EDDIE POLO, O ROULLEAUX

janeiro 11, 2018

Eddie foi um dos ídolos mais famosos dos espectadores de cinema dos anos dez e vinte no Brasil, desde que surgiu na tela do Cinema Iris na rua da Carioca, RJ no seriado mudo A Moeda Quebrada / The Broken Coin / 1915. Sem ser bonito, sem fazer papéis de galã romântico, Eddie Polo (1875-1961) dominou a cidade: não só o público infantil, que vibrava com ele, mas também o adulto, que admirava suas proezas audaciosas e suas brigas fenomenais, nas quais pegava um bandido, levantava- no ar, e o atirava longe com uma facilidade incrível.

Eddie Polo

Algumas fontes indicam que Eddie nasceu em San Francisco, Califórnia, com o nome de Edward Wyman, mas o mais provável é que veio ao mundo como Eddie Weimer em Viena, Austria, no seio de uma família de artistas de circo, que excursionava pela Europa. Os negócios da trupe não iam bem e, aos seis anos de idade, ele passou por um período de treinamento com Henry Wolf, astro do mundo circense europeu. Passados cinco anos, Eddie, fugiu do circo de Wolf e montou por conta própria alguns espetáculos; eventualmente, foi parar na Inglaterra, onde se infiltrou como clandestino em um navio cargueiro, e rumou para os Estados Unidos (cf. Kalton C. Lahue, Bound and Gagged, The Story of the Silent Serials, A. S. Barnes, 1968).

Eddie Polo

Reproduzo aquí trechos de uma entrevista de Eddie à imprensa, que pode ter sido inventada pela publicidade da Universal: ”… Aos quatro anos eu já andava, com as mãos, de cabeça para baixo, mas não me lembro de quando comecei a dar pulos e cambalhotas no ar … Fui o primeiro homem a aparar um acrobata depois de uma tríplice cambalhota no ar! … Uma vez em Paris, fiz um barulho enorme com um aeroplano e um pára-quedas … Subí no aeroplano a mais de mil pés e depois deixei-me cair de pára-quedas … No cinema luto de verdade! Alguns ensaiadores, no que diz respeito a cena de violência, contentam-se com lutas impressionistas, mas os da Universal, insistem sempre no maior realismo para os seus filmes em séries. Por isso quando eu me bato com doze homens numa grande cena, eu luto de verdade, empregando tudo quanto sei e posso da nova arte de boxing, esforçando-me deseperadamente pela vitória, como pede o argumento”

Eddie Polo

Após dezessete anos de sua vida passados como trapezista sob a tenda do Circo Barnum and Bailey e depois do Ringling Brothers, Eddie resolveu se transferir para o vaudeville no Olympic Theater em Nova York. A esta altura, ele havia se casado com Pearl Grant, ex-artista de circo, com a qual teve uma filha (Malvina, que posteriormente apareceu em alguns filmes mudos, sendo mais lembrada como Marietta Ventucci, a jovem débil mental violentada pelo personagem de Erich von Stroheim em Esposas Ingênuas / Foolish Wives / 1922 e como Paulette em Casamento ou Luxo / A Woman of Paris / 1923 de Charles Chaplin), e começou a pensar em arranjar um emprego, que lhe desse segurança financeira.

Malvina Polo e Stroheim em Esposas Ingênuas

Com este propósito, Eddie se aproximou do cinema, começando por arranjar um pequeno papel na série Slippery Slim da Essanay. Em 1914, ingressou na Universal atuando algum tempo como stuntman em algumas comédias (v. g. Cupid in a Hospital, de Henry Lehrman, com Billie Ritchie). Quando se contundiu em uma cena arriscada, Grace Cunnard e Francis Ford, que estavam preparando o seriado A Moeda Quebrada em 22 episódios, confiaram-lhe alguns serviços ocasionais (em Os Campbell Chegam ou A Revolução nas Índias em 1857/ The Campbells are Coming, The Hidden City e Nabbed, todos de 1915) e depois, como Eddie era um artista de circo experiente e bom acrobata, eles o incluiram no seriado.

A intriga de A Moeda Quebrada, diz respeito a uma moeda, na qual está um mapa, que levaria seu dono a um imenso tesouro. O problema que põe a narrativa em andamento é o fato de que a moeda tem duas partes: uma não vale nada sem a outra.A jornalista Kitty Gray (Grace Cunard) comprou uma parte da moeda em uma loja de curiosidades e, ao saber de seu possível valor e interessada em escrever uma grande história, vai ao pequeno reino de Gretzhoffen à procura da outra parte, que está em poder do rei enfraquecido, Michael II (Harry Schumm). Em Gretzhoffen, ela se confronta com o cruel Conde Frederick (Francis Ford), que pretende se apoderar da fortuna e do trono. Eddie interpreta um personagem chamado Rolleaux, que está sempre ajudando a heroína a sair das dificuldades, e assim logo começou a receber cartas dos fãs, elogiando seu trabalho. O sucesso lhe subiu à cabeça e um dia chegou ao palco de filmagem sem a maquilagem requerida para seu personagem e anunciou que estava cansado de parecer daquele jeito e iria mudra a aparência de seu personagem. Apesar do seu protesto, ele foi obrigado a usar a maquilagem até Miss Cunard retirá-lo do seriado, fazendo com que Rolleaux morresse em um naufrágio no vigésimo episódio. Quem sabe ao certo a razão da dispensa? Foi punição ou ciúme de seus famosos colegas do filme?

 

Cena de A Moeda Quebrada

A direção de Francis Ford imprimiu muita rapidez ao relato cheio de ação que, inclusive, mostrava em algumas cenas Carl Laemmle, o dono da Universal, como o editor-chefe do jornal onde Kitty trabalhava e, em outras cenas, um jovem chamado Jack Ford (depois John), o irmão mais moço de Francis. Para se ter uma idéia do fascínio que o seriado suscitou, vale recordar o relato de Gilberto Souto em um artigo para o Correio da Manhã por ocasião da morte de Eddie Polo aos 86 anos em 1961. Segundo Gilberto, Adhemar Gonzaga, fundador da Cinédia e homem de cinema dos mais conhecidos, lhe contara que, durante as exibições de A Moeda Quebrada, o Íris estava em obras, para transformar-se em um confortável salão e (para a época) um colosso de cimento armado. Durante a primeira etapa da demolição do velho prédio, com o telhado já parcialmente retirado, começou a chover. O público não se alarmou. Calmamente, abriu seus guarda-chuvas, e continuou a torcer pelo herói. “Rolleaux era à prova d’água”, concluiu Gilberto com muita graça. O ator faria outros papéis na tela, mas o público continuou chamando-o de Rolleaux ou Rolô, como diziam alguns.

No ano seguinte, Eddie foi novamente dispensado, desta vez do seriado A Filha do Circo / The Adventures of Peg O’ the Ring. No enredo, Peg (Grace Cunard) faz um papel duplo, primeiro como a mãe que foi ferida pelas garras de um leopardo enfurecido antes do nascimento de sua filha; depois, como a filha que, por causa desta influência prenatal, torna-se sujeita a acessos de loucura toda noite à meia-noite, constituindo uma ameaça para quem está perto dela.. Francis Ford é o seu meio-irmão (ambos compartilham o mesmo pai), que se apaixona por ela, sem saber a sua história ou o fato de que são parentes. Ruth Stonehouse e Eddie Polo substituiram Cunard e Ford, quando eles deixaram a produção por força de uma disputa com a Universal. Algumas semanas depois, Cunard e Ford voltaram ao trabalho, as cenas que Ruth e Eddie tinham feito foram eliminadas, e os dois substitutos excluídos da filmagem.

Entre os dois seriados citados, Eddie fez pequenos papéis nas séries The New Adventures of Terrance O’ Rourke / 1915, Subôrno / Graft / 1915 e Aventuras de Lord John ou O Caminho de Lord JohnLord John’s Journal / 1915 e nos dramas O X nº 3 / 1916 e The Voice of the Tempter/ 1916. Após A Filha do Circo, ele apareceu em dois filmes estrelados por Marie Walcamp, o drama Onda of the Orient / 1916 e o seriado Liberdade ou A Herança Fatal / Liberty, a Daughter of the USA / 1916, o primeiro no gênero western.

Nele, o coronel Horton, pai de Liberty (Marie Walcamp) morre, deixando a tutela de sua filha e a administração de sua vasta propriedade rural no Novo México aos cuidados de seu amigo Major Winston (Neal Hart) e de seu antigo sócio, Jose Leon (L. M. Wells) até que Liberty complete os 21 anos exigidos pela lei. Seu testamento especifica que, se Liberty se casar antes dessa idade, sem o consentimento dos seus tutores, perderá o direito à propriedade. O velho coronel não esqueceu de seu bom camarada, Capitão Rutledge dos Texas Rangers (Jack Holt), deixando para ele seu cavalo favorito, nem de Pedro (Eddie Polo), o fiel criado, para o qual legou mil dólares e pediu para que fosse para sua filha o que sempre fôra para ele. Entretanto, Jose Leon, que o coronel supunha seu amigo, arma um plano para se apossar das terras e casar seu filho Manuel (Bertrand Grassby) com Liberty enquanto que, paralelamente, o capataz da fazenda, Pancho Lopez (Raymond Nye), um líder rebelde, sequestra Liberty, esperando usar o dinheiro do resgate, para financiar uma revolução. Mas Liberty é salva por Pedro e no final tudo termina bem, com a união amorosa da moça com o Capitão Rutledge.

Em 1917, em outro papel coadjuvante, mas sempre chamando a atenção do público, Eddie contracenou com Harry Carter e Priscilla Dean em uma aventura que dizia respeito ao roubo, praticado pelo Fantasma Pardo (Harry Carter), de um colar valiosíssimo, que estava destinado a ser um presente de casamento para uma dama da nobreza. Os dois primeiros episódios  de The Grey Ghost mostravam o planejamento e a execução do roubo de uma joalheria em plena luz do dia, seguindo-se as situações envolvendo a descoberta e captura do audacioso ladrão.

Enquanto a diretoria do estúdio estava decidindo o que fazer com ele, Eddie integrou como coadjuvante alguns filmes bem modestos da Universal (Good Morning Judge / 1916, A Noiva de Bronze / The Bronze Bride / 1917, Money Madness / 1917, Em Casa AlheiaA Kentucky Cinderella / 1917, The Plow Woman / 1917 e finalmente obteve seu primeiro papel principal no seriado Roulleaux, o Invencível ou Cody, o Invencível / Bull’s Eye / 1917. Este tem como ponto de partida a luta entre criadores de ovelhas e pecuaristas. A ação transcorre na sua maior parte no rancho Bull’s Eye. Quando seu pai – o dono do rancho – é assassinado, Cora Clayton (Vivian Reed), auxiliada pelo capataz, Cody (Eddie Polo), procura descobrir o culpado. Embora inicialmente enamorada de um agente do serviço secreto e assediada pelo chefe dos bandidos, ela acaba nos braços do destemido Cody. Com uma trama complicada em dezoito episódios, este seriado deu a Eddie ampla oportunidade de mostrar seus dotes físicos e acrobáticos. Rolleaux Invencível arrastou multidões ao cinema da rua da Carioca. A sua lotação de seiscentos lugares esgotava-se o dia inteiro, de uma hora da tarde às onze da noite, além de que cêrca de cem pessoas ficavam de pé, pelos corredores.

A trajetória fílmica de Eddie prosseguiu com mais um seriado, Sedução do Circo / The Lure of the Circus / 1918, seguindo-se um grupo de westerns de dois rolos da série Roulleaux, o Ciclone ou Roulleaux Ciclone / Cyclone Smith (v. g. O Mensageiro Branco / The White Messenger / 1922). O retorno aos seriados ocorreu quando ele foi com uma equipe para a Inglaterra, a fim de filmar cenas para The Broken Idol, depois intitulado The 13th Hour, e finalmente lançado como A Punhalada Misteriosa ou Punhal Maravilhoso / The Vanishing Dagger / 1920. Em ambos os seriados Eddie continuou suscitando a devoção dos seus admiradores, sempre anunciado como “o hércules dos músculos de aço”; mas seus colegas de elenco e da equipe técnica não estavam mais aguentando a sua vaidade.

Em 1920, ele ainda fez o seriado O Rei do Circo / King of the Circus e, após umas férias, retornou em O Sinete de Satanás / Do or Die / 1921. O mais lembrado pelos fãs foi O Rei do Circo, no qual Eddie King (Eddie Polo) é um acrobata do circo de James Gray (Henry Madison), indivíduo cruel, que tem um medo instintivo de símios. Mary Warren (Kittoria Beveridge,), a parceira de Eddie no número principal, foi adotada por Gray em um orfanato, mas a moça parece não confiar nele. Quando um velho palhaço meio caduco chamado John Winters (Charles Fortune) sofre um acidente, que o faz recuperar a memória, ele informa a Eddie que Gray foi responsável pela morte de seu pai, o dono originário do circo. Determinado a esclarecer o assunto, Eddie se confronta várias vezes com Gray e seus capangas e, no decorrer dos acontecimentos, conhece Helen Howard (Corrine Porter), filha de um médico eminente, que vem a desempenhar um papel importante na história. O espetáculo apresenta todos as atrações do mundo circense, impressionando notadamente a criançada.

Uma das razões principais para a imensa popularidade de Eddie Polo com a meninada era o fato de que seus seriados tinham um ritmo rápido e ação ou suspense ininterruptos, mas era preciso dispensar a coerência e aceitar completamente as coincidências como, por exemplo, em O Sinete de Satanás, cuja história era implausível em muitos trechos, mas a movimentação furiosa e o andamento bem ligeiro tomaram o lugar da lógica.

O relacionamento entre Eddie Polo e a Universal foi interrompido ao terminar a filmagem de Os Quatro Agentes Secretos ou Os Quatro Secretas / The Secret Four / 1920, seu último seriado para a empresa. Eddie havia sido anunciado como o astro de Adventures of Robinson Crusoe / 1922, porém houve uma mudança na administração e Julius Stern, um sobrinho de Carl Laemmle, ocupou o cargo de gerente do estúdio, quando Irving Thalberg foi para a MGM. Eddie era controlável sob as ordens de Thalberg, mas com Stern isto não aconteceu. Eddie saiu da Universal e fundou a sua companhia, The Star Serial Corporation, planejando produzir seis seriados independentes, entregando a presidência para Joe Brandt, contratando J. P. Mc Gowan como diretor e alugando o Peerless Studio em New Jersey.

A Universal fez o seu Robinson Crusoe / The Adventures of Robinson Crusoe /1922 com Harry Myers no papel principal e, no mesmo ano, a Star Serial lançou O Capitão Kid / Captain Kid / 1920 em cujo enredo Edward Davis (Eddie Polo), depois de ouvir de sua avó moribunda uma história ocorrida no século dezessete com um de seus ancestrais que se apoderara de um mapa indicando o local do tesouro do famoso bucaneiro, resolve sair à procura dessa fortuna, mas tem de enfrentar seu primo, que cobiça não somente o ouro escondido como também sua noiva, Louise (Katheryne Myers). Infelizmente, Eddie gastou mais do que devia para produzir o seriado que, submetido à distribuição pelo sistema do states rights, foi um fracasso, resultando em consequência a dissolução a firma.

Eddie Polo em Der Teufelsreporter

Eddie fez mais três filmes na América, Preparado para Morrer / Prepared to Die / 1923, The Knock on the Door / 1923 e A Hora do Perigo / Dangerous Hour / 1923, todos dirigidos por William Hughes Curran, e depois partiu para a Alemanha, onde ficou por vários anos trabalhando no cinema (Die Eule / 1927, Der Geheimtresor / 1927, Eddy Polo im Wespennest, Eddie Polo mit Pferd und Lasso / 1918, Hände hoch, hier Eddy Polo / 1928, Ist Eddy Polo schuldig? 1928, Der gefesselte Polo / 1928, Auf der Reeperbahn nachts um halb eins /1929, Der Teufelsreporter / 1929, Geheimpolizisten / 1929, Rache für Eddy /1929, Auf Leben und Tod / 1930, Zeugen gesucht / 1930, Es geht um alles / 1932).

A partir de 1940, já de volta à América, Eddie passou a ser visto brevemente, muitas vêzes sem ser creditado, em seriados (v. g. Don Winslow na Marinha / Don Winslow of the Navy / 1942, filmes de Deanna Durbin (Rival Sublime / It’s a Date / 1940, Parada da Primavera / Spring Parade / 1940), westerns de Johnny Mac Brown (O Filho do Mandão / Son of Roaring Dan /1940, A Lei Manda / Law and Order / 1940, Homens Heróicos / Deep in the Heart of Texas / 1942), e outros filmes (v. g. como um frequentador de igreja em O Lobishomem / The Wolf Man / 1941, como um operário cênico em Climax / The Climax / 1944). Em 1946, ele fez sua derradeira aparição como um garçom em O Rouxinol Mentiroso / Two Sisters from Boston, filme estrelado por Kathryn Grayson e June Allyson.

Eddie Polo, Adhemar Gonzaga e Paulo Wanderley fotografado pela Cinearte

Em março de 1927, Eddie Polo passou discretamente pelo Rio de Janeiro a caminho de Buenos Aires, a bordo do transatlântico alemão “Alcântara”, que fazia sua viagem inaugural à América do Sul. No cais da Praça Mauá, os estivadores reconheceram Rolleaux, pedindo-lhe autógrafos e fotografias. Eddie visitou a agência da Universal e deu entrevista à revista Cinearte. Adhemar Gonzaga e Paulo Wanderley estiveram com ele e, dias depois, a revista publicou grande reportagem a seu respeito. Antonio Rolando, da revista Selecta, também foi saudar o ator, tirando uma foto ao seu lado.

 

POLA NEGRI

dezembro 28, 2017

Foi a estrela mais exótica do cinema nos anos vinte. Tinha uma vida de rainha da tela rica-e-famosa, em uma mansão luxuosa de Beverly Hills. Quando saía para dar uma volta pela cidade em uma limousine da marca Piece-Arrow conduzida por um chofer de libré, usava um casaco de pele, cobria-se de jóias caríssimas, e levava consigo seus dois cães russos, sentados um de cada lado de sua dona.

Pola Negri

Jeanine Basinger (Silent Stars, Wesleyan University, 1999) reforça a lenda de que ela desfilava com um tigre de coleira pelo Sunset Boulevard e confirma o fato real de que foi ela quem lançou a moda do turbante e também pintar as unhas dos pés e das mãos com um vermelho da cor de um carro de bombeiros. Sergio Delgado deu ao seu livro sobre a atriz – do qual extraí algumas informações – o subtítulo de “The Temptress of Silent Hollywood” (McFarland, 2016). Aquí no Brasil, onde desfrutava de muita popularidade, ela era chamada de “A Divina Dominadora”.

Pola

Pola Negri, cujo verdadeiro nome era Barbara Apolonia Chalupec, nasceu no dia 3 de janeiro de 1897 na cidade de Lipno em uma Polonia ocupada pelos russos, filha de Jerzy Mathias Chalupec e Eleonora de Kielczewska. Seu pai era um imigrante eslovaco e tinha sangue cigano nas veias. Ele foi preso em 1902 pelos russos por atividades revolucionárias, julgado por um tribunal militar, e mandado para a Prisão Pawiac em Varsóvia. Subsequentemente, Apolonia e sua mãe se mudaram para lá a fim de ficarem perto de Jerzy. Eleonora vendeu a casa da família e, com o dinheiro, comprou uma mercearia na Rua Browarna nº11 embora não tivesse a menor experiência neste negócio; a mercearia acabou fechando, e ela foi trabalhar como cozinheira na casa de uma senhora judia rica.

Pola

Em 1911, Apolonia foi aceita no Academia de Balé Imperial de Varsóvia e passou os próximos dois anos estudando a técnica e aguardando sua estréia profissional na dança. Durante este tempo, o recurso interposto por seu pai foi negado e as autoridades russas o tranferiram para uma prisão na Sibéria. Após sua graduação em 1913, Apolonia ingressou na Companhia de Balé de Varsóvia e sua primeira apresentação solo foi no papel da boneca dançarina no balé Coppelia, coreografado por Michael Folkine. Seu desempenho chamou a atenção do rico patrono das artes ucraniano Kazimierz Hulewicz. Ele se interessou pelo bem-estar da família e se tornou uma espécie de figura paterna substituta para Apolonia.

Pola

Quando ela foi vitimada pela tuberculose, Hulewicz pagou seu tratamento em um sanatório em Zakopane nos Cárpatos. Apolonia se recuperou da enfermidade, mas não ficou com um estado de saúde que lhe permitisse seguir a carreira de bailarina. Ela então decidiu entrar para a Academia Imperial de Artes Dramáticas, mas como sua mãe e Hulewicz, preocupados com sua saúde, se opuzessem, Apolonia inscreveu-se sem que eles soubessem, usando um pseudônimo. A escolha de “Pola” como primeiro nome era natural, mas ela precisava de um sobrenome para ocultar sua identidade. Lembrando-se de um livro da poetisa italiana Ada Negri, que admirava quando criança, Apolonia adotou seu último nome como uma homenagem. Assim, Apolonia Chalupec tornou-se “Pola Negri”.

Pola

Como performance para a sua graduação, Pola interpretou o papel de Hedwig em Vildanden (O Pato Selvagem) de Henrik Ibsen, e se saiu tão bem, que recebeu um convite para ingressar no Rozmaitosci, o teatro nacional da Polonia. Hulewicz aconselhou-a a recusar a oferta, sugerindo-lhe que aguardasse até que eles lhe fizessem uma proposta para interpretar papéis importantes. Ele persuadiu Kazimerz Zalewski, dono do Pequeno Teatro de Varsóvia, a dar a oportunidade para Pola. Ela estreou como Aniela na peça Sluby Panienskie. Logo depois, tal como Hulewicz previra, o Teatr Rozmaitosci voltou a fazer uma oferta, desta vez oferecendo a Pola o papel principal feminino em uma nova versão de O Pato Selvagem e em Hanneles Himmelfahrt de Gerhart Hauptmann.

Pola

Em 1914, Pola fez seu primeiro filme, Niewolnika zmysló, dirigido por Jan Pawlowski para uma pequena companhia denominada Sfinx Films. Em seguida, a Sfinx contratou-a para mais 8 filmes dirigidos por Aleksander Hertz: Zona /1915, Czarna ksiazecka / 1915, Studenci / 1916, Pokoj Nr. 13 / 1917, Bestia / 1917; Tajemnica Alej Ujazdowskioch / 1917, Arabella / 1917, e Jego ostatni czyn / 1917.

Pela em Bestia

Como resultado de sua atuação como “A Dançarina do Deserto” na versão do Rozmaitosci da patomima-balé Sumurun, Pola recebeu convite de Max Reinhardt para aparecer na reencenação da peça em Berlim. Sua personagem era interpretada inteiramente em pantomima, e para isso o seu treinamento de balé ajudou. A temporada de Sumurun, colocou-a em contato com Ernst Lubitsch, que fazia parte do elenco. Lubitsch estava ansioso para dirigir filmes e convenceu Pola a assinar um contrato com a UFA. Antes porém, ela fez seis filmes para Saturn Films: Sonho que se Desfaz / Nicht lange täuschte mich das Glück / 1917; Zügelloses Blut / 1917; Rosen, die der Sturm entblättert / 1917; Die toten Augen / 1917; Küsse, die Man stiehlt in Dunkeln / 1918; Wenn das Herz in Hass erglüth / 1918, todos dirigidos por Kurt Matull.

Emil Jannings e Pola Negri em Múmia

Harry Liedtke e Pola Negri em Carmen

Pola ficou três anos sob contrato na UFA fazendo filmes com e sem Lubitsch atrás das câmeras. Em 1918, ela apareceu em Mánia / Mania, Die Geschichte einer Zigarettenarbeiterin (Dir: Eugen Illés); Múmia / Die Augen der Mumie Ma (Dir: Ernst  Lubitsch); O Passaporte Amarelo / Der gelbe Schein (Dir: Eugen Illés, Viktor Janson) e Carmen / Carmen (Dir: Ernst Lubitsch). Em 1919: Madame DuBarry / Madame DuBarry (Dir: Ernst Lubitsch); O Circo da Vida / Das Karussell des lebens (Dir: Georg Jacoby); Crucificai-a / Kreuzig Sie! (Dir: Georg Jacoby); Condessa Doddy ou Meio Milhão por um Marido / Komtesse Doddy (Dir: Georg Jacoby); Vertigem / Rausch (Dir: Ernst Lubitsch) e Vendetta / Vendetta (Dir: Georg Jacoby). Em 1920: A Marquesa D’Armiani / Die Marchesa d’Armiani (Dir: Alfred Halm); Sumurum / Sumurun (Dir: Ernst Lubitsch); Martírio ! / Das Martyrium (Dir: Paul L. Stein); Die geschlossene Kette (Dir: Paul L. Stein) e Violeta / Arme Violetta (Dir: Paul L. Stein). Em 1921: Gatinha Amorosa / Die Bergkatze (Dir: Ernst Lubitsch); Sapho / Sappho (Dir: Dimitri Buchowetzki); A Modista de Montmartre / Die Flamme (Dir: Ernst Lubitsch).

Os melhores – segundo opinião dos que viram todos – foram os filmes dirigidos por Lubitsch, sobre os quais já me manifestei mais longamente no meu artigo Ernst Lubitsch I de 12 / 9/ 2011, ao qual remeto o leitor.

Madame DuBarry, causou sensação. Os críticos ficaram maravilhados com sua suntuosidade e elogiaram a habilidade de Lubitsch ao conduzir as cenas de multidão, o que lhe valeu o título de “O Griffith Alemão”. Pola recordou mais tarde um momento tenso durante a produção do filme. Em 1919, o nível de desemprego era muito alto na Alemanha. Quando Lubitsch pôs um anúncio recrutando mil figurantes para uma cena de multidão, mais de três mil se apresentaram no estúdio pela chance de ganhar alguns marcos por um dia de trabalho. Eles se recusaram a serem rejeitados, e a A UFA, temendo uma tumulto, contratou todos.

Cena de Madame DuBarry

Emil Jannings e Pola Negri em Madame DuBarry

Cena de Madame DuBarry

Gosto muito de uma cena do filme na qual a DuBarry, astuciosamente, senta no colo de Louis XV (Emil Jannings), deixando seu peito bem debaixo do nariz dele. Ela colocara sua petição sob o vestido a fim de que o rei tivesse que retirá-la dali. Ele faz isso, lê cuidadosamente o que está escrito no pedido, assina, e então, também espertamente, insiste em colocar o documento de volta no seu “envelope”.

Após terminar Madame DuBarry, Pola retornou ao seu país natal pela primeira vez em três anos. No final da guerra, a Polonia havia se libertado dos seus ocupantes russos e era agora uma nação independente. Pola estava muito contente em rever sua mãe e passou algum tempo visitando alguns velhos amigos. Logo a UFA estava chamando-a de volta para começar seu próximo filme, mas seu regresso à Alemanha foi retardado inesperadamente pelo seu casamento em 1920 com o Conde Eugene Dombski. O matrimônio durou menos de um ano.

Pola Negri e Harry Liedtke em Sumurum

Pola Negri e Ernst Lubitsch em Sumurum

O próximo filme de Pola na UFA foi uma adaptação de Sumurun, dirigido por Lubitsch. O papel deu-lhe a oportunidade de expressar toda a sua sensualidade na tela. Na vida real, ela iniciou uma relação amorosa com Wolfgang Schleber, rico industrial alemão, que ela apelidou de “Polonius”, porque o perfil dele lembrava uma escultura romana.

Cena de A Gatinha Amorosa

PolaNegri e Alfred Abel em A Modista de Montmartre

Pola Negri em Sapho

Quando três dos seus filmes foram exibidos nos Estados Unidos: Carmen, reintitulado de Gypsy Blood; Madame DuBarry reintitulado de Passion e Sumurun, reintitulado de One Arabian Night, o público norte-americano ficou perplexo com a beleza e o magnetismo pessoal de Pola Negri. Diante da popularidade de Passion em Nova York, a Famous Players Lasky, obteve a concordância de Lubitsch e Pola de irem para a América, assim que seu contrato com a UFA expirasse. Os dois artistas fizeram ainda na Alemanha, Gatinha Amorosa na UFA e A Modista de Montmartre na Europäisch Film-Allianz (EFA), sendo que Pola ainda trabalhou para a UFA em Sapho sob a direção do russo Dimitri Buchowetzki. A saída da Alemanha significou o fim do relacionamento de Pola com Schleber que, na verdade, não quís mais saber dela. Na véspera de sua partida para a América, Pola recebeu a documentação a respeito de seu divórcio de Eugene Dombski.

Antonio Moreno e Pola Negri em A Dançarina Espanhola

Herbert Brenon orienta Pola na filmagem de A Dançarina Espanhola

Pola Negri e Adolphe Menjou em A Dançarina Espanhola

Dos vinte filmes de Pola na Famous Players Lasky (denominada Paramount Famous Lasky Corporation a partir de 1927) – A Bela Diana / Bella Donna / 1923 (Dir: George Fitzmaurice); Beijos que se Vendem / The Cheat / 1923 (Dir: George Fitzmaurice); A Dançarina Espanhola / The Spanish Dancer / 1923 (Dir: Herbert Brenon); Pecados de Paris / Shadows of Paris / 1924 (Dir: Herbert Brenon); Homens … / Men / 1924 (Dir: Dimitri Buchowetzki); Lírio do Lodo / Lily of the Dust / 1924 (Dir: Dimitri Buchowetzki); Paraíso Proibido / Forbidden Paradise / 1924 (Dir: Ernst Lubitsch); Escrava de sua Beleza / East of Suez / 1925 (Dir: Raoul Walsh); A Irresistível / The Charmer / 1925 (Dir: Sidney Olcott); Flor da Noite / Flower of the Night /1925 (Dir: Paul Bern); A Condessa Democrata ou A Condessa Tatuada / A Woman of the World / 1925 (Dir: Malcolm St. Clair);

Pola Negri e Noah Beery em Lírio do Lodo

Pola Negri em Beijos que se Vendem

Pola Negri em Mentiras

Mentiras / The Crown of Lies / 1926 (Dir: Dimitri Buchowetzki); A Viuvinha Americana / Good and Naughty / 1926 (Dir: Malcolm St. Clair) ; Hotel Imperial / Hotel Imperial / 1927 (Dir: Mauritz Stiller); Amai-vos uns aos Outros / Barbed Wire / 1927 (Dir: Rowland V. Lee); A Ré Amorosa / The Woman on Trial / 1927 (Dir: Mauritz Stiller); A Hora Secreta / The Secret Hour /1928 (Dir: Rowland V. Lee); Morta para o Mundo / Three Sinners / 1928 (Dir: Rowland V. Lee); Rachel ou Os Amores de uma Atriz / Loves of an Actress / 1928 (Dir: Rowland V. Lee); Coração de Eslava / The Woman from Moscow / 1928 (Dir: Ludwig Berger) – a maioria se perdeu; um filme ainda existe em versão muito reduzida (A Dançarina Espanhola); outros, completos, em arquivos europeus (A Bela Diana) ou americanos (Paraíso Proibido); e três, também na forma original, disponíveis em dvds de domínio público (A Condessa Democrata, Hotel Imperial, Amai-vos uns aos Outros).

