger / 1926 (Ivor Novello, June), Dowhnhill / 1927 (Ivor Novello, Isabel Jean),  Easy Virtue /1928 ( Robin Irvine, Isabel Jean); Incertezas da Sorte / The Constant Nymph / 1928 (Ivor Novello, Mabel Poulton).

Ivor Novello em O Estrangulador de Louras

Ivor Novello em O Estrangulador de Louras

Cena de Downhill

Cena de Downhill

Cena de Easy Virtue

Cena de Easy Virtue

Em 1928, a Gainsborough foi absorvida pela Gaumont-British Picture Corporation, conglomerado que possuía o Lime Grove Studios em Shepherd’s Bush e negócios no campo da distribuição e exibição. Entre 1928 e 1932, enquanto o estúdio em Shepherd’s Bush estava sendo preparado para o cinema falado, o estúdio da Gainsborough em Islington serviu como um ramal de produção para a Gaumont-British. No mesmo ano, o sistema de som da RCA Photophone foi instalado em Islington e, em 1931, Balcon estava dividindo suas responsabilidades entre os dois estúdios. Entre os filmes dos anos trinta, salientavam-se: algumas comédias com a dupla Jack Hulbert-Cicely Courtneidge; Friday the Thirteenth / 1933 (Jessie Matthews, Sonnie Hale); Rainha por Nove Dias / Tudor Rose  ou Nine Days a Queen / 1936 (Cedric Hardwicke, Nova Pilbeam); O Homem Que Mudou de Alma / The Man Who Changed His Mind /1936 (Boris Karloff, Anna Lee, John Loder, Cecil Parker).

Jack Hulbert e Cicely Courtneidge

Jack Hulbert e Cicely Courtneidge

Pôster de Tudor Rose

Boris Karloff em O Homem que mudou de Alma

Boris Karloff em O Homem que mudou de Alma

Em dezembro de 1936, provavelmente prevendo um desastre financeiro iminente para a Gaumont-British, Michael Balcon deixou a companhia, contratado pela MGM por um salário muito alto. Após a saída de Balcon, os estúdio foi reorganizado pelo seu ex-assistente, Edward Black, que se revelaria como um produtor de sucesso. No final de 1937, o balanço da Gaumont-British registrou perdas gigantescas com o seu estúdio subsidiário da Gainsborough em Islington. C. M. Woolf e J. Arthur Rank apresentaram um pacote de salvamento que estipulava que o Gaumont-British Studios em Shepherd’s Bush seria fechado e toda as produções transferidas para o Pinewood Studios enquanto Maurice Ostrer teria permissão para fazer alguns filmes no estúdio da Gainsborough em Islington.

Pôster de Garotas Apimentadas

Will Hay em Oh, Mr.Porter!

Will Hay em Oh, Mr.Porter!

Em 1938, o Islington Studios recebeu um empréstimo da 20thCentury-Fox, que decidira realizar filmes ali até a irrupção da Segunda Guerra Mundial. Duas dessas produções foram Garotas Apimentadas / A Girl Must Live / 1939 (Margaret Lockwood, Lili Palmer, e o veterano astro do music-hall Sir George Robey) e Bem Amada Impostora / Shipyard Sally / 1939 (Gracie Fields dirigida pelo italiano Monty Banks, com o qual depois ela se casaria e partiria para Hollywood, onde fez quatro filmes). Entre outras produções feitas em Islington: Oh, Mr. Porter / 1937 e Good-Morning Boys / 1937 (ambas com Will Hay, comediante também oriundo do music hall, muito apreciado na Grã Bretanha nos anos trinta); Hollywood às Avessas / O-Kay For Sound / 1937 (Flanagan e Allen, Nervo e Knox, Naughton e Gold, que formavam o The Crazy Gang (Os Seis Malucos); A Mulher Oculta / The Lady Vanishes / 1938 (Michael Redgrave, Margaret Lockwood, Dame May Whitty); Bank Holiday (Margaret Lockwood, Hugh Williams, John Lodge) .

Pôster de Bem Amada Impostora

Dame May Whitty, Michael Redgrave e Margaret Lockwood em A Dama oculta

Dame May Whitty, Michael Redgrave e Margaret Lockwood em A Dama oculta

O Islington Studios permaneceu fechado durante a maior parte da guerra, ali ocorrendo apenas filmes de treinamento para as Forças Armadas; a utilização do tanque do estúdio para O Jovem Mr. Pitt / Young Mr. Pitt / 1942 (Robert Donat, Robert Morley, Phyllis Thaxter); e a filmagem parcial de Dear Octopus / 1943 (Michael Wilding, Celia Johnson, Roland Culver) e Amor nas Sombras / Fanny by Gaslight / 1944 (James Mason, Phyllis Calvert, Stewart Granger).

Pôster de O Jovem Mr. Pitt

Cartaz de Her Come the Huggetts

Islington foi reaberto após o término das hostilidades pela J. Arthur Rank Organization, que havia adquirido o controle completo do estúdio. Em 1947, Sydney Box  (contando com a colaboração de sua esposa Muriel e de sua irmã Betty) assumiu o cargo de chefe da produção da Gaumont-British / Gainsborough Studios em Shepherd’s Bush e Islington. Betty, foi roteirista do  popular Here Come The Huggetts / 1948 (Jack Warner, Kathleen Harrison), e durante muitos anos fez filmes de diversos gêneros em associação  com o diretor Ralph Thomas. Lamentavelmente, diante do colapso do Império Cinematográfico de Rank no final dos anos quarenta, a Organização Rank, a fim de assegurar a sobrevivência de seu carro-chefe, Pinewood Studios, teve que vender, em 1949, os estúdios de Islington e Shepherd’s Bush e, com o fim deles, foi-se também, por um certo período de tempo, a famosa marca Gainsborough, inspirada no retrato de Mrs. Siddons com o seu charmoso chapéu de aba larga, pintado por Thomas Gainsborough.

Sydney, Betty e Muriel Box

Sydney, Betty e Muriel Box

A marca da Gainsborough

A marca da Gainsborough

PINEWOOD

Nascido em 1888 no seio de uma família milionária dona de moinhos de trigo, J. (Joseph) Arthur Rank tornar-se-ia uma figura poderosa do cinema britânico. Homem astuto para negócios (e Metodista devoto), ele ingressou na indústria cinematográfica britânica em 1934, fundando com o produtor John Corfield e Lady Yule, a British National Films, objetivando a realização de filmes com tema religioso ou forte conteúdo moral. Em colaboração com o dono de uma firma construtora, Sir Charles Boot, e sua parceira na British National, Lady Yule, Rank adquiriu Heatherden Hall, propriedade rural magnifica perto de Iver Heath em Buckinghamshire, onde, em 1936, foi construido o Pinewood Studio. No mesmo ano, a diretoria do novo estúdio foi reforçada com a adesão de Herbert Wilcox, cujo British and Dominons Studios em Elstree havia sido destruído por um incêndio. Com a indenização paga pelo seguro, a British and Dominions tornou-se dona de 50% de Pinewood. Em 1937, Rank comprou a participação de Lady Yule no estúdio, tornando-se o seu presidente e, ao mesmo tempo, vendeu para a referida dama a sua participação na British National Films.

J. Arthur Rank

J. Arthur Rank

A marca da Organização RankEx-banqueiro aristocrático, que usava monóculo e havia adquirido certa notoriedade na sua juventude pelo excesso de dívidas bem como pela sua dextreza financeira, Richard Norton chegou em Pinewood depois de ter trabalhado na United Artists e na British and Dominions. Assumindo o cargo de diretor administrativo, encontrou imediatamente uma solução engenhosa para manter o estúdio bastante ocupado Ele abriu uma subsidiária, Pinebrook, para fazer filmes de orçamento barato, quando precisasse preencher sua programação. Por exemplo, Repórter Número 1 / This Man is News / 1938 (Barry K. Barnes, Valerie Hobson, Alastair Sim), filmado com 14 mil libras rendeu dez vezes mais na bilheteria. Hoje em dia é comum dar aos atores e atrizes uma percentagem no lucro, mas Norton foi o primeiro a usar este esquema. Com a “Fórmula Norton” (como ficou conhecida), Pinewood nunca perdeu dinheiro. O primeiro filme terminado neste estúdio, apesar de ter sido iniciado no British and Dominions destruído, foi Orquídea Selvagem / London Melody / 1937 (Anna Neagle, Tullio Carminati, Robert Douglas) enquanto que o primeiro filme feito inteiramente no mesmo local foi Talk of the Devil / 1936 (Ricardo Cortez, Sally Eilers). Entretanto, mesmo o início mais otimista não poderia estancar o colapso da indústria de 1937-38, que afetou todos os estúdios britânicos, e Pinewood foi fechado em 1938 por um certo período de tempo.

