FREDRIC MARCH I

janeiro 23, 2019

Ele foi um dos maiores atores do cinema americano, indicado cinco vezes como Melhor Ator pela Academia de Artes e Ciências de Hollywood, arrebatando o Oscar duas vêzes (em 1932 e 1947). Fez mais de 70 filmes em um período de 44 anos de 1929 a 1973 e marcou sua presença nos palcos da Broadway, atuando em produções aclamadas como “The Skin of Our Teeth”, dirigida por Elia Kazan e ganhando dois Tony Awards (por seu desempenho  em “Years Ago” / 1947 e “Long Day’s Journey into Night “/ 1957). Apesar de sua folha corrida de sucessos, nunca desenvolveu uma personalidade fílmica reconhecível que o acompanhasse de filme para filme, preferindo esconder sua pessoalidade atrás do personagem que estava interpretando. “Gary Cooper, Clark Gable, Cary Grant e até Humphrey Bogart interpretavam a si mesmos. Eu sempre interpretei o personagem”.

Fredric March

Ernest Frederick McIntyre Bickel (1897-1975) nasceu na cidade de Racine, Wisconsin, filho de família abastada. Seu pai, John Bikel, era filho de alemães e sua mãe, Cora, cujo nome de solteira era Marcher, filha de um inglês com uma americana de Nova York.

Desde cedo, Frederick desenvolveu um dom para a mímica e para a imitação, e gostava de dramatizar algumas das histórias que lia. Era um bom aluno e popular entre seus colegas e professores, que sempre o convidavam para recitar, algo que gostava de fazer, porque ficava em evidência sob a luz dos refletores. Aos 14 anos de idade começou a participar de concursos estaduais de oratória, representando sua cidade.

Frederick formou-se na Racine High School e pensou em ingressar na Universidade de Wisconsin em Madison, onde já estudavam seus dois irmãos Harry e Jack; porém o pai sofreu dificuldades fnanceiras, e ele teve que ir trabalhar como escrevente em um banco.

Finalmente, depois de dois anos, seu progenitor pôde enviá-lo para a Universidade e, seguindo o conselho de seu irmão mais velho, dedicou-se a assuntos econômicos. Ele se formou em junho de 1920 e já saiu da Universidade com um emprego garantido na filial de um banco em Nova York, mas a atração pelo teatro, adquirida na Universidade, prevaleceu. Frederick começou a mandar suas fotos e dados pessoais para vários agentes até que conseguiu trabalho como figurante no Astoria Studios da Paramount em Long Island, aparecendo pela primeira vez em A Roda da Fortuna / Paying the Piper / 1921 e continuando como extra em Satanás / The Devil / 1921, The Great Adventure / 1921 e A Educação de Isabel / The Education of Elizabeth/ 1921.

Depois de dar seus primeiros passos em frente das câmeras, Frederick posou como modelo para anúncios comerciais; estreou profissionalmente no palco, intepretando o papel de Victor Hugo na peça  “Debureau”, encenada pelo empresário David Belasco; teve aulas de interpretação com Madame Alberti (famosa professora da American Academy of Dramatic Arts); obteve, com a ajuda de John Cromwell (o futuro diretor de cinema) uma participação em “The Law Breaker”, levada à cena pelo eminente produtor teatral William Brady; e ingressou como membro de uma companhia de repertório em Dayton, Ohio (onde conheceu sua primeira esposa, a atriz Edith Baker de quem se divorciou em 1927), para se aperfeiçoar na arte interpretativa.

Fredric March na peça “Melody Man”.

De retorno a Nova York, Frederick assinou contrato com John Cromwell, mudou seu nome artístico para Fredric March, e apareceu pela primeira vez na Broadway em 1924 na comédia “The Melody Man”. Seguiram-se atuações em outras peças produzidas por Cromwell, e depois ele passou a trabalhar no Elitch’s Garden, o mais antigo e prestigioso teatro que só funciona no verão no país, situado em Denver, Colorado, onde conheceu sua segunda esposa, a atriz Florence Eldridge, companheira até o fim de seus dias. Os dois trabalharam juntos no Elitch’s Garden e depois foram empregados pelo Theater Guild, para liderarem uma excursão pelo país com uma companhia de repertório.

O grande sucesso de March nessa etapa de sua trajetória artística no tablado foi seu desempenho como Anthony Cavendish na peça de Edna Ferber e George S. Kaufman, “The Royal Family”, encenada na Broadway, paródia da família Barrymore, focalizando mais precisamente John e Ethel Barrymore. March fazia uma caricatura de John Barrymore. Quando o espetáculo chegou em Los Angeles, ele sabia que astros, diretores, produtores e agentes de Hollywood estariam na platéia e que esta seria a sua grande chance no mundo do cinema.

Hollywood estava então na fase da transição dos filmes mudos para os sonoros e os estúdios procuravam atores talentosos e bem apessoados, que pudessem falar bem. Barrymore estava lá no dia da estréia e foi cumprimentá-lo no camarim. Ao ouvir  sua voz estrepitosa, March quase caiu da cadeira, pois não sabia ao certo se o grande ator vinha congratulá-lo ou condená-lo. Felizmente March sentiu um alívio, quando Barrymore lhe disse: “Foi a maior e mais engraçada performance que eu jamais ví”. Barrymore não foi o único na assistência que achou que March havia feito uma excelente composição e que tinha talento e carisma para se tornar um astro. Os agentes correram atrás dele, resultando um contrato com a Paramount em dezembro de 1928.

Fredric March e Ruth Chatterton em Assim Falou o Mudo

O primeiro filme de March foi Assim Falou o Mudo / The Dummy / 1929 (Dir: Robert Milton, Louis Gasnier), ao lado de Ruth Chatterton, formando um casal separado, cuja filha é sequestrada. Um jovem (Mickey Bennett) que trabalha para uma agência de detetives, se finge de mudo, a fim de ser deliberadamente levado à força pelos sequestradores e armar uma cilada para eles. Na última cena, a garota é salva, e o casal faz as pazes em um final feliz. Como o personagem mais importante era o jovem detetive, March não foi mencionado nas resenhas do filme no New York Times e Ruth só foi mencionada de passagem, embora fossem nominalmente os artistas principais.

Fredric March e Clara Boa em Garotas na Farra

Ele foi mais notado no seu segundo filme Garotas na Farra / The Wild Party / 1929 (Dir: Dorothy Arzner), porque tinha a seu lado a “It Girl”, Clara Bow, que estava fazendo sua estréia no cinema falado, e os fãs acorreram aos cinemas, para ver se ela passaria no teste de voz. No seu terceiro trabalho, O Crime do Estúdio / The Studio Murder Mystery / 1929 (Dir: Frank Tuttle), March é um ator mulherengo, que  vem a ser assassinado, e Florence Eldridge – no primeiro dos sete filmes que fariam juntos – é sua mulher ciumenta, que tem um bom motivo para ter cometido o crime; porém o papel principal coube a Neil Hamilton.

Fredric March e Florence Eldridge em O Crime do Estúdio

Ainda nos anos 20, March fez: Paris Bound/ 1929 (Dir: Edward H. Griffith para a Pathé Exchange), adaptação da peça de Philip Barry com Ann Harding; Ciúmes/ Jealousy/ 1929 (Dir: Jean de Limur), drama com Jeanne Eagels; Mademoiselle Fifi/ Footlights and Fools/ 1929 (Dir: William A. Seiter, musical todo falado (Vitafone) para a First National), com Colleeen Moore e Orfãos do Divórcio/ The Marriage Playground (Dir: Lothar Mendes), drama com Mary Brian – o primeiro e o último produzidos pela Paramount. March diria mais tarde que foi o diretor de Orfãos do Divórcio que lhe deu o melhor conselho no início de sua carreira  sobre interpetação no cinema. “Ele disse, ‘Freddie, quando eu disser  ‘câmera’ tudo que isto quer dizer é relaxe”.

Prosseguindo nos seus compromissos com a Paramount, March e Ruth Chatterton tiveram mais oportunidade de chamar a atenção dos espectadores em Sarah e Seu Filho / Sarah and Son / 1930 (Dir: Dorothy Arzner), dramalhão sobre o amor maternal, com Ruth no papel de Sarah Storm, imigrante alemã que trabalha como empregada doméstica em Nova York e forma um número de vaudeville com um ex-chofer de caminhão muito grosseiro. Ele a abandona, alista-se na Marinha e, em retaliação às recriminações da esposa, entrega o filho deles, Bobby (Philippe de Lacy) para adoção de um rico casal. Sarah continua representando na companhia de uma ex-cantora de ópera. Algum tempo depois, a dupla está percorrendo hospitais para divertir os soldados e, por uma dessas coincidências típicas do gênero melodramático, quem morre diante de seus olhos é o seu ex- marido. Antes de falecer, ele sussurra o sobrenome do casal a quem entregou o menino – Ashmore. Sarah visita os Ashmores (Doris Lloyd, Gilbert Emery), e pede seu filho de volta, mas eles insistem que a criança não pode ser filho dela e ameaçam interná-la em um hospício. Os anos passam, Sarah vai para a Alemanha, onde estuda para se tornar  cantora de ópera.  Retornando a Nova York, ela usa seu prestígio para encontrar Bobby. March interpreta o papel de Howard Vanning, advogado simpático que se apaixona por Sarah e, em uma outra coincidência melodramática, a irmã e o cunhado de Howard são os pais adotivos de Bobby. Os Ashmore substituem o filho de Sarah pelo filho de uma criada, mas Sarah percebe que ele não é Bobby. No final, Bobby foge da casa dos Ashmore e Sarah e seu filho se reencontram. O filme obteve grande êxito popular e Ruth Chatterton foi indicada para o Oscar.  No Brasil passou também a versão portuguesa, A Canção do Berço, dirigida por Alberto Cavalcanti, com Corina Freire no lugar da artista americana.

Fredric March e Ruth Chatterton em Sarah e Seu Filho

March fez uma aparição como fuzileiro naval em um dos esquetes de Paramount on Parade / 1930, dirigidos por vários diretores (Dorothy Arzner, Edmund Goulding, Ernst Lubitsch, Frank Tuttle, Edward Sutherland, Otto Brower, Rowland V. Lee, Lothat Mendes, Victor Schertzinger, Victor Heerman, Edwin H. Knopf) e interpretados por um um punhado de astros  (Maurice Chevalier, Clara Bow, Nancy Carroll, Ruth Chatterton, Evelyn Brent, William Powell, Kay Francis, Gary Cooper, Jean Arthur, Virginia Bruce, Clive Brook, George Bancroft, Fay Wray, Phillips Holmes,  Charles “Buddy” Rogers etc). O filme teve 11 versões e no Brasil passaram a original e a espanhola (Galas de la Paramount), ambas com o título em português de Paramount em Grande Gala.

Mary Astor e Fredrich March em As Mulheres Amam os Burtos

Em seguida, o jovem ator de Racine, Wisconsin, foi creditado em terceiro lugar, depois de George Bancroft e Mary Astor em As Mulheres Amam os Brutos / Ladies Love Brutes /1930 (Dir: Rowland V. Lee), e a ele coube o papel ingrato do marido traído da ricaça interpretada por Astor, que tem um caso com um imigrante brutal, mas nem pensa em um futuro com ele por causa de suas insuficiências sociais.

A Noiva da Esquadra / True to the Navy / 1930 (Dir: Frank Tuttle) reuniu March  e Clara Bow em uma história sobre uma garçonete de San Diego, que se apaixona por um marujo. Neste filme, Clara encontrou seu futuro marido, Rex Bell, que interpretava outro marujo. March pouco tem a fazer e muita gente achou que ele, apesar de ser um ator competente, não parecia um marinheiro. Clara fora prevista para atuar pela terceira vez ao lado de March em Homicida / Manslaughter / 1930 (Dir: George Abbott), mas sua saúde mental estava se deteriorando, e ela foi substituída por Claudette Colbert, no primeiro dos quatro filmes que faria com ele, No enredo, Claudette é uma mulher corrompida pela riqueza e pelo privilégio atraída por um promotor -interpretado por March- , que também corresponde a essa atração, mas rejeita sua maneira de viver.

Clara Bow e Fredric March em A Noiva da Esquadra

Fredric March e Claudette Colbert em Homicida

O Melhor da Vida / Laughter / 1930 (Dir: Harry D’Abadie D’Arrast), comédia romântica sofisticada precursora na fase sonora dos brilhantes exemplares do gênero, que surgiram entre os meados e o fim da década, impulsionou a carreira de March e de Nancy Carroll. Ela é a corista que se casa com um milionário (Frank Morgan) em busca de luxo e March o compositor que lhe mostra os verdadeiros encantos da vida. O diretor D’Arrast, ex-assistente de Chaplin, era muito apreciado na cena muda pelo seu espírito e inteligência, que se assemelhava ao de Ernst Lubitsch.

Fredric March em The Royal Family of Broadway

March teve oportunidade de recriar seu papel no palco de Anthony Cavendish em The Royal Family of Broadway / 1930, dirigido por George Cukor (assessorado na parte técnica por Cyril Gardner), e foi recompensado com a sua primeira das cinco indicações para o Oscar.

Fredric March e Nancy Carroll em O Anjo da Noite

Ele contracenou novamente com Claudette Colbert em Honra Entre Amantes/ Honor Among Lovers/ 1931 (Dir: Dorothy Arzner) e com Nancy Carroll em O Anjo da Noite/ Night Angel / 1931 (Dir: Edmund Goulding). No primeiro, Claudette é secretária executiva de um industrial milionário (Fredric March), que tem um caso com ela. Ele não quer se casar, mas acaba cedendo. No segundo, March é um promotor que manda prender a dona de um bordel (Allison Skipworth), mas se apaixona por sua filha (Nancy Carroll), mata o rufião que a importunava, e é inocentado pelo testemunho da moça.

Meu Pecado / My Sin / 1931 (Dir: George Abbot) reuniu March com Tallulah Bankhead. A ação se passa no Panamá. Tallulah é uma “recepcionista de boate”, que mata um homem em legítima defesa, e March o advogado alcóolatra, que a defende, ganha a causa, recupera o respeito de seus colegas, e também procura mudar a vida de sua cliente. March se reencontraria com Bankhead, quando atuou com ela e sua esposa Florence Eldridge na produção da Broadway “The Skin of Our Teeth” de Thornton Wilder.

Fredric March, Miriam Hopkins e George Cukor na filmagem de O Médico e o Monstro

Fredric March e Miriam Hopkins em O Médico e o Monstro

No final de 1931, March começou a trabalhar no seu filme mais importante até então, O Médico e o Monstro / Dr. Jekyll and Mr. Hyde / 1932, adaptação do célebre romance de Robert Louis Stevenson, “The Strange Case of Dr. Jeckyll and Mr. Hyde”. O diretor Rouben Mamoulian insistiu em colocar March no personagem e ele ganhou o Oscar de Melhor Ator (empatado com Wallace Beery, apesar de ter tido um voto a mais do que Beery  – porque segundo as regras da Academia, menos de três votos de diferença entre um e outro candidato era considerado empate). Miriam Hopkins também teve excelente desempenho como Ivy, a garota do cabaré aterrorizada por Hyde. Ela pretendia fazer o papel da noiva do Dr. Jeckyll, que coube a Rose Hobart, porém o diretor convenceu-a a mudar de idéia. Realizado antes de a censura endurecer, o filme pôde mostrar sem subterfúgios o desejo canal reprimido do médico e as insinuações sexuais da garçonete, sendo memoráveis a fusão da perna de Miriam, balançando na cama. A inventiva troca de filtros coloridos para revelar diferentes camadas da maquilagem de March na cena da transformação diante de nossos olhos; o uso funcional das cortinas diagonais, da câmera subjetiva e da trilha de som; o brilhante aproveitamento da foto em claro-escuro de Karl Struss, confirmam o gênio criativo de Mamoulian em fase cintilante. O filme rendeu indicações ao Oscar para Struss e para Samuel Hoffenstein pelo Melhor Roteiro Adaptado.

Fredric March e Kay Francis em A Volta do Deserdado

Fredric March e Sylvia Sidney em Quando a Mulher se Opõe

Em 1932, March fez dois filmes  corriqueiros na Paramount – A Volta do DeserdadoStrangers in Love / 1932 (Dir: Lothar Mendes), no qual faz um papel duplo como dois irmãos gêmeos, um tomando o lugar do outro quando um deles morre de um ataque cardíaco e conquistando a jovem (Kay Francis) que não amava o morto, mas passa a amar o vivo; Quando a Mulher Se Opõe / Merrily We Go To Hell (Dir: Dorothy Arzner), no qual ele é um alcoólatra e Sylvia Sidney a mulher que tenta em vão livrá-lo da dipsomania – sem contar um cameo em Quero Ser Estrela / Make Me a Star, e dois filmes com maiores valores de produção: um na MGM, O Amor Que Não Morreu / Smilin Through e outro novamente na  Paramount, O Sinal da Cruz / The Sign of the Cross.

O Amor Que Não Morreu, drama romântico com toques de fantasia em produção cuidada, foi indicado para o prêmio da Academia. O diretor Sidney Franklin havia se responsabilizado pela primeira versão, estrelada por Norma Talmadge. Norma Shearer é a jovem que morre no dia do casamento, alvejada pelo pretendente rejeitado (Fredric March), com a bala endereçada ao noivo (Leslie Howard); este, anos depois, opõe-se ao romance entre a sobrinha da falecida e o filho do criminoso. A fotografia de Lee Garmes é notável.

Fredric March e Claudette Colbert em O Sinal da Cruz

O Sinal da Cruz, superespetáculo realizado por Cecil B. DeMille na sua tradicional fórmula de unir erotismo e religião, distorcendo a História, obteve ótima recompensa nas bilheterias. Por motivo de economia cenários e figurinos froram feitos com muita improvisação por Mitchel Leisen. Também para poupar despesas, o fotógrafo Karl Struss usou uma lente prismática para duplicar o tamanho da multidão e filmou todas as cenas noturnas à luz de tochas. Construiu-se uma Roma em miniatura no rancho da Paramount e 12 câmeras focalizaram o pânico das massas na cena do incêndio ordenado por Nero (Charles Laughton). O banho de Popéia foi feito com leite de verdade e, após dois dias de filmagem, reza a lenda que se transformou em queijo, exalando um odor insuportável. Pola Negri e Norma Talmadge foram cogitadas para o papel da Imperatriz romana que acabou sendo de Claudette Colbert. Fredric March e Elissa Landi formam o par romântico – a bela e virtuosa cristã Mercia e Marcus Superbus, o romano convertido ao cristianismo, que entra com sua amada na arena, para encontrar a morte, e as portas da masmorra se fecham criando a sombra do sinal da cruz. O filme todo foi filmado através de uma gaze vermelha, para dar a impressão de tempo passado.

Em 1933, March fez dois filmes dirigidos por Stuart Walker, em ambos auxiliado por Mitchel Leisen (Esta Noite é Nossa / Tonight is Ours, drama romântico sobre uma princesa de um trono mítico (Claudette Colbert) indecisa entre suas obrigações reais e seu amor por um americano  (Fredric March) que conheceu em um baile a fantasia e Os Dragões da Morte / The Eagle and the Hawk, drama de guerra tendo como foco as atividades de um esquadrão da Royal Air Force, do qual fazem parte os aviadores rivais Fredric March e Cary Grant durante o primeiro conflito mundial) e ainda um filme um dirigido por Ernst Lubitsch:  Sócios no Amor/ Design for Living.

Gary Cooper, Fredrich March e Miriam Hopkins em Sócios no Amor

Ernst Lubitsch, Gary Cooper, Miriam Hopkins e Fredrich March na filmagem de Sócios no Amor

A fim de preservar o severo Código de Produção o ménage-a-troisde dois homens e uma mulher em Sócios do Amor, o adaptador-roteirista Ben Hecht usou toda a sua verve e inteligência para atenuar as inúmeras infrações morais da peça de Noel Coward. No roteiro, a desenhista industrial Gilda Farrell (Miriam Hopkins) encontra-se em um trem com dois promissores artistas, o escritor Tom Chambers  (Fredrich March) e o pintor George Curtis (Gary Cooper). Ambos se apaixonam pela moça, mas como ela não se decide por nenhum deles, combinam viver juntos os três, platonicamente. Cansada das ciumeiras dos dois, Gilda parte para Nova York e se casa com o patrão, Max Plunkett (Edward Everett Horton). Entretanto, transcorrido um ano, Gilda reencontra seus amigos, e resolve voltar a morar com eles.

 

Sylvia Sidney e Fredric March em Em Má Companhia

Apesar de ter tido a chance de atuar em um filme de um grande cineasta como Lubitsch, March estava insatisfeito na Paramount, pois queria mais autonomia em relação à sua carreira e mais tempo de folga para poder viajar e conviver com a família. Sendo assim, resolveu encerrar seu contrato com a empresa, completando os três últimos filmes nele previstos: os rotineiros e mal sucedidos Toda Tua / All of Me / 1934 (Dir: James Flood), com Miriam Hopkins e Em Má Companhia / Good Dame 1934 (Dir: Marius Gering), com Sylvia Sidney, e o excelente Uma Sombra Que Passa / Death Takes a Holiday / 1934 (Dir: Mitchel Leisen).

Em Uma Sombra Que Passa, A Morte vem passear pela Terra, para saber por que todos a temem. Assumindo os traços do misterioso Príncipe Sirki (Fredric March), apaixona-se por Grazia (Eveyn Venable), jovem da aristocracia italiana, que prefere seguí-lo a viver sem amor. Com esse enredo alegórico e poético, fotografia de Charles Lang, direção de arte de Ernst Fegté e Leisen (também ele entendido em cenografia), o filme teve assegurada sua qualidade pictórica e se tornou um clássico do gênero fantástico.

Constance Bennett e Fredric March em As Aventuras de Cellini

Transferindo-se da Paramount para a 20thCentury, March assumiu o papel de Benvenuto Cellini emAs Aventuras de Cellini / The Affairs of Cellini / 1934, tendo a seu lado Constance Bennet e Frank Morgan e depois foi convidado para voltar a trabalhar de novo na MGM com Norma Shearer em A Família Barrett / The Barretts of Wimpole Street / 1934.

Fredrich March e Norma Shearer em A Família Barrett

O primeiro é uma produção luxuosa da companhia de Darryl F. Zanuck, mostrando o artista da Renascença como espadachim às voltas com intrigas palacianas. Porém o filme é sobretudo uma comédia de costumes, dirigida com graça e ironia por Gregory La Cava. De barba e cavanhaque como o famoso ourives e escultor italiano,  March namora Joan Bennett, mulher do Duque de Florença, interpretado de maneira hilariante por Frank Morgan, que foi indicado para o Oscar, juntamente com o fotógrafo Charles Roscher

Graças aos altos valores de produção outorgados pela MGM, à magnitude dos três intérpretes centrais (além de Fredric March e Norma Shearer, Charles Laughton), a adaptação da peça de Rudolf Basier sobre o romance entre a poetisa Elizabeth Barrett e o poeta Robert Browning, bem dirigida por Sidney Franklin, alcançou êxito comercial e foi indicada ao Oscar. Fotografada em belos close ups pela câmera de William Daniels, Norma concorreu ao prêmio de melhor Atriz. Foi por causa desse filme que William Randolph Hearst rompeu com a MGM e transferiu seu dinheiro e a marca Cosmopolitan Pictures para a Warner. Ele queria o papel de Elizabeth para sua protegida Marion Davies e ficou indignado quando soube que Irving Thalberg o reservara … para a dele.

Fredric March e Anna Sten em Tornamos a Viver

Subsequentemente, March fez para a Samuel Goldwyn Company, Tornamos a Viver / We Live Again/ 1934 (Dir: Rouben Mamoulian), transposição feliz para o cinema do romance “Ressurreição” de Tolstoi sobre o nobre russo (Fredric March) que, como membro de um júri, reconhece a pobre criada (Anna Sten), que ele seduzira no passado, causando sua queda na prostituição. Ela está sendo julgada por um crime não praticado, e ele, em busca de redenção, deixa sua posição social e seus haveres, para seguí-la no desterro rumo à Sibéria. A foto esplêndida de Gregg Toland enriquece o espetáculo.

Fredric March em Os Miseráveis

Fredric March em Os Miseráveis

Richard Boleslawski dirige Fredric March em uma cena de Os Miseráveis

Os Miseráveis/ Les Miserables / 1935 (Dir: Richard Boleslawski) foi o segundo filme de March na 20thCentury, e é um dos mais lembrados pelos seus fãs. Produzido por Zanuck, esta versão para a tela do romance imortal de Victor Hugo comprime inteligentemente o volumoso épico, conservando os valores intrínsecos do livro e Boleslawski narra esplendidamente a história. March e Charles Laughton estão admiráveis nos respectivos papéis de Jean Valjean e Javert. Filme, diretor, fotógrafo (Gregg Toland) e montador (Barbara McLean) foram indicados para o Oscar.

Greta Garbo e Fredrich March em Anna Karenina

 

De novo na MGM, March participou de Anna Karenina / Anna Karenina / 1935, versão de obra literária de outro romance de Tolstoi, conduzida de forma brilhante por Clarence Brown. Garbo revive a heroína que já interpretara em Anna Karenina / Love/ 1928 sob a direção de Edmund Goulding e March herda de John Gilbert, o papel do Conde Vronski, seu amante. O diretor criou duas cenas antológicas: a do traveling no início sobre a mesa do banquete e a do suicídio no desenlace, prepararada com o concurso de Val Lewton, então assistente do produtor David O. Selznick. O cinegrafista William Daniels, favorito da “Divina”, foi indicado para o Oscar.