Claude Gillingwater, Einar Hansen e Pola Negri em Amai-vos uns aos Outros

Pola na filmagem de Coração de Elsava com o diretor Ludwig Berger e Norman Kerry

Seus melhores filmes no período de sua permanência nos Estados Unidos foram Paraiso Proibido e Hotel Imperial. Sobre o primeiro, encaminho o leitor mais uma vez para o meu artigo sobre Lubitsch postado em 12 / 9/ 2011. Nesta combinação feliz de comédia, romance e intriga Pola interpretou o papel da Czarina Catarina da Rússia, papel perfeito para ela, e teve como coadjuvante um elenco excelente que incluía o simpático Rod La Roque como seu amante Alexei, Adolphe Menjou como um chanceler cortês, e Pauline Starke como a ingênua que ama Alexei. Segundo Janine Basinger, percebendo quanto Pola é eficiente neste filme, podemos dar crédito ao parecer expressado por alguns historiadores do cinema, segundo o qual Hollywood na verdade destruiu Pola Negri, porque não lhe proporcionou sempre um material sofisticado e inteligente, para que ela demonstrasse a amplitude de seu talento.

Rod La Rocque e Pola Negri em Paraíso Proibido

Ernst Lubitsch dirige Pola em Paraíso Proibido

Hotel Imperial, dirigido por Mauritz Stiller, produzido por Erich Pommer, roteirizado por Jules Furthman e fotogafado por Bert Glennon, foi refilmado em em 1939 como Hotel Berlim / Hotel Berlin / 1945 (Dir: Peter Godfrey) e sua trama não é muito diferente do entrecho de Cinco Covas no Egito / Five Graves to Cairo / 1943 (Dir: Billy Wilder). Durante a Primeira Guerra Mundial, seis hussardos húngaros, cansados de lutar, rumam para uma cidade da fronteira, e descobrem que ela está ocupada pelas tropas russas. Durante um combate intenso, o Tenente Paul Almasy (James Hall) foge, perseguido pelos russos. Ele os engana, saltando do seu cavalo, e procurando abrigo no Hotel Imperial, aparentemente abandonado. Paul adormece, e, na manhã seguinte, é descoberto pelos criados Anna (Pola Negri), Elias (Max Davidson) e Anton (Otto Fries), que o levam para um quarto no andar de cima. Quando Paul acorda, eles lhe dizem que ele terá que ficar ali, porque não há jeito de levá-lo de volta para a sua unidade. Os russos, sob o comando do General Juschkiewitsch (George Siegmann), entram na cidade e estabelecem seu quartel-general no hotel. Anna convence Paul a passar por garçom até que ele encontre um meio de fugir. O general tenta seduzir Anna com perfumes e roupas caras e ela pede que ele poupe Paul, quando este é preso por estar sem documentos oficiais. Chega ao hotel um espião russo, Tabakowitsch (Mikhail Vavich), que havia roubado os planos de ataque dos húngaros. Paul decide interceptá-lo antes que ele os revele para o general. Durante um festa, Anna defende-se do assédio sexual do general enquanto Paul mata o espião no seu banho. Quando a morte é descoberta, Paul é interrogado pelos russos. Anna salva-o, mentindo que ele passara a noite com ela. Paul escapa durante a noite e o exército austro-húngaro contra-ataca. Os russos são expulsos da cidade e a unidade de Paul chega como libertadora. Paul e Anna se encontram brevemente, sabendo que eles terão pouco de tempo juntos antes dele seguir novamente para a luta.

Mauritz Stiller orienta Pola na filmagem de Hotel Imperial. À direita de Pola: Erich  Pommer

George Siegmann e Pola Negri em Hotel Imperial

Pola Negri em Hotel Imperial

Neste filme, Pola tem a chance de mostrar, mais do que nunca, todo seu talento e beleza. Sua personagem é linda e graciosa e lhe permite uma interpretação naturalista nos seus gestos, particulamente nas suas expressões faciais de medo, amor e ódio. Na melhor cena do espetáculo, quando o general, ao ouvir o alibi que Anna forjou para Paul, tenta tirar do seu corpo as roupas que ele lhe dera e ela o surpreende rasgando-as dramaticamente na frente de todos, o olhar de fúria de Pola é aterrador.

Após seu divórcio do Conde Dombski, Pola apareceu em manchetes e colunas de mexericos envolvida em romances com celebridades, mais notadamente com Charles Chaplin e Rudolph Valentino.

Charles Chaplin e Pola Negri

Pola conheceu Chaplin no Palais Heinroth em Berlim em 1919 e depois seu relacionamento se tornou um caso muito noticiado pela imprensa, dando origem à muitos rumores sobre o noivado dos dois, reproduzidos pela imprensa brasileira. Mas isto não aconteceu.

Rudoph Valentino e Pola egri

Ela foi apresentada a Valentino em uma festa à fantasia organizada por Marion Davies e William Randolph Hearst em San Simeon e, segundo consta – mas pode ter sido um golpe promocional por parte dos dois -, teria sido amante dele até a morte do ator em 26 de agosto de 1926. Pola causou sensação na mídia no enterro do grande latin lover em Nova York, onde “desmaiou” várias vêzes, porém a imprensa, entendeu que se tratava de um lance de publicidade. Ela sempre afirmou, durante toda a sua existência, que Valentino foi o grande amor de sua vida, mas, logo depois da morte dele, casou-se com o “Príncipe” Serge Mdivani. Serge e seus irmãos, David e Alexis, eram notorious mau caráter, falsos príncipes exilados, hábeis em persuadir mulheres ricas a se casarem com eles. Pola e Midvani divorciaram-se em 1932. Serge esbanjou o dinheiro de Pola; David deu o golpe em outra estrela, Mae Murray, e também torrou o numerário dela

Pola Negri e Serge Mdivani

A popularidade de Pola de fato caiu devido principalmente a uma série de filmes medíocres que ela fez e pelo cansaço do público da publicidade cheia de exagêros que a consumira. Além disso, Pola não era uma garota tipicamente americana. Seu tipo de mulher mundana e sofisticada tinha um poder de atração limitado, desagradando o público das cidades pequenas. Portanto, não foi uma surpresa a Paramount ter desistido de renovar seu contrato.

Hans Rehmann e Pola Negri em Almas Perdidas

Quando a filmagem de seu derradeiro filme para a Paramount Famous Lasky terminou, Pola saiu do estúdio para sempre e, após passar algum tempo no seu castelo em Seraincourt (com seus 42 quartos, 22 criados, uma capela particular, vastos jardins floridos, riachos cheios de trutas, e uma rêde de labirintos subterrâneos que ligavam sua propriedade à cidade mais próxima), ela voltou para a frente das câmeras no Elstree Studio na Inglaterra como uma prostituta francêsa em Almas Perdidas ou A Rua das Almas Perdidas / The Way of Lost Souls (também conhecido como The Woman he Scorned) / 1929, produção de Charles E. Whittaker / Imperial Filmgesellschaft, dirigida por Paul Czinner. Foi seu último filme silencioso e um fracasso estrondoso, grande decepção para ela, que contava com uma carreira cinematográfica na Europa para melhorar sua reputação artística e recuperar sua glória nos Estados Unidos. Ao mesmo tempo, Pola sofreu outro dissabor, quando a Quebra da Bolsa de Valores de Nova York extirpou milhões de dólares de sua fortuna pessoal.

Ela retornou à América em maio de 1931, para assumir o maior risco de sua carreira profissional: o cinema falado. Porém agora possuia algo extra para oferecer aos produtores: uma voz de cantora aproveitável, para apoiar sua capacidade dramática.

Os testes na RKO mostraram que ela gravou com uma voz de contralto e com um forte sotaque, mas perfeitamente compreensível e, em consequência, propuzeram-lhe um contrato de três anos com um salário de 3 mil dólares semanais, menos da metade do que ela havia ganho no auge dos seus dias na Paramount. O projeto escolhido para a estréia de Pola no cinema sonoro foi Rainha e Mártir / A Woman Commands / 1932 (Dir: Paul Stein), a história de Maria Draga, cantora de cabaré que se tornou brevemente rainha da Sérvia. Apesar de todas as esperanças despositadas no novo projeto, o filme foi um desastre. O estúdio manteve Pola no seu quadro de artistas por algum tempo, e então deixou que o contrato dela expirasse.

Pola Negri e André Lafayette em Fanatisme

Em 1933, Pola foi para a França, onde fez Fanatisme (Dir: Tony Lekain e Gaston Ravel), no qual interpretava o papel de uma dançarina italiana, Rosine Savelli, que é envolvida em uma conspiração contra Napoleão III; mas o espetáculo afundou nas bilheterias e a sua produtora, Via Film, quebrou.

Sem perspectivas na América, aconselhada por Carl Laemmle, ela aceitou o convite para estrelar um filme alemão, Mazurka / Mazurka / 1935 produzido pela Cine-Allianz (companhia fundada por Arnold Pressburger e Gregor Rabinovitch) e dirigido por Willi Forst. Laemmle assegurou Pola que, como católica, ela não teria problemas com o governo nazista. Entretanto, dois dias antes do início da filmagem os produtores receberam a notícia de que Goebels a havia proibido de estrelar o filme sob o fundamento de que ela era “não ariana”. O Ministro da Propaganda alegou que teria em seu poder cartas detalhando sua participação em atividades anti-germânicas durante a Primeira Guerra Mundial. Furiosa, Pola dirigiu-se ao embaixador polonês e lhe pediu para informar ao Dr. Goebbels que, se não pudesse trabalhar no filme, ela deixaria a Alemanha imediatamente. Enquanto fazia as malas para deixar o país, o estúdio recebeu a informação de que Hitler havia assinado uma ordem contradizendo a interdição de Goebbels.

Pola Negri em Mazurca

Pola Negri em Mazurca

No enredo de Mazurka, Lisa (Ingeborg Theek), aluna do conservatório de música, envolve-se românticamente com um maestro famoso, Grigorij Michailow (Albrecht Schoenhals), que a leva para uma boate, onde Vera Kowalska (Pola Negri), ex-cantora de ópera, se apresenta todas as noites. Quando Vera avista Michailow beijando Lisa durante o seu número, ela desmaia, e é carregada para o seu camarim. Reanimada, Vera pega uma arma e, enquanto Lisa e Grigorij se dirigem para a saída da boate, ela grita o nome de Grigorij e o alveja mortalmente. Durante o julgamento de Vera, vem à tona o motivo do crime. No passado, Vera era pupila de Grigorij, seu admirador; porém se casara com outro, com quem teve uma filha, Lisa. Quando o marido foi para a guerra, Vera se embriagou em uma festa e se entregou ao maestro. O marido, sabendo de tudo, deixou-a, e se casou novamente, obtendo a guarda de Lisa, que nunca soube que Vera era sua verdadeira mãe. Ao ver Lisa com Grigorij, Vera o mata, para defender a filha de um canalha.

Mazurka foi um sucesso (disseram que era o filme favorito de Hitler) e, em consequência deste êxito, Pola fez mais cinco filmes na Alemanha: Moscou-Xangai / Moskau- Shanghai / 1936 (Dir: Paul Wegener), A Mulher que Amou Demais /  Madame Bovary / 1937 (Dir: Gerhard Lamprecht), Tango Noturno / Tango Notturno / 1937 (Dir: Fritz Kirchoff) e Falsária / Die fromme Lüge / 1937 (Dir: Nunzio Malasomma) e Die Nacht der Entscheidung /1938. (Dir: Nunzio Malasomma).

Refugiando-se da guerra, Pola voltou para a América. Cheia de dívidas, seu nome só era mencionado em relação a cobranças judiciais propostas contra ela. Acabou aceitando um pequeno papel coadjuvante como uma cantora de ópera de temperamento vulcânico em uma comédia maluca da United Artists, Casados sem Casa / Hi Diddle Diddle / 1943, dirigida por Andrew Stone.

Adolphe Menjou e Pola Negri em Casados sem Casa

Em Hollywood, Pola Negri “já era”. Então começou a cantar em boates, interpretando sempre sua canção mais conhecida, “Paradise”, e recordando incidentes ocorridos no seu tempo na “Cidade dos Sonhos” enquanto os colunistas recordavam sua “rivalidade” com Gloria Swanson, seu romance com Valentino, ou outros mitos como aquele passeio com um tigre pela rua. Um jornalista chegou a dizer que certa vez ela jogou o animal em cima de um repórter.

Margaret e Pola

Novamente sem dinheiro, Pola encontrou uma grande amiga em Margaret West, personalidade do rádio, muito famosa no começo dos anos 30, que fôra casada com um negociante de obras de arte. Margaret ajudou-a financeiramente, e insistiu para que Pola retornasse à Europa em 1948, a fim de vender as jóias e outros bens que ainda possuia lá, e trazer sua mãe, Eleonora, para a América. Na sua volta, mãe e filha mudaram-se com Margaret para uma casa de praia alugada em Santa Monica. Depois, Pola e Margaret viveram juntas em outros locais, e Eleonora preferiu alugar uma moradia só para si. Pola diria que este foi o período mais feliz da sua vida. Ela e Margaret viveram uma vida social ativa, investiram em imóveis, e levantaram fundos para campanhas de caridade católicas.

Pola Negri em O Segredo das Esmeralda Negras

Em 1951, Pola tornou-se cidadã naturalizada americana. Em 1955, Eleonora faleceu aos 93 anos de idade. Em 1960, Pola ficou novamente sob a luz dos refletores, quando recebeu uma estrela na Calçada da Fama do Holywood Boulevard. Em 1963, recebeu um convite da Walt Disney Company para aparecer em O Segredo das Esmeraldas Negras / The Moonspinners / 1964, a ser filmado na Inglaterra com Hayley Mills na frente do elenco. Ela inicialmente relutou em fazer uma viagem longa por uma pequena aparição, mas Margaret convenceu-a a fazer um último filme, para se retirar da tela formalmente como uma estrela. Pouco antes de Pola partir, Margaret morreu subitamente, vítima de um ataque cardíaco.

No seu derradeiro filme, Pola, aos 67 anos, está quase irreconhecível como Madame Habib, uma colecionadora de jóias pitoresca; porém seu solilóquio no final – quando, antes de se retirar para o seu quarto seguida por um leopardo de estimação, fala de seus casamentos fracassados e as guerras das quais sobreviveu – soa como um resumo de sua vida e uma homenagem à sua persona fílmica.

Em 1964, ela recebeu um prêmio pela sua contribuição para a indústria cinematográfica germânica. Em 1970, publicou a autobiografia, “Memoirs of a Star”, classificada pelos críticos como “uma obra de ficção”. Em 1975, o diretor Vincente Minelli ofereceu-lhe um pequeno papel em Questão de Tempo / A Matter of Life, mas Pola não pôde aceitar por causa de seu estado de saúde debilitado.

A “Divina Dominadora” sucumbiu a um câncer no cérebro em 1 de agosto de 1987, sendo enterrada perto de sua adorada mãe.

 

RECLAMES DE FILMES ANTIGOS II

dezembro 24, 2017

Reproduzo mais alguns reclames de filmes antigos do período 1925-1929 como uma homenagem aos publicistas que os criaram, uma arte que infelizmente desapareceu de nossos jornais.

GÉRARD PHILIPE II

dezembro 14, 2017

Ainda em 1952, Gérard Philipe fez um filme de esquetes, Os Sete Pecados Capitais / Les Septs Pechés Capitaux e outro filme dirigido por René Clair, Esta Noite é Minha / Les Belles de Nuit.

Gérard Philipe em Os Sete Pecados Capitais

No primeiro, realizado por diretores (Eduardo de Filippo, Jean Dréville, Yves Allégret, Carlo-Rim, Roberto Rosselini, Claude Autant-Lara, Georges Lacombe) e interpretado por atores (Isa Miranda, Eduardo de Filippo (ep. A Avareza e a Cólera); Noel-Noel (ep. A Preguiça); Viviane Romance, Frank Villard (ep. A Luxúria); Henri Vidal, Claudine Dupuis (ep. A Gula); André Debar (ep. A Inveja); Michèle Morgan, Françoise Rosay (ep. O Orgulho) francêses e italianos, Gérard participou do esquete de ligação, no qual, como meneur du jeu em um parque de diversões, ele atrai os curiosos e ilustra para eles os sete pecados capitais. Finda a ilustração, aconselha a multidão a não sucumbir ao oitavo pecado capital: a imaginação e a nunca fazer um julgamento baseado apenas nas aparências.

No segundo, ele é Claude, jovem professor de música da província, que acha a vida real muito difícil e dorme para poder sonhar. Ele se vê como maestro de sucesso em 1900 e amado por uma grande dama, Edmée (Martine Carol), na realidade a mãe de uma de suas alunas; oficial vitorioso na Conquista da Argélia em 1830 e amado por Leila (Gina Lollobrigida), uma odalisca, na realidade a moça da caixa de um café onde ele costuma se encontrar com seus amigos; tribuno revolucionário em 1793, raptando a filha de um marquês, Suzanne (Magali Vendeuil), na realidade a filha de um mecânico seu vizinho etc. Logo os seus inimigos o seguem através dos séculos até a pré-história.

Martine Carol e Gérard Philipe em Esta Noite é Minha

Gérard Philipe e Gina Lollobrigida em Esta Noite é minha

 

Esta aventura imaginária conta essencialmente um “sonho acordado”. Claude, o compositor de talento, mas sem êxito, sonha suas próprias quimeras, que o conduzem sucessivamente aos braços de lindas mulheres com a aparência corporal das personagens reais. A idéia de “como a gente era mais feliz antigamente” se repercute em cada época, remetendo para aquela que a precede. Até que essa fuga através dos séculos transforma-se em um pesadêlo angustiante. Um assunto como esse, que balança sem cessar entre o sonho e a realidade, deu a René Clair a possibilidade de fazer uma incrível demonstração de virtuosidade técnica, uma coreografia de imagens, cujas formas inventivas se associam com uma graça constante.

Quando se examina a filmografia de Gérard Philipe percebe-se sua fidelidade a alguns diretores como Yves Allégret, Claude Autant-Lara, René Clair e Christian-Jaque, pois ele fez três filmes com cada um. No restante da década de cinquenta, entre seus melhores trabalhos estavam  Les Orgueillleux / 1953, de Yves Allégret e As Grandes Manobras / Les Grandes Manouevres / 1955, de René Clair.

Gérard Philipe e Michèle Morgan em Les Orgueilleux

Em Os Orgulhosos, Gérard é Georges, médico francês que se tornou alcoólatra, e vive em uma pequena cidade mexicana como um mendigo. Um dia chega um carro trazendo um casal: Tom (André Toffel), o marido, está gravemente enfermo equanto sua mulher, Nellie (Michèle Morgan), está sozinha e sem recursos. Uma epidemia de meningite cérebro-espinhal se propaga pela cidade. Tom morre diante de Nellie e Georges, que acabara de conhecê-los. Nellie se sente atraída por Georges e procura compreender seus problemas. Georges aconselha Nellie a deixar a cidade, mas Nellie fica a seu lado e, daí em diante, ele ajuda o médico local a combater a epidemia.

Yves Allégret deu densidade dramática a essa história de amor e redenção, criando uma atmosfera asfixiante e ruidosa em torno dos personagens. Porém o equilíbrio do filme dependia da atuação dos dois intérpretes centrais. Cada qual tem seu momento solo excepcional. O de Michèle Morgan acontece no quarto de hotel enquanto Nellie , tentando se livrar do calor, se despe com certo erotismo. O de Gérard PHilipe ocorre quando Georges dança na taberna, servindo de espetáculo, abjetamente, em troca de uma garrafa de aguardente

Em As Grandes Manobras, em uma pequena cidade da provincia, nas vésperas da Primeira Guerra Mundial, Armand de la Verne (Gérard Philipe), tenente dos dragões reputado por seu donjuanismo, aposta com seus colegas de farda que vai seduzir, antes das grandes manobras, a mulher que o acaso designará. Assim, ele conquista Marie-Louise Rivière (Michèle Morgan), modista divorciada, que um burguês, Victor Duverger (Jean Desailly), hesita em esposar, com medo dos comentários. Armand não tarda a se apaixonar de verdade, mas quando Marie-Louise fica sabendo, através de uma careta anônima, de que foi objeto de uma aposta, ela prefere romper.

Gérard Philipe e Michèle Morgan em As Grandes Manobras

Cena de As Grandes Manobras

Dany Carrel e Gérard Philipe em As Grandes anobras

Passando do vaudeville ao drama com grande delicadeza, René Clair reconstitui de maneira perfeita a atmosfera das cidades do interior que têm tropas aquarteladas, nas quais, no início do século XX, os oficiais afugentavam o tédio cortejando as belas jovens provincianas. Entre um sarau beneficente e um concerto em praça pública, ata-se e desata-se um amor sem amanhã, que termina de maneira triste. A perfeição dos cenários e figurinos, o equilíbrio das cores, a interpretação contida de Michèle Morgan e o charme de Gérard Philipe põem em evidência o caráter sufocante de uma sociedade que aprisiona os protagonistas em uma rede de ritos, da qual eles não podem sair.

Nos anos cinquenta Gérard esteve ainda diante das câmeras sob as ordens de René Clément (Um Amante sob Medida / Monsieur Ripois / 1953; Sacha Guitry (Se Versalhes Falasse / Si Versailles m’était Conté / 1953 e Si Paris Nous était Conté / 1955); Gianni Franciolini (O Parque dos Amores / Les Amants de la Villa Borghese / 1953); Claude-Autant-Lara de novo (Vermelho e Negro / Le Rouge et le Noir / 1954);

Yves Allegret de novo (Correntes da Violência / La Meuilleure Part / 1955); Jacques Becker (Os Amantes de Montparnasse / Montparnasse 19 / 1956); Clément Duhout, (A Mentira do Amor / La Vie a Deux / 1957; Julien Duvivier (As Mulheres dos Outros / Pot Bouille / 1957; Claude Autant-Lara ainda mais uma vez (Le Joueur / 1958; Roger Vadim (Ligações Amorosas / Les Liaisons Dangereuses / 1959); Luis Buñuel (Os Ambiciosos / La Fièvre Monte a El Pao / 1959 e dirigiu e atuou em As Aventuras de Till / Till l’Espiègle / 1956.

Entre os filmes citados destacam-se Um Amante sob Medida, O Vermelho e o Negro, Os Amantes de Montparnasse e As Mulheres dos Outros.

Gérard Philipe e Joan Greenwood em Um Amante sob Medida

Em Um Amante sob Medida, cansada das infidelidades de seu marido, André Ripois (Gérard Philipe), Catherine (Valerie Hobson), uma inglesa rica, pede o divórcio. Enquanto isso, Ripois tenta seduzir Patricia (Natasha Parry), amiga de Catherine, contando-lhe seus amores passados Anne (Margaret Johnson), Norah (Joan Greenwood), Marcelle (Germaine Montero), e manifestando o desejo de se regenerar. A confissão de Ripois não produz sobre Patricia o efeito desejado. Ele faz uma última investida para conquistá-la simulando uma tentative de suicídio, mas cai de fato de uma varanda. Catherine pensa que o gesto do marido foi provocado pelo seu pedido de divórcio e resolve ficar ao lado dele, imobilizado para sempre em uma cadeira de rodas.

Gérard Philipe em Um Amante sob Medida

História de um Don Juan moderno abatido pelo golpe de uma justiça imanente e tardia. Vítima de sua última manobra, ele chama para si o castigo. E não haveria nada de mais cruel para esse homem sedento de liberdade, sempre em busca de alguma aventura, do que ficar prisioneiro em uma cadeira de rodas, enfraquecido e, por sua vez, à mercê de todos. Clément filmou Gérard Philipe às escondidas nas locações em Londres, mostrando aspectos da cidade raramente vistos no cinema inglês, e lhe retirou os atributos trágicos do Cid, para transformá-lo em uma espécie de anti-herói pré-Nouvelle Vague.

Vermelho e  Negro, se passa por volta 1830, na província e em Paris. Julien Sorel (Gérard Philipe), filho de um carpinteiro, destina-se ao seminário. Por indicação do abade Chélan (André Brunot), ele obtém um emprego como preceptor dos filhos de M. de Rênal (Jean Martinelli), prefeito de Varrières. Humilhado por este homem sêco e arrogante, ele é atraído por Louise, Mme de Rênal (Danielle Darrieux), mulher muito bela, mas também muito distante, embora ele sinta a sua fragilidade. Julien decide conquistá-la e ela cede porém, como este relacionamento não pode durar porque na pequena cidade não se tarda a falar sobre o amor deles, Julien volta para o seminário. Aliando-se ao abade Pirard (Antoine Balpêtre), quando este cai em desgraça, Julien acompanha-o a Paris, onde Pirard lhe arruma um novo emprego desta vez como secretário do Marquês de la Mole (Jean Mercure). Mais uma vez, as humilhações não lhe são poupadas. Por espírito de revanche, Julien seduz a filha do marquês, Mathilde (Antonella Lualdi). Ele mantém a jovem à sua mercê mesmo se em público ela se mostre altiva. Graças a M. de la Mole, Julien torna-se o cavaleiro Sorel de La Vernaye, tenente dos hussardos e o marquês aceita seu casamento com sua filha; porém pede referências sobre seu futuro genro à Mme. de Rênal. Esta, aconselhada por seu confessor, denuncia Julien como um intrigante. O orgulhoso Julien não pode admitir essa acusação e mais ainda o desmoronamento de suas ambições. Na igreja de Varrières ele desfecha dois tiros de revólver contra Mme. De Rênal, mas o ferimento de Louise não põe sua vida em perigo. No tribunal, Julien, resignado, assume sua culpa, sabendo que é toda uma casta que o julga. E que esta casta, injuriada, será impiedosa. Mme de Rênal, vai visitá-lo na prisão, e ele a acolhe com alegria. Depois, caminha sem medo para a guilhotina. Três dias depois, Mme de Rênal, morre abraçando seus filhos.

Gérard Philipe e Danielle Darrieux em  Vermelho e  Negro

Gérard Philipe e Antonella Lualdi em  Vermelho e  Negro

Danielle Darrieux e Gérard Philipe em  Vermelho e  Negro

Cena de Vermelho e  Negro

Os argumentistas Jean Aurenche e Pierre Bost, habituais colaboradores de Claude Autant-Lara, limitaram-se a conservar o espírito do autor. O script mantém apenas os episódios principais da obra de Stendhal e expõe com clareza as atitudes dos personagens em um ritmo que, embora lento, não chega a ser cansativo. As reações psicológicas de Julien (Gérard Philipe), Mathilde (Antonella Lualdi) e Louise (Danielle Darrieux), o estudo de suas personalidades, é o que há de mais importante no espetáculo. E, de fato, os três possuem temperamentos adversos. Julien Sorel é o arrivista perfeito. O amor para ele é apenas um meio de atingir certa confiança em si mesmo, necessária à consecução de seus fins, e a sua própria satisfação. Já o amor de Mathilde de la Môle é, todo ele, cerebral. Para ela, Julien representa um ser superior, sendo, portanto, o único que poderia dominá-la. Louise de Rênal, por sua vez, é uma mulher frágil. Passa a adorar o jovem preceptor, com a mesma ingenuidade com que cederá, mais tarde, a outros conselhos. Por outro lado, os cenários imaginados por Max Douy, a cor, o vestuário e a música do filme recriam, com perfeição, a atmosfera da época. Os diálogos (às vêzes substituidos por monólogos interiores) acentuam o caráter subjetivo da narrativa. Pode-se dizer que Gérard Philipe e Danielle Darrieux são protagonistas insubstituíveis.

Gérard Philipe e Anouk Aimée em Os Amantes de Montparnasse

Em Os Amantes de Montparnasse, Amedeo Modigliani (Gérard Philipe) tem um relacionamento com a escritora inglesa Beatrice Hastings (Lili Palmer) e depois conhece Jeanne Hébuterne (Anouk Aimée), uma estudante que abandona sua família burguêsa para ir morar com ele. Léopold Sborowsky (Gérard Sety), amigo de Modigliani, tenta em vão vender os quadros do pintor. Após um período de felicidade ao lado de Jeanne, Modigliani, alcoólatra, tuberculoso e miserável, morre em um hospital. O mercador de quadros Morel (Lino Ventura) procura Jeanne imediatamente e compra todas as telas do pintor.

Jacques Becker filma Os Amantes de Montparnasse

Anouk Aimée e Gérard Philipe em Os Amantes de Montparnasse

Gérard Philipe e Anouk Aimée em Os Amantes de Montparnasse

A cinebiografia de Modigliani ia ser filmada por Max Ophüls, porém a morte de Ophüls pôs fim ao projeto. Escolhido para substituí-lo, Jacques Becker não poderia trabalhar com um roteiro que não fôsse próprio, pois seu estilo cinematográfico não tinha nenhuma afinidade com o de Ophüls. Becker despojou sua encenação ao extremo, preocupando-se mais com o ângulo humano e suprimindo todo o pitoresco tradicional do gênero – o cineasta recusou-se inclusive a usar a cor, o que parece a priori um contrassenso em um filme sobre pintura, o que levou André Bazin a dizer que este é o filme mais bressoniano do diretor.

Em As Mulheres dos Outros, na segunda metade do século XIX, um jovem arrivista, Octave Mouret (Gérard Philipe), vindo de sua Provença natal, hospeda-se no terceiro e último andar de um imóvel burguês de Paris. Sedutor e cínico, ele conquista as mulheres (solteiras e casadas) que passam diante de sua porta, não só por prazer, mas porque elas são úteis para quem tomou a inabalável decisão de vencer na vida no mundo dos negócios. Octave torna-se logo uma presa ideal para Mme. Josserand (Jane Marken), ansiosa para casar suas filhas, entre as quais Berthe (Dany Carrel), que se apaixona pelo belo rapaz. Diante da indiferença de Octave, Berthe, decepcionada, casa-se com um homem pouco atraente, Auguste Vabre (Jacques Duby). Empregado na loja deste último, Octave fará sua fortuna tornando-se ao mesmo tempo amante de Berthe. Entrementes, a ascenção social de Octave prossegue graças ao seu poder de sedução sobre as mulheres e a sua aptidão para os negócios. Ele conquista o coração de Caroline Hédouin (Danielle Darrieux), proprietária de uma loja luxuosa, casa-se com elae faz prosperar o seu comércio, com o qual irá inaugurar mais tarde a primeira grande loja de departamentos parisiense: “Au Bonheur des Dames”.