Leslie Howard e Wendy Hiller em Pigmalião

Leslie Howard e Wendy Hiller em Pigmalião

Cena de O Mikado

Porém J. Arthur Rank, não ficou parado. No final de 1938, ele comprou de Alexander Korda, o Denham Studios financeiramente debilitado e, em 1939, adquiriu o Amalgamated Studios em Elstree. Assim, em 1939, Rank era dono de três dos maiores estúdios da Grã Bretanha, embora dois estivessem fechados e um estivesse lutando pela sobrevivência, feito extraordinário tendo em vista a situação da indústria e do clima político europeu naquela época. Antes da produção se transferir para Denham no limiar da Segunda Guerra Mundial, o Pinewood Studios havia completado 47 filmes entre os quais Gangway / 1937 e Navegando em Ritmo / Sailing Along / 1938 (ambos com Jessie Matthews); Young and Innocent / 1937 (Nova Pilbeam); Pigmalião / Pygmalion / 1938 (Leslie Howard, Wendy Hiller), produzido pelo húngaro Gabriel Pascal, que convenceu Bernard Shaw a lhe ceder o direito de filmar algumas de suas obras; O Mikado / The Mikado / 1939 (Kenny Baker, Martyn Greeen), primeiro filme em Technicolor realizado em Pinewood. Quando foi declarada a guerra, o governo britânico requisitou vários estúdios para servirem como base militar ou como depósitos camuflados para armazenar suprimentos de emergência e equipamentos. Durante seis anos, Pinewood serviu variadamente como escritório do Lloyds de Londres; base para a Royal Air Force e a Crown Film Unit; e como um posto remoto da Casa da Moeda Real, o que levou os estúdios rivais a comentarem que foi a primeira vez que Pinewood estava ganhando dinheiro.

Pôster de Navegando em Ritmo

John Howard Davies e Robert Newton em Oliver Twist

John Howard Davies e Robert Newton em Oliver Twist

David Lean

David Lean

Martita Hunt e Jean Simmons em Grandes esperanças

Martita Hunt e Jean Simmons em Grandes esperanças

Em 1942, J. Arthur Rank havia ganho o controle de ambos os grandes circuitos exibidores Odeon e Gaumont-British, totalizando 619 cinemas enquanto que a organização rival ABPC possuía 442. Durante o restante dos anos quarenta, foram feitos em Pinewood, entre outros, Grandes Esperanças / Great Expectations / 1946 (John Mills, Valerie Hobson, Jean Simmons) e Oliver Twist / Oliver Twist / 1948 (Alec Guiness, Robert Newton, John Howard Davies), ambos dirigidos por David Lean); Verde Passional / Green for Danger / 1946 (Sally Grey, Trevor Howard, Alastair Sim, Leo Genn); Os Sapatinhos Vermelhos / The Red Shoes / 1948 (Moira Shearer, Leonide Massine, Anton Walbrook), de Michael Powell e Emeric Pressburger; As Oito Vítimas / Kind Hearts and Coronets / 1949 (Dennis Price, Alec Guiness, Valerie Hobson, Joan Greenwood), parcialmente filmado em Pinewood, porque o estúdio da Ealing estava superlotado na época. Em setembro de 1942 a Organização Rank formou um consórcio, Independent Producers (sob a direção de George Archibald, que havia ocupado vários postos de executivo na indústria cinematográfica britânica), com o objetivo de oferecer às companhias independentes boas condições de trabalho. As unidades de produção que operavam sob a proteção da Independent Producers eram: a Cineguild (fundada por David Lean, Ronald Neame e Anthony Havelock-Allan; a Individual Pictures (Frank Launder e Sidney Gilliat); Wessex Films (Ian Dalrymple); Aquila (Donald e Frederick Wilson).

Michael Powell e Emeric Pressburger

Michael Powell e Emeric Pressburger

Cena de Os Sapatinhos Vermelhos

Cena de Os Sapatinhos Vermelhos

Rank acreditava apaixonadamente nos filmes britânicos e esperava assentar uma indústria pós-guerra, que pudesse competir com a indústria americana. Ele investiu em filmes Nosso Barco, Nossa Alma / In Which We Serve / 1942 (Noel Coward, John Mills, Bernard Miles), um dos filmes de guerra ingleses de maior sucesso na América, produzido por Filippo Del Giudice (fundador, com Mario Zampi, da Two Cities e principal produtor da Rank por oito anos) e Henrique V / Henry V / 1944 (Laurence Olivier, Robert Newton, Leslie Banks), que recebeu quatro indicações para o Prêmio da Academia, tendo sido conferido um Oscar Honorário para Laurence Olivier. Nos meados dos anos quarenta, Rank controlava também os estúdios em Islington e em Shepherd’s Bush, e havia adquirido 50% da Ealing Films. Três dos seus principais rivais haviam saído de cena. John Maxwell havia morrido em 1940; Oscar Deutsch do circuito Odeon falecera em 1941; e Isidore Ostrer, presidente do Conselho de Administração da Gaumont-British, afastara-se da indústria em 1941.

Em 1947, a Grã Bretanha passou por uma crise severa na balança de pagamentos. Cerca de 18 milhões de libras estavam saindo do país para os cofres de produtores americanos que exibiam seus filmes nos cinemas britânicos e a indústria ficou horrorizada com a imposição por parte do governo de uma taxa de 75% sobre a renda dos filmes americanos exibidos nos cinemas do Reino Unido. Naturalmente, a América retaliou, proibindo a exibição de filmes britânicos nos Estados Unidos. Em 1949, Rank tinha uma dívida de 16 milhões de libras e, no ano seguinte, o então diretor administrativo da Rank, John Davis, foi obrigado a cortar orçamentos, despedir empregados e reduzir os salários dos executivos remanescentes. O império Rank parecia estar se deteriorando, quando os estúdios de Islington e Shepherd’s Bush foram fechados, e parte do estúdio de Denham arrendado. Toda a produção estava agora concentrada no Pinewood Studios e produtores e companhias independentes foram estimuladas para fazer filmes neles. Com a coroação de Elizabeth II televisionada em 1953 e o incremento da televisão independente em 1955, o número de aparelhos de TV domésticos cresceu drasticamente, afetando a frequência aos cinemas e, em seguida, a produção cinematográfica britânica.

Michael Redgrave,J ean Kent e Nigel Patrick em Nunca te Amei

Michael Redgrave,Jean Kent e Nigel Patrick em Nunca te Amei

P6oster de A Importância de ser Ernesto

Kenneth Moore e Kay Kendall em Genevieve

Kenneth Moore e Kay Kendall em Genevieve

Dirk Bogarde em Rivais na Conquista

Dirk Bogarde em Rivais na Conquista

Norman Wisdom e Margareth Rutherford em Norman, o Recruta Biruta

Norman Wisdom e Margareth Rutherford em Norman, o Recruta Biruta

Pôster de Carry on SergeantEntretanto, a eficiência de John Davis rendeu dividendos e vários filmes de qualidade emergiram do Pinewood Studios na década de cinquenta: Nunca te Amei / The Browning Version / 1951 (Michael Redgrave, Jean Kent, Nigel Patrick); A Importância de Ser Ernesto / The Importance of Being Earnest / 1952 (Michael Redgrave, Joan Greenwood, Edith Evans); Genevieve / Genevieve / 1953 (Dinah Sheridan, Kay Kendall, John Gregson); Rivais na Conquista / Doctor in the House / 1954 (Dick Bogarde Kenneth More, Donald Sinden, Donald Houston, Kay Kendall e James Robertson Justice como o cirurgião irascível Sir Lancelot Spratt), primeiro filme da série de grande sucesso (houve seis continuações); a série Carry On, iniciada em 1958 com Carry on Sergeant (William Hartnell); filmes do cômico Norman Wisdom (vg. Norman, o Recruta Biruta / Trouble in Store /1953); dois filmes com Gregory Peck, Loucuras de um Milionário / The Million Pound Note /1954 e Terra Ensanguentada / The Purple Plain / 1954; Os Raptores / The Kidnappers / 1953 (Duncan Mcrae, Adrienne Corri); Mulheres Fugitivas / A Town Like Alice / 1956 (Virginia McKenna, Peter Finch); O Céu a Seu Alcance / Reach for the Sky / 1956 (Kenneth More, Muriel Pavlow); O Príncipe Encantado / The Prince and the Showgirl / 1957 (Laurence Olivier, Marilyn Monroe); Amanhã Sorrirei Outra Vez / Carve Her Name With Pride / 1948 (Virginia McKenna, Paul Scofield, Jack Warner); Os Sete Cavalheiros do Diabo / The League of Gentlemen / 1960 (Jack Hawkins, Nigel Patrick, Roger Livesey, Richard Attenborough, Bryan Forbes, Kieron Moore). Em 1960, quase que a superprodução Cleopatra / Cleopatra foi filmada em Pinewood; cenários grandiosos retratando Roma e o Egito antigos chegaram a ser construídos na área externa do estúdio porém depois que Elizabeth Taylor teve que ser levada para um hospital, a fim de ser submetida a uma traqueotomia, e depois ficou em convalescença por um longo período, a produção foi transferida para a Itália.

Gregory Peck na porta de Pinewood

Pôster de Amanhã Sorrirei Outra Vez

Laurence Olivier e Marilyn Monroe em O Príncipe Encantado

Laurence Olivier e Marilyn Monroe em O Príncipe Encantado

Pôster de Carve Her Name With Pride

Pôster de O Céu a seu Alcance

Cena de Os Sete Cavalheiros do Diabo

Cena de Os Sete Cavalheiros do Diabo

Todavia, nos anos sessenta, foram feitos 160 filmes em Pinewood entre eles os da série James Bond 007 com Sean Connery, e o estúdio começou a produzir também para a televisão. Nos anos setenta foram feitos mais 125 filmes. Lord Rank faleceu em 1972, ano em que “deixou o gongo” (obs. um homem tocando um gongo enorme era a marca da Rank nas telas). Sir John Davis (nomeado cavaleiro em 1971), levou o estúdio adiante, diversificando seus investimentos (aparelhos de TV, equipamento científico, hotéis, boliches e salões de baile, xerografia), aposentou-se como presidente da Organização Rank em 1983, e morreu em 1993. Em 2000, o grupo Rank foi vendido para um consórcio liderado por Michael Grade, ex-Diretor Executivo do Channel 4.

ESTÚDIOS BRITÂNICOS I

setembro 11, 2014

Na Grã Bretanha não se formou um oligopólio de grandes companhias, dominando o mercado como nos Estados Unidos, mas existiu um sistema de estúdio. No começo do cinema falado, os estúdios britânicos copiavam auto-conscientemente o modelo norte-americano, mantendo artistas com contratos de sete anos e criando departamentos de roteiros e publicidade separados. Quando Alexander Korda se estabeleceu em Denham nos meados dos anos trinta, o estúdio tinha sete palcos de som e seus próprios laboratórios. Pinewood, inaugurado em 1935, era ainda maior. Assim como a Warner Bros. durante a Depressão se especializou em filmes de gangster e musicais escapistas e a MGM sob o comando de Irving Thalberg ficou famosa por seus filmes luxuosos cheios de astros e estrelas, alguns estúdios e companhias britânicos ficaram conhecidos por se dedicarem a determinados gêneros. Gainsborough ficou marcada por seus melodramas de época; Ealing pelas suas comédias que, como disse o patrão Michael Balcon, “projetavam a Grã Bretanha e o caráter britânico”; e Bray, em Berkshire, tornou-se a casa dos filmes de horror da Hammer.

Hoje em dia não existe mais um sistema de estúdio, nem nos Estados Unidos, simplesmente porque não há uma continuidade de produção. Em vez de um sistema centralizado, os filmes são oferecidos como pacotes pelos produtores, financistas e agentes como algo exclusivo.

Neste artigo – com o auxílio principalmente de British Film Studios de Patricia Warren (B.T. Batsford, 1995), Film Making in 1930s Britain de Rachel Low (George Allen & Unwin, 1985), The British Film Catalog 1895-1970 de Dennis Gifford (McGrawHill, 1973) e The Film Business – A History of British Cinema 1896-1972 de Ernest Betts (Pitman, 1973), procuro dar, em ordem alfabética e sem a pretensão de esgotar o assunto, alguma informação sobre os principais estúdios britânicos até os anos sessenta e, através deles, um pouco de história do cinema inglês e do intercâmbio artístico anglo-americano.

 

BEACONSFIELD

O Beaconsfield Studios em Buckinghamshire foi inaugurado oficialmente pelo seu dono, George Clark, produtor sediado no Soho, na primavera de 1922. Ele escolheu esse lugar por três razões principais: fugir do notório nevoeiro londrino (e assim ter condições para filmar sob a luz do dia), ter fácil acesso a Londres por meio de um transporte ferroviário, e um cenário campestre para as cenas em exteriores.

No estúdio, a George Clark Productions, realizou comédias de dois rolos (vg. Fox Farm / 1922; The Starlit Garden / 1923) com a dupla Guy Newall e sua esposa, Ivy Duke e direção de Newall. Porém os tempos eram difíceis e, embora Clark tivesse alugado o estúdio para a Pathé fazer filmes inglêses sob a marca Britannia (produzidos por Frank Powell) e para a Anglia Films (fundada em 1923 por Archibald Nettlefold), a produção cessou no limiar de 1925.

Guy Newall e Ivy Duke

O estúdio ficou abandonado e, quando a British Lion Film Corporation de Sam (Samuel) W. (Woolf) Smith o adquiriu em 1927, estava em uma condição precária. A British Lion comprou Beaconsfield com a intenção de filmar os romances de Edgar Wallace, que havia cedido à companhia os direitos de filmagem de sua obra e sido convidado para fazer parte de sua diretoria. Sam Smith modernizou o estúdio, e fez logo The Forger / 1928 (Lillian Rich, James Raglan); Chick / 1928 (Bramwell Fletcher, Chili Bouchier); The Flying Squad / 1929 (Dorothy Bartlem, Donald Calthrop); The Clue of the New Pin /  1929 (Benita Hume, Donald Calthrop), o primeiro filme britânico todo falado. Entretanto, um ano depois de The Clue of the New Pin, a British Lion enfrentou dificuldades financeiras. Edgar Wallace foi para Hollywood, onde faleceu em 1932 cheio de dívidas.

Edgar Wallace

Edgar Wallace

Pôster de The Clue of the New Pin

No início dos anos trinta, enquanto esperava o seu novo estúdio ficar pronto, a Gainsborough / Gaumont-British usou o Beaconsfield Studios para a filmagem de Sally in Our Alley / 1931 (Gracie Fields, Ian Hunter) e, além de uns “quota quickies” (ver significação do termo mais adiante), foram feitos no estúdio: The Calendar / 1931 (Edna Best, Herbert Marshall), The Water Gipsies (Ann Todd, Ian Hunter, Sari Maritza); There Goes the Bride / 1932 (Jessie Matthews, Owen Nares); The Frightened Lady / 1932 (Emlyn Williams, Cathleen Nesbitt); Gay Love / 1934 (com uma dupla curiosa: Sophie Tucker, cantora, dançarina e atriz americana e Florence Desmond, atriz que costumava imitar estrelas famosas nos palcos londrinos). Em 1936, a British Lion se juntou à Hammer Productions de Will Hinds para co-produzir A Canção da Liberdade / Songs of Freedom  e Big Fella (ambos com ator e cantor Paul Robeson e Elizabeth Welch).

Paul Robeson e Elizabeth Welch em A Canção da Liberdade

Paul Robeson e Elizabeth Welch em A Canção da Liberdade

Pôster de Big Fella

Em meados de 1937, a British Lion, ainda presidida por Sam Smith, ficou novamente em situação financeira difícil e cessou suas produções até meados de 1938. Daí em diante, Herbert Wilcox alugou o estúdio para fazer Not Wanted on Voyage / 1936 (Bebe Daniels, Ben Lyon, Charles Farrell); The Return of the Frog / 1938 (Gordon Hacker, René Ray), baseado em romance de Edgar Wallace; The Chinese Bungalow / 1940 (Paul Lukas, Kay Walsh, Jane Baxter).

Com a irrupção da Segunda Guerra Mundial, o Beaconsfield Studios foi requisitado pelo Ministério de Obras Públicas para a Rotax Limited, que fabricava magnetos para motores de aeronaves. Embora o estúdio ainda estivesse alugado ao Ministério de Obras Públicas em 1947, a British Lion – que a essa altura controlava 74% da Sound City Film e seu estúdio em Shepperton e 50% do Worton Hall Studios em Isleworth, assim como o Beaconsfield – foi vendida para a London Films de Alexander Korda, com a morte de Sam Smith no mesmo ano. Korda comprou os 50% restantes de Worton Hall e o controle total de Shepperton. Essas novas aquisições preencheram o lugar de Beaconsfield, que foi reequipado pelo governo para ser utilizado pela Crown Film Unit, finalmente desativada em 1952. Posteriormente, o estúdio foi usado pela National Film Finance Corporation (agência governamental de financiamento para a produção de filmes) e pela Independent Artists (fundada por Julian Wintle em 1950),  serviu como um depósito para a North Thames Gas Board e, em 1971, foi vendido para a National Film School. Em 1983, tornou-se a National Film and Television School, financiada através de uma parceria entre o governo e a indústria de cinema,  televisão e vídeo.

BRAY

Tal como os estúdios de Pinewood e Shepperton, o Bray Studios fora outrora uma esplêndida residência particular. Down Place, mansão campestre do século XVII, era de propriedade de Jacob Tonson, eminente livreiro da época. Situada em Berkshire, permaneceu como moradia particular até 1949, quando foi vendida, e logo depois transformada no Bray Studios.

Bray Studios

Bray Studios

O Bray Film Studios será sempre associado com a Hammer Film Productions, fundada em 1934 por William Hinds (joalheiro que algumas vezes se apresentava como comediante no music hall, usando o nome artístico de Will Hammer). Em 1937, Hinds abriu, com Enrique Carreras, a distribuidora Exclusive Films, cujo escritório localizava-se na Wardour Street, no Soho. Em 1936, essa “House of Hammer” original se associou à British Lion, para produzir dois filmes com Paul Robeson, e funcionou até o fim da Segunda Guerra Mundial, quando uma nova Hammer foi constituída em Bray por Hinds e Carreras e seus filhos, Anthony Hinds e James Carreras.

No início dos anos cinquenta, a produção da  Hammer Films incluía versões de baixo orçamento de séries radiofônicas de sucesso (vg. The Man in Black (Sidney James, Betty Ann Davies); The Adventures of P.C. 4. / 1949 (Hugh Latimer, Annette Simmonds) e filmes também baratos com intérpretes americanos (The Stranger Came Home / 1954 (Paulette Goddard); The Glass Cage / 1955 (John Ireland); Break in the Circle  / 1955 (Forrest Tucker). 

Pôster de Terror que Mata

Em meados dos anos cinquenta, Carreras adquiriu os direitos de filmagem de uma série de televisão, resultando Terror que Mata / The Quatermass Xperiment / 1955. O sucesso do filme (com Brian Donlevy, Jack Warner) foi tão fenomenal, que a companhia decidiu se concentrar na fórmula do horror (Mais informações sobre a produção Hammer ver meu artigo  de 1 de janeiro de 2012, “Os Filmes da Hammer “).  O último filme da companhia feito em Bray foi O Sarcófago Maldito / The Mummy’s Shroud / 1967. Nos anos seguintes o estúdio continuou em atividade, passando pelas mãos de vários proprietários.

CRICKLEWOOD

Em 1919, o dono de teatro Sir Oswald Stoll decidiu ingressar na indústria cinematográfica britânica. Ele havia fundado a Stoll Picture Productions e, em 1920, comprou uma antiga fábrica de aviões em Cricklewood, convertendo-o em um estúdio onde, seguindo a tendência corrente na época, realizou adaptações de romances e peças populares como The Glorious Adventure / 1922 (Diana Manners, Flora le Breton, Victor McLaglen), filmado pelo americano J. Stuart Blackton no sistema bicolor Prizma; The Virgin Queen /  1923  (Diana Manners, Carlyle Blackwell); Becket  / 1923 (Frank Benson, A. V. Brumble); Don Quixote / 1923 (Jerrold Robertshaw/ Don Quixote, George Robey / Sancho Pança).

Sir "Harry" Lauder

Sir “Harry” Lauder

Betty Balfour

Betty Balfour

Em 1926, a Welsh-Pearson alugou o estúdio para a sua estrela Betty Balfour atuar em Blink Eyes  e, um ano depois, Sir Henry “Harry” Lauder (ator e cantor escocês do music hall, famoso internacionalmente pela sua indumentária de saiote masculino e bengala) aparecer no seu primeiro longa-metragem, Hunting Tower. No final dos anos vinte, Herbert Wilcox fez The Woman in White com Blanche Sweet para a sua British and Dominions Company e o comediante Harry Tate filmou alguns de seus esquetes lá. Nos anos trinta, Cricklewood produziu um certo número de “quota quickies” como vg. Such is the Law / 1930 (Lady Tree, C. Aubrey Smith); Dick Turpin, o Cavaleiro AudazDick Turpin / 1934 (Victor McLaglen); Joe Rock fez algumas comédias com Leslie Fuller; e a Butchers Film Service (administrada pelo produtor pioneiro F. W. (Francis William) Baker, em atividade desde 1897) também realizou alguns filmes no mesmo local, usando principalmente a marca Butcher-Panther. Em 1938, Cricklewood foi vendido para fins não-cinematográficos.

DENHAM

Por causa da situação política de 1919, o húngaro Alexander Korda, dono de um dos maiores estúdios de Budapeste, decidiu sair de sua terra natal acompanhado por sua protegida Maria Corda, com quem havia de casado. Ele continuou sua carreira na Austria e na Alemanha e, em 1926, foi para os Estados Unidos, onde ficou até 1930. Um dos filmes que fez em Hollywood, tendo Maria Corda como estrela, foi A Vida Privada de Helena de Tróia / The Private Life of Helen of Troy / 1927, romance histórico que serviu de modelo para muitos de seus filmes futuros. Em 1931, retornou à Europa e, um ano depois, fundou sua própria companhia, London Film Productions. Dois sucessos marcantes de Korda foram Os Amores de Henrique VIII / The Private Life of Henry VIII / 1933 (Charles Laughton, Robert Donat, Merle Oberon) e O Pimpinela Escarlate / The Scarlet Pimpernel / 1934 (Leslie Howard, Merle Oberon, Raymond Massey). Korda ajudou muito a carreira de seus dois irmãos, Zoltan, que era também diretor, e Vincent,  diretor de arte.

Alexander Korda

Alexander Korda

Maria Corda em A Vida Privada de Helena de Tróia

Maria Corda em A Vida Privada de Helena de Tróia

O êxito dos espetáculos mencionados atraiu a atenção dos consultores financeiros da Prudential Assurance Company, que investiu milhões de libras na London Film Productions, possibilitando, em 1936, a construção dos estúdios em Denham, em Buckinghamshire. Com sete palcos de filmagem, iluminação sofisticada, equipamento de som da Western Electric, ar condicionado, vários departamentos, e um laboratório muito bem equipado, era o maior estúdio na Grã Bretanha, grande até demais para a indústria cinematográfica britânica da época, ocasionando sérios prejuízos. Os dirigentes da Prudential pediram a Korda que atuasse somente como produtor e abandonasse a administração da companhia. Ele se recusou, mas depois teve que ceder o comando dos estúdios para a sua principal rival, J. Arthur Rank Organization.

Em 1939, uma nova companhia, denominada D and P Studios Limited, foi criada para supervisionar o Denham Studios juntamente com o Pinewood Studios de Rank, que ficava perto. Apesar de suas dificuldades iniciais, Denham produziu filmes famosos: Um Fantasma Camarada / The Ghost Goes West / 1935 (Robert Donat), Daquí a Cem Anos / Things to Come / 1936 (Raymond Massey), rodado enquanto o estúdio estava em construção), Idílio Cigano / Wings of the Morning /1937 (Henry Fonda, Annabella), primeiro filme em Technicolor no Reino Unido, realizado pela 20thCentury-Fox com locações em Epsom e na Irlanda; Rembrandt / Rembrandt / 1936 (Charles Laughton); O Menino e o Elefante / The Elephant Boy / 1937 (Sabu); Fogo Por Sobre a Inglaterra / Fire Over England  / 1937 (Laurence Olivier, Vivien Leigh); O Amor Nasceu do Ódio / Knight Without Armour / 1937 (Robert Donat, Marlene Dietrich); Alma de Apache / The Rat / 1937 (Ruth Chatterton, Anton Walbrook); O Divórcio de Lady X / The Divorce of Lady X / 1938 (Laurence Olivier, Merle Oberon); sem falar no inacabado I Claudius (Charles Laughton, Merle Oberon, Emlyn Willimans, Flora Robson).

Cena de Um Fantasma Camarada

Cena de Um Fantasma Camarada

Pôster de Idílio Cigano

Charles Laughton em Rembrandt

Charles Laughton em Rembrandt

Provavelmente  prevendo a perda do controle do estúdio, Rank, já havia feito um acordo com Irving Asher (ex-gerente de produção da Warner Bros. no Teddington Studios) em um novo empreendimento, a Harefield Productions, que contratou Korda para fazer alguns “quota films”: Nuvens sobre a Europa / Q Planes / 1939 (Leslie Howard, Ralph Richardson) e O Espião Submarino / The Spy in Black / 1939 (Conrad Veidt, Valerie Hobson). Continuando sua parceria com Irving Asher como produtor associado, Korda produziu As Quatro Penas Brancas / The Four Feathers / 1939 (John Clemens, June Duprez, Ralph Richardson) em Denham. Contando com um elenco que incluía Ralph Richardson, C. Aubrey Smith, John Clements e June Duprez, o filme obteve grande sucesso, dirigido por Zoltan Korda,  com Vincent como diretor de arte.

Cena de O Espião Submarino

Cena de O Espião Submarino

Pôster de As Quatro Penas BrancasO estúdio alugou espaço também para outras companhias entre elas a MGM-British, que produziu três filmes com elencos compostos por atores americanos e ingleses: Um Ianque em Oxford / Yank at Oxford / 1937 (Robert Taylor, Vivien Leigh,) A Cidadela / The Citadel / 1938 (Robert Donat, Rosalind Russell) e Adeus Mr. Chips / Goodbye Mr. Chips / 1939 (Robert Donat, Greer Garson). Um dos últimos filmes feitos em Denham nos anos trinta foi Sob a Luz das Estrelas / The Stars Look Down / 1940  (Michael Redgrave, Margaret Lockwood).