No restante da década de 30, March fez filmes de boa qualidade artística para diversas companhias – Goldwyn (Anjo das Trevas / The Dark Angel / 1935 / Dir: Sidney Franklin), refilmagem do drama romântico O Anjo das Sombras / 1925 com Ronald Colman e Vilma Banky / 1921, agora com March e Merle Oberon); 20thCentury-Fox (Caminho da Glória / The Road to Glory / 1936 / Dir: Howard Hawks, drama de guerra focalizando um regimento francês na Primeira Guerra Mundial com March e Warner Baxter);

Katharine Hepburn e Fredric March em Maria Stuart

Carole Lombard e Fredric March em Nada é Sagrado

Francisca Gaal, Fredric March e Akim Tamiroff em Lafite, o Corsário

Virginia Bruce e Fredric March em Aí Vai Meu Coração

Fredric March e Joan Bennett em Segredos de um Don Juan

RKO (Maria Stuart, Rainha da Escócia / Mary of Scotland / 1936 / Dir: John Ford, aventura histórica com March, Katharine Hepburn e Florence Eldridge); Warner (Adversidade / Anthony Adverse / 1937 / Mervyn LeRoy, drama de época com March, Olivia de Havilland e Claude Rains);  Selznick (Nasce uma Estrela / A Star is Born / 1937  / William Wellman, drama com March e Janet Gaynor); Nada é Sagrado / Nothing Sacred / 1938 / William Wellman, comédia satírica com March e Carole Lombard interpretando com vivacidade o scriptcínico de Ben Hecht); Paramount (Lafite, o Corsário / The Buccaneer / 1938 / Dir: Cecil B. DeMille, aventura histórica com March e Franciska Gaal); Hal Roach (Aí Vai Meu Coração / There Goes My Heart / 1938  / Dir: Norman Z. McLeod, comédia romântica típica sobre herdeira fugitiva descoberta por repórter com March e Virginia Bruce) e Walter Wanger (Os Segredos de um Don Juan / Trade Winds / 1938 / Dir: Tay Garnett, parte comédia romântica parte drama criminal com March e Joan Bennett) – destacando-se Adversidade e Nasce uma Estrela.

Fredric March e Olivia de Havilland em Adversidade

Adversidade foi um dos projetos mais ambiciosos da Warner até então, vigiado pela censura, que extirpou 40 páginas da primeira adaptação do maciço romance de Hervey Allen sobre o amadurecimento de um jovem do século XIX após muitas aventuras em busca de seu legado e de sua identidade. Apesar do enredo cheio de coincidências difíceis de acreditar, o espetáculo, bem guiado por Mervyn LeRoy, teve êxito financeiro e recebeu indicação para o Oscar. Também concorreram ao prêmio da Academia e ganharam: a atriz coadjuvante Gale Sondergaad, o fotógrafo Tony Gaudio, o montador Ralph Dawson e o diretor musical Leo Forbstein, agraciado em vez do compositor Erich Wolfgang Korngold. Forbstein, que funcionava mais como executivo, raramente regia, e não escrevia música, ficou embaraçado e ofereceu a estatueta a Korngold: este gentilmente a recusou. O diretor de arte Anton Grot também competiu, mas não levou o troféu.

Janet Gaynor e Fredric March em Nasce uma Estrela

Famoso ator de Cinema, alcoólatra, descobre jovem talentosa e a transforma em estrela. À medida  que a carreira dela cresce, a dele entra em declínio. O produtor David O. Selznick aproveitou o argumento original de William Welman e Robert Carson (segundo os autores baseado em fatos observados na comunidade hollywoodiana) e usou-o de certa forma para refilmar de maneira diferente Hollywood / What Price Hollywood?, que ele mesmo realizara em 1932. O modelo de Norman Maine foi John Bowers, galã do cinema mudo, que não encontrou mais trabalho e se suicidou por afogamento. O filme foi apontado para o Oscar e houve também indicações nas categorias de Melhor Direção, Roteiro (Dorothy Parker, Alan Campbell, Robert Carson), Ator, Atriz, e História Original. O Oscar foi para a História Original, tendo sido concedido um prêmio especial para W. Howard Green pela fotografia em Technicolor. Antes de Janet Gaynor, Elizabeth Bergner e Margaret Sullavan foram cogitadas para o principal papel feminino e, durante algum tempo, Jack Conway substituiu Wellman, afastado por problemas de saúde; quando retornou aos sets, Wellman refez todas as cenas rodadas pelo colega emprestado pela MGM.

AS SINFONIAS SINGULARES DE WALT DISNEY

janeiro 11, 2019

Concebidas originariamente em 1929 como “novidades musicais” (combinação de música e animação), as Sinfonias Singulares (ou Sinfonias Tontas, Coloridas ou Malucas) evoluíram para uma série mais ambiciosa e inovadora de desenhos animados, que introduziram novos personagens, idéias e técnicas a cada lançamento.

Embora a concepção das Sinfonias Singulares tivesse nascido ao mesmo tempo em que Disney apresentou a sua série Mickey Mouse, seu desenvolvimento foi comparativamente mais lento. A primeira Sinfonia, A Dança Macabra ou Os Esqueletos Dançam / The Skeleton Dance, foi produzida em 1929 como uma produção isolada, para atrair a atenção de potenciais distribuidores. Os desenhos de Mickey Mouse estavam sendo distribuídos na base do states-rights (espécie de franquia pela qual um estúdio vendia para uma distribuidora independente ou um indivíduo o direito exclusivo de distribuição de seus filmes em uma determinada base territorial por um prazo determinado) pela Celebrity Productions de Pat Powers. No verão de 1929, os irmãos Disney negociaram um contrato de distribuição separado com a Columbia Pictures para as Sinfonias Singulares. Só então elas prosseguiram, porque esse contrato mantinha o compromisso de distribuição nacional para cada filme, em contraste com o processo fragmentado adotado com relação aos desenhos do Mickey.

As Sinfonias Singulares são usualmente vistas em retrospecto como a inversão dos filmes de Mickey Mouse: nos desenhos de Mickey a ação é sustentada pela música; nas Sinfonias, a música é sustentada pela ação (o desenho é construído em torno de uma composição musical). Esta é uma descrição bastante correta das primeiras Sinfonias produzidas em 1929 quando os desenhos, movendo-se em estreita sincronização com a música, era uma verdadeira novidade; porém, a partir dos meados dos anos 30, elas passaram a se caracterizar por enredos mais sólidos, menos dependentes da sincronização com a música.

Ub Iwerks, Walt Disney e Carl Stalling

Enquanto essas alterações estavam acontecendo na tela, uma mudança de maior alcance ocorria nos bastidores. Como informam Russell Merritt e J. Kaufman em “Walt Disney’s Silly Symphonies – A Companion to the Classic Cartoon Series (Disney Enterprises, 2016) – que foi muito útil na elaboração deste artigo -, na manhã de 21 de janeiro de 1930, o compositor Carl Stalling e o animador Ub Iwerks, os dois grandes colaboradores de Disney na criação das Sinfonias, anunciaram que estavam deixando o estúdio por uma razão muito simples: Pat Powers havia oferecido a Iwerks um estúdio de animação para ele próprio e a Stalling uma posição de diretor musical nesse estúdio.

Em 1929, além de Ub Iwerks, o estúdio Disney contava com os nomes de Les Clark, Wilfred Jackson, Burt Gillett, Jack King, Ben Sharpsteen, Johnny Cannon, Dick Lundy, Norm (Norman) Ferguson, Dave Hand, Ham Luske e, no decorrer de 1930, ainda com Gilles “Frenchy” de Trémaudan. O pôsto de Stalling foi inicialmente ocupado por Bert Lewis e, em 1931, ele recebeu o refôrço de Frank Churchill, originariamente contratado pelo estúdio como pianista para as sessões de gravação. Churchill logo demonstrou um grande talento como compositor dando uma colaboração importante para a riqueza dos filmes de Disney, sendo também valiosa a colaboração de Leigh Harline e Albert Hay Malotte para a música das Sinfonias.

Leigh Harline, Walt Disney e Frank Churchill

Refinamentos técnicos tiveram lugar na fotografia das Sinfonias. No início dos anos 30, a câmera Pathé do estúdio foi substituida por uma Universal, que era montada de maneira que podia ser levantada, abaixada e fazer uma rotação de 360 graus.  Desde 1920, Walt Disney já vinha pensando em produzir seus filmes em cores, mas não ficou satisfeito como o processo de cor disponível e preferiu aguardar a introdução de um processo mais aperfeiçoado como o Technicolor de três côres em 1932. Nesse interim, ele sugeriu a cor em alguns de seus filmes usando o processo de tingimento. Além do mais, descobriu que o sistema de som de Pat Powers, o Cinephone, no qual seu estúdio investira, era um processo inferior. Por volta de 1931, começou a negociar com a RCA, cujo processo Photophone produzia melhores resultados mas, em virtude de obstáculos contratuais, o uso de Disney do processo RCA foi retardado até o final de 1932.

Albert Hay Malotte

 

O contrato de distribuição com a Columbia, que inicialmente parecia tão promissor, foi outra decepção. Disney achou que a Columbia não cuidou bem dos seus  filmes embora, a bem da verdade, tivesse havido um pouco de culpa do próprio estúdio. A saída de Iwerks e Stalling atrasou a produção dos cartoons, fazendo com que eles fossem entregues à distribuidora com um mês de atrazo. Os irmãos Disney não ficaram satisfeitos com a solução dada pela Columbia: sempre que um filme do estúdio Disney não estava disponível para uma programação, essa companhia simplesmente o substituía por um de seus desenhos do Gato Estopim (Krazy Kat).

Os Disney ficaram tão insatisfeitos com o desempenho da Columbia, que ameaçaram promover ação judicial contra a distribuidora, acusando-a de práticas comerciais negligentes. O litígio foi eventualmente extinto por um acordo acertado fora do tribunal, mas a esta altura os Disneys já haviam desistido da Columbia e iniciado negociações com a United Artists. Um contrato de distribuição foi celebrado com a UA em dezembro de 1931, porém levou ainda mais de um ano para Disney cumprir seu compromisso com a Columbia e o novo contrato de distribuição só se efetivou na primavera de 1932.

 A mudança para a United Artists marcou um novo comêço para Disney. Sua nova afiliada desfrutava de um nível de prestígio muito mais alto na indústria cinematográfica do que a Columbia Pictures e ensejou um melhoramento de qualidade e criatividade nos seus filmes. Com o início das Sinfonias Singulares da UA em 1932, Disney decidiu usar o Technicolor de três cores. Como isto representava uma despesa adicional, que seria dividida com a UA, ele pediu permissão a sua associada para fazer um único filme em côres, explicando que também seria produzida uma versão em preto e branco e que não tinha intenção de fazer nenhuma outra Sinfonia colorida, mas apenas testar esta possibilidade. A UA concordou e a animação se completou em abril de 1932; a conversão para a cor levou mais três meses. As cenas foram refotografadas no prédio da Technicolor em Hollywood pelo renomado cinegrafista especializado na fotografia em cores Ray Rennahan.

Flores e Árvores

 A Sinfonia Flores e Árvores / Flowers and Trees estreou no Grauman’s Chinese em julho de 1932 e, como os irmãos Disney esperavam, obteve um sucesso tremendo. A reação sensacional foi repetida em todo lugar onde o filme foi exibido; todos gostaram dele – exceto a UA, que continuava a reclamar do aumento do custo (na realidade, a UA aprovou inicialmente a experiência somente sob a condição de que o número de cópias coloridas não passasse de vinte). Finalmente, diante do êxito inegável de Flores e Árvores, a UA relutantemente concordou com a produção de mais três Sinfonias em cores – depois, em dezembro de 1932, de mais seis Sinfonias. Somente em julho de 1933, após o inequívoco triunfo de todos esses filmes, foi que Disney pôde assinar um contrato de três anos com a Technicolor, adquirindo o direito exclusivo de realizar desenhos no processo de três cores.

No estúdio Disney a série das Sinfonias receberam um cuidado especial: obtiveram orçamentos mais generosos, maior tempo de duração, e até maiores orquestras do que os filmes de Mickey Mouse. Ítems promocionais para Mickey Mouse haviam sido licenciados desde 1930 e, nos meados dos anos 30, as Sinfonias receberam o mesmo benefício. Uma página dominical sindicalizada de quadrinhos teve início em 1932 e discos de fonógrafo e livros de histórias não ficaram atrás. As Sinfonias geraram também bonecas e outros brinquedos para a garotada.

Ao mesmo tempo, os críticos e o público adulto estavam dando às Sinfonias um prestígio crescente. Uma nova categoria, Melhor Desenho, foi acrescentada aos prêmios da Academia e este troféu foi concedido todo ano a uma Sinfonia Singular durante a duração da série, além de várias indicações.

Entre os anos 1931 e 1939 a equipe de animadores aumentou com o ingresso de: Jack Cutting, Rudy Zamora, Joe D’Igalo, George Lane, Charles Byrne, Harry Reeves, Chuck Couch, Hardie Gramatky, Marvin Woodward, Bill Mason, Dan Tattenham, George Grandpre, Albert Hurter, Cecil Surrey, Ed Benedict, Dick Williams, Charles Hutchinson, Frank Tipper, Clyde Geronimi, Fred Spencer, Fred Moore, Frank Kelling, Ed Love, Bill Roberts, Eddie Donnely, Paul Fennell, Art Babbitt, Louie Schmitt, George Drake, Nick George, Cy Young, Bob Kuwahara, Roy Williams, Tom Bonfiglio, Leonard Sebring, Ferdinand Horvath, Archie Robin, Ugo D’Orsi, Dick Huemer, Tom McKimson, Bob Wickersham, Ed Smith, Woolie Reitherman, Harry Bailey, Milt  Schaffer, Larry Clemmons, Eric Larson, Ward Kimball, Don Towsley, John MacManus, Grim Natwick, Bill Tytla, Eddie Strickland, Paul Allen, George Roley, Dan MacManus, John Bond, Lee Morehouse, Robert Jones, Paul Hopkins, Jim Tyer, Ed Aardal, Frank Thomas, Jim Algar, Bernie Wolf, Milt Kahl, Izzy Klein, Bob Stokes, Frank Oreb, George Rowley, John Dunn, Jack Hannah, Josh Meador, Cornett Wood, Ralph Somerville, Bob Martsch, Stan Quakenbush, Art Palmer, Win Hoskins, Don Williams, Andy Engman, Lee Blair, Carl Urbano, James Pabian, Pete Burness, Mike Lah, Manuel Moreno, Melvin Schwartzman, Rollin “Ham” Hamilton, Francis Smith, Fred Madison, Jack Bradbury, Ken Hultgren, Milt Kahl, Bernard Garbutt, Don Lusk, Paul Satterfield, Lynn Karp, John Sewall, Paul Busch, Don Patterson, Larry Clemons, Claude Smith, Riley Thompson, Ollie Johnston, Riley Thompson, Jack Campbel.

Ted Sears

Em toda a série funcionaram como diretores: Walt Disney, Ub Iwerks, Burt Gillett, Wilfred Jackson, Dave Hand, Ben Sharpsteeen, Graham Heid, Dick Huemer, Rudolf Ising, Jack Cutting, Dick Rickard, Ham Luske. Outra pessoa que deixou a sua marca nas Sinfonias foi Ted Sears como chefe do departamento de enredos, do qual faziam parte ainda Joe Grant e Bill Cottrell (cunhado de Walt Disney, caricaturista de mão cheia). No estúdio Disney os refinamentos técnicos continuaram a proliferar tais como a criação de um departamento separado de “efeitos de animação” sob a liderança de Cy Young e Ugo D’Orsi e a descoberta de um novo uso para o rotoscópio (dispositivo que permite aos animadores redesenhar quadros de filmagens para serem usados em animação), que havia sido patenteado por Max Fleischer em 1917.

Em 1937, um novo contrato de distribuição firmado com a RKO Radio Pictures, deu a Disney maior flexibilidade. Todos os contratos de distribuição anteriores exigiam quantidades específicas de desenhos de Mickey Mouse e Sinfonias Singulares. Pelo contrato da RKO, Disney simplesmente teria que entregar 18 desenhos durante a primeira temporada e eles poderiam ser divididos como ele quisesse entre os Mickeys e as Sinfonias ou até pertencer a nenhuma dessas categorias (como foi o caso, por exemplo, dos desenhos do Pato Donald e do Pateta).

Esta maleabilidade foi muito apropriada às condições então vigentes no estúdio Disney, onde as Sinfonias Singulares estavam assumindo uma importância decrescente, cedendo lugar para Branca de Neve e os Sete Anões Snow White and the Seven Dwarfs e outros desenhos de longa-metragem, que já estavam absorvendo os melhores talentos do estúdio. As Sinfonias continuaram a ser realizadas na vigência do contrato com a RKO (servindo inclusive como campo de experimentação de novas técnicas como a câmera multiplana), mas com menos frequência do que antes, e seus dias estavam contados. Embora a sua produção tivesse sido interrompida nos meados de 1938, a série se encerrou oficialmente no final de março de 1939, quando Disney lançou O Patinho Feio / The Ugly Ducking.

                                                                                                FILMOGRAFIA

1929

A Dança Macabra ou Os Esqueletos Dançam / The Skeleton Dance. Música:  Carl Stalling. O score inclui trecho da “Marcha dos Anões” de Grieg.

A Dança Macabra

El Terrible Toreador. Música: Carl Stalling. O score é quase inteiramente uma orquestração cômica de melodias famosas da ópera “Carmen” de Bizet juntamente com um trecho de “Yankee Doodle Dandy” de George M. Cohan; um verso de “Ciribiribin” de Alberto Pestalozza cantado em falsete; e um pequeno fragmento da “Canção da Primavera” de Mendelssohn.

El Terrible Toreador

Springtime. Música: Carl Stalling. O score abre com um trecho de “Morgenstemning” (Manhã) da ópera “Peer Gynt” de Grieg e depois se divide entre duas danças: valsa “Blumenge-flüster “ (O Sussuro das Flores) de Franz von Blon e a música de balé “A Dança das Horas” de Amilcare Ponchielli para a ópera “La Gioconda”. Foi usado  também o galope de Jacques Offenbach para o balé “Gâité Parisienne”.

Springtime

Hell’s Bells. Música: Carl Stalling. O score inclui um fragmento da “Canção da Primavera” de Mendelssohn; a “Marche Fúnebre d’une Marionette de Gounod; alguns compassos da Abertura “Fingalshöhle” (A Caverna de Fingal) de Mendelssohn e parte de “I Dovregubbens hall” (No Salão do Rei da Montanha) da Suíte nº1, opus 46 “Peer Gynt” de Grieg.

The Merry Dwarfs. Música: Carl Stalling. O score inclui trechosdo “Coro di Zingari” da ópera “Il Trovatore” de Giuseppe Verdi; polca “Bahn frei Marsch” (Abrir Caminho) de Eduard Strauss;  “Gavotte” da ópera “Henry VIII” de Saint-Säens; “Amaryllis (Ária de Louis XIII)” de Joseph Ghys; “Jolly Fellows Waltz” de Robert Vollstetd.

The Merry Dwarfs

1930

Summer. Música: Carl Stalling. O score divide-se em: “Intermezzo” do balé “La Source” de Léo Delibes; “Darkies’ Dream” de George L. Lansing; “Stephanie-Gavotte” de Alphons Czibulka. 

Summer

Autumn. Música: Carl Stalling. O score inclui: “Valse Arabesque” de Théodore Lack; “Murmuring Brook  de Ede (Eduard) Poldini.

Autumn

Cannibal Capers. Música: Bert Lewis. O score inclui trechos de “Habanera” da ópera “Carmen” de Bizet; “Moment Musicale” do “Moments Musicaux” de Schubert; variação da “Marche Fúnebre  d’une Marionette” de Gounod.

Cannibal Capers

Night. Música: Bert Lewis. O scoreinclui trechos de: “Sonata ao Luar” de Beethoven; “Valsa do Danúbio Azul” de Johan Strauss; “Das Glühwürmchen”  (O Vagalume) da opereta “Lysistrata” de Paul Lincke; “The Mosquito Parade” de Howard Whitney; “Das erste Herzklopfen” (Primeiras Palpitações do Coração) de Richard Eilenberg; e a canção de ninar de Mamãe Ganso, “Rock-a-bye-baby”.

Frolicking Fish. Música:  Bert Lewis. O score inclui trechos de “Heinzelmännchen” (Marcha dos Duendes) de Richard Eilenberg; “A Dança das Serpentes” de Eduardo Boccalari.

Frolicking Fish

Arctic Antics. Música: Bert Lewis. O score inclui “Playful Polar Bears” de George J. Trinkaus; “Ballet égyptien” de Alexandre Luigini”; “Die Parade der Holzoldaten” (Parada dos Soldados de Madeira”) de Leon Jessel.

Arctic Antics

Midnight in a Toy Shop. Música: Bert Lewis. O score inclui “Sechs Gedichte nach H. Heine”(Seis Poemas de H. Heine) de Edward MacDowell; trechos de “Fern an scottischer Felsenküste (Poema Escocês) de MacDowell; “Pizzicato Polka” de Léo Delibes para o balé “Sylvia”; “Cocoanut Dance” de Andrew Hermann; “Lutspiel-Ouverture” de Adalbert Béla-Kèler. 

Midnight in a Toy Shop

Monkey Melodies. Música: Bert Lewis. O score inclui as canções “Aba Daba Honeymoon” de Walter Donovan e “At a Georgia Camp Meeting” de Kerry Mills; trechos de “Down in Jungletown” de Theodore F. Morse; “Narcissus” de “Opus 13 Water Scenes” de Ethelbert Nevin e “Shadowland” de Lawrence B. Gilbert.

Monkey Melodies

Winter. Música: Bert Lewis. O score inclui côro de “Jingle Bells” de James Pierpoint; segmentos de “Patineurs” de Émile Waldteufel; “The Chop Waltz” (“Chopsticks”) de Arthur de Lulli; “Dance of the Goblins“ de Hans Engelmann.

Winter

Playful Pan. Música: Bert Lewis. O score inclui trechos de: “Furioso#1:Thunderstorm” de Otto Langey; “La Petite Coryphée” de George Tracey; “Danse Orientale” de G. Lubomirsky.

Playful Pan

1931

Birds of a Feather. Música:  Bert Lewis. O score inclui trechos de “Barcarolle” da ópera inacabada de Jacques Offenbach “Les Contes d’Hoffman”; “Birds and the Brook” de R. M. Stults; “ The Chicken Reel” de Joseph M. Daly; “Furioso” de John S. Zamecnik; “Blumenlied” de Gustav Lange.

Birds of a Feather

Mother Goose Melodies. Música: Bert Lewis e/ou Frank Churchill. Canções: “Old King Cole”, “Little Jack Horner”, “Little Boy Blue” e “I’m Little Bo Peep”). O score inclui trechos de “Untel dem Doppeladler “(Sob as Duas Águias) de Josef Franz Wagner; “Ghost Dance” de Cora Salisbury; canções infantis “Three Blind Mice”, Jack and Jill”, “Sing a Song of Sixpence”, “Mary Had a Little Lamb”, “Baa, Baa Black Sheep”;  “Hi Diddle Diddle” de Hal Keidel.

Mother Goose Melodies

Prato de Porcelana / The China Plate. Música: Frank Churchill. O score inclui trechos de “In a Chinese Tea Room” de Otto Langey; “Erirus” de George J. Trinkays; “In a Chinese Temple Garden” de Albert William Ketèlbey; “Storm, or Fire Music” de Herbert E. Haines.   

Prato de Porcelana

Castores Castiços / The Busy Beavers. Música: Frank Churchill. O score inclui trechos de “Petite Tonkinoise” de Vincet Scotto; “Furioso” de John S. Zamecnik.

Castores Castiços

Pesadelo do Gato / The Cat’s Nightmare ou The Cat’s Out. Música: Frank Churchill. O score inclui trechos de “Blumenlied” de Gustav Lange; “Home! Sweet Home” de Henry Rowley Bishop; a canção popular “Listen to the Mockingbird”; “March of the Spooks” de Maurice Baron; “Down South” de Hubert S. Middleton; “Sneak” de Ignacio “Nacio” Herb Brown; “Fire Dance” de Charles Huerter; canção folclórica “For He’s a Jolly Good Fellow”.

Pesadelo do Gato

Melodias Egípcias / Egyptian Melodies. Música: Frank Churchill. O score foi quase todo extraído do “Ballet égyptien” de Alexandre Luigini.

Melodias Egípcias

Loja de Relógios / The Clock Store. Música: Frank Churchill. O score inclui trechos de “In a Clock Store” de Charles Orth e o minueto do primeiro ato da ópera “Don Giovanni” de Mozart.

Loja de Relógios

A Aranha e a Mosca / The Spider and the Fly. Música: Frank Churchill ou Bert Lewis. O score inclui trechos de “Busy Bee” de Theo Bendix e “Erlkönig” (Rei dos Elfos) de Schubert; um compasso da Abertura da opereta Leechten Kavallerie (Cavalaria Ligeira) de Franz von Suppé.

A Aranha e a Mosca

Caça à Raposa / The Fox Hunt. Música: Frank Churchill. O score é quase inteiramente uma adaptação  de “Hunt in the Black Forest” de George R. Voelker Jr.

Caça à Raposa

Passando por Pato / The Ugly Ducking. Música: Frank Churchill ou Bert Lewis. O score inclui trechos de “Peck-a-boo” de William J. Scanlan do musical Friend and Foe; “By Heck” de S. R. Henry do musical “Push and Go”; Abertura da ópera “Guilherme Tell” de Rossini juntamente com “Furioso” de Otto Langey para as cenas de tempestade.