Gérard Philipe e Danielle Darrieux em As Mulheres dos Outros

Gérard Philipe e Dany Carrel em As Mulheres dos Outros

Nessa adaptação do romance de Emile Zola, Julien Duvivier afastou-se do naturalismo da obra original e encaminhou – com a ajuda dos diálogos cáusticos de Henri Jeanson – , esse quadro de costumes para o vaudeville sarcástico. Gérard Philipe, um novo Rastignac, passeia com desembaraço nesse universo decadente, seduz todas as mulheres sem qualquer esforço, e domina o filme totalmente. Jane Marken é, como sempre, impressionante. Danielle Darrieux também, cúpida e calculista sob suas maneiras de grande dama irreprensível.

Gérard Philipe como D’Artagnann em Se Versalles Falasse

Em Se Versalhes Falasse e Si Paris m’était Conté, aulas de História (e Pequena História) da França à maneira de Sacha Guitry, ilustradas por um elenco notável de astros e estrelas, Gérard Philipe encarnava respectivamente D’Artagnan e um cantor de rua. Em outro filme constituido por episódios, O Parque dos Amores, Gérard Philipe contracenava com Micheline Presle em um momento de ruptura de um casal no parque famoso de Roma. Em Correntes de Violência, Gérard é o engenheiro Perrin, inteiramente dedicado à construção de uma barragem nos Alpes, mesmo quando abatido por uma doença cardíaca.

Claude Autrant-Lara e e Gérard Philipe nafilmagem de Le Joueur

Cena de Le Joueur

Em A Mentira do Amor, Gérard Philipe é Désiré, o criado de quarto de uma cantora interpretada por Lili Palmer em um dos esquetes do filme, que foi baseado em uma peça de Sacha Guitry. Em Le Joueur é Alexei Ivanovitch, o célebre personagem de Dostoievski. Em Ligações Amorosas, versão modernizada do romance de Choderlos de Laclos, Gérard é o libertino Valmont ao lado de Jeanne Moreau no papel de Juliette. Em Os Ambiciosos, Gérard é Ramon Vasquez, secretário do ditador de uma cidade mexicana que, após este ser assassinado, envolve-se com sua viúva (Maria Felix) e com uma revolta para derrubar o novo governador cruel e despótico (Jean Servais).

Gérard Philipe e Jeanne Moreau em Ligações Amorosas

Durante muito tempo Gérard Philipe pensou em encarnar na tela Thil Uylenspiegel, o herói criado pelo romancista belga Charles de Coster. Uma adaptação feita por René Wheeler deveria ter sido realizada por Christian-Jaque com Gérard no papel principal mas, por falta de capital, o projeto não foi adiante. Entretanto, Gérard não desanimou, e após negociações com a firma DEFA da Alemanha Oriental, ficou decidido que Gérard, além de intérprete, seria co-produtor e diretor do filme com a assistência do documentarista holandês Joris Ivens.

Les aventures de Till l’espiègle – 1956 (de Gérard Philipe et Joris Evens)

O personagem de As Aventuras de Till / Les Aventures de Till L’espiegle / 1955 é um jovem ágil, audaz e astuto que, na Flandres do século XVI, jurou vingar a morte de seu pai, Cloes (Fernand Lewdoux), queimado vivo pelos espanhóis ocupantes de seu país. Ele abandona sua noiva, Nele (Nicole Berger) e, acompann bhado de seu amigo Lamme (Jean Carmet), percorre as aldeias incitando os habitantes à rebelião e salvando os que se encontram em perigo. Till se introduz como bufão no palácio do Duque de Alba (Jean Vilar) e consegue salvar o Príncipe de Orange (W. Koch-Hooge) e seus partidários da morte certa. Os estrangeiros são perseguidos e expulsos enquanto o Principe reune os representantes das províncias e proclama a independência dos Países Baixos. Till regressa ao seu povoado, onde o aguarda sua prometida.

Cena de As Aventuras de Till

Fracasso artístico e crítico, esse filme foi visto como um erro na carreira do ator. Ele tentou reencontrar a receita mágica que fez o sucesso de Fanfan-la-Tulipe, porém não soube lhe imprimir o ritmo esfuziante daquela realização. Nem o próprio Gérard conseguiu repetir sua atuação: Till não foi um pândego e espadachim tão emocionante como Fanfan. Os pontos positivos do espetáculo foram os cenários, os figurinos e as paisagens magníficas mas, com seu roteiro mal costurado e sua mise-en-scène pesadamente teatral, todos os esforços do ator-diretor malograram.

Em 25 de novembro de 1959, no apogeu de sua popularidade, assim que acabou a filmagem de Os Ambiciosos no México, Gérard foi vitimado por um câncer no fígado fulminante, poucos dias antes do seu 37º aniversário, deixando seus fãs inconsolados. Conforme suas declarações de última vontade, ele foi enterrado, vestido com a roupa de Don Rodrigue (o Cid), no pequeno cemitério de Ramatuelle.

 

GÉRARD PHILIPE I

dezembro 1, 2017

Ele foi um dos grandes atores do cinema francês ao lado de Harry Baur, Raimu, Louis Jouvet, Fernandel, Jean Gabin, Jean Marais e Pierre Fresnay, sobre os quais já me pronuncei em artigos anteriores. Sua imagem juvenil e romântica permanece na mente de todos os que o viram representar no teatro ou na tela.

Gérard Philipe

Gérard Philipe nasceu no dia 4 de dezembro de 1922 em Cannes, França, filho de Marcel Philip e Marie Elisa Villette (“Minou”), de ascendência tcheca e tida como uma cartomante notável. O pai era advogado e depois se tornou um hoteleiro rico, proprietário de diversos estabelecimentos na Côte d ‘Azur e em Paris. Gérard e seu irmão mais velho, Jean, estudaram no colégio interno Stanislas dos irmãos maristas. Gérard terminou seu ensino secundário no início da Segunda Guerra Mundial e seu pai o matriculou na Faculdade de Direito em Nice, mas o rapaz já pensava em seguir uma carreira de ator.

Minou, Gérard e seu irmão Jean

Durante a Ocupação, vários diretores, produtores e atores se refugiaram na Côte d’Azur, que estava situada na Zona Livre. Em 1941, Marc Allégret, um desses diretores, soube por acaso das sessões de vidência de Mme. Philip no Hôtel Parc de propriedade de seu marido, e foi com seus amigos consultá-la. Sabendo que seu filho queria fazer teatro, “Minou” persuadiu Allégret a fazer um teste com Gérard.

Entre os anos 30 e 50, Marc Allégret era considerado um grande descobridor de talentos, pois foi ele quem deu a primeira chance à maioria das vedetes da época: Simone Simon, Jean-Pierre Aumont, Michèle Morgan, Jean-Louis Barrault, Louis Jourdan, Daniel Gélin, Dany Robin, Jeanne Moreau e muitos outros, sem esquecer Brigitte Bardot. Por telefone, Allégret pediu a Gérard que aprendesse uma cena da peça de Jacques Deval, “Etienne”, e após a prova ficou surpreso com os dons do rapaz, muito raros em um principiante, faltando-lhe apenas a prática e as manhas do ofício de ator.

Allégret aconselhou-o a seguir o curso de arte dramática de Jean Wall e Jean Huet em Cannes. Um dia. Jean Huet aconselhou-o a procurar Claude Dauphin, que estava para encenar “Une Grande Fille Tout Simple” de André Roussin no Cassino de Nice. “O quê você preparou?”, perguntou Dauphin. Gérard lembrou-se de um poema, Les Poissons Rouges, de Franc-Noain. O nome do poeta arrancou um sorriso dos lábios de Dauphin, que era sensível às recomendações de Allégret e Huet, porém mais ainda ao nome de Franc-Noain. Gérard recitou o poema e Dauphin lhe confiou o papel de Mick, um jovem adolescente. Ele se revelou um ator completo, que não tardaria a mostrar que era capaz de interpretar qualquer papel.

Em 1941, Marc Allégret contratou-o para fazer uma “ponta” no filme A Tentadora / La Boîte aux Rêves (lançado somente em 1945) de seu irmão Yves Allégret. Em 1943, Gérard teve sua verdadeira primeira oportunidade na tela em Les Petites du Quai aux Fleurs de Marc Allégret, filme sobre uma juventude ardente que desperta para a vida e para o amor, no qual abundam os namoricos, rivalidades e reconciliações das quatro filhas (Odette Joyeux, Simone Sylvestre, Danièle Delorme, Colette Richard) de um livreiro (André Lefaur), em torno das quais gravitam vários rapazes (Louis Jourdan, Bernard Blier, Jacques Dynam, Gérard Philipe), fazendo com que o livreiro fique por vezes a ponto de perder a sua costumeira serenidade.

Gérard Philipe e Colette Richard em Les petites du Quai aux Fleurs

No mesmo ano, Gérard obtém seu primeiro sucesso e a celebridade, aos vinte anos de idade, no papel do anjo em “Sodome et Gomorre” de Jean Giraudoux, e entra para o Conservatório Nacional de Arte Dramática, onde acompanhou os cursos de Denis d’Inès e depois o de Georges Le Roy, o homem que iria marcar sua carreira teatral e orientá-la de maneira definitiva. A confiança mútua era tão grande que, a cada etapa importante de sua carreira, Gérard ia consultar Le Roy.

Antes das provas do final de ano, Gérard pediu seu desligamento do Conservatório porque o teatro e o cinema o solicitavam, e ele iria se consagrar a eles com todo o seu entusiasmo. Em 1945, participou de uma nova peça, “Fédérigo”, de René Laporte, um filme de Georges Lacombe, Le Pays sans Étoiles e, finalmente, de outra peça, “Caligula”, de Albert Camus. Atendendo ao conselho de “Minou”, Gérard acrescentou um “e” ao seu nome, para obter treze letras com o seu nome e prenome, uma cifra de boa-sorte, segundo sua progenitora.

Gérard Philipe em Le Pays sans Etoiles

Le Pays sans Étoiles é um filme no gênero fantástico, com um roteiro muito inventivo, no qual, Simon (Gérard Philipe), jovem ajudante de escrivão sonhador e romântico, tem uma visão perturbadora de um crime cometido em 1830, no qual um tal de Frédéric (Gérard Philipe) assassinara o irmão, Frédéric-Charles (Pierre Brasseur) por causa de uma mulher, Aurélia (Jany Holt). Ele revive no tempo presente o mesmo drama do passado, ao qual é atraído por sonhos premonitórios e um sentimento inquietante de reencarnação. Agora, seu irmão chama-se Jean-Thomas (Pierre Brasseur) e Aurélia, atende pelo nome de Catherine (Jany Holt).

Em 24 de dezembro de 1945, o pai de Gérard foi condenado à morte por contumácia por ter colaborado com o inimigo e pertencer a um grupo antinacional, sem que nenhuma prova tivesse instruído seu processo. Ele se refugiou em Barcelona na Espanha, onde se tornou professor de francês. Posteriormente, veio a ser anistiado pelo General de Gaulle.

Gérard Philipe no palco como Calígula

A interpretação de Gérard Philipe em “Caligula”, de Albert Camus, foi uma espécie de revolução. Gérard fez uma composição inesquecível, metade-anjo, metade-demônio, elogiado por uma crítica entusiasmada e aclamado pelos espectadores e por seus próprios colegas. Foi então que Georges Lampin lhe deu sua segunda boa chance no cinema: o papel do príncipe Muichkine de O Idiota / L’Idiot / 1946.

A história é muito conhecida. Em síntese, o príncipe Muichkine volta a São Petersburgo, depois de passar cinco anos em uma clínica. Sofrendo de epilepsia e acreditando na bondade, ele passa por um idiota. Seu parente, o general Epantchine (Maurice Chambreuil), quer casar sua filha Aglaé (Nathalie Nattier) com Totsky (Jean Debucourt), mas é preciso afastar a amante deste, Nastasia Philippovna (Edwige Feuillère). O secretário do general, Gania (Michel André), aceita, mediante uma polpuda soma, casar-se com Nastasia. Humilhada e infeliz, Nastasia propõe se vender a quem pagar mais. Para salvá-la dessa humilhação, Muichkine lhe propõe casamento, porém ela prefere aceitar a proposta do mercador Rogojine (Lucien Coëdel), que lhe oferece cem mil rublos.

Gérard Philipe em O Idiota

Edwige Feuillère e Gérard Philipe em O Idiota

Gérard Philipe e Lucien Coëdel em O Idiota

O romance de Dostoiévski foi despojado de sua profundidade espiritual, porém Lampin, cineasta de origem russa, conseguiu reconstituir uma atmosfera plausível. O filme vale, sobretudo pelas interpretações de Edwige Feuillère e Gérard Philipe, notadamente em duas sequências de grande impacto dramático. A primeira, na residência de Nastasia Philippovna, quando ela joga o pacote dos cem mil rublos no fogo da lareira diante dos convidados atônitos, depois de relembrar, emocionada, incidentes de sua vida infeliz. A segunda, no final, quando Rogojine, com uma vela na mão, conduz Muichkine pelos corredores de sua casa até o quarto onde jaz o corpo de Nastasia. Aí termina o drama, com o primeiro plano do rosto do príncipe, chorando com um riso de louco nos lábios.

Gérard repousava em uma pequena cidade dos Pireneus, quando recebeu um telegrama de Paris. Claude Autant-Lara desejava lhe confiar o papel de François em Adúltera / Le Diable au Corps / 1947. O enredo tratava do seguinte: no enterro de Marthe Lacombe, um rapaz, François Jaubert (Gérard Philipe), cheio de tristeza, recorda o passado. Em 1917, ele conheceu e se apaixonou por Marthe (Micheline Presle), mas ela estava noiva. Alguns meses mais tarde, François reencontra Marthe já casada e os dois se tornam amantes enquanto o marido dela, Jacques (Maurice Lagrenée) está lutando na guerra. Marthe engravida, porém François hesita em assumir suas responsabilidades e Marthe morre no parto, pronunciando o nome do amante. Jacques vai educar a criança, sem saber que ela não era sua.

Gérard Philipe e Micheline Presle em Adúltera

Micheline Presle e Gérard Philipe em Adúltera

Micheline Presle e Gérard Philipe em Adúltera

Tal como o romance de Raymond Radiguet, o filme provocou o escândalo por abordar uma relação de adultério entre dois jovens enquanto milhares de homens estavam morrendo para salvar a pátria. Os defensores da moral não perceberam que tanto o livro como o filme proclamavam antes de tudo o direito ao amor e ao prazer reprimidos pelas guerras e que os dois amantes eram vencidos pelo que Jean Cocteau chamou de “furor público contra a felicidade”. A adaptação e a realização são impecáveis, sobressaindo a utilização muito feliz do retrospecto por meio da diminuição do som dos sinos da igreja. Micheline Presle e Gérard Philipe transmitem com emoção um relacionamento ao mesmo tempo tórrido e imaturo. Os protestos moralistas se atenuaram quando Gérard Philipe ganhou o Grande Prêmio de Interpretação Masculina no Festival de Bruxelas.

Logo depois de Adúltera, Gérard foi convidado por Christian-Jaque para filmar em Roma La Chartreuse de Parme / 1948, que aqui levou o título de A Sombra do Patíbulo ou Amantes Eternos. O argumento conta como em Parma, Fabrice del Dongo (Gérard Philipe), conquistador impenitente, apaixona-se por Clélia Conti (Renée Faure), enquanto sua bela tia, La Sanseverina (Maria Casarès), arde de um amor secreto pelo sobrinho. Ocorrem muitas peripécias, envolvendo ainda: o primeiro-ministro, conde Mosca (Tullio Carminatti), amante de La Sanseverina; o sinistro chefe de polícia Rassi (Lucien Coëdel), que quer ocupar o lugar de Mosca; o monarca Ernest IV (Louis Salou), interessado em La Sanseverina; e o anarquista Ferrante Palla (Attilio Dottesio), que durante uma revolução assassina Ernest. Finalmente, Fabrice se interna para o resto de sua existência em um convento.

Gérard Philipe e Maria Casarès em A Sombra do Patíbulo

Gérard Philipe em A Sombra do Patíbulo

Gérard Philipe e Renéee Faure em A Sombra do Patíbulo

Christian-Jaque adaptou com muita liberdade a obra de Stendhal, transformando um grande romance em um mero filme de aventuras. Concentrado no simples jogo das intrigas, o espetáculo é muito bom, graças aos acontecimentos rocambolescos – aos quais o diretor deu bastante vivacidade -, aos esplêndidos cenários, ao cuidado com que foram compostas as imagens e aos serviços prestados por intérpretes experientes. Entre eles, destaca-se a presença de Gérard Philipe, um Fabrice ardente e romântico à altura do herói stendhaliano.

Os dois filmes seguintes de Gérard, Une Si Jolie Petite Plage / 1948 e Tous les Chemins Mènent à Rome / 1948, tiveram resultados diferentes: o primeiro filme, resultou bem melhor do que o segundo.

Em Une Si Jolie Petite Plage, dirigido por Yves Allégret, Pierre Monet (Gérard Philipe) chega em uma noite chuvosa a uma praia no norte da França. Ele se dirige ao hotel de Mme. Mayeu (Jane Marken), sobrinha do antigo proprietário paralítico, que parece reconhecer o rapaz, mas não pode falar. Mme. Mayeu maltrata um órfão de 15 anos da Assistência Pública, que uma ricaça usa para seus caprichos sexuais. Pierre esteve outrora nessa mesma situação. Foragido da Assistência Pública, maltratado pelo velho hoteleiro, ele fugiu com uma cantora mais velha, assassinou a amante e, procurado pela polícia, voltou ao lugar de sua adolescência. Marthe (Madeleine Robinson), uma criada do hotel, tenta ajudá-lo, mas ele se suicida.

Gérard Philipe e Madeleine Robinson em Une Si Jolie Petite Plage

Trata-se de um drama profundamente triste, típico do realismo negro, que sucedeu no pós-guerra ao realismo poético. A história que tem suas raízes no passado, é contada em um estilo indireto, sem nenhum retrospecto. A verdade é revelada pouco a pouco, através do comportamento de Pierre e da cantora assassinada, evocada por um velho disco, que os clientes do hotel costumam escutar. A ação transcorre em uma atmosfera pesada de chuva e nevoeiro incessantes, criada por uma excepcional fotografia em preto e branco. Gérard Philipe vive um de seus melhores papéis no cinema, compondo com muita sobriedade o perfil do jovem criminoso atormentado, que retorna àquela “pequena praia tão bonita”, para encontrar seu destino

Em Tous le Chemins Mènent à Rome, dirigido por Jean Boyer, Gabriel Pégase (Gérard Philipe), jovem geômetra amalucado, vai para Roma com sua irmã Hermine (Marcelle Arnold), a fim de participar de um congresso. No caminho, eles encontram Laura Lee (Micheline Presle), uma atriz. Obcecado por romances policiais, Gabriel pensa que esta última está sendo perseguida por gangsters e se oferece para protegê-la. Laura, que procura viajar incógnita, aproveita da ingenuidade do jovem para escapar dos jornalistas. Depois de perseguições inverossímeis, Gabriel e Laura chegam a Roma, onde eles descobrirão a felicidade.

Micheline Presle e Gérard Philipe em Tous les Chemins Mènent a Rome

Infelizmente, um ponto de partida inteligente e situações originais imaginadas pelo roteirista Jacques Sigurd foram desperdiçados por uma direção fraca, que transformou a possibilidade de uma boa comédia à moda americana em um espetáculo que suscita tímidos sorrisos apesar do esforço dos intérpretes para dar credibilidade aos seus personagens.

Entre a Mulher e o Diabo / La Beauté du Diable / 1949 marcou o primeiro encontro de Gérard Philipe com René Clair. Embora costumasse escrever sozinho o argumento e os diálogos de seus filmes, o cineasta apelou para a colaboração do conhecido dramaturgo Armand Salacrou, para ajudá-lo a atar e desatar os fios das maquinações deste Fausto moderno. Na versão deles, o velho professor Fausto (Michel Simon) recebe a visita de Mefistófeles (Gérard Philipe). Fausto se recusa a lhe vender sua alma em troca da juventude, o que, no entanto, Mefistófeles lhe concede sem fazer nenhuma exigência. Fausto recupera sua aparência de vinte anos e encontra a cigana Margarida (Nicole Besnard), que se apaixona por ele. Porém, ele se dá conta de que a juventude não vale nada sem dinheiro e assina o pacto com o diabo. Mefistófeles, que tomou as feições do velho Fausto, ensina-lhe a fabricar ouro e o introduz na corte do príncipe regente. Fausto recebe todas as honrarias e se torna amante da princesa (Simone Valère). Quando Mefistófeles cobra a sua parte no acordo, Fausto não quer mais cumprí-lo.

Gérard Philipe em Entre a Mulher e o Diabo

Gérard Philipe e Michel Simon em Entre a Mulher e o Diabo

René Clair dirige Gérard Philipe e Nicole Besnard em Entre A Mulher e o Diabo

Nicole Besnard e Gérard Philipe em Entre Deus e o Diabo

Gérard Philipe e Simone Valère em Entre a Mulher e o Diabo

Eis aqui a velha lenda do Fausto, que exprime dois grandes temas da humanidade: a nostalgia da juventude perdida e a tentação do poder. Apesar da magnitude e da seriedade do assunto, René Clair tratou seu filme em um tom de fantasia. O espetáculo propicia um confronto entre dois atores absolutamente fora de série: Gérard Philipe como um Fausto diabolicamente rejuvenescido e Michel Simon como um diabo truculento. As cenas nas quais Fausto ainda não está habituado com o seu corpo de jovem e conserva a maneira de andar e os tiques de um ancião ou aquelas nas quais, até então desligado dos bens deste mundo, ele é subitamente habitado por um anjo do mal barbudo, debochado e concupiscente, bastam para demonstrar o talento extraordinário dos dois intérpretes.

Nos anos cinquenta, os filmes em esquetes estava na moda e Gérard participou de dois: Lembranças do Pecado / Souvenirs Perdus / 1950 de Christian-Jaque e Conflitos de Amor / La Ronde / 1950 de Max Ophuls

No primeiro filme, quatro objetos perdidos e depois encontrados – uma estatueta de Osiris, uma corôa mortuária, uma echarpe de peliça e um violão – fornecem os temas de quatro esquetes, cada qual interpretado por grandes atores do cinema francês (Edwige Feuillère, Pierre Brasseur, François Périer, Bernard Blier, Yves Montand. Suzy Delair, Armand Bernard). Gérard Philipe participou do episódio da echarpe, como um homem que estrangulou sua antiga amante e depois o médico que mandou interná- lo em um asilo. Ao fugir da polícia, ele encontra uma jovem (Danièle Delorme) prestes a se suicidar nas margens do Sena, e a leva para um quarto, onde lhe revela que foi internado por sórdidas questões de interesse: sua família colocou-o no asilo para se apropriar de sua fortuna. Ele acaba estrangulando a jovem com a echarpe.

Simone Signoret e Gérard Philipe em Conflitos de Amor

No segundo filme, um narrador (Anton Walbrook) faz a A Roda do Amor girar como um carrossel e apresenta os amores da prostituta Léocadie (Simone Signoret) com o soldado Franz (Serge Regiani). Depois, Franz seduzindo a empregadinha Marie (Simone Simon) que iniciará no sexo o jovem de boa família Alfred (Daniel Gélin) que, por sua vez, faz sucumbir a virtude de Emma (Danielle Darrieux), uma mulher casada. Emma se reune com seu marido Charles (Fernand Gravey) em seu leito conjugal. Charles busca uma aventura amorosa com a costureirinha Anna (Odette Joyeux), que é presa fácil do poeta-dramaturgo Robert Kuhlenkampf (Jean-Louis Barrault), que a abandona, para se encontrar com a atriz (Isa Miranda) que, a seu turno, se entregará ao conde (Gérard Philipe). Ele não voltará para um segundo encontro, passando a noite com Léocadie. E assim a Roda termina, precisamente onde havia começado.

Gérard já era um ator célebre quando atuou em Juliette ou la Clé des Songes / 1950 e seu diretor, Marcel Carné, desde o primeiro dia de filmagem ficou surpreso com a atitude deste jovem tão diferente dos outros, que procurava aprofundar, sem cessar, seu personagem. Durante seu trabalho, ele não deixava nada ao acaso ou à improvisação, tudo era estudado, calculado, anotado. “Um dia em que nós discutíamos calmamente – como sempre era o caso com ele – a entonação de uma frase, ele abriu a sua cópia do roteiro e me mostrou o que havia escrito à margem de uma cena, neste lugar preciso, o sentimento que ele pretendia exprimir. Ele não podia modificá-la, porque – ele virava as páginas procurando – dez páginas mais adiante uma outra réplica, que estava igualmente anotada, um outro sentimento expresso, contrabalançava com o anterior. Todo o roteiro era assim repleto de reflexões, de observações ou de reações, formando um todo bastante meditado, do qual ele não tinha intenção de se afastar.”(Marcel Carné em Ma Vie À Belles Dents – Mémoires, l’Archipel, 1996).

Gérard Philipe e Suzanne Cloutier em Juliette ou la Clé des Songes

No filme de Carné, Gérard Philipe é Michael Grandier, um jovem vendedor, que ama Juliette (Suzanne Cloutier), sua companheira de trabalho. Para oferecer à sua colega algumas horas de perfeita felicidade à beira mar, ele rouba dez mil francos da caixa registradora de seu patrão, Monsieur Bellanger (Jean-Roger Caussimon). Quando retornam, Michel é preso e na prisão, ele adormece e sonha. Subitamente, o rapaz se vê livre e do lado de fora depara com um ambiente campestre, céu azul e o canto dos pássaros. Ele chega ao topo de uma montanha e avista uma aldeia totalmente branca. Todos os habitantes perderam a memória. Apenas um acordeonista (Yves Robert) é capaz de lembrar do passado enquanto está tocando seu instrumento. Na aldeia, Michel encontra Juliette novamente, mas ela também perdeu a memória. Ele a segue até um castelo, habitado por um nobre estranho e barbudo, (Jean Roger Caussimon), que é uma espécie de Barba Azul. Ao saber que o Barba Azul subjuga Juliette e vai se casar com ela, Michel subleva os aldeões e os lança em um assalto ao castelo. Arrombando as portas dos armários, eles encontram vestidos sujos de sangue e alianças. Quando finalmente Michel tenta arrancar Juliette do poder do Barba Azul, ouve-se um som estridente. Este toque, que é o da prisão, desperta Michel na sua cela. Ele é conduzido à presença do comissário, que é o retrato vivo de um guarda que ele encontrara no País das Pessoas Sem Memória, e lhe informa que seu patrão, a pedido de Juliette, retirou a queixa contra ele. Michel vai ser libertado. Um pouco mais tarde, ele ouvirá da própria Juliette, que ela vai se casar com seu patrão, que ele reconhece como o Barba Azul do seu sonho. Michel foge de novo. Juliette corre atrás dele. Michel para diante de uma placa, onde está escrito: Perigo de Morte. Juliette passa sem vê-lo, e ele empurra uma porta, que atravessa sem hesitar. Suicídio ou evasão, Michel volta para o País das Pessoas Sem Memória.

Gérard Philipe em Juliette ou la Clé des Songes

 

Jean Cocteau havia adaptado para o cinema a peça de Georges Neveu. Sob direção de Marcel Carné, André Paulvé deveria ser o produtor e Jean Marais o intérprete principal. Dificuldades impediram a realização do filme, que só veio a ser produzido mais tarde por Sacha Gordine, sem Jean Marais, e com uma adaptação de Jacques Viot, bem diferente daquela feita por Cocteau. Selecionado para o Festival de Cannes, o filme foi um fracasso retumbante. Entretanto, Juliette ou la Clef des Songes não é um filme desprezível. Embora não tivesse sido um espetáculo perfeito, por causa da percepção de uma certa frieza no conjunto desse conto de fadas, os cenários soberbos de Alexandre Trauner, iluminados e filmados por Henri Alekan, (as cenas na floresta são absolutamente maravilhosas), a música melodiosa de Joseph Kosma, e a técnica experiente do diretor, conseguiram criar uma atmosfera onírica, que não deixa de ter o seu encanto. Quanto à Gérard Philipe, ele teve uma interpretação digna do seu talento nos limites do papel que lhe foi confiado.

Gérard Philipe no palco como Le Cid

Em 1951, Jean Vilar, que assumira a direção do Théâtre National Populaire (TNP), convida Gérard a integrar sua trupe e interpretar “Le Prince de Hombourg” de Kleist e “Le Cid” de Pierre Corneille, e ele aceita com entusiasmo. Os que viram “Le Cid” e a performance de Gérard no papel mais mumificado da tragédia francêsa, jamais o esquecerão. Fogoso, apaixonado, sensível, romanesco, ele conseguiu o que o teatro não havia conhecido desde Mounet-Sully: uma criação de instantes perfeitos”. (Armand Gatti – Paris-Match, citado por Maurice Périsset no seu magnífico livro Gérard Philipe ou la jeunesse du monde, Ouest-France 1985).

Gérard Philipe e Jean Vilar

Gérard Philipe no palco com Gaby Silvia em Ruy Blas

Gérard garantiu um imenso sucesso popular ao repertório clássico em Paris, em excursões, e no Festival de Avignon, participando de várias peças também como diretor ou sob as ordens de Jean Vilar, notadamente em Ruy Blas (1954), dizendo com perfeição os belos versos tão numerosos de Victor Hugo.

Gérard e sua esposa Anne

Em 29 de novembro de 1951 Gérad se casou com Nicole Fourcade, uma etnóloga com a qual já vivia desde 1946, na prefeitura de Neuilly-sur-Seine, após o divórcio dela. Ele pediu a sua esposa que readotasse seu primeiro prenome, Anne, que ele achava mais poético. Eles tiveram dois filhos, Anne-Marie Philipe, que se tornou escritora e atriz e Olivier Philipe.

Gérard não abandonou o cinema e em 1952 fêz Fanfan la Tulipe / Fanfan la Tulipe de Christian-Jaque. Eis o resumo do argumento: a bela cigana Adeline (Gina Lollobrigida) revela a Fanfan (Gérard Philipe) que ele se cobrirá de glória no exército e se casará com a filha do rei. Fanfan consegue salvar de uma emboscada a Marquesa de Pompadour (Geneviève Page) e a própria Henriette de France (Sylvie Pélayo). Desejoso de rever Henriette, Fanfan penetra clandestinamente no castelo, mas é preso e condenado à fôrca. Adeline, que o ama, obtém a graça do rei. Mas como ela se recusa a “agradecer” o gesto do monarca, este encarrega seu homem de confiança, Fier-à-Bras (Nöel Roquevert), de raptá-la. Mas Fanfan vai salvá-la.

Gérard hilipe em Fanfan la Tulipe

Gérard Philipe e Gina Lollobrigida em Fanfan la Tulipe

Gérard Philipe e Gina Lollobrigida em Fanfan la Tulipe

Seguindo a fórmula de Alexandre Dumas, Christian-Jaque entrecruza personagens da história da França, em particular Luis XV e madame de Pompadour, com criaturas de ficção, em um redemoinho de peripécias cheias de charme, fantasia e humor. Fanfan torna-se, graças ao talento de Gérard Philipe, uma espécie de herói saltitante à maneira de Douglas Fairbanks, pronto para enfrentar o irascível ferrabrás (magnificamente composto por Nöel Roquevert) com uma agilidade e um entusiasmo que eletrizam o público. É preciso render homenagem ao diretor, que impôs ao espetáculo uma animação que não se enfraquece em nenhum momento, seja nas cenas de ação ou nas passagens mais intimistas.

 

RECLAMES DE FILMES ANTIGOS

novembro 29, 2017

 

Hoje em dia os anúncios de filmes praticamente desapareceram dos nossos jornais ou, quando aparecem, não têm a mesma artisticidade de outrora. Nos anos 20/40, quando eram chamados de reclames, constituiam uma ferramenta básica para a divulgação dos novos lançamentos e um atrativo para os leitores, que ansiavam pelas novidades cinematográficas.

Neste, e em uma série intermitente de posts, vou reproduzir alguns reclames como homenagem aos publicistas e artistas que os criaram, a começar pelos anos 1925-1929.

PRIMEIROS WESTERNS, GRANDES COWBOYS

novembro 10, 2017

Em 1898, a companhia de Edison filmou duas cenas “posadas”, Cripple Creek Bar Room e Poker at Dawson City. Nesta última, quatro homens estão sentados em torno de uma mesa, jogando cartas e roubando – e aí começa uma briga. Na outra cena, algumas pessoas bebem em um bar. Quando se embebedam, o garçom as coloca para fora do estabelecimento. Com estas imagens tremeluzentes, que duravam apenas três ou quatro minutos, nasceu o filme de oeste.

O Roubo do Grande Expresso / The Great Train Robbery, realizado em 1903 por Edwin S. Porter, representou um grande avanço. Sua narrativa era bem mais desenvolvida e incorporava, nos seus nove minutos de duração, muitos dos ingredientes do gênero: o próprio roubo do trem, as trocas de socos, uma perseguição a cavalo, uma cena em que um almofadinha é forçado a dançar sob a mira de um revólver, e o tiroteio final. Beneficiado por uma forma de montagem mais eficaz, foi um filme sofisticado para a época, suscitando várias imitações.

O gênero ganhou novo ímpeto com a emergência do primeiro astro do western. Gilbert M. Anderson (Max Aronson) havia trabalhado como ator em O Roubo do Grande Expresso. Em 1907, ele formou uma parceria com George K. Spoor, fundando a companhia Essanay. Ali, Anderson produziu um filme intitulado Broncho Billy’s Redemption / 1910 e ficou doravante conhecido pelo nome do personagem que interpretou.

Gilbert M. Anderson (Broncho Billy)(

Broncho Billy personificava o “ bom homem mau”, geralmente um fora-da-lei que nunca hesitava em se sacrificar por uma mulher ou criança que estivesse em perigo. Não era um vaqueiro de verdade. O que ele tinha da imagem tradicional do cowboy, além de sua roupa, era uma certa simplicidade, uma honestidade subentendida e o gosto pela ação.

Se o atrativo do cowboy se deveu muito a Broncho Billy, a popularidade dos índios nos filmes foi o resultado de sua aparência exótica e a oportunidade que eles criavam para cenas excitantes de batalha. Uma causa mais direta de sua frequência na tela teve a ver com a companhia convenientemente denominada Bison.

Em 1910, percebendo que as locações autênticas estavam se tornando essenciais, a firma mudou-se do Leste para a Califórnia. Por um feliz acaso, encontrava-se naquela localidade o Miller Brothers 101 Ranch Wild West Show, que incluía dezenas de cowboys e índios verdadeiros, gado, manadas de búfalos, diligências, tendas e outras parafernálias imprescindíveis para a produção de filmes de oeste. Os irmãos Miller autorizaram o uso de todo esse equipamento e, da noite para o dia, a Bison 101, como passou a ser chamada, ficou aparelhada para produzir westerns em escala industrial. Ao mesmo tempo, foi contratado um novo diretor, Thomas Harper Ince.

Thomas Harper Ince

Ince era um gênio como organizador e supervisor. Ele inaugurou a prática de elaboração de um roteiro escrito que especificava cada ítem do cenário e dos figurinos, cada plano e movimento de câmera. Esta espécie de pré-planejamento, que se tornaria prática comum na indústria, poupava muito tempo e dinheiro, dinamizando o fluxo de produção nos dezoito mil acres de Santa Inez (perto de Santa Monica), que logo passou a ser conhecido como Inceville.

O único realizador nos primeiros dias do cinema fazendo westerns que podiam concorrer com aqueles oriundos de Inceville era David Wark Griffith. Tal como os westerns de Ince, os de Griffith ofereciam altos valores de produção e uma ênfase no espetáculo visual. Griffith redefiniu as possibilidades do gênero, incutindo-lhe uma dimensão “épica” que iria dar frutos mais tarde.

Tanto Ince quanto Griffith realizaram um grande número de westerns de um e dois rolos cujos temas dominantes eram as histórias sobre o índio americano (v. g. Fighting Blood / 1911, The Battle of Elderbush Gulch / 1913, de Griffith; Custer’s Last Fight / 1912, The Indian Massacre / 1912, de Ince). Para Griffith, a técnica era tudo. Estava mais interessado em situações e no tratamento que lhes dava do que em histórias. Oa enredos de Ince eram cheios de drama e complicações, mas ele nunca foi muito forte em técnica. Há encenacões soberbas nos seus filmes, detalhes realistas, cenas de ação de massa eficientes (e às vezes espetaculares) e bom trabalho de câmera. Porém, em termos de sutileza diretorial e montagem, Ince perdia para Griffith.

O sucessor de Broncho Billy chamava-se William S. Hart. Alto, forte, de olhos claros, rosto comprido e marmóreo, semblante taciturno, Hart transmitia intensidade moral e dramática e encarnava as virtudes do homem do oeste americano. Fazia questão da autenticidade na recriação dos ambientes (embora sua “verdade” do oeste fosse realmente uma visão muito subjetiva) e as histórias dos seus filmes eram simples, banhadas de sentimentalismo.

Ele desenvolveu e aperfeiçoou o tipo do “bom homem mau” introduzido nas telas por Gilbert M. Anderson, que, nos primeiros instantes da trama, começava mal intencionado, e depois se regenerava, praticando um gesto de bondade ou de nobreza pelo amor da mocinha ou por ter encontrado a fé na religião.

William S. Hart deu certa estatura e realismo ao western. Tom Mix introduziu o senso de espetáculo e, como personalidade, ultrapassou-o. Nenhum outro astro de Hollywood pode ser comparado com ele sob este aspecto. Para reforçar o faz-de- conta que colocava nas telas, Mix tornou-se na vida real o cowboy-herói que interpretava, forjando uma biografia aventurosa e gastando em grande estilo os milhares de dólares ganhos no cinema.

Seus westerns tinham enredos simples em forma cômico-folclórica e muita ação, destacando-se as cenas espetaculares que mostravam seu extraordinário talento em cima da sela, atirando e lutando, sempre com roupas vistosas, chapelão e um tremendo magnetismo pessoal.

Tom Mix

Os melhores filmes de Tom Mix foram feitos na Fox durante o perídodo silencioso (v. g. Tony / Just Tony / 1922, Pelas Alturas / Sky High / 1922, Estrela Simbólica / The Lone Star Ranger / 1923, O Passo da Morte / Riders of the Purple Sage / 1925, A Trilha da Vingança / The Rainbow Trail / 1925, A Grande Emboscada / The Great K and A Train Robbery / 1926) sempre com um êxito estrondoso, que ajudou a implantar o western estereotipado, criado em torno de pura convenção.

Tom Mix

A Grande Emboscada, rodado em locação no Colorado, utilizando a ferrovia Denver e Rio Grande, foi notável pelas acrobacias do famoso cowboy. Tom escapa dos vilões dependurando-se em um teleférico sobre um desfiladeiro e deslizando pelo cabo de aço, para cair sobre seu cavalo Tony. Em outra ocasião, corre sobre o topo de um trem em movimento, que Tony acompanha impetuosamente através de um túnel, para recolher mais adiante o seu dono. No desfecho, o herói mergulha em um rio subterrâneo, para encontrar a gruta secreta, onde estão os bandidos, que ele captura, usando a inteligência e os punhos.

O sucesso obtido pelo gênero incitou as grandes companhias a investir nas superproduções como Os Bandeirantes / The Covered Wagon / 1923 de James Cruze, e O Cavalo de Ferro / The Iron Horse / 1924, de John Ford, dois westerns épicos consagrados respectivamente à odisséia dos pioneiros e à construção da estrada de ferro transcontinental.

J. M. Kerrigan em Os Bandeirantes

Eles propagavam a imagem gloriosa de uma nação conquistadora semeando os valores da civilização. A partir daí o Oeste passou a ser algo mais do que um pano de fundo para a ação.

Apesar de conter algumas belas sequências quase-documentárias (a partida da caravana, a travessia do rio, o desfile das carroças no deserto), Os Bandeirantes é um filme monótono e pouco criativo. Melhor do que o filme de Cruze, O Cavalo de Ferro pode ser considerado o grande western dos anos 20.

O superespetáculo conta uma história simples. Davy Brandon (George O’Brien), cavaleiro do correio expresso, escapa dos índios, pulando para um trem em movimento na primeira parte do percurso da Union Pacific, que está sendo construída por Thomas Marsh (Will Walling), pai da namorada de infância de Davy, Miriam (Madge Bellamy). Davy e Miriam se reconhecem, mas ela está noiva de Peter Jesson (Cyril Chadwick), um engenheiro do leste com a incumbência de achar um atalho para a estrada de ferro. Davy tenta mostrar-lhe o caminho que ele e seu pai haviam encontrado anos atrás, porém Jesson trabalha na verdade para Bauman (Fred Kohler), dono de um grande rancho, cujo interesse é que a ferrovia passe por suas terras. Jesson tenta matar Davy, porém este sobrevive e briga com o rival. Mal compreendido por Miriam, o rapaz vai prestar serviços na outra extremidade da linha. Durante um ataque de índios, Davy reconhece Bauman como o “índio” que assassinara seu pai e o mata em uma luta corpo a corpo. Após a junção das duas linhas, Davy e Miriam se reconciliam.

George O’Brien e Madge Bellamy em O Cavalo e Ferro

Conjugando com felicidade a ação individual e a epopéia coletiva, o filme teve como aspectos mais notáveis o emprego dinâmico da câmera e os efeitos de fotografia e montagem nas cenas dos ataques dos índios (inesquecível a sombra dos peles-vermelhas nos vagões do trem), que produziram precisamente o grau de excitação que faltara em Os Bandeirantes

Cena de O Cavalo de Ferro

John Ford na filmagem de O Cavalo de Ferro

Ford usa pela primeira vez o trio de “mosqueteiros”, tanto para a comédia como para a tragédia. Slaterry (Francis Powers), Casey (J. Farrell MacDonald) e Schultz (James Welch), três grandes amigos que lutaram na Guerra Civil, acompanham o herói. Eventualmente, Schultz é ferido, Slaterry é morto e Casey vai com Davy para a Western Pacific. Quando as duas linhas finalmente se unem, os dois “mosqueteiros” remanescentes se abraçam e desejam que o terceiro camarada estivesse ali. Sua morte simboliza as provações que toda a nação teve que suportar para a construção da obra grandiosa.

Além de O Cavalo de Ferro, podemos citar mais três westerns admiráveis produzidos no período silencioso: O Último dos Mohicanos / The Last of The Mohicans / 1920 – na verdade um pré-western (Dir: Maurice Touneur – Clarence Brown), Três Homens Maus / 3 Bad Men / 1926 (Dir: John Ford) e Ouro / The Trail of ‘98 / 1929 (Dir: Clarence Brown).

Cena de O Último dos Mohicanos

Na versão muda do romance de James Fenimore Cooper, pode-se notar o senso pictórico de Tourneur / Brown, principalmente no uso de silhuetas e nos planos de interiores escuros enquadrando os atores na claridade exterior (v. g as cenas nas cavernas) ou bem de longe (v. g. Uncas / Albert Roscoe) e Magua / Wallace Beery lutando no alto do precipício). As cenas do massacre dos retirantes do forte impressionam pela sua selvageria, assim como o final trágico, no qual vemos Cora (Barbarda Bedford) despencando no abismo e Magua enfiando a faca na garganta de Uncas. A atração de Cora por Uncas, enfatizada em várias passagens da narrativa, dá ao filme não só um cunho anti-racista como também uma certa sensualidade.

Três Homens Maus

Em Três Homens Maus, no Dakota, três bandidos simpáticos, Mike Costigan (J. Farrell MacDonald), Bull Stanley (Tom Santschi) e Spade Allen (Frank Campeau), decidem proteger Lee Carlton (Olive Borden), a filha de um criador de cavalos assassinado por um xerife corrupto (Lou Tellegen). O amor entre Lee e Dan O’Malley (George O’Brien), jovem imigrante irlandês em busca de ouro, floresce à sombra desses “anjos da guarda”, que não hesitam em se sacrificar para salvar o casal.

Ford usa a trinca de sublimes canalhas para veicular o tema da amizade e da redenção e demonstra novamente seu humor peculiar (“Meu nome e endereço é Dan O’Malley”), sua notável acuidade visual (o primeiro encontro de Dan e Lee, vistos através da roda de uma carroça) e senso de ação cinematográfica (a corrida para as terras, a morte do vilão surpreendido pela reaparição súbita do último “homem mau”), seu sentimentalismo (a dedicação dos protetores) e sua veia poética (a silhueta dos três cavalgando sob o crepúsculo).

Ouro passa-se no Alaska, onde chegam homens e muheres vindos de todas as partes da nação americana em busca da fortuna, entre eles: Samuel Foote (George Cooper), apelidado de O Verme; Lars Petersen (Karl Dane), um lenhador sueco grandalhão; Salvation Jim (Tully Marshall); os Bulkeys (Emily Fitzroy, Tenen Holtz), acompanhados de uma parente pobre, Berna (Dolores Del Rio), e seu pai cego (Cesare Cravina). Nesta terra gelada, dominada pelo corrupto Jack Locasto (Harry Carey), nasce o amor entre Berna e Larry (Ralph Forbes), um jovem aventureiro também atrás da riqueza.

Ralph Forbes e Dolores Del Rio em Ouro

Administrando com pulso forte uma filmagem bastante árdua (temperaturas baixíssimas, morte de figurantes etc.) Clarence Brown assumiu perfeito controle do espetáculo. Alternando cenas de humor (muito engraçado o espisódio do serrote) e ação dramática (a travessia a pé pela trilha gelada e depois, de canoa, pelos rios caudalosos; a briga entre Larry e Locasto e a morte deste queimado vivo), o diretor conseguiu construir um filme empolgante.

O próximo acontecimento na história do filme de oeste foi o desenvolvimento de uma nova safra de astros-cowboys entre os quais se destacaram Buck Jones, Ken Maynard, Hoot Gibson, Tim McCoy e Fred Thomson, quase sempre ligados aos westerns de série, cuja produção seguia o modelo de linha de montagem utilizada na indústria automobilística.

Com exceção de Fred Thomson, que faleceu repentina e prematuramente em 1928, os outros continuaram em evidência nos anos 30, quando a produção dos westerns B, instigada pela prática do programa duplo, atingiu o auge.

Nos anos 20 e 30 tornou-se óbvio que o público preferia uma versão idealizada do oeste. Este sentimento generalizado talvez fosse uma reação contra os filmes de William S. Hart que acentuara o realismo. Porém os filmes de Hart fizeram sucesso nas bilheterias, de modo que culpar seu respeito pela autenticidade seria fora de propósito. Mais provavelmente o desejo de um Oeste idealizado teria se originado da crescente complexidade e sofisticação dos “tempos modernos”, aos quais milhões de pessoas acharam difícil se adaptar. Por causa disso surgiu uma demanda para a representação do Oeste como uma época em que as coisas eram bem simples, quando o Mal era o Mal, o Bem era o Bem e os dois nunca entrariam em acordo. A Depressão, é claro, teve muito a ver com o anseio pelas “verdades do passado”, pois a ruptura da economia havia abalado a fé de muitas pessoas na América e seus sistemas. Daí porque os filmes dos anos 30 e 40 (mas especialmente aqueles da década precedente) tornaram-se meios de evasão para as massas, o cinema um lugar onde podiam ir e no qual, durante algumas breves horas, podiam esquecer a dura realidade lá fora. E em nenhum gênero este senso de escapismo foi mais evidente do que nos westerns desse período.

Buck Jones

Buck Jones lembrava um pouco William S. Hart pelo rosto granítico e pela interpretação contida, mas seus filmes deram primazia ao espetáculo e à movimentação em detrimento da reconstituição realista do Oeste. Os westerns de Buck Jones, tal como os de Tom Mix, ou eram totalmente impregnados de ação ou continham discreta comicidade folclórica, servindo o próprio mocinho como alvo das brincadeiras.

Buck Jones

Em 1920, Buck conquistou o estrelato na Fox e nos próximos oito anos fez alguns dos maiores faroestes do cinema mudo (v .g. O Lobo dos Montes / Timber Wolf / 1925, Bom como Ouro / Good as Gold / 1927). Mais de uma vez ele demonstrou talento como ator em filmes que não pertenciam ao gênero western (v. g. O Preguiçoso / Lazybones / 1923, de Frank Borzage) e continuou gozando de muito prestígio na fase sonora. No Brasil, sua popularidade era enorme e, conforme informação de João Lepiane (Cinemin, 1992), existiu até um Cine Buck Jones na pequena cidade de Água Preta, em Pernambuco, provavelmente o único no mundo com o nome do festejado cowboy.

Ken Maynard

A partir de 1925, na First National, Ken Maynard começou a igualar com seu magnífico cavalo Tarzan tudo aquilo que Tom Mix e Tony e Buck Jones e Silver faziam. Maynard os ultrapassou praticando piruetas impossíveis na sela, como, por exemplo, em A Horda Vermelha / The Red Raiders / 1927, sem dúvida um dos westerns mais eletrizantes da época.

Ele era desajeitado nas cenas dramáticas ou cômicas, porém sua assombrosa habilidade como cavaleiro (v. g. cavalgar duas montarias ao mesmo tempo com um pé em cada sela; ficar preso à sela do cavalo só com uma das mãos) e sua simpatia compensavam aquela deficiência.

Hoot Gibson

Hoot Gibson foi um legítimo cowboy anunciado pela publicidade como “The Smiling Whirlwind”(O Furacão Sorridente), pois se especializou no humor. Era um vaqueiro desarmado, diabolicamente cômico, que se metia em encrencas e vencia o vilão mais pela astúcia do que pela violência. No período silencioso, sua fase áurea ocorreu na Universal (v. g. Grito de Batalha / The Flaming Frontier / 1926, Cavalos Pintados / Painted Horses / 1927) e, após o advento do som, seus filmes continuaram arrebatando as platéias.

Tim Mc Coy

Tim e os amigos índios

Tim McCoy, coronel do Exército dos Estados Unidos e grande conhecedor da vida dos índios, notabilizou-se no cinema mudo pelos westerns superproduzidos pela Metro (v. g. Espadas e Corações / Winners of the Wilderness / 1926, A Lei do Destino / The Law of the Range / 1927), mantendo sua fama na fase sonora. Mais do que suas habilidades na sela ou com o revólver, o atributo que mais o distinguia era a retidão moral, estampada no seu olhar sério e penetrante. Um de seus filmes, O Fim da Trilha / End of the Trail / 1932, já mostrava uma consciência social em relação aos índios, antecipando-se aos westerns similares dos anos 50.

Fred Thomson

 

Fred Thomson foi possivelmente o ator de western mais popular dos anos 20 depois de Tom Mix, não somente pelo alto padrão de seus filmes, como também por sua bela figura e pela reputação de ex-ministro da igreja protestante. Seus westerns eram cheios de humor e ação. Patas Trovejantes / Thundering Hoofs / 1924, por exemplo, tinha um climax sensacional no qual Fred, enjaulado pelo vilão, executava uma fuga audaciosa e entrava em uma arena, justamente a tempo de dominar um touro com as próprias mãos, para salvar seu cavalo Silver King de ser ferido até a morte.

Harry Carey

Jack Hoxie

Art Acord

Outros cowboys ficaram na memoria dos fãs (v. g. Harry Carey, Jack Hoxie, Art Acord, Jack Holt, Leo Maloney, Pete Morrison, Bob Custer, Dustin Farnum, Buddy Roosevelt etc.), mas nenhum deles atingiu a mesma popularidade dos cinco citados anteriormente.

Com o advento do cinema falado houve inicialmente uma queda na produção de westerns, devido em grande parte às dificuldades técnicas de gravação em exteriores; porém, com a realização de No Velho Arizona / In Old Arizona / 1929 (Dir: Raoul Walsh, Irving Cunmings) isso não era mais problema. O público ficou impressionado com os sons da pradaria: barulhos de tiros, cascos dos cavalos galopando, estouro de uma boiada, baladas cantadas pelos vaqueiros etc.

Warner Baxter, Dorothy Burgess e Edmund Lowe em No Velho Arizona

Outra explicação para o sucesso do filme foi o fato de que ele dava um espaço igual para a intriga romântica e a aventura de ação. “Dois homens e uma senhorita em um rodeio de amor”. Assim estava escrito em um pôster que estampava as imagens de Cisco Kid (Warner Baxter) e do Sargento Dunn (Edmund Lowe) brigando pelo amor de Tonia Maria (Dorothy Burgess).

John Wayne em A Grande Jornada

Wallace Beery e Johnny Mac Brown em O Vingador

Irene Dunne e Richard Dix em Cimarron

O conceito narrativo de um triângulo amoroso esteve ausente em um breve ciclo de westerns épicos (A Grande Jornada / The Big Trail / 1939, de Raoul Walsh, O Vingador / Billy the Kid / 1930, de King Vidor, Cimarron / Cimarron / 1931, de Wesley Ruggles), tendo sido esta ausência uma das causas de seu fraco desempenho nas bilheterias, apesar das novas tecnologias (som, tela larga etc.) e do Oscar de Melhor Filme para Cimarron.

O mau resultado comercial desses filmes e o efeito que a Depressão teve sobre a indústria fizeram com que a produção de westerns A se retraísse nos anos de 1932-35.

Entre os westerns produzidos no começo do cinema falado,Os Três Padrinhos / Hell’s Heroes / 1930 (Dir: William Wyler) e Lei e Ordem / Law and Order / 1932 (Dir: Edward L. Cahn) podem ser apontados como os melhores, distinguindo-se pelo seu tom austero e realismo.

Cena de Os Três Padrinhos

Os  Três Padrinhos é a primeira versão sonora do romance Three Godfathers, de Peter B. Kyne, tantas vezes levado à tela. Três bandidos, Bob Sangster (Charles Bickford), Barbwire Gibbons (Raymond Hatton) e Wild Bill Kearney (Fred Kohler) encontram uma mulher moribunda no deserto e prometem levar seu bebê para New Jerusalem, onde haviam assaltado um banco. No percurso, Wild Bill morre em virtude dos ferimentos recebidos durante o roubo, Kearney perece de sede e Bob bebe água de uma fonte envenenada, a fim de ganhar força para entregar a criança sã e salva na igreja da cidade. A direção de William Wyler impressiona pelo tratamento naturalista que deu certa profundidade à história sentimental de pouca importância. O diretor soube produzir belos efeitos de composição na paisagem desértica e criar uma cena original: um dos bandidos batiza o bebê jogando areia nos seus pezinhos, pois a água do cantil não podia ser disperdiçada.

Walter Huston e Harry Carey em Lei e Ordem

Lei e Ordem chama a atenção pelos deslocamentos da câmera que acompanha a ação por meio de travelings subjetivos rápidos e também pelo tom severo e áspero dado à narrativa. Tendo “limpado” o Kansas, o célebre Frame Johnson (Walter Huston) chega em Tombstone acompanhado de seu irmão Luther (Russell Hopton) e dos amigos Brandt (Harry Carey) e “Deadwood”(Raymond Hatton). Lá também lhe pedem para assumir o cargo de delegado, a fim de livrar a cidade dos três irmãos Northrup (Ralph Ince, Harry Woods, Richard Alexander). Johnson nomeia Brandt e “Deadwood” como seus ajudantes e proíbe o porte de armas. Por causa disso, Brandt é morto pelos bandidos. Furioso, Johnson desafia os Northrup para um duelo à bala nas imediações do celeiro O.K. Luther e “Deadwood” são abatidos. Johnson elimina todos os adversários e entrega seu distintivo ao juiz, dizendo: “Vocês queriam a Lei e a Ordem e as tiveram. Mas isto não é o fim”. E sob o toque triste dos sinos da igreja ele parte, cansado de tanta matança , porém sabendo que outras cidades iguais a essa o aguardam com suas armas.

Pois a tese do filme é esta: a de que a justiça tem que abrir um caminho difícil entre os amontoados de cadáveres. Este sentimento de desespero culmina na cena em que Johnson é obrigado a enforcar um rapaz meio debilóide que havia matado alguém acidentalmente – a primeira execução legal de Tombstone.

Bob Steele

Charles Starrett

“Wild Bill” Elliott

Kermit Maynard

Nos anos 30 os westerns B dominaram completamente o gênero. Além daqueles cowboys mais famosos já mencionados, pode-se apontar entre os mais populares Bob Steele, George O’Brien, Tom Tyler, John Wayne, Buster Crabbe, Kermit Maynard, Jack Perrin, Tom Keene, Bob Livingston, Rex Bell, Charles Starrett, Hopalong Cassidy (William Boyd), “Wild Bill” Elliott, Johnny Mack Brown, Duncan Renaldo, Bob Allen, James Newill, e os cowboys-cantores Gene Autry, Roy Rogers, Tex Ritter, Dick Foran, Jack Randall, Bob Baker, Smith Ballew, Fred Scott, que iniciaram suas carreiras nos meados ou final da década e concorreriam com Allan “Rocky” Lane, Tim Holt, Monte Hale, Don “Red” Barry, Lash LaRue, Sunset Carson, Kirby Grant, e outros nos anos 40. Alguns (v. g. Gene Autry, Roy Rogers, Tim Holt) ainda disputariam as telas com Rex Allen e Whip Wilson nos anos 50.

Gene Autry

Ken Maynard cantava nos seus filmes, porém Gene Autry deu muito mais ênfase à música nos seus westerns, revolucionando o gênero. Depois de ficar conhecido no rádio e pela indústria do disco, Autry tornou-se, graças a Hollywood, o “Cantor-cowboy número um da nação”. O espantoso êxito dos seus filmes, principalmente nas áreas rurais dos Estados Unidos, foi devido a uma fórmula sedutora: música sertaneja romântica e comédia rústica entremeadas com as cenas de ação, misturando-se os ingredientes tradicionais do western com elementos contemporâneos, além de sua imagem de “bom mocinho” (v. “Os 10 Mandamentos do Cowboy”, propostos por Autry, um código sob o qual o cowboy se tornou uma espécie de escoteiro adulto, agradando à indústria cinematográfica, aos distribuidores, às associações de pais e às igrejas).

Roy Rogers

De 1937 a 1942, ele encabeçou a lista dos Campeões de Bilheteria, até ser sucedido por Roy Rogers em 1943. O “Rei dos Cowboys”, tal como Autry, construiu uma personalidade maior do que o ator e os temas de seus filmes também se assemelhavam. Só que os filmes de Rogers, sem deixarem de ser glamourosas extravagâncias musicais, tinham mais ação e realismo. Entretanto, nos filmes de Autry, a música integrava-se à narrativa, sem prejudicar o andamento enquanto nos de Rogers ela interrompia o desenrolar das peripécias como em um número teatral.

Tex Ritter

Roy Rogers e The Sons of the Pioneers

Curiosamente os cowboys-cantores não exerceram influência sobre o western A, exceto algumas aparições dos Sons of the Pioneers (o grupo que Roy Rogers formou e que subsequentemente o acompanhou em vários filmes) em algumas produções de prestígio (v. g. Rio Bravo / Rio Grande / 1950 de John Ford) e o surpreendente retorno de Tex Ritter, quando cantou a canção tema de Matar ou Morrer / High Noon em 1952. Desde então as baladas passaram a pontuar a ação de numerosos westerns.

Surpreendentemente muitos westerns B antigos – e alguns feitos mais tarde – foram filmados com grande vigor, bons valores de produção e excelentes sequências de ação; porém não há dúvida de que esses westerns, na maioria das vezes, usavam clichês simplórios, preocupando-se apenas em agradar seu público pouco exigente.

Hopalong Cassidy

Quando o programa duplo despareceu, western B transferiu-se para a televisão. Esta primeiramente absorveu os filmes e os programas de rádio (que tinham também aderido ao western). Assim, os primeiros cowboys foram Hopalong Cassidy, Gene Autry, Roy Rogers e o Lone Ranger; depois surgiram novos personagens, já criados especificamente para a tela pequena, em seriados como Cheyenne, Gunsmoke, Maverick, Caravana / Wagon Train, O Paladino do Oeste / Have Gun Will Travel etc. A produção de westerns de televisão intensificou-se no período 1952-1970, atingindo o pico de 48 seriados por ano em 1959. A partir de 1971, começou a entrar em declínio íngreme e nunca mais chegou aos níveis do passado.

Gary Cooper e Jean Arthur em Jornadas Heróicas

Cena de Os 3 Padrinhos (1936)

King Vidor dirige Jack Oakie e Fred MacMurray em Atiradores do Texas

Joel McCrea e Frances Dee em Uma Nação em Marcha

Durante os anos 1936-38, os grandes estúdios retomaram, ainda que tímidamente, a produção de westerns classe A, salientando-se, entre os filmes realizados, Jornadas Heróicas / The Plainsman / 1936 de Cecil B. DeMille; O Bandoleiro do Eldorado / Robin Hood of Eldorado / 1936 de William Wellman; Os Três Padrinhos / Three Godfathers / 1936 de Richard Boleslawski; Atiradores do Texas / The Texas Rangers / 1936 de King Vidor e Uma Nação em Marcha / Wells Fargo / 1937 de Frank Lloyd.

James Stewart, Marlene Dietrich, Brian Donlevy em Atire a Primeira Pedra

Tyrone Power em Jesse James

Randolph Scott e Nancy Kelly em A Lei  da Fronteira

Henry Fonda e Claudette Colbert em Ao Rufar dos Tambores

Em 1939 houve um surto mais agressivo, destacando-se Atire a Primeira Pedra / Destry Rides Again, de George Marshall; Jesse James / Jesse James, de Henry King; A Volta de Frank James / The Return of Frank James, de Fritz Lang; A Lei da Fronteira / Frontier Marshall, de Allan Dwan; Ao Rufar dos Tambores / Drums Along the Mohawk e No Tempo das Diligências / Stagecoach, ambos de John Ford.

Segundo muitos críticos, foi na realização deste último, que Ford teria criado todos os chavões do gênero. Entretanto, o filme apenas reúne um espaço (as grandes planícies do Oeste), acontecimentos (a viagem, o ataque dos índios, a perseguição), e sobretudo uma galeria de tipos (Hatfield (John Carradine), cavalheiro sulista, jogador e arruinado; Dr. Josiah Boone (Thomas Mitchell), médico alcoólatra; Samuel Peacock (Donald Meek), vendedor de uísque; Henry Gatewood (Berton Churchill), banqueiro escroque; Curly Wilcox (George Bancroft), xerife; Buck (Andy Devine), cocheiro; Tenente Blanchard (Tim Holt), oficial da cavalaria; Ringo Kid (John Wayne), fora-da-lei; Dallas (Claire Trevor), mulher de má fama mas de alma pura etc.) que fazem parte da tradição do western – não há nada de novo. A mestria de Ford consiste na composição dramática de elementos conhecidos.

John Wayne em No Tempo das Diligências

O movimento do filme, retomado por etapas da viagem e seus incidentes, se funda, de um lado, na evolução das relações entre os membros do grupo e, de outro, na tensão crescente e os perigos que o ameaçam.

Assim, No Tempo da Diligências é, sem cessar e ao mesmo tempo, uma epopéia trágica e um drama psicológico, uma aventura coletiva e uma série de aventuras individuais, destacando-se entre elas a do fora-da-lei heróico e a da prostituta de bom coracão (cujo personagem e situação lembram a Boule de Suif, de Maupassant).

As reações dos diversos personagens, provocadas por sua educação ou preconceitos, alargam o quadro do filme e fazem desse microcosmo que é a diligência uma amostra da sociedade americana do fim do século XIX.

Pode-se dizer, a respeito dessa obra, que ela abriu caminho para um western mais cerebral, consciente de seus temas e de sua significação.

 

CONEXÃO TELETEATRO – CINEMA

outubro 26, 2017

Faço parte de uma geração de felizardos que pôde assistir – entre os anos de 1956 a 1962, na TV Tupi, de 1963 a 1964, na TV Rio (Grande Teatro Murray) e alguns meses na TV Globo em 1965 (4 no Teatro), o primeiramente chamado Grande Teatro Tupi do Rio de Janeiro, um dos inúmeros teleteatros que divulgaram a Alta Cultura nos primórdios da TV no Brasil, exibindo – de início “ao vivo” – os clássicos da dramaturgia e literatura mundiais bem como adaptações de filmes famosos de variados países, interpretados pelos atores mais representativos do nosso teatro. Assistindo este programa maravilhoso, entrei na intimidade de Ibsen, Tchekhov, Pirandello, Balzac, Dostoiewski e mais uma infinidade de grandes autores, cujas obras depois vim a ler, e que alargaram o meu espírito, e me proporcionaram tanta satisfação intelectual e estética.

Esse trabalho de valor inestimável realizado por um grupo de artistas excepcionais foi estudado pela professora Cristina Brandão em O Grande Teatro Tupi do Rio de Janeiro: o teleteatro e suas múltiplas faces  – Editora da UFJF – OP. COM, 2005 e relembrado por Sergio Britto em Fábrica de Ilusão: 50 Anos de Teatro – Funarte / Editora Salamandra, 1996, porém ambos omitiram a quase totalidade dos nomes dos personagens que cada ator interpretou (de algumas telepeças – Anastácio, Orgulho e Preconceito, Escada em Espiral, Ligações Perigosas – só mencionaram o título). Procurei preencher esta lacuna, consultando os periódicos da época da transmissão do programa, principalmente “O Jornal” que, por ser de propriedade de Assis Chateaubriand, dono da TV Tupi, dava mais informações sobre os espetáculos televisivos do que os outros órgãos da imprensa. Nas suas páginas, foram úteis os comentários assinados por José Fernandes e Otacilio Colares, mas quase nunca mencionavam qual ator fez qual personagem. As colunas de Nestor de Holanda no Diário Carioca, Oswaldo Waddington na Tribuna da Imprensa, Lasinha Luis Carlos no Correio da Manhã, R. Pacheco em A Noite, Thereza Cesario Alvim no Última Hora e a revista Intervalo apresentavam a mesma deficiência. Nos outros jornais, as informações sobre o Grande Teatro Tupi eram ainda mais escassas, motivo pelo qual não consegui realizar um trabalho perfeito – ficaram faltando os nomes de alguns personagens e seus respectivos intérpretes.

Lia de Aguiar em A Vida por um Fio

Antes de iniciar a encenação de obras de grandes autores universalmente consagrados, a TV Tupi de São Paulo, poucos meses depois de sua inauguração, colocou no ar em 11 de outubro de 1950 o Teatro Walter Foster com pequenas cenas românticas e, em 29 de novembro, a telepeça – A Vida por um Fio, adaptação do filme de Anatole Litvak com Lia de Aguiar fazendo o papel que coubera na tela a Barbara Stanwyck, acompanhada por Lima Duarte, Walter Foster, Dionísio Azevedo e Yara Lins. A experiência com pequenos teleteatros continuou até que grupos ou companhias teatrais paulistas passaram a mostrar na televisão os espetáculos que estavam em cartaz nos palcos paulistas. Madalena Nicol foi uma das primeiras a se apresentar com os monólogos Antes do Café, de Eugene O’Neill e A Voz Humana, de Jean Cocteau e a TV Tupi então reservou um horário para o Teatro Madalena Nicol.

Madalena Nicol

Outro teleteatro representativo paulista foi o Teatro de Vanguarda, depois chamado de TV de Vanguarda, fruto das idéias e esforços de um grupo, formado por Cassiano Gabus Mendes, Walter George Durst, Dionísio Azevedo, Lima Duarte e Silas Roberg. Este teleteatro, criado em 1952, apresentava como novidade adaptações de filmes famosos para a TV, a cargo de Walter George Durst, cuja experiência vinha do rádioteatro Cinema em Casa da Rádio Difusora de São Paulo. Apenas para citar alguns desses espetáculos: A Dama das Camélias, O Idiota, De Repente no Último Verão, A Malvada, O Homem que Vendeu a Alma, Hamlet, Romeu e Julieta, Entre Quatro Paredes, Pigmaleão etc. No seu livro, TV Tupi Uma Linda História de Amor (Coleção Aplauso, 2008), Vida Alves relaciona um elenco enorme, do qual vou mencionar apenas alguns nomes: Lia de Aguiar, Dionísio Azevedo, Lima Duarte, Vida Alves, Gloria Menezes, Tarcisio Meira, Geny Prado, Henrique Martins, Regis Cardoso, Rildo Gonçalves, Juca de Oliveira, Eva Wilma, John Herbert, Lolita Rodrigues, Débora Duarte, Jaime Barcelos, Nidia Licia, Gianfrancesco Guarnieri, Araci Balabanian, Marly Bueno etc. Na TV Tupi de São Paulo surgiu também o TV de Comédia sob o comando de Geraldo Vietri e exibindo o trabalho de atores como Cazarré, Amândio Silva Filho, Dorinha Duval, Vida Alves, Luiz Orione, Laura Cardoso, Lolita Rodrigues, Amilton Fernandes, Geórgia Gomide, Guy Loup, Rolando Boldrin etc.

Cassiano Gabus Mendes e Lia de Aguiar no TV de Vanguarda

 

Jacy Campos no Câmera Um

Entre os teleteatros de maior destaque no Rio de Janeiro durante a década de cinquenta estavam: o Teatro Philco (Grande Teatro Cacilda Becker) na TV Rio às 2as feiras, 20hs. sob direção de Carla Civelli e Ruggero Jacobbi, tendo à frente do elenco Cacilda Becker e Cleide Yáconis; o Câmera Um de Jacy Campos, que estreou na TV Tupi às 6as feiras, 22.50hs., mobilizando apenas uma câmera, sem cortes, e contando com a presença de Lourdes Mayer, Carlos Duval, Alberto Perez, Ribeiro Fortes e Aracy Cardoso (juntos como Othelo e Desdêmona), entre vários outros artistas e / ou convidados (v. g. Gilda Valença em A Severa, e Rodolfo Mayer fazendo O Médico e o Monstro, Paulo Porto como o Raskolnikov de Crime e Castigo) e encerramentos pitorescos com Jacy chamando a câmera para um close-up e dizendo o seu “boa-noite” característico;

Rodolfo Mayer em O Médico e o Monstro

Norma Blum e Roberto de Cleto no Teatrinho Troll

Fabio Sabag, diretor do Teatrinhgo Troll

Cena de uma peça no Teatrinho Troll

o Teatrinho Troll de Fábio Sabag, anunciado como Vesperal Troll – Grande Teatro Infantil na TV Tupi aos domingos, 14hs., servido pelos atores fixos Norma Blum, Zilka Salaberry, Roberto de Cleto, Oscar Felipe e Antonio Ganzarolli; o Teatro de Equipe na TV Tupi aos domingos, 22:15hs., do qual faziam parte Heloisa Helena (Heloisa foi Serafina em Rosa Tatuada), Mauricio Sherman, Ribeiro Fortes, Paulo Porto, Yoná Magalhães, Glauce Rocha, Riva Blanche etc.; o Estúdio V na TV Tupi aos domingos, 13:30hs., dirigido por Carla Civelli com convidados ilustres como Cacilda Becker, Dulcina, Ziembinski, Paulo Autran etc.; o Teatro de Variedades de Victor Berbara na TV Rio com participações de Odilon Azevedo e Henriette Morineau e, entre os atores regulares, Teresinha Amayo,  Jorge Dória, Emma D’Ávila, Mário Brasini, Teresa Austregésilo, Avalone Filho, Daisy Lucidy, André Villon, Elza Gomes, Sergio de Oliveira, Domingos Martins, Castro Gonzaga etc. e, principalmente, o Grande Teatro Tupi, primeiramente dirigido por Adolfo Celi e depois por Sergio Britto, a partir de 1956, normalmente todas as 2as feiras às 22:30hs, apresentado com o prefixo musical “Smile” de Tempos Modernos de Charles Chaplin (quando o Grande Teatro se transferiu para a TV Rio, o prefixo passou a ser “Limelight” de Luzes da Ribalta).

Convém assinalar que houve ainda no Rio de Janeiro, na TV Tupi, os teleteatros A História do Teatro Brasileiro e História do Teatro Universal, sob direção do português Chianca de Garcia, o segundo teleteatro citado oferecendo um repertório de peças do teatro grego, Shakespeare, Ibsen etc. interpretadas por atores como Fernanda Montenegro, Fregolente, Paulo Porto, Heloisa Helena; o Grande Teatro Cassio Muniz com adaptações de filmes famosos, exibido às 4as feiras, 15hs. (v. g. Luz de Gás com Tonia Carrero e Paulo Autran); o Teatro Gebara às 2as feiras, 21:15 hs., com direção de Chianca de Garcia e comparecimento de Heloisa Helena, Alberto Perez, Milton Carneiro, Samaritana Santos, Sonia Oiticica, Sady Cabral, Ida Gomes etc.; o Teatro Walita aos domingos, 20hs., direção primeiramente de Mauricio Sherman substituido sucessivamente por Fabio Sabag e pelo colombiano Guilherme Rubiano, que passou a fazer o teleteatro em episódios (v. g. Rebecca; As Mulheres); Teatro de Comédias, produzido por Carlos Frias com, por exemplo, Jaime Costa e Heloisa Helena em Carlota Joaquina e Procópio Ferreira em Deus lhe Pague; o TV de Aventura  dirigido por Péricles Leal as 5as feiras, 18:20 hs., abordando os clássicos do romance de aventuras como, por exemplo, Beau Geste de P. C. Wren com Herval Rossano, Avalone Filho e Dary Reis interpretando os três irmãos Geste e Roberto Duval como o truculento sargento Lejaune; o Teatro de Romance às 4as feiras, 15.00hs oferecendo adaptações de argumentos cinematográficos (inclusive o de Casablanca e As Quatro Penas Brancas) selecionados por Celestino Silveira e a partir de 1956 o Teatro de Vanguarda passou a ser visto pelos espectadores cariocas aos domingos, 22:15hs. Na TV Continental às 3as feiras às 22.00hs. coordenado por Jackson de Souza, exibia-se o Teatro de Ontem, cujo objetivo era trazer da poeira dos arquivos, peças que marcaram o teatro brasileiro de outras épocas como, por exemplo, Onde Canta o Sabiá, de Gastão Tojeiro.

O Grande Teatro Tupi do Rio de Janeiro teve sua origem na TV Tupi de São Paulo, onde, a partir de 1952, começou a ser transmitido às 2as feiras, apresentando artistas do porte de Procópio Ferreira, Olga Navarro e Graça Mello e diretores como Osmar Rodrigues Cruz e Antunes Filho. Eles dirigiram alternadamente vários espetáculos, porém foi outro diretor, Sergio Britto que, utilizando sua experiência paulista nos teleteatros, coordenou, produziu e dirigiu o Grande Teatro Tupi, versão carioca. Em julho de 1956, ele foi para o Rio de Janeiro, enquanto, em São Paulo, o Grande Teatro seguiria seu curso, dirigido por Armando Bogus em conjunto com Amir Haddad e Ademar Guerra; mais tarde, tal função passou para Wanda Kosmo. Armando Bogus escolheu para um dos programas, o Falcão Maltês de Dashiel Hammett com José Parisi, Rosamaria Murtinho e Jaime Barcelos no elenco.

Sergio Britto e Adolfo Celi

Sergio Britto estava para estrear no Teatro Ginástico com A Casa de Chá do Luar de Agosto e soube que Adolfo Celi havia abandonado na TV Tupi carioca a direção do Grande Teatro, cujos atores principais eram Tonia Carrero, Paulo Autran e Margarida Rey. Sergio foi à Tupi, e propôs ao Guilherme Figueiredo, diretor da emissora naquela época, encenar Os Espectros de Ibsen. Guilherme aceitou e decidiu que ele fizesse o programa, revezando-se com Sergio Cardoso. “Mais ou menos em agosto nós começamos. O Sérgio Cardoso fez na semana seguinte e parece que não funcionou muito bem, nem o Sérgio, nem o Guilherme de Figueiredo ficaram satisfeitos. Não sei como foi a história, só sei que íamos fazer a terceira semana, quando ele disse: Vocês vão continuar fazendo sempre. Você agüenta? Eu disse: Sim, eu agüento, vou montar minha equipe” (Sergio Britto em entrevista concedida a Cristina Brandão).

Nathalia Timberg, Sergio Britto, Italo Rossi, Fernanda Montenegro e Manoel Carlos

O Grande Teatro do Rio de Janeiro funcionava com um elenco fixo (Fernanda Montenegro, Nathália Timberg, Ítalo Rossi, Aldo de Maio, Sergio Britto), além de dois diretores (Fernando Torres, Flavio Rangel) e um adaptador de textos para a televisão (Manoel Carlos). Atores convidados como Bibi Ferreira, Dulcina, a atriz portuguêsa Maria Sampaio, Henriette Morineau, Sergio Cardoso, Rubens de Falco, Yoná Magalhães, Tereza Rachel, Tonia Carrero, Lourdes Mayer, Vanda Lacerda, Rubens Corrêa, Milton Moraes, Graça Mello e Jaime Costa, fizeram programas eventuais, mas na base estavam sempre os elementos fixos que se revezariam nas produções semanais. Entre outros atores: Carminha Brandão, Maria Helena, Renato Restier, Leonardo Villar, Fábio Sabag, Zilka Sallaberry, Labanca, Berta Zemmel, Wanda Kosmo, Claudio Cavalcanti, Monah Delacy, Sadi Cabral, Fernando Torres, Haydée Bittencourt, Gianfrancesco Guarnieri, Mauro Mendonça, Suzi Arruda, Oscar Felipe, Claudio Correa e Castro, Napoleão Muniz Freire, Francisco Cuoco, Norma Blum, Isabel Teresa, Teresa Austregésilo, Paulo Padilha, Mario Lago, Oswaldo Loureiro, Beatriz Toledo (Segall), Elisio de Albuquerque, Glauce Rocha, Iolanda Cardoso, Lelia Abramo, Sebastião Vasconcelos, Yara Cortes, Ari Coslov, Suely Franco, Camila Amado, Sergio Viotti, Ivan de Albuquerque, Carmen Silva Murgel, Eliana Pitman, Aimée, Carlos Alberto, Antonio Pitanga, Nildo Parente, Renato Consorte, Raul Cortez, Jô Soares, Germano Filho, Maria Pompeu, Daniel Filho, Jece Valadão, Othon Bastos, Waldir Maia, João Carlos Barroso, Iracema de Alencar, Rosita Thomaz Lopes, Renato Machado, Miriam Pires, Odete Lara, Pedro Paulo Matozinho, Perry Salles, Vera Gertel, Wanda Marchetti, Claudio Marzo, Emiliano Queiroz, Anita Schmidt, Léa Bulcão, Eggidio Eccio, Edson Silva, José Eugenio Soares, Ludi Veloso, Angela Bonatti, Irene Ravache, Ivan de Souza, Paulo Araujo, Maria Esmeralda, Maria Muniz, Lia Moiono, Eduardo Waddington, Magalhães Graça, Ary Fontoura, Osvaldo Loureiro, Élida Marelli, Cilo Costa, Tarcisio Zanotti, Altamiro Martins etc. Direção de TV: Mario Provenzano e depois Evaldo Ruy; Cenografia: Pernambuco de Oliveira, Paulo Bandeira e convidados como Gianni Ratto, Napoleão Muniz Freire etc. Sonoplasta: Rúbio Freire.

Em abril de 1957, o TBC levou o grupo de Sergio Britto de volta para São Paulo e aí, como ele contou no seu livro, “Passamos a viver uma maratona: das 13 às 19 hs., ensaio no TBC; das 21 às 23:30, espetáculo; da meia-noite às quatro da manhã, ensaios do grande teatro. No domingo, depois de dois espetáculos, tomávamos o corujão que transportava atores do Rio e de São Paulo. A viagem às vezes começava na hora certa, uma da manhã, mas terminava sabe Deus quando. Na segunda-feira íamos para a Tupi carioca, na Urca, ensaiávamos duas vezes com as câmeras, o diretor de TV, contra-regra, toda a equipe, e de noite fazíamos o programa ao vivo. Na terça-feira de manhã, tomávamos o avião para São Paulo, onde chegávamos, almoçávamos e íamos recomeçar a mesma maratona”. Um esforço hercúleo, por amor a Arte.

Sergio Britto

Entre 1956 e 1965, nos seus nove anos de existência, foram quase 400 espetáculos (infelizmente interrompidos pelas razões que Sergio Britto revelou em depoimento à professora Cristina, do qual reproduzo apenas alguns trechos: “Nós não tínhamos patrocinador o tempo todo. A Tupi queria tanto o nosso programa que, com patrocínio ou sem patrocínio, sempre o manteve no ar. Na TV Rio também houve um patrocínio no início, mas depois acabou … Nós estreamos na Globo sem patrocinador e, depois de quatro meses sem patrocínio, a Globo não aguentou … O Grande Teatro era uma doideira na TV Tupi, ao vivo. Na TV Rio foi todo gravado, já não era a mesma coisa e fizemos programas melhores na Rio que na Tupi … E na TV Globo, os programas eram super perfeitos, eu fiz dezesseis deles. O Walter Clark chegou lá e a Globo usou estes programas no Brasil todo … A TV Rio apagou tudo: apagou o Vestido de Noiva, do Nelson Rodrigues, que para mim foi o melhor programa de televisão que eu fiz. E a Globo apagou sabe o quê? Jaime Costa fazendo A Morte do Caixeiro Viajante. A falta de noção da importância das coisas … não é importância minha, é o Jaime Costa, aquele veterano ator fazendo A Morte do Caixeiro Viajante. Apagaram o Graça Mello fazendo Massacre”. Quando Sergio Britto e sua equipe se transferiram para a TV Rio, o Grande Teatro Tupi passou para o comando de Carlos Lage.

A qualidade do repertório oferecido pelo Grande Teatro é impressionante, mas neste artigo pretendo apenas chamar atenção para o número incrível de adaptações de filmes e / ou de obras literárias que serviram de base para filmes, lembrando que já fiz algo parecido nos meus artigos Conexão Teatro-Cinema I e II, publicados respectivamente em 30 de outubro de 2015 e 13 de novembro de 2015. Sergio Britto era um grande fã de cinema e isto deve ter contribuído para tantas adaptações de filmes no Grande Teatro. Uma vez lhe oferecí uma cópia em VHS de A Parada das Maravilhas / The Show of Shows / 1929, um daqueles filmes musicais-revista dos primórdios do cinema falado. Ele vibrou ao ver sua querida Myrna Loy dançando no número Fantasia Chinesa / Chinese Fantasy.  Lembrei-lhe que Myrna vinha do cinema silencioso, e ele me disse: “Eu gostaria de ter nascido em 1900, porque assim poderia ter visto todos os filmes mudos!”

 Cito apenas filmes mais conhecidos ou de alguma relevância, exibidos nos cinemas até 1965.

OS ESPECTROS de Henrik Ibsen – Ghosts / 1915 Dir: George Nichols, John Emerson. Sergio Britto como Oswald Alving  (na tela: Henry B. Walthall), Nathalia Timberg como a Sra. Alving (Mary Alden), Ítalo Rossi como o Pastor Manders (Nigel De Brulier), Maria Helena como Regina Engstrand (Loretta Blake).

O SÉTIMO CÉU de Austin Strong – Sétimo Céu / The 7th Heaven / 1927 Dir: Frank Borzage; Sétimo Céu / The 7th Heaven / 1937 Dir: Henry King. Aldo de Maio como Chico (Charles Farrell, James Stewart) e Maria Helena como Diana (Janet Gaynor, Simone Simon).

PEQUENAS RAPOSAS de Lillian Hellman – Pérfida / The Little Foxes / 1941 Dir: William Wyler. Nathalia Timberg como Regina Giddens (Bette Davis).

TRAGÉDIA EM NOVA YORK de Maxwell Anderson – Os Predestinados / Winterset / 1936 Dir: Alfred Santell. Aldo de Maio como Mio Romagna (Burgess Meredith).

TERESA RAQUIN de Emile Zola – Tereza Raquin / Térèse Raquin / 1928 Dir: Jacques Feyder; Teresa Raquin / Thérèse Raquin / 1953 Dir: Marcel Carné. Nathalia Timberg como Teresa Raquin (Simone Signoret).

O SORRISO DA GIOCONDA de Aldous Huxley – Vingança Pérfida / A Woman’s Vengeance / 1948 Dir: Zoltan Korda. Nathalia Timberg e Maria Helena nos principais papéis femininos; mas não consegui apurar quem elas personificaram na trama. No filme, as atrizes principais foram Ann Blyth (Doris) e Jessica Tandy (Janet).

Sergio Britto, Aldo de Maio e Paulo Padilha em Doze Homens Furiosos

DOZE HOMENS FURIOSOS de Reginald Rose – Doze Homens e uma Sentença / Twelve Angry Men / 1957 Dir: Sidney Lumet. Elenco: Paulo Padilha, Ítalo Rossi, Aldo de Maio, Fábio Sabag, Elísio de Albuquerque, Sergio Britto, Napoleão Muniz Freire, Fernando Torres, Othon Bastos, Roberto de Cleto, Tarcisio Zanotta e Ivan de Souza.

A FAMÍLIA BARRETT de Rudolph Besier – A Família Barrett / The Barretts of Wimpole Street / 1934 Dir: Sidney Franklin. Fernanda Montenegro como Elizabeth (Norma Shearer), Sergio Britto como seu pai, Edward Barrett (Charles Laughton), Paulo Goulart como Robert Browning (Fredric March), Nathalia Timberg (Arabel), Maria Helena(Henrieta), Carminha Brandão (Bela), Elida Marelli (dama de companhia), Italo Rossi (Mr. Biven), Aldo de Maio (capitão), Fábio Sabag (Dr. Chambers).

O CONDENADO de Graham Greene – O Pior dos Pecados / Brighton Rock / 1947 Dir: John Boulting. Aldo de Maio como Pinkie Brown (Richard Attenborough).

SINFONIA PASTORAL de André Gide – Sinfonia Pastoral / La Symphonie Pastorale / 1946 Dir: Jean Delannoy. Nathália Timberg como Getrudes (Michèle Morgan) e Sergio Britto como o pastor Jean Martens (Pierre Blanchar).

DESLUMBRAMENTO de Keith Winter – A Mulher Proibida / The Shinning Hour / 1938 Dir: Frank Borzage. Sergio Britto no seu livro faz referência à esplêndida atuação de Nathalia Timberg, mas não esclarece o nome de sua personagem. No filme, Joan Crawford e Margaret Sullivan são as duas atrizes principais respectivamente nos papéis de Olivia Riley e Judy Linden. Nathalia foi Olivia ou Judy?

A NOITE TUDO ENCOBRE de John Van Druten – A Noite Tudo Encobre / Night Must Fall / 1937 Dir: Richard Thorpe. Ítalo Rossi como o criminoso Danny (Robert Montgomery).

Ítalo Rossi em A Noite Tudo Encobre

EUGENIA GRANDET de Honoré de Balzac – Eugenia Grandet / The Conquering Power / 1921 Dir: Rex Ingram; Eugenia Grandet / Eugenia Grandet / 1946 Dir: Mario Soldati; Eugenia Grandet / 1953 Dir: Emilio Gómez Muriel. Com Fernanda Montenegro como Eugenia Grandet (Alice Terry, Alida Valli, Marga López).  

COLOMBA de Prosper Merrimée – Vendetta / Vendetta / 1950 Dir: Mel Ferrer, Stuart Heisler. Nathália Timberg como Colomba (Faith Domergue) e Paulo Padilha como Barricini (Joseph Calleia). No elenco: Magalhães Graça, Sergio Britto, Irene Ravache.

NOITES BRANCAS de Fyodor Dostoievsky – Noites Brancas / Le Notti Bianchi / 1957 Dir: Luchino Visconti. Berta Zemel como Natalia (Maria Schell) e Aldo de Maio como Mario (Marcello Mastroiani).No elenco: Sergio Britto.

Berta Zemel, Sergio Britto e Aldo de Maio em Noites Brancas

O LUTO FICA BEM EM ELECTRA de Eugene O’Neill – Conflito de Paixões / Mourning Becomes Electra / 1947 Dir: Dudley Nichols. Nathália Timberg como Lavinia Manson (Rosalind Russell). No elenco: Berta Zemel.

Berta Zemel e Nathalia Timberg em O Luto Fica Bem Em Electra

ÁGUIA DE DUAS CABEÇAS de Jean Cocteau – Águia de Duas Cabeças / L ‘Aigle à Deux Têtes / 1948 Dir: Jean Cocteau. Nathália Timberg como a Rainha Natasha (Edwige Feuillère) e Sergio Britto como Stanislas (Jean Marais).

CORONEL CHABERT de Honoré de Balzac – Coronel Chabert – A Grande Perfídia  / Le Colonel Chabert / 1943 Dir: René Le Hénaff. Ítalo Rossi no papel do Coronel Chabert (Raimu).

LA BOHÈME de Henri Murger – La Bohème / La Bohème / 1926 Dir: King Vidor.  La Vie de Bohème / 1945 Dir: Marcel L’Herbier. Fernanda Montenegro como Mimi (Lillian Gish), Sergio Britto como Rodolfo (John Gilbert), Nathália Timberg como Musetta (Renée Adorée), Aldo de Maio como Marcelo (Gino Corrado).

Fernanda Montenegro e Sergio Britto em La Bohème

CAROLINA de Theodore Dreiser – Perdição por Amor / Carrie / 1952 Dir: William Wyler. Fernanda Montenegro como Carrie (Jennifer Jones) e Sergio Britto como  George (Laurence Olivier).

 O DESTINO BATE À PORTA de James M. Cain – O Destino Bate à sua Porta / The Postman Always Rings Twice / 1946 Dir: Tay Garnett. Adaptação: Walter Hugo Khouri. Sergio Brito como Frank Chambers (John Garfield) e Nathália Timberg como Cora (Lana Turner). No elenco: Italo Rossi, Sadi Cabral, Aldo de Maio.

SONATA A KREUTZER de Lev Tolstoy – A Sonata de Kreutzer / Die Krautzersonate / 1937 Dir: Veit Harlan; Sonata de Kreutzer / Les Nuits Blanches de Saint-Petersburg / 1938 Dir: Jean Dréville.No elenco: Ítalo Rossi, Nathalia Timberg, Sergio Britto, Aldo de Maio e Maria Helena.

 A CASA DAS SETE TORRES de Nathaniel Hawthorne – A Casa das Sete Torres / The House of the Seven Gables / 1940 Dir: Joe May. Com Fernanda Montenegro, Sadi Cabral, Sergio Britto.

Berta Zemel e Aldo de Maio em A Casa das Sete Torres

EM CADA CORAÇÃO UM PECADO de Henry Bellaman – Em Cada Coração um Pecado / Kings Row / 1942 Dir: Sam Wood. Grande Elenco: Nathalia Timberg, Fernanda Montenegro, Monah Delacy, Berta Zemel, Wanda Kosmo, Lia Maione, Paulo Padilha, Fábio Sabag, Maria Helena, Sergio Britto, Ítalo Rossi, Manoel Carlos, Oscar Felipe, Aldo de Maio, Elísio de Albuquerque, Paulo Araujo Claudio Cavalcanti. Só tenho como certo NathaliaTimberg como Randy (Ann Sheridan). 

A DAMA DE ESPADAS de Aleksandr Pushkin – A Dama de Espadas / La Dame de Pique / 1937 Dir:  Fedor Ozep. A Dama de Espadas / The Queen of Spades / 1949 Dir: Thorold Dickinson. Monah Delacy como a Condessa Tomski (Margerite Moreno, Edith Evans), Nathália Timberg como Lisa (Madeleine Ozeray, Yvonne Mitchell), Sergio Britto como Tenente Herman (Pierre Blanchar, Anton Walbrook).

BOM DIA TRISTEZA de Françoise Sagan – Bom Dia, Tristeza / Bonjour Tristesse /  1958 Dir: Otto Preminger. Maria Helena como Cecile (Jean Seberg).

 O FALECIDO MATIAS PASCAL de Luigi Pirandello – O Morto Que Ri / Feu Mathias Pascal / 1926 Dir: Marcel L’Herbier; O Homem Que Voltou do Outro Mundo /   L’Homme de Nulle Part / 1937 Dir: Pierre Chenal. Sergio Britto como Mathias Pascal (Ivan Mosjoukine, Pierre Blanchar).

Fernanda Montenegro e Berta Zemel em À Margem da Vida

À MARGEM DA VIDA de Tennessee Williams – Algemas de Cristal / The Glass Menagerie / 1950 Dir: Irving Rapper. Berta Zemel como Laura Wingfield (Jane Wyman), Fernanda Montenegro como Amanda Wingfield (Gertrude Lawrence) e Sergio Britto como Jim O’Connor (Kirk Douglas).

MADAME BOVARY de Gustave Flaubert – Madame Bovary / 1934 Dir: Jean Renoir; A Sedutora Madame Bovary / Madame Bovary / 1949 Dir: Vincente Minnelli. Fernanda Montenegro como Madame Bovary (Valentine Tessier, Jennifer Jones). No elenco: Fernando Torres.

Fernando Torres e Fernanda Montenegro em Madame Bovary

DISQUE M PARA MATAR de Frederick Knott – Disque M para Matar / Dial M for Murder / 1954   Dir: Alfred Hitchcock. Nathalia Timberg como Margot Wendice (Grace Kelly), Sergio Britto como Tony Wendice (Ray Milland), Fernando Torres como Mark Halliday (Robert Cummings), Aldo de Maio como Charles Swann, o assassino contratado pelo marido (Anthony Dawson), Manoel Carlos como o Inspetor Hubbard (John Williams).

Fernanda Montenegro em A Herdeira

A HERDEIRA de Ruth e Augustus Goetz  / Henry James – Tarde Demais / The Heiress Dir: William Wyler. Fernanda Montenegro como Catherine Sloper (Olivia de Havilland), Aldo de Maio como Morris Austin (Montgomery Clift) e Sergio Britto como Austin Sloper (Ralph Richardson), Carminha Brandão como Lavinia (Miriam Hopkins).

EU SOUBE AMAR de Zoe Akins / Edith Wharton – Eu Soube Amar / The Old Maid / 1939 Dir: Edmund Goulding. “O Jornal” aponta Carminha Brandão e Nathalia Timberg como atrizes principais, mas não esclarece quem faz o papel de Charlotte (Bette Davis) ou de Delia Lovell (Miriam Hopkins).

Sady Cabral, Berta Zemel e Monah Delacy em O 5º Mandamento

O QUINTO MANDAMENTO de Maurice Rostand – Não Matarás / Broken Lullaby  / 1932 Dir: Ernst Lubitsch. Aldo de Maio como Paul Renard (Phillips Holmes) e Berta Zemel como Elsa (Nancy Carroll).

TESTEMUNHA DE ACUSAÇÃO de Agatha Christie – Testemunha de Acusação / Witness for the Prosecution / 1957 Dir: Billy Wilder. Aldo de Maio como Leonard Vole (Tyrone Power), Nathália Timberg como Christine (Marlene Dietrich). No elenco: Sergio Britto, Sadi Cabral, Felipe Wagner e, como convidada especial, Ida Gomes.

ETERNO MARIDO de Fyodor Dostoievski – O Eterno Marido / L ‘Homme au Chapeau Rond / 1946 Dir: Pierre Billon. Sadi Cabral como Nicolas Trousotsky (Raimu).

WERTHER de J. W. von Goethe – Werther (TV)Le Roman de Werther / 1938 Dir: Max Ophuls. Aldo de Maio como Werther (Pierre Richard-Willm) e Fernanda Montenegro como Carlota (Annie Vernay).

Fernanda Montenegro e Aldo de Maio em Werther

LEITO NUPCIAL de Jan Hartog – Leito NupcialThe Four Poster / 1952 Dir: Irving Reis. Sergio Britto e Fernanda Montenegro como o casal John e Abby Edwards (Rex Harrison, Lili Palmer).  

CARTA DE UMA DESCONHECIDA de Stefan Zweig – Carta de Uma Desconhecida / Letter from an Unknown Woman / 1948   Dir: Max Ophuls. Berta Zemel como Lisa (Joan Fontaine) e Sergio Britto como Stefan (Louis Jourdan).

DESPEDIDA DE SOLTEIRO de Paddy Chayefsky – Despedida de Solteiro / The Bachelor Party / 1957 Dir: Delbert Mann. Sergio Britto diz que foi a primeira intervenção de Gianfrancesco Guarnieri no programa, mas não identifica o nome de seu personagem.

BREVE ENCONTRO de Noel Coward – Desencanto / Brief Encounter / 1945 Dir: David Lean. Fernanda Montenegro como Laura Jesson (Celia Jonhson) e Sergio Britto como Dr. Alec Harvey (Trevor Howard).

CARNET DE BAILE de J. Duvivier, Jean Sarment, Pierre Wolff, Yves Mirande, Bernard Zimmer – Um Carnê de Baile / Un Carnet de Bal / 1937 Dir: Julien Duvivier. Nathália Timberg (Marie Bell). Os homens de sua vida: Leonardo Vilar, Felipe Wagner, Ítalo Rossi, Francisco Cuco e Sergio Britto.

TERNURA de Henri Bataille  A Ternura / La Tendresse / 193 de André Hugon. No elenco: Fernanda Montenegro e Sergio Britto.

Lia Moiono, Fernanda Montenegro e Sergio Britto em Ternura

ALÔ, Ô DE FORA de William Saroyan – Hello Out There / 1949 Dir: James Whale (31 min., realizado para fazer parte de um filme de esquetes, que afinal não foi lançado).

O PROFUNDO MAR AZUL de Terence Rattigan – O Profundo Mar Azul / The Deep Blue Sea / 1955 Dir: Anatole Litvak. Nathália Timberg como Hester Collyer (Vivien Leigh).

JANE EYRE de Charlotte Brontë – Jane Eyre / Jane Eyre / 1943 Dir: Robert Stevenson. Fernanda Montenegro como Jane Eyre (Joan Fontaine) e Sergio Britto como Rochester (Orson Welles).

Fernanda Montenegro em Jane Eyre

O DIABO NO CORPO de Raymond Radiguet – Adúltera / Le Diable au Corps / 1947 Dir: Claude Autant-Lara. Nathália Timberg como Marthe (Micheline Presle) e Aldo de Maio como François (Gérard Philipe).

UM JOGADOR de Fyodor Dostoievsky – O Jogador / Le Joueur / 1938 Dir: Gerhard Lamprecht, Louis Daquin; O Grande Pecador / The Great Sinner / 1949 Dir: Robert Siodmak; Le Joueur / 1958 Dir: Claude Autant-Lara. Sady Cabral como General Ostrovsky (Walter Huston), Haydée Bittencourt como a avó Ostrovsky (Ethel Barrymore), Sergio Britto como Alexei, que nesta versão ganhou o nome de Fedja (Gregory Peck), Nathália Timberg como Paulina (Ava Gardner) – os personagens são do filme de R. Siodmak. Pierre Blanchar e Gérard Philipe fizeram o papel de Aleksei nos outros filmes.

Ítalo Rossi, Sergio Britto e Aldo de Maio em O Retrato de Dorian Gray

O RETRATO DE DORIAN GRAY de Oscar Wilde – O Retrato de Dorian Grey / The Picture of Dorian Grey / 1945 Dir: Albert Lewin. Aldo de Maio como Dorian Grey (Hurd Hatfield), Ítalo Rossi como o pintor do quadro, Basil Hallward (Lowell Gilmore), Sergio Britto como Lord Henry Wotton (George Sanders), Maria Helena como Sybil (Angela Lansbury).

DIVÓRCIO de Clemence Dane – Vítimas do Divórcio / A Bill of Divorcement / 1932 Dir: George Cukor; Vítimas do Divórcio / A Bill of Divorcement/ 1940 Dir: John Farrow. Ítalo Rossi como Hilary Fairfield (John Barrymore, Adolph Menjou), Carminha Brandão como Margaret Fairfield (Billie Burke, Fay Bainter), Maria Helena como  Sidney  Fairfield (Katharine Hepburn,  Maureen O’Hara).

Italo Rossi e Sergio Britto em Ralé

RALÉ de Maxim Gorky – Bas Fonds / Les Bas-Fonds / 1936 Dir: Jean Renoir; Ralé / Donzoko / 1957 Dir: Akira Kurosawa. Nathália Timberg como Vassilissa (Suzy Prim), Aldo de Maio como Pepel (Jean Gabin), Sergio Britto como o barão (Louis Jouvet), Berta Zemel como Natacha (Junie Astor), Ítalo Rossi como o ator alcoólatra que se enforca (Robert Le Vigan), No filme de Kurosawa Toshiro Mifune era o barão.

MULHER SEM ALMA de George Kelly – O Erro de Madame / Craig’s Wife / 1928 Dir: William C. DeMille; Mulher sem Alma / Craig’s Wife / 1936 Dir: Dorothy Arzner; A Dominadora / Harriet Craig / 1950 Dir: Vincent Sherman. Nathália Timberg como Harriet Craig (Irene Rich, Rosalind Russell, Joan Crawford).

APENAS UM CORAÇÃO SOLITÁRIO de Richard Llewellyn – Apenas um Coração Solitário / None But a Lonely Heart / 1944 Dir: Clifford Odets. Lélia Abramo como Ma Mott (Ethel Barrymore).

Ítalo Rossi e Fabio Sabag em Trágica Inocência

TRÁGICA INOCÊNCIA de Marc-Gilbert Sauvajon – Trágica Inocência / Non Coupable  / 1947 Dir: Henri Decoin.  Ítalo Rossi como o Dr. Michel Ancelin (Michel Simon).

AQUELE QUE LEVA BOFETADAS de Leonid Andreiev – Ironia da Sorte / He Who Gets Slapped / 1928 Dir: Victor Sjostrom. Ítalo Rossi como Paul Belmont – Aquele, (Lon Chaney), Nathália Timberg como Consuelo (Norma Shearer) e Aldo de Maio como Bezano (John Gilbert).

CORAÇÃO DELATOR de Edgar Allan Poe – A Lenda do Coração / The Tell Tale Heart / 1941 Dir: Jules Dassin  (20 min.). Aldo de Maio como o Jovem (Joseph Schildkraut) e Sadi Cabral como o Velho (Roman Bohnen).

Leonardo Vilar, Aldo de Maio e Daniel Filho em Fim de Jornada

FIM DE JORNADA de R.C. Sheriff – Journey’s End / 1930 Dir: James Whale. Sergio Britto aponta Ítalo Rossi como um coronel e Aldo de Maio como um tenente. No filme aparece um capitão (Colin Clive) e dois tenentes: Osborne (Ian Maclaren) e David Manners (Raleigh). No elenco: Leonardo Vilar e Daniel Filho.

MEU REINO POR UM AMOR de Maxwell Anderson – Meu Reino por um Amor / The Private Lives of Elizabeth and Essex / 1939 Dir: Michael Curtiz. Fernanda Montenegro como Rainha Elizabeth (Bette Davis, Sergio Britto como Conde de Essex (Errol Flynn).

Fernanda Montenegro e Sergio Britto em Meu Reino por um Amor

ELEGIA PARA MARY de Ruth Southard – Destino Amargo / No Sad Songs for Me / 1950 Dir: Rudolph Maté. Nathália Timberg como Mary (Margaret Sullavan).

ESCRAVO DE SI MESMO de Mel Dinelli – Escravo de Si Mesmo / Beware my Lovely / 1952 Dir: Harry Horner. Italo Rossi como Howard Wilton (Robert Ryan) e Lelia Abramo como Mrs. Helen Gordon (Ida Lupino).

DIVÓRCIO PARA TRÊS de Victorien Sardou – Beija-me Outra Vez / Kiss me Again / 1925 Dir: Ernst Lubitsch; Amor para Três / 1958 Dir: Carlos Hugo Christensen. No elenco: Sergio Britto, Fernanda Montenegro.

PAIS E FILHOS de Helen e Nolan Leary / Josephine Lawrence – A Cruz dos Anos / Make Way for Tomorrow / 1937 Dir: Leo McCarey. Fernanda Montenegro e Fábio Sabag como o casal Cooper (Victor Moore, Beulah Bondi). Os filhos eram: Sergio Britto, Fernando Torres, Isabel Teresa, Aldo de Maio e Élida Marelli.

TRÊS DESCONHECIDOS de John Huston / Howard Koch – Três Desconhecidos / Three Strangers / 1946 Dir: Jean Negulesco. Os jornais dizem que no elenco estavam: Ítalo Rossi, Carminha Brandão, Aldo de Maio, Fernanda Montenegro, Sergio Brito e Paulo Padilha.

LILIOM de Ferenc Molnar – Liliom / Liliom / 1930 Dir: Frank Borzage; Coração de Apache / Liliom / 1934 Dir: Fritz Lang.  Sergio Britto diz apenas que Zilka Salaberry substituiu Fernanda Montenegro por motivo de doença. Provavelmente ela seria a Julie (Rose Hobart, Madeleine Ozeray).

OS DEZ NEGRINHOS de Agatha Christie – O Vingador Invisível / And Then There Were None / 1945 Dir: René Clair. Ítalo Rossi como o juiz assassino Francis J. Quincannon (Barry Fitzgerald).

Sergio Britto e Aldo de Maio em A Corda

A CORDA de Patrick Hamilton – Festim Diabólico / Rope / 1948 Dir: Alfred Hitchock. Sergio Britto e Aldo de Maio como os dois assassinos Brandon e Philip (John Dall, Farley Granger). Ítalo Rossi como  Rupert Cadell (James Stewart).

A ENDEMONIADA de Karl Schönherr – Der Weibsteufel / 1951 Dir: Wolfgang Liebeneiner. Nathália Timberg como Marei (Hilde Krahl).

RATOS E HOMENS de John Steinbeck – Carícia Fatal / Of Mice and Men / 1939 Dir: Lewis Milestone. Aldo de maio como George (Burgess Meredith), Cilo Costa como Lennie (Lon Chaney Jr.) e Nathalia Timberg como Mae (Berry Field).

O PRIMO BASÍLIO de Eça de Queirós – El Primo Basilio / 1935  Dir: Carlos de Nájera; O Primo Basilio / 1959 Dir: Antonio Lopes Ribeiro. Sergio Britto como o primo Basilio, (Ramón Pereda, Antonio Vilar) e Fernanda Montenegro como Luisa (Andrea Palma, Danik Patisson). No elenco: Zilka Salaberry, Iolanda Cardoso.

CLÁUDIA de Rose Franken – Claudia / Claudia / 1943 Dir: Edmund Goulding. Fernanda Montenegro como Claudia Naughton (Dorothy McGuire), Sergio Britto como o marido, David (Robert Young), Monah Delacy como a mãe, Mrs. Brown (Ina Claire).

Sergio Britto em Mayerling

MAYERLING de Claude Anet – Mayerling / Mayerling / 1936 Dir: Anatole Litvak; Le Secret de Mayerling / 1949 Dir: Jean Delannoy. Sergio Britto como o Arquiduque , Rudolph (Charles Boyer, Jean Marais), Nathália Timberg como Marie Vetsera (Danielle Darrieux, Dominque Blanchar), Ítalo Rossi como Imperador Francisco José  (Jean Dax,  Jean Debucourt), Fernanda Montenegro como Elizabeth de Habsburg (Gabrielle Dorziat, Marguerite Jamois). Participação do violonista Fafá Lemos, da dançarina cigana Ghyta Iamblosky e do bailarino Johnny Franklin.  

AMOR DE OUTONO de Collette – Amor de Outono / Le Blé en Herbe / 1954 Dir: Claude Autant-Lara. Nathália Timberg como Madame Dalleray (Edwige Feuillère) e Claudio Cavalcanti como Phil (Pierre-Michel Beck).

Nathalia Timberg e Claudio Cavalcanti em Amor de Outono

O CASTELO DO HOMEM SEM ALMA de A. J. Cronin – O Castelo do Homem sem Alma / Hatter’s Castle / 1942 Dir: Lance Comfort. Ítalo Rossi como James Brodie (Robert Newton), Fernanda Montenegro como Mary Brodie (Deborah Kerr) e Sergio Britto como Dr. Renwick (James Mason).

A ESTRANHA PASSAGEIRA de Casey Robinson – Estranha Passageira / Now Voyageur / 1942 Dir: Irving Rapper. Fernanda Montenegro como Charlote Vale (Bette Davis) e Monah Delacy como sua mãe dominadora (Gladys Cooper).

 ASSUNTA SPINA de Salvatore Di Giacomo – Sangue Napolitano / Assunta Spina / 1915 Dir: Francesca Bertini, Gustavo Serena; Assunta Spina / 1930 Dir: Roberto Roberti; O Grito da Carne / Assunta Spina / 1948 Dir: Mario Mattoli. Fernanda Montenegro como Assunta Spina (Francesca Bertini, Rina de Liguoro, Anna Magnani).

YVETTE de Guy de Maupassant – Yvette / 1928 Dir: Alberto Cavalcanti. No elenco: Nathália Timberg e Norma Blum.

SERVIDÃO HUMANA de Somerset Maugham – Escravo do Desejo / Of Human Bondage / 1934 Dir: John Cromwell; Escravo de uma Paixão / Of Human Bondage / 1946 Dir: Edmund Goulding. Nathália Timberg como Mildred (Bette Davis, Eleanor Parker) e Aldo de Maio como Philip (Leslie Howard, Paul Henreid).

O SEDUTOR de Diego Fabbri – Il Seduttore / 1954 Dir: Franco Rossi. Sergio Britto como Alberto Ranieri (Alberto Sordi). As mulheres eram: Fernanda Montenegro, Nathália Timberg e Norma Blum.

Nathalia Timberg, Fernanda Montenegro e Sergio Britto em Floradas na sSerra

FLORADAS NA SERRA de Dinah Silveira de Queiroz – Floradas na Serra / 1954. Dir: Luciano Salce. Fernanda Montenegro como Lucília (Cacilda Becker).No elenco: Sergio Britto, Nathalia Timberg.

A VIDA POR UM FIO de Lucille Fletcher – A Vida por um Fio / Sorry, Wrong Number / 1948 Dir: Anatole Litvak. Natália Timberg como Leona Stevenson (Barbara Stanwyck.

NOSSA CIDADE de Thorton Wilder – Nossa Cidade / Our Town / 1940 Dir: Sam Wood. Claudio Corrêa e Castro como o narrador. No elenco: Ludi Veloso, Fábio Sabag, Roberto de Cleto, Norma Blum, Kalma Murtinho, José Alvaro, Roberto Ribeiro e outros.

PECADO ORIGINAL de Jean Cocteau – O Pecado Original / Les Parents Terribles / 1948 Dir: Jean Cocteau. Morineau como “Sophie” (Yvonne de Bray), a mãe possessiva de Jean Marais no filme.

BOLA DE SEBO de Guy de Maupassant – Pyshka /1934 Dir: Mikhail Romm; Mademoiselle Fifi / 1944 Dir: Robert Wise; Anjo Pecador / Boule de Suif / 1945 Dir: Christian-Jaque. Aimée como Elisabeth Rousset (Micheline Presle).

ADORÁVEL JULIA de Marc-Gilbert Sauvajon – Adorável Julia / Julia, du bist zauberhaft / 1962 Dir: Alfred Weidenmann. Fernanda Montenegro como Julia (Lili Palmer).

O PAI GORIOT de Honoré de Balzac – Honrarás teu Pai / Le Père Goriot / 1921 Dir: Jacques de Baroncelli.Le Père Goriot / 1945 Dir: Robert Vernay. Fábio Sabag como o Pai Goriot (Pierre Larquey). 

 A CANÇÃO DO BERÇO de Gregorio Martinez-Sierra – Filha de Maria / Cradle Song / 1933 Dir: Mitchel Leisen; Canção de Berço / Canción de Cuna / 1941 Dir: Gregorio Martinez-Sierra; Canción de Cuna / 1953 Dir: Fernando de Fuentes. Um grande elenco feminino nesta história passada entre as freiras de um convento: Fernanda Montenegro, Lélia Abramo, Nathalia Timberg, Zilka Salaberry, Norma Blum, Camila Amado.

Francisco Cuoco e Ioná Magalhães em Tensão em Shanghai

Ioná Magalhães e Ítalo Rossi em Tensão em Shanghai

Sergio Britto e Ioná Magalhães em Tensão em Shanghai

TENSÃO EM SHANGHAI de John Colton – Tensão em Shanghai / The Shanghai Gesture / 1941 Dir: Josef von Sternberg. Grande produção com utilização de doze câmeras, Fernanda Montenegro como a eurasiana Mother Gin Sling (Ona Munson), Yoná Magalhães como Poppy (Gene Tierney), Sergio Britto como Dr. Omar (Victor Mature) e Ítalo Rossi como Sir Guy Charteris (Walter Huston) e participação especial de Booker Pitman, Nora Ney, Silvio Cesar e Marisa, já naquele tempo a Gata Mansa, apresentando-se no show do cassino.

HEDDA GABLER de Henrik Ibsen – Hedda Gabler / 1925 Dir: Franz Eckstein. Fernanda Montenegro como Hedda Gabler (Asta Nielsen).

A JAULA de Virginia Kellog, Bernard C. Schoenfeld – À Margem da Vida / Caged / 1950 Dir: John Cromwell. Yara Cortes como a carcereira sádica (Hope Emerson). .

ESSES FANTASMAS de Eduardo De Filippo – Questi Fantasmi / 1954 Dir: Eduardo De Filippo. Ítalo Rossi como Pasquale (Renato Rascel).

O CASO MAURIZIUS de Jakob Wassermann – O Caso Maurizius / L ‘Affaire Maurizius Dir: Julien Duvivier. No elenco: Ítalo Rossi, Zilka Salaberry, Claudio Cavalcanti, Fernanda Montenegro, Sergio Britto, Aldo de Maio, Fábio Sabag, Carminha Brandão. Claudio Cavalcanti como Etzel Andergast (Jacques Chabassol) e Sergio Britto como Gregoire Warenne (Anton Walbrook).

Zilka Salaberry e Claudio Cavalcanti em O Caso Maurizius

UMA TRAGÉDIA AMERICANA de Theodore Dreiser – Uma Tragédia Americana / An American Tragedy / 1931 Dir: Josef von Sternberg; Um Lugar ao Sol / A Place in the Sun / 1951 Dir: George Stevens. Norma Blum como Angela Vickers (Frances Dee, Elizabeth Taylor), Glauce Rocha como Alice Tripp (Sylvia Sidney, Shelley Winters) e Aldo de Maio como George Eastman (Phillips Holmes, Montgomery Clift). No filme de von Sternberg os personagens tinham outros nomes: Phillips Holmes  (Clyde), Frances Dee (Sondra) e Sylvia Sidney (Roberta)..

O LEQUE DE LADY WINDERMERE de Oscar Wilde – O Leque de Lady Margarida / Lady Windermere’s Fan / 1925 Dir: Ernst Lubitsch; Lady Windermeres Fächer / 1935 Dir: Heinz Hilpert; El Abanico de Lady Windermere / 1944 Dir: Juan José Ortega; O Leque / The Fan / 1949 Dir: Otto Preminger. No elenco: Napoleão Muniz Freire, Carminha Brandão, Fernanda Montenegro, Sergio Britto, Francisco Cuoco, Zilka Salaberry. Encontrei em um dos jornais alusão a Napoleão Muniz Freire como Lord Windermere.

OS AMANTES DE VERONA de André Cayatte, Jacques Prevert / Shakespeare – Os Amantes de Verona / Les Amants de Vérone / 1949 Dir: André Cayatte. Aldo de Maio como como Angelo (Serge Reggiani) e Elizabeth Galotti, substituindo Norma Blum, como Georgia (Anouk Aimée).

ESCADA EM ESPIRAL de Mel Dinelli / Ethel Lina White – Silêncio nas Trevas / The Spiral Staircase / 1946 Dir: Robert Siodmak.

CHÁ E SIMPATIA de Robert Anderson – Chá e Simpatia / Tea and Sympathy / 1956 Dir: Vincente Minnelli. Fernanda Montenegro como Laura Reynolds (Deborah Kerr) e Claudio Cavalcanti como Tom (John Kerr).

CRIME NAS RUAS de Reginald Rose – Rua do Crime / Crime in the Streets / 1956 Dir: Don Siegel. No elenco: Sergio Britto, Luis Palácios, Aldo de Maio, Ricardo Melo, Zilka Salaberry, Tarcisio Zanotti e Valter Campos.

MENSAGEIRO DO DIABO de Davis Grubb  Mensageiro do Diabo / The Night of the Hunter / 1955 Dir: Charles Laughton. Sérgio Britto como Harry Powell, o criminoso (Robert Mitchum).

A VALSA DOS TOREADORES de Jean Anouilh – A Valsa dos Toreadores / Waltz of the Toreadors / 1962 Dir: John Guilhermin. Mario Lago como o General (Peter Sellers), Zilka Salaberry como Emily (Margareth Leighton) e Isabel Teresa como Ghislane (Dany Robin).

AS CARTAS DE MADALENA de Stanley Haynes, Nicholas Phipps – As Cartas de Madeleine / Madeleine /1950 Dir: David Lean.

O BELO INDIFERENTE de Jean Cocteau – Le Bel Indifferent / 1957 29 min. Dir: Jacques Demy. Nathalia Timberg como Jeanne.

BLUE DENIM de James Leo Herlihy, William Noble – O Que os Pais Desconhecem / Blue Denim / 1959 Dir: Philip Dunne.

DESEJO de Eugene O’Neill – Desejo / Desire Under the Elms / 1958 Dir: Delbert Mann.Fernanda Montenegro como Anna (Sophia Loren), Osvaldo Loureiro como Eben Cabot (Anthony Perkins) e Mario Lago como Ephraim Cabot (Mario Lago).

Fernanda Montenegro em Chuva

CHUVA de Somerset Maugham – Sedução do Pecado / Sadie Thompson / 1928 Dir: Raoul Walsh; O Pecado da Carne / Rain / 1932 Dir: Louis Milestone; A Mulher de Satã / Miss Sadie Thompson / 1953 Dir: Curtis Bernhardt. Fernanda Montenegro como Sadie Thompson (Gloria Swanson, Joan Crawford, Rita Hayworth),

DILEMA DE UM MÉDICO de George Bernard Shaw – O Dilema do Médico / The Doctor’s Dilemma / 1958 Dir: Anthony Asquith. Fernanda Montenegro como Mrs. Dubedat (Leslie Caron), Napoleão Muniz Freire como seu marido, Louis (Dirk Bogarde) e os médicos: Ítalo Rossi, Labanca, Mario Lago, Sergio Britto. 

ANJO DE PEDRA de Tennessee Williams – O Anjo de Pedra / Summer and Smoke / 1961 Dir: Peter Glenville. Ernanda Montenegro como Alma Winemiller (Geraldine Page).

TOVARITCH de Jacques Deval – Tovaritch / Tovaritch / 1935 Dir: Jacques Deval; Nobres Sem Fortuna / Tovaritch / 1937 Dir: Anatole Litvak. Fernanda Montenegro como a Grã Duquesa Tatiana (Claudette Colbert) e Sergio Britto como o Príncipe Mikail (Charles Boyer), os dois aristocratas refugiados da Revolução Russa que foram trabalhar como empregados domésticos em Paris.

Osvaldo Loureiro e Glauce Rocha em Anna Christie

ANNA CHRISTIE de Eugene O’Neill – Anna Christie / Anna Christie  / 1930 Dir: Clarence Brown. Glauce Rocha como Anna Chrstie (Greta Garbo), Zilka Salaberry como Marty, a velha bêbada (Marie Dressler), Mario Lago como o pai de Anna (George F. Marion) e Osvaldo Loureiro como Matt (Charles Bickford).

ANNA KARENINA de Lev Tolstoy – Anna Karenina / Anna Karenina / 1935 Dir: Clarence Brown; Anna Karenina / Anna Karenina / 1948 Dir: Julien Duvivier. Fernanda Montenegro como Anna Karenina (Greta Garbo, Vivien Leigh), Ítalo Rossi como Karenin (Basil Rathbone, Ralph Richardson) e Sergio Britto como Vronsky (Fredrich March, Kieron Moore).

Fernanda Montenegro e Sergio Britto em Anna Karenina

ORGULHO E PRECONCEITO de Jane Austen – Orgulho e Preconceito / Pride and Prejudice / 1940 Dir: Robert Z. Leonard.

A MALVADA de Joseph L. Mankiewicz / Mary Orr – A Malvada / All About Eve / 1950 Dir: Joseph L. Mankiewicz. Zilka Salaberry como Margo (Bette Davis) e Fernanda Montenegro como Eve (Anne Baxter).

CONCHITA de Pierre Louys – A Mulher e o Fantoche / La Femme et le Pantin /1929 Dir: Jacques de Baroncelli; Mulher Satânica / The Devil is a Woman / 1935 Dir: Josef von Sternberg; A Mulher e o Fantoche / La Femme et le Pantin / 1959 Dir: Julien Duvivier. Bibi Ferreira como Concha Perez (Geraldine Farrar, Conchita Montenegro, Marlene Dietrich, Brigitte Bardot).

Bibi Ferreira e Sergio ritto em Conchita

O CORAÇÃO NÃO ENVELHECE de Emlyn Wiliams  O Coração Não Envelhece / The Corn is Green / 1945 Dir: Irving Rapper. No elenco: Carminha Brandão, Aldo de Maio, Sadi Cabral, Zilka Salaberry, Raul Cortez, Norma Blum. Carminha Brandão  como a professora Miss Lilly Moffat (Bette Davis) e Aldo de Maio como seu aluno Morgan (John Dall).

OS PROSCRITOS DE POKER FLAT de Bret Harte – Coração de Jogador / The Outcasts of Poker Flat / 1937 Dir: Christy Cabanne; Párias do Vício / The Outcasts of Poker Flat / 1952 Dir: Joseph M. Neuman. No elenco: Zilka Salaberry, Sadi Cabral, Carminha Brandão, Francisco Cuoco.

ESQUINA DO PECADO de Fannie Hurst – Esquina do Pecado / Back Street / 1932 Dir: John M Stahl; Corações Humanos / Back Street / 1941 Dir: Robert Stevenson. Fernanda Montenegro como Ray Schmit (Irene Dunne, Margaret Sullavan) e Sergio Britto como Walter Saxel (John Boles, Charles Boyer).

TREZE À MESA de Marc-Gilbert Sauvajon – Treize à Table / 1955 Dir: André Hunebelle. No elenco: Fernanda Montenegro, Ítalo Rossi, Carminha Brandão, Labanca. Fernanda Montenegro como Consuelo Koukouwski (Germaine Montero).

SANGUE DO MEU SANGUE de Jerome Weideman – Sangue do Meu Sangue / House of Strangers / 1949 Dir: Joseph L. Mankiewicz. Ítalo Rossi como Gino Monetti (Edward G. Robnson). A mãe era Zilka Salaberry e os filhos: Sergio Britto, Francisco Cuoco, Osvaldo Loureiro e Aldo de Maio.

O DELATOR de Liam O’Flaherty – Almas das Ruas / The Informer / 1929 Dir: Arthur Robinson; O Delator / The Informer / 1935 Dir: John Ford. No elenco: Francisco Cuoco como Gypo Nolan (Victor MacLaglen) e Isabel Teresa, Sadi Cabral, Zilka Salaberry, Rubens Corrêa no elenco.

MARTY de Paddy Chayesfsky – Marty / Marty / 1955 Dir: Delbert Man. Paulo Padilha como Marty (Ernerst Borgnine) e Fernanda Montenegro como Clara (Betsy Blair).

SENHORITA JULIA de August Strindberg – Senhorita Julia / Fröken Julie / 1951 Dir: Alf Sjoberg. No elenco: Nathalia Timberg, Leonardo Vilar, Carminha Brandão. Nathalia Thimberg como Julia (Anita Bjork),

Francisco Cuoco, Sergio Britto e Nathalia Timberg em Indenização Dupla

INDENIZAÇÃO DUPLA de James M. Cain – Pacto de Sangue / Double Indemnity / 1944 Dir: Billy Wilder. Nathalia Timberg como Phyllis Dietrichson (Barbara Stanwyck) e Francisco Cuoco como Walter Neff (Fred MacMurray). No elenco: Sergio Britto.

ANASTÁCIO de Joracy Camargo – Anastácio / 1939 Dir: João de Barro.

DÍALOGOS DAS CARMELITAS de Gorges Bernanos / Gertrude von Le Fort  Diálogos das Carmelitas / Le Dialogue des Carmelites / 1960 Dir: Philippe Agostini. R. L. Bruckberger. Carminha Brandão como a Madre Superiora (Madeleine Renaud), Fernanda Montenegro como Madre Maria da Encarnação (Jeanne Moreau), Nathália Timberg como Irmã Blanche (Pascale Audret).

A LETRA ESCARLATE de Nathaniel Hawthorne – A Letra Escarlate / The Scarlet Letter / 1926 Dir: Victor Sjostrom; The Scarlet Letter / 1934 Dir: Robert G. Vignola. Nathália Timberg como Hester Prynne (Lillian Gish, Colleen Moore) e Paulo Padilha como o Reverendo Arthur Dimmesdale (Lars Hanson, Hardie Albright).

O CAPOTE de Nikolay Gogol – O Capote / Il Cappotto / 1952 Dir: Alberto Lattuada. Ítalo Rossi como Carmine De Carmine (Renato Rascel).

NUNCA TE AMEI de Terence Rattigan – Nunca Te Amei / The Browning Version / 1951 Dir: Anthony Asquith. Italo Rossi como Andrew Crocker-Harris (Michael Redgrave), Tereza Rachel como sua esposa, Millie (Jean Kent) e Sergio Britto como o amante, Frank Hunter (Nigel Patrick).

A DAMA DO CACHORRINHO de Anton Chekov – A Dama do Cachorrinho / Dama s Sobachkoy / 1960 Dir: Iosif Kheifits. Fernanda Montenegro como Anna (Iya Savvina) e Sergio Britto como Dimitri (Alexei Batalov). No elenco: Carminha Brandão, Aldo de Maio e Maria Esmeralda.

Fernanda Montenegro e Sergio Britto em A Dama e o Cachorrinho

LAURA de Vera Caspary – Laura / Laura / 1944 Dir: Otto Preminger. Yoná Magalhães como Laura (Gene Tierney). No elenco: Italo Rossi, Sergio Britto, Francisco Cuoco, Carminha Brandão.

NÃO ESTAMOS SÓS de James Hilton – Não Estamos Sós / We Are Not Alone / 1939 Dir: Edmund Goulding. Sergio Britto como Dr. David Newcome (Paul Muni). No elenco: Carminha Brandão e Fernanda Montenegro.

O HOMEM QUE VENDEU A ALMA de Stephen Vincent Benet  O Homem Que Vendeu a Alma / The Devil And Daniel Webster / 1939 Dir: William Dieterle. Ítalo Rossi como Mr. Scratch, o Demônio (Walter Huston).

STELLA DALLAS de Olive Higgins Prouty – Stella Dallas ou Mãe e Mártir / Stella Dallas / 1925 Dir: Henry King; Stella Dallas – Mãe Redentora / Stella Dallas / 19137 Dir: King Vidor. Fernanda Montenegro como Stella Dallas (Belle Bennett, Barbara Stanwyck) e Suely Franco como Laurel Dallas (Lois Moran, Anne Shirley)

A VISITA DA VELHA SENHORA de Friedrich Dürrenmatt – A Visita / The Visit / 1964 Dir: Bernard Wicki. Fernanda Montenegro como Karla Zachabassian (Ingrid Bergman). No elenco: Ítalo Rossi, Jaime Barcelos, Aldo de Maio, Paulo Padilha, Sady Cabral.

AS TRÊS FACES DE EVA de Corbett Thigpen M.D. e Hervey M. Clickley M. D. – As Três Faces de Eva / The Three Faces of Eve / 1957 Dir: Nunnally Johnson. Fernanda Montenegro como Eve (Joane Woodward).

DE REPENTE NO VERÃO PASSADO de Tennessee Williams – De Repente, No Último Verão / Suddenly, Last Summer / 1959 Dir: Joseph L. Mankiewicz. Nathalia Timberg Isabel Teresa, Aldo de Maio. Nathalia Timberg como Mrs. Violet Venable (Katherine Hepburn), Aldo de Maio como Dr. Cukrowicz (Montgomery Clift).

Aldo de Maio e Nathalia Timberg em De Repente, No Verão Passado

24 HORAS NA VIDA DE UMA MULHER de Stefan Zweig – 24 Horas na Vida de uma Mulher / 24 Horas en la Vida de una Mujer / 1944 Dir: Carlos F. Burcosque; 24 Horas na Vida de uma Mulher / 24 Hours of a Woman’s Life ou Affair in Monte Carlo / 1952 Dir: Victor Saville. Fernanda Montenegro como Linda Venning (Amelia Bence, Merle Oberon).

TABACO ROAD de Erskine Caldwell – Caminho Áspero / Tobacco Road / 1941 Dir: John Ford. Sadi Cabral como Jeeter (Charley Grapewin).

LIGAÇÕES PERIGOSAS de Choderlos de Laclos – Ligações Perigosas / Les Liaisons Dangereuses / 1959 Dir: Roger Vadim.

POR AMOR TAMBÉM SE MATA de René Fallet – Por Ternura Também se Mata / Porte de Lilas / 1957 Dir: René Clair. No elenco: Carlos Alberto, Antônio Pitanga e Eliana Pitman.

A MORTE DO CAIXEIRO VIAJANTE de Arthur Miller – A Morte do Caixeiro Viajante / Death of a Salesman / 1951 Dir: Laslo Benedeck. Jaime Costa como Willy Loman  (Fredrich March).

Paulo Padilha e Jaime Costa em A Morte do Caixeiro Viajante

POR AMOR A MINHA CIDADE (O INIMIGO DO POVO) de Henrik Ibsen – Ein Volksfeind / 1937 Dir: Hans Steinhoff. No elenco: Vanda Lacerda, Paulo Padilha e Sergio Britto.

ABAIXO O DINHEIRO de George Axelrod – Abaixo o Divórcio / Phffft / 1954 Dir: Mark Robson. Fernanda Montenegro como Nina (Judy Holliday) e Sergio Britto como Robert (Jack Lemmon).

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

A HISTÓRIA ANTIGA NO CINEMA CLÁSSICO

outubro 14, 2017

Desde os primórdios do cinema, a História Antiga serviu de inspiração para realizações, que atraíram o interesse dos espectadores por suas imagens impressionantes de batalhas e grande deslocamento de massas; arquitetura de templos, palácios e pirâmides; reis e rainhas poderosos; figuras lendárias e profetas bíblicos; personagens dramáticos do teatro e da literatura de Sófocles a Homero.

Neste artigo relaciono – sem a pretensão de não omitir nenhum título e exluindo paródias tipo O.K. Nero! / O.K. Nerone de Mario Soldati / 1951, modernizações teatrais como tal Conflito de Paixões / Mourning Becomes Electra / 1947 de Dudley Nichols, baseado em peça de Eugene O’Neill ou obras que se enquadram mais na área do horror como a série da Universal e da Hammer sobre a Múmia – os filmes, até 1969, que versam sobre a História da Grécia, Roma, Babilonia, Egito, Pérsia e o Antigo Oriente, a Mitologia Greco-Romana, o Velho e o Novo Testamento e os Clássicos da Dramaturgia e das Letras dos tempos longínquos.

Vale notar que, nem todos possuem autenticidade histórica, pois são inscritos em uma antiguidade de fantasia ou inspirados em uma mitologia revisitada com demasiada liberdade como é, por exemplo, o caso do Peplum (cf. Aurélio, Peplo, do grego péplos pelo latim peplum, é uma túnica sem mangas que os antigos traziam presa ao ombro por fivela), gênero muito popular nos anos 50 e 60, também chamado de cinema de “espada e sandália” ou de Nova-Mitologia.

Quando os pioneiros do cinema procuraram assuntos ou temas para serem filmados, o mundo antigo foi uma escolha óbvia. Foi o que fizeram desde 1897, entre outros, o americano Thomas Alva Edison, e depois o francês George Méliès, o inglês Robert William Paul, o alemão Oskar Messter e italiano Arturo Ambrosio, este inaugurando, a partir de 1908, uma época fértil em épicos no cinema italiano.

Cena de A Vida de Nero / 1909

Cena de Quo Vadis / 1912

Ambrosio, e seu diretor Luigi Maggi, fizeram Os Últimos Dias de Pompéia / Gli Ultimi Giorni di Pompei / 1908, A Vida de Nero / Nerone / 1909, La Vergine di Babilonia / 1910, Ero e Leandro / 1910, O Escravo de Cartago / Lo Schiavo di Cartagine / 1910, La Regina di Ninive / 1911; Ernesto Pasquali fez Teodora, Imperatrice di Bisanzio / 1909 e Spartaco / 1913; Giuseppe De Liguoro fez Martire Pompeiana / 1909, Sardanapalo, Re dell’Assiria, Edipo Re / 1910, L’Odissea / 1911; Enrico Guazzoni fez Brutus / 1910, Agrippina / 1910, I Maccabei / 1910, Quo Vadis ? / Quo Vadis? / 1912 – do qual surgiu Ursus (Bruto Castellani), o criado da cristã Ligia, a quem salva depois de lutar contra um touro; Marcantonio e Cleopatra / 1913, La Rosa di Tebe / 1912, Grandeza e Decadência de Roma / Cajus Julius Caesar / 1914, Fabiola ou a Igreja das Catacumbas / Fabiola / 1916; Mario Caserini fez Catilina / 1910, Os Últimos Dias de Pompéia / Gli Ultimi Giorni di Pompei / 1913, Nero e Agripina / Nerone e Agrippina / 1913; Giovanni Pastrone fez Giulio Cesare / 1909, A Queda de Tróia / La Caduta di Troia / 1911 e o famoso Cabiria / Cabiria / 1914, que lançou o personagem Maciste, interpretado por Bartolomeo Pagano;

Cena de Cabiria / 1914

Cena de Spartaco / 1913

Giovanni Enrico Vidali fez Spartacus, o Rei dos Gladiadores Romanos / Spartaco / 1913 com Mario Guaita como Spartaco; Nino Oxilia fez In Hoc Signo Vinces / 1913; Luigi Romano Borgnetto e Vincenzo Denizot fizeram Maciste / 1915, o primeiro de uma série de filmes com “o gigante negro de Cabiria”, cujos títulos foram citados no meu post “Cabiria, Maciste e uma Cena de Sangue”; Oreste Gherardini fez Fedra / 1909, Spartaco / 1909; Febo Mari fez Attila / 1918; Ugo Falena fez Salome / 1910; Oreste Mentaste fez Erodiade / 1912.

Na mesma época, nenhum outro cinema nacional foi tão prolífico na produção de filmes sobre História Antiga como a França, distinguindo-se Henri Andréani, Louis Feuillade, Camille de Morlhon e André Calmettes. Andréani dirigiu Messaline / 1910, Cléopâtre / 1910, David et Goliath / 1910, Cain et Abel / 1910, Moise Sauvé des Eaux / 1911, Jael et Sisera / 1911, Absalon / 1912, David et Saul / 1912, Le Jugement de Salomon / 1912, Le Sacrifice d’Abraham / 1912, Esther / 1912, Rebecca / 1913, La Reine de Saba / 1913, La Fille de Jepthé / 1914; Feuillade dirigiu La Mort de Cambyse / 1909, L’ Exode / 1910, Esther / 1910, La Legende de Daphné / 1910, La Legende de Midas / 1910, Le Christ en Croix / 1910, Aux Lions les Chrétiens / 1911, L ‘Orgie Romaine / 1911, La Pretrêsse de Cartage / 1911, Les Fils de Locuste / 1911, Le Festin de Balthazar / 1912, Androcles / 1912, La Mort de Lucrèce / 1913;

Camille de Morlhon dirigiu Sémiramis / 1910, Britannicus / 1913; André Calmettes dirigiu Britannicus / 1908, Le Retour d’Ulysse / 1908, O Beijo de Judas / Le Baiser de Judas / 1908, Oedipe Roi / 1910, Au Temps des Premiers Chrétiens / 1910, Jesus de Nazareth / 1911. Além deles, Albert Capellani dirigiu Salome / 198; Georges Hatot e Victorin Jasset dirigiram La Réssurection de Lazare / 1910 e Hérodiade / 1911.

Nos Estados Unidos, Sidney Olcott realizou para a Kalem David and Goliath / 1908 e Da Manjedoura à Cruz / From the Manger to the Cross / 1911, filmado em locação na Terra Santa; Edison produziu The Star of Bethlehem / 1909, Aida / 1911, Nero and the Burning of Rome / 1908; J. Stuart Blackton fez para a Vitagraph Salome / 1908, Júlio César / Julius Caesar / 1908, Antonio e Cleópatra / Antony and Cleopatra / 1908, The Judgment of Solomon / 1909, Saul and David / 1909, The Way to the Cross / 1909, The Life of Moses / 1909 e Elektra / 1910; Otis Turner fez para a Selig The Christian Martyrs / 1910 e Justinian and Theodora / 1910 e Damon and Pythias / 1914 para a Universal; Theodore Wharton fez Neptune’s Daughter / 1912 para a Essanay;

Cena de Da Mangedoura à Cruz / 1911

Helen Gardner produziu (e interpretou o papel da Rainha do Egito) Cleopatra, The Romance of a Woman and a Queen / 1912 e The Wife of Cain / 1913; Lawrence Marston fez The Star of Bethlehem / 1912 para a Thanhouser; Étienne Arnaud fez The Holy City / 1912 para a Éclair; J. Searle Dawley fez The Daughter of the Hills / 1913 para a Famous Players; Donald MacDonald fez In a Roman Garden / 1913 para a Powers Picture; Lorimer Johnston fez In the Days of Trajan / 1913 para a American Film Manufacturing; Eugene Moore fez The Land of Egypt / 1914 para a Thanhauser; Herbert Brenon fez A Filha de Netuno / Neptune’s Daughter /1914 com a nadadora australiana Annette Kellerman em cenas de nudez para Universal; Farrell MacDonald fez Samson / 1914 para a Victor Film; Fredrick Thomson fez O Sinal da Cruz / The Sign of the Cross / 1914 para a Famous Players.

Cena de Judith de Betúlia / 1913

Cena de Intolerância / 1916

Nenhum desses filmes produziu um impacto no desenvolvimento da indústria cinematográfica americana como os dois espetacúlos dirigidos por David Wark Griffith: Judith of Bethulia / 1913 e Intolerância / Intolerance / 1916, respectivamente influenciados pelos filmes italianos Quo Vadis? e Cabiria, mas os estúdios americanos produziram poucos filmes sobre a antiguidade nos próximos anos, realçando-se apenas Cleópatra / Cleopatra / 1917 e Salomé / Salome / 1918 da Fox, ambos dirigidos por J. Gordon Edwards e estrelados por Theda Bara.

Theda Bara em Cleópatra / 1917

Theda Bara em Salomé / 1918

Na mesma década, na Inglaterra, o diretor Theo Frenkel foi responsável por: Oedipus Rex / 1911, Esther – A Biblical Episode / 1911, Caesar’s Prisoners / 1911, Telemachus / 1911, Samson and Delilah 1911, The Fall of Babylon / 1911, Julius Caesar’s Sandals / 1911, The Lust for Gold / 1912, Judith / 1912, Herod / 1912.

Emil Jannings como Nero em Quo Vadis? / 1924

Após a Primeira Guerra Mundial, a Itália produziu: Il Trionfo di Ercole / 1922 de Francesco Bertolini com Giovanni Raicevich como Ercole; Teodora / 1921, dirigido por Leopoldo Carlucci; Messalina / 1924, dirigido por Enrico Guazzoni; Quo Vadis? / Quo Vadis? / 1924, dirigido por Georg Jacoby e Gabriellino d’Anunzio, produzido por Arturo Ambrosio e com Emil Jannings como Nero; Os Últimos Dias de Pompéia / Gli Ultimi Giorni di Pompei / 1926, dirigido por Carmine Gallone e Amleto Palermi; Giudetta e Oloferne / 1929, dirigido por Baldassare Negroni.

Stacia Napierkowska em Atlântida / 1921

Ramon Novarro em Ben-Hur / 1925

Emil Jannings e Ernst Lubitsch na filmagem de Os Amores do Faraó

Cena de O Rei dos Reis

Nos Estados Unidos e no resto da Europa surgiram: Atlântida / L’Atlantide / 1921 de Jacques Feyder; Amores de Faraó / Das Weib des Pharao / 1922 de Ernst Lubirsch; O Rei Pastor / The Shepherd King / 1923 de J. Gordon Edwards; Salomé / Salome / 1922 de Charles Bryant com Alla Nazimova; Salome / 1923 de Malcolm Strauss; 1927; Babilônia / The Wanderer / 1925 de Raoul Walsh; Ben-Hur / Ben-Hur / 1925 de Fred Niblo com Ramon Novarro e Francis X. Bushman; Helena / 1924 (em duas partes: Der Raub der Helena e Der Fall Trojas) de Manfred Noa para a Bavaria Film, Alemanha; Samson und Delila / 1922 e A Vida Privada de Helena de Tróia / The Private Life of Helen of Troy /1927, dirigidos por Alexandre Korda pela ordem na Áustria e na Inglaterra; Os Amores do Faraó / Das Weib des Pharao / 1922 de Ernst Lubitsch com Emil Jannings à frente do elenco e O Rei dos Reis / The King of Kings / 1927 de Cecil B. DeMille.

Cena de Lua de Israel / 1924

DeMille na filmagem de Os Dez Mandamentos

Algumas produções nesse período usaram sequências passadas na antiguidade para extrair uma moral aplicável às sequências transcorridas em um tempo moderno, o que já havia sido feito nas duas décadas anteriores (v. g. Satanás ou O Drama da Humanidade / Satana / 1912), porém de maneira menos elaborada. Por exemplo: Samson und Delila / 1922, filme austríaco de Alexander Korda; Sodoma e Gomorra / Sodom und Gomorrha / 1923, Lua de Israel / Die Sklavenkönigin / 1924 e A Arca de Noé / Noah’s Ark / 1929 de Michael Curtiz; Circe, a Encantadora / Circe the Enchantress / 1924 de Robert Z. Leonard; Os Dez Mandamentos / The Ten Commandments / 1923 de Cecil B. DeMille; A Homicida / Manslaughter / 1922; Feita para o Amor / Made for Love / 1925 de Paul Sloane.

Cena de O Sinal da Cruz / 1932

Cena de Cleopatra / 1934

Com o advento do cinema falado, novos filmes sobre as priscas eras chegaram às telas. Em Hollywood apareceram: Joseph and his Brethen / 1932, filme ídiche de George Roland; Escândalos Romanos / Roman Scandals / 1933 de Busby Berkeley com Eddie Cantor; O Sinal da Cruz / The Sign of the Cross / 1932 e Cleópatra / 1934 de Cecil B. DeMille; Os Últimos Dias de Pompéia / The Last Days of Pompei / 1935 de Ernest B. Schoedsack e Merian C. Cooper; The Green Pastures / 1936 de Marc Connelly e William Keighley.

Cena de O Mártir do Gólgota

Cena de Amphitryon / 1935

Cena de I Claudius / 1937

Na Europa foram produzidos: Gólgota, reprisado como O Mártir do Gólgota / Golgotha / 1932 de Julien Duvivier; Atlântida / Die Herrin von Atlantis, e sua versão francêsa L’Atlantide, de G.W.Pabst; Amphityron / Amphitryon / 1935 de Reinhold Schunzel; I Claudius / 1937 de Josef von Sternberg, que ficou inacabado; Scipião, o Africano / Scipione l’Africano / 1937 de Carmine Gallone.

Durante o Segundo Conflito Mundial, os filmes sobre a História Antiga foram esquecidos diante da necessidade do esforço de guerra, tendo surgido apenas A Sombra da Cruz / The Great Commandment, dirigido por Irving Pichel e produzido pela Cathedral Films em 1939 (com distribuição nos cinemas pela 20thCentury-Fox em 1941) e Salomé / La Nascita di Salomè / 1940 de Jean Choux.

Cena de Cesar e Cleopatra / 1945

Cena de Sansão e Dalila / 1949

No pós-guerra houve uma renovação do interesse pela produção de filmes sobre a Idade Antiga salientando-se: César e Cleópatra / Caesar and Cleopatra / 1945 de Gabriel Pascal com Claude Rains como Cesar e Vivien Leigh como Cleópatra; Uma Noite no Paraíso / Night in Paradise / 1946 de Arthur Lubin, com Turhan Bey como Esopo; Lysistrata / 1947 de Alfred Stöger com Judith Holzmeister como Lysistrata; Fabíola / Fabiola / 1948 de  Alessandro Blasetti com Michèle Morgan como Fabíola; Queen Esther / 1948 e Life of St. Paul de John T. Coyle; Orfeu / Orphée / 1949 de Jean Cocteau com Jean Marais como Orfeu e Marie Déa como Eurídice; Atlântida, Continente Perdido / The Siren of Atlantis / 1949 de Gregg Tallas, John Brahm; Nero e Messalina / Nerone e Messalina / 1949 de Primo Zeglio e, principalmente, Sansão e Dalila / Samson and Delilah / 1949 de Cecil B. DeMille com Victor Mature como Sansão e Hedy Lamarr como Dalila.

Cena de Quo Vadis / 1951

Cena de David e Betsabá

Rita Hayworth em Salomé / 1953

Cena de Júlio Cesar / 1953

Lana Turner em O Filho Pródigo

Nos anos 50, como o sucesso de público de Sansão e Dalila, os espetáculos históricos se revigoraram nos Estados Unidos com: Quo Vadis? / Quo Vadis? / 1951 de Mervyn LeRoy com Peter Ustinov como Nero; David e Betsabá / David and Bathsheba / 1951 de Henry King com Gregory Peck como David e Susan Hayward como Betsabá; Julius Caesar / 1951 de Charlton Heston; Androcles e o Leão / Androcles and the Lion / 1952 de Chester Erskine; Salomé / Salome / 1953 de William Dieterle com Rita Hayworth como Salomé; A Serpente do Nilo / Serpent of the Nile / 1953 e Escravas da Babilônia / Slaves of Babylon / 1953 de William Castle; Júlio Cesar / Julius Caesar / 1953 de Joseph L. Mankiewicz com Marlon Brando como Marco Antonio, Louis Calhern como Cesar e James Mason como Brutus; Pecados de Jezebel / Sins of Jezebel / 1953 de Reginald Le Borg; Spartaco / Spartaco / 1953 de Riccardo Freda com Massimo Girotti como Spartaco; Átila, Rei dos Hunos / Sign of the Pagan / 1954 de Douglas Sirk com Jack Palance como Átila; O Cálice Sagrado / The Silver Chalice / 1954 de Victor Saville; Day of Triumph de John T. Coyle e Irving Pichel; Helena de Tróia / Helen of Troy / 1955 de Robert Wise com Rossana Podestà como Helena; O Filho Pródigo / The Prodigal / 1955 de Richard Thorpe; A Favorita de Júpiter / Jupiter’s Darling / 1955, de George Sidney com Howard Keel como Aníbal.

Cena de Messalina / 1951

Cena de Teodora, Imperatriz de Bizâncio

Cena de Hércules / 1958

Cena de O Gigante da Maratona / 1959

Em outros países emergiram: Pompéia, Cidade Maldita / Gli Ultimi Giorni di Pompei – Les Derniers Jours de Pompei / 1950 de Marcel l’Herbier; Messalina / Messalina / 1951 de Carmine Gallone com Maria Felix como Messalina; Frinéia, Cortesã do Oriente / Frine, Cortigiana d’Oriente / 1953 de Mario Bonnard; Spartaco / Spartaco / 1952 de Riccardo Freda; A Invasão dos Bárbaros / Attila Flagello di Dio / 1953 de Pietro Francisci; Teodora, Imperatriz de Bizâncio / Teodora, Imperatrice di Bisânzio / 1954 de Ricardo Freda com Gianna Maria Canale como Teodora; Rainha da Babilônia / La Cortigiana di Babilonia / 1954 de Carlos Ludovico Braggaglia; Adão e Eva / Adãn y Eva / 1956 de Alberto Gout; Escravas de Cartago / Le Schiave di Cartagine / 1956 de Guido Brignone; Afrodite, a Deusa do Amor / La Venere di Cheronea / 1957 de Fernando Cercchio, W. Tourjanski; As Façanhas de Hércules / Le Fatiche di Ercole / 1957 e Hércules e a Rainha da Lidia / Ercole e la Regina di Lidia / 1958 de Pietro Francisci, ambos com Steve Reeves; A Revolta dos Gladiadores / La Rivolta dei Gladiatori / 1958 de Vittorio Cottafavi; A Espada e a Cruz / La Spada e la Croce / 1958 de Carlo Ludovico Bragaglia; Escrava do Oriente / Afrodite, Dea Dell’amore / 1958 de Mario Bonnard; Aníbal, o Conquistador / Annibale / 1959 de Carlo Ludovico Bragaglia, Edgar G. Ulmer; Os Últimos Dias de Pompéia / Gli Ultimi Giorni di Pompei / 1959 de Mario Bonnard. O Cerco de Siracusa / L’Assedio di Siracusa / 1959 de Pietro Francisci; Golias contra os Bárbaros / Il Terrore di Barbari / 1959 de Carlo Campogalliani; Messalina, Vênus Imperial / Messalina, Venere Imperatrice / 1959 de Vittorio Cottafavi com Belinda Lee como Messalina; O Gigante de Maratona / La Battaglia di Maratona / 1959 de Jacques Tourneur, Mario Bava; Orfeu do Carnaval / Orphée Noire / 1959. Dir: Marcel Camus; O Pescador da Galiléia / The Big Fisherman / 1959 de Frank Borzage; Herodes, o Grande / Erode il Grande / 1959 de Viktor Tourjansky.

Cena de O Manto Sagrado / 1953

Cena de O Egípcio / 1954

Cena de Terra dos Faraós / 1955

Cena de Ben-Hur / 1959

Com a concorrência da televisão, os magnatas de Hollywood recorreram à projeção em tela larga para atrair os espectadores aos cinemas e assim foram lançados: O Manto Sagrado / The Robe / 1953 de Henry Koster; Demetrius, o Gladiador / Demetrius and the Gladiators / 1954 de Delmer Daves; O Egípcio / The Egyptian / 1954 de Michael Curtiz; O Vale dos Reis / Valley of the Kings / 1954 de Robert Pirosh; Terra dos Faraós / Land of the Pharaohs / 1955 de Howard Hawks; Alexandre o Grande / Alexander the Great / 1956 de Robert Rossen com Richard Burton como Alexander; Os Dez Mandamentos / The Ten Commandments / 1956 de Cecil B. DeMile; Ben-Hur / Ben-Hur / 1959 de William Wyler; Salomão e a Rainha de Sabá / Solomon and Sheba /1959 de King Vidor.

Nos anos 60, os pepluns, contando as aventuras trepidantes de homens com uma força sobrehumana tais como Hércules, Sansão, Ursus, Golias ou Maciste, que lutavam contra tiranos poderosos ou criaturas fabulosas e protagonizados por atores musculosos – como Steve Reeves, Reg Park, Gordon Scott, Kirk Morris (o ex-gondoleiro Adriano Bellini), Mark Forest, Alan Steel (o ex-stuntman Sergio Ciani), Richard Harrison, Brad Harris, Mike Lane, Rick Battaglia, Rock Stevens (Peter Lupus) e Mike Hargitay, Reg Lewis, Gordon Mitchell, Dan Vadis (os ex- musclemen nos espetáculos de Mae West no teatro) – foram mais abundantes nas telas, até desaparecerem, sustituídos na sua função de entretenimento pelo western spaghetti.

Cena de Spartacus / 1960

Nessa década, em concomitância com uma enxurrada de filmes desse gênero, os espectadores puderam ver grandes espetáculos de outras nacionalidades sobre História Antiga A lista é enorme: Safo, Vênus de Lesbos / Saffo, Venere di Lesbo 1960 de Pietro Francisci.; O Incêndio de Cartago / Cartagine in Fiamme / 1960 de Carmine Gallone; Spartacus / Spartacus / 1960 de Stanley Kubrick; A Escrava de Roma / La Schiava di Roma / 1960 de Sergio Grieco; Ester e o Rei / Esther and the King / 1960 de Raoul Walsh e Mario Bava; A História de Ruth / The Story of Ruth / 1960 de Henry Koster; A Revolta dos Escravos / La Rivolta degli Schiavi / 1960 de Nunzio Malasomma; Avalancha dos Bárbaros / La Furia dei Barbari / 1960 de Guido Malatesta; La Vendetta dei Barbari / 1960 de Giuseppe Vari; As Virgens de Roma / Le Vergine di Roma / 1960 de Vittorio Cottafavi, Carlo Ludovico Bragaglia; Os Argonautas / I Giganti della Tessaglia / 1960 de Riccardo Freda; Teseu contra o Minotauro / Teseo contro il Minotauro / 1960 de Silvio Amadio; Hércules contra os Dragões / Gli Amori di Ercole /1960 de Carlo Ludovico Bragaglia; A Revolta dos Escravos / La Rivolta degli Schiavi / 1960 de Nunzio Malasomma; Golias contra o Gigante / Goliath contro i Giganti / 1960 de Guido Malatesta; Maciste no Vale dos Reis / Maciste nella valle dei Re / 1960 de Carlo Campogalliani; Maciste contro i Cacciatori di Teste / 1960 de Guido Malatesta; La Vendetta di Ercole / Golias e o Dragão / 1960; A Mulher do Faraó / La Dona del Faraoni / 1960 de Viktor Tourjansky;

Cena de O Rei dos Reis / 1961

Cena de O Colosso de Rhodes / 1961

O Rei dos Reis / King of Kings / 1961 de Nicholas Ray; Barrabás / Barrabbas / 1961 de Richard Fleischer; Guerrilheiros do Gran Khan / Maciste alla Corte del Gran Khan / 1961 de Riccardo Freda; Maciste contra o Vampiro / Maciste contro I Vampiro / 1961 de Sergio Corbucci e Giacomo Gentilomo; O Colosso de Rhodes / Il Colosso di Rodi / 1961 de Sergio Leone; O Conquistador de Corinto / Il Conquistatore di Corinto / 1961 de Mario Costa; Duelo de Campeões / Orazi e Curiazi / 1961 de Terence Young, Ferdinando Baldi; Atlas / Atlas / 1961 de Roger Corman; Hércules na Conquista da Atlântida / Ercole alla Conquista di Atlantide / 1961 de Vittorio Cottafavi; Ursus / 1961 de Carlo Campogalliani; La Vendetta di Ursus / 1961 de Luigia Capuano; Sansão / Sansone / 1961 de Gianfranco Parolini; Atlântida, Continente Desaparecido / Atlantis, The Lost Continent / 1961 de George Pal; Antinea, l’amante della città sepolta / 1961 de Giuseppe Masini e Edgar G. Ulmer; Rômulo e Remo / Romolo e Remo / 1961 de Sergio Corbucci; O Rapto das Sabinas / El Rapto de las Sabinas / 1961 de Alberto Gout; O Gladiador Invencível / Il Gradiatore Invincibile / 1961 de Alberto de Martino; Il Ratto delle Sabine / 1961 de Richard Pottier; A Guerra de Tróia / La Guerra di Troia / 1961 de Giorgio Ferroni; Hércules no Centro da Terra / Ercole al Centro della Terra de Mario Bava; Maciste contro Ercole nella Valle dei Guai / 1961 de Mario Mattoli; Ursus no Vale dos Leões / A Fúria dos Tártaros / Ursus nella Valle dei Leoni / 1961 de Carlo Ludovico Bragaglia; O Filho do Trovão/ I Titani ou Arrivano I Titani / 1961 de Duccio Tessari; Ulisses contra Hércules / Ulisse contro Ercole / 1961 de Mario Caiano; Antígona / Antigoni / 1961 de George Tzavellas; José Vendido no Egito / Giuseppe Venduto dai Fratelli / 1961 de Luciano Ricci, Irving Rapper; Ulysses / Ulisse / 1962 de Mario Camerini;

Cena de Jasão e o Velo de Ouro / 1963

Cena de Cleopatra / 1963

Electra, a Vingadora / Ilektra / 1962 de Michael Cacoyannis; A Lenda de Enéas / La Leggenda di Enea / 1962 de Giorgio Venturini; A Fúria de Aquiles / L’ Ira di Achille / 1962 de Marino Girolami; Pôncio Pilatos / Poncio Pilato / 1962 de Gian Paolo Callegari, irving Rapper; A Fúria de Hércules / La Furia di Ercole / 1962 de Gianfranco Parolini; Ursus e la Ragazza Tartara de Remigio del Grosso / 1962; A Lenda de Enéas / La Leggenda di Enea / 1962 de Giorgio Venturini; Os Valentes Damon e Pítias / Damon and Pithias / 1962 de Curtis Bernhardt; Cleópatra, Rainha de César / Una Regina per Cesare / 1962 de Pietro Pierotti e Victor Tourjansky; O Filho de Spartacus / Il Figlio di Spartacus / 1962 de Sergio Corbucci; Giulio Cesare contro i Pirati / 1962 de Sergio Grieco; Ano 79, a Destruição de Herculano / Anno 79, la Distruzione di Ercolano / 1962 de Gianfranco Parolini; Constantino e a Cruz / Constantine and the Cross / 1962 de Lionello De Felice; O Gladiador de Roma / Il Gladiatore di Roma / 1962 de Mario Costa; Ouro para os Imperadores / Oro per I Cesari / 1962 de Andre de Toth e Riccardo Freda; Os Sete Gladiadores / I Sette Gladiatori/ 1962 de Pedro Lazaga; O Velho Testamento / Il Vecchio Testamento / 1962 de Gianfranco Parolini; Só Contra Roma / Solo contro Roma / 1962 de Luciano Ricci; Sodoma e Gomorra / Sodom and Gomorrah / 1962 de Robert Aldrich; Jasão e o Velo de Ouro / Jason and the Argonauts / 1963 de Don Chaffey com os magníicos efeitos especiais de Ray Harryhausen; Ursus, o Gladiador / Ursus Gladiator Ribelle / 1963 de Domenico Paolella; Ursus a Terra do Fogo / Ursus nella Terra di Fuoco / 1963 de Giorgio Simonelli; Goliath e a Escrava Rebelde / Goliathe la Schiava Ribelle / 1963 de Mario Caiano; Hércules contra os Piratas / Ercole contro i Pirati / 1963 de Tanio Boccia; Hércules, Sansão e Ulissses / Ercole sfida Sansone / 1963 de Pietro Francisci; Hércules, o Conquistador ou Hércules contra Moloch / Ercole contro Moloch / 1963 de Giorgio Ferroni; Hércules contra o Corsário Negro / Sansone contro il Corsaro Nero / 1963 de Luigi Capuano; Sette a Tebe / 1963 de Luigi Vanzi; Os Sete Invencíveis / I Sette Invincibile / 1963 de Alberto de Martino; Brenno, o Inimigo de Roma / Brenno il Nemico di Roma / 1963 de Giacomo Gentilomo; Júlio César, o Conquistador / Giulio Cesare, il conquistatore della Gallia / 1963 de Tanio Boccia; Perseu, o Invencível / Perseo L’ Invincibile / 1963 de Alberto De Martino; Cleopatra / Cleopatra / 1963. Dir: Joseph L. Mankiewicz com Elizabeth Taylor como Cleopatra, Richard Burton como Marco Antonio e Rex Harrison como César;

Cena de A Queda do Império Ronano / 1964

Cena de O Evangelho Segundo Mateus / 1964

Os Dez Gladiadores / I Dieci Gladiatore / 1963 de Gianfranco Parolini; A Queda de Roma / Il Crollo di Roma / 1963 de Antonio Margheriti; Jacó e Esaú / Giaccobe ed Esau / 1963 de Mario Landi; Giacobbe, L’ Uomo che lottò con Dio / 1963 e Os Grande Líderes da Bíblia / I Patriarchi della Bibbia / 1963 de Marcello Baldi; Golias e os Pecadores da Babilônia / Maciste, l’eroe piu grande del mondo / 1963 de Michele Lupo; Le Gladiatrice / 1963 de Antonio Leonviola; Coriolano, o Herói sem Pátria / Coriolano Eroe Senza Patria / 1963 de Giorgio Ferroni; O Leão de Tebas / l Leone di Tebe 1964 de Giorgio Ferroni; A Queda do Império Romano / The Fall of the Roman Empire / 1964 de Anthony Mann com Alec Guiness como Marco Aurélio; O Colosso de Roma / Il Colosso di Roma / 1964 de Giorgio Ferroni; La Rivolta dei Pretoriani / 1964 de Alfonso Breschia; O Tesouro dos Bárbaros / La Rivolti dei Barbari / 1964 de Guido Malatesta; Os Quatro Legionários de César / I Giganti di Roma / 1964 de Antonio Margheriti; O Filho de César e Cleópatra / Il Figlio di Cleopatra / 1964 de Ferdinando Baldi; Os Dois Gladiadores / I Due Gladiatori / 1964 de Mario Caiano; Sete Contra Roma / Gli Schiavi piu forti del Mondo / 1964 de Michele Lupo; O Desafio dos Gladiadores / Il Gladiatore che sfidò l’Imperio / 1964 de Domenico Paolella; O Homem Mais Forte do Mundo / L’ Ultimo Gladiatore / 1964 de Umberto Lenzi; La Rivolta dei Pretoriani / 1964 e O Magnífico Gladiador / Il Magnifico Gladiatore / 1964 de Alfonso Brescia; Spartacus e os Dez Gladiadores / Spartacus e I Dieci Gladiatori / 1964 de Nick Nostro; Os Tiranos da Babilônia / Ercole contro il Tiranni di Babilonia / 1964 de Domenico Paolella; Hércules contra o Império dos Elefantes / Ercole L’ Invincibile / 1964 de Álvaro Mancori; Hércules contra Moloch / Ercole contro Moloch / 1964 de Giorgio Ferroni; Hércules contra o Filho do Sol / Ercole contro I Figli del Sole / 1964 de Osvaldo Civirani; Hércules contra Roma / Ercole contro Roma / 1964 de Piero Pierotti; O Desafio dos Gigantes / La Sfida dei Giganti / 1964 de Mauricio Lucidi; Golias e o Cavaleiro Mascarado / Golia e il Cavaliere Mascherato / 1964 de Piero Pierotti; O Evangelho Segundo Mateus / Il Vangelo Secondo Matteo / 1964 de Pier Paolo Pasolini;

Cena de A Maior História de Todos os Tempos /1965

Cena de Faraó / 1966

Hércules, Sansão, Maciste e Ursus: os invencíveis / Ercole, Sansone, Maciste e Ursus: gli invencibili / 1964; Ursus, Prisoneiro de Satanás / Ursus il terrore dei Kirghisi / 1964 de Antonio Margheriti; Golia alla Conquista di Bagdad / 1964 de Domenico Paolella; Saul e David / Saul e David / 1964 de Marcello Baldi; A Maior História de Todos os Tempos / The Greatest Story Ever Told / 1965 de George Stevens; Os Gladiadores Espartanos / La Rivolta del Sette / 1965 de Alberto de Martino; O Incêndio de Roma / L’ Incendio di Roma / 1965 de Guido Malatesta; Os Grandes Líderes da Bíblia / Il Grandi Condottieri / 1965 de Marcello Baldi e Francisco Pérez-Dolz; Os Três Invencíveis/ Gli Invincibili Tre / 1964 de Gianfranco Parolini; Sete Contra Todos / Sette Contro Tutti / 1965 de Michele Lupo; Os Três Centuriões / I Tre Centurioni / 1965 de Roberto Mauri; A Vingança dos Gladiadores / Una Spada per L’ Impero / 1965 de Sergio Grieco; La Vendetta dei Gladiatori / 1965 de Luigi Capuano; All’ombra delle Aquile / 1966 de Ferdinando Baldi e Massacre na Floresta Negra / Il Massacro della Foresta Nera – Herman der Cherusker – Die Sclacht im Teutoburger / 1966 de Ferdinando Baldi; O Conquistador da Atlântida / Il Conquistatore di Atlantide / 1965 de Alfonso Brescia; A Bíblia / The Bible … In the Beginning / 1966 de John Huston; Faraó / Faraon de Jerzy Kawalerowicz / 1966; A Rainha dos Vikings / The Viking Queen / 1967 de Don Chaffey; Édipo Rei / Edipe Re / 1967 de Pier Paolo Pasolini; Medéia, a Feiticeira do Amor / Medea / 1968 de Pier Paolo Pasolini; Édipo Rei, a Tragédia de um Rei / Oedipus the King / 1968 de Phillip Saville; Satyricon de Fellini / Fellini – Satyricon / 1969; As Legiões de Cesar / Le Legioni di Cleopatra / 1969 de Vittorio Cottafavi; El Pecado de Adán ed Eva de Miguel Zacharias / 1969.

A TRILOGIA DE GUERRA DE ROBERTO ROSSELLINI

outubro 2, 2017

Em três anos, Roberto Rossellini conseguiu fazer três filmes, Roma Cidade Aberta / Roma Città Aperta / 1945, Paisà / Paisà / 1946 e Alemanha Ano Zero / Germania Anno Zero / 1947, trilogia ligada às consequências da Segunda Guerrra Mundial na Itália, mas sobretudo por um olhar mais verdadeiro da realidade.

Roberto Rosselini

Como escreveu Carlo Lizzani, Roma Città Aperta é o primeiro testemunho artístico sobre a resistência italiana: é o quadro vivo de uma situação que fêz dos “homens da rua”, das mulheres, das crianças, os verdadeiros protagonistas da nova história civil de nosso país (Le Cinéma Italien, Éditeurs Français Réunis, 1955). Pode não ter sido o primeiro filme italiano a se inscrever na corrente neorealista (muitos apontam Obsessão / Ossessione de Luchino Visconti / 1942 como o primeiro filme neorealista), porém foi sem dúvida o que causou o maior impacto no seu lançamento, projetando-se no mundo inteiro. Os roteiristas foram Sergio Amidei, Federico Fellini e Roberto Rossellini.

Em 1944, o engenheiro Giorgio Manfredi (Marcello Pagliero), está sendo procurado pela Gestapo e, na sua fuga, encontra-se com outras pessoas implicadas na luta pela liberdade durante a ocupação alemã, aqueles que transformaram sua aflição e sua penúria em uma coragem e força de vontade invencíveis. Ele se refugia na casa de seu amigo Francesco (Francesco Grandjaquet), seu amigo tipógrafo, que trabalha para a imprensa clandestina. Francesco está prestes a se casar com Pina (Anna Magnani), uma viúva, que está esperando um filho seu, e é mãe de um menino, Marcello (Vito Annichiarico), organizador, de atos de sabotagem contra os nazistas, juntamente com outros meninos. Pina põe Manfredi em contato com o padre Don Pietro (Aldo Fabrizzzi), que luta contra a barbárie, dando cobertura às ações da resistência.

Aldo Fabrizzi e Marcelo Pagliero em Roma Cidade Aberta

Giovanna Galletti e Harry Feist em Roma Cidade Aberta

Maria Michi e Giovanna Galletti em Roma Cidade Aberta

Francesco, é preso no dia de seu casamento. Desesperada, Pina corre atrás do caminhão que leva os prisioneiros, e é morta por um tiro na frente do filho. A amante de Manfredi, Marina (Maria Michi) – atriz do teatro de revista, que se prostituiu para fugir da pobreza, e se corrompeu pela droga fornecida por uma lésbica, Ingrid (Giovanna Galletti), a serviço da Gestapo -, informa para a agente nazista o seu paradeiro. Manfredi, Don Pietro, e um desertor austríaco que havia se refugiado junto ao padre, são presos. O major da SS (Harry Feist), interroga os prisioneiros. O desertor se enforca. Torturado brutalmente, Manfredi morre, sem trair seus companheiros. Don Pietro, também é executado. Inspirado na história real do padre Don Morosini, morto pelos alemães, Roma Cidade Aberta despe-se de todo o artifício, para ser uma testemunha da vida dos “partiggiani”, destacando três símbolos do sacrifício desses verdadeiros mártires, que são Pina, Manfredi e Don Pietro.

Rosselini e Anna Magnani na dublagem de Roma Cidade Aberta

Como observou Lizzani, “o padre e o comunista lutam unidos pela mesma causa e, atrás deles, se agita todo um bairro popular de Roma, com seus imóveis miseráveis e seus pátios interiores, onde a história de cada um é a mesma de todos, onde os sofrimentos, as esperanças e as alegrias são comuns. A força de Roma Cidade Aberta está nesta multiplicação de elementos humanos reunidos organicamente em uma unidade superior”. Observo que a cena do saque à padaria que se nega a abastecer a população é uma prova do espirito de resistência coletiva, que existe em todo o filme.

Cenas de Roma Cidade Aberta

Ao contrário do que muitos pensam, não houve improvisação nem amadorismo. Rossellini e sua equipe sabiam o que estavam fazendo. A encenação foi muito bem planejada e executada. Como compreendeu Peter Brunette (Roberto Rossellini, Oxford University, 1987), o filme foi visto como um desafio direto ao cinema convencional da época – leia-se o cinema de Hollywood -, mas é de fato um dos trabalhos mais convencionais de Rossellini pelo menos em termos de suas estruturas narrativa e dramática. Os personagens são imaginários; as cenas se sucedem em um ritmo ininterrupto, tal qual em um filme de ação, e algumas são de grande impacto emotivo como a da morte de Pina correndo atrás do caminhão que leva Francesco prisioneiro; o quartel general da Gestapo é um lugar estilizado (falsa aquela contiguidade entre a sala de tortura e o salão recreativo dos oficiais, onde se ouve uma música de Beethoven e se bebe champagne); os artistas principais são profissionais; a construção da narrativa é muito bem feita, alongando-se as cenas à medida em que a história avança e se torna cada vez mais trágica.

Anna Magnani e Aldo Fabrizzi em Roma Cidade Aberta

Aldo Fabrizzi em Roma Cidade Aberta

Aldo Fabrizzi em Roma Cidade Aberta

O aspecto “realista” da obra, deve-se precisamente à descrição do presente imediato, às péssimas condições de realização obrigando uma filmagem quase sempre em exteriores e com iluminação deficiente ou intermitente, com um fundo musical relativamente inexistente, e principalmente à humanidade, à naturalidade das cenas (v. g. a conversa entre Pina e Francesco na escada pensando inocentemente sobre o futuro; a confissão de Pina para Don Pietro caminhando na rua – quando ela pergunta: “Cristo não nos vê?”; a imagem de São Roque ao lado da estatueta de uma mulher nua – quando Don Pietro vira a imagem religiosa de costas para esta última; os garotos levando palmadas ao chegarem em casa depois de praticarem uma sabotagem; Don Pietro nocauteando o velho paralítico com a frigideira; o fuzilamento do padre amaldiçoando os bárbaros e logo, arrependido, pedindo perdão a Deus por sua palavras; os meninos assobiando atrás das grades diante do fuzilamento do sacerdote em sinal de apoio etc.). São momentos que nos comovem, porque parece que conhecemos pessoalmente essas pessoas. Ou, como disse Gian Pero Brunetta (Cent’anni di cinema italiano, 2. Dal 1945 Al Giorni Nostri, Laterza, 2004), “as pessoas vêem a história de Manfredi, Don Pietro e da senhora Pina e a sentem como parte do próprio corpo, do próprio sangue”. Ou, como disse Ingrid Bergman, anos depois, em uma entrevista na TV: “Eram atores que estavam fazendo aqueles papéis, mas pareciam gente de verdade”.

Tal como Roma Cidade Aberta, Paisà e Alemanha Ano Zero também possuem uma boa dose de ficção e sentimentalismo (tal como aliás ocorreu em outros filmes na mesma linha, por exemplo, Vítimas da Tormenta / Sciuscià / 1946 e Ladrões de Bicicletas / Ladri di Bicicletti / 1948, ambos de Vittorio De Sica). Paisà se compõe de seis narrativas independentes, tendo por contexto a libertação progressiva da Itália pelos Aliados e pela resistência Partigiana. Seis pequenas histórias de conteúdo dramático e doloroso, todas relacionadas com a situação catastrófica na qual o país está mergulhado no final da Segunda Guerra Mundial.

Carmela Sazio em Paisà

No primeiro episódio, em 10 de julho de 1943, a frota americana desembarca na Sicília. Um grupo de soldados chega em uma cidade, que os alemães abandonaram naquela mesma manhã. Eles são guiados por uma jovem italiana, Carmela (Carmela Sazio) através de um campo minado. Ela fica sozinha em uma antiga torre abandonada com Joe (Robert Van Loon), um soldado americano de New Jersey, enquanto os outros fazem um reconhecimento do lugar. Eles tentam desastradamente se comunicar. Joe é abatido por uma bala alemã e outros alemães não tardam a chegar. Carmela esconde-se, pega o rifle de Joe, e mata um alemão. Quando os americanos chegam, eles pensam que Joe foi morto por Carmela, e a almadiçoam. Os alemães olham do alto de um rochedo de onde jogaram Carmela, cujo corpo encontra-se estendido no mar lá em baixo.

Dotz M. Johnson e Alfonsino Pasca em Paisà

No segundo episódio, em Nápoles, um soldado negro (Dotz M. Johnson), completamente embriagado, é cercado por garotos engraxates. Um deles (Alfonsino Pasca), o conduz para um teatro de marionetes. O soldado, ainda muito tonto, vê o boneco branco que representa um cruzado batendo em um boneco preto que representa um mouro, e salta para o palco em defesa de sua raça, gerando uma confusão no auditório. O menino o leva para fora e, quando o soldado adormece, ele lhe rouba as botas. Alguns dias depois, o soldado, que pertence à polícia militar, reencontra o pequeno ladrão, e ordena que ele lhe devolva as botas. Decidindo levá-lo até onde mora, a fim de que seja repreendido pelos seus pais, descobre que estes foram mortos em um bombardeio, e que o menino vive em um lugar paupérrimo com outras pessoas indigentes. Perturbado, Joe afasta-se dali rapidamente.

Maria Michi e Gar Moore em Paisà

No terceiro episódio em Roma, no dia 4 de junho de 1944, a população acolhe em delírio os libertadores americanos. Seis mêses mais tarde, a jovem Francesca (Maria Michi), que caiu na prostituição por necessidade, aborda um soldado americano, Fred (Gar Moore), que está inteiramente bêbado. Ela o leva para um quarto de pensão, e Fred lhe conta que, no dia da Libertação, conheceu uma jovem adorável e inocente, Francesca, porém nunca mais conseguiu encontrá-la. A prostituta percebe que é ela que ele está procurando, e deixa com a proprietária seu antigo endereço, para que Fred a procure, quando acordar na manhã seguinte. Ela o aguarda em vão, sob a chuva, diante do prédio onde os dois se encontraram pela primeira vez. Fred rasgou seu bilhete. Para ele, não passa de um endereço de mais uma prostituta entre tantas outras. Ele não a reconhecera.

Renzo Avanzo e Harriet White (à direita) em Paisà

No quarto episódio, em Florença, Massimo (Renzo Avanzo), um italiano desejoso de se reunir com sua mulher e seu filho, e Harriet (Harriet White), uma enfermeira americana da Cruz Vermelha à procura de seu amante, o pintor Giorgio Morandi, que se tornara um um grande chefe da resistência sobo nome de Lupo, atravesssam a cidade dividida pelos combates de um lado a outro do Rio Arno. No caminho, cuidando de um homem agonizante, a enfermeira fica sabendo que Lupo está morto.

Os capelães americanos e os padres em Paisà

No quinto episódio, os monges de um convento na área da Emilia-Romagna, acolhem três capelães americanos. Quando eles descobrem que um dos capelães é um pastor protestante e o outro um rabino judeu, os franciscanos decidem oferecer seu jejum a Deus para a conversão daquelas “almas perdidas”

 

Cena do quinto episódio de Paisà

No sexto episódio, os pântanos do delta do Pó são o cenário de lutas sangrentas. Dale (Dale Edmunds), um oficial americano que orienta os resistentes e um destes (Cigolani), enterram o cadáver de um partegiano, que encontraram boiando no rio. Ilhados e sem recursos, os americanos e os resistentes são inevitavelmente presos, mas enquanto os americanos são feitos prisioneiros, os resistentes recebem o tratamento de criminosos comuns. Os alemães os colocam em um bote, e os jogam no rio, um a um, para que morram afogados. No momento em que os últimos dois corpos de partegianos caem no rio, uma voz over diz: “Isto aconteceu no inverno de 1944. No começo da primavera a guerra já havia terminado”.

Filmagem de Paisà Episódio do Vale do Pó

Após Roma sob a tormenta, Rosselllini filma em Paisà os derradeiros sobressaltos da guerra. A intenção foi fazer um filme que de certa forma abrangesse a totalidade da Itália e refletisse honestamente, nos moldes de Roma Cidade Aberta, o quê os realizadores encontraram nas suas viagens pelo país. Eles tiveram uma idéia geral sobre o filme antes que a filmagem começasse, porém o roteiro (novamente de Rossellini, Amidei e Fellini) nunca ficou realmente concluído. Personagens, enredo e locações foram contínuamente e às vêzes drásticamente mudados, para corresponderem mais às pessoas e aos lugares, que eles encontraram no decurso dos seis mêses de seu trajeto, durante o qual eles viram uma Itália que não conheciam, uma paisagem carregada de desagregação e desassossego.

Paisà mostra os tormentos físicos e espirituais de uma coletividade humana nas montanhas da Sicília, nos escombros de Nápoles, nas ruínas romanas do pós-guerra, nas praças de Florença, na planície húmida do delta do Pó e em um monastério dos Apeninos, que constitutem o pano de fundo para os episódios concisos e sutilmente conexos. Tal como em Roma Cidade Aberta, Rossellini descreve o presente imediato, intenso e palpitante, desta vez procurando dar uma visão sintética de uma Itália convulsionada pelos acontecimentos belicosos recentes, usando mais atores desconhecidos, clímaxes rápidos e inesperados no final de cada história (v. g. quando Harriet é subitamente informada da morte de Lupo), um fundo musical quase despercebido, e uma breve narração em voz over sobre cenas de atualidades especialmente no começo de cada episódio, a fim de realçar a credibilidade da ficção que se segue. Cada episódio é um trecho humano, belo e empolgante.

Em Alemanha Ano Zero, Rossellini (atuando sozinho como roteirista) continua a testemunhar de maneira objetiva e fiel a miséria material e moral de uma época em que a Europa começou do zero (daí o título do filme). Na Berlim arrazada, após a capitulação alemã, uma família se esforça para sobreviver: o pai (Ernst Pittschau) está muito doente, preso ao leito; o irmão mais velho, Karl-Heinz (Franz Krüger), antigo soldado da Wermacht, não sai do prédio semi-destruído, onde encontraram refúgio precário junto com outras famílias, por receio de se apresentar às autoridades de ocupação; sua irmã, Eva (Ingetraud Hintze), frequenta os bares cheios de soldados estrangeiros, com os quais dança para ganhar uns cigarros, mas se recusando a cair na prostituição. É Edmund Koeler (Edmund Moeschke), o filho mais jovem, quase um menino, que sustenta a todos, realizando toda espécie de serviços: cava sepulturas; vende artigos no mercado negro (a balança, para o dono do imóvel onde vivem de favor, Herr Rademaker (Hans Sangen), o disco com o discurso de Hitler, para Herr Enning (Erich Gühne); une-se a um casalzinho de ladrões.…Enning, seu antigo professor, simpatizante nazista e pedófilo ( símbolo, tal como a Ingrid safista de Roma Cidade Aberta do nazismo como corrupção), lhe relembra os princípios de Hitler sobre a eliminação dos fracos e dos inúteis. Como seu pai tem que ser hospitalizado e repete maquinalmente que seria melhor para todos que ele estivesse morto, Edmund, sem medir a importância de seu gesto, o envenena, e depois, abandonado pelo ex-mestre (“Você é louco, um monstro”), caminha no meio dos escombros, e acaba se atirando do quinto andar de um edifício em reconstrução bem em frente do lugar onde mora e no momento em que sai o carro fúnebre levando o corpo de seu progenitor.

Franz Krüger, Ingetraub Hintze e Edmund Moeschke em Alemanha Ano Zero

Cena de Alemanha Ano Zero

Este filme é diferente dos anteriores porque, de uma parte, ele nos mostra as consequências do conflito mundial não mais do lado italiano mas do lado do agressor e, de outra parte, tudo é mostrado pelos olhos de uma criança. É um relato de desespêro sem saída, descrito com uma intensidade e uma autenticidade (embora os personagens falem italiano e não alemão) extraordinárias. Sem desprezar a ficção, e com seu estilo sóbrio, Rossellini acompanha minuciosamente o itinerário do pequeno Edmund, um ser inocente que a distorsão de uma educação eugênica leva a cometer um crime, acreditando ter praticado um ato heróico.

Erich Gönne e Edmund Moeschke em Alemanha Ano Zero

Edmund Moeschke e Ernst Pittschau em Alemanha Ano Zero

Cena de Alemanha Ano Zero

Um comentarista disse com razão que Edmund era um anjo corrompido pelo mal que o cercava. Em determinado momento o pervertido Enning, provedor de garotos para o ex-general com quem ele vive, diz: “Lembre-se, Edmund, seu pai uma vez forjou um certificado para que você não se juntasse à Juventude Hitlerista, mas você logo me contou que o documento era falso, porque você sabia qual era o seu dever (Enning toca na bochecha do menino). E eu deveria ter denunciado ele ao Partido … e a razão pela qual não fiz isso, foi porque gosto de você”.Tudo isto faz de Alemanha Ano Zero uma realização chocante e amarga, que encerra com chave de ouro o trio de filmes de um grande diretor, comprometido em mostrar cruamente os horrores da guerra, e a refletir sobre eles.