MYRNA LOY

outubro 20, 2020

Myrna Adele Williams (1905 – 1993) nasceu em Helena, Montana, filha de Della Mae Johnson e de David Franklin Williams, dono de um rancho em Crow Creek Valley. O avô paterno de Myrna, David Thomas Williams, era galês e emigrou de Liverpool, Inglaterra para os Estados Unidos em 1856. Ele se instalou no Território de Montana, onde se tornou um rancheiro. Os avós maternos de Myrna eram imigrantes escocêses e suecos. Aos vinte e três anos de idade, seu pai foi o homem mais jovem jamais eleito para servir na legislatura da cidade de Montana. Sua mãe havia estudado música no American Conservatory of Music em Chicago e chegou a pensar em se tornar uma artista de concerto, mas acabou se devotando à criação de seus filhos, Myrna e seu irmão mais novo, David.

Myrna Loy fotografada por George Hurrell

Myrna passou a infância em Radersburg, comunidade rural de mineração situada no sudeste de Helena. Após a morte de seu pai durante a epidemia de gripe de 1918, sua mãe mudou-se permanentemente com a família para a Califórnia, fixando residência em Culver City, fora de Los Angeles. Myrna estudou na Westlake School for Girls, escola particular de elite, mas quando revelou para duas diretoras que queria se tornar dançarina profissional, elas a castigaram, informando-lhe que, para uma jovem que havia recebido todas vantagens e uma educação para entrar na sociedade, uma futura carreira como dançarina era imprópria. Diante disso Myrna saiu da Westlake e foi estudar em uma escola pública, Venice Union Polytechnic High.

Enquanto estava fazendo o curso colegial, Myrna arranjou alguns empregos de meio expediente tais como ensinar dança para crianças ou substituindo uma amiga coladeira de filmes nos laboratórios do pioneiro do cinema David Horsley. Um trabalho que não foi pago em dinheiro, mas lhe trouxe beneficios de outra espécie, foi servir de modelo para o seu professor de escultura na Venice High School, Harry Fielding Winebrenner. Sua figura representava a “Inspiração” no grupo de escultura alegórica “Fountain of Education” que, completado em 1922, foi instalado em frente da piscina externa do campus em maio de 1923, onde ficou por décadas. Uma foto de sua figura esguia com o rosto erguido e um braço estendido em direção ao céu apresentando “uma visão de pureza, graça, vigor juvenil, e aspiração”, foi escolhida para ilustrar uma matéria dos Los Angeles Times juntamente com o nome da modelo – a primeira vez em que o nome de Myrna apareceu em um jornal.

Estátua de Myrna – Fountain of Education

Aos 18 anos de idade Myrna saiu da escola para ajudar nas finanças da família e conseguiu trabalho no Grauman´s Egyptian Theatre, como dançarina nos prólogos (números musicais apresentados ao vivo no palco dos cinemas com temas relacionados com os dos filmes que seriam exibidos em seguida). Toda a trupe de dançarinas dos prólogos do Grauman’s Egyptian apareceu em uma cena de orgia de um filme dirigido por Raoul Walsh, Babilônia ou O Filho Pródigo / The Wanderer / 1926, mas com ela era um membro anônimo de um grupo, Myrna não considerou esta como sua verdadeira estréia no cinema.

Após uma performance no Egyptian Theatre, um fotógrafo de retratos de Hollywood chamado Henry Waxman, aproximou-se de Myrna nos bastidores e se ofereceu para tirar umas fotos dela. Durante uma visita ao estúdio de Waxman, Rudolph Valentino viu a foto de Myrna, achou-a notavelmente fotogênica, mostrou-a para sua esposa Natasha Rambova, porque sabia que esta também ficaria impressionada com a jovem dançarina, e lhe ofereceu um teste para seu próximo filme Cobra / Cobra / 1925; porém ela não se saiu bem, perdendo o papel para Gertrude Olmstead. Desapontada, Myrna deixou seu emprego no Egyptian Theatre e procurou o departamento de elenco da MGM, conseguindo aparecer em duas produções do estúdio, porém apenas como figurante: Ben-Hur / Ben-Hur / 1925, como uma espectadora da corrida de bigas (cena cortada posteriormente) e A Mosca Negra / Pretty Ladies / 1925 como uma das coristas. Frustrada, Myrna recorreu a Natasha Rambova e esta lhe ofereceu um papel no filme O Preço da Beleza / What Price Beauty? (estrelado por Nita Naldi), que estava produzindo com a ajuda financeira de Valentino, embora os dois estivessem prestes a se divorciar. A certa altura da narrativa a heroína sonha que está em um salão de beleza, onde desfilam vários tipos de mulher, representados por diferentes modelos, vestindo roupas do figurinista Adrian. Myrna aparecia como uma “vamp intelectual”, com uma maquilagem e vestido exóticos e, embora esta sua participação fosse muito pequena, chamou a atenção da revistas de fãs. Em julho de 1925, um mês antes de seu vigésimo aniversário, Myrna Loy assinou um contrato com a Warner Bros. Nesta ocasião resolveu adotar o nome artístico de Myrna Loy, sugerido por um poeta de vanguarda, Peter Rarick, amigo de Henry Waxman.

Quem possibilitou esta contratação foi Minna Wallis, irmã do futuro produtor da Warner, Hal. B. Wallis, que era secretária particular de Jack Warner e se tornaria depois agente de vários artistas. Waxman mostrou-lhe as fotos de Myrna e pediu que ela conseguisse agendar um teste para a sua descoberta, porém Minna preferiu introduzir Myrna em uma cena de um filme intitulado O Demônio Elegante / Satan in Sables / 1925, sentada no colo do ator Lowell Sherman. O ardil funcionou. Depois de ver os rushes, Jack Warner perguntou “Quem está ao lado de Sherman?”. Suas próximas palavras foram, “Contrate-a”.