Cena de Um Ianque em oxford

Cena de Um Ianque em oxford

Pôster de A Cidadela

Robert Donat e Greer Garson em Adeus Mr. Chips

Robert Donat e Greer Garson em Adeus Mr. Chips

Durante os anos de guerra, Rank prosseguiu com seus planos de produção às custas de Alexander Korda, que fora para a América supervisionar a finalização de O Ladrão de Bagdad / The Thief of Bagdad / 1940 (Sabu, Conrad Veidt, June Duprez, John Justin), e depois voltou para dirigir Lady Hamilton, a Divina Dama / That Hamilton Woman / 1941 (Laurence Olivier, Vivien Leigh). Embora tivesse sido criticado por muita gente no Reino Unido por ter “desertado” para Hollywood, Korda fez várias travessias transatlânticas durante a guerra e hoje parece claro que ele estava levando e trazendo documentos secretos para Winston Churchill. Em 1942, Korda foi nomeado cavaleiro pelo Rei George V, a primeira personalidade do cinema a receber tal honraria.

Vivien leigh e Laurence Olivier em Lady Hamilton

Vivien leigh e Laurence Olivier em Lady Hamilton

No início de 1940, Denham foi requisitado pelo Ministério da Informação para servir ao esforço de guerra mas, no final de 1941, recebeu autorização para produzir seus próprios filmes nos palcos de filmagens não utilizados e aceitar produções que não puderam ser realizadas no seu estúdio-irmão Pinewood. Filmes notáveis desse período foram: Nosso Barco, Nossa Alma / In Which We Serve /1942 (Noel Coward, John Mills, Richard Attenborough, Celia Johnson, Bernard Miles);  This Happy Breed / 1944 (Robert Newton, Celia Johnson, John Mills); Henrique V / Henry V / 1944 (Laurence Olivier, Robert Newton, Leslie Banks); Alma Negra / So Evil My Love (Ray Milland, Ann Todd, Geraldine Fitzgerald) da Paramount; Têmpera de Aço / The Way Ahead / 1944 (David Niven); Coronel Blimp – Vida e Morte / The Life and Death of Colonel Blimp / 1943 (Roger Livesey, Anton Walbrook, Deborah Kerr); Desencanto / Brief Encounter / 1945 (Trevor Howard; Celia Johnson), César e Cleopatra / Caesar and Cleopatra / 1945 (Claude Rains, Vivien Leigh).

Pôster de Nosso Barco, Nossa Alma

Celia Johnson e Trevor Howard em Desencanto

Celia Johnson e Trevor Howard em Desencanto

Entrementes, Korda, que havia retornado à América, onde trabalhou em associação com a MGM durante os anos de 1943 a 1945, produziu apenas um filme em Denham, Perfect Strangers / 1945 (Robert Donat, Deborah Kerr). Em 1946, quando a MGM resolveu não continuar seu acordo com Korda, ele restabeleceu a London Films e adquiriu o controle da British Lion. A British era dona do Shepperton Studios em Surrey, que Korda então usou como base de suas produções.

James Mason em Condenado

James Mason em Condenado

Laurence Olivier e Jean Simmons em Hamlet

Laurence Olivier e Jean Simmons em Hamlet

Na segunda metade da década de quarenta, os filmes feitos em Denham que mais se destacaram foram Condenado / Odd Man Out / 1947 (James Mason, Robert Newton) e Hamlet / Hamlet / 1948 (Laurence Olivier, Jean Simmons), a primeira produção inglêsa a ganhar um Oscar de Melhor Filme. No final do decênio, o império Rank estava arruinado financeiramente e a produção passou a se concentrar no Pinewood Studios sob o controle rígido de John Davis e seu assistente, o  americano Earl St. John.

Pôster de Robin Hood , o Justiceiro

Os últimos filmes feitos em Denham foram The History of Mr. Polly / 1949 (John Mills, Sally Anne Howes) e Robin Hood, o Justiceiro / The Story of Robin Hood and his Merrie Men / Disney-RKO (Richard Todd, Joan Rice, Peter Finch). No início de 1950, a D e P Studios Limited, proprietária de Denham entrou em liquidação. Sir Alexander Korda faleceu em 1956 e Lord Rank morreu logo depois após sua aposentadoria em  1972.

 EALING

Em 1901, o produtor pioneiro William G. (George) Barker fundou a Autoscope Company e, no mesmo ano, construiu um estúdio ao ar livre – um palco, andaimes e um fundo de cenário – em Stamford Hill, norte de Londres. Em 1907, Barker comprou uma mansão em Ealing, oeste da capital londrina, e edificou três estúdios com paredes e tetos de vidro para as suas produções cinematográficas. Em 1911, ele realizou seu primeiro filme de dois rolos, Henry VIII, no qual o consagrado ator de teatro Sir Herbert Beerbohm Tree (pai de vários filhos ilegítimos entre eles Carol Reed e Peter Reed, progenitor de Oliver Reed) interpretou o papel do Cardeal Wolsey. Em 1913, Barker estava preparando seus atores para o estrelato entre eles Blanche Forsythe e Fred Paul, que apareceram em East Lynne, primeiro filme britânico de seis rolos, dirigido por Bert Haldane. Em 1915, Barker colocou a nova estrela Blanche Forsythe no papel principal de um drama histórico, Jane Shore, empregando centenas de figurantes, e foi comparado a D.W. Griffith.

Em 1920, Barker vendeu o estúdio para a General Film Renters Company, que logo encerrou suas atividades. Durante algum tempo, as instalações foram usadas por produtores independentes e eventualmente, em 1929, compradas pela Associated Radio Pictures Company, que, em 1931, construiu um novo estúdio muito perto do velho Barker Studio. A firma era encabeçada pelo ator-empresário Sir Gerald du Maurier, Reginald Baker (contador), Stephen Courtauld (diretor financeiro, membro da riquíssima família da indústria têxtil) e Basil Dean.

William George Barker

William George Barker

Ealing StudiosDean começou no mundo do espetáculo como ator aos dezoito anos de idade e depois produziu e dirigiu muitas peças e filmes. Ele foi o orientador mais influente do estúdio durante os anos trinta e responsável pelo desenvolvimento da carreira de dois artistas do music-hall que se tornaram os astros mais populares e bem pagos do período: Gracie Fields e George Formby.

 Gracie Fields

Gracie Fields

George Formby

George Formby

Carol Reed começou a trabalhar com Dean, primeiramente como diretor de diálogos, passando sucessivamente a diretor de segunda unidade, assistente de diretor, co-diretor, e finalmente diretor em Midshipman Easy / 1935 (Hughie Green, Margaret Lockwood, Roger Livesey). Nos anos quarenta, Reed formaria, juntamente com David Lean e Michael Powell o trio de diretores mais importante do cinema inglês.

Carol Reed

Carol Reed

Pôster de Mishipman EasyEm 1933, o estúdio mudou seu nome para Associated Talking Pictures e, tal como os demais estúdios no Reino Unido, fez seus próprios filmes (vg. Casamento Liberal / Perfect Understanding / 1933 (Gloria Swanson, Laurence Olivier) e alugou espaço para outras companhias produtoras. Na segunda metade dos anos trinta, David Lean trabalhou na Associated Talking Pictures  como montador e Ronald Neame como cinegrafista. Em 1938, após um desentendimento com os Courtauld, Dean deixou a companhia e Michael Balcon – que havia sido fundador e presidente da Gainsborough Films, diretor de produção na Gaumont British, e encarregado da produção na MGM-British -, tornou-se o novo chefe do estúdio. Na sua gestão, Balcon trouxe vários ex-colegas da Gaumont British para trabalharem juntos entre eles o ator-diretor Walter Forde e os diretores Sidney Gilliat e Robert Stevenson.

Pôster de Casamento Liberal

Ao mesmo tempo, a denominação do estúdio mudou de Associated Talking Pictures para Ealing Studios. Balcon era homem de equipe, encorajando idéias e iniciativas. Durante os vinte anos em Ealing ele formou um grupo de diretores talentosos muitos dos quais haviam sido montadores como Charles Crichton, Charles Frend, Robert Hamer, Leslie Norman e Thorold Dickinson e roteiristas como Alexander Mackendrick, Harry Watt e Basil Dearden, que formou uma longa parceria com o produtor-diretor-cenógrafo Michael Relph. Balcon também deu força para muitos novos roteiristas inclusive T.E.B. Clarke que escreveu o roteiro de Hue and Cry / 1947 (Alastair Sim, Jack Warner), O Mistério da Torre / The Lavender Hill Mob / 1951 (Alec Guiness, Stanley Holloway) e Um País de Anedota / Passport to Pimlico / 1949 (Stanley Holloway).

T.E.B. Clarke

T.E.B. Clarke

Pôster de O MIstério da TorreEm 1942, o brasileiro Alberto Cavalcanti, diretor, produtor, roteirista e diretor de arte se juntou a Balcon e introduziu a influência documentarista nos filmes de ficção. Cavalcanti fez na Ealing 48 Horas! / Went the day Well? / 1942 (Leslie Banks), Champagne Charlie/ 1944 (Stanley Holloway, Tommy Trinder) e As Vidas e Aventuras de Nicholas Nickleby / Nickolas Nickleby / 1947 (Derek Bond, Cedric Harwicke). Entre os filmes produzidos no estúdio nos anos quarenta e cinquenta, distinguiram-se ainda: Johnny Frenchman / 1945 (Françoise Rosay, Patricia Roc); Na Solidão da Noite / Dead of Night / 1945 (Michael Redgrave); Corações Aflitos / The Captive Heart / 1946 (Michael Redgrave); A Manada / The Overlanders / 1946 (Chips Rafferty); Heróis Anônimos / Against the Wind / 1948  (Simone Signoret, Jack Warner); Sarabanda /  Saraband for Dead Lovers / 1948 (Stewart Granger, Joan Greenwood), primeiro filme em Technicolor da Ealing; Epopéia Trágica / Scott of the Antarctic / 1948 (John Mills); Alegrias a Granel / Whisky Galore / 1949 (Basil Radford); As Oito Vítimas / Kind Hearts and Coronets / 1949 (Alec Guiness, Dennis Price, Joan Greenwood, Valerie Hobson),  parcialmente filmado em Pinewood -; The Blue Lamp / 1950 (Jack Warner, Dirk Bogarde); O Homem do Terno Branco / The Man in the White Suit / 1951 (Alec Guiness, Joan Greenwood); Martírio do Silêncio/ Mandy / 1950 (Jack Hawkins, Phyllis Calvert); The Titfield Thunderbolt / 1953 (Stanley Holloway); Mar Cruel /  The Cruel Sea / 1953 (Jack Hawkins); A Morte de um Herói / The Ship That Died of Shame / 1955 (Richard Attenborough, George Baker, Bill Owen, Roland Culver, Bernard Lee); Quinteto da Morte / The Ladykillers  / 1955 (Alec Guiness, Cecil Parker, Herbert Lom, Peter Sellers).

Michael Redgrave em Na Solidão da Noite

Michael Redgrave em Na Solidão da Noite

John Mills em Epopéia Trágica

John Mills em Epopéia Trágica

Cena de As Oito Vítimas

Cena de As Oito Vítimas

Alec Guiness em O Homem do Terno Cinzento

Alec Guiness em O Homem do Terno Cinzento

Dirk Bogarde em The Blue Lamp

Dirk Bogarde em The Blue Lamp

Jack Hawkins em Mar Cruel

Jack Hawkins em Mar Cruel

O Quinteto da Morte

O Quinteto da Morte

A partir de 1952, com o advento da televisão no Reino Unido  juntamente com a mudança no gosto do público, o Ealing Studios teve dificuldades financeiras. Em 1955, foi vendido para a BBC Television – duro golpe na indústria de cinema britânica.

ELSTREE

Este termo genérico compreende seis estúdios separados, que se instalaram nas cidades adjacentes de Borehamwood e Elstree no condado de Hertfordshire,  área que ficou conhecida como “Hollywood Britânica”.

O primeiro estúdio inaugurado em Elstree foi o Neptune Studios, fundado em janeiro de 1914 por dois atores, John East e Percy Nash, com ajuda financeira do advogado-empresário Arthur Moss Lawrence. O irromper da Primeira Guerra Mundial levou o Neptune a colaborar para o esforço de guerra, realizando filmes de recrutamento porém, normalmente, predominavam as adaptações de obras teatrais. O estúdio tinha um elenco permanente do qual faziam parte Daisy Cordell, Frank Tennant, Ben Webster, Fay Davis e Gerald Lawrence e recebia às vezes atrizes do palco como Gaby Deslys e May Whitty.

Gaby Deslys

Gaby Deslys

No período de 1915 a 1920, o Neptune costumava emprestar ou alugar suas instalações para outras companhias como, por exemplo, a Ideal Films (que foi fundada como distribuidora, depois se tornou produtora –  presidida pelo matemático e estatístico Simon Rowson – e mais tarde seria absorvida pela Gaumont-British) mas, por força da imposição pelo governo de um Imposto sobre Diversões e da inundação do mercado exibidor por filmes americanos, o estúdio foi obrigado a encerrar suas atividades em agosto de 1921. A Ideal Films continuou alugando o Neptune até 1928, quando Ludwig Blattner (inventor pioneiro de um sistema de gravação de som) o comprou para a British Phototone Sound Productions, também conhecida como Ludwig Blattner Film Corporation. Blattner obteve grande sucesso com A Knight in London / 1928, dirigido por Lupu Pick e estrelado por Lilian Harvey, (atriz inglesa que se tornou muito popular na Alemanha), mas foi comercialmente lento ao se adaptar ao som e, em 1932, os cobradores estavam batendo na sua porta.

Lilian Harvey em A Knight in London

Lilian Harvey em A Knight in London

Em 1935, o estúdio foi alugado por um longo período de tempo pelo produtor americano Joe Rock e, no final do mesmo ano, Ludwig Blattner se suicidou. Joe fez alguns filmes como o ator Leslie Fuller, porém o melhor filme do Rock Studios foi The Edge of the World de Michael Powell, que firmou a reputação deste grande cineasta. Em março de 1938, o banqueiro financiador do Rock Studios, John Henry Iles, declarou falência e Lady Annie Henrietta Yule (viúva milionária de um magnata da juta em Calcutá, ex-parceira de J. Arthur Rank na British National Films) comprou o estúdio e mudou seu nome para British National Studios, cujas produções nessa década incluíram Gaslight / 1940 (Diana Wyniard, Anton Walbrook) e Love on the Dole / 1941 (Deborah Kerr).

Anton Walbrook e Diana Wyniard em Gaslight

Anton Walbrook e Diana Wyniard em Gaslight

Lady Yule faleceu em 1950 e, em 1952, Douglas Fairbanks Jnr. alugou o estúdio (que ele passou a chamar de National Studios) e se tornou produtor de filmes para a televisão. Em 1962, a ATV Television comprou o estúdio e a BBC Television, por sua vez, adquiriu-os em 1984.

Entre os outros estúdios instalados em Elstree estavam o British International Studios, o British and Dominions Studios, o Amalgamated Studios / MGM-British, o Whitehall Studio e o Danziger Studio.

O pioneiro do cinema americano J. D.  (James Dixon) Williams havia fundado, em 1925, a British National Pictures com I. W. (Isadore William) Schlesinger, financista internacional (magnata de várias indústrias, inclusive a cinematográfica, na África do Sul), e convidou Herbert Wilcox para ingressar na companhia; mas surgiu uma discordância entre Williams e Schlesinger.  O conflito  evoluiu para  um litígio e, em 1927, John Maxwell,  escocês já muito respeitado no meio cinematográfico, acabou ganhando o controle da companhia e do estúdio correspondente, mudando a denominação deste para British International Studios (BIP). Devido à origem escocesa de seu dono e sua administração financeira cuidadosa da companhia, o BIP Studios  foi apelidado de “The Porridge Factory “ (mingau que faz parte do pequeno-almoço escocês).

British International StudiosStudios

Maxwell decidiu comprar o estúdio da British National Pictures porque soube com certa antecedência da próxima entrada em vigor do Cinematograph Films Act, que exigia a distribuição e exibição de uma percentagem de filmes britânicos. Para preencher essas cotas é que surgiram os chamados “quota quickies”, realizados com um mínimo  de custos e o máximo de rapidez, exibidos em um programa duplo. O propósito da lei era resistir ao domínio dos filmes americanos e estimular a produção cinematográfica britânica; porém não havia nada que impedisse os americanos de produzí-los.

Antonio Moreno e Dorothy Gish em Madame Pompadour

Antonio Moreno e Dorothy Gish em Madame Pompadour

Entretanto,  Maxwell inaugurou seu estúdio com Madame Pompadour / 1927 (Dorothy Gish, Antonio Moreno) e The White Sheik / 1928 (com a ex-Rainha da Beleza Lilian Hall-Davis, que se suicidaria em 1933);  depois, obteve os serviços de um diretor de 28 anos chamado Alfred Hitchcock, cujo primeiro filme na empresa foi  The Ring / 1927 com o ator dinamarquês Carl Brisson. A fim de conquistar o público americano, Maxwell convidou Syd Chaplin, Tallulah Bankhead, Lionel Barrymore e outros atores de Hollywood para aparecer em suas produções. Ele contratou também Maria Corda para ser a principal atriz de TeshaTesha / 1928, primeiro filme dirigido por Victor Saville, que foi depois produtor na Inglaterra e nos Estados Unidos. No mesmo ano,  atraiu para seus quadros o alemão E. A. (Ewald André) Dupont, que dirigiu seu filme mais caro até então, Moulin Rouge, protagonizado pela atriz russa Olga Tschechowa;  Picadilly / Picadilly / 1929 (Anna May Wong); e Atlantic / Atlantic / 1929 (Madeleine Carroll, John Stuart) – dois figurantes nesta produção iriam se tornar astros, Stewart Granger e Michael Wilding.

Lilian Hall Davis

Lilian Hall Davis

Pôster de O RIng

Em 1928, Maxwell abriu uma companhia subsidiária da BIP, Associated British Cinemas, que começou com 40 cinemas, número que em 1930 havia crescido para 120, incluindo uma das salas mais concorridas da época como o Regal em Marble Arch e o Lido em Golden Green. Com o advento do som, ele instalou o RCA Photophone no seu estúdio: Blackmail / 1929, de Alfred Hitchcock, feito no BIP em Elstree, é geralmente considerado o primeiro filme inglês sonoro (embora só parcialmente falado) e também o primeiro dublado – por mero acidente, pois o sotaque da atriz theca Anny Ondra exigiu que a atriz inglêsa Joan Barry a substituísse, lendo suas falas em um microfone enquanto Anny apenas movimentava os lábios diante das câmeras.   

Aparição de Hitchcock em Blackmail

Aparição de Hitchcock em Blackmail

Pôster de Chantagem e Confissão

Maxwell prosseguiu fazendo dois “quota quickies”, Flying Scotsman / 1929 e The Lady from The Sea / 1929 com a presença de um jovem Ray Milland e, nos anos trinta sobressaíram nos filmes do estúdio os comediantes Ernie Lotinga, Leslie Fuller, Will Hay; artistas americanos (Charles Bickford, Bebe Daniels em A Southern Maid / 1933; Ben Lyon, em I Spy / 1934; Douglas Fairbanks Jnr. em Mimi / Mimi / 1935; Buddy Rogers em O Amor Sempre Vence / Let’s Make a Night Of It / 1938); e dos palcos londrinos (Gertrude Lawrence e Gerald du Maurier em Lord Camber’s Ladies / 1932).

A “Porridge Factory” continuou a produzir filmes nesse período inclusive quatro musicais:  Canção da Saudade / Heart’s Desire / 1934 (com o tenor austríaco Richard Tauber); Folias de Versalhes / I Give my Heart / 1935 (a soprano húngara Gitta Alpar); A Valsa da Felicidade / Invitation to the Waltz / 1935 (Lilian Harvey); Music Hath Charms / 1935 (Henry Hall e sua orquestra). Todavia, foi o apoio construtivo de Maxwell à Mayflower Picture Corporation de Eric Pommer, que realmente chamou a atenção do público no final dos anos trinta. Com Charles Laughton estrelando cada produção, Pommer fez três filmes de qualidade: Náufrago da Vida / Vessel of Wrath / 1938 (Elsa Lanchester, Robert Newton); St. Martin’s Lane / 1938 (Rex Harrison, Vivien Leigh); e A Estalagem Maldita / Jamaica Inn / 1939 (Maureen O’Hara, Robert Newton).

Charles Laughton em Náufrago da Vida

Charles Laughton em Náufrago da Vida

Vivien Leigh e Charles Laughton em St. Martin's Lane

Vivien Leigh e Charles Laughton em St. Martin’s Lane

Charles Laughton em Estalagem Maldita

Charles Laughton em Estalagem Maldita

Com o início da Segunda Guerra Mundial, os estúdios foram comandados pelo Royal Ordonance Corps e algumas produções tiveram que ser transferidas para o Welwyn Studios, que o BIP havia comprado no começo dos anos trinta. Quando John Maxwell faleceu em 1940, foi o fim de uma era para o BIP e a perda de uma influência importante sobre a indústria cinematográfica britânica. Ele esperava que, após seu desaparecimento, sua família pudesse manter o controle sobre seu império fílmico, agora denominado ABPC (Associated British Picture Corporation). Porém isto não ocorreu. Nos primeiros anos da guerra, A Warner Bros. adquiriu uma quantidade de ações da família e, em 1946, comprou a maior parte das ações restantes do espólio de Maxwell, colocando-se assim em uma posição privilegiada.

O novo vínculo anglo-americano significava em príncipio que a Warner Bros. distribuiria os filmes da APBC nos seus 800 cinemas americanos e a ABPC, em reciprocidade, exibiria os filmes da Warner nos seus cinemas inglêses. A nova diretoria, tendo à frente Robert Clark como Diretor Executivo do Estúdio e da Produção, decidiu também por uma reconstrução completa de seu estúdio em Elstree. Clark contratou Robert Lennard, um excelente casting director, sugeriu-lhe que criasse um novo sistema de astros para a ABPC, e ele elevou ao estrelato alguns novatos como Michael Denison, Laurence Harvey, Kenneth Moore, Richard Todd, este último participando em primeiro plano ao lado de Patricia Neal e Ronald Reagan em Coração Amargurado / The Hasty Heart / 1949, primeira produção internacional do novo estúdio, produzida e dirigida por Vincent Sherman.

Patricia Neal e Richard Todd em Coração Amargurado

Patricia Neal e Richard Todd em Coração Amargurado

Pôster de Pavor nos BastidoresEm 1950, foram realizados, no estúdio, entre outros, Pavor nos Bastidores / Stage Fright / 1950 (Marlene Dietrich, Jane Wyman, Michael Wilding, Richard Todd) e A Desconhecida / Woman with no Name / 1950 (Phyllis Calvert e outro novo ator de cinema, Richard Burton). No mesmo ano, a ABPC vendeu seu Welwyn Studio e continuou com suas produções internacionais como Falcão dos Mares / Captain Horatio Hornblower / 1951 (Gregory Peck, Virginia Mayo) de Raoul Walsh e O Mundo a Seus Pés / Happy Go Lovely / 1951 (David Niven, Vera Ellen, Cesar Romero) de Bruce Humberstone. No novo estúdio da ABPC, como uma contribuição para o Festival da Grã Bretanha de 1951, foi produzido por Ronald Neame e dirigido por John Boulting (irmão gêmeo de Roy Boulting, com o qual formava uma dupla de diretor-roteirista-produtor) o longa-metragem The Magic Box sobre o pioneiro do cinema, William Frise-Green, protagonizado por Robert Donat, tendo sido convidados para pequenas aparições Laurence Olivier, Michael Redgrave e Richard Attenborough.

Pôster de  Falcão dos Maresr

Robert Donat em The Magic Box

Robert Donat em The Magic Box

No decorrer dos anos cinquenta, a “Hollywood Britânica” continuou a atrair investimentos e artistas americanos para seus estúdios: vg. A Morte do Fantasma / Happy Ever After / 1954 (Barry Fitzgerald, Yvonne de Carlo, David Niven);  Duelo na Selva / Duel in the Jungle / 1954 (Jeanne Crain, Dana Andrews); Moby Dick / Moby Dick / 1956 (Gregory Peck); Indiscreta /  Indiscreet /1958 (Ingrid Bergman, Cary Grant). Na mesma década, emergiram dois filmes de guerra excelentes,  Labaredas do Inferno / The Dam Busters / 1955 (Michael Redgrave, Richard Todd) e Sob o Sol da África /  Ice Cold in Alex / 1958 (John Mills, Sylvia Sims). Em 1955, a ABPC começou a abrigar produções da televisão juntamente com seus próprios projetos de filmes. Em 1959, Look Back in Anger, dirigido por Tony Richardson e estrelado por Richard Burton, marcou o início de uma “nova onda” de produção fílmica, que iria emergir no decênio seguinte.

Pôster de Labaredas do Inferno

John Mills e Sylvia Sidney em Sob o Sol da África

John Mills e Sylvia Sidney em Sob o Sol da África

Richard Burton em Look Back in Anger

Richard Burton em Look Back in Anger

Em 1960, a ABPC ainda tinha 319 cinemas para abastecer e decidiu abrir seus estúdios ainda mais, para produções independentes que quizessem utilizá-los, fazendo filmes de cinema ou de televisão. Dos anos sessenta aos anos noventa a ABPC passou por outras mudanças, e continuou em atividade incessante, até fechar suas portas em 1994.

Quando  surgiu o conflito entre J. D. Williams  e I. W. Schlesinger e John Maxwell ganhou o controle da British National Pictures, Herbert Wilcox e o ator-comediante Nelson Keys formaram uma nova companhia de cinema, a British and Dominions Film Corporation, construindo em uma área vizinha ao BIP, o seu Imperial Studios (também conhecido como B&D Studios) com três palcos de filmagem. Um dos primeiros na indústria cinematográfica britânica a perceber a importância do som, Wilcox recorreu  imediatamente a  Hollywood para obter experiência técnica. No seu retorno, ele instalou o sistema de som Western Electric e depois completou seu primeiro “talkie” inglês, Wolves / 1930, com Dorothy Gish e Charles Laughton.

Em 1933, Wilcox alugou para a Paramount-British um dos seus palcos de som, onde Alexander Korda fez  A Vida Privada de Helena de Tróia (outros filmes de Korda no Imperial Studios foram Os Amores de Henrique VIII, Strange Evidence / 1933 (Leslie Banks), Os Amores de Don Juan / The Private Life of Don Juan / 1934  (Douglas Fairbanks, Merle Oberon), e O Pimpinela Escarlate. Em 1935, Wilcox contratou Jack Buchanan e o colocou ao lado da estrela de Hollywood Lili Damita em O Galã da Nota / Brewster’s Millions, dirigido por Thorton Freeland.

Anna Neagle e Herbert Wilcox

Anna Neagle e Herbert Wilcox

O nome de Herbert Wilcox estará sempre inevitavelmente  ligado com o de Anna Neagle, pois eles formaram uma das mais longas parcerias romântica e profissional da indústria cinematográfica britânica. Anna tornou-se a principal estrela de Wilcox e entre seus filmes sobressaíram: O Tenente Naval / The Flag Lieutenant / 1932; Viena dos Meus Amores / Goodnight Vienna /1932; O Preço de um Amor / The Little Damozel / 1933; Doce Amargura / Bittersweet / 1933; Nos Braços do Rei / Nell Gwyn / 1934; The Queen’s Affair / 1934 (todos, menos o primeiro, dirigidos por Herbert Wilcox).  

Jack Buchanan e Anna Neagle em Viena dos Meus Amores

Jack Buchanan e Anna Neagle em Viena dos Meus Amores

Fernand Gravey e Anna Neagle em Doce Amargura

Fernand Gravey e Anna Neagle em Doce Amargura

Anna neagle em Nell Gwynn

Anna Neagle em Nell Gwynn

Nas primeiras horas de uma manhã de fevereiro de 1936,  irrompeu um incêndio no British and Dominions Studio, deixando tudo em ruínas. Somente o trabalho valoroso dos bombeiros impediu que o fogo atingisse o BIP Studio, ali bem próximo. Wilcox estava rodando Orquídea Selvagem / London Melody com Anna Neagle, Tullio Carminati e Robert Douglas e, como John Maxwell não estava em condições de ajudá-lo, teve de terminar a filmagem no Pinewood Studios de J. Arthur Rank.

Além de Pinewood, Rank comprou outro estúdio em Elstree em 1939, não porque necessitasse do espaço, mas para impedir que Maxwell ou uma das companhias americanas se apoderasse dele. O estúdio chamava-se Amalgamated Studios e havia sido construído por Paul Soskin e seu tio Simon Soskin, originários da Rússia. A fim de conseguir dinheiro para a obra, os Soskin penhoraram o imóvel, gastaram mais do que o esperado, e acabaram falindo. Rank ficou então com três dos maiores estúdios da Grã Bretanha. Ele alugou o Amalgamated Studios ao Ministério de Obras Públicas, para servir como depósito durante a Segunda Guerra Mundial e, em 1947, o transferiu para a Prudential  Assurance Company, que havia investido na produção de filmes nos anos trinta,  e esta, por sua vez,  vendeu-o para a MGM-British.

MGM British Studios

MGM British Studios

A MGM-British transformou o Amalgamated Studios em um estúdio no estilo dos de Los Angeles, tendo como atrações astros de Hollywood em filmes que seduziram ambas as platéias americana e inglêsa: vg. Meu Filho / Edward, My Son / 1949 (Spencer Tracy, Deborah Kerr); Romance de uma Esposa / The Miniver Story / 1950 (Greer Garson Walter Pidgeon); Ivanhoe, o Vingador do Rei / Ivanhoe /1952 (Robert Taylor, Elizabeth Taylor, Joan Fontaine, George Sanders); Os Cavaleiros da Távola Redonda / Knights of the Round Table / 1953 (Robert Taylor, Ava Gardner, Mel Ferrer); Atraiçoado / Betrayed / 1954 (Clark Gable, Lana Turner, Victor Mature); O Belo  Brummel /  Beau Brummell / 1954 (Stewart Granger, Elizabeth Taylor, Peter Ustinov); A Coroa e a Espada / Quentin Durward / 1955 (Robert Taylor, Kay Kendall, Robert Morley). Em 1958, a MGM-British alugou o estúdio para a 20th Century-Fox fazer A Morada da Sexta Felicidade  / The Inn of the Sixth Happiness com Ingrid Bergman, Curd Jurgens e Robert Donat, que morreria poucas semanas após o término da filmagem.

Robert Taylor e Elizabeth Taylor em Ivanhoe

Robert Taylor e Elizabeth Taylor em Ivanhoe

Pôster de O Belo BrummelAinda em 1958, vinte e três anos depois de ter sido contratada pela MGM para atuar com Clifton Webb em This Time It’s Love, um musical que ela afinal não pôde fazer, Jessie Mathews apareceu em O Pequeno Polegar / Tom Thumb, contracenando com o atlético ator-dançarino Russ Tamblyn, Peter Sellars e Terry-Thomas que, com ela, tornaram este espetáculo um favorito das crianças através dos tempos. Nos anos sessenta, a MGM-British continuou realizando filmes em Elstree (vg. Gente Muito Importante / The V.I.P. s / 1963; O Rolls Royce Amarelo /  The Yellow Rolls Royce / 1964;  2001: Uma Odisséia no Espaço / 2001: A Space Odyssey / 1968;  O Desafio das Águias / Where Eagles Dare / 1968; Adeus Mr. Chips / Goodbye Mr. Chips / 1969) até que encerrou suas atividades em 1970, e o estúdio foi vendido para um frigorífico.

Pôster de O Pequeno Polegar

Em 1927, o ator-diretor chileno Adelqui Millar fundou a Whitehall Films com dois sócios, Charles Lapworth e N. A. Pogson e, em 1929, construiu seu Whitehall Studios próximo da estação ferroviária de Borehamwood. Não era o melhor local para construir um estúdio de cinema porque, com a chegada dos “talkies”, ficaria difícil  abafar o barulho de uma linha de trem movimentada ali perto. No futuro, seria necessário empregar um homem com o único propósito de subir no telhado, para avisar quando um trem se aproximava, de modo que a filmagem pudesse ser interrompida até que ele passasse. Infelizmente, a companhia encontrou sérias dificuldades financeiras e, por um período de tempo em 1930, o estúdio foi alugado para a Audible Filmcraft Limited, uma contradição em termos, pois esta não estava bem equipada acusticamente. De novo, o estúdio passou por uma má fase, antes de ser renovado em 1933 e rebatizado de Consolidated Film Studios em 1934, quando Daquí a Cem Anos de Alexander Korda começou a ser filmado – a produção foi depois transferida para Denham. Em 1935, quando o Twickenham Studios de Julius Hagen foi parcialmente destruído pelo fogo, Hagen formou a JH Productions  e comprou o Consolidated Film Studios. Foram feitos alguns filmes sem importância e, no ano seguinte, tanto o Twickenham quanto o Consolidated pediram falência.

Pôster de Decameron

Em 1937, J. Banberger fundou uma companhia, MP Studios Limited, e tomou posse do antigo local do Whitehall / Consolidated. O MP Studios foi requisitado durante a Segunda Guerra Mundial e depois ficou conhecido como Gate Studios. Em 1947, a J. Arthur Rank Organization adquiriu-o para realizar as suas GHW Productions, dedicadas à divulgação do Metodismo. Embora estivesse primordialmente ocupado com a produção de filmes religiosos (a razão pela qual Rank entrou na indústria de cinema nos anos trinta), o estúdio  era ocasionalmente alugado  para outras unidades da Organização Rank e outras companhias (vg. Decameron Deliciosas Noites de Amor / Decameron Nights / 1953, com Joan Fontaine e Louis Jordan). Em 1952 o estúdio foi vendido, tendo sido comprado por Andrew Smith Harkness que, coincidentemente, fabricava telas para cinemas.

Em 1956, foi construído pelos irmãos Edward and Harry Danzinger, o Danzinger  Studios (que eles apelidaram de “The New Elstree Studios”), dedicado principalmente à realização de filmes e series para a televisão americana embora alguns longas-metragens classe “B” também tivessem sido feitos (vg. Satélite Artificial / Satellite in the Sky / 1956; Man Accused / 1959; High Jump / 1958; Sentenced for Life / 1959; Feet of Clay / 1960; The Spanish Sword / 1962. O estúdio fechou suas portas em 1965.