Passando por Pato

1932

Loja de Pássaros / The Bird Store. Música:  Frank Churchill. O score inclui “The Wedding of the Birds” de Charles Tobias; “Valse Lucille” de Rudolf Friml;  “I’m Daffy Over You” também conhecida como “Sugar in the Morning” de Chico Marx e Sol Violinsky. Curiosidade: os quatro pássaros do filme tem as feições dos quatro Irmãos Marx.

Loja de Pássaros

Ursos e Abelhas / The Bears and Bees. 

Ursos e Abelhas

Música: Frank Churchill.

Simples Cachorro / Just Dogs. Música: Bert Lewis. O score inclui trechos de “The Prisoner’s Song” de Guy Massey; “Bon Vivant” de John S. Zamecnik; “Tarantella” de Mendelssohn; fragmentos de “Peek-a-boo” de William J. Scanlan; “Leechten Kavallerie” de Franz von Suppé.

Simples Cachorro

Flores e Árvores / Flowers and Trees (Oscar de Melhor Desenho) Primeiro desenho em Technicolor de três cores. Música: Bert Lewis ou Frank Churchill. O score inclui trechos de “Kamenoi-Ostrow” de Anton Rubinstein; Abertura de “Ruy Blas” de Mendelssonh; “Valse Bleue” de Alfred Margis; “Marcha Fúnebre” de Chopin; “Erlkönig” de Schubert; Abertura de “Guilherme Tell” de Rossini; música folcórica “The Campbells Are Coming”; Sinfonia nº6 “Pastoral” de Beethoven; ”Marcha Nupcial” de Mendelssohn.

Flores e Árvores

Bichos Apaixonados / Bugs in Love. Música: Bert Lewis. O score inclui trechos de “Carnival of Venice” de James Bellak; “Patineurs” de Émile Walteufel; Abertura para “Die lustigen Weiber von Windsor” (As Alegres Comadres de Windsor) de Otto Nicolai; “The House is Hunted”; “Chant sans Paroles” de Tchaikovsky; “Stradella “de Friedrich von Flotow.

Bichos Apaixonados

O Rei Netuno/ King Neptune. Música: Bert Lewis. Canção “Neptune, King of the Sea”. O score inclui trechos de “Les Préludes” de Liszt; “Die Lorelei” (O Lorelei) de Josef Franz Wagner; canção tradicional “Blow the Man Down”; ”Polly Wolly Doodle” (às vêzes atribuída a Dan Emmet). 

O Rei Netuno

Perdidos na Floresta / Babes in the Woods. Música: Bert Lewis. O score inclui “Oh, Don’t You Remember” de Nelson F. Kneass; “The Anvil Polka” de Albert Parlow; “Little Brown Jug” de Joseph E. Winner.

Perdidos na Floresta

Oficina de Papai Noel / Santa’s Workshop. Música: Frank Churchill. Cancões: “Merry Men of the Midnight Sun” e  “Near the Far North Pole” de F. Churchill. O score inclui trechos de “Hochzeitszug in Liliput” (Marcha Nupcial na Terra dos Anões) de Siegfried Translateur; “March Militaire” de “Momentos Musicais” de Schubert.

Oficina de Papai Noel

1933

Aves da Primavera / Birds in Spring. Música: Bert Lewis e Frank Churchill. O score inclui trechos de “Dreaming” de Archibald Joyce; “The Bluebird” de Clare Kummer; “Tanzweise” (Estilo de Dança) de Eric Meyer-Helmund; “Sari Waltz” (também conhecida como “Love’s Own Sweet Song”) de Emerich Kalmar. A música original contém citações de “Battle Hynn of the Republic” de William Steffe e a canção tradicional “Good Night Ladies”.

Aves da Primavera

A Arca de Noé / Father Noah’s Arch. Música: Leigh Harline. Canções: “Skies Are Clear” e “Rain Chant” de L. Harline. O score inclui trechos de “Kontre-Tanz nº1” de Beethoven e “First Call” de George Behn.

A Arca de Noé

Os Três Porquinhos / Three Little Pigs (Oscar de Melhor Desenho). Música: Frank Churchill.Canção: “Who’s Afraid of the Big Bad Wolf?” de F. Churchill com letra de Ted Sears e outros.

Os Três Porquinhos

No Reino da Fantasia / Old King Cole. Música: Frank Churchill e Bert Lewis. Canções originais: “King Cole’s Ball” de F. Churchill; “The Welcome Song” de B. Lewis. Canções tradicionais: “Three Blind Mice” e “Ten Little Indians”.

No Reino da Fantasia

Mundo Infantil / Lullaby Land. Música: Frank Churchill e Leigh Harline. Canções: “Lullaby Land of Nowhere” de F. Churchill / Larry Morey; “In the Land of Mustn’t Touch” de L. Harline / L. Morley; “Dance of the Bogey Men” de L. Harline / L. Morey. o score inclui trechos de “Rock-a-Bye Baby”; “Peek-a-boo” e “Wiegenlied” (Canção de Ninar) de Brahms.

Mundo Infantil

Música Mágica / The Pied Piper. Música: Leigh Harline. Canções: “In the Town of Hamelin” e “Rats! Rats! Rats!”, ambas de L. Harline. O score adaptou algumas notas de “Toyland” da opereta de Victor Herbert  “Babes in Toyland”. 

Música Mágica

A Loja Encantada / The China Shop. Música: Leigh Harline: “Valse Vienna”. O score inclui a canção folclórica austríaca “Ach du lieber Augustin”.

A Loja Encantada

Véspera de Natal / The Night Before Christmas.Música: Leigh Harline. Canção: “Twas the Night Before Christmas” de L. Harline. O score inclui trechos de “Silent Night” de Franz Gruber e de “Jingle Bells.

Véspera de Natal

1934

O Gafanhoto e as Formigas / Grasshopper and the Ants. Música: Leigh Harline. Canção: “The World Owes Me a Living” de L. Harline / L. Morey. O score inclui  trechos da “Marcha da Coroação” da ópera de Meyerbeer “Le Prophète”.

O Gafanhoto e as Formigas

O Lobo Mau / The Big Bad Wolf. Música: Frank Churchill. Canção: “Who’s Afraid of the Big Bad Wolf?” de F. Churchill.

O Lobo Mau

Ovos de Páscoa / Funny Little Bunnies.Música: Frank Churchill e Leigh Harline.  Canção: “See the Funny Little Bunies” de F. Churchill / L. Morey.

Ovos de Páscoa

O Camundongo Voador / The Flying Mouse. Música:  Frank Churchill e Bert Lewis. Canções: “If I Were a Bird” e “You’re Nothin’ But a Nothin’” de F. Churchill / L. Morey.

O Camundongo Voador

Galinha Sabida / The Wise Little Hen. Música: Leigh Harline. Canção: “Help Me Plant My Corn” de L. Harline / L. Morey. O score inclui trechos de “Sailor’s Hornpipe”; “Shave and a Haircut, Bay, Rum” de James V. Monaco; “Blumenlied”.

Galinha Sabida

Pinguins Peraltas / Peculiar Penguins. Música: Leigh Harline. Canção: “The Penguin Is a Very Funny Creature” de L. Harline / L. Morey. 

Pinguins Peraltas

A Deusa da Primavera / The Goddess of Spring. Música: Leigh Harline. Canções: “Goddess of Eternal Spring” e “Hi-de-Hades” de L. Harline / L. Morey.

A Deusa da Primavera

A Lebre e a Tartaruga / The Tortoise and the Hare.(Oscar de Melhor Desenho). Música:  Frank Churchill. Canções: “Slow But Sure”, com letra de Larry Morey,  escrita para o filme, mas não cantada na tela, tendo sido apenas usada como tema instrumental para  a tartaruga (Toby Tortoise).

A Lebre e a Tartaruga

1935

O Rei Midas / The Golden Touch. Música: Frank Churchill. Canção: “The Counting Song” de F. Churchill / L. Morey.

O Rei Midas

Gato Pingado / The Robber Kitten. Música: Frank Churchill. Canção: ”Dirty Bill” de F. Churchill.

Gato Pingado

 Paraíso dos Bebês / Water Babies. Música: Leigh Harline. O tema de “Water Babies” foi composto como uma canção com letra de Larry Morey, porém só foi ouvido em forma instrumental no filme.

Festa dos Doces / The Cookie Carnival. Música: Leigh Harline. Letras: Larry Morey. Canções: “The Cookie Carnival”, “The Sweetest One of All” e “Hail the Queen”. O score inclui ainda seis breves números de vaudeville acompanhados por variações de “Sweet Rosie O’ Grady”, “Dandy-Candy-Kids”, “Old-Fashioned Cookies”, “Angel Food Cakes”, “Devil ‘s Food Cakes”, “Upside-Down Cakes” e “Jolly Rum Cookies”.

Festa dos Doces

Quem Matou o Pintarôxo? / Who Killed Cock Robin? Música: Frank Churchill.Letras: Larry Morey. Canções: “Who Killed Cock Robins? “Will You Love Me Tonight?, “Somebody Rubbed Out My Robin” de F. Churchill / L. Morey. O score inclui um trecho breve de “A-Hunting We Will Go” (possivelmente de Procida Bucalossi) com nova letra de Larry Morey. Curiosidades: um pequeno trecho em preto e branco foi usado no filme O Marido era o Culpado/ Sabotage/ 1936 de Alfred Hitchock. A personagem da cambaxirra sexy Jenny Wren é uma caricatura de Mae West.

Quem Matou o Pintarôxo?

Melodilândia / Music Land. Música: Leigh Harline. O score inclui trechos da  sinfonia “Eroica” de Beethoven; “Gavotte” de François Gossec; “Peek-a-boo”; “The Prisoner’s Song” de Guy Massey; “Assembly Bugle Call”; “Die Walküre” (A Cavalgada das Valquírias) e “Marcha Nupcial” da ópera “Lohengrin” de Wagner; Harline contribuiu com duas composições originais: “The Saxes Have It” e “Jazz Fireworks”.

Melodilândia

Três Bichaninhos Órfãos / Three Orphan Kittens (Oscar de Melhor Desenho). Música: Frank Churchill. Canção: “Hallelujah” de F. Churchill. O score inclui “Kitten on the Keys” de Edward “Zez” Confrey.

Três Bichaninhos Órfãos

Galos e Galinhas / Cock O’ The Walk. Música: Frank Chruchill e Albert Hay Malone. O score inclui “The Carioca” de Vincent  Youman; as músicas que precedem à sequência “Carioca” foram compostas por F. Churchill; toda a música após esta sequência foi composta por A. H. Malotte.

Galos e Galinhas

1936

Os Três Lobinhos / Three Little Wolves. Música: Frank Churchill. Canções: “Who’s Afraid of the Big Bad Wolf?”; polca alemã tradicional “Ist das nicht ein Schnitzel Baum?” com uma nova letra, reintitulada “Schweine Stew” (Ensopado de Carne de Porco).

Os Três Lobinhos

Brinquedos Quebrados / Broken Toys. Música: Albert Hay Malotte. Canção: “We’re Gonna Get Out of the Dumps”.  O score inclui trechos das canções tradicionais “The Sailor’s Hornpipe”, “Reveille”, “The Girl I Left Behind Me”; e “Silent Night, Holy Night” de Frank Gruber. 

Brinquedos Quebrados

O Elefante Elmerindo / Elmer Elephant. Música: Leigh Harline. Oscoreinclui “Happy Birthday” de Mildred J. Hill; “Elmer’s Got a Funny Nose” baseada na canção infantil “It’s Raining, it’s Pouring”.

O Elefante Elmerindo

A Tartaruga Regressa / Toby Tortoise Returns. Música: Leigh Harline. O score inclui trechos de “Slow But Sure”; “Mexican Hat Dance” (“El Jarabe Tapatío”) de F. A. Partichela; “Hootchy Kootchy Dance” de Sol Bloom; a canção tradicional “Frankie and Johnny”; a canção infantil “You Never Touched Me; “Stars and Stripes Forever” de John Philip Sousa.

A Tartaruga Regressa

Três Mosqueteiros Cegos / Three Blind Mouseketeers. Música: Albert Hay Malotte. Canção: ”We’re the Three Blind Musketeers” de A. H. Malotte.

Três Mosqueteiros Cegos

O Primo da Roça / The Country Cousin (Oscar de Melhor Desenho). Música: Leigh Harline.

O Primo da Roça

A Mãe da Ninhada / Mother Pluto. Música: Leigh Harline. O score inclui trechos da tradicional canção infantil “Where, Oh Where Has My Little Dog Gone” e de “John Brown’s Body” de Thomas Brighton Bishop.

A Màe da Ninhada

Mais Bichaninhos / More Kitten. Música:  Frank Churchill. O score inclui um fragmento de “Who’s Afraid of the Big Bad Wolf” de F. Churchill.

Mais Bichaninhos

1937

O Cabaré dos Insetos / Woodland Café. Música: Leigh Harline.  O score inclui “Twelfth Street Rag” de Erday L. Bowman; “L’Amour d’Apache (a dança apache do balé  “Le Papillon” de Offenbach; “Truckin’” de Ted Koehler e Rube Bloom.

O Cabaré dos Insetos

Hiawata / Little Hiawatha. Música: Albert Hay Malotte. O score inclui um fragmento  de “Home Sweet Home” de Henry Rowly Bishop.

Hiawata

O Velho Moinho / The Old Mill (Oscar de Melhor Desenho). Música: Leigh Harline. Introdução da nova câmera multiplana

O Velho Moinho

1938

Uma Viagem às Estrelas / Wynken, Blynken & Nod. Música:Leigh Harline. Canção: “Wynken, Blynken and Nod” de L. Harline. O score inclui uma versão orquestral de “Twinkle, Twinkle Little Star”.

Uma Viagem às Estrelas

A Chama e a Mariposa / Moth and the Flame. Música: Albert Hay Malotte.

A Chama e a Mariposa

Merbabies. Música: Scott Bradley. O score inclui trechos de “Chopsticks” e “Gavotte in D Major” de François Joseph Gosse.

Merbabies

Farmyard Symphony. Música: Leigh Harline. O score inclui trechos da Sinfonia nº6 de Beethoven, terceiro movimento; Abertura de “Die lustigen weibe von Windsor” de Otto Nicolai; Abertura de “Guilherme Tell” de Rossini; “Marcha Fúnebre” de Chopin; Abertura de “La Gazza  Ladra” de Rossini;  “Il Barbieri di Siviglia de Rossini; “The Bohemian Girl” de Michel Balfe; “Canção da Primavera” de Mendelssohn: “The Campbells Are Coming”; “Semiramide” de Rossini; “Martha, oder Der Markt zu Richmond” de Friedrich von Flotow; “La Donna è Mobile” da ópera “ Rigoletto” de Verdi; “Miserere” da ópera “Il Trovatore” de Verdi; “Orphée aux Enfers”de Offenbach; Abertura de “Guilerme Tell; “Rapsódia Húngara nº2” de Liszt; Abertura de “Tanhauser” de Wagner.

Farmyard Symphony

Fitas e Fiteiros / Mother Goose Goes Hollywood. Música: Ed Plumb. O score inclui trechos das canções tradicionais “Three Blind Mice”, “London Bridge Is Falling Down”; ”Row, Row, Row, Row Your Boat”; o tema de Laurel e Hardy “Coo Coo” de T. Marvin Hatley; versão jazzística de “This Is the Way We Wash Our Clothes”. Curiosidade: aparecem caricaturas de artistas de Hollywood: Katherine Hepburn, Hugh Herbert, Ned Sparks, Charles Laughton, Spencer Tracy, Freddie Bartholomew, Laurel e Hardy, Wallace Beery, Cab Calloway, Eddie Cantor, Fats Waller, Stepin Fetchit; Hugh Herbert, Ned Sparks, Irmãos Marx, Joe Penner, Fred Astaire, Martha Raye, Greta Garbo, George Arliss, Joe E. Brown, Cab Calloway, W. C. Fields, Charlie McCarthy, Edward G. Robinson, Clark Gable.

Fitas e Fiteiros

O Touro Ferdinando  / Ferdinand the Bull (Oscar de Melhor Desenho). Música: Albert Hay Malotte.

O Touro Ferdinando

Obs. O Touro Ferdinando começou a ser produzido como uma Silly Symphony, mas na época de seu lançamento foi reclassificado como  um ”Special”. Além do score, Malotte escreveu a canção “Ferdinand the Bull (com letra de Larry Morey), que não é ouvida no filme, mas foi usada para promovê-lo.  Mais tarde foi usada no filme da Columbia, Rose of Santa Rosa / 1947.

1939

Porquinho Prático / The Practical Pig. Música: Frank Churchill e Paul Smith. O score inclui “Whos Afraid of the Big Bad Wolf” e “Frankie and Johnny”.

Porquinho Prático

O Patinho Feio / The Ugly Duckling (Oscar de Melhor Desenho). Música: Albert Hay Malotte.

O Patinho Feio

Três outros filmes tiveram conexões tangenciais com as Sinfonias: Hot Chocolate Soldiers, Don Donald e Donald’s Better Self. O primeiro foi produzido por encomenda em 1934 para a Metro-Goldwyn-Mayer, usando as Sinfonias como modelo, como um encarte para o filme de longa-metragem ao vivo da MGM, Festa de Hollywood / Hollywood Party. As outras duas histórias foram inicialmente concebidas como Sinfonias Singulares, mas não foram completadas na sua forma original, evoluindo para curtas-metragens do Pato Donald. Disney também produziu sequências animadas para os filmes Meus Lábios Revelam / My Lips Betray / 1933 e Cinderela à Fôrça / Servant’s Entrance / 1934 (ambos da Fox), mas somente Hot Chocolate Soldiers foi realizado no espírito de uma Sinfonia Singular.

 

 

 

MARIO CAMERINI

janeiro 4, 2019

Como afirmou Carlo Lizzani na sua “Storia del Cine Italiano”, a história do cinema italiano tornou-se digna de interêsse com a aparição de Alessandro Blassetti e de  Mario Camerini, os dois cineastas mais significativos dos anos 30 e 40. Eu acrescentaria Mario Soldati. Já escrevi sobre Blassetti e Soldati, e agora chegou a vez de Camerini.

Mario Camerini

Mario Camerini (1895-1981) nasceu em Roma, Via Veneto. Em 1913, frequentou a escola secundária Liceo Tasso e escreveu seu primeiro roteiro de cinema, uma história de detetive, Le Mani Ignote, que seria filmada pela Società Italiana Cines. Em 1914, ele se matriculou na Faculdade de Direito e durante a Primeira Guerra Mundial (entre 1915-1918) serviu na infantaria, ficou prisioneiro na Alemanha, e foi condecorado com a medalha do mérito militar. Em 1920, começou a trabalhar no cinema como roteirista e assistente de seu irmão, o diretor Augusto Camerini, em Tre Meno Due e L’Altra Razza, produções da Nova Film. Em 1921-1922 foi assistente de seu primo Augusto Genina em Marito, Moglie e … e Cirano Di Bergerac e finalmente, em 1923, supervisionado por A. Genina, realizou seu primeiro filme, Jolly, história de amor trágica envolvendo um velho palhaço e um trapezista, apaixonados pela mesma mulher, interpretada por Diomira Jacobini, que seria sua companheira por muitos anos.

Cena de Kif Tebbi

Entre 1924 e 1928, Camerini realizou: La Casa Dei Puccini / 1924 (comédia sentimental envolvendo uma jovem de um orfanato reduzido à miséria, que se refugia no luxuoso colégio vizinho, e seu relacionamento com a filha de um aristocrata separado de sua esposa, que se apaixona por ela); Saetta Principe Per Un Giorno / 1924 (aventura na qual um príncipe, cercado por cortesãos desleais que o impedem de governar e de esposar a jovem pobre que ele ama, acaba encontrando um sósia que o substitui e, em um só dia, resolve todos os seus problemas e depois retorna a sua vida de vagabundo); Voglio Tradire Mio Marito! / 1925 (comédia matrimonial tendo como tema o divórcio, então proibido na Itália); Maciste Contro Lo Sceicco/ 1926 (aventura expatriando o velho herói italiano para a Líbia, onde ele vai medir forças com as tropas de Beduínos e desvendar os mistérios do deserto); Kif Tebbi / 1928 (drama de guerra sobre a conquista colonial da Líbia, tendo como protagonista um nobre turco educado na Itália que, devido ao seu pouco entusiasmo para lutar pelos otomanos, é preso; mas eventualmente consegue escapar e ver a bandeira italiana tremular  sobre o pequeno forte libertado).

Em 1929, inspirado pelo menos na sua primeira parte pelo kammerspielfilm, Camerini começou a fazer seu primeiro filme importante, Rotaie, drama tratando do tema da regeneração moral após a tentação do suicídio e uma vida dissipada. Em um pequeno hotel próximo de uma estação ferroviária, dois amantes (Käte von Nagy, Mauricio D’Ancora) estão prestes a se suicidar, no quarto de um hotel, por falta de trabalho. Porém a passagem de um trem abre uma janela, que derrama o copo contendo o veneno.  Retrocedendo sobre sua decisão, os jovens embarcam em um trem de luxo (com o dinheiro oportunamente achado em uma carteira que caíra do do bolso de um cidadão), que os conduz a um ponto turístico. Ali eles participam da vida dos ricos entre o Grand Hôtel e o casino de San Remo. Mas logo o rapaz perde tudo na roleta enquanto um marquês entediado (Daniele Crespi) assedia a jovem. O rapaz dois amantes decidem renunciar a esta existência e retornam para sua cidade em um vagão de terceira classe. Aquele mundo enganoso e cheio de miragens colocou à dura prova os seus sentimentos e eles decidem procurar emprego em uma fábrica. Apesar de sua pós-sincronização, Rotaie pertence ainda totalmente à estética do cinema silencioso e, graças a utilização inspirada da imagem e do ritmo, é sem dúvida uma obra cinematográfica muito bem acabada, que não fica nada a dever aos grandes clássicos da cena muda mundial.

Em 1930, Camerini trabalhou nos estúdios da Paramount em Saint Maurice-Joinville, onde aprendeu a técnica do som, adaptando-se rapidamente ao novo meio de expressão ao realizar a versão italiana de Paraíso Perigoso / Dangerous Paradise de William Wellman (baseado no romance “Victory” de Joseph Conrad), estrelado por Carmen Boni, esposa de Augusto Genina.

Depois de Figaro E La Sua Gran Giornata / 1931 (comédia passada no começo do século vinte em um teatro de província, onde uma trupe, vinda da cidade, prepara uma representação do “Barbeiro de Sevilha) e L’Ultima Avventura / 1932 (comédia   girando em torno de um conde sedutor de certa idade que se apaixona por uma jovem, mas é preterido por um jovem estivador), Gli Uomini Che Mascalzoni representou o resultado da sua perfeita absorção do cinema falado que, de uma certa maneira, dinamizou o cinema de Camerini.

Lia Franca e Vittorio De Sica em Gli Uomini Che Mascalzoni

Nesta esplêndida comédia romântica, Bruno (Vittorio De Sica) é um chofer, a serviço de uma família rica. Para impressionar Mariuccia (Lia Franca), vendedora de perfumaria, filha de um motorista de taxi, ele se serve do carro de seus patrões, para levá-la em uma excursão na região dos lagos. Seu idílio é interrompido por uma série de incidentes que obrigam Bruno a abandonar a moça sem dar explicações. O amor nascente entre os dois jovens parece comprometido, mesmo quando eles continuam a se procurando e se vendo. Bruno e Mariuccia fingem ter um outro relacionamento amoroso para causar ciúme mutuamente até que, entrando por acaso no taxi do pai de Mariuccia, eles se reconciliam sob o olhar do papai satisfeito.

Cena de Gli Uomini Che Mascalzoni

A abertura do filme mostra uma câmera agitada que acompanha os personagens nos seus movimentos, sendo célebre a sequência rodada nas ruas de Milão, onde Bruno segue Mariuccia de bicicleta, que anda pela calçada e depois toma um bonde ao mesmo tempo em que a objetiva, perpetuamente em movimento, acompanha a perseguição com uma vivacidade espantosa. Mais adiante, a corrida louca que Bruno faz de carro de Arona a Milão e depois de Milão a Arona para reencontrar a moça que abandonou na taverna, sem poder lhe explicar as razões de sua partida precipitada, mostra – como observou Gian Piero Brunetta (“Cent’anni di cinema italiano”, Laterza, 1995) – “um estilo e uma leveza narrativa que lembram René Clair e Ernst Lubitsch e um senso de observação da realidade que o tornam comparável a Frank Capra”. Por outro lado, em uma época dominada pelo cinema de estúdio, Camerini se acomoda bem com o ar livre e utiliza com muita espontaneidade o cenário natural. Gli Uomini Che Mascalzoni foi o precursor do que ficaria conhecido como a pentalogia pequeno-burguesa de Camerini: Darò Un Milione, Ma Non È Una Cosa Seria, Il Signor Max e I Grandi Magazine. Neste quinteto principalmenteestá o “universo cameriniano”, um mundo popular de vendedores de jornais, caixeiros e choferes, gente simples que ele trata com muita ternura e alegria.

Depois de T’Amerò Sempre (drama focalizando uma mãe solteira que reencontra seu sedutor e, quando este tenta reconquistá-la, é defendida por um tímido contador, com quem decide se casar); Cento Di Questi Giorni (que ele apenas supervisionou); e Giallo  (thriller de supense baseado em um romance de Edgar Wallace, no qual uma mulher, por uma série de coincidências, desconfia que seu marido é um assassino perigoso) realizados em 1933 e Il Cappello A Tre Punte (sátira histórico-política inspirada no romance “El sombrero de tres picos” de Alarcón, retratando um ridículo governador de província) e Come Le Foglie (comédia enfocando um industrial arruinado que é obrigado a aceitar um emprego na empresa de um sobrinho e as reações dos membros de sua família), realizados em 1934, Camerini deu à luz o excelente Darò Un Milione / 1935.