Conrad Nagel e Myrna Loy em The girlfrom Chicago

Myrna Loy em Através do Pacífico

Entre 1926 e 1929 ela participou de  36  filmes na Warner em pequenos papéis; sem ser creditada; como vamp ou personagens de origem asiática; em alguns papéis principais. 1926 – O Homem da Caverna / The Caveman; Entre Uma Noiva e Outra / The Love Toy; Quando Elas se Arrependem / Why Girls Go Back Home / A Felicidade  Dependerá do Dinheiro / The Gilded  Highway; O Rapaz e a Cigana ou Ele e a Cigana / Exquisite Sinner; Em Paris é Assim / So This is Paris; Don Juan / Don Juan (Mai, uma dama de companhia); Através do Pacífico / Across the Pacific (seu primeiro papel de asiática como uma nativa filipina); O Terceiro Degrau / The Third Degree. 1927 – Noite Infernal / Finger Prints; Quando o Homem Ama / When a Man Loves; A Vingança / Bitter Apples; Banida da Corte / The Climbers; A Doutrina do Bem / The Heart of Maryland; Nunca é Tarde Para o Amor / A Sailor´s Sweetheart; O Cantor de Jazz / The Jazz Singer (como uma corista); Uma Pequena de Fora  / The Girl from Chicago (primeiro papel principal ao lado de Conrad Nagel);

Conrad Nagel e Myrna Loy em Uma Pequena de Fora

Dois Turunas na Guerra / Ham and Eggs at the Front; Se Eu Fosse Solteiro / If I Were Single. 1928 – Cuidado com os Casados / Beware a Married Man; Uma Noiva em Cada Porto / A Girl in Every Port; Horas Que Voltam / Turn Back the Hours; Quando o Destino Castiga / The Crimson City (como a escrava chinesa Onoto);

Myrna Loy em Quando o Destino Castiga

Myrna Loy em Astúcia de Mulher

Myrna Loy em A Canção do|Deserto

Pague na Entrada / Pay As You Enter); Astúcia de Mulher / State Street Sadie; O Taxi da Meia-Noite / The Midnight Taxi; A Arca de Noé / Noah’s Ark (dançarina na sequência da Broadway; escrava na sequência bíblica); Menina da Fuzarca / Fancy Baggage. 1929 – Rosa Encantada / Hard Boiled Rose; A Canção do Deserto / The Desert Song (a mestiça Azuri); A Guarda Negra / The Black Watch (a indiana Yasmani); The Squall (a cigana Nubi); Amor Silvestre / The Great Divide (a mexicana Manuella); Evidência / Evidence (uma nativa birmanesa); A Parada das Maravilhas / Show of Shows (em dois números de dança:  “What Became of Floradora´s Boys” e “ Chinese Fantasy”). Em dezembro de 1929 Myrna foi dispensada da Warner sob a alegação de que os papéis de orientais estavam fora de moda e que portanto não precisavam mais do seu tipo.

Myrna Loy em Amor Nativo

Myrna Loy e Warner Baxter em Don Juan do México

Myrna Loy em A Noiva do Regimento

Myrna Loy e Warner Baxter em Renegados

Entre 1930 e 1933 Myrna fez filmes para a Fox, MGM, RKO e outras companhias, já se impondo em determinados papéis a partir de 1932: 1930 – Colhendo Amores / Cameo Kirby; Amor Nativo / Isle of Escape; Don Juan do México/ Under a Texas Moon; O Seguro do Amor / Cock O´ The Walk; A Noiva do Regimento / Bride of the Regiment; Na Ronda do Faroeste / The Last of the Duanes; A Princesa do Bairro / The Jazz Cinderella; O Homem Mau / The Bad Man; Renegados / Renegades; The Truth About Youth; Rogue of the Rio Grande; The Naughty Flirt; O Diabo Que Pague / The Devil to Pay. 1931 – Corpo e Alma / Body and Soul; Um Ianque na Corte do Rei Arthur / A Connecticut Yankee (como Fada Morgana, irmã do Rei Arthur);

Myrna Loy em Um Ianque na Corte do Rei Arthur

Myrna Loy e Ronald Colman em Médico e Amante

Myrna Loy, Maurice Chevalier e Jeanette MacDonald em Ama-me Esta Noite

Myrna Loy e Boris Karloff em A Mâscara de Fu Manchu

Myrna Loy e John Barrymore em Topázio

Myrna Loy e Ramon Novarro em Uma Noite no Cairo

O Preço da Ventura / Hush Money; O Preço da Ventura / Hush Money; Rebound; Transatlântico / Transatlantic; A Babel de Ferro / Skyline; Casamento de Consolação / Consolation Marriage; Médico e Amante / Arrowsmith. 1932 – Emma / Emma; Vanity Fair (primeiro papel principal na Allied Artists como Becky Sharp); E O Mundo Marcha / The Wet Parade; A Mulher no Quarto 13 / The Woman in Room 13; New Morals for Old; Ama-me Esta Noite / Love Me Tonight (como a Condessa Valentine, sobrinha do Duque d’Artel (C. Aubrey Smith); Treze Mulheres / Thirteen Women; A Máscara de Fu Manchu / The Mask of Fu Manchu (inesquecível como Fah Lo See, a filha sádica e sensual de Fu Manchu); Pouco Amor Não é Amor / The Animal Kingdom. 1933 – Topázio / Topaze  (como Coco, a sedutora amante do barão de la Tour-La Tour, contracenando com John Barrymore no papel título), O Rio Escarlate / Scarlet River; Uma Noite no Cairo / The Barbarian (finalmente como leading lady na MGM ao lado de Ramon Novarro); A Rival da Esposa / When Ladies Meet); Pela Vida de um Homem/ Penthouse; Asas da Noite / Night Flight (como esposa do piloto brasileiro (William Gargan); O Pugilista e a Favorita / The Prizefighter and the Lady. Uma curiosidade: Myrna recusou o papel de Cleopatra, a trapezista que se casa com o anão interessada no seu dinheiro em Monstros / Freaks / 1932, personagem afinal interpretada por Olga Baclanova.

Myrna Loy e Clark Gabvle em Alma de Médico

William Powell, Asta e Myrna Loy em A Ceia dos Acusados

Jean Harlow, Spencer Tracy e Myrna Loy, astros de Ciúmes

Robert Montgomery e Myrna Loy em Tirano Irresistível

Myrna Loy e William Powell em Ziegfeld, o Criador de Estrelas

Clark Gable, Myrna Loy e Spencer Tracy, astros de Piloto de Provas

Myrna Loy e Clark Gable em Sob o Céu dos Trópicos

Tyrone Power e Myrna Loy em E As Chuvas Chegaram

A partir de 1934 Myrna tornou-se uma estrela, atuando como leading lady ou na companhia de outros astros e estrelas na MGM e também quando emprestada para outros estúdios. 1934 – Alma de Médico / Men in White (com Clark Gable); Vencido pela Lei / Manhattan Melodrama (com Clark Gable, William Powell); A Ceia do Acusados / The Thin Man (primeiro dos seis filmes da famosa série que mistura  admiravelmente comédia maluca com drama criminal de mistério, baseada  no romance de Dashiell Hammett, com Myrna e William Powell como Nora e Nick Charles um casal perfeitamente feliz e sofisticado, que se diverte bancando os detetives, ajudados por sua cadela de estimação Asta); Uma Noite em Istanbul / Stamboul Quest (com George Brent); Chantagem / Evelyn Prentice (com William Powell); A Vitória Será Tua / Broadway Bill (com Warner Baxter na Columbia). 1935 – Asas nas Trevas / Wings in the Dark (com Cary Grant na Paramount); Ladra Encantadora / Whipsaw (com Spencer Tracy). 1936 – Ciúmes / Wife vs. Secretary (com Clark Gable, Jean Harlow); Tirano Irresistível / Petticoat Fever (Robert Montgomery); Ziegfeld, o Criador de Estrelas / The Great Ziegfeld (com William Powell, Luise Rainer); Esposa e Amante / To Mary – with Love (com Warner Baxter na Twentieth Century-Fox); Casado com Minha Noiva / Libeled Lady (com William Powell, Jean Harlow, Spencer Tracy); A Comédia dos Acusados / After the Thin Man (com William Powell). 1937 – Parnell, O Rei sem Corôa / Parnell (com Clark Gable); Amor em Duplicata / Double Wedding (com William Powell). 1938 – Amor de Ida e Volta / Man-Proof (com Franchot Tone, Rosalind Russell); Piloto de Provas / Test Pilot (com Clark Gable, Spencer Tracy); Sob o Céu dos Trópicos / Too Hot to Handle (com Clark Gable, Walter Pidgeon). 1939 – Noite Feliz / Lucky Night (com  Robert Taylor); E As Chuvas Chegaram / The Rains Came com Tyrone Power na Twentieth Century-Fox); O Hotel dos Acusados / Another Thin Man (com William Powell).

Em 1941 Myrna fez Meu Querido Maluco / Love Crazy e A Sombra dos Acusados / Shadow of the Thin Man (ambos com William Powell) e, depois de alguns acontecimentos na sua vida particular (divórcio em 1942 do produtor Arthur Hornblow Jr., de quem fôra amante desde 1932  – quando ele ainda era casado – e com quem se casara em 1936; divórcio de John Hertz, Jr. com quem se casara em 1942 e se divorciara em 1944) e de ter abandonado sua carreira para colaborar com o esforço de guerra  e de trabalhar para a Cruz Vermelha, Myrna retornou em 1944 à MGM para atuar em, O Regresso Daquele Homem / The Thin Man Goes Home (com William Powell).

Myrna Loy e Fredric March em Os Melhores Anos de Nossas Vidas

Cary Grant e Myrna Loy em Lar … Meu Tormento

Myrna Loy e Robert Mitchum em O Vale da Ternura

A partir de 1946, Myrna trabalhou para vários estúdios: 1946 – Amor Tempestuoso /  So Goes My Love (com Don Ameche na Universal; Os Melhores Anos de Nossa Vida / The Best Years of Our Lives  (seu filme predileto como a compreensiva e suave Milly, esposa do banqueiro que retorna da guerra (Fredrich March) na Goldwyn). 1947 – Solteirão Cobiçado / The Bachelor and the Bobby-Soxer (Com Cary Grant, Shirley Temple na RKO); A Canção dos Acusados / Song of the Thin Man (com William Powell na MGM); Senador Indiscreto /The Senator Was Indiscreet(uma breve aparição sem ser creditada na Universal). 1948 – Lar … Meu Tormento / Mr. Blandings Builds His Dream House (com Cary Grant na RKO). 1949 – O Vale da Ternura / The Red Pony (com Robert Mitchum na Republic). The Dangerous Age / If This Be Sin nos EUA (com Roger Livesey na London Films, Inglaterra). Em 1946 Myrna casou-se com Gene Markey, de quem se divorciou em 1950 e no ano seguinte contraiu matrimônio com Howland H. Sargeant, divorciando-se deste seu último marido em 1960.  Em 1948 ela foi a primeira celebridade de Holllywood a trabalhar para a UNESCO.

Myrna Loy e Clifton Webb em Papai Batuta

Myrna Loy em Aeroporto 70

 

De 1950 até o final de sua carreira em 1980, Myrna fez: 1950 – Papai Batuta / Cheaper by the Dozen (com Clifton Webb na Twentieth Century-Fox). 1952 – A Família do Gênio / Belles on Their Toes (continuação de Papai Batuta com Jeanne Crain na Twentieth Century-Fox). 1956 – A Filha do Embaixador / The Ambassador’s Daughter (com Olivia de Havilland, John Forsythe para a Norman Krasna Prod. / UA). 1958 – Por um Pouco de Amor / Lonely Hearts (com Montgomery Clift, Robert Ryan para a Dore Schary Prod. / UA). 1960 – Paixões Desenfreadas / From the Terrace (com Paul Newman, Joanne Woodward para a Linebrook Prod. / T. C. Fox; A Teia de Renda Negra / Midnight Lace (com Doris Day, Rex Harrison para a Arwin Prod. / UI). 1969 – Um Dia em Duas Vidas / The April Fools (com Jack Lemmon, Catherine Deneuve, Charles Boyer para a Jalem Prod.). 1974 – Aeroporto 75 / Airport 1975 (com Charlton Heston e outros na Universal). 1978 – Se Não Me Mato, Morro / The End (com Burt Reynolds, Sally Fields para Reynolds Prod./UA). Diga-me o que Você Quer / Just Tell Me What you Want (com Alan King, Ali Mac Graw na Warner). Myrna trabalhou também no teatro  (1961-1978) e na televisão (1955-1982) mas neste artigo relembro apenas sua carreira cinematográfica.

Em 1990, aos 85 anos de idade, Myrna recebeu um Oscar Honorário da Academia “em reconhecimento às suas extraordinárias  qualidades, no Cinema e fora dele, com a admiração por uma vida de desempenhos inesquecíveis”. Sem ter mais forças para viajar, ela foi vista por satélite no seu apartamento em Nova York, dizendo simplesmente, “Vocês me fizeram muito feliz. Muito obrigado”. Myrna faleceu durante uma cirurgia no Lennox Hill Hospital em Manhattan aos 88 anos de idade.

Myrna “a única menina boazinha de Hollywood”

John Ford, que tinha uma certa atração por ela, costumava provocá-la chamando-a de “ The only good girl in Hollywood” (“A única menina boazinha de Hollywood”), sempre discreta, ao contrário de outras jovens atrizes sedutoras. Se levarmos em conta tudo o que Myrna realizou na tela e fora dela, demonstrando (como disse Emily W. Leider (na sua magnífica biografia publicada pela University of California em 2011, que foi muito útil para a minha pesquisa) uma preocupação permanente com os problemas mundiais e por outras pessoas, o rótulo de menina boazinha ressoa além do significado original de Ford.

 

ANTES DE HOLLYWOOD

outubro 6, 2020

Os primeiros grandes centros de produção de filmes nos Estados Unidos foram Nova York, Chicago e Filadélfia. Devido à constante demanda de filmes, as companhias tinham de produzí-los regularmente. Entretanto, os longos meses de inverno naquelas cidades traziam problemas, notadamente para as firmas que não possuíam um estúdio bem equipado e com luz artificial adequada. Para dar conta dos pedidos, os principais produtores enviavam equipes para filmagem em locações em todo o país ou fora dele, procurando cenários ideais e tempo ensolarado. Várias companhias experimentaram lugares como Fort Lee, New Jersey; Jacksonville, Flórida; San Antonio, Texas; Santa Fé, Novo México; e até Cuba – até que encontraram o local definitivo da indústria de cinema americana: o sul da Califórnia, mas especificamente o subúrbio de Los Angeles chamado Hollywood.

Recentemente, graças ao livro “Silent Films in St. Augustine” (University Press of Florida, 2017) de autoria de Thomas Graham, professor emérito de História do Flagler College de Saint Augustine na Flórida, fiquei sabendo da existência de mais um centro de produção importante na história do cinema americano. A região de St. Augustine foi descoberta em 1513 pelo explorador espanhol Juan Ponce de Leon. Em 1565 Pedro Menéndez de Avilés fundou um assentamento permanente em St. Augustine e nos séculos seguintes os espanhóis, índios, franceses e ingleses lutaram pela posse da terra, até que ela se tornou parte dos Estados Unidos em 1821.

Henry M. Flagler

Nos anos 1880, Henry M. Flagler, co-fundador da Standard Oil Company com John D. Rockefeller, veio a St. Augustine e construiu hotéis de veraneio, que pareciam palácios da Renascença Espanhola. Ele construiu também uma ferrovia que ligava a Flórida aos estados do norte e eventualmente se estendeu para o sul até Key West. Foi durante a era Fagler que as companhias de cinema descobriram St. Augustine e por alguns anos usaram a Antiga Cidade como cenário para filmes que requeriam uma atmosfera tropical ou exótica. Eventualmente, mais de 120 filmes seriam feitos no todo ou em parte em St. Augustine.

Hotel Ponce de Leon em St. Augustin, um dos hotéis de Flagler

O primeiro filme conhecido feito em St. Augustine foi um travelogue de dez minutos intitulado A Trip to St. Augustine, lançado pela Selig Polyscope Company de Chicago em junho de 1906. Nos anos seguintes as estruturas da velha Espanha de St. Augustine, os hotéis magníficos de Fagler e o panorama tropical da área representariam Espanha, Itália, França, Brasil, Egito, Arábia, Africa do Sul, Hawai e até a Califórnia.

Em 1909 um grupo de atores da Kalem Company tomou o trem de Jacksonville para St. Augustine para filmar um cena no velho Fort Marion, que faria parte de um curta de 1 rolo, The Seminole´s Vengeance. Nesta época as companhias de cinema não davam crédito a nenhum dos principais envolvidos na realização dos filmes, mas é bastante provável que Sidney Olcott dirigiu e atuou no filme e que Gene Gauntier escreveu o roteiro e interpretou o principal papel feminino. Com o passar do tempo, quando o público começou a reconhecer o rosto de Gauntier, ela ficou conhecida como “The Kalem Girl” e iria se tornar uma das roteiristas mais prolíficas da era silenciosa.

Gene Gauntier

Em janeiro de 1910 uma equipe da Lubin Company hospedou-se no Florida House Hotel em St. Augustine durante dois dias, para filmar algumas cenas de A Honeymoon Through Snow to Sunshine. O diretor do filme era Arthur Hotaling, um dos realizadores mais produtivos da Lubin, que apresentaria Oliver Hardy ao público em 1914 no filme Outwitting Daddy, filmado em Jacksonville. Em 1911, os atores da Kalem retornaram a St. Augustine para filmar In Old Florida, história de amor convencional, passada no tempo da dominação espanhola. Olcott e Gauntier colaboraram neste filme. A maioria das cenas foram rodadas nos jardins paisagísticos de um dos hotéis de Fagler.

No mesmo ano, a Selig Polyscope voltou a St. Augustine para filmar The Rose of Old St. Augustine, outra história de amor cuja ação transcorria na Flórida Espanhola, desta vez entremeada com muita ação e aventura.  O ator mais conhecido no filme interpretava apenas um papel coadjuvante: Tom Mix aparecia como Black Hawk um guerreiro Seminole. Somente mais tarde Mix se tornaria o cowboy ator mais famoso da tela.

Em 1912 a arquitetura no estilo árabe de um hotel em St. Augustine atraiu o pessoal da Thanhouser Company que, durante seis semanas produziu 17 filmes no local, o primeiro dos quais chamava-se The Arab´s Bride, estrelado por Florence La Badie, James Cruze e William Russell. Cruze iria se tornar um dos diretores mais bem pagos em Hollywod.

Fort Matanzas en St. Augustine

Durante o inverno de 1913 George Nichols, que havia trabalhado como diretor para a Thanhouser em St. Augustine, voltou, desta vez a serviço da Lubin, e realizou filmes explorando a paisagem, o forte, as ruas e os grandes hotéis da cidade como, por exemplo, em Women of the Desert, no qual estes cenários davam a sugestão de realidade às cenas no deserto, à cidade Mourisca e ao palácio do Califa, onde o herói beduíno encontra e resgata a heroína, que havia sido vendida como escrava por sua irmã ciumenta.

Hotel Alcazar em St. Augustine

Ainda em 1913, quatorze membros da American Éclair Company registraram-se no Hotel Alcazar, para passar algum tempo filmando cenas de Sons of a Soldier, o filme mais ambicioso feito em St. Augustine até aquela data, acompanhando as façanhas da família Primrose desde a Guerra Revolucionária através da Guerra Civil a uma hipotética guerra futura contra o Japão.

A companhia francesa Pathé Frères, que mantinha um estúdio em Fort Lee, New Jersey, abriu um estúdio ao ar livre em St Augustine em um local chamado Neptune Park, onde mantinha uma coleção de animais selvagens, para serem usados nos seus filmes. Frederick E. Wright, um dos principais diretores da Pathé, chefiava a companhia em St. Augustine. Ele realizou Bungling Bink´s Bunco, empregando dois atores principais, Walter Seymour e Lillian Wiggins e vários animais como um leão e um tigre de Bengala.  Outro filme de Wright, Pearl of Punjab, abordava o tema do casamento interracial, envolvendo  um médico britânico na Índia (Walter Seymour), sua noiva (Lillian Wiggins) e a meia-irmã indiana desta (Nell Craig). Um terceiro filme de Wright, baseado no romance de Hal Caine “ The Christian”, foi lançado como When Rome Ruled, tendo como atores principais Nell Craig como Nydia, uma jovem cristã e Clifford Bruce como um nobre romano pagão chamado Caius, que se apaixona por Nydia.

Pearl White

Um outro grupo da Pathé, liderado pelos diretores Louis Gasnier e Donald McKenzie chegou em St. Augustine para realizar um projeto mais ambicioso: filmar cenas para um próximo seriado de 20 episódios intitulado As Aventuras de Elaine / The Perils of Pauline, que faria de Pearl White uma estrela.  Os dois episódios rodados em St. Augustine giravam em torno do desejo de Pauline de pilotar um avião. Os técnicos da Pathé ergueram cenários que parecessem hangares de avião no Lewis Park, o campo de beisebol de St. Augustine e todas as pessoas da cidade foram convidadas para atuarem como figurantes. Durante a filmagem de uma cena de desastre algumas mulheres, que não faziam parte da companhia Pathé, desmaiaram nas arquibancadas contribuindo inconscientemente para a vivacidade do espetáculo.

 

Old Vedder House

A Edison Company enviou um grande contingente de realizadores para a Flórida. Alguns ficaram em Jacksonville, mas outro grupo foi para St. Augustine Os diretores A. Jay Williams e Richard Ridgely comandavam o grupo. Seu objetivo era explorar ao máximo os cenários da velha Espanha da Cidade Antiga. Sua primeira produção, A Night at the Inn, foi rodada em um dos edifícios mais famosos, o velho Vedder House em frente da baía (que seria a estalagem no caso). O filme da Edison foi feito poucas semanas antes de um incêndio ter destruído o prédio antigo. A Edison usou St. Augustine para representar locais exóticos como América do Sul (The Lovely Señorita), América Central (The Silent Death) e Itália (The Message in the Rose). Outro filme da Edison, Rorke´s Drift / 1914, tornou-se uma grande produção envolvendo centenas de pessoas da comunidade. O filme foi baseado em um incidente na Guerra Anglo-Zulu na África do Sul, quando um bando de guerreiros africanos invadiram um pôsto avançado britânico chamado Rorke´s Drift. Os residentes de St. Augustine retratando soldados ingleses e guerreiros zulús (estes interpretados por cidadãos negros da área) travaram um combate na Anastasia Island, que passava pela África do Sul

É impressionante a quantidade de companhias que foram filmar em St. Augustine: além das já citadas, algumas das quais lá retornaram como Kalem, Lubin, Thanhouser, Thomas Graham aponta: Stellar Feature Photoplay Company, Aetna Film Company, Vitagraph, Fox Film Corporation, All Star Feature Films, Peerless Pictures, Dyreda Art Film Corporation, Famous Players, Ocean Film Company, Equitable, Metro Film Company, Gaumont Motion Picture Company, Mutual Film, Serial Film Company, Vim Comedy Film Company, B. S. Moss Photoplays, Popular Plays and Players, Ivan Film Company, Petrova Picture Company, American Cinema Company etc.

Uma produção da Vitagraph, A Florida Enchantment / 1914, é talvez o mais conhecido dos filmes silenciosos rodados na Flórida, em parte porque sobreviveu enquanto a grande maioria dos filmes de nitrato se perderam. Sidney Drew (tio de Lionel, John e Ethel Barrymore) atuou como diretor e ator ao lado de Edith Storey, atriz que trabalhou mais em westerns, porque sabia montar a cavalo muito bem.

A Peerless Pictures teve dois astros trabalhando em St. Augustine: Howard Eastabrook e Barbara Tennant. No filme deles, The Butterfly / 1915, Tennant é Butterfly, dançarina famosa acusada de assassinato e Eastabrook um de seus amantes que finalmente a resgata da polícia e do verdadeiro assassino. Os hotéis Alcazar e Ponce de Leon de Flagler serviram como locação para algumas cenas. O segundo filme da Peerless em St. Augustine, M´Liss / 1915, era uma adaptação do romance de Bret Harte, que havia sido também um sucesso no palco, com Howard Eastabrook e Barbara Tennant nos papéis  principais. Durante uma entrevista ao St. Augustine Record, o presidente da Peerless, J. E. Brulatour, comparando a Flórida com a Califórnia, observou que a Flórida estava apenas 32 horas distante de Nova York enquanto a viagem de trem para a Califórnia durava cinco dias. Ele reconheceu que na Flórida não havia as grandes montanhas do Oeste, mas acrescentou que St. Augustine tinha vegetação tropical, edifícios no estilo espanhol e o velho forte. Howard Eastabrook retornou a St. Augustine como protagonista de Four Feathers, filme produzido pela Dyreda Art Film Corporation. St. Augustine e as dunas  de areia de Anastasia Island faziam-se passar como o Sudão embora algumas cenas tivessem sido rodadas em Jacksonville e Nova York.

O célebre filme de Theda Bara, Escravo de uma Paixão / A Fool There Was  / 1915, produzido pela Fox Film Corporation foi rodado parcialmente em St. Augustine. No filme, Bara, a mulher fatal, escolhe como vítima, um negociante milionário (Edward Jose) como sua presa. Alguns momentos mais cedo da intriga uma das antigas vítimas da mulher vampiro implora para que ela o receba de volta e aponta um revólver em sua direção. Ela diz, “Kiss me my fool”, e ele vira a arma contra si mesmo, cometendo suicídio. Theda atuou em outros filmes com cenas rodadas em St. Augustine: Gioconda ou A Filha do Diabo / The Devil´s Daughter / 1915; Seu Grande Amor  / Her Greatest Love / 1917; Coração e Alma / Heart and Soul / 1917) sempre muito admirada e homenageada pela população local.

Pauline Frederick em Bella Donna

Quando a Famous Players decidiu produzir Bella Donna / 1915, filme que requeria cenários egípcios, aproveitou as dunas de Anastasia Island e a Villa Flora, residência particular de tijolo amarelo e pedra coquina muito usada em St. Augustine. Dirigido por Hugh Ford e Edwin S. Porter, o filme foi estrelado por Pauline Frederick no papel de uma mulher cruel e ambiciosa, que está envenando lentamente seu marido. A Famous Players anunciou-a como “sedutora e traidora … a Serpente do Nilo”. Em 1916 Pauline voltou a St. Augustine para filmar cenas de A Aranha / The Spider e em 1917, retornou mais uma vez para cenas de Madame Ciúme / Madame Jealousy e A Tosca / La Tosca.

Os esforços da câmara de comércio e do governo de St. Augustine para atrair companhias de cinema para a cidade deram bons resultados em 1917. Neste ano outras atrizes famosas da cena muda estiveram em St. Augustine para filmar algumas cenas de seus filmes: Norma Talmadge (The Law of Compensation), Evelyn Nesbitt (Redemption), Ethel Barrymore (The Call of Her People), Viola Dana (God´s Law and Man´s), Olga Petrova (The Law of the Land, Até a Morte / To The Death, Chama d´Alma / The Undying Flame, Exílio / Exile, Daughter of Destiny), Marie Doro (Heart´s Desire), Elsie Ferguson (A Canção do Deserto / Barbary Sheep), Alla Nazimova (Joguete do Destino / Toys of Fate).

Até o grande empresário teatral Florenz Ziegfeld foi parar em St. Augustine, na companhia de sua esposa e estrela Billie Burke, em busca de um convento católico e jardins exuberantes necessários para a filmagem de Divorciemo-nos / Let´s Get a Divorce, comédia baseada na peça “Divorçons” de Victorien Sardou e Émile de Najac. No filme, Billie interpreta o papel de uma jovem que cresceu vivendo uma vida protegida no claustro e anseia pela emoção de um romance. Após uma série de acontecimentos, ela cai na realidade.

Marguerite Namara e Rudolph Valentino em O Esplêndido Amante

Em 1918-1919 poucas filmagens foram feitas em St. Augustine, mas em 1920 um grupo de atores e técnicos da American Cinema Company chegou na cidade para rodar cenas de O Esplêndido Amante / Stolen Moments nos jardins e no pátio do Hotel Ponce de Leon e depois no Fort Marion e na Vila Zorayda. No enredo, Marguerite Namara é Vera Blaine, escritora que tem uma casa em Savannah na Geórgia. Vera se apaixona por Jose Dalmarez, romancista brasileiro interpretado por Rudolph Valentino (antes dele se tornar um grande astro). Dalmarez tenta convencê-la a ir com ele para o Brasil, mas admite que não pensa em casamento. Vera se recusa a acompanhá-lo e depois se casa com outro homem. Enquanto isso, Dalmarez retorna ao Brasil e tenta em vão seduzir Inez Salles (Aileen Pringle), filha de um alto funcionário do governo brasileiro (Alex Shannon). Após uma luta corporal com o irmão de Inez, Dalmarez volta para Savannah e procura chantagear Vera com uma carta de amor, que ela havia escrito para ele antes do seu casamento. Quando Dalmarez é subsequentemente assassinado, a suspeita recai sobre Vera, até que uma reviravolta na intriga revela o verdadeiro assassino. No seu lançamento em dezembro de 1920, Esplêndido Amante era um longa-metragem de seis rolos para promover Marguerite Namara, então uma cantora de ópera de sucesso. Em novembro de 1922 o filme foi remontado para três rolos, enfatizando o personagem de Valentino e relançado pela Select Film Corporation, para usufruir de seu estrelato, alcançado por sua performance em Os Quatro Cavaleiros do Apocalipse / The Four Horsemen of the Apocalypse / 1921.

Pouco mais de uma semana depois que o pessoal da American Company deixou St. Augustine, um grupo da velha Vitagraph Company chegou para filmar The Whisper Market / 1920, pois a história passaria em algum local da América do Sul e assim as costumeiras locações “espanholas” em torno da cidade foram usadas como cenários. Corinne Griffith estrelava o filme como a esposa de um consul americano em um país que seria presumidamente o Brasil.

Em 1924 Thomas Meigham chegou em St. Augustine para filmar apenas uma cena de Um Moderno Rocambole / The Confidence Man, no qual ele faz o papel de um vigarista, Don Corvan, que chega em uma pequena cidade, para aplicar mais um golpe. Entretanto a bondade dos habitantes daquele lugarejo toca o seu coração e ele se apaixona por uma jovem, interpretada por Virginia Valli. A única cena rodada em St. Augustine teve lugar no extremo oeste da Cincinnati Avenue na parte norte da cidade. Era uma cena de tempestade e o Corpo de Bombeiros Municipal providenciou a  chuvarada. As pessoas que assistiam à filmagem se amontoaram  tão próximo da filmagem, que acabaram ficando encharcadas junto com os atores.

Nos meados dos anos vinte St. Augustine já havia abandonado suas aspirações de se tornar um centro de produção cinematográfica. A produção de filmes na Costa Leste foi declinando e Hollywood já se tornara a capital mundial do cinema.

VINCENT PRICE

setembro 24, 2020

Vincent Leonard Price Jr. (1911-1993) nasceu em St. Louis, Missouri filho de Vincent Leonard Price, presidente da National Candy Company e Marguerite Willcox Price. Seu bisavô, Vincent Clarence Price, inventou o “Dr. Price´s Baking Powder”, o primeiro fermento em pó, e garantiu a fortuna da família. Vincent estudou no St. Louis Country Day School e na Milford Academy em Milford, Connecticut. Formado em História da Arte pela Universidade de Yale, após lecionar durante um ano, ele ingressou no Courtauld Institute of Art em Londres, para fazer o mestrado em Belas Artes, mas foi atraído pelo teatro, aparecendo profissionalmente no tablado em 1935 na peça “Chicago”.

Vincent Price

Em 1936, Price desempenhou o papel do Príncipe Alberto na peça de Laurence Housman “Victoria Regina”, depois encenada na Broadway, onde repetiu seu personagem ao lado de Helen Hayes, tendo sido muito elogiado pelos críticos, pelos colegas e pelo público. Ele trabalhou em mais algumas peças incusive “Parnell”, desta vez contracenando com Edith Barrett. Em 1938 Vincent foi convidado por Orson Welles para ingressar na companhia Mercury Theater, onde rencontrou Edith e se casou com ela. Neste mesmo ano, iniciou sua carreira cinematográfica na comédia romântica da Universal Serviço de Luxo / Service de Luxe ao lado de Constance Bennett, Charles Ruggles e Helen Broderick.

Vincent Price e Constance Bennett em Serviço de Luxo

Até 1945, Price interpretou somente papéis secundários, embora importantes, nos seguintes filmes: 1939 – Meu Reino por Um Amor / The Private Lives of Elizabeth and Essex. A Torre de Londres / The Tower of London 1940 – A Volta do Homem Invisível / The Invisible Man Returns, Inferno Verde / Green Hell, A Casa das Sete Torres / The House of the Seven Gables. O Filho dos Deuses / Brigham Young. 1941 – O Renegado / Hudson´s Bay 1943 – A Canção de Bernadette / The Song of Bernadette. 1944 – A Véspera de São Marcos / The Eve of St. Mark. Wilson / Wilson. Laura / Laura. As Chaves do Reino / The Keys of the Kingdom. 1945 – Czarina / A Royal Scandal. – Amar Foi Minha Ruína / Leave Her To Heaven.

Bette Davis e Vincent Price em Meu Reino por um Amor

Vincent Price e Jennifer Jones em A Canção de Bernadette

Gene Tierney e Vincent Price em Laura

Gene Tierney e Vincent Price em Amar foi Minha Ruína

Em 1946, Price interpretou seus  primeiros papéis principais em Choque! / Shock e O Solar de Dragonwick / Dragonwick) e prosseguiu como coadjuvante sempre eficiente em: 1947- Uma Aventura Arriscada / The Web. Noite Eterna / The Long Night. Rosas Trágicas / Moss Rose. 1948 – Um Sonho Distante / Up in Central Park. Legião Sinistra / Rogue´s Regiment. Os Três Mosqueteiros / The Three Musketeers. Ainda em 1948, ele emprestou sua voz para Às Voltas com Fantasmas / Abott and Costello Meets Frankenstein. 1949 – Lábios Que Escravizam / The Bribe. Bagdad / Bagdad. Em 1949 Vincent divorciou-se de Edith (com quem teve um filho, Vincent) e se casou com a figurinista Mary Grant (com quem teve uma filha, Victoria).

Lynn Bari e Vincent Price em Choque!

Vincent Price e Gene Tierney em O Solar de Dragonwick

Edmond O´Brien, Ella Raines e Vincent Price em Uma Avenrura Arriscada

Lana Turne e Vincent Price em Os Três Mosqueteiros

Nos anos cinquenta, Price brindou o público com três atuações memoráveis: em O Barão do Arizona / The Baron of Arizona / 1950 como James Addison Reavis, o aventureiro audacioso e arrogante que através de documentos falsos tentou se apropriar de todo o território do Arizona; em Champagne para Cesar / Champagne for Caesar / 1951 como Burnbridge Waters, o fabricante de sabonetes patrocinador de um programa de rádio de perguntas que vê a cada minuto o seu fim, quando um sabetudo vai respondendo tudo corretamente e com certeza  ganhará o prêmio milionário; em Seu Tipo de Mulher / His Kind of Woman / 1951 como Mark Cardigan, o ator cabotino e fanfarrão, que se jacta de exímio caçador e tem oportunidade de demonstrar esta habilidade, ao fazer na vida real o que fazia como herói na tela, recitando Shakespeare e desbaratando uma quadrilha de malfeitores no final do filme.

Vincent Price em O Barão Aventureiro

Vincent Price e Ronald Colman em Champagne para Cesar

Robert Mitchum, Vincent Price e Jane Russel em Seu Tipo de Mulher

No restante da década Price continuou se apresentando como coadjuvante em filmes de vários gêneros (1950 – Arrojado Embuste / Curtain Call at Cactus Creek. 1951 – Aventuras do Capitão Fabian / Adventures of Captain Fabian. 1952 – A Caminho do Pecado / The Las Vegas Story. 1954 – Tenho Sangue em Minhas Mãos / Dangerous Mission. A Grande Noite de Casanova / Casanova´s Big Night. 1955 – O Filho de Sinbad / Son of Sinbad. 1956 –Serenata / Serenade. No Silêncio de uma Cidade / While the City Sleeps. Os Dez Mandamentos / The Ten Commandments. 1957 – The Story of Mankind, somente exibido na TV como A História da Humanidade. 1959 – O Grande Circo / The Big Circus) e iniciou sua trajetória exitosa no campo do horror (1953 – Museu de Cera / House of Wax. A Máscara do Mágico / The Mad Magician. 1958 – A Mosca da Cabeça Branca / The Fly. 1959 – A Casa dos Maus Espíritos / House on Haunted Hill. Força Diabólica / The TinglerO Monstro de Mil Olhos / Return of the Fly. Nas Garras do Morcego / The Bat). Museu de Cera e A Mosca da Cabeça Branca foram duas produções classe A de muito sucesso, o mesmo ocorrendo com duas produções classe B, A Casa dos Maus Espíritos e Força Diabólica.

Vincent Price em Museu de Cera

Museu de Cera (Warner Bros.) é uma refilmagem de Os Crimes do Museu / The Mystery of the Wax Museum / 1933 com roteiro de Crane Wilbur e direção de Andre de Toth, utilizando o Natural Vision, sistema que, por exigir óculos polarizados e ampliar a perspectiva visual, garante uma sensação ótica tridimensional (acentuada quando objetos saem da tela, projetados à face do espectador). Em um ambiente de mistério da Nova York de 1900, um escultor de figuras de cera, Henry Jarrod (Vincent Price), enlