EUGEN SCHÜFFTAN

Nascido em 1893 na cidade de Breslau, Silesia (hoje Wroclaw, Polônia) e falecido em 1977 na cidade de Nova York, USA, ele emprestou seu nome para uma técnica de efeitos especiais que utilizava miniaturas e espelhos para criar a ilusão de cenários em tamanho real. O “efeito Schüfftan”, usado com êxito em Metrópolis / Metropolis / 1927 de Fritz Lang precedeu e foi substituído pela moderna tela azul. Schüfftan depois tornou-se um diretor de fotografia muito procurado na Europa e Hollywood.

Eugen Schüfftan

Metrópolis

Filho de um operário de fábrica, ingressou numa escola de arte em Breslau e começou como pintor Impressionista em Berlim. Ele se voltou para o Expressionismo, trabalhando como arquiteto e como pintor de cenários, antes de seu envolvimento em filmes. Depois, entrou em contato com a indústria cinematográfica através de professor da escola de arte, o arquiteto e cenógrafo Hans Poelzig. Juntamente com o técnico Ernst Kunstmann, Schüfftan patenteou um equipamento de câmera para combinar objetos reais e atores com modelos. O “efeito Schüfftan” foi vendido internacionalmente – enquanto a Ufa o comprava na Alemanha, em Hollywood a Universal adotou o conceito. Shüfftan passou muito tempo supervisionando o uso de suas técnicas ao redor do mundo. Nesta capacidade, trabalhou com Abel Gance na sua obra-prima Napoleão / Napoleon / 1927.

Napoleão

No término dos anos vinte Schüfftan perdeu o interesse pela sua invenção e se tornou um diretor de fotografia. Ligado a círculos de filmes de arte, filmou o semi-documentário de Robert Siodmak Menschen Am Sonntag / 1929 em locação, parcialmente com uma câmera escondida. Ele contribuiu com imagens deslumbrantes para uma série de filmes no final dos anos vinte e início dos anos trinta, inclusive Abschied / 1930 de Siodmak, que visualmente antecipava o estilo dos filmes franceses do encerrar da década de trinta, e a fantasia do deserto de G.W.Pabst Atlântida / Die Herrin Von Atlantis / 1932.

Abschied

Seu único filme de longa-metragem como diretor, Das Ekel / 1931 era uma sátira sobre o modo de vida da classe média. Em 1933, Schüfftan deixou a Alemanha, trabalhando principalmente na França, onde foi fundamental na criação do estilo do realismo poético de filmes como Cais das Sombras / Quai des Brumes / 1938 de Marcel Carné e Sem Amanhã / Sans Lendemain / 1939 de Max Ophuls.

Jean Gabin e Michèle Morgan em Cais das Sombras

Edwige Feuillère em Sem Amanhâ

Emigrando para os Estados Unidos em 1940, Schüfftan teve dificuldade de arrumar emprego como cinegrafista devido aos regulamentos rigorosos da American Society of Cinematographer. Diretores alemães no exílio, como Douglas Sirk (Detlef Sierck) e Robert Siodmak muitas vezes o empregaram sob outra descrição de trabalho, tal como “camera supervisor”. Por exemplo em: O Capanga de Hitler / Hitler´s Madman  / 1943; Uma Voz na Tormenta / Voice in the Wind / 1944; O Que Matou por Amor / Summer Storm / 1944; O Tempo é uma uma Ilusão /  It Happened Tomorrow / 1944,   etc.

Os Olhos sem Rosto

Paul Newman em Desafio à Corrupção

Após a Segunda Guerra Mundial, Schüfftan tornou-se cidadão americano, mas preferiu trabalhar na Europa, particularmente na França, onde dirigiu uma série de documentários curtos; porém trabalhou também na Itália, Suiça e Alemanha Ocidental. Entre seus derradeiros filmes, de particular importância foram suas imagens atmosféricas para o filme de horror de Georges Franju Os Olhos Sem Rosto / Les Yeux Sans Visage / 1960. Em1961 ele ganhou um Oscar por sua fotografia preto e branco em Cinemascope para o filme de Robert Rossen Desafio à Corrupção / The Hustler. Ele se aposentou no final dos anos sessenta.

 

RAYMOND CHANDLER

Ele foi um dos mestres do romance policial, talvez o que melhor conseguiu a síntese entre o policial clássico e o detetive hard boiled, insolente e esquentado. O modelo de investigador superdotado intelectualmente, de postura britânica mesmo quando não era inglês (v. g. Sherlock Holmes, Poirot), que circula em ambientes fechados, dominou a ficção detetivesca até os anos 30, quando Dashiell Hammett revolucionou a substância e a forma do romance policial inserindo-lhe ação, sexo, violência e escrevendo em uma prosa coloquial, rápida e objetiva, tipicamente americana. Interessando-se mais pela caracterização e atmosfera do que pela intriga, pôs de lado esquema artificial do quebra-cabeça e trouxe o crime para as ruas sórdidas da cidade grande, onde geralmente ocorre. Verbalmente mais ousado do que Hammett, Chandler produziu uma prosa sombriamente lírica que transformou suas histórias em “metáforas do pesadelo urbano”. Ele colocou esses “pesadelos urbanos” no sul da Califórnia, onde seu herói, Philip Marlowe, apresentado em The Big Sleep e reaparecendo em Farewell my Lovely e The Lady in the Lake, embrenha-se em uma selva de criaturas predatórias, obcecadas pela busca do dinheiro e do poder, que procuram obter através da violência e da corrupção.

Raymond Chandler

Filho de um quaker americano e de uma irlandesa igualmente quaker, Raymond Thorton Chandler (1888-1959), após o divórcio de seus progenitores, partiu aos oito anos de idade com sua mãe para Londres. Sólidos estudos que ele completou na França e na Alemanha o conduziram para um emprego no Foreign Office. Foi a época em que frequentou a casa de Virginia Woolf e escreveu no The Spectator. A guerra irrompeu quando ele voltou para os Estados Unidos. Ele alistou no exército canadense e combateu na frente francesa. De retorno aos Estados Unidos, exerceu diversas profissões, casou-se com Pearl Bowen, dezessete anos mais velha do que ele, mas, em 1932, durante a Depressão, perdeu seu posto na indústria petrolífera. Desde então, pôs-se a escrever. Sua primeira novela, Blackmailers Don’t Shoot, com o detetive Mallory, apareceu na revista Black Mask em 1933. Chandler se tornou colaborador assíduo da Black Mask e da Detective Monthly. Em 1939, publica seu primeiro romance, The Big Sleep. O Mallory das novelas tornou-se Philip Marlowe, herói de um romance que causou sensação pelo seu tom e pela sua construção.

As obras-primas vão se sucedendo entre 1940 (Farewell my Lovely) e 1943 (The Lady in the Lake). Depois, Chandler parte para Hollywood. Ele escreve o roteiro original de A Dália Azul / The Blue Dahlia / 1946, adapta James M. Cain no roteiro de Pacto de Sangue / Double Indemnity / 1944 e Patricia Highsmith no roteiro de Pacto Sinistro / Strangers on a Train / 1951. As transposições cinematográficas de suas obras se multiplicam:  Farewell my Lovely  feita por Edward Dmytryk para Até à Vista Querida / Murder my Sweet / 1944; The Big Sleep feita por Howard Hawks para À Beira do Abismo / The Big Sleep /1946; The Lady in the Lake feita por Robert Montgomery para A Dama no Lago / The Lady in the Lake / 1947; The Brasher Doubloon feita por John Brahm para A Moeda Trágica / The High Window / 1947; The Long Goodbye / 1973 feita por Robert Altman para O Perigoso Adeus / The Long Goodbye / 1973.

Dick Powell e Claire Trevor em Até à Vista Querida

Outra cena de Até à Vista Querida

Em Até à Vista Querida, o noir look aparece, pela primeira vez, completamente realizado. A intriga é um tanto complicada contém muitas pistas falsas e reviravoltas, para fazer com que o público fique tão desnorteado quanto o investigador, porém o maior fascínio do filme não está no enredo delirante, mas nos diálogos e na atmosfera. Captando maravilhosamente o espírito da ficção de Raymond Chandler e conservando uma porção satisfatória de sua prosa excepcional, o diretor Edward Dmytryk e seu roteirista John Paxton escolheram a melhor construção narrativa (narração na primeira pessoa, voz over, retrospecto) e forma visual (expressionista) para acentuar a intensa subjetividade do protagonista e cria o clima mais adequado à história, obtendo uma mistura perfeita da tradição hard-boiled como o estilo germânico. Chandler considerava Dick Powell o equivalente cinematográfico mais próximo de sua concepção de Philip Marlowe. O ator está surpreendentemente bem no papel, abandonando sua personalidade jovial e alegre dos musicais, para se transformar em um detetive tough guy clássico. Na pele de Marlowe, ele faz comentários sobre personagens, ambientes e acontecimentos, expressando sua visão dark por meio de piadas sarcásticas e descrições hiperbólicas de muito sabor. Quando Marlowe leva uma pancada na cabeça, a voz over do detetive recorda como “um poço negro se abriu diante dos meus pés. Caí nele. Não tinha fundo” e, ao mesmo tempo, uma mancha preta inunda toda a tela, escurecendo a cena. Em outro instante, ao recordar do torpor provocado pela droga, ele fala de uma fumaça e de uma teia tecida por mil aranhas”, que obscurecem sua visão enquanto o observamos através deum vidro embaciado. Um pouco adiante, estica as mãos em direção à câmera e vemos seus dedos deformados, parecendo “uma penca de bananas com jeito de dedos”. Nessas tomadas, o diretor emprega todo o vocabulário fílmico – montagem rápida, sobreimpressões, cortinas giratórias, lente grande angular, filtro fosco, primeiríssimo plano (v. g. a seringa do doutor), justaposição de personagens em escalas diferentes- para expressar o estado mental confuso e paranóico do protagonista. A atmosfera de pesadelo, as sombras ameaçadoras e os fortes contrastes de iluminação dão a Até a Vista Querida uma qualidade visual que se tornou característica nos filmes noirs do período áureo. E não falta a presença da fêmea fatal, Velma (interpretada por Caire Trevor).

RUDOLPH MATÉ

Rudolf Matheh (1898 -1964) nasceu na Cracóvia, Polonia, formou-se pela Universidade de Budapeste e iniciou sua carreira no cinema como assistente de cameraman para Alexander Korda em Budapeste. Depois trabalhou em Viena e Berlim como aprendiz de Karl Freund e assistente de Erich Pommer.

Rudolph Maté

Sua carreira cinematográfica pode ser dividida quase que em três partes: na primeira parte ele trabalhou na Europa como cameraman em grandes filmes como por exemplo O Martírio de Joana D’Arc / La Passion de Jeanne d’Arc / 1928 e O Vampiro / Vampyr / 1932 de Carl Theodor Dreyer; O Último Milionário / Le Dernier Milliardaire / 1934 de René Clair; Coração de Apache / Liliom / 1934 de Fritz Lang. Então, em 1935, foi para Hollywood e, na mesma função, ganhou cinco indicações para o Oscar consecutivas entre 1940 e 1944 (fotografias de Correspondente Estrangeiro / Foreign Correspondent; Lady Hamilton, a Divina Dama / That Hamilton Woman / Ídolo, Amante e Herói / Pride of the Yankees; Sahara / Sahara; Modelos / Cover Girl), distinguindo-se também seu trabalho em Endereço Desconhecido / Address Unknown / 1944, Gilda / Gilda / 1946 e sua participação não creditada em A Dama de Shanghai / The Lady from Shanghai /  1947. Na terceira fase, Maté passou para a direção, principalmente de filmes “B” de 1947 até sua morte em 1964.

Cena de Correspondente Estrangeiro

Em 1935 Maté deixou a Alemanha Nazista e foi para os Estados Unidos. William Wyler deu-lhe a primeira grande chance em Hollywood, contratando-o para fotografar Fogo de Outono / Dodsworth / 1936 e Meu Filho é Meu Rival / Come and Get It / 1936. Em pouco tempo Maté alcançou o topo dos diretores de fotografia de Hollywood sob as ordens de Alfred Hitchcock em Correspondente Estrangeiro / Foreign Correspondent / 1940.

Após a Segunda Guerra Mundial tornou-se diretor. Em 1947 ele entrou para a terceira fase de sua carreira dirigindo a comédia romântica Tem Que Ser Você / It Had to Be You. Seguiram-se, distinguindo-se entre filmes de qualidade artística variada, o drama criminal Passado Tenebroso / The Dark Past / 1948; a aventura de ficção científica O Fim do Mundo / When Worlds Collide / 1951 premiado com o Oscar de Melhores Efeitos Especiais e hoje considerado um clássico no gênero); o western Um Pecado em Cada Alma / The Violent Men / 1955 e, principalmente, seus dois filmes noirs, Com As Horas Contadas / D.O.A. / 1949 e Rastro Sangrento / Union Station / 1950. Considero estes dois últimos os melhores de sua filmografia.

Edmond O’Brien em Com as Horas Contadas

COM AS HORAS CONTADAS

Bigelow (Edmond O´Brien) chega cambaleante em uma delegacia de polícia, para dar parte de seu próprio homicídio. Os policiais ouvem sua história. Ele é um perito-contador e tabelião que exerce seu ofício na cidade desértica de Banning. Bigelow decide tirar férias em San Francisco para fugir do tédio e também de um comprometimento mais sério com a namorada e secretária Paula Gibson (Pamela Britton). Após passar uma noite divertida em uma festa, entra em um bar, onde um indivíduo misterioso despeja algo em um copo, trocando-o com o dele. No dia seguinte, sente-se mal. Os médicos lhe dizem que sofreu um envenenamento por radiação e tem apenas poucos dias de vida. Bigelow deixa o hospital com a firme determinação de encontrar seu assassino.

O filme abre com a câmera seguindo Bigelow através de uma sucessão de escuros e intermináveis corredores de uma delegacia. Não vemos seu rosto, somente suas costas exaustas e passos firmes. Com aquela força que as pessoas parecem adquirir quando estão perto da morte ele consegue chegar ao Departamento de Homicídios. “Quero dar parte de um assassinato”, diz para o delegado de plantão. “Quem é que foi morto?”, pergunta o policial. Bigelow, em close-up, responde: “Fui eu”. Bigelow não sabe como, quando, onde ou por que foi morto e se torna, ao mesmo tempo, o investigador e a vítima de seu próprio assassinato.  Usa as últimas energias que lhe restam para descobrir o assassino, porém trata-se de um esforço inútil, porque seu trinfo como herói-detetive coincide com sua morte e o motivo do crime foi arbitrário e impessoal.

Em nenhum outro filme noir estiveram tão presentes o absurdo e o caos emocional. Bigelow é um homem desnorteado com a notícia de sua morte e acabou de descobrir que o mundo não tem sentido. Quando os médicos anunciam o diagnóstico, ele os chama de loucos e não quer encarar a realidade. Então, corre como um louco pelas ruas de San Franciso, como se houvesse algum lugar para onde pudesse ir. Ao terminar sua história, Bigelow cai da cadeira tentando pronunciar o nome de Paula e morre. Um policial arquiva o caso, carimbando as iniciais D.O. A. (Dead on Arrival / Morto ao Chegar).

William Holden em Rastro Sangrento

RASTRO SANGRENTO

Viajando para Chicago, Joyce Willecombe (Nancy Olson) nota que um passageiro está armado e comunica o fato ao chefe do trem. O tenente Wiliam Calhoun do Serviço de Segurança da Union Station e o inspetor Donnelly da polícia são avisados. O suspeito, Joe Beacom Lyle Betger), guarda uma mala em um dos armários da estação. Mais tarde, Calhoun manda abrir a mala e Joyce reconhece as roupas de Lorna Murchison (Allene Roberts), a filha cega de seu patrão, Henry Murchison (Herbert Heyes). Tudo indica que se trata de um sequestro e a caça aos sequestradores tem início.

Perfeitamente ritmada e bastante precisa, a ação transcorre quase exclusivamente na grande estação ferroviária de Chicago, incluindo uma complexa rede de túneis subterrâneos com quilômetros de tubos e fios eletrificados, dos quais os usuários não têm conhecimento. Utilizando a fórmula dos filmes de procedimentos policiais, no caso as atividades conjuntas dos seguranças da estra de ferro e da polícia, o espetáculo tem muitas cenas de brutalidade, que lembram as dos melhores filmes noirs: a morte de um dos  bandidos sob as patas dos animais alvoraçados; o interrogatório de outro (“Faça com que pareça um acidente”, diz o inspetor Donnelly, ameaçando jogá-lo na frente de um trem); o instante em que Beacom tira  amordaça da boca de Lorna, enrola a mão com o pano e esmurra a pobre cega; o corpo de sua amante  Marge (Jan Sterling) rolando da calçada para a rua depois deter sido cruelmente abandonada pelo amante. Nos momentos culminantes, Maté constrói um bom suspense quando, na estação totalmente vigiada pelos detetives, Beacom, disfarçado de ferroviário, usa um mensageiro para apanhar a mala com o dinheiro, seguindo-se depois uma formidável perseguição pelos túneis subterrâneos enquanto a cega se arrasta pelos trilhos perigosos, gritando por socorro.

CLIFTON WEBB

Webb Parmalee Hollenbeck (1889-1966,) nasceu em Indianápolis,Indiana, filho único de Jacob Grant Hollenbeck e Mabel A. Parmalee. Seus pais se separaram em 1891, pouco depois do nascimento de seu filho. Em 1892, a mãe de Webb, apresentando-se agora como Maybelle, foi para Nova Yok com seu “pequeno Webb”, como ela o chamou pelo resto de sua vida.

Clifton Webb

Aos treze anos de idade, Webb largou a escola primária para estudar pintura e música. Aos dezenove anos, usando seu novo nome profissional, Clifton Webb, tornou-se um dos principais dançarinos de salão em casas noturnas de Nova York, dançando muitas vezes em parceria com Bonnie Glass (que depois o trocaria por Rudolph Valentino); eles atuariam em cerca de uma dúzia de operetas. A partir de 1913  Webb participou de musicais da Broadway, peças teatrais (The Importance of Being Earnest de Oscar Wilde e Blithe Spirit e Present Laughter de Noel Coward), vaudeville, e como coadjuvante em seis filmes: dançando uma pavana em National Red Cross Pageant / 1917, filme de propaganda de 50 minutos para o esforço de guerra (Dir: Christy Cabanne); Polly With a Past / 1920 (Dir: Leander De Cordova); Let Not Man Put Asunder / 1924 (Dir: J. Stuart Blackton); New Toys / 1925 (Dir: J. Stuart Blackton); The Heart of a Siren / 1925 (Dir: Phil Rosen); o short da Vitaphone de 10 minutos, The Still Alarm / 1930 (Dir: Roy Mack), reproduzindo na tela um esquete da Broadway no qual contracenava com Fred Allen.

Clifton Webb e Gene Tierney em Laura

Após vários anos de ausência, ele retornou à tela no filme Laura / Laura / 1944 (Dir: Otto Preminger) como o vilão Waldo Lydecker, influente jornalista quinquagenário, mentor de Laura Hunt (Gene Tierney), diretora de uma agência de propaganda, que é assassinada. Lydecker considerava Laura, não apenas como sua maior “criação!”, mas também propriedade pessoal. Frágil e refinado, com senso de humor perverso, sempre adorou Laura à distância, contentando-se em afastar os possíveis rivais. Como todo psicótico quer ter controle absoluto sobre o objeto de sua paixão. Prefere ver a amada morta, do que viva nos braços de outro homem. Webb, conscientemente ou não, dá um toque efeminado ao personagem, transmitindo seu narcisismo (“No meu caso, auto-absorção é plenamente justificada. Nunca descobrí um assunto tão digno de minha atenção”) e insolência (“Não uso caneta. Escrevo com uma pena de ganso embebida de veneno”). Webb foi escalado para o filme por Otto Preminger sob a objeção do produtor Darryl F. Zanuck e acabou sendo agraciado com uma indicação para o Oscar de Melhor Ator Coadjuvante.

Clifton Webb em Envolto nas Sombras

Assinou então um contrato de longa duração com a Fox, e só trabalharia para este estúdio pelo resto de sua carreira. Seu primeiro filme sob este novo contrato foi Envolto nas Sombras / The Dark Corner / 1946 (Dir: Henry Hathaway), no qual faz novamente um vilão suave, o mercador de arte Hardy Cathcart que, tal como Waldo Lydecker, exprime seu sarcasmo por meio de frases saborosas. Dirigindo-se a sua mulher Mari (Cathy Dows), ele diz: “Meu amor por você é a única enfermidade que contraí desde as doenças normais de criança. E é incurável”. Observando os convidados na sua festa, comenta com desdém: “É uma nauseante mistura de Park Avenue e Broadway – isto prova que sou um liberal”. Ao contemplar um quadro, exclama pedantemente: “O prazer da arte é o único êxtase restante que não é ilegal nem imoral”.

John Payne, Herbert Marshal, Gene Tierney e Webb em O Fio da Navalha

No mesmo ano, Webb voltou a se reunir com Gene Tierney em O Fio da Navalha / The Razor’s Edge / 1946 (Dir: Edmund Goulding), baseado no romance homônimo de Somerset Maugham, e foi indicado mais uma vez para o Oscar de Melhor Ator Coadjuvante. Webb faz o papel de Elliott Templeton, o tio esnobe de Isabel, protagonista feminina interpretada por Tierney. Elliott é um americano rico que adora viver em Paris porque acredita que é único lugar para um homem civilizado morar. É um socialite que valoriza aparências, classe e prestígio. Festeiro inveterado, dá grande importância em ser convidado para uma festa da qual vale a pena participar. Webb compôe o personagem de forma admirável, sendo inesquecível aquela cena em que,  no seu leito de morte, desabafa para Herbert Marshal, que faz o papel de Somerset Maugham no filme: “Eu não sou um homem que as pessoas ignoram. Aquela velha bruxa. Ela não me convidou para a maior festa da minha carreira”. E cai no chôro.

Webb em Ama-Sêca por Acaso

Webb foi subsequentemente estereotipado como um solteirão atrevido e pedante e conquistou grande popularidade como o pomposo ama-sêca, Mr. Belvedere, na comédia muito divertida Ama-Sêca por Acaso / Sitting Pretty / 1948 e suas continuações (o Gênio vai para a Escola / Mr. Belvedere Goes to College / 1949; Mr. Belvedere, o Gênio no Asilo / Mr. Belvedere Rings the Bell / 1951). Pela sua atuação em Ama-Sêca por Acaso Webb foi indicado desta vez para o Oscar de Melhor Ator num papel principal.

Clifton Webb em O Homem Que Nunca Existiu

Webb fez mais 15 filmes: Papai Batuta / Cheaper by the Dozen / 1950; Apuros de um Anjo / For Heaven’s Sake / 1950; O Gênio e os Fugitivos / Elopment / 1951; A Família do Gênio / Belles on their Toes / 1952 (breve aparição de Webb, não creditado); O Gênio na Televisão / Dreamboat / 1952; A Marcha Triunfal / Stars and Stripes Forever  / 1953 (cinebiografia do compositor John Philip Souza); Náufragos do Titanic / Titanic / 1953; Duro na Queda / Mr. Scoutmaster / 1953; A Fonte dos Desejos / Three Coins in the Fountain / 1954); O Mundo é da Mulher / Woman´s World / 1954; O Homem Que Nunca Existiu / The Man Who Never Was / 1956; A Lenda da Estátua Nua / Boy on a Dolphin / 1957; Tudo Azul com o Barba Azul / The Remarkable Mr. Pennypacker / 1959; Amantes em Férias / Holiday for Lovers / 1959; Tentação Diabólica / Satan Never Sleeps / 1962. O melhor de todos foi O Homem Que Nunca Existiu, thriller de espionagem, dirigido por Ronald Neame, baseado na história verídica de um plano da Inteligência Militar Britânica engendrado pelo Tenente Comandante Ewen Montagu, para enganar os alemães, fazendo-os crer que a invasão da Sicília ocorreria em outro lugar. No papel do comandante Montagu, Webb brilha com sua classe e inteligência habituais, predicados que ele sempre manifestou mesmo nos seus filmes menos significativos.

REAVALIANDO HENRI DECOIN

Ele desenvolveu uma carreira cinematográfica desigual, marcada por erros e alguns grandes acertos, mas demonstrando sempre um talento sólido e algumas vezes até. originalidade. Por ter realizado obras de mérito artístico variado entre uma cinquentena de filmes que fêz, permaneceu um cineasta esquecido, mas honrou sua profissão com três espetáculos de peso, Trágica Inocência / Non Coupable / 1947; Amor Traído / La Verité sur Bébé Donge / 1952 e Antro do Vício / Razzia sur la chnouf / 1955 e, alternando os mais variados gêneros,  realizou vez por outra algum trabalho de maior espessura artística como aqueles estrelados por sua então esposa, Danielle Darrieux: Abuso de Confiança / Abus de Confiance / 1937, Senhorita minha Mãe / Mademoiselle ma Mère / 1937, De Volta à casa / Retour à la Vie / 1938, Battement de Coeur / 1940 (inesquecível neste a atuação deliciosa de Saturnin Fabre como professor de batedores de carteiras), Premier Rendez-vous / 1941. Foi  responsável  também por um  drama de espionagem de grande sucesso com Françoise Arnoul, A Gata / La Chatte / 1958;  uma eficiente adaptação de um romance de Georges Simenon, Les Inconnus dans la Maison / 1941 com o grande intérprete Raimu; a farsa provincial pitoresca e poética Les Amants du pont Saint-Jean / 1947 com Michel Simon e Gaby Morlay; o drama policial  enigmático Entre Onze Horas e Meia-Noite / Entre Onzes Heures et Minuit / 1948 com Louis Jouvet; o drama romântico com belos diálogos Les Amoureux Sont Seuls au Monde / 1948 , também com Jouvet; o drama histórico bem elaborado As Pecadoras de Paris / L´Affaire des Poisons / 1955 com Danielle Darrieux e Viviane Romance.

Henri Decoin

Danielle Darrieux e Saturnin Fabre em Battement de Coeur

Françoise Arnoul em A Gata

Raimu em Les Inconnus dans la Maison

Henri Decoin (1890-1969) nasceu em Paris. Apaixonado pelo esporte desde a infância, foi campeão de natação e de polo aquático. Durante a Primeira Guerra Mundial serviu na Aviação e deu baixa com a Légion d´Honneur e a Croix de Guerre. Poderia ter seguido a carreira militar, mas sonhava em ser escritor. Seu primeiro romance, publicado em 1930, ganhou o Grande Prêmio de Literatura Esportiva.  Na mesma época, ofereceu para uma produtora o argumento intitulado Caçada Noturna / Um soir de raffle, que acabou sendo filmado com Annabella e Albert Préjean. Convocado pela Ufa, dirigiu algumas versões francesas de filmes alemães (como, por exemplo, Le Domino Vert / 1935, versão de Der Grüne Domino de Herbert Selpin com Danielle Darrieux no papel vivido por Brigittte Horney na versão alemã) e, finalmente, seu primeiro filme, Toboggan / 1935, estrelado pelo pugilista Georges Carpentier. Nesta ocasião casou-se com Danielle e fez os cinco filmes com ela, criando um gênero de comédia sentimental cheia de charme e sensibilidade, inspirado no estilo americano. Vejamos a seguir suas três obras-primas.

Michel Simon em Trágica Inocência

Em Trágica Inocência, o dr. Ancelin (Michel Simon), médico de província considerado medíocre, atropela, bêbado, um motociclista, e consegue disfarçar o seu homicídio involuntário. Assim, ele se reabilita a seus próprios olhos e segue seu caminho no crime, assassinando o amante de sua companheira Madeleine (Jany Holt) e depois o colega que mais o desprezava; finalmente empurra a própria Madeleine para a morte. Angustiado, Ancelin se denuncia à polícia, mas o inspetor Chambon (Jean Debucourt) não acredita nele. Por despeito, Ancelin se suicida, deixando uma carta de confissão. Porém um gato empurra a carta para a lareira e ela não será lida por ninguém.Dessa história astuciosa, Henri Decoin soube tirar um excelente partido e criar um suspense psicológico – a lenta alteração da razão de Ancelin -, para o qual contribuiu poderosamente a fotografia noturna, obtida com o auxílio da perícia técnica do cinegrafista. O papel do assassino que se angustia por não ser levado a sério e reconhecido como um gênio do mal caiu como uma luva para Michel Simon. Ele usou todos os seus recursos de grande ator para dar originalidade e intensidade dramática a esse curioso policial à francesa.

Jean Gabin e Danielle Darrieux em Amor Traído

Em Amor Traído no leito de uma clínica, durante uma longa agonia, François Donge (Jean Gabin) recorda o passado. Rico industrial da província e colecionador de amantes, ele casou-se com Elizabeth d’Onneville, chamada de Bébé, mais por cansaço do que por amor. Bébé, jovem idealista e apaixonada, não encontrou nele o que esperava. Dez anos mais tarde, sentimentalmente decepcionada, ela envenenou o marido. Compreendendo tarde demais os seus erros, François morre. Elisabeth, como um autômato, acompanha o juiz de instrução que veio para prendê-la. Filme sombrio e desesperado, com uma construção dramática rigorosa e fiel ao universo dos romances de Simenon. O mistério concebido pelo romancista não é policial, mas psicológico: por que Bébé, jovem pura e sincera, envenenou o marido após dez anos de matrimô nio?  No decorrer dos sete dias nos quais fica entre a vida e a morte, François Donge procura a resposta, faz um exame de consciência e descobre a verdade. A culpa foi dele, que não soube amá-la. Ele espera viver como não vivera até então. Porém é tarde demais. Este drama da incompreensão foi magnificamente interpretado pela dupla Gabin-Darrieux, talvez o melhor papel de Darrieux e a composição mais trabalhada de Gabin.

 

Jean Gabin, Lino Ventura e Albert Rémy em Antro do Vício

Em Antro do Vício Henri Le Nantais (Jean Gabin) chega dos Estados Unidos para reestruturar a rede do tráfico de drogas em Paris. O chefão Paul Liski (Marcel Dalio) põe à sua disposição o cabaré Le Troquet, que lhe servirá de cobertura. Enquanto Lisette (Magali Noël), a caixa do estabelecimento, se apaixona por ele, Henri, por intermédio de dois assassinos, Le Catalan (Lino Ventura) e Bibi (Albert Rémy), identifica todos os responsáveis pela organização – desde o químico que prepara a chnouf (a heróina) até os proprietários chineses das casas de ópio clandestinas. Na realidade, Henri é um policial infiltrado no bando para desmantelá-lo. Reportagem dramática sobre o mundo das drogas, retratando sucessivamente os fornecedores e usuários envolvidos nessa atividade criminosa. Decoin arma sequências impressionantes, como o corretivo recebido pelo químico da quadrilha e o estupro de sua mulher, ou a dança erótica em uma boate onde se reúnem negros intoxicados pela marijuana.  Ninguém melhor do que Jean Gabin para ser o policial cheio de autoridade e sem grandes ilusões. Lino Ventura e Albert Rémy estão chocantes como assassinos frios e sádicos. Mas quem chama mais atenção é Lila Kedrova, que expressa maravilhosamente o aviltamento completo de uma mulher inteiramente submetida ao vício.

PHIL KARLSON EXERCEU SEU GRANDE TALENTO NOS FILMES B

Philip N. Karlstein (1908-1982) nasceu em Chicago, filho da atriz Lillian O´Brien do teatro Yddish.  Após completar seu curso secundário, frequentou o curso de pintura no Chicago’s Art Institute e tentou seguir uma carreira de cantor e dançarino, acedendo finalmente ao desejo do pai, que desejava que ele fosse advogado. Enquanto estudava Direito na Loyola Marymount University na Califórnia, trabalhou em várias funções no estúdio da Universal e gradualmente passou de aderecista a assistente de direção (começando em A Volta de Tom / Destry Rides Again / 1932, estrelado por Tom Mix), montador, e finalmente diretor em 1944. Depois Lewis fez filmes para a Monogram (v. g. da série Charlie Chan, Bowery Boys, The Shadow), Columbia (entre eles um western interessante envolvendo a figura do escritor Robert Louis Stevenson, O Filão de Prata / Adventures in Silverado / 1948), Edward Small Productions, e outras companhias menores.

Phil Karlson

Seus melhores filmes foram os dramas criminais violentos e visualmente insinuantes, narrados em um estilo seco e objetivo: Os Quatro Desconhecidos / Kansas City Confidential / 1952, A Morte Ronda o Cais / 99 River Street / 1953, A Ilha do Inferno / Hell’s Island / 1954 e Cidade do Vício / The Phenix City Story / 1955. Karlson especializou-se nas cenas de ação brutais e no uso eficiente do close up para causar impacto nos momentos apropriados. Gostava de colocar em primeiro plano os rostos esmurrados e ensanguentados, porque achava que a violência devia ser mostrada tal como acontece na realidade (“Quando as pessoas são alvejadas, elas sangram”) e, depois de uma luta filmada pelo diretor, o público realmente tinha a noção de como duas pessoas podiam ser tão destrutivas. Seus heróis sofriam os danos físicos e psicológicos durante algum tempo, até que não aguentavam mais e reagiam com um furor irracional – para Karlson, os criminosos são a escória da sociedade e o crime deve ser totalmente destruído, daí a necessidade da contraviolência sempre presente nos seus filmes.

John Payne e Preston Foster em Os Quatro Desconhecidos

Em Os Quatro Desconhecidos desgostoso com os escassos proventos de sua aposentadoria e por ter sido compelido a requerê-la, Timothy Foster (Preston Foster), um policial de Kansas City, faz chantagem com três delinquentes – Harris (Jack Elam), Kane (Neville Brand) e Tony (Lee Van Cleef) – obrigando-os a executar seus planos para o assalto a um carro forte. Foster mantém o anonimato e os homens usam máscaras para que um não conheça a identidade do outro. Os ladrões utilizam uma van na fuga. Os policiais prendem o motorista de um carro idêntico, um ex-presidiário chamado Joe Rolfe (John Payne), interrogam-no brutalmente sobre o roubo e, depois o soltam, ao verificarem o engano. Rolfe obtém uma pista e chega à presença de Foster, desmascarando-o. Foster e Rolfe são homens amargurados. Foster define claramente os motivos pelos quais se tornou um criminoso: aposentou-se com proventos irrisórios, após passar vinte anos combatendo o crime, “vendo os bandidos sempre subindo na vida. Agora, quer uma compensação e vingança, inconformado com seu afastamento compulsório. Rolfe, por sua vez, foi formado pela guerra. Acusado injustamente de assalto, interrogado sob as luzes fortes da delegacia, ouve o comentário do Promotor Público sobre sua pessoa para um dos guardas: “Ele ganhou uma Medalha de Bronze e uma de Púrpura”. E responde rapidamente: “Tente comprar uma xícara de café com elas”. Tal como outros heróis noir. Rolfe é vítima do destino. Ao ser confrontado por ele, Harris lhe diz: “Não tínhamos nada contra você. Nem o conhecíamos. Apenas aconteceu assim”. Karlson teve em mãos uma história original e soube conduzí-la com o vigor exigido, explorando muito bem os primeiros planos como naquelas cenas em que Foster contrata seus cúmplices e nas de violência de uma maneira geral.

Jack Lambert e John Payne em A Morte Ronda o Cais

Em A Morte Ronda o Cais o ex-pugilista Ernie Driscoll (John Payne) dirige um táxi para sobreviver. Sua esposa, Pauline (Peggie Castle), é amante de Victor Rawlings (Brad Dexter), que acabara de roubar umas jóias. Rawlings vai com Pauline à loja de um receptador, Christopher (Jay Adler) para vender as jóias. Rawlings mata Pauline e esconde o corpo no táxi de Ernie. Com o auxílio de uma amiga, Linda (Evelyn Keyes), Ernie localiza o assassino e, mesmo ferido, consegue dominá-lo. A polícia chega a tempo de impedir que Ernie mate Rawlings de pancada. O que dá qualidade noir ao espetáculo, além do tema do herói acusado injustamente, são as obsessões e as frustrações dos seus personagens, a confusão entre aparência e realidade, a amargura, o desespero. Ernie queria ser um campeão, e o fato de não ter sido o deixa angustiado. Pauline trabalha em uma loja de flores e tem um problema semelhante. Na sua mente, casou-se com um pugilista, em vez de se dedicar à vida artística. “Poderia ter sido uma estrela”, lamenta. Linda e Rawlings também sonham com o sucesso. Linda julga-se uma grande atriz. Rawlings deseja partir para a França. Todos fracassam. Ernie diz a Pauline: “Uma chance para chegar ao topo. É a coisa mais importante do mudo”. Esta é uma fantasia que o filme destrói. Linda e Ernie só adquirem o direito a uma nova vida, quando reconhecem que suas fantasias são impossíveis de serem realizadas, quando aceitam seus limites. A ambiguidade se manifesta desde a primeira cena, quando a tela mostra uma luta de boxe. A câmera recua e vemos que se trata apenas de um videotape do combate realizado há três anos. Ela recua mais um pouco e notamos a cabeça de Ernie, assistindo a transmissão atentamente, quase sem ouvir a voz de Pauline que o chama para jantar.  Mais adiante, vemos a performance de Linda no teatro, enganando Ernie e a platéia, fazendo-os crer que matou um homem.

Em A Ilha do Inferno o ex-promotor público Mike Cormack (John Payne), que perdeu o emprego por ser alcoólatra e agora trabalha em um cassino, é contratado por Barzland (Francis L. Sullivan, um senhor aleijado de reputação duvidosa, para encontrar um rubi desaparecido. O motivo da escolha foi o fato de que sua ex-namorada Janet Martin (Mary Murphy) está envolvida com o homem que teria sabotado o avião que transportava a pedra preciosa. O filme começa de maneira original, com uma cena do final congelada, seguindo-se, depois de um corte também inusitado, o longo retrospecto. Se não fosse em cores, seria um filme noir, pois apresenta vários elementos típicos: trama complicada, narração em flashback e voz over, mulher fatal, violência, paixão. Alguém diz para o herói: “O amor é uma droga peculuar. Leva muito tempo para sair do seu sangue”.

Richard Kiley em A Cidade do Vício

Cidade do Vício é um dos filmes mais selvagens de Karlson, baseado em situações reais que ocorreram em Phenix City no Alabama, quando a cidade estava totalmente controlada por um sindicato de jogatina. A atmosfera de documentário dá aos fatos narrados uma impressão de autenticidade horripilante. O crime e a corrupção são mostrados com tanta crueza, são tão repulsivos (uma criança morta é jogada de um carro em movimento, um aleijado leva um tiro na boca), que o diretor não precisa fazer nenhum comentário explícito. A situação retratada no filme é uma metáfora para a apatia e o conformismo do cidadão americano médio. Apesar de uma vitória em pequena escala do jovem advogado John Patterson (Richard Kiley), o único que resolveu enfrentar os gângsteres, o filme termina com uma nota de desesperança e desespero. Além dos filmes citados  também merecem destaque outro drama criminal, Escândalo / Scandal Sheet / 1952, e um western, Sangue de Pistoleiro / Gunman´s Walk / 1958.

Broderick Crawford de costas e John Derek e Donna Reed de frente em Escândalo

No primeiro, após uma discussão com Charlotte (Rosemary DeCamp), a esposa que a abandonou anos atrás, Mark Chapman (Broderick Crawford), editor de um jornal de escândalos, agride-a, ela cai de mau jeito e morre. Steve Mc Cleary (John Derek), um jovem repórter discípulo de Chapman, e sua colega, Julie Allison (Donna Reed) cobrem o caso e, graças a um velho jornalista alcoólatra, Charlie Barnes (Henry O´Neill), que vem a ser assassinado por Chapman, acabam encontrando as provas de sua culpabilidade. Tal como no filme noir O Relógio Verde / The Big Clock / 1948 de John Farrow, um editor de publicação sensacionalista deixa seu principal repórter procurar um assassino que vem a ser ele próprio. No filme em questão, há uma outra ironia: Chapman ensinou tão bem seu método de jornalismo investigativo (embora marrom) para McCleary, que o dedicado discípulo acabou se tornando o instrumento de sua punição. O veterano homem de imprensa pode apenas observar com apreensão como a engrenagem que ele criou é manipulada pelo dinâmico pupilo e voltada contra si mesmo. Talvez este seja. O único traço noir no espetáculo, pois seu estilo é totalmente realista. Quando o cerco se fecha sobre o criminoso, temos a sensação de ter assistido a um fato real sem excessos sentimentais. A montagem concisa evidencia uma direção eficaz do princípio ao fim. Karlson soube também tirar bom proveito dos detalhes e do jogo fisionômico dos intérpretes, principalmente na cena da entrevista do mendigo com Chapman e na cena da morte de Barnes, esta última agraciada por um belo contraste de luz e sombra.

Van Heflin, Tab Hunter e James Darren em Sangue de Pistoleiro

No segundo, Lee Hackett (Van Heflin), rancheiro poderoso e brutal, tem dois filhos, Ed (Tab Hunter) e Davey (James Darren), que ele tenta forjar à sua imagem. Enquanto Davey é avesso à violência, Ed se torna progressivamente um fora-da-lei. Todo começa quando, durante uma perseguição de uma égua selvagem, Ed causa a morte de um mestiço., irmão de Clee Chouard (Kathryn Grant), a moça por quem Davey se apaixonara. Acusado de assassinato pelo agente dos índios, Ed consegue se livrar de uma condenação graças ao falso depoimento de um chantagista, Silverts (Ray Teal). Porém, comete outros crimes e acaba sendo morto pelo próprio pai que, a essa altura, compreendera os erros cometidos na educação dos filhos. Antigo pioneiro, Lee manteve sua confiança nas armas de fogo e seu ódio dos índios. Um dos filhos herdou seu orgulho e sua pontaria, mas não o senso de honra: o outro, jovem pacífico, atraiu o desprezo paterno por ter se interessado por uma mestiça. Esse drama familiar é retratado com vigor por Karlson, sempre atento para que a ação seja movimentada.

JOSEPH H. LEWIS, CINEASTA ESTILISTA DO FILME B

Por falta de oportunidade ou ambição ele teve sua carreira quase inteiramente dominada pelos filmes B, porém soube transformar as limitações orçamentárias em virtude. Distinguiu-se pela inteligência e originalidade na maneira de colocar a câmera e de movimentá-la. Suas obras mais expressivas não ficam nada a dever aos melhores filmes de muitos diretores de filmes classe A. Mesmo nos seus filmes mais fracos, surgem aqui e ali algumas tomadas brilhantes ou movimentos de câmera complexos e inesperados.

Joseph H. Lewis

Joseph H. Lewis (1907-2000) nasceu no Brooklyn, Nova York, filho de imigrantes russos judeus. Cresceu no Upper East Side e estudou na DeWitt Clinton High School no Bronx. Quando seu irmão Ben foi para Hollywood, ele o acompanhou com a esperança de se tornar ator. Ben lhe arrumou emprego como montador na Mascot em 1935, onde depois passou a ser supervisor de montagem, prosseguindo nesta mesma função depois na Republic.

Lewis co-dirigiu (com Crane Wilbur) seu primeiro filme, Segredos Navais / Navy Spy / 1937, distribuído pela Grand National. Seu primeiro filme como único diretor foi Coragem Cativante / Courage of the West / 1937, estrelado pelo cowboy Bob Baker.  Sua notável intuição cinematográfica manifestou-se desde este modestíssimo western da Universal. “Neste filme, o presidente Abraham Lincoln participava de uma conferência no auge da Guerra Civil. Ele era o único que falava, mas eu não queria mostrar o seu rosto. Comecei a fazer um movimento circular que dava várias voltas em torno da mesa. No final, o espectador devia se perguntar: ‘Mas quem é que está falando?’. Então ele via o presidente Lincoln: foi um plano revelador”, contou Lewis numa entrevista.

Ele fez mais três westerns com Baker, três com Charles Starrett e dois com Bill Elliott e, em seguida, três exemplares da série East Side Kids, seguindo-se vários filmes modestos (inclusive um da série The Falcon, O Falcão em San Francisco / The Falcon in San Francisco / 1945), até realizar seus primeiros trabalhos importantes, Trágico Alibi / My Name is Julia Ross / 1945, Satã Passeia à Noite / So Dark the Night / 1946 e O Czar Negro / The Undercover Man / 1949.

Nine Foch em Trágico Alibi

Em Trágico Alibi Julia Ross (Nina Foch), jovem americana desempregada em Londres, procura uma agência onde precisam de uma secretária particular. Na manhã seguinte, ela desperta em uma mansão isolada na Cornualha, onde vivem Mrs. Williamson (Dame Way Whitty) e seu filho Ralph (George Macready). Todos a chamam de Marian, a nora de sua patroa, e a tratam como se fosse meio louca. Prisioneira, Julia vive um longo suplício, uma série de decepções cruéis, e cai pouco a pouco no desespero. O filme aborda temas noirs clássicos como os de identidade instável, amnésia e loucura. As imagens de solidão, de aprisionamento, de abandono gradual da vítima aos seus carrascos, se acumulam na tela com uma notável economia de meios. Lewis enfatiza a situação da moça por meio de elementos estritamente cinematográficos (v. g. a protagonista enquadrada atrás da janela com grades etc.).

Steven Geray (ao centro) em Satã Passeia à Noite

Em Satã Passeia à Noite Henri Cassin (Steven Geray), célebre detetive particular parisiense, de férias na pequena cidade de Sainte-Margot, apaixona-se por uma camponesa, que se torna a primeira de uma série de vítimas de assassinato. O detetive investiga os crimes e chega à conclusão de que o culpado é ele mesmo. Variação estranha e original sobre o tema da dupla personalidade, passada em um ambiente rural francês (muito falso), cuja placidez contrasta com os horríveis fatos ali ocorridos. O tormento interior do personagem autodividido é evocado através de numerosos planos, nos quais se interpõem entre ele e a câmera, os objetos, os reflexos, as sombras e um vão envidraçado, que Cassin quebra no final, tendo decifrado o segredo do seu eu mais íntimo.

Glenn Ford em O Czar Negro

Em O Czar Negro agentes do Departamento do Tesouro tentam obter provas de que um figurão do submundo, “Big Fellow”, está sonegando impostos. Frank Warren (Glenn Ford) e seus homens começam a interrogar pessoas que têm acesso aos livros contábeis do gângster. O primeiro contato, Manny Zanger (Robert Osterloh), é morto logo após ter se encontrado com Warren. Quando um segundo informante, Salvatore Rocco (Anthony Caruso, também é assassinado, todo o esquema da investigação parece destinado ao fracasso. Entretanto, a mãe de Salvatore decide cooperar, entregando a Warren o livro comprometedor que seu filho mantinha escondido. O espetáculo segue a linha realista, laudatória (homenagem aos esforçados agentes do Fisco) e até patriótica (elogio da velha imigrante italiana ao grande país da democracia) dos semidocumentários criminais da época. A inteligência visual de Lewis é perceptível na elipse usada na cena da morte de Zanger, vendo-se apenas o pacote de biscoitos atirado ao meio-fio; na fuga desesperada de Rocco pelas ruas cheias, perseguido por dois capangas do gângster e, atrás destes, a pequenina Maria (Esther Minciotti) gritando pelo pai; no murro que sai da câmera e atinge o queixo de Warren, causando um sobressalto no público; no atropelamento de O’Rourke (Barry Kelley), após certo suspense durante a caminhada ao lado de Warren, seguidos pelos bandidos de carro.

O ápice da criatividade e imaginação de Lewis ocorreria em Mortalmente Perigosa / Gun Crazy / 1950 e Império do Crime / The Big Combo / 1955.

John Dall e Peggy Cummings em Mortalmente Perigosa

Em Mortalmente Perigosa Bart Tare (John Dall) é fascinado por armas de fogo desde menino. Em um parque de diversões itinerante, Bart é imediatamente atraído por Annie Laurie Starr (Peggy Cummings), uma bela artista que faz um número de tiro ao alvo. Ele a vence em um concurso de tiro, sendo contratado para formar uma dupla no espetáculo. Os dois se casam e, quando ficam desempregados, cometem uma série de roubos à mão armada. Procurados pela polícia, eles vão se esconder na cidade natal de Bart. Seus amigos de infância tentam convencê-los a se entregar, porém os dois fogem e se embrenham-no pântano, onde são metralhados pelos policiais. Os protagonistas de Lewis são unidos por estranha afinidade: a fascinação por armas de fogo e forte atração física. Como diz o dono do parque de diversões: “os dois se olham como um casal de animais selvagens”. Sob influência de Annie Laurie, Bart envolve-se em uma vida de crimes e, apesar de seus conflitos de consciência, não condena ou abandona a companheira Quando Laurie diz que vai embora, Bart exclama: “Não”! Vamos ficar juntos! Como as armas e as munições ficam juntas”. O filme está cheio de cenas admiráveis – o roubo do revólver da vitrine da loja durante a chuva; o concurso de tiros no parque de diversões com seu simbolismo erótico; o assalto ao banco visto em um único plano-sequência filmado com a câmera colocada no assento  traseiro do carro, fazendo-nos participar da ação; o roubo d fábrica de empacotamento de carnes com a fuga frenética através das carcaças de bois dependurados no teto enquanto o alarme não para de tocar;  a separação dos amantes, cada qual dirigindo seu carro em direções opostas, para um imediato reencontro extático no meio da estada; o desenlace trágico nitidamente expressionista, no meio do nevoeiro -, todas expostas com impressionante economia visual e expressividade.

Richard Conte em O Império do Crime

Cena final no aeroporto em O Império do Crime

Em Império do Crime o tenente Leonard Diamond (Cornel Wilde) investiga obsessivamente as atividades criminosas de um gângster chamado Mr. Brown (Richard Conte). Susan Lowell (Jean Wallace), a amante de Brown, tenta o suicídio, mas é salva a tempo e levada para o hospital. Diamond ouve um murmúrio dela sobre Alícia (Helen Walker), a primeira mulher de Brown e testemunha importante. Os dois capangas do gângster, Fante (Lee Van Cleef) e Mingo (Earl Holliman), arrombam a porta do apartamento de Diamod e atiram, mas só conseguem matar Rita (Helene Stanton), uma dançarina que às vezes passava a noite com o detetive. Susan lê a notícia da morte de Rita, decide cooperar e Brown é preso. A primeira coisa que chama atenção neste filme de gângster é a mistura de sexo e violência, também notada em Mortalmente Perigosa. Primeiramente a perversidade sexual no relacionamento entre Susan e Brown, bem representada por aquela cena em que ele acaricia os ombros dela e vai descendo pelo seu corpo até sair do quadro enquanto vemos a expressão de prazer no rosto da mulher. Os exemplos de violências são numerosos: a tortura de Diamond com o som altíssimo do rádio no seu ouvido; a bomba que Brown deixa estourar na mão dos dois capangas e a eliminação de McCLure (Brian Donlevy), um dos pontos altos da direção. Nesta cena memorável, McClure, o segundo no comando da organização, atrai Brown até o hangar do aeroporto secreto, pensando que os dois capangas estão trabalhando para ele e vão matar Brown. Acontece que os pistoleiros apontam suas armas para McClure, em vez de Brown. Procurando refúgio junto à parede, McClure pede misericórdia. Brown arranca seu aparelho de surdez e diz: “Vou lhe fazer um favor. Você não vai ter que ouvir os tiros”. A morte de McClure é então descrita do ponto de vista da vítima e nós vemos apenas os clarões das rajadas silenciosas das metralhadoras.

Antes de encerrar sua carreira cinematográfica e passar para a televisão, Lewis dirigiu quatro westerns: Obrigado a Matar / Lawless Street / 1955, O Fantasma do General Custer / 7th Cavalry / 1956, Ódio Contra Ódio / The Halliday Brand / 1957 e Reinado do Terror / Terror in a Texas Town / 1958. O primeiro é melhor do que o segundo, embora apresente defeitos no trecho final. São os outros dois que merecem destaque.

Ward Bond em Ódio Contra  Ódio

Em Ódio Contra Ódio o patriarca tirânico da dinastia Halliday, Big Dan (Ward Bond), é o delegado de uma pequena comunidade.  Por causa do seu preconceito, ele nada faz para impedir o linchamento do mestiço Jivaro (Christopher Dark), que está namorando sua filha Martha (Betsy Blair). O filho mais velho do delegado, Daniel (Joseph Cotten), consola Chad Burns (Jay C. Flippen), o pai branco de Jivaro, cuja inocência foi depois confirmada, e passa a hostilizar Big Dan.  Western melodramático e expressionista, levantando vários problemas como racismo, justiça pelas próprias mãos, lealdade filial, etc. Lewis arma algumas cenas de intensidade dramática (o linchamento, a morte de Chad, a briga de socos entre Daniel e seu pai) e, no final, uma iminência de tragédia, quando Big Dan, moribundo, ainda se levanta da cama armado para matar o filho, antes de sofrer um colapso.

Sterling Hayden em Reinado de Terror

Em Reinado de Terror um marinheiro sueco, George Hansen (Sterling Hayden), chega a Prairie City no Texas e encontra o pai morto misteriosamente. Ninguém na cidade, nem mesmo o delegado, deseja tomar qualquer providência a respeito. Hansen afinal descobre que um grileiro, Ed McNeill (Sebastian Cabot), com o auxílio do pistoleiro Johnny Gale (Ned Young), está forçando os fazendeiros a vender suas terras, porque sabe que nelas existe petróleo. O filme é sempre lembrado pelo famoso clímax, no qual o sueco usa seu arpão para matar o vilão; mas, além deste final extraordinário, há outras cenas que mostram o incrível senso cinematográfico de Lewis, graças ao qual valorizava suas modestas realizações. Podemos citar a sequência, inteiramente muda, em que Hansen abre a porta da casa do mexicano, vê o caixão coberto de flores e depois a mulher e os filhos. Sem dizer uma palavra, ele pega o harpão e sai, ouvindo-se apenas o choro do bebê que acabara de nascer.

EDDIE CANTOR

Ele foi um comediante, cantor e dançarino americano de olhos grandes e expressivos, grande defensor do humor étnico. “Quando esta espécie de humor inofensivo foi barrada, disse ele para o Los Angeles Times, “perdeu-se metade da diversão do show business”. Com o rosto pintado de preto ou exercendo seu magnífico humor judaico, o dinâmico comediante cantava suas canções, dançando, batendo palmas, arregalando os olhos, o que lhe valeu o apelido de “banjo eyes”, quando o artista Frederick J. Garner o caricaturou com grandes olhos redondos, assemelhando-os à panela em forma de tambor de um banjo.

Eddie Cantor

Isidore Itzkowitz ou Edward Israel Iskowitz (1892-1964) – ele reinvindicou ambos os nomes durante sua vida – filho de imigrantes russos, ficou órfão aos dois anos de idade e foi criado por sua avó no East Side de Nova York. Aos seis anos de idade sua avó registrou-o sob seu nome, Kantrowitz, que o tabelião anotou como “Kantor”. Quando ficou mais velho, ele mudou para “Cantor”. Começou a se chamar “Eddie” porque sua namorada (e futura esposa) Ida Tobias, gostava do jeito que soou nele.

Após trabalhar como garçom cantor em Coney Island, juntou-se à trupe de Gus Edwards e trabalhou no vaudeville, apresentando-se no Clinton Music Hall de Nova York em 1907.Tornou-se muito conhecido no palco do vaudeville em números usando frequentemente o rosto pintado de preto. Em 1914 foi para Londres para aparecer na revista Not Likely, retornando no irromper da guerra, a fim de atuar com Lila Lee no número Cantor e Lee. Como artista solo Cantor se exibiu no Ziegfeld Follies de 1917, 1918 e 1919 (mais tarde nas versões 1923 e 1927) e isto fez dele um astro. Foi o protagonista em Kid Boots (1923) e Whoopee! (1928) tendo sido Banjo Eyes / 1941, seu último espetáculo na Broadway.

Eddie Cantor em Whoopee!

Cantor em Meu Boi Morreu

Cantor em Escândalos Romanos

E O Espetáculo Continua

Keefe Brasselle em Nas Asas da Fama

Ele era um cantor único e estiloso de canções como “Margie”, “Yes sir, that’s my baby”, “Dinah”,“Ida”,“Makin’ whoopee” “Now’s the time to fall in love”, “Josephine”, “If you knew Susie” e sucessos semelhantes dos anos vinte. Iniciou sua carreira cinematográfica ainda no cinema mudo, aparecendo em Casar e Descasar / Kid Boots / 1926 ao lado de Clara Bow e Encomenda Postal / Special Delivery / 1927ao lado Jobyna Ralston. Seguiram-se no cinema sonoro: Glorifying the American Girl / 1930, Whoopee! / Whoopee! / 1930 ( filmado em Technicolor de duas cores), O Homem do Outro Mundo / Palmy Days / 1931, Meu Boi Morreu / The Kid from Spain /1932, Escândalos Romanos / Roman Scandals / 1933 (estes últimos quatro beneficiados pela direção do números musicais por Busby Berkeley) , Abafando A Banca / Kid Millions / 1934, Cai Cai, Balão / Strike me Pink / 1936, Ali Babá é Boa Bola / Ali Baba Goes to Town / 1937, Mamãe e Quero / Forty Little Mothers / 1940 (dirigido por Busby Berkeley), E O Espetáculo Continua / Show Business / 1940 (sucesso de bilheteria produzido por Cantor), Um Sonho em Hollywood / Hollywood Canteen / 1940, Graças a Minha Boa Estrela / Thank Your Lucky Stars / 1943, Você Conhece Susie? / If You Knew Susie / 1948, e A História de Will Rogers / The Story of Will Rogers / 1952. Um filme sobre sua vida, Nas Asas da Fama / The Eddie Cantor Story foi realizado em 1953 com Cantor proporcionando a voz e Keefe Brasselle o rosto.

Cantor e Deanna Durbin no programa de rádio

Cantor estreou no rádio em um programa de Rudy Vallee em fevereiro de 1931 e, em setembro do mesmo ano, iniciou seu próprio programa de comédia e variedades, o popularíssimo “The Eddie Cantor Show” (também conhecido como The Chase and Sunborn Hour” e depois “Time to Smile”). Entre os artistas que dele participaram estavam as cantoras Dinah Shore, Deanna Durbin e Bobby Breen (futuro astro mirim da RKO); o violinista Dave Rubinoff; os comediantes Bert Gordon como o “russo desmiolado” e Harry Einstein como o grego Nick Parkyakarkas; a jovem ventríloca Shirley Dinsdale; e Hattie McDaniel, a “Mammie” de … E O Vento Levou.

Em 1950 Cantor foi para a televisão com The Colgate Comedy Hour. Depois, foi o apresentador da série The Eddie Cantor Comedy Theater, pouco antes de sua morte em 1964.

Além do seu trabalho no rádio, no teatro, no cinema e na televisão Cantor escreveu letras para muitas canções e vários livros (v.g. Take My Life, The Way I See It, My Life Is In Your Hands).

Ele teve um grande interesse em atividades políticas e sociais. Ajudou a desenvolver a March of Dimes, organização sem fim lucrativo para melhorar a saúde de mães e bebês. Foi o fundador do Actor’s Equity, the American Federation of Radio Artists (AFTRA), The Screen Actors Guild, era um líder declarado em assuntos judaicos. O Estado de Israel premiou-o com a Medal of Valor em 1962 por suas conquistas extraordinárias em nome daquela nação. Em 1956, foi honrado com um Oscar especial “pelos serviços prestados à indústria cinematográfica”. E, em 1964, o Presidente Johnson concedeu-lhe a U.S. Service Medal em reconhecimento de seu trabalho humanitário.

ELLERY QUEEN NO CINEMA, NO RÁDIO E NA TV

Ellery Queen é o pseudônimo de dois autores americanos Manford Lepofsky (1905-1971), que passou a se chamar Manfred Blennington Lee e Daniel Nathan (1905-1982), que passou a se chamar Frederic Dannay, ambos nascidos no Brooklyn, Nova York. Manford e Daniel eram primos que trabalhavam em publicidade e se associaram em 1928 para participar de um concurso de romances policiais organizado pela revista McClure’s. Eles concorreram com o livro The Roman Hat Mystery, publicado no ano seguinte por um grande editor. Seu herói era um detetive particular, chamado Ellery Queen, ele próprio escritor de romances policiais, que foi também o pseudônimo conjunto que seus autores escolheram para assinar sua obra.

Os primos Manford e Daniel

Surgiram então vários crimes contados sob títulos insólitos e brilhantemente elucidados por Queen e seu pai, o inspetor Richard Queen, pois foi outra originalidade dos autores terem flanqueado Ellery de seu pai, que era policial. Outros ingredientes dos romances são um crime incomum, uma série complexa de pistas e aquilo que viria a se tornar a parte mais famosa de alguns romances: Ellery’s Challenge to the Reader (O Desafio de Ellery ao Leitor). Ou seja: em uma página próxima do fim do livro, o autor informava o leitor que ele já possuía todas as pistas na posse de Ellery e o desafiava a tentar solucionar o mistério, antes da leitura do restante da obra.

Em 1941, Manfred e Dannay criaram a Ellery Queen´s Mystery Magazine, revista que publicava o que havia de melhor em ficção policial da época, tendo apresentado um grande úmero de excelentes autores. No Brasil, a revista Mistério Magazine de Ellery Queen foi publicada primeiramente – de 1949 a 1975 – pela Editora Globo; houve uma interrupção de janeiro a outubro de 1976; a partir de novembro de 1976 a revista passou a ser publicada em São Paulo, pela Idéia Editorial, do grupo da Editora Três.

Conforme nos lecionou Paulo de Medeiros e Albuquerque (O Mundo Emocionante do Romance Policial (Livraria Franciso Alves Editora S.A,1970), filho do Inspetor Richard Queen, da Polícia Metropolitana de Nova Iorque, Ellery Queen derrota sempre por seu raciocínio os argumentos apresentados pelo próprio pai. Sem pertencer diretamente dos quadros da polícia, Ellery aproveita dele todo o serviço de rotina, terminando por encontrar, com essa ajuda, o criminoso que, na maioria das vezes, não é o elemento suspeito pelas autoridades policiais. Em 3 de abril de 1971, Manfred B. Lee, um dos primos autores, falece terminando dessa forma a dupla famosa.

Ellery Queen eclipsou um outro herói dos autores, Drury Lane, antigo ator shakespeareano que ficou surdo e se tornou detetive amador. Foi uma tentativa dos dois primos de criar outro detetive sob o pseudônimo de Barnaby Ross, surgindo daí quatro romances: The Tragedy of X e The Tragedy of Y, ambos em 1932; em 1933, mais dois, completando a tetralogia: The Tragedy of Z e Drury Lane’s Last Case.

As aventuras de Ellery Queen foram levadas ao rádio, cinema e televisão.

 

Santos Ortega, Hugh Marlowe e Maria Shockley num dos programas no rádio

NO RÁDIO

Na série do Rádio, The Adventures of Ellery Queen, a ação era interrompida perto do final e um painel de supostos especialistas tentava descobrir quem era o assassino. Os especialistas vinham do mundo do entretenimento, adicionando uma camada de glamour ao thriller policial padrão. Entre as celebridades que participaram do painel estavam, por exemplo, Gypsy Rose Lee, John Wayne, Jane Russel, Orson Welles Milton Berle, Bela Lugosi. Nos primeiros quatro meses, somente a escritora Lillian Hellman acertou em cheio quem era o culpado. Houve cinco transmissões da série entre 1939 e1948 com vários atores fazendo sucessivamente o papel de Ellery Queen: Hugh Marlowe, Carleton Young. Sydney Smith e Lawrence Dobkin.

William Gargan e Margaret Lindsay em A HerdeiraDesaparecida

Charley Grapewin, Margaret Lindsay e Ralph Bellamy em Mistério da Capa Espanhola

NO CINEMA

Infelizmente as histórias com o personagem criado em 1928 pelos primos não foram bem reproduzidas na tela. Nenhum dos atores que interpretaram Ellery (Donald Cook em Mistério da Capa Espanhola / The Spanish Cape Mystery / 1935; Eddie Quillan em The Mandarin Mystery / 1936; Ralph Bellamy em A Linda Impostora / Ellery Queen, Master Detective / 1940, Jóias Falsas / Ellery Queen´s Penthouse Mystery / 1941, A Sombra da Morte / Ellery Queen and the Perfect Crime / 1941, Quadrilha Diabólica / Ellery Queen and the Murder Ring / 1941; William Gargan em Herdeira Desaparecida / A Close Call for Ellery Queen / 1942; Arriscando Com a Sorte / Desperate Chance for Ellery Queen / 1942; Contrabando de Guerra / Enemy Agents Meet Ellery Queen / 1942) se aproximaram nas suas caracterizações do personagem descrito nos livros.

Jim Hutton e David Wayne numa das  séries de TV

NA TELEVISÃO

Nas series de televisão – The Adventures of Ellery Queen (1950-1951) com Lew Bowman; The Adventures of Ellery Queen (1954 -1956) com Hugh Marlowe; The Further Adventures of Ellery Queen (1958-1959) 25 episódios com George Nader e 12 episódios com Lee Philips; Ellery Queen: Don´t Look Behind You (1971) com Peter Lawford; Ellery Queen (1975-1976) com Jim Hutton (e David Wayne como seu pai) – a definição do personagem também não correspondeu às expectativas dos leitores dos romances policiais. Neste último espetáculo, foi retomado o “desafio ao leitor”, quando Hutton, como Queen, volta-se para a câmera e pergunta aos telespectadores se, depois de examinar todas as pistas oferecidas, eles descobriram quem é o culpado.

MÚSICA DE FILME

Hoje vista como um importante complemento artístico do cinema, a idéia de ter uma música de fundo surgiu em primeiro lugar da necessidade prática de cobrir o ruído dos primeiros projetores. Na era do cinema silencioso pianistas eram contratados para fornecer um acompanhamento contínuo, mais ou menos sem relação com a história. Logo, pianistas mais imaginativos começaram a improvisar música que combinava com a ação e ajudava a construir a atmosfera de uma cena. Então se tornou um costume fornecer uma partitura de piano especialmente composta junto com o filme e mais tarde, quando orquestras começaram a substituir pianistas, partituras completas foram escritas e divulgadas. A primeira música composta especificamente para um filme é geralmente considerada aquela feita para O Assassinato do Duque de Guise / L´Assassinat du Duc de Guise / 1908, escrita pelo compositor clássico Camille Saint-Saëns. As primeiras partituras completas escritas para filmes de Hollywood foram as de Victor Schertzinger para Civilização / Civilization e as de Victor Herbert para The Fall of a Nation, ambas em 1916.

Victor Herbert

Com a chegada do som, as orquestras foram dispensadas, mas o hábito da música de fundo estava enraizado e se tornou parte integral da trilha sonora.  Surgiu assim uma nova geração de compositores especializados com uma compreensão de como uma música adequada podia dar apoio artístico à história. Alguns dos primeiros compositores como Erich Wolfgang Korngold e Max Steiner foram treinados na tradição clássica vienense. Alguns, como Alfred Newman, vieram dos teatros da Broadway ou do Tin Pan Alley.

Erich Wolfgang Korngoid

Max Steiner

Alfred Newman

Nos anos 30 a música de cinema foi reconhecida como um ramo importante da produção musical. Uma das primeiras partituras para cinema aclamada por critérios puramente musicais foi escrita para King Kong / King Kong / 1933 por Max Steiner, que mais tarde ganhou o Oscar da Academia pela partitura de O Delator / The Informer / 1935 e … E O Vento Levou / Gone With the Wind / 1939. O status da música de filme cresceu nas mãos de compositores-maestros como Victor Young, Franz Waxman, Miklos Rozsa e Bronislaw Kaper, e seus nomes nas listas dos créditos foram logo considerados uma atração importante.

Victor Young

Franz Waxman

Miklos Rozsa

A indústria cinematográfica britânica seguiu o exemplo com o score escrito por Arthur Bliss para a produção de Alexander Korda, Daqui a Cem Anos / Things to Come / 1936, música admirável que foi ainda tocada separadamente e gravada. Houve outro precedente para o envolvimento de compositores acadêmicos quando Sergei Prokofiev escreveu os scores completos para os filmes russos Poruchik Kizhe / 1934 e Alexander Nevsky / Alexandr Nevsky / 1938. O exemplo de Bliss e Prokofiev, encorajou outros compositores importantes a emprestar seus talentos para o cinema, muitas vezes com resultados memoráveis. William Walton começou com Major Barbara / Major Barbara / 1941 e Querer e Vencer / The Foreman Went to France / 1942, antes de escrever os scores para os filmes de Laurence Olivier Henrique V / Henry V / 1945 e Hamlet / Hamlet / 1948. Ralph Vaughan Williams escreveu música para Invasão de Bárbaros / 49th Parallel / 1941 e seu score para Epopéia Trágica / Scott of the Antartic / 1948 formou a base para a sua Sinfonia Antartica. William Alwyn e Malcolm Arnold entraram entusiasticamente no mundo da música de filme juntando-se a outros compositores como Richard Addinsell, Charles Williams, Hans May e Mischa Spoliansky.

William Walton

Nos Estados Unidos compositores eminentes como Aaran Copland (v. g. com The City / 1939; Carícia Fatal / Of Mice and Man / 1939, Nossa Cidade / Our Town / 1940, Estrela do Norte / The North Star / 1943, Tarde Demais / The Heiress / 1948) e Virgil Thomson (v. g. com The Plow that Broke the Plains / 1936, A História de Louisiana / Louisiana Story / 1948) estavam entre aqueles que contribuíram com scores importantes que ajudaram a elevar o nível da música de filme. Algumas vezes um grande tema orquestral podia ser extraído de um score para uma performance individual como no filme Luar Perigoso / Dangerous Moonlight / 1942 o concerto executado por Anton Walbrook (o pianista húngaro Louis Kentner na verdade é quem estava tocando).  No cinema americano, houve algo equivalente:  uma peça musical estilo-concerto que funciona dentro do contexto do filme como foi o caso do concerto que Miklos Rozsa forneceu para Quando Fala o Coração / Spellbound / 1945. O uso de um tema breve, mas persistente, como um leit motif (motivo condutor) durante todo o desenrolar do filme recebeu destaque notável, por exemplo, em O Terceiro Homem / The Third Man / 1949 de Carol Reed sob a forma do tema “Harry Lime”, composto e tocado em uma cítara por Anton Karas, que marca a presença do personagem vivido por Orson Welles.

Aaron Copland

Elmer Bernstein

Henri Mancini

Nos meados dos anos cinquenta o “big band motif” estava em alta, iniciado por Elmer Bernstein em O Homem do Braço de Ouro / The Man With the Golden Arm / 1955, moda seguida por Henry Manicini com sua música para o teledrama Peter Gunn (1958-1961) e numerosos filmes. No início da década de setenta scores influenciados pelo jazz por compositores como Quincy Jones e Lalo Schiffrin tornaram-se um pano de fundo normal para filmes com temas modernos. Quando os filmes se tornaram mais internacionais, nomes como Michel Legrand, Ennio Morricone e Francis Lai emergiram da Europa. No final dos anos sessenta e início dos anos setenta houve uma grande onda de uso dos chamados temas “clássicos”, notadamente a impressionante abertura Also sprach Zarathusta da ópera de Richard Strauss para 2001: Uma Odisséia no Espaço / 2001, a Space Odyssey / 1968 e a música de Gustav Mahler para A Morte em Veneza / Death in Venice / 1971.

Michel Legrand

Ennio Morricone

Quando a moda mudou e a pop music prevaleceu na produção musical corrente, o rock e suas ramificações passaram a ser fortemente usados na trilha sonora como em A Primeira Noite de um Homem / The Graduate / 1967, Sem Destino / Easy Rider / 1969 ou Perdidos na Noite / Midnight Cowboy / 1969. O rock emergira primeiramente como um ingrediente incidental do filme Sementes de Violência / The Blackboard Jungle /1954, seguindo-se Ao Balanço das Horas / Rock Around the Clock / 1955, Música Alucinante / Don´t Knock the Rock / 1956 e o filmes com Elvis Presley como Ama-me com Ternura / Love Me Tender / 1956 e Prisioneiro do Rock and Roll / Jailhouse Rock / 1957.

Foi nos anos cinquenta que as canções tema começaram a ficar quase tão importantes quanto os filmes. A idéia veio dos tempos do cinema mudo. As primeiras grandes canções foram “Charmaine” de Erno Rapee e Lew Pollack e “Diane” usadas em Sangue por Glória / What Price Glory / 1926 e Sétimo Céu / Seventh Heaven / 1927. A canção título de Ramona / Ramona / 1928 tornou-se um grande êxito em turnês promocionais através dos EUA cantada por sua atriz Dolores del Rio. O primeiro grande êxito em um filme falado foi “Pagan Love Song”, cantada por Ramon Novarro em O Pagão / The Pagan / 1929 e escrita por Nacio Herb Brown e Arthur Freed.  Dois exemplos notáveis de velhas canções que ganharam um novo sopro de vida em filmes de sucesso foram “As Time Goes By”, composta por Herman Hupfield em 1931 quando foi ouvida em Casablanca / Casablanca / 1942 e “Moonglow”, composta por Will Hudson e Irving Mills em 1934 quando revivida em Férias de Amor / Picnic / 1963. Nos anos cinquenta a canção tema do filme era mais do que obrigatória, geralmente ouvida primeiramente durante a apresentação dos créditos por um cantor popular que não aparecia no filme como foi o caso de Frank Sinatra em A Fonte dos Desejos / Three Coins in the Fountain / 1954.

Dimitri Tiomkin

Maurice Jarre

John Williams

Não podemos esquecer Dimitri Tiomkin ganhador de 3 Oscar pelas partituras de Matar ou Morrer / High Noon/ 1952, Um Fio de Esperança / The High and the Mighty  / 1954  e O Velho e o Mar / The Old Man and the Sea / 1958 e de melhor canção original por The Ballad of High Noon; Maurice Jarre, vencedor do Oscar de Melhor Música pelas partituras de Lawrence da Arábia  / Lawrence of Arabia / 1962  e Doutor Jivago / Doctor Zhivago / 1965;  de John Williams, mais conhecido pela sua colaboração com Steven Spielberg e George Lucas. Ele foi indicado 52 vezes para o Oscar de Melhor Música e saiu vencedor 5 vezes, só perdendo para Alfred Newman, indicado 45 vezes, mas  saindo vencedor 9 vezes.