Assia Noris em Darò Un Milione

Vittorio De Sica  Darò Un Milione

O enredo de Darò Un Milione é o seguinte: Gold (Vittorio De Sica), cansado da vida, tenta se suicidar, atirando-se de seu iate. Salvo por um mendigo, ele lhe promete que oferecerá um milhão àquele que praticar, com relação a ele, um gesto generoso e desinteressado.  Depois o ricaço desaparece, disfarçado como um pobre miserável. A notícia se espalha e provoca uma epidemia de filantropia para com os mendicantes, todos suspeitos de ser o milionário incógnito. Dentro em pouco, Gold conhece uma jovem, Anna (Assia Noris), que trabalha em um circo. Ela o ajuda e o protege. Após ter suspeitado que ela só pensa, como os outros, em ganhar o prêmio, ele acaba por compreender que sua afeição e sua generosidade são sinceras e  consequentemente se casa com ela e o milhão será inútil.

Sátira de costumes – mostrando a desigualdade social, o egoismo e a arrogância presentes em certa parte da sociedade – que se torna um conto de fadas  – no qual uma tímida e pudica costureira esposa um príncipe encantado, no caso, um milionário-, o espetáculo proporciona alta dose de comicidade, cheia de achados irresistíveis e trechos de bravura cinematográfica dignos de uma antologia. Foi um grande sucesso, impulsionando a carreira de De Sica e de Assia Noris, com quem o diretor se casou.

Vittorio De Sica e Assia Noris em Mas Não É Uma Coisa Séria

Os filmes seguintes de Camerini nos anos trinta foram: Mas Não é Uma Coisa Séria / Ma Non È Una Cosa Seria / 1936 (comédia romântica baseada em uma peça de Luigi Pirandello cuja versão alemã, Der Mann, Der Nicht Nein Segen Kann/ 1938, ele também dirigiu); O Grande Apelo / Il Grande Appello (aventura africana durante a guerra ítalo-abissínia, endossando a política colonial italiana através da redescoberta do patriotismo por um italiano contrabandista de armas a serviço dos etíopes); Os Apuros do Senhor Max / Il Signor Max/ 1937 (comédia  sobre um jornaleiro que, confundido com um conde, aceita a falsa identidade, para penetrar na alta sociedade, mas acaba se sentindo incomodado no meio da aristocracia, assume a sua verdadeira identidade,  e se casa com a camareira da ricaça que ele pretendia conquistar); Batticuore/ 1939 (versão italiana da comédia Prazer de Amar / Battement de Coeur de Henri Decoin com Assia Noris no papel interpretado por Danielle Darrieux da jovem aluna  de uma escola de batedores de carteiras); Calúnia / I Grandi Magazine / 1939 (comédia  passada em uma loja de departamento, onde um mensageiro se apaixona por uma vendedora e descobre que o chefe do pessoal, que corteja a jovem, é o líder de uma quadrilha que rouba as mercadorias do estabelecimento); e Il Documento / 1939 (comédia  passada no século dezenove, tendo como personagem central o mordomo de um conde, supostamente de posse de um documento comprometedor, que obriga um escroque  a se regenerar). Os Apuros do Senhor Max Calúnia, são mais duas comédias muito divertidas da pentalogia pequeno-burguêsa, tal como as outras, estreladas pelo então jovem galã Vittorio De Sica.

Cena de Os Apuros do Senhor Max

Vittorio De Sica em Calúnia

Assia Noris e Amedeo Nazzari em Centomila Dollari

O trabalho de Camerini nos anos quarenta foi uma prova de sua inegável habilidade para dominar todos os gêneros. Ele fez primeiro uma comédia, Centomila Dollari / 1940, cuja história merece ser lembrada – Lily (Assia Noris), telefonista no Gran Hotel, está prestes a se casar com seu primo Paolo (Arturo Bragaglia). Um milionário americano (Amedeo Nazzari) de passagem lhe oferece mil dólares, com a condição que ela aceite simplesmente jantar com ele. Indignada, a jovem recusa, mas Paolo e seus familiares se convencem, diante da enormidade da quantia, que a proposta é inocente, e obrigam Lily a aceitar. Durante a refeição os dois protagonistas se apaixonam um pelo outro. Lily faz crer ao seu noivo, que ela aliás despreza, que o encontro não foi tão casto como previsto. Paolo consegue reconquistá-la simulando uma tentativa de suicídio. Porém o milionário entra rocambolescamente na igreja conduzindo uma ambulância, interrompe a cerimônia nupcial, e os dois enamorados fogem em direção ao campo.

Depois, o cineasta volta-se para o drama com Uma Romântica Aventura / Una Romantica Avventura (adaptação de um conto de Thomas Hardy); o romance histórico com Os Noivos / I Promessi Sposi (baseado no romance de Mazzoni); o drama criminal com História de Amor / Una Storia D’Amore; o drama romântico com T’Amerò Sempre; o drama de guerra com Due Lettere Anonime: o fantástico com L’Angelo E Il Diavolo; a aventura com A Filha do Capitão / La Figlia Del Capitano, adaptação do conto de Pouchkine; e finalmente volta à comédia com O Sonho das Ruas / Molti Sogni Per Le Strade.

Cesare Danova e Irasema Dilian em A Filha do Capitão

Anna Magnani e Massimo Girotti em O Sonho das Ruas

Em 1943, o cineasta se separou de Assia Noris e se casou com uma austríaca, Mattilde (Tully) Hruska com a qual passaria o resto da vida. Em 1945, ele fez parte da comissão de depuração do cinema com Umberto Barbaro, Mario Chiari, Luchino Visconti, Alfredo Guarini e Mario Soldati. A comissão condenou a seis meses de suspensão de atividade, por colaboração como o fascismo, os cineastas Goffredo Alessandrini, Augusto Genina e Carmine Gallone. Em 1946, ele se inscreveu no Partido Socialista e fez parte de uma comissão de cineastas para a elaboração da nova lei sobre cinema. Foi presidente da ANAC (Associazione nazionale autori cinematografici).

Silvana Magano e Kirk Douglas em Ulysses

Durante os anos 50, 60 e 70, Camerini realizou: O Flagelo de Deus / Il Brigante Musolino/ 1950; Duas Mulheres É Demais / Due Moglie Sono Troppe / 1951; Esposa Por Uma Noite / Moglie Per Una Notte/ 1952; Gli Eroi Della Domenica / 1953; Ulysses / Ulisse / 1954; A Bela Moleira / La Bella Mugnaia/ 1955; foi um dos roteiristas de Guerra e Paz / War and Peace/ 1956 de King Vidor / 1956; Irmã Letizia / Suor Letizia/ 1956; Férias no Paraíso / Vacanza A Ischia / 1957; Primeiro Amor / Primo Amore / 1959; Via Margutta / 1960; Crime em Monte Carlo / Crimen / 1960; Legenda Heróica / I Brigante Italiani / 1961; Kali-Yug, A Fúria dos Bárbaros / Kali Yug, La Dea Della Vendetta / 1963 e Il Mistero Del Templo Indiano / 1963; Crime Quase Perfeito / Delitto Quasi Perfecto/ 1966; Io Non Vedo Tu Non Parli Lui Non Sente / 1971; Don Camillo E I Giovanni D’Oggi / 1972. Nenhum desses filmes se iguala às suas comédias dos anos trinta – que representam  o coração e a espinha dorsal da obra cameriniana -, sobressaindo apenas pelos seus valores de produção, Ulysses (que deveria ter sido rodado por G. W. Pabst, mas o contrato dele com Ponti-De Lurentiis foi rescindido) e A Bela Moleira (refilmagem de Il Capello a Tre Punte).

Marcelo Mastroianni, Sophia Loren e Vittorio De Sica em A Bela Moleira

Em 1975, Camerini participa de uma retrospectiva parcial de seus filmes dos anos trinta no Festival de Pesaro. Em 1981, morre em Salò nas margens do Lago di Garda.

BETTY BOOP

dezembro 26, 2018

Ela foi a primeira grande estrela na história da animação, distinguindo-se de outras figuras femininas dos cartoons por não ser definida pelo seu relacionamento a um personagem masculino, como Minnie Mouse ou Olive Oyl (Olívia Palito). Criada por Max Fleischer como caricatura de uma flapper da Era do Jazz com um rosto grande e redondo de bebê em um corpo pequenino, voz de criança, olhos grandes, pestanas longas, usando sempre um vestido bem curtinho e uma liga na perna esquerda, essa linda criatura tornou-se mundialmente conhecida nas telas dos cinemas, seduzindo milhares de fãs.

Betty surgiu em 9 de agosto de 1930 em Dizzy Dishes, sexto desenho deste ano da série Talkartoon do estúdio Fleischer. Destinada a ser a companheira de Bimbo, o astro canino da série, ela fez uma breve aparição como uma cantora de cabaré, parecendo uma poodle francêsa de bochechas inchadas e orelhas curvadas. Durante os seus próximos filmes sua aparência foi sendo gradualmente modificada, até assumir a forma totalmente humana daquela graciosa bonequinha curvilínea e sensual.

Este personagem foi inventado por um veterano da equipe de Fleischer, Grim Natwick, inspirando-se na cantora popular Helen Kane e mais tarde outros dois animadores, Shamus Culhane e Al Eugster, se juntaram a ele como “especialistas” em desenhar Betty Boop. Betty permaneceu como membro do repertório da companhia de Fleischer por todo o ano de 1931, quando finalmente começou a se destacar nos cartoons e firmar a sua própria personalidade.

Helen Kane

Em 1932 Betty tornou-se a estrela dos Talkartoons e lançou sua própria série, que começou com o filme Cine Variedade / Stopping the Show e terminou com A Conquista pela Música / Rhythm on the Reservation, lançado em 7 de julho de 1939, tendo sido aclamada como “The Queen of the Animated Film”.

Em maio de 1932, Helen Kane moveu ação judicial contra Max Fleischer e a Paramount Publix Corporation por terem explorado sua personalidade e imagem. Embora Helen tivesse alcançado a fama no final dos anos vinte como “The Boop-Oop-A-Doo Girl”, estrela do palco, do disco, e de filmes para a Paramount, sua carreira estava quase no fim em 1931. O caso foi levado à Côrte de Justiça de Nova York e, embora as alegações de Helen parecessem válidas à primeira vista, ficou provado que sua aparência não era única. Tanto Helen como o personagem Betty Boop tinham semelhança com a estrela da Paramount Clara Bow. No seu depoimento, Fleischer disse que Betty Boop era puramente um produto de sua imaginação, detalhado pelos membros de sua equipe. Por outro lado, um antigo teste para um filme sonoro, revelou que Helen havia imitado o estilo vocal de uma cantora negra, Baby Esther, da boate Cotton Club no Harlem.

Mae Questel e Max Fleischer

A voz de Betty foi fornecida por Margie Hines, Ann Rotschild, Harriet Lee, Kate Wright, Bonnie Poe e principalmente Mae Questel. A frase “boop-oop-a-doop” foi popularizada por Helen Kane na canção “I Wanna Be Loved By You”, que ela interpretou no musical da Broadway “Good Boy”, produzido em 1928. Mae, cujo verdadeiro nome era Mae Kwestel, emprestou a voz também para Olívia Palito dos desenhos de Popeye e inclusive substituiu Jack Mercer algumas vêzes como a voz do célebre marinheiro.

Betty Boop em Cine Variedade

No seu primeiro desenho oficial, Cine Variedade, Betty Boop aparece como uma artista do vaudeville que faz imitações de Fanny Brice e Maurice Chevalier (a pedido deles) e recebe uma ovação tão grande, que o próximo número de acrobacia do programa não consegue ser executado. Dois desenhos de Betty, Minnie the Moocher e Snow-White, foram construídos em torno de canções de sucesso de Cab Calloway.  Minnie the Moocher definiu o personagem de Betty como uma adolescente da era moderna em discordância com os velhos costumes de seu país. No desenho, após um desentendimento com seus rigorosos progenitores, ela foge de casa acompanhada por seu amigo Bimbo, e os dois se perdem em uma caverna, onde um fantasma em forma de morsa com a voz e movimentos de Calloway canta “Minnie the Moocher”, acompanhado por outros fantasmas e esqueletos. Estas assombrações fazem com que Betty e Bimbo retornem em segurança do lar. Em O Espelho Mágico Snow White, Betty e Koko entram em outra caverna, onde Koko começa a cantar (com a voz de Calloway) “St. James Infirmary Blues”, transforma-se em um fantasma, e continua a sua performance, sempre imitando os passos de dança do grande músico negro.

Betty Boop Secretária

Entretanto, o sexo sempre foi, durante certo tempo, a maior razão de ser do personagem de Betty Boop e de seus filmes. No desenho Betty Boop Secretária / Betty Boop’s Big Boss / 1933, a nossa heroína responde a um anúncio de emprego e quando o patrão pergunta, “O que você sabe fazer?”, Betty responde com uma interpretação coquete de “You’d Be Surprised”. Em Beleza do Circo / Boop-Oop-a-Doop / 1932, Betty é uma artista de circo.  O diretor do circo observa-a lascivamente enquanto ela faz um número de equilibrista no arame, cantando “Do Something”. Quando Betty retorna para a sua tenda, ele segue-a, massageia sensualmente suas pernas, e a ameaça com a perda do emprego, se ela não ceder aos seus instintos. Betty suplica-lhe para que cesse o assédio, cantando “Don’t Take My Boop-Oop-A-Doop Away”. Koko, o palhaço, está praticando seu malabarismo do lado de fora da tenda e ouve a luta lá dentro. Ele sai em socorro de Betty, lutando com o diretor do circo, que o coloca dentro de um canhão e o dispara. Mas Koko se escondera dentro do canhão e derruba seu oponente com um porrete. Koko então indaga sobre o estado físico de Betty e ela responde com a canção “No, he couldn’t take my boop-oop-a-doop away”.

Betty com Popeye em Marinheiro Matadouro                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                        

Com a adoção do Código de Produção em 1934, o personagem de Betty Boop sofreu mudanças substanciais. Seu corpo foi imediatamente coberto; ela ficou sem a liga, a saia curta e o decote. Os indivíduos devassos que a assediavam foram substituídos por um cachorrinho Pudgy  (em Seu Caro Amiguinho / Betty Boop’s Little Pal / 1934) e um namoradinho humano, Freddie (em Salva do Vilão / She Wronged Him Right / 1934). Os desenhos de Betty serviram também para introduzir dois outros personagens: o marinheiro Popeye em Marinheiro Matamouro / Popeye the Sailor / 1933 e o velho inventor Grampy em Betty e seu Vovô / Betty Boop and Grampy / 1935, e o papel de Betty foi diminuindo em favor de seus novos parceiros. Problema semelhante ocorreu no mesmo período com o Mickey Mouse de Walt Disney, que estava sendo eclipsado pela popularidade de seus parceiros Pato Donald, Pluto e Pateta, sem falar no Popeye de Max Fleischer.

Os animadores tentaram manter os desenhos de Betty interessantes, colocando-a ao lado de personagens populares dos quadrinhos como Henry (Pinduca), The Little King (O Reizinho) e Little Jimmy e, quando se deu a substituição da era das flappers e do jazz – que ela representava – pelas grandes orquestras da era do suíngue, o estúdio Fleischer  tentou desenvolver um personagem neste estilo em Meneia Menina / Sally Swing / 1938 porém não obteve êxito.

Na sua derradeira aparição em A Conquista pela Música, Betty dirige um carro conversível rotulado “Betty Boop’s Swing Band” através de uma reserva de nativos americanos, onde ela apresenta o povo à música do suíngue e cria uma “Swinging Sioux Band”.  Em 11 de agosto de 1939 foi lançado oficialmente mais um desenho de Betty Boop, Polícia por Correspondência / Yip, Yip Yppy, mas Betty não participou dele – foi produzido apenas para o cumprimento  de contrato.

 

Lydia Campos

No Brasil, Betty Boop conquistou muitos admiradores, surgindo várias imitadoras da deliciosa figurinha: a argentina Lydia Campos, que apresentava suas imitações no rádio (era “a Betty Bop da PRA-9” e imitava também o Pato Donald e Popeye) e nos palcos dos cinemas; a espanhola Rosita Castilho (ou Rosa de Castillo), que era também cantora de tangos e foxes e representava no cassino Estância das Mercês em Curitiba e no palco do Palácio-Theatro da mesma cidade; e Cida Tibiriçá, uma das artistas mais populares do rádio paulistano, que inclusive trabalhou no filme brasileiro Fazendo Fita / 1935 (cantando a marcha-carnavalesca “Metamorfose” (Eu Vou na Frente) de Hudson Gaia). Em 1938, passou pelo Brasil, outra imitadora de Betty, a portuguêsa Celeste Grijó, filha do conhecido ator Pinto Grijó, que era radicada na Espanha.

Celeste Grijó

Entre 1934 e 1937 a King Features Syndicate distribuiu os quadrinhos de Betty Boop, desenhados por David Francis “Bud” Counihan. Em 23 de julho de 1934 começaram as tiras diárias e, a partir de 2 de dezembro, as páginas dominicais coloridas. No Brasil, A Gazeta Infantil de São Paulo publicou os quadrinhos de Betty Boop.

Finalmente, como já mencionei no meu artigo “Homenagem ao Camondongo Mickey”, em abril de 1936, Betty Boop foi retratada por Arací Côrtes – na revista “Aleluia” de Joraci Camargo, encenada no Teatro Recreio do Rio de Janeiro -, ao lado de Oscarito (Popeye), Eva Todor (Mickey), Willi Thompson (Al Jolson) e Janot e Lou (Frankenstein e sua noiva).

                                                                FILMOGRAFIA

1930

 

Dizzy Dishes

Dizzy Dishers

Barnacle Bill

Mysterious Mose

1931

The Bum Bandit

Silly Scandals

A Iniciação De Bimbo / Bimbo’s Initiation

Bimbo’s Express

Minding The Baby

Mask-A-Raid

Jack And The Beanstalk

Dizzy Red Riding Hood

Dizzy Red Riding Hood

 

1932

Any Rags

Beleza Do Circo / Boop-Oop-A-Doop

Minnie The Moocher

Swim Or Sink

Crazy Town

A Mestra da Dança / The Dancing Fool

A Morena Bondosa / A Hunting We Will Go

Chess Nuts

Entrada Grátis / Admission Free

O Expresso De Caxanguai / The Betty Boop Limited

Rudy Vallee Melodies

Cine Variedade / Stopping The Show

O Restaurante De Betty Boop / Betty Boop Bizzy Bee

Betty Boop Doutora / Betty Boop, M.D.

Bamboleios De Betty / Betty Boop ‘s Bamboo Isle

De Pernas Para o Ar / Betty Boop’s Ups And Downs

Betty Boop Para Presidente / Betty Boop For President

O Museu de Betty Boop

I’ll Be Glad When You’re Dead You Rascal You

O Museu De Betty Boop / Betty Boop’s Museum

 

 

1933

Por Causa De Um Espirro / Betty Boop’s Ker-Choo

Exposição De Inventos / Betty Boop’s Crazy Inventions

Bola de Cristal / Is My Palm Red

A Casa Mágica / Betty Boop’s Penthouse

 

O Espelho Mágico

 

O Espelho Mágico / Snow White

O Aniversário De Betty / Betty Boop’s Birthday Party

O Piquenique De Betty / Betty Boop’s May Party

Betty Secretária  / Betty Boop’s Big Boss

Betty Boop No País da Carochinha / Mother Goose Land

Marinheiro Matamouro / Popeye The Sailor

Velho da Montanha / The Old Man Of The Mountain

A Mina Encantada / I Heard

Manhã, Tarde e Noite / Morning Noon And Night

Festa Fantástica / Betty Boop’s Halloween Party

Parada de Soldadinhos De Chumbo / Parade Of The Wooden Soldiers

Parada de Soldadinhos de Chumbo

1934

Salva do Vilão / She Wronged Him Right

Sonho De Uma Noite De Inverno / Red Hot Mama

Tudo Ri / Ha! Ha! Ha!

Betty Boop No País Das Maravilhas / Betty In Blunderland

A Transformista / Betty Boop’s Rise To Fame

Betty Boop No Tribunal / Betty Boop’s Trial

Betty Vira Sereia / Betty Boop’s Lifeguard

Maria Borralheira / Poor Cinderella

Namorada De Soldado / There’s Something About A Soldier

Seu Caro Amiguinho / Betty Boop’s Little Pal

Herói e Vilão / Betty Boop’s Prize Show

Sempre Da Pontinha / Keep In Style

When My Ship Comes In

1935

Arte Feita, Arte Desfeita / Baby Be Good

O Gato Faz Das Suas / Taking The Blame

Na Paz Do Campo / Stop That Noise

A Mosca Tonta / Swat The Fly

Não! Mil Vêzes Não! / No! No! A Thousand Times No!

A Little Soap And Water

A Language All My Own

Betty e Seu Vovô / Betty Boop And Grampy

Judge For A Day

Noite de Estrelas / Making Stars

Vem Cá, Passarinho / Betty Boop, With Henry, The Funniest Living American

1936

Herói Canino / Little Nobody

Betty e o Reizinho

Betty e o Reizinho / Betty Boop And The Little King

Dó, Ré, Mi …  Au!  / Not Now

Inflação de Deflação / Betty Boop And Little Jimmy

Castigo Sem Razão / We Dit It

Uma Canção Por Dia / A Song A Day

A Máquina de Vigor / More Pep

Por Mau Exemplo / You’re Not Built That Way

Final Feliz / Happy You And Merry Me

Training Pigeons

As Invenções do Vovô (com Grampy)

As Invenções do Vovô / Grampy’s Indoor Outing

Sejamos Humanos / Be Human

Amigos Novos / Making Friends

1937

O Vovô Chega A Tempo / House Cleaning Blues

Whoops! I’m A Cowboy

O Vendedor de Bugigangas / The Hot Air Salesman

Palco em Polvorosa / Pudgy Takes A Bow-Wow

Remorso Canino / Pudgy Picks A Fight

O Engraçado Castigado / The Impractical Joker

Ensaios de Bombeiros ou Bombeiros de Betty / Ding Dong Doggie

O Perfeito Candidato / The Candid Candidate

Hotel do Bom Sorriso / Service With A Smile

Teatro Zoológico / The New Deal Show

O Caçador Saiu Caçado / The Foxy Hunter

Fugindo Aos Selvagens / Zula Hula

Fugindo aos Selvagens

1938

Perdido No Subterrâneo / Riding The Rails

Tudo À Moderna / Be Up To Date

Amor À Maneira Clássica / Honest Love And True

Saída Do Tinteiro / Out of The Inkwell

Vamos À Lição / Swing School

Pudgy And The Lost Kitten

Buzzy Boop At Concert / Concerto de Gala

Cão de Guarda / Pudgy The Watchman

Buzzy Boop At The Concert

Meneia, Menina / Sally Swing

On With The New

O Herói Saiu Burlado / Pudgy In Thrills And Chills

1939

O Tocador de Realejo / My Friend The Monkey

Entre Montanheses / / Musical Mountaineers

Corvos na Seara / The Scared Crows

Betty em A Conquista pela Música

A Conquista Pela Música / Rhythm on The Reservation

Obs. Encontrei o título em português Cantices de Totó, exibido em janeiro de 1936 no Cine Glória / RJ e em abril de 1938 no Cine Rex / Rj e também, Politica Rimada, exibido no Cinema Imperial de Santa Catarina em junho de 1935, mas não foi possível identificar o título original. Podem ser novos títulos de desenhos já identificados … ou não.

OS WESTERNS DE WILLIAM WELLMAN

dezembro 19, 2018

Já escreví artigos sobre os westerns de Anthony Mann, Delmer Daves, John Ford, John Sturges, Sam Peckinpah, Andre De Toth, Raoul Walsh e estava faltando outro diretor que usou seu talento para nos brindar com algumas obras notáveis do “cinema americano por excelência”: William Wellman.

Jovem inquieto e rebelde, ele foi preso por roubo de carro  (queria apenas dar uma volta) e expulso da escola secundária, para se destacar como jogador de hockey no gêlo, chamando a atenção de Douglas Fairbanks, fã deste esporte. Fairbanks lhe disse: “Se algum dia precisar de emprego, vai para Hollywood, e me procure”. Durante a Primeira Grande Guerra, Wellman incorporou-se à esquadrilha Lafayette Flying Corps, unidade de elite francêsa integrada exclusivamente por pilotos norte-americanos. Nesta ocasião, recebeu o apelido de “Wild Bill”, porque se oferecia como voluntário para voar sozinho em missões perigosas, penetrando muitas vezes nas linhas inimigas em vôo razante. Ferido em combate, recebeu a Croix de Guerre e outras condecorações. Após seu restabelecimento, prestou serviço como instrutor de vôo na Base Rockwell em San Diego.

Desligado após o armistício, conheceu a atriz Helene Chadwick, e se introduziu no mundo do cinema. Lembrando-se do convite de Fairbanks, ao saber que o ator ia dar uma festa no seu campo de polo particular, vestiu seu uniforme cheio de medalhas e, depois de fazer umas piruetas no ar, aterrissou suavemente na extremidade do campo em frente dos anfitriões e de seus convidados A estratégia surtiu efeito e Fairbanks contratou-o como ator de seu próximo filme Audaz e Caprichoso / The Knickerbocker Buckaroo / 1919. Em três anos, Wellman foi progredindo de mensageiro a aderecista e assistente de direção e, em 1923, finalmente estreou como diretor na Fox, responsabilizando-se pelo filme Redenção de uma Alma / The Man Who Won, com Dustin Farnum interpretando um personagem por coincidência chamado Wild Bill. Gradualmente, Wellman passou de diretor de filmes de baixo orçamento (entre eles seis westerns com Buck Jones) para as grandes produções e, em 1927 já havia firmado uma reputação, que lhe permitiu assinar um contrato com a Paramount para a realização de Asas Wings, primeiro filme premiado com o Oscar.

Do final dos anos vinte até 1939, Wellman, como diretor contratado de um estúdio, realizou – entremeados com produções rotineiras de Hollywood – filmes importantes, alguns brutalmente realistas, outros poéticos, comoventes, nos quais se distinguia a sua habilidade técnica:  Mendigos da Vida / Beggars of Life / 1928, O Inimigo Público / The Public Enemy / 1930, Preço do Dever / The Star Witness / 1931, Safe in Hell / 1931, Fome Por Glória Heroes for Sale / 1933, Idade Perigosa / Wild Boys of the Road / 1933, O Bandoleiro do Eldorado / The Robin Hood of El Dorado / 1935, Garota do Interior / Small Town Girl / 1936,  Nasce uma Estrela / A Star is Born / 1937, Beau Geste / Beau Geste / 1939, Luz Que Se Apaga / The Light That Failed / 1939.

O prestígio de Wellman aumentou ainda mais nos anos 40 e 50 com Consciências Mortas / The Ox-Bow Incident / 1943; Buffalo Bill / Buffalo Bill / 1944, Também Somos Seres Humanos / The Story of G. I. Joe / 1945, Jornada Gloriosa / Gallant Journey, Céu Amarelo / Yellow Sky / 1948, O Preço da Glória / Battleground / 1949, Assim São Os Fortes / Across the Wide Missouri / 1951 e O Poder da Mulher / Westward the Women / 1951. Recordo brevemente neste artigo seus melhores westerns.

Loretta Young e Clark Cable em Grito das Selvas

O  GRITO DAS SELVAS / THE CALL OF THE WILD.

Em Skagway no Yukon, em 1900, durante a corrida do ouro, o garimpeiro Clark Thornton (Clark Gable) perde todo seu dinheiro em um jôgo de cartas. “Shorty” Hoolihan (Jack Oakie), récem saído da cadeia após ter cumprido pena de seis mêses por ter aberto correspondência indevidamente, revela a Thornton a existência de uma carta que ele leu, enviada por um garimpeiro doente, Martin Blake, pouco antes de morrer, para seu filho John (Frank Conroy), que continha um mapa indicando o local de uma mina de ouro. Shorty guardou-o na memória e embora reconhecendo que deve estar faltando alguns detalhes, propõe a Thornton uma sociedade, depois de ter contado a ele que John Blake e sua esposa deixaram Skagway naquele dia, com o mapa, em direção à mina. Quando vão comprar seus mantimentos, Jack e Shorty encontram Mr. Smith  (Reginald Owen), inglês rico e sádico que deseja comprar um indomável cão São Bernardo chamado Buck, para que possa matá-lo. Porém é Thornton quem compra Buck, nascendo uma grande amizade entre o dono e seu animal. Durante a jornada em direção à mina, Thornton e Shorty encontram a mulher de John Blake, Claire (Loretta Young), cercada por lobos, e ela explica que seu marido desapareceu há dias, procurando alimento. Acreditando que ele está morto, Thornton obriga Claire a seguir com eles para Dawson. No caminho, eles simpatizam um com o outro e ela concorda em se associar aos dois parceiros, para encontrar o ouro. Após alguns acontecimentos, chegam à mina e Shorty parte para registrar a posse. Enquanto isso, John Blake, que estava vivo, é obrigado a conduzir Mr. Smith até a mina e, lá chegando, o inglês manda um de seus capangas agredí-lo. Smith rende Thornton e Claire, e leva o ouro; mas morre com seus homens, quando sua canoa vira na correnteza de um rio. Depois que Buck encontra Blake, Thornton o leva para a cabana, onde ele e Claire cuidam dele. Claire diz a Thornton que, embora o ame, Blake precisa dela. Depois que os Blake partem, Buck se junta aos lobos e se torna papai e Thorton fica sozinho no inverno. Porém no verão Shorty retorna com o registro da mina e uma esposa índígena, que ele ganhou em um jogo de dados, para ser a cozinheira deles.

Jack Oakie e Clark Gable em O Grito das Selvas

Este northernwestern (passado acima do Paralelo 49 v. g. Canadá ou Alasca) é uma adaptação livre (e audaciosa, tendo em vista o Código de Censura aplicado na época) do romance clássico de Jack London, na qual o papel do cão Buck é diminuído e o foco principal da história passa a ser o romance entre Thornton e Claire. As primeiras sequências, por sua violência, situam o ambiente e o caráter dos personagens e o movimento rápido da ação dá vivacidade ao filme. Os numerosos exteriores nas montanhas e florestas cobertas pela neve são esplendidamente fotografadas por Charles Rosher. A amizade entre Thornton e Buck é realmente tocante e este cão magnífico representa como um verdadeiro artista. Muito bonita a cena em que Thorton brinca com Buck e o acaricia, a fim de lhe suprimir o irresistível desejo de se reunir com a mata e seus congêneres e também a cena em que Claire faz um carinho no animal encontrando a mão de Thorton fazendo a mesma coisa, manifestando assim seu amor recíproco sem se falarem.

Warner Baxter em O Bandoleiro do Eldorado

BANDOLEIRO DO ELDORADO / THE ROBIN HOOD OF EL DORADO.

Em 1849, o México havia cedido a Califórnia para os Estados Unidos, tornando a vida quase impossível para a população mexicana devido a afluência de americanos sedentos por terras e ouro. O fazendeiro Joaquin Murietta (Warner Baxter) caça e mata os estupradores que assassinaram sua mulher Rosita (Margo) e é considerado um fora-da-lei. A recompensa pela sua captura aumenta, quando ele subsequentemente mata um grupo de americanos bêbados, que lincharam brutalmente seu meio-irmão. Unindo-se ao bandido Three-Fingered Jack (J. Carroll Naish), Murietta torna-se um vingador, parecido com o Zorro, saqueando e aterrorizando os grileiros ianques. Quando Joaquin decide deixar a vida de bandidagem, ele e seus homens são atacados. Uma batalha sensacional resulta na morte de Three-Fingered Jack e o massacre dos homens de Joaquin. Ferido, ele escapa apenas para morrer junto à sepultura de sua querida esposa.

Biografia romanceada do líder de um grupo de bandidos da Califórnia em meados do século XIX. Interessado pelo tema da injustiça (que desenvolveria em Consciências Mortas), Wellman arranjou circunstâncias atenuantes suficientes para absolver Murieta. A narrativa é dinâmica e contém boas cenas, como o enforcamento do meio-irmão do herói enquanto este é chicoteado; a festa no acampamento, colorida de exotismo, e a perseguição entre matas e rochas até o fugitivo cair morto sobre o túmulo de sua amada.

Cena de Consciências Mortas

CONSCIÊNCIAS MORTAS / THE OX-BOW INCIDENT.

Reflexão sombria sobre a intolerância e um requisitório contra o linchamento, mostrando a insensibilidade humana e a histeria da multidão em uma comunidade da fronteira. Em Bridge’s Well, no Nevada, um grupo de cidadãos raivosos e neuróticos, tomando a lei em suas próprias mãos, enforca três suspeitos, Donald Martin (Dana Andrews), Juan Martines (Anthony Quinn) e Halva Harvey (Francid Ford), de um roubo de gado, e depois descobrem que eles eram inocentes. Dois vaqueiros, Gil Carter (Henry Fonda) e Art Croft (Harry Morgan), que estão de passagem pela cidade, testemunham os fatos e, após a tragédia, Gil lê em voz alta a carta de adeus que Martin escrevera para a sua famíla.

As primeiras cenas do filme transmitem a sensação de vazio e decadência que aflige a maioria dos membros da patrulha (um ex-oficial confederado pomposo que guarda uma segredo de família, uma senhora moralista fanática, um agitador demagogo etc.), sugerindo que a crueldade e a violência coletivas decorrem da incapacidade dessas pessoas de superar as suas deficiências e o seu desespero. Wellman faz uma descrição minuciosa e circunstanciada da expedição punitiva, imprimindo-lhe grande dramaticidade, optando pela filmagem dos exteriores em estúdio para acentuar o tom sombrio e claustrofóbico da história.

Joel McCrea e Maureen O’Hara em Buffalo Bill

BUFFALO BILL / BUFFALO BILL.

Caçador de búfalos, cavaleiro do correio expresso, e batedor do exército, William Cody (Joel McCrea) salva a vida de Louisa (Maureen O’Hara) – filha do Senador Frederici (Moroni Olsen) – com quem vem a se casar. A destruição em massa dos animais traz como consequência a fome entre os Cheyennes que, indignados, declaram guerra aos brancos. Cody põe o chefe Yellow Hand (Anthony Quinn) fora de combate e o governo obtém a vitória. Amargurado pela morte de seu filho e por um sentimento de culpa, ele vai a Washington para defender a causa dos índios. Já famoso como Buffalo Bill graças ao jornalista Ned Buntline (Thomas Mitchell), Cody reconstitui em um espetáculo circense  as suas façanhas do passado.

Wellman, McCrea e o montador James B. Clark na filmagem de Buffalo Bill

Cinebiografia romanceada de William Frederick Cody, visto aqui como um democrata, denunciando a ganância e a corrupção de capitalistas e políticos. Filmado em soberbo Technicolor e com uma sequência de ação espetacular (a batalha no racho, com duração de nove minutos, incluindo  a luta corpo-a-corpo entre Buffalo Bill e Yellow Hand – filmada no estilo típico de Wellman  a maior parte da ação escondida do público), o filme antecipa a defesa dos peles-vermelhas feita em Flechas de Fogo/ Broken Arrow, de Delmer Daves, seis anos depois.

 

CÉU AMARELO / YELLOW SKY.

Sete assaltantes de banco, Strech (Gregory Peck), Dude (Richard Widmark), Lenghty (John Russell), Half Pint (Harry Morgan), Bull Run (Robert Arthur), Walrus (Charles Kemper) e Jed (Robert Adler) penetram em um deserto de sal para escapar de seus perseguidores. Eles chegam a Yellow Sky, uma cidade fantasma. Os únicos habitantes são um velho garimpeiro (James Barton) e sua neta Mike (Anne Baxter). Os bandidos acreditam que o velho tenha uma fortuna escondida e pretendem se apoderar dela. Strech começa a se interessar pela jovem e isto provoca divergências entre ele e o resto do bando.

Cena de Céu Amarelo

Cena de Céu Amarelo

Logo no início do filme ocorre um trecho memorável: a longa e extenuante travessia do deserto salgado até a chegada ao saloon, onde os assaltantes contemplam o quadro de uma mulher nua. Luxúria, ambição, ciúme, desconfiança e violência são as matérias brutas com as quais Wellman desenvolve as tensões e os conflitos entre o bando de fora-da-lei. Paralelamente a filmagem em locação e a magnífica fotografia (de Joe MacDonald) contrastada (notadamente nas cenas no Vale da Morte e no duelo final) dão integridade visual e consistência ao espetáculo, que foi rodado também na pitoresca Lone Pine.

Clark Cable em Assim São Os Fortes

Ricardo Montalban em Assim São Os Fortes

ASSIM SÃO OS FORTES / ACROSS THE WIDE MISSOURI

Crônica da vida dos caçadores de peles de castor e seu relacionamento com os índios no tempo da Fronteira Selvagem. Entre as cenas de harmonia racial – o líder dos caçadores, Flint Mitchell (Clark Gable), casa-se com a índia Kamiah (Maria Elena Marques), com quem tem um filho -, explode a ira de Iron Shirt (Ricardo Montalban), índio orgulhoso que resiste ao expansionismo comercial dos brancos.

Filmado na linda paisagem do Colorado, o relato conserva a forma de um diário, desenvolvendo os acontecimentos na sua cronologia. Duas sequências inesquecíveis: o último ataque de Iron Shirt, no qual Kamiah morre com uma flechada no peito e o cavalo (que carrega o bebê) sai em desabalada carreira, perseguido por Flint; o cacique vestido com a armadura, passando no meio de uma briga cômica entre os caçadores.

Cena de O Poder da Mulher

O PODER DA MULHER / WESTWARD THE WOMEN.

Em Chicago, um rico fazendeiro da Califórnia, Roy Whitman (John McIntire), contrata o batedor Nuck Wyatt (Robert Taylor) para guiar uma caravana de cento e quarenta mulheres, esposas por correspondência dos homens de seu rancho. Decidido a vencer todos os obstáculos, Buck impõe uma disciplina rígida. Na viagem, as mulheres aprendem a lutar contra as intempéries, a doença, a sede, os índios. Após este rito de passagem, conquistam o direito de não serem apresentadas imediatamente  aos seus futuros parceiros: arrancando os toldos das carroças, elas confeccionam seus vestidos e se tornam novamente femininas.

A idéia (fornecida por Frank Capra, autor da história) de um comboio de futuras esposas enfrentando os perigos de uma travessia pelo deserto é original e Wellman trata o assunto com muita propriedade, providenciando as cenas de ação espectaculares, sem se esquecer do romance (o herói misógino também encontra a mulher de sua vida) nem a emoção (o silêncio sepulcral quando ressoam os nomes das mortas após o ataque dos peles-vermelhas; a mulher que deu à luz durante o percurso e veio ao baile com seu bebê, sendo convidada para dançar).

OS FALSOS CARLITOS DO CINEMA

dezembro 8, 2018

Houve vários imitadores de Carlitos e algumas vezes é difícil distinguir quais deles foram imitações inocentes ou “homenagens”, ou contrafacções de má fé do personagem universalmente célebre criado por Charles Chaplin.

O caso mais famoso levado aos tribunais foi contra o ator mexicano Carlos Amador (1892-1974). Embora Amador tivesse pouca semelhança física com o Charles Chaplin original, ele assumiu o pseudônimo de Charlie Alpin e em 1920 estrelou um filme intitulado The Race Track, produzido pela Western Feature Productions, no qual vestia-se como o Vagabundo (com roupa e maquilagem idênticos), copiava os maneirismos de Chaplin, e recriava seus lances cômicos rotineiros. Em 11 de julho de 1925 a Suprema Côrte do Estado da Califórnia decidiu a favor de Chaplin e ordenou que os negativos de The Race Track fossem destruídos. Por intermédio de seus advogados, Amador recorreu da decisão, mas não logrou êxito.

Charles Amador

Amador apareceu em três filmes da Vitagraph estrelados por Larry Semon (Scamps and Scandals; Well, I’ll Be; His Home Sweet Home e ao lado de James Parrott, Jobyna Ralston e Billy West em Bone Dry, todos de 1919, nenhum deles exibido no Brasil. No México foi o protagonista de: El Inocente / 1930; Terrible Pesadilla / 1931; El Dia DelTrabajo / 1935, também inéditos em nossas telas.

Bobby Dunn

Surgiram outras cópias ou “tributos” relacionados  com os atores Bobbie Dunn, Ray Hughes, e outros na Europa, como “Monsieur Jack” (André Sechan) e “Charlie Kaplin” (Ernst Bosser), e há também quem acuse o consagrado Harold Lloyd de ter se inspirado no trabalho de Chaplin para criar o seu personagem, Lonesome Luke; porém os imitadores mais famosos de Carlitos foram Billy West e Billie Ritchie.

 

Harold Lloyd como Lonesome Luke

O imigrante russo Roy B. Weissberg – que passou a usar o nome de William B. West quando estreou no palco aos quatorze anos de idade em 1909 – , usando idêntico traje e maquilagem do tipo chapliniano, copiava tão bem os seus gestos e movimentos, que chegou a fazer com que muitos espectadores o confundissem com o verdadeiro Carlitos, por exemplo, no filme The Rogue, no qual aparecia com Oliver Hardy.

West copiava Chaplin desavergonhadamente, mas com muita habilidade e conquistou o público pela força de seu próprio nome. Em 1917 e 1918 participou de muitos filmes produzidos pela King Bee ao lado de Oliver Hardy, revezando-se na direção Charles Parrott (Charles Chase) e Arvid G. Gillstrom, comparecendo também a atriz Leatrice Joy em alguns deles. Em 1922, abandonou a imitação de Chaplin em favor de um personagem mais elegante, de chapéu de palha e um bigodinho pintado a lapis que aparecia nas comédias feitas na Joan Film Sales Company e depois na Arrow Film Corporation. A partir de 1925, tornou-se produtor de alguns filmes com Oliver Hardy e Bobby Ray e das comédias com a personagem das histórias em quadrinhos “Winnie Winkle” (de Martin Branner), protagonizadas por sua esposa, Ethelyn Gibson.

Billy West em um de seus filmes, tendo a seu lado, à esquerda, Oliver Hardy (de bigode)

Billy West e seu novo personagem

Como ator, assumiu ainda pequenos papéis nos anos 30 primeiro para pequenas companhias independentes e depois para a Columbia (v. g. como um vagabundo em O Venturoso Vagabundo / Hallelujah I’m a Bum / 1933; como um repórter em Aconteceu Naquela Noite It Happened One Night/ 1934; como um ascensorista em O Homem Que Nunca Pecou / The Whole Town’s Talking / 1935). Na Columbia, atuou ainda como assistente de direção e, eventualmente, como gerente do Columbia Grill Restaurant. Morreu em 21 de julho de 1975 de um ataque cardíaco, quando estava saindo da pista de corridas do Hollywood Park. Chaplin nunca moveu ação judicial contra West e consta que certa vez ele viu a companhia de West filmando em uma rua de Hollywood e disse para West: “Você é um ótimo imitador”.

Billy West em O Bode Expiatório

No Brasil, Billy West era muito apreciado, sendo anunciado como “o único rival do aplaudido Carlito”. Embora os anúncios nos jornais da época só mencionassem os títulos em português, conseguí identificar os títulos originais (com exceção de um) dos filmes de West exibidos no Brasil, quais sejam: O Herói / The Hero; O Rival de Cupido ou Torpedeado por Cupido / Cupid’s RivalO Vilão / The Villain; Padeiros e Padarias / Dough NutsCamarins e Camarotes / Back Stage; O Bode Expiatório / The Goat; O Cozinheiro Principal ou O Mestre Cozinheiro / The Chief Cook; Aventuras Prodigiosas de Billy; Polícia Janota / The Fly Cop;  O Vadio The Hobo;  O Maçador / The Pest;  O Pequeno Lambão ou Rapazinho Lambão / The Candy Kid.

Billie Richtie, cujo verdadeiro nome era William Monro, nasceu em Glasgow na Escócia em 1878 e ingressou na Karno Fun Factory and Comedy Troupe, excursionando pelo mundo com Charles Chaplin e Stan Laurel, entre outros. Em 1916, ele deixou a Karno e começou a fazer filmes silenciosos para a companhia L-Ko, fundada por Henry “Pathé” Lehrman (distribuídos pela Universal), transferindo-se depois para o Sunshine Studios da Fox. As iniciais L-KO significavam Lehrman Knock-Out.

Billie Ritchie

Ritchie sempre alegou que Chaplin copiou a maquilagem de seu personagem de bêbado, que criara no palco na Inglaterra e depois reapareceu em solo americano no espetáculo “A Night in the English Music Hall”, embora ele próprio tenha sido apontado como um dos plagiadores de Carlitos. Seu personagem fílmico, chamado  Bill Smith, tinha semelhanças com Carlitos (mesma maquilagem, roupas, bigode e chapéu côco, giros com a bengala, atitudes, maneira de caminhar), porém apresentava uma peculiaridade substancial que o diferenciava do herói chapliniano: era um bêbado rude e agressivo e não um vagabundo mas um homem de uma pretenciosa e indefinida classe social.

Em 1919, avestruzes usados na filmagem de uma comédia atacaram o ator. Este acidente foi um dos muitos exemplos da prática comum de Lehrman de colocar atores em situações perigosas como, por exemplo, deixar vários leões sôltos entre os extras. Em outro filme, Billie foi catapultado para o ar por meio de mangueiras de água de alta pressão. O ataque machucou Billie seriamente e, nos dois anos seguintes, ele ficou confinado ao leito, vindo a falecer vítima de um cancer no estômago em 6 de julho de 1921, aos 42 anos de idade, deixando sua esposa Winifred e uma filha de vinte anos, Wyn. Winifred, parceira de Billie no teatro, foi empregada por Chaplin como responsável pelo guarda-roupa, mostrando que não havia animosidade entre os dois comediantes. Existem três versões quanto à questão de direitos autorais: 1. Chaplin nunca entrou com ação contra Ritchie; 2. Ele moveu ação judicial, mas por alguma razão a tentativa falhou; 3. Eles na verdade processaram-se mutuamente, porém ambas as ações foram julgadas improcedentes.

Billie Ritchie

Billie Richtie fez inúmeros filmes como ator, mas só encontrei nos jornais brasileiros da época (sem poder identificar alguns títulos originais) anúncios de: Endiabrados; A Vingança; Os Policiais Precisam CasarCasamento Fatal / The Fatal Marriage; Leões Esfomeados no Expresso da Meia-Noite / Roaring Lions in the Midnight ExpressLeões a Domicílio; Escapada e Lizzie ou  A Fuga de Lizzie/ Lizzie’s Escape; Amor e Cirurgia / Love and Cirurgy; Pondo Tudo em Papas ou Tudo em PapasA Sogra de Billie; Cupido no Hospital / Cupid in a Hospital, Pecado Dominical. Apareceram ainda outros títulos  em português de comédias que podem ser de Ritchie (v. g. Quando Lizzie Vai Ao Mar), mas sem confirmação. Os periódicos nacionais costumavam chamar Billie de “professor de Carlito e Fatty”. Fatty era Fatty Arbuckle, o queridíssimo Chico Bóia.

Houve ainda um tal de Cardo Charlot, apresentado nos anúncios dos jornais brasileiros no final dos anos dez como “Carlito em carne e osso, autêntico cômico da Studio-Film”. O ilegítimo Carlitos estreou no Teatro República com o seu parceiro Dick. Depois de curta temporada, foi mostrar seus dotes de mímica no Teatro Phoenix e, em seguida, no Grande Circo Pavilhão 7 de Setembro. Nessa oportunidade, destacava-se no programa determinada cena cômica, assim esclarecida: “esta pantomima foi registrada como fita cinematográfica, em 4 partes, na 1ª Companhia da Estudio-Films, no ano de 1914, e figura sob o título Carlito, Hussard da Morte” (cf. Correio da Manhã / RJ de  26 de maio de 1918). O emérito cronista e estudioso da nossa música e cultura popular, Jota Efegê, manifestou-se a respeito do dito anúncio: “Artimanha,  publicidade apócrifa, ou real, procurava-se com ela convencer o público  da legitimidade do famoso cômico, nos palcos e picadeiros cariocas” (Meninos, eu vi, Funarte, 2007).

José Vassalo Jr. / Carlitinhos

 

Finalmente, Jurandyr Noronha, pesquisador do cinema e cineasta, anotou no seu precioso Dicionário de Cinema Brasileiro 1896-1036, EMC Edições, 2008 o título de dois filmes carlitianos: Carlitinhos / 1921 e Carlitomania / 1931. O primeiro,  dirigido por José Medina, era uma comédia de 20 minutos, produzida pela Rossi Film, na qual a imitação de Charles Chaplin foi feita por um menino, José Vassalo Jr. Sobre o segundo, J. Noronha diz apenas que era um misto de ficção e documentário dirigido por Waldemar P. Zornig, sobre antigos profissionais que falam sobre os imitadores de Carlitos. Na revista Cinearte, recolhí mais estas informações: Carlitomania foi produzido pela S. A. Cinematográfica Paulista e seu ator principal era o mesmo José Vassalo, a esta altura, já adulto.

 

FRANK LLOYD

dezembro 6, 2018

Diretor tecnicamente habilidoso, esquecido por alguns dicionários de cinema, ele realizou um punhado de clássicos de Hollywood nos anos 30, notabilizando-se especialmente no melodrama de época e aventura marítima, romântica ou histórica. Com seu estilo simples e despretencioso arrebatou o Oscar de Melhor Diretor por A Divina Dama / The Divine Lady em 1929 e Cavalcade / Cavalcade em 1933. O próprio Cavalcade e outro filme que dirigiu, O Grande Motim / Mutiny on the Bounty / 1935, também conquistaram o troféu da Academia e, além disso, outros dois filmes, Regeneração / Weary River e O Parasita / Drag, concorreram ao prêmio por Melhor Direção em 1929. Releva notar que Lloyd funcionou muitas vêzes também como roteirista e produtor.

Frank Lloyd

Sua carreira cinematográfica se estende dos tempos pioneiros do cinema silencioso, quando estreou como ator em 1913, através da “idade de ouro” de Hollywood nos anos 20, 30 e 40, até sua despedida como diretor em duas modestas produções na Republic em 1954 e 1955. Lloyd sempre se sentiu confortável sob o sistema de estúdio e nunca desejou ser um “autor”, mas sim proporcionar ao público um bom divertimento.

Frank William George Lloyd (1886-1960) nasceu em Glasgow, Escócia, filho de um engenheiro naval. Após atuar como ator em Londres, incluindo quinze semanas no Shepherd’s Bush Theatre, emigrou para o Canadá em 1909, e ali trabalhou em uma fazenda até que um encontro casual em Winipeg com a Walker Theatrical Enterprises, pequena companhia itinerante, encorajou-o a voltar para o teatro. Quando se apresentou em Edmonton, Alberta, conheceu sua futura esposa Alma Heller, que interpretava papéis de criada na Lewis and Lake Company.

Como ator, Lloyd também subiu ao palco no Century Theatre de Los Angeles em 1913 e, seguindo o conselho de um colega, pediu e obteve emprego na Universal, comparecendo em mais de cinquenta filmes, a maioria de um e dois rolos, quase sempre como vilão. Destes, o mais importante foi o drama histórico de seis rolos, Damon e Pythias / Damon and Pythias / 1914, estrelado por William Worthington e Herbert Rawlinson nos papéis título sob a direção de Otis Turner. Lloyd tinha o papel proeminente de Dyonisius, “o tirano de Siracusa” e a revista The Moving Picture World descreveu sua performance como “conscienciosa”.

Cena de Damon and Pythias

Lloyd atuou sob as ordens de outros diretores, inclusive a mais famosa das diretoras do cinema mudo, Lois Weber, porém foi com Otis Turner, então descrito como  “O Decano dos Diretores da Universal“, que ele aprendeu o ofício de realizador de filmes. Quando Turner fez uma viagem de férias a Nova York, a Frank Lloyd foi oferecida a oportunidade de assumir a direção, realizando ao todo 40 filmes de um e dois rolos.

No verão de 1915, Lloyd deixou a Universal para ingressar na recém-formada Pallas Pictures Inc., cujos filmes eram distribuídos pela Paramount e que, ao contrário da Universal, estava empenhada em produzir somente longas-metragens. A Pallas estava associada e dividia o estúdio com a Oliver Morosco Photoplay Co. e, dentro de poucas semanas, Lloyd estava dirigindo filmes para ambas as companhias.

O primeiro filme de Lloyd na Pallas foi The Gentleman from Indiana/ 1915, superprodução estrelada por Dustin Farnum, que ele dirigiria novamente em David Garrick / David Garrick/ 1916, baseado em uma peça sobre o famoso ator inglês do século XVIII e em Depois da Batalha/ The Call of the Cumberlands/ 1916, baseado em uma peça de ambiente rural. Além desses dois, Lloyd dirigiu mais nove filmes para a Pallas / Oliver Morosco / Paramount: Jane / 1915, The Reform Candidate / 1915, The Tongues of Men / 1916,  Madame La PresidenteMadame la Presidente / 1916, The Code of Marcia Gray / 1916, The Making of Maddalena / 1916, Casamento Internacional /  An International Marriage / 1916, The Stronger Love / 1916 e A IntrigaThe Intrigue.

William Farnum em A Tale of Two Cities

Entre 1916 e o final de sua carreira na Pallas e 1922, início de seu contrato com a Associated First National, Lloyd prestou serviço à Fox e à Goldwyn. Ele dirigiu um total de 28 longas – metragens, sendo 15 filmes na Fox ( Pecado de MãeSins of Her Parent/ 1916, O Poder do AmorThe Kingdom  of Love / 1917, O Preço do Silêncio / The Price of Silence/ 1917*, Thermidor/ A Tale of Two Cities / 1917*, Métodos Americanos / American Methods / 1917*, Febre de Vingança/ When a Man Sees Red / 1917*, Coração de Leão/ The Heart of a Lion/ 1917*, Os Miseráveis / Les Miserables / 1918*, O Cancro da Sociedade/ The Blindness of Divorce / 1918, Sangue Nobre / True Blue / 1918*, O Vingador Peregrino / Riders of the Purple Sage / 1918*, A Volta do Vingador / The Rainbow Trail / 1918*, Sacrifício de Irmão / For Freedom / 1918*, Justa Vingança / The Man Hunter / 1919*, A Sombra do Presídio / Pitfalls of a Big City / 1919) e 13 filmes na Goldwyn (O  Mundo e Suas Mulheres / The World and the Woman / 1919,  Os Amores de Letty / The Loves o fLetty / 1919, Sublime Dignidade / The Woman in Room 13 / 1920, A Horda de PrataThe Silver Horde / 1920, A Ré Misteriosa / Madame X / 1920, Sedutor Pela Voz / The Great Lover / 1920, O Lírio do Reino Florido / A Tale of Two Worlds / 1921, Uma Voz na Escuridão / A Voice in the Dark / 1921, Caminhos do Destino / Roads to Destiny / 1921, Vítima da SociedadeThe Invisible Power / 1921, Tentações Fatais / The Grim Comedian / 1921, A Vitória do Amor/ The Man From Lost River / 1921); O Dilúvio / The Sin Flood / 1922.

Norma Talmadge em A Duquesa de Langeais

Cena de O Dilúvio

Nessse período merece destaque os 11 filmes estrelados por William Farnum (marcados com asterisco), as adaptações de A Tale of Two Cities de Charles Dickens (Thermidor) e Les Miserables (Os Miseráveis) de Victor Hugo bem com os dois westerns de Zane Grey (O Vingador Peregrino e A Volta do Vingador), que seriam refilmados pela Fox em 1925 com Tom Mix. Os filmes mais importantes de Lloyd na Goldwyn foram: O Mundo e Suas Mulheres, drama tendo como pano de fundo a revolução russa, estrelado pela cantora de ópera Geraldine Farrar e seu marido Lou Tellegen; A Ré Misteriosa, o célebre melodrama baseado na peça de Alexandre Bisson, com Pauline Frederick no papel principal; e O Dilúvio, drama psicológico  com Richard Dix e Helene Chadwick, envolvendo um grupo eclético de pessoas confinadas em um saloon no rio Mississipi vítimas de uma inundação.

Deixando a Goldwyn, Lloyd tornou-se o que pode ser basicamente descrito como um realizador semi-independente, dirigindo filmes para serem distribuídos pela Associated First National Pictures. Sob contrato com a Jackie Coogan Productions  (formada pelo pai de Jackie, assessorado pelo produtor independente Sol Lesser), ele dirigiu Oliver Twist / Oliver Twist / 1922 e sob contrato com a Norma Talmadge Film Corporation e/ou Joseph M. Schenck Productions, ele dirigiu a esposa de Schenck, em quatro filmes: A Duquesa de Langeais / The Eternal Flame / 1922; A Voz do Minarete / The Voice from the Minaret; Dentro da Lei / Within the Law (este para Joseph M. Schenck Productions) e Cinzas de Vingança / Ashes of Vengeance (todos de 1923).

Lon Chaney e Jackie Coogan em Oliver Twist

Nesta fase de sua trajetória artística distinguem-se Oliver Twist (Charles Dickens) e A Duquesa de Langeais (Honoré de Balzac) por sua origens literárias nobres. Na realização de Oliver Twist, um dos filmes nos quais Lloyd funcionou também como adaptador, ele teve sob sua orientação, no papel título, o gracioso e espontâneo Jackie Coogan – que se tornara um astro graças ao seu desempenho ao lado de Charles Chaplin em O Garoto The Kid / 1921 e Lon Chaney como Fagin. Em A Duquesa de Langeais, adaptado livremente por Frances Marion, o diretor contou com a presença de Norma Talmadge como a coquette Antoine de Langeais, que acaba se tornando freira.

Reconhecendo a posição de destaque que Lloyd conquistara na indústria, a Associated First National (que a partir de 1924 tornou-se também produtora sob a denominação de First National Pictures) ofereceu-lhe um contrato generoso, cobrindo seus serviços também como produtor. Assim, entre 1924 e 1926, Lloyd produziu e dirigiu: Os Bois Negros ou O Que As Mulheres Querem / Black Oxen/ 1914, com Corinne Griffith; O Gavião do Mar / The Sea Hawk / 1924, com Milton Sills, Enid Bennett); Vigília Silenciosa / The Silent Watcher / 1924, com Bessie Love; O Segredo do Marido / Her Husband’s Secret / 1925, com Antonio Moreno, Patsy Ruth Milller; À Mercê da Sorte / Winds of Chance / 1925 e Uma Grande Aventura / The Splendid Road / 1925, ambos com Anna Q. Nilsson; e Missão de Amor/ The Wise Guy / 1926, com Mary Astor, Betty Compson.

Milton Sills e Enid Bennet em O Gavião do Mar                                                                                     

Desde a infância, Lloyd gostava de tudo que estivesse relacionado com o mar, navios e marinheiros e em Gavião do Mar, o mais famoso dos filmes citados, ele pôde transmitir esta afeição, dedicando-se a uma pesquisa intensa a respeito da história mourisca e cuidando para que esta produção não contivesse tomadas de miniaturas de navios flutuando em um tanque. Preferiu usar galeões espanhóis do século XVI de verdade, construídos especialmente para o filme e as réplicas de tamanho natural foram consideradas tão bem recriadas, que a Warner Bros. usou-as repetidamente em outros filmes náuticos. As melhores cenas são as de combate entre os galeões, porém o restante do espetáculo é demasiadamente longo e estático, e as cenas de ação com Milton Sills, não são tão espetaculares como as de Douglas Fairbanks, por exemplo, em O Pirata Negro / The Black Pirate, realizado em 1926.

Ainda na década de 20, Lloyd fez dois filmes para a Famous Players-Lasky / Paramount (O Capitão Sazarac / The Eagle of the Sea / 1926, com Florence Vidor e Ricardo Cortez, filme de aventura marítima envolvendo um grupo de patriotas francêses que tenta resgatar Napoleão de Santa Helena e as atividades do pirata Jean Lafitte – rebatizado de Sazarac – e Filhos do Divórcio / Children of Divorce / 1927, drama romântico com Clara Bow como uma jovem pressionada pela mãe mercenária a se casar por dinheiro) e mais seis filmes para a First National (Adoração / Adoration / 1928, com Billie Dove, Antonio Moreno; Regeneração / Weary River / 1929; A Divina Dama / The Divine Lady / 1929; O Parasita / Drag / 1929; Ruas de Amargura / Dark Streets / 1929 e Febre de Juventude / Young Nowheres / 1929).

Richard Barthelmess em Regeneração

Corinne Griffith e Victor Varconi em A Divina Dama

Ainda na First National, Lloyd dirigiu Richard Barthelmess (com quem havia feito Regeneração, O Parasita e Febre da Juventude, todos exibidos em versões muda e sonora) em O Filho dos Deuses / Son of the Gods / 1930 e O Chicote / The Lash / 1930 (filmado em Vitascope, 65mm); The Way of All Men / 1930 com Douglas Fairbanks Jr.; The Right of Way / 1931 com Conrad Nagel e Loretta Young e foi emprestado à Fox para assumir a direção de Lágrimas de Amor/ East Lynne / 1931, com Ann Harding, Clive Brook e à Caddo Co. de Howard Hughes para dirigir e produzir  Idade para Amar / The Age of Love / 1931, com Charles Starrett e Lois Wilson.

Lágrimas de Amor, melodrama sobre uma infeliz heroína da Era Vitoriana, Lady Isobel Dane (Ann Harding) que, após um casamento desfeito (com Conrad Nagel) e uma aventura amorosa frustrada (com Clive Brook), fica cega, passando ainda por outros tormentos; sob astuta direção de Lloyd e belíssima foto de John Seitz, o filme obteve indicação para o Oscar.

Lloyd fez em seguida, ainda na Fox, A Dama Errante / A Passport to Hell / 1932, com Elissa Landi e Paul Lukas; Cavalcade / Cavalcade / 1933, com Diana Wynyard, Clive Brook; Romance Antigo / Berkeley Square / 1933, com Leslie Howard, Heather Angel; Lábios de Fogo / Hoop-La / 1933, com Clara Bow, Preston Foster; e Cinderela à Força / Servant’s Entrance / 1934, com Janet Gaynor, Lew Ayres.

Diana Wyniard e Clive brook em Cavalcade

Elegante adaptação da peça de Noel Coward, que mostra os acontecimentos históricos do início do século XX e suas consequências sobre uma família da classe média inglesa, Cavalcade ganhou o Oscar de Melhor Filme, Direção e Cenografia (William S. Darling). Frank Borzage pensou que poderia ocupar a direção, mas foi substituído por Lloyd e as cenas de guerra ficaram a cargo de William Cameron Menzies. Frase de anúncio: “A marcha do tempo medida por um coração humano – um coração de mulher!”.

Heather Angel e Leslie Howard em Romance Antigo

Em Romance Antigo, fantasia romântica baseada na peça de John L. Balderston sobre o rapaz que passa a fazer frequentes incursões na Londres do século XVIII, reencarnando-se em um antepassado, Leslie Howard transmite com perfeição a tristeza sentimental do protagonista e seu desempenho proporcionou-lhe indicação para o Oscar da Academia.

O período mais fértil de Frank Lloyd como mestre dos filmes de aventura marítima romântica ou histórica foram os anos de 1935 a 1939, quando ele realizou sucessivamente: O Grande Motim / Mutiny on the Bounty/ 1935 (MGM), Sob Duas Bandeiras / Under Two Flags / 1936 (20thCentury-Fox), A Donzela de Salem / Maid of Salem / 1937 (Paramount), Uma Nação em Marcha / Wells Fargo / 1937 (Paramount), Se Eu Fora Rei / If I Were King / 1938 (Paramount) e A Conquista do Atlântico / Rulers of the Sea / 1939 (Paramount).

Charlese Laughton Clark Cable em O grande Motim

A MGM adquiriu os direitos de filmagem da trilogia campeã de vendas de Charles Nordoff e James Norman Hall (Mutiny on the Bounty, Men Against The Sea, Pitcairn Island) e os roteiristas aproveitaram material dos dois primeiros livros, baseando-se também no diário do Capitão Bligh que relatava os fatos reais sobre um motim ocorrido durante uma viagem do navio HMS Bounty com 46 pessoas a bordo e ordens para transportar mudas de fruta-pão do Taiti para as Índias Ocidentais. Construiu-se duas réplicas perfeitas do Bounty e dois meses levaram as filmagens nos Mares do Sul, com muitos prejuízos por causa do mau tempo. A produção de Irving Thalberg custou dois milhões de dólares, cifra bem elevada em tempo de Depressão e arrebatou o Oscar. Ao prêmio da Academia concorreram também Clark Gable, Charles Laughton, Franchot Tone, o compositor Herbert Stothart, os roteiristas Talbot Jennings, Jules Furthman e Carey Wilson e a montadora Margareth Booth. Laughton compôs um Capitão Bligh muito mais cruel que o verdadeiro, papel com o qual ficaria eternamente identificado.

Após terminar O Grande Motim, Lloyd retornou para a Fox (denominada 20th Century-Fox a partir de 1935,) a fim de fazer um último filme, Sob Duas Bandeiras, antes de se transferir para a Paramount, onde havia trabalhado nos anos 20. Os exteriores dessaaventura romântica na Legião Estrangeira, extraída do romance de Ouida – com Ronald Colman como o legionário disputado por Cigarette, a simples camponesa que acompanha a tropa (Claudette Colbert, substituindo Simone Simon) e pela aristocrática Lady Venetia (Rosalind Russell), e vem a ser alvo da inveja do enciumado comandante do forte, interpretado por Victor MacLaglen – foram rodados no deserto do Arizona. Otto Brower encarregou-se das cenas de batalha em locação, ficando Lloyd ocupado com as cenas mais íntimas, filmadas no estúdio. Darryl F. Zanuck interferiu arbitrariamente na montagem. Lloyd anunciou que nunca mais trabalharia na 20thCentury-Fox e cumpriu sua promessa. Frase de publicidade: “Um amor tão quente quanto as areias do Saara”.

Em Donzela de Salem, primeiro filme de Lloyd na Paramount (onde tinha a sua unidade de produção denominada Frank Lloyd Pictures), envolvendo fanatismo e superstição na Nova Inglaterra do século XVII, Claudette Colbert interpreta a jovem inocente acusada de feitiçaria; Fred MacMurray, o rebelde da Virginia, que a salva da fogueira após um julgamento de grande tensão; e Bonita Granville, a menina que motiva todo o conflito do filme, acusando a heroína falsamente. Filmado em estúdio no Paramount Ranch ao norte de Los Angeles e em locação em Santa Cruz, passando por uma velha aldeia de Salem em 1692. No primeiro script, cuidadosamente pesquisado por Lloyd e seus roteiristas, a personagem de Claudette Colbert morria na fogueira; mas Joseph Breen, o chefe da Production Code Administration, observou que, apesar da lenda, as feiticeiras em Salem eram enforcadas. Foi uma decepção para o diretor pois, pela primeira vez havia contratado formalmente o consultor técnico, Lance Baxter, que já havia feito pesquisa para ele informalmente na filmagem de Cavalcade e Sob Duas Bandeiras.

Joel McCrea e Frances Dee em Uma Nação em Marcha

Uma Nação em Marcha, mostra ficcionalmente a criação da Wells Fargo através da história do mensageiro Ramsay MacKay (Joel McCrea) e de sua esposa sulista, Justine (Frances Dee). Depois de passar por alguns dissabores como o de ter sido roubado quando transportava o dinheiro dos mineiros para San Francisco, Ramsay faz a firma prosperar mas, durante a Guerra Civil, suas carruagens são atacadas quando transportavam ouro para Washington. Ramsay encontra-se com o presidente Lincoln e concorda em apoiar a União, porém como o irmão mais novo de Justine foi morto lutando pelos Confederados, seu casamento é abalado. O filme é um pouco longo, mas cheio de ação.

Ronald Colman e Frances Dee em Se Eu Fôra Rei

Desprezando a exatidão histórica, o roteiro de Preston Sturges para Se Eu Fora Rei, enriqueceu com toques cômicos deliciosos a peça de Justin Huntly McCarthy, inspirada na figura de François Villon. Basil Rathbone foi indicado para o Oscar pela espirituosa composição do Rei Luís XI e Ronald Colman era mesmo o ator ideal para viver o personagem do poeta vagabundo da Idade Média, apaixonado pela dama Katherine de Vaucelles  (Frances Dee).

O enredo fictício de A Conquista do Atlântico– baseado na viagem verídica do SS Savannah em 1819 – descreve os esforços de um jovem marujo, David Gillespie (Douglas Fairbanks) e um mecânico visionário, John Shaw (o ator britânico Will Fyffe), para construir o primeiro navio a vapor a atravessar o Atlântico Norte de Liverpool para Nova York.   David fora imediato de um navio a vela comandado pelo brutal Capitão Oliver (George Bancroft), que naturalmente não fica contente em perder um bom imediato e ver a criação de um método de transporte rival. David namora Mary (Margaret Lockwood), filha de Shaw e o filme acompanha este romance e as tentativas e aflições de David e Shaw até que o navio chega a seu destino – mas infelizmente Shaw, ferido por uma explosão, morre, abençoando a união de David e Mary.

 Nos anos 40, Lloyd produziu e dirigiu Flama da Liberdade / The Howards of Virginia / 1940 na Columbia, com Cary Grant, Martha Scott, e voltou para a Universal, onde iniciara sua carreira em 1913, agora como produtor semi-independente à frente de sua Frank Lloyd Productions Pictures, Inc.  Na Universal, produziu e dirigiu Paixão e Vingança / The Lady From Cheyenne / 1941, com Loretta Young, Robert Preston e Esta Mulher me Pertence  / This Woman is Mine  / 1941, com Franchot Tone, John Carroll; e apenas produziu: Sabotador / Saboteur / 1942 de Alfred Hitchcock; A Indomável / The Spoilers / 1942 de Ray Enright; Espião Invisível / The Invisible Agent / 1942.

 

Flama da Liberdade conta a história de Matt Howard (Cary Grant), jovem fazendeiro dos meados do século XVIII, amigo de Thomas Jefferson (Richard Carlson), que se casa com Jane Peyton (Martha Scott), filha de uma família rica de Williamsburg, e depois, contra o desejo de sua esposa – cujo irmão (Cedric Hardwicke) é leal ao governo britânico -, se junta aos colonistas na luta revolucionária. A maioria dos pontos altos da Revolução Americana são recriados inclusive os tumultos causados pelo Stamp Act, o Boston Tea Party, e o discurso inflamatório  “Give me Liberty” de Patrick Henry.

Loretta Young e Robert Preston em Paixão e Vingança

Paixão e Vingança é um western feminista com uma história inventada sobre a adoção do voto feminino em 1869 no Território do Wyoming. O figurão Jim Cork (Edward Arnold) espera manipular a venda de lotes da cidade para obter mais poder, mas a professora Annie Morgan (Loretta Young) compra um dos melhores lotes, atrapalhando seu plano. O advogado de Cork, Steve Lewis (Robert Preston), resgata-a de um sequestro ordenado por Cork e tenta persuadí-la a abandonar a política, porém Annie, é dura na queda e, juntamente com outras mulheres, levam Cork ao tribunal e ainda conseguem convencer os legisladores a aprovar o sufrágio feminino.

Esta Mulher Me Pertence é uma aventura marítima passada em 1810, tendo como personagens centrais uma cantora, Julie Morgan (Carol Bruce) que, apaixonada por um caçador de peles canadense, Ovide (John Carroll), segue-o como clandestina em uma viagem no navio “Tonquin” para o Oregon, sem saber que se trata de uma expedição organizada por Robert Stevens (Franchot Tone), homem de confiança do investidor milionário John Jacob Astor. Quando é descoberta, o Capitão Thorne (Walter Brennan) não tem intenção de retornar ao cais, e assim começam a se desenrolar os acontecimentos, como a queda de Julie ao mar e seu salvamento por Ovide, ataque dos índios, explosão do “Tonquin”, dois homens a bordo cortejando a mesma mulher etc. O filme foi relançado em 1969 com o título de Fury at Sea.

Ao irromper o Segundo Conflito Mundial na Europa, a comunidade britânica em Hollywood se movimentou para levantar fundos para o British War Relief e o resultado foi Para Sempre e Um Dia / Forever and a Day / 1943, no qual um repórter americano, Gates Trimble Pomfret  (Kent Smith) quer vender a casa que pertence à sua família, mas a atual ocupante, Lesley Trimble (Ruth Warrick) pensa que esta deve ser preservada como um monumento àqueles que viveram ali. Ela lhe conta a história do prédio desde sua construção em 1804 até o presente. O filme termina com a casa sendo bombardeada pela blitz nazista, mas Gates e Lesley resolvem reconstruí-la.

Anna Neagle, Ray Milland e Claude Rains em Para Sempre e Um Dia

Produzido pela Anglo-American Film Co e distribuído pela RKO, com um elenco de dezenas de atores e atrizes na sua maioria de nacionalidade britânica (Victor MacLaglen, Ray Milland, Anna Neagle, Jessie Mathews, Claude Rains, Charles Laughton, Ida Lupino, Brian Aherne, Merle Oberon, Cedric Hardwicke, Nigel Bruce, Donald Crisp, Ian Hunter, June Duprez, Edmund Gwenn, Reginald Gardiner, Gene Lockhart, Roland Young, Robert Coote, Gladys Cooper, Dame May Witty, Richard Haydn, Elsa Lanchester) e alguns americanos (Buster Keaton, Robert Cummings, Kent Smith, Ruth Warrick etc.), vários roteiristas e sete diretores nascidos na Europa (Edmund Goulding, Cedric Hardwicke, Frank Lloyd, Victor Saville, Robert Stevenson, Herbert Wilcox, René Clair), Para Sempre e Um Diacomeçou a ser filmado em maio de 1941, antes de Pearl Harbor, e a contribuição de Frank Lloyd foi na direção  das cenas de abertura e encerramento  do espetáculo.

Em 1944, com o pôsto de major, Lloyd foi indicado para o comando da 13thAir Force Combat Camera Unit e nesta época dirigiu Air Pattern – Pacific, documentário de 42 minutos, distribuído pelo Office of War Information.  Em junho de 1944, ele foi condecorado com a Legion of Merit pelo presidente Roosevelt pelo seu trabalho em missões de fotografia de combate no Sul do Pacífico. Como civil, Lloyd retornou a Guam em 1945, para servir como coordenador de uma produção para o Army Air Corps de um short emTechnicolor de 35 minutos, The Last Bomb (mostrando vários bombardeios sobre Tóquio e terminando com a explosão causada pela bomba atômica), narrado por Reed Hadley e distribuído pela Warner Bros.

Silvia Sidney e James Cagney em Sangue Sob o Sol

No último filme de Lloyd na década de 40, Sangue Sobre o Sol / Blood on the Sun / 1945 (produzido pela William Cagney Productions), James Cagney, é Nick Condon, editor americano de um jornal de Tóquio nos anos 30 (e bom lutador de judô), que encontra um colega (Wallace Ford) morto logo depois de sua esposa, por ter obtido  uma informação sobre um plano militar japonês expansionista. Nick obtém a mesma informação e, com a ajuda de uma mestiça chamada Iris (Silvia Sidney), luta por sua sobrevivência e tenta levar a notícia para fora do país. O filme apresenta o estereotipo do japonês enganoso e risonho Na cena final do filme, em frente aos portões da Embaixada Americana, Nick é confrontado pelos seus perseguidores. Os japoneses verificam que ele não tem o documento que estão procurando, e tentam se fazer de bonzinhos. “Vocês têm um ditado, perdoa seus inimigos”, diz um japonês sorridente. “Certo, perdoa seus inimigos, mas antes faça com ele o que ele quis fazer com você”, responde Nick.

Cena de A Última Barricada

Lloyd só voltou a filmar, após a morte de sua esposa Alma, em 16 de março de 1952. Em vez de ficar gozando a aposentadoria em seu rancho, ele se consolou, assinando um contrato de dois anos com a Republic, onde fez seus derradeiros filmes, Xangai,  Cidade Maldita / The Shanghai Story / 1954, drama de espionagem passado em Shanghai após a tomada comunista da China com Ruth Roman e Edmond O’Brien, e A Última Barricada  / The Last Command / 1955, filmado em Trucolor, focalizando Jim Bowie (Sterling Hayden) e a secessão do Texas do Mexico, que levou ao episódio histórico do Alamo. Tal como já vinha acontecendo inúmeras vezes com os filmes de Lloyd, as cenas de ação foram assinadas por outros, neste caso, pelo diretor veterano da Republic, William Witney.

Em 1954, Lloyd casou-se com a roteirista divorciada, Virginia Kellog, quase vinte anos mais moça do que ele. Virginia fora indicada duas vezes para o Oscar por Fúria Sanguinária / White Heat/ 1949 e À Margem da Vida / Caged / 1950. Não somente Llloyd decidiu se afastar definitivamente da direção, mas também sua esposa anunciou que estava abrindo mão de sua carreira para ser apenas Mrs. Frank Lloyd.

HOMENAGEM AO CAMONDONGO MICKEY

novembro 19, 2018

Nas comemorações dos 90 anos de Mickey Mouse eu não podia deixar de homenageá-lo, pelo prazer que deu a milhões de crianças e adultos de várias gerações, especialmente durante seu percurso cinematográfico, quando se expandiu sua imensa popularidade.

Walt Disney com Mickey

Personagem a partir do qual se construiu o mundo de sonho de Walt Disney e o seu império industrial, o “camondongo da fuzarca” é provavelmente a imagem mais difundida no mundo, transformando-se em um ícone universal. Embora atacado como símbolo do capitalismo americano, Mickey encantou e continua encantando pessoas de todas as nacionalidades com sua imagem doce e honesta e suas aventuras, primeiro transmitidas no cinema e depois transportadas para tiras de jornais, revistas de quadrinhos, livros infantis, televisão e outros meios de comunicação e diversão.

Nos quadrinhos, o personagem apareceu pela primeira vez no Brasil no Tico-Tico, com o título de Aventuras do Ratinho Curioso, aparecendo depois v. g., na Gazetinha, Suplemento Juvenil, Mirim, O Lobinho, Guri, Gibi, Albuns das Edições Melhoramentos, Seleções Coloridas da EBAL, e em revista própria da Editora Abril. A partir de julho 1942, O Suplemento Juvenil, O Mirim e O Lobinho patrocinaram todos os filmes da Walt Disney exibidos no Cineac-Trianon do Rio de Janeiro, colaboração eficiente entre aquele cinema de filmes curtos tão a gôsto da meninada e as três revistas que lideravam a imprensa infantil.

Nos cinemas, os desenhos curtos de Mickey Mouse foram distribuídos nos Estados Unidos primeiramente por Pat Powers (Patrick A. Powers, Celebrity Pictures) e depois sucessivamente pela Columbia (a partir de fevereiro de 1930), United Artists (a partir de dezembro de 1930) e RKO (de março de 1936 a setembro de 1954). No Brasil, a United Artists abriu seu escritório no Rio de Janeiro em 1926 e, a partir de março de 1933, passou a distribuir seus filmes, juntamente com os da Columbia e os da British Dominium, incluídos entre eles os desenhos curtos do Mickey, as Sinfonias Singulares  / Silly Symphonies, O Gato Estopim (Krazy Kat) e Scrappy (Chiquinho).

O Cinema Glória na Cinelândia, escolhido para iniciar a exibição dessa produção tornou-se logo conhecido como “A Casa do Camondongo Mickey” (e a cabine de projeção particular da UA era chamada de “O Buraco do Camondongo Mickey”). Em 9 de março de 1933, foi apresentado o seguinte programa: um número do “Jornal Paramount” / Paramount News; Camondongo Mickey em Sonho de Rato; Douglas Fairbanks, Maria Alba e William Farnum em Robinson Crusoe Moderno / Mr. Robinson Crusoe / 1932. Na entrada, o público recebia o primeiro exemplar do programa do Glória, em cujas páginas se encontrava a colaboração do escritor e jornalista maranhense, membro da Academia de Letras, Humberto de Campos

O Glória mantinha matinées oferecendo para a meninada um seriado, um filme de cowboy, além dos desenhos animados, que podiam ser os do camondongo Mickey ou as Sinfonias Singulares. Depois passou a promover também uma Sessão Camondongo Mickey aos domingos às 10 horas da manhã com preços reduzidos para a criançada.

Quando os desenhos de Mickey passaram a ser distribuídos pela RKO, eles foram lançados no Cinema Rex. Inaugurado em  22 de dezembro de 1938, o Cineac Trianon fechou contrato com a RKO-Radio para a exibição dos desenhos de Walt Disney. Posteriormente, o Gloria mostrou também desenhos do Popeye (no início conhecido como Marinheiro MataSete), distribuídos pela Paramount. Após o fim do contrato com a RKO, os filmes de Disney foram distribuídos pela Buena Vista Film Distribution Company, fundada em 1953.

 

Nos anos 30 foram realizados 91 desenhos curtos de Mickey, mas nos anos 40 a produção decresceu para somente 10 desenhos e terminaria nos anos 50 com apenas 3 filmes. Após 1940, a popularidade de Mickey diminuiu devido à concorrência do Pato Donald, do Pateta e do Pluto (antigamente chamado de Plutão, vulgo Topa Tudo), e também porque o camondongo calmo e sensível não se prestava para os desenhos feitos para o esforço de guerra – os outros três eram mais enfezados e temperamentais e portanto propícios para lutar contra as fôrças do Eixo. Conforme informação colhida no livro Doing Their Bit – Wartime American Animated Short Films 1939-1945 de Michael S. Shull e David E. Wit (McFarland, 2004), Mickey não estrelou nenhum “desenho de guerra” enquanto o Pato Donald surgiu em 15 desenhos, O Pateta em 3, e Pluto em 6 desenhos, “servindo ao seu país e fazendo a sua parte”.

Durante a Segunda Guerra Mundial, ambas as partes beligerantes tomaram precauções contra um eventual ataque químico. Nos Estados Unidos, Disney e a fábrica Sun Rubber Company criaram uma máscara anti-gás com a cara deu camondongo Mickey, para tentar tornar menos aterradora para as crianças a situação de ter que usá-la.

Embora o estrelato fílmico de Mickey estivesse em declínio nos anos 50, o personagem era muito reconhecível e amado para desaparecer da cultura popular e ele acabou reaparecendo na televisão, cujo advento aliás contribuiu para o desaparecimento  da exibição de desenhos animados curtos nas salas de cinema. Assim, as novas gerações puderam rever os cartoons do camondongo famoso em programas como O Clube do Mickey e Disneylândia.

Termino com uma curiosidade: em abril de 1936, a companhia de revistas do Teatro Recreio apresentou “Aleluia” de Joracy Camargo – o conhecido autor de “Deus lhe Pague”, um dos maiores sucessos de Procópio Ferreira – , que apresentava um quadro intitulado “Desenhos Animados” com Aracy Côrtes como Betty Boop, Oscarito como o Marinheiro Popeye, Willy Thompson como Al Jolson, Janot e Lou como Frankenstein e sua noiva e Eva Todor (ainda bem mocinha) no papel do Camondongo Mickey.

Como os dados biográficos desse ratinho fôfo com cara de menino são bastante conhecidos – tudo já foi dito sobre Walt Disney e seus filmes – tive dificuldade em encontrar algo inédito para brindar o aniversário do simpático roedor hollywoodiano e acabei optando por uma filmografia dos seus desenhos de curta-metragem exibidos comercialmente nos cinemas com os títulos em português corretos.

Trata-se de uma pesquisa dificíl, porque quando os jornais da época do lançamento dos filmes os indicavam, não davam o título original correspondente. Para dificultar a pesquisa, muitos dos que escrevem sobre Walt Disney no Brasil costumam traduzir ao pé da letra os títulos originais dos desenhos curtos (muitas vezes sem alusão a esse detalhe, v. g. Plane Crazy traduzido por Avião MalucoSteamboat Willie traduzido como O Vapor Willie; Barn Dance traduzido por A Dança do Celeiro) ou usar títulos em português de desenhos criados para a televisão, video cassetes ougames, dando a impressão de que certos filmes foram exibidos nas telas dos cinemas brasileiros, quando não foram.

F I L M O G R A F I A:

1928 -1929

Plane Crazy

Steamboat Willie

Gallopin’ Gaucho

The Barn Dance

The Opry House

When the Cat’s Away

The Plow Boy

The Barnyard Battle

The Karnival Kid

Mickey’s Follies

Mickey’s Choo- Choo

The Jazz Fool

Jungle Rhythm

The Hounted House

Wild Waves

1930

Just Mickey ou Fiddlin’Around

The Barnyard Concert

The Cactus Kid

The Fire Fighters

The Shindig

The Chain Gang

The Gorilla Mystery

The Picnic

Pioneer Days

1931

The Birthday Party / Dia de Aniversário

Traffic Troubles / Contra-Mão

The Castaway / Ninguém Me Quer

The Moose Hunt / Caçador Corajoso

The Delivery Boy / O Mensageiro

Mickey Steps Out / Mickey Sai do Sério

Blue Rhythm

Fishin’Around / Pescador Amador

The Barnyard Broadcast / Estação Irradiadora

The Beach Party / Festa Balneária

Mickey Cuts Up / Bancando o Sabido

Mickeys’ Orphans / Mickey, Pai de Órfãos (indicado ao Oscar)

1932

The Duck Hunt / Pato do Mato

The Grocery Boy / Secos e Molhados

The Mad Dog / Cachorro Louco

Barnyard Olympics / Olimpíadas Animadas

Mickey’s Revue / Revista de Mickey

Musical Farmer / Diga Isso Cantando

Mickey in Arabia / Mickey na Arábia

Mickey’s Nightmare / Sonho de Rato

Trader Mickey / Mickey, o Mercador

The Whoopee Party / Na Gandaia

Touchdown Mickey / Turuna do Football

The Wayward Canary / O Camondongo e o Canário

The Klondike Kid  / Tirando a Laska

Mickey’s Good Deed / Ato de Bondade

1933

Building a Building / Arranhando o Céu (Indicado ao Oscar).

The Mad Doctor / Médico Maníaco

Mickey’s Pal Pluto / Anjo Camarada

Mickey’s Mellerdramer / Melodrama de Mickey (paródia de “A Cabana do Pai Tomás com Mickey em papel duplo como Uncle Tom e Topsy, Minnie Mouse como Eva, Clarabelle Cow / Clarabela como Eliza, Horace Horsecollar / Horácio como Simon Legree)

Ye Olden Days / Nos Bons Tempos

The Mail Pilot / O Piloto do Correio Aéreo

Mickey’s Mechanical Man / O Autômato de Mickey

Mickey’s Gala Premiere/ A Grande Estréia

Puppy Love / Na Quadra Azul dos Amores

The Steeple-Chase / Salto e Galope

The Pet Store / Bichos de Estimação

Giant Land / O Castelo do Gigante

1934

Shanghaied / Marujo à Muque ou Marinheiro a Muque

Camping Out / Caçador de Mosquitos

Playful Pluto / Cão Brincalhão

Gulliver Mickey / A Ilha dos Liliputianos

Mickey’s Steamroller / O Compressor

Orphan’s Benefit/ Espetáculo de Benefício

Mickey Plays Papa / Camondongo Mickey Banca o Papai

The Dog-Napper / Cachorro Roubado

Two-Gun Mickey / Mickey Não Erra Tiro

1935

Mickey’s Man Friday / A Sexta-Feira de Mickey

The Band Concert / A Banda do Barulho (primeiro desenho de Mickey colorido)

Mickey’s Service Station / Autosocorro de Mickey

Mickey’s Kangaroo / Cangurú a Muque

Mickey’s Garden / O Jardim de Mickey

Mickey’s Fire Brigade / Bombeiro de Mickey

Pluto’s Judgement Day/ O Dia do Juízo de Pluto

On Ice / Pato Gelado

1936

Mickey’s Polo Team /O Campeão de Polo

Orphan’s Picnic / Piquenique dos Orfãos

Mickey’s Grand Opera / Ópera de Mickey

Thru The Mirror / Através do Espelho

Mickey’s Rival / O Rival de Mickey

Moving Day / O Dia de Mudança

Alpine Climbers / O Alpinista

Mickey’s Circus / O Circo de Mickey

Donald and Pluto / Donald e Pluto

Mickey’s Elephant / O Elefante de Mickey

The Worm Turns / Os Vermes Se Vingam

Don Donald / Don Donald

Magician Mickey / Mickey Mágico

Moose Hunters / Valentes Caçadores

Mickey’s Amateurs / A Troupe de Mickey

Modern Inventions / Invenções Modernas

Hawaiian Holiday / Férias do Hawaii

Clock Cleaners / Na Hora da Limpeza

Lonesome Ghosts / Fantasmas na Solidão

1938

Boat Builders  / Engenheiros Desastrados

Mickey’s Trailer / O Trailer de Mickey

The Whalers

Mickey’s Parrot / Papagaio Malandro

The Brave Little Tailor (Indicado ao Oscar)

1939

Society Dog Show /

The Pointer / O Perdigueiro (Indicado ao Oscar)

1940

Tugboat Mickey / Rebocador de Mickey

Mr. Mouse Takes a Trip / O Sr. Camundongo de Viagem

1941

The Little Whirlwind / O Pequeno Furacão

The Nifty Nineties / Tempos Alegres

Orphan’s Benefit / Benefício de Órfãos

1942

Mickey’s Birthday Party / O Aniversário de Mickey

Symphony Hour / Hora Sinfônica

1947

Mickey’s Delayed Date

1948

Mickey Down Under / Aventura na Austrália

Mickey and the Seal

1951

R’coon Dawg

1952

Pluto’s Christmas Tree

1953

The Simple Things


Como complemento deste artigo, sugiro uma visita aos meus posts: A Época Clássica do Desenho Animado Americano (24/9/2010); Trajetória de Walt Disney no Desenho Animado (10/12/2011); Desenhos Animados de Propaganda durante a Segunda Guerra Mundial (10/12/2011).

AS WAMPAS BABY STARS

novembro 7, 2018

De 1922 a 1934, a Wampas (The Western Association of Motion Picture Advertisers), associação de encarregados da publicidade das grandes companhias de cinema americanas, selecionava anualmente 13 “estrelinhas” promissoras sob contrato com os estúdios e que, mais tarde, poderiam ou não transformarem-se em grandes “estrelas”. Eles as lançavam com muita divulgação e as felizardas escolhidas eram apresentadas formalmente em uma festa de debutante, conhecida como “Wampas Frolic”, evento coberto pela mídia, tal como a cerimônia do Oscar hoje em dia.

Na lista de vencedoras estiveram nomes famosos de Hollywood como Bessie Love, Colleen Moore, Eleanor Boardman, Evelyn Brent, Laura La Plante, Clara Bow, Dolores Costello, Dolores Del Rio, Joan Crawford, Fay Wray, Janet Gaynor, Mary Astor, Joan Blondell, Loretta Young, Ginger Rogers, Jean Arthur, Anita Page, Frances Dee, Joan Blondell.

Jacqueline Logan em O Rei dos Reis

Lon Chaney e Mary Philbin em O Fantasma da Ópera

Julanne Johnston e Douglas Fairbanks em O Ladrão de Bagdad

Outras, apesar de não terem sido grandes estrelas, marcaram sua presença na tela em um determinado papel (v. g. Jacqueline Logan como Maria Madalena em O Rei dos Reis / The King of Kings / 1927 de Cecil B. DeMille; Lila Lee como Carmen em Sangue e Areia / Blood and Sand / 1922, com Rudolph Valentino; Patsy Ruth Miller como Esmeralda em O Corcunda de Notre Dame / The Hunchback of Notre Dame / 1923, com Lon Chaney; Mary Philbin como Christine em O Fantasma da Ópera / Phantom of the Opera / 1925, também com Lon Chaney;  Julanne Johnston como a Princesa em O Ladrão de Bagdad / The Thief of Bagdah / 1924, com Douglas Fairbanks; Olive Borden como Lee Carlton em Três Homens Maus / Three Bad Men / 1926, de John Ford;

Mary Brian e Betty Bronson em Peter Pan

Harold Lloyd e Jobyna Ralston

Mary Brian como Wendy em Peter Pan / Peter Pan / 1924 de Herbert Brennon) ou em mais de um (v. g. Louise Lorraine em vários seriados mudos; Kathryn McGuire em dois filmes de Buster Keaton, Marinheiro por Descuido / The Navigator e Bancando o Águia / Sherlock Jr, ambos de 1924; Jobyna Ralston em sete comédias com Harold Lloyd; Marceline Day como Charlotte de Vauxelles em Amor de Boêmio / The Beloved Rogue / 1927, com John Barrymore e Vampiros da Meia-Noite / London After Midnight  / 1927 como Lucille, com Lon Chaney;

Fredric March e Rochelle Hudson em Os Miseráveis

Rochelle Hudson e Claudete Colbert em Imitação da Vida

James Cagney e Anita Louise em Sonho de Uma Noite de Verão

Anita Louise em Maria Antonieta

Paul Muni e Anita Louise em A História de Louis Pasteur

Rochelle Hudson como Jessie, a filha de Claudette Colbert em Imitação da Vida  / Imitation of Life / 1934 e como Cosette em Os Miseráveis / Les Miserables / 1935; Anita Louise como Titania em Sonho de Uma Noite de Verão / A Midsummer Night’s Dream / 1935, como Maria em Adversidade / Anthony Adverse / 1936, como Annette Pasteur em  História de Louis Pasteur/ The Story of Louis Pasteur / 1936, como a Princesa de Lamballe em Maria Antonieta / Marie Antoinette / 1938;  Karen Morley como Sonia em Arsène Lupin / Arsene Lupin / 1932, com John e Lionel Barrymore, como Poppy em A Vergonha de uma Nação / Scarface / 1932, como Anna Novak em Inferno Negro / Black Fury / 1935, ambos com Paul Muni, e  como Mary Sims em O Pão Nosso OurDaily Bread / 1934  de King Vidor; Gloria Stuart como Flora, a noiva do Dr. Griffin (Claude Rains) em O Homem Invisivel / The Invisible Man / 1933, como “Dotty”, em Aí Vem a Marinha / Here Comes the Navy / 1934, com James Cagney e Pat O’Brien e, muitos anos depois, indicada como Melhor Atriz Coadujvante por sua atuação como Old Rose em Titanic / Titanic / 1997.

Wampas Baby Stars 1922-1934

1922: Maryon Aye, Helen Ferguson, Lila Lee, Jacqueline Logan, Louise Lorraine, Bessie Love, Kathryn McGuire, Patsy Ruth Miller, Colleen Moore, Mary Philbin, Pauline Starke, Lois Wilson, Claire Windsor.

Wampas Baby Stars 1922

Foi feito um short de 6 min. com as Wampas Baby Stars de 1922.

1923: Eleanor Boardman, Evelyn Brent, Dorothy Devore, Virginia Browne Faire, Betty Francisco, Pauline Garon, Kathleen Key, Laura La Plante, Margaret Leahy, Helen Lynch, Derelys Perdue, Jobyna Ralston, Ethel Shannon.

Evelyn Brent

1924: Clara Bow, Elinor Fair, Carmelita Geraghty, Gloria Grey, Ruth Hiatt, Julanne Johnston, Hazel Keener (Barbara Worth), Dorothy Mackaill, Blanche Mehaffey (Joan Alden, Janet Morgan), Margaret Morris, Marian Nixon, Lucille Ricksen, Alberta Vaughn.

Clara Boa em primeiro plano

1925: Betty Arlen, Violet Avon (Violet La Plante), Olive Borden, Anne Cornwall, Ena Gregory (Marian Douglas), Madeline Hurlock, Natalie Joyce, June Marlowe, Joan Meredith (Catherine Jelks), Evelyn Pierce, Dorothy Revier, Duane Thompson, Lola Todd.

Olive Borden

1926: Mary Astor, Mary Brian, Joyce Compton, Dolores Costello, Joan Crawford, Marceline Day, Dolores Del Rio, Janet Gaynor, Sally Long, Edna Marion, Sally O’ Neil,Vera Reynolds, Fay Wray.

Foi feito um short de 6 min. com as Wampas Baby Stars de 1926.

1927: Patricia Avery, Rita Carewe, Helene Costello, Barbara Kent,  Anita Page, Natalie Kingston, Frances Lee, Mary McAllister, Gladys McConnell, Sally Phipps, Sally Rand, Martha Sleeper, Iris Stuart, Adamae Vaughn.

Anita Page

1928: Lina Basquette, Flora Bromley, Sue Carol, Ann Christy, June Collyer, Alice Day, Sally Eilers, Audrey Ferris, Dorothy Gulliver, Gwen Lee, Molly O’Day, Ruth Taylor, Lupe Velez.

Wampas Baby Stars 1928

1929: Jean Arthur, Sally Blane, Betty Boyd, Ethlyne Clair, Doris Dawson, Josephine Dunn, Helene Foster, Doris Hill, Caryl Lincoln, Anita Page, Mona Rico, Helen Twelvetrees, Loretta Young.

1930: Por causa da mudança drástica do cinema silencioso para o falado e do país em choque diante do desastre de Wall Street, a Wampas eliminou sua seleção anual.

1931: Joan Blondell, Constance Cummings, Frances Dade, Frances Dee, Sidney Fox, Rochelle Hudson, Anita Louise, Joan Marsh, Marian Marsh, Karen Morley, Marion Shilling, Barbara Weeks, Judith Wood (Helen Johnson).

Joan Blondell

1932: Lona Andre, Lillian Bond, Mary Carlisle, June Clyde, Patricia Ellis, Ruth Hall, Eleanor Holm, Evalyn Knapp, Dorothy Layton, Boots Mallory, Toshia Mori, Ginger Rogers, Marian Shockley, Gloria Stuart, Dorothy Wilson.

Mary Carlisle

Devido aos empates, a Wampas apresentou mais de 13 “Babies” neste ano. Uma delas, Lillian Miles, deixou de comparecer e foi desqualificada tendo sido substituída pela japonesa Toshia Mori, a única asiática selecionada como Wampas Baby Star, o que lhe proporcionou o papel mais significativo de sua carreira  em  O Último Chá do General Yen / The Bitter Tea of General Yen / 1922 (Dir: Frank Capra), que estava de início reservado para Anna May Wong.

Toshia Mori

1933: Oficialmente, a seleção da Wampas foi cancelada devido à Depressão mas, não oficialmente, o motivo foi a pressão das majors, preocupadas com o excesso de controle da associação sobre suas estrelas.

1934: Judith Arlen, Betty Bryson, Jean Carmen (Julia Thayer), Helen Cohan, Dorothy Drake, Jean Gale, Hazel Hayes, Ann Hovey, Lucille Lund, Lu Anne Meredith, Gigi Parrish, Jacqueline Wells (Diane Duval, Julie Bishop), Katherine Williams, Mary Kormman, Dorothy Granger, Lenore Keefe, Naomi Judge e IreneWare.

Neste ano derradeiro de sua existência, a Wampas decidiu dar oportunidade também para atrizes freelance aspirantes ao estrelato. As vencedoras, nenhuma das quais obteve proeminência na indústria, apareceram em dois filmes, O Templo da Beleza / Kiss and Make Up / 1934 da Paramount (Dir: Harlan Thompson, com Cary Grant, Genevieve Tobin, Helen Mack e Jovens e Formosas / Young and Beautiful / 1934 da Mascot (Dir: Joseph Santley, com William Haines, Judith Allen).

No primeiro filme, o Temple de la Beauté do Dr. Maurice Lamar (Cary Grant) em Paris atrai mulheres de todas as partes do mundo. Uma das criações mais estimadas do Dr. Lamar é Eve Caron (Genevieve Tobin), que ele transformou em uma perfeição visual. Entretanto, o marido de Eve, Marcel (Edward Everett Horton), está furioso com Lamar por ter mudado a aparência de sua esposa. Eve (Helen Mack), a  secretária de Lamar, forma o quarteto  dessa comédia romântica que poderia ser melhor se houvesse  Lubitsch na direção. Um jornal carioca da época do lançamento do filme no Brasil, definiu assim as Baby Wampas Stars de 1934: “um rancho de pequenas que fariam perder o juízo a Santo Antonio”.

No segundo filme, o assessor de imprensa Bob Preston (William Haines), da Superba Pictures, convence seu patrão a contratar sua namorada June Dale (Judith Allen),  aspirante a atriz; porém a pressão intensa dos lances mirabolantes de publicidade criados por Bob, faz com que ela sinta o desejo de desfrutar das alegrias simples de uma pacata vida de casada.  Quando June começa a suspeitar de que Bob está mais interessado no êxito de suas campanhas publicitárias do que nela, briga com ele, e sai com um rico admirador, Gordon Douglas (John Miljan), provocando ciúme no namorado. Depois de alguns incidentes turbulentos, Bob e June compreendem que foram feitos um para o outro. Tais acontecimentos propulsionam essa comédia romântica modesta, que oferece alguns bons momentos cômicos, a música da orquestra de Ted Fio Rito, uma festa muito interessante, onde aparecem dançarinos mascarados usando roupas que caracterizam alguns artistas famosos de Hollywood (John Barrymore, Clark Gable, Wallace Beery, Maurice Chevalier, Stan Laurel e Oliver Hardy, George Arliss, Buster Keaton, Jimmy Durante, Joe E. Brown, Charles Chaplin, Eddie Cantor, Adolphe Menjou), a presença do sempre hilariante  Franklin Pangborn e, é claro, o desfile das meninas da Wampas. Haines, destituído da MGM, da qual fôra um dos maiores top money making stars, ainda estava em boa forma no seu fim de carreira na Mascot da Poverty Row.

Judith Allen

Ainda em 1934, a Paramount nomeou suas próprias seis “protegidas”: Evelyn Venable, Frances Drake, Dorothy Dell, Helen Mack, Elizabeth Young e Ida Lupino. A Fox fez o mesmo, apontando suas “debutantes”: Pat Patterson, Drue Leyton, Alice Faye, Claire Trevor, Rosemary Ames. As “Paramount Protegees of 1935” foram: Wendy Barrie, Grace Bradley (Boyd), Katherine DeMille, Gertrude Michael, Gail Patrick, Ann Sheridan. Em 1936, surgiram as “Flash Lighter Starlets” (Helen Burgess, Frances Gifford, Kay Hughes, Janice Jarrett, Rosina Lawerence, Joan Perry, Cecilia Parker, Barbara Pepper, June Travis, Helen Wood). Em 1938, as companhias de cinema selecionaram suas “Lucky 13” starlets: Mary Maguire, Jane Bryan, Mary Russell, Jacqueline Wells (depois conhecida como Julie Bishop), Phyllis Brooks, Betty Jaynes, Helen Troy, Olympe Bradna, Barbara Read, Joan Woodbury, Sigrid Curie, Franciska Gaal e Margaret Tallichet. Em 1940, a Motion Picture Publicists Association escolheu 13 “Baby Stars”: Ella Bryan, Lucia Carroll, Peggy Diggins, Lorraine Elliott, Jayne Hazard, Joan Leslie, Kay Leslie, Marilyn (Lynn) Merrick, Gay Parkes, Lois Ranson, Sheila Ryan, Patricia Van Cleve, Tanya Widrin.

Paramount Protegees of 1935

Em 1956, um grupo de artistas sob a liderança da ex-Wampas Ginger Rogers selecionou 15 moças bonitas, supostamente para serem conhecidas como “The Wampas Baby Stars” mas, como não havia mais a Western Association of Motion Picture Advertisers, a idéia malogrou. Porém a seleção aconteceu, tendo sido escolhidas: Phyllis Applegate, Roxanne Arlen, Jolene, Fay Spain, Brand, Donna Cooke, Barbara Hoffman (Eden), Jewell Lain, Barbara Marx, Lita Milan, Norma Nilsson, Ina Poindexter, Violet Rensin, Dawn Richard e Delfin (ou Del-Fin) Thursday.

Barbara Eden

Dessas  quinze, as mais conhecidas foram Barbara Eden, como Jeannie na série de TV, Jeannie é um Gênio/ I Dream of Jenniee ao lado de Elvys Presley em Estrela de Fogo / Flaming Star / 1960, de Don Siegel; Barbara Marx, como esposa de “Zeppo” Marx e depois de Frank Sinatra; Lita Millan, por seu papel em A Vida de um Gângster / I Mobster / 1959  de Roger Corman; e Fay Spain, como a Rainha Antinea de Atlantis em Hércules na Conquista da Atlântida / 1961 / Ercole alla Conquista di Atlantide / 1961, de Vittorio Cottafavi. As demais, não pontuaram, como se diz nas pesquisas eleitorais.

VINCENT SHERMAN

outubro 25, 2018

Ele era um exemplo típico de “diretor de estúdio”, artesão competente e cuidadoso, realizador de um punhado de obras de qualidade e lembrado particularmente pelos filmes que fez nos anos quarenta na Warner Bros. onde, por causa de sua habilidade para orientar os melodramas do estúdio, se tornou o diretor favorito de estrelas como Bette Davis, Joan Crawford, Ann Sheridan e Ida Lupino.

Vincent Sherman

Vincent Sherman (1906 – 2006), cujo verdadeiro nome é Abraham Orovitz (na verdade Horovitz, mas seu pai tirou o H “para americanizá-lo”), nasceu em Vienna, Georgia. Estudou na Oglethorpe University em Atlanta e, quando sua família se mudou para esta cidade, ele arranjou um emprego na Enterprise Distributing Company como vendedor de westernsmudos de Buddy Roosevelt e Buffalo Bill Jr., filmes de ação com Reed Howes e alguns filmes “de sociedade”, como eram chamados aqueles nos quais os homens apareciam de terno e as mulheres com vestidos e todos ficavam parados mais ou menos no mesmo lugar e falavam por intertítulos – porque o som ainda não havia sido inventado (cf. Studio Affairs – My Life as a Film Director Vincent Sherman, University of Kentucky,1996).

Passado algum tempo, Abraham trabalhou como repórter policial no Atlanta Journal e se matriculou na Faculdade de Direito da cidade; porém acabou se convencendo de que seu destino era o teatro, e partiu para Nova York, onde viviam alguns parentes, na companhia de James Larwood, seu colega na Oglethorpe University, com o qual havia escrito uma peça intitulada “The Steeple”.

James arrumou um lugar em um jornal e Abraham procurou um agente ou produtor que o ajudasse a se tornar ator. O recepcionista do escritório do agente Chamberlain Brown lhe perguntou como se chamava e ele respondeu: “Abe Orovitz”. “Não vai dar, ninguém conseguirá pronunciá-lo e muito menos soletrá-lo. Vamos conseguir algo mais simples. Como é o nome de solteira de sua mãe?”. Abe falou: “Schurman or Sheerman, não tenho certeza”.  O recepcionista pensou em voz alta: “Sherman, nada mau, Qual é o primeiro nome do seu pai?”. Abe disse: “Harry”. “Este é um nome muito comum. Qual o primeiro nome de sua mãe?”. A resposta foi: “Vinnie”. O recepcionista repetiu o nome várias vezes. “Vinnie, Vinnie, Vincent. … e concluiu: “Tudo bem, garoto. Este será o seu nome daqui em diante – Vincent Sherman. Volte amanhã e eu vou tentar marcar uma entrevista com Mr. Brown”. No dia seguinte, Sherman se encontrou com um ator que ele conhecera e lhe contou o que aconteceu. “Boa sorte”, ele lhe desejou, sorrindo. “Mas cuidado. Mr. Brown é bicha”. Espantado, Abe achou que era melhor ficar longe do escritório de Brown, e nunca mais voltou (cf. Studio Affairs).

Depois de muitas tentativas frustradas, Sherman finalmente atuou como figurante no Theatre Guild na peça “Marco Millions” de Eugene O’Neill, estrelada por Alfred Lunt no papel de Marco Polo e dirigida por Rouben Mamoulian e depois em “Volpone”, na versão de Stefan Zweig da peça de Ben Johnson, na qual Lunt fazia o papel de Mosca. Subsequentemente, Sherman foi contratado para estudar o papel de alguns atores para substituí-los em caso de necessidade, chegando a interpretar os pequenos papéis para os quais se preparara.

Vincent Sherman e John Barrymore em O Conselheiro

Após mais alguma atividade nos palcos – entre elas, como um rapaz judeu pobre que, espancado pela polícia e preso por fazer discursos comunistas, é defendido por um  advogado também judeu (Otto Kruger) na peça de Elmer Rice “Counsellor at Law” -, Sherman foi convidado para repetir o mesmo papel na versão cinematográfica (aqui intituladaO Conselheiro), personificando o advogado (que Paul Muni também interpretara no teatro).

No ano seguinte, Sherman apareceu em  filmes B da Columbia – Asas da Velocidade / Speed Wings / 1934 (Dir: Otto Brower com Tim McCoy); Detetive Invisível / Hell Bent for Love/ 1934 também conhecido como Highway Patrol (Dir: D. Ross Lederman com Tim McCoy); Girl in Danger / 1934 (Dir: D. Ross Lederman com Ralph Bellamy); O Crime de Helen Stanley / The Crime of Helen Stanley / 1934 (D. Ross Lederman com Ralph Bellamy); One is Guilty / 1934 (Dir: Lambert Hillyer com Ralph Bellamy), estes três últimos da série Inspector Trent – e da Warner (Alibi da Meia-Noite / Midnight Alibi / 1934 (Dir: Alan Crosland com Richard Barthelmess);  O Caso do Cão Uivador / Case of the Howling Dog/ 1934 (Dir: Alan Crosland com Warren William).

Entre 1935 e 1938, Sherman atuou em / ou dirigiu as peças: “Judgement Day”, “Volpone”, “Sailors of Catarro”, “Black Pit”, “Waiting for Lefty”, “Battle Hymn”, Bitter Stream”, “It Can’t Happen Here”, “Dead End” e outras. Em 1938, convidado por Bryan Foy, chefe do departamento de filmes  classe B da Warner, ele escreveu scripts para alguns filmes: No Limiar do Crime / Crime School (Dir: Lewis Seiler com Humphrey Bogart e os Dead End Kids); Filhos Sem Lar / My Bill (Dir: John Farrow com Kay Francis); Coração do Norte / Heart of the North (Dir: Lewis Seiler com Dick Foran); Contra a Lei / King of the Underworld (Dir: Lewis Seiler com Humphrey Bogart e Kay Francis); O Orgulho do Turfe  / Pride of the Blue Grass (Dir: William McGann com Edith Fellows); e finalmente assumiu a direção de A Volta do Dr. X / The Return of Dr. X. / 1939.

 

Neste filme de horror / ficção científica, Humphrey Bogart, ainda no início de carreira, interpreta o papel de um criminoso que morreu na cadeira elétrica e, ressuscitado por um cientista, necessita de sangue humano fresco para continuar sua ressurreição. Sherman ainda não dominava a técnica (não conhecia nada de lentes, ângulos, cortes) mas, com a ajuda do fotógrafo Syd Hickox, foi em frente, e fez um trabalho que agradou ao público e ao seu patrão, Jack Warner.

Graças aos irmãos gêmeos roteiristas Julius e Philip Epstein, que o indicaram para substituir Anatole Litvak na direção da comédia-dramática Desafio ao Destino/ Saturday’s Children / 1940 – baseada em uma peça de Maxwell Anderson sobre uma moça (Ann Shirley) que se casa com um inventor cheio de sonhos (John Garfield) e os dois enfrentam uma vida de privações econômicas -, Sherman obteve mais um sucesso de público e elogio dos patrões.

Porém Brian Foy não tinha a intenção de abrir mão dele e o trouxe de volta para o departamento B, onde ele fez: O Homem Que Falou Demais/ The Man Who Talked Too Much / 1940, drama de tribunal no qual um promotor (George Brent) que renunciou ao seu cargo por ter enviado um inocente para a cadeia, envolve-se com um gangster (Richard Barthelmess) e depois se volta contra ele para defender seu irmão  (William Lindigan); Fugindo ao Destino/ Flight from Destiny/ 1941, drama criminal no qual um professor de filosofia (Thomas Mitchell), ao saber que só tem seis meses de vida, comete um assassinato, para ajudar dois jovens amantes (Geraldine Fitzgerald, Jeffrey Lynn); e A Voz da Liberdade / Underground/ 1941, drama de guerra sobre as atividades de uma estação de rádio clandestina na Alemanha e uma família  (da qual fazem parte Jeffrey Lynn e Philip Dorn) separada pelo Nazismo.

Cena de Balas contra a Gestapo, vendo-se no centro Peter Lorre, Humphrey Bogart, Edward Brophy e Kaaren Verne

Este último filme obteve o aplauso dos resenhistas e o apoio da bilheteria, e elevou Sherman à categoria de diretor de filme classe A. Seu primeiro compromisso nesta condição foi o divertido Balas Contra a Gestapo / All Trough the Night / 1942, estrelado por Humphrey Bogart  (que a esta altura já havia feito O Último Refúgio / High Sierra  e Relíquia Macabra/ The Maltese Falcon). Tal como A Voz da Liberdade, foi um filme de propaganda de guerra – só que, desta vez, conjugando ação, suspense e comédia -, focalizando um grupo de apostadores profissionais de Nova York que desbarata um bando de sabotadores nazistas (Conrad Veidt, Peter Lorre, Judith Anderson).

Sherman dirigiu em seguida seu melhor filme até então, É Difícil Ser Feliz / The Hard Way/ 1943, drama com Ida Lupino em grande forma no papel de uma mulher ambiciosa e dominadora que impele sua irmã (Joan Leslie) mais nova e talentosa para o mundo do entretenimento, a fim de que ambas possam sair da pobreza. Durante a filmagem, Ida se desentendeu com Sherman e, abalada também pela morte de seu pai, teve que ser internada em um hospital. No primeiro dia em que voltou para frente das câmeras, ela teve uma crise de histeria e, quando pôde voltar ao trabalho, as desavenças com o diretor aumentaram. Na estréia do filme, ela saiu no meio da projeção. Compreendendo muito bem as atrizes temperamentais, Sherman telefonou para Ida em busca de uma reconciliação. Ela estava encantadora, como se eles nunca tivessem brigado.

Ida Lupino e Paul Henreid em Viveremos Outra Vez

Ida fez mais dois filmes sob as ordens de Sherman, o drama Viveremos Outra Vez In Our Time / 1944 e a comédia Que Falta Faz Um Marido / Pillow to Post / 1945, ambos passados em ambiente da Segunda Guerra Mundial, o primeiro na Polonia às vésperas da invasão nazista e o segundo nos Estados Unidos, na frente doméstica – o primeiro melhor do que o segundo, mas nenhum dos dois  no mesmo nível artístico de É Difícil Ser Feliz.

Bette Davis e Miriam Hopkins em Uma Velha Amizade

Sherman precisou de muita autoridade para conduzir Bette Davis  (a maior atração do estúdio) e Miriam Hopkins no sólido drama Uma Velha Amizade / Old Acquaintance / 1943, pois a dupla havia atuado antes em Eu Soube Amar The Old Maid / 1939 (Dir: Edmund Goulding) e desde então, começaram a surgir comentários sobre a rivalidade entre elas. Houve de fato certa competição e ciúme na filmagem de Uma Velha Amizade, Miriam querendo chamar mais atenção do que Bette. Quando Miriam terminou sua participação no filme, ela e Bette não estavam mais se falando. No enredo, elas são duas amigas de infância: uma, romancista respeitada pelos críticos, mas pouco lida; a outra, autora de romances de amor populares que vendem bem. Só que, na tela, apesar das rivalidades e temperamentos diferentes, a amizade entre as duas continua através dos tempos.

Sherman orienta Bette Davis na filmagem de Vaidosa

Como Sherman revelou em sua autobiografia, foi durante a filmagem de Uma Velha Amizade, que Bette Davis declarou que estava apaixonada por ele, mas eles só iniciaram o  caso, quando estavam filmando Vaidosa / Mr. Skeffington / 1944 -depois que o marido dela, Arthur Farnesworth faleceu. Sherman ainda teria um relacionamento tempestuoso com Joan Crawford e outro mais breve – apenas uma tarde – com Rita Hayworth, quando estavam filmando Uma Víuva em Trinidad / Affair in Trinidad/ 1952. Sua esposa Hedda, supostamente sabia desses casos, mas os aceitou como inevitáveis no ambiente cinematográfico.

Bette Davis em Vaidosa

Cena de Vaidosa vendo-se  Walter Abel,  Bette Davis e Claude Rains

Em Vaidosa, outro filme muito bom de Sherman, Bette protagoniza uma mulher da alta sociedade de Nova York muito cortejada e obcecada por sua própria beleza. Ela se casa por conveniência com um banqueiro judeu (Claude Rains). Os anos passam, ela envelhece, perde a beleza. Mas o marido fica cego, após ser torturado pelos nazistas e, para ele, ela será sempre bela. Bette Davis e Claude Rains foram ambos indicados para o Oscar.

Depois de Vaidosa, Sherman fez o já citado Que Falta Faz um Marido com Ida Lupino e, devido ao êxito comercial deste filme, o produtor Alex Gottlieb mandou chamá-lo quando Michael Curtiz se negou a dirigir a continuação de uma comédia que  dirigira intitulada Janie Tem Dois Namorados / Janie/ 1944.  A sequência também foi rejeitada por Joyce Reynolds, a jovem atriz que criou o papel. Sherman tentou se esquivar, mas Jack Warner insistiu, e ele acabou aceitando, porque gostou do elenco que incluia Joan Leslie (Janie), Robert Hutton (seu marido), Edward Arnold e Ann Harding (o pai e a mãe de Janie), Robert Benchley (o sogro de Leslie). Uma novata, Dorothy Malone, fez sua estréia no papel da “outra mulher”. O filme intitulou-se Janie Se Casa/ Janie Gets Married, mas foi um fracasso comercial.

Seguiram-se na filmografia de Sherman dois filmes que merecem destaque, produzidos especificamente para realçar a figura da “Oomph Girl”, Ann Sheridan: A Sentença / Nora Prentiss / 1947 e A Cruz de um Pecado/ The Unfaithful/ 1947.

Kent Smith e Ann Sheridan em A Sentença

Em A Sentença, um médico casado, Dr. Richard Talbot (Kent Smith) atende uma cantora de boate, Nora Prentiss (Ann Sheridan), e os dois iniciam um romance. Quando ele não cumpre sua promessa de pedir o divórcio, Nora resolve aceitar o convite de seu patrão e admirador, para atuar na nova boate em Nova York. Talbot então forja sua própria morte, trocando de identidade com um paciente morto, e parte com Nora. Mas acaba sendo condenado por ter matado a si mesmo. O desespero do médico e seu fim patético e irônico dão certo conteúdo noirao filme, sem falar na fotografia expressionista de James Wong Howe.

Zachary Scott, Ann Sheridan e Lew Ayres (o advogado que defende a assassina) em A Cruz de um Pecado

A Cruz de um Pecado, refilmagem disfarçada de A Carta / The Letter / 1940 de William Wyler, conta a mesma história de uma mulher aparentemente irrepreensível (Ann Sheridan) que foi infiel ao marido e mente sobre as circunstâncias que a levaram a matar um homem, mas transfere a ação para Los Angeles logo após a Segunda Guerra Mundial, e tem um desfecho diferente, a adúltera reconciliando-se com o esposo (Zachary Scott). Mesmo sem contar com um roteiro pronto, Sherman deu início à filmagem, e conseguiu realizar um drama eficiente, no qual analisa mais uma vez com êxito a psicologia feminina.

Viceca Londfors e Errol Flynn em As Aventuras de Don Juan

Após ter sido contemplado com um novo contrato mais vantajoso, Sherman foi requisitado – a pedido de Errol Flynn por recomendação de Ann Sheridan – para dirigir As Aventuras de Don Juan / The Adventures of Don Juan / 1949, projeto que já vinha sendo desenvolvido pela Warner desde 1945, mas que não pudera ser concretizado por falta de um bom scripte de uma greve de diretores de arte. Aos 38 anos de idade, Flynn já estava começando a sofrer os efeitos do que ele chamaria nas suas memórias de “My Wicked, Wicked Ways”, e precisou ser dublado em várias cenas de ação. Durante o climático duelo com o vilão (Robert Douglas), Sherman não conseguia encontrar alguém para dar aquele salto de uma imensa escadaria até que o futuro Tarzan Jock Mahoney aparecesse. Apesar de todos os problemas Sherman e o produtor Jerry Wald conseguiram realizar um filme suntuoso (com indicações para o Oscar de Figurinos, Direção de Arte e Decoração de Interiores) e movimentado, embelezado pelo glorioso Technicolor e com o acompanhamento da música inspirada de Max Steiner.

Depois de um grande espetáculo de reconstituição histórica como As Aventuras de Don Juan, Sherman quis abordar uma história simples, que investigasse somente a condição humana e escolheu uma adaptação de “The Hasty Heart”, peça de John Patrick que a Warner havia comprado há alguns meses; porém Jack Warner lhe pediu que fizesse também um outro filme, para dar trabalho a seis atores que estavam ganhando sem fazer nada: Edmond O’Brien, Gordon Mac Rae, Virginia Mayo, Viveca Lindfors, Dane Clark e Richard Rober.

Patricia Neal e Richard Todd em Coração Amargurado

Assim surgiram Coração Amargurado / The Hasty Heart/ 1949 e Alguém Deixou Este Mundo / Backfire / 1950. O primeiro, produzido pela ABPC (Associated British Pictures Corporation), da qual a Warner detinha 40% das ações, e rodado em Elstree, é um drama de guerra supercomovente com Ronald Reagan, Patricia Neal e Richard Todd, este último em uma performance que lhe proporcionou uma indicação para o Oscar como um escocês orgulhoso e nada sociável, mortalmente ferido que não sabe que vai morrer, mas acaba descobrindo o seu destino. O segundo, com aqueles atores citados que estavam na boa vida, é um drama criminal com o tema noir – mas sem o estilo visual dark– do veterano de guerra envolvido com o desaparecimento de um amigo e uma narrativa com sete retrospectos, cheia de peripécias que se sucedem em um ritmo rápido, fazendo com que o espectador se esqueça do excesso de coincidências.

Joan Crawford, David Brian e Kent Smith em Os Desgraçados Não Choram

Os três próximos filmes, dirigidos como sempre com segurança e sapiência técnica por Sherman, tiveram como estrela Joan Crawford, dois deles, Os Desgraçados Não Choram / The Damned Don’t Cry/ 1950 (Joan como uma mulher humilde que se torna amante do líder de uma quadrilha que explora o jôgo, a prostituição e o tráfico de entorpecentes) e Adeus, Meu Amor/ Goodbye My Fancy / 1951 (Joan como uma deputada que retorna à escola que cursara para receber um título honorário e renova um antigo romance), foram produzidos pela Warner, e o terceiro, A Dominadora / Harriet Craig/ 1950 (adaptação da peça laureada de George Kelly com uma interpretação correta de Joan no papel da mulher egoísta e despótica, mas não tão persuasiva quanto a de Rosalind Russell na versão anteriormente levada à tela com maior precisão por Dorothy Arzner) para a Columbia.

Joan Crawford e Robert Young em Adeus, meu Amor

Após filmar um western apenas regular, Estrela do Destino / The Lone Star/ 1952, na MGM com Clark Gable e Ava Gardner, Sherman dirigiu Rita Hayworth em Uma Viúva em Trinidad / Affair in Trinidad/ 1951 na Columbia, quase uma refilmagem de Gilda/ Gilda / 1946) que, sem ser espetáculo desprezível, é inferior ao filme de Charles Vidor.

Rita Hayworth recebe instruções de Sherman na filmagem de Uma Viúva em Trinidad

Tal como muitos indivíduos talentosos de Hollywood durante os anos cinquenta, Sherman sofreu os efeitos da HUAC (House Un-American Activities), tendo sido colocado, não em uma lista negra, mas em uma lista cinza menos conhecida, sob a alegação de ter apoiado organizações e roteiristas comunistas. Apesar de todos os esforços para limpar seu nome, ele não conseguiu arrumar emprego em Hollywood, e partiu para a Europa, onde dirigiu  Defendo o Meu Amor/ Difendo il Mi Amore/ 1955 (com Martine Carol, Gabrielle Ferzetti, Vittorio Gassman), tendo sido filmadas cenas adicionais, com as quais não concordava, por Giulio Macchi. Sherman nunca viu o filme finalizado.

Quando seu nome foi retirado da lista cinza (por interferência de um congressista que fazia parte da HUAC e era amigo de seu agente), Sherman pôde trabalhar novamente, refilmando 70% do que Robert Aldrich havia rodado de Clima de Violência / The Garment Jungle / 1957 / Columbia (drama criminal sobre a influência de escroques na atividade dos sindicatos da indústria de roupas, valorizado pela admirável fotografia em preto-e-branco de Joseph Biroc e as interpretações de Lee J. Cobb e Richard Boone); Sementes de Paixão / The Naked Earth / 1958 / Twentieth Century-Fox (aventura africana rotineira com Richard Todd e Juliette Greco) e  O Moço de Filadélfia / The Young Philadelphians / 1959 / Warner (melodrama desenrolado na alta sociedade com um herói arrivista (Paul Newman) e alguns conflitos de classe, com bom acabamento cenográfico e interpretações consciensiosas de Newman, Barbara Rush e Alexis Smith).

Paul Newman e Barbara Rush em O Moço de Filadélfia

Nos anos sessenta, Sherman dirigiu corretamente, mas com pouco ardor, O Gigante de Gelo/ Ice Palace/ 1960 / Warner (história melodramática de Edna Ferber abordando a amizade de dois homens (Richard Burton, Robert Ryan), que se torna rivalidade paralelamente à transformação do Alaska de território em Estado) e   Escândalos Ocultos/ A Fever in the Blood / 1961 / Warner, drama focalizando um julgamento criminal, onde vários candidatos a governador (um senador (Don Ameche), um promotor (Jack Kelly) e um juiz da Suprema Côrte (Efrem Zimbalist)  usam para favorecer suas ambições políticas. Ainda na mesma década, a Twentieth Century-Fox requisitou Sherman para dirigir Debbie Reynolds (por sugestão dela) em Furacão de Saias/ The Second Time Around / 1961 / Twentieth Century-Fox (western cômico tendo como centro das atenções uma jovem viúva (Debbie Reynolds) que parte para uma pequena cidade do Oeste, trabalha em uma fazenda, é cortejada por um vizinho (Andy Griffith) e pelo dono do cassino local (Steve Forrrest), e acaba se elegendo xerife).

O último filme de Vincent Sherman foi Cervantes, O Jovem Rebelde  / The Young Rebel / 1967, co-produção ítalo-franco-espanhola (Landau-Unger/Alexander Salkind) perturbada por problemas financeiros (devido ao qual, por exemplo, em vez das quatro semanas previstas a colossal batalha naval de Lepanto foi filmada em apenas três dias) e com o ator alemão Horst Buchholz sem vigor interpretativo para personificar uma figura de tanta personalidade como o autor do imortal Don Quixote. O filme foi remendado grosseiramente na montagem à revelia do cineasta  e, apesar de contar no seu elenco com atores de prestígio como Gina Lollobrigida, José Ferrer, Louis Jourdan, Francisco Rabal e Fernando Rey, encerrou melancolicamente a carreira cinematográfica do cineasta. Ele continuou trabalhando na televisão até 1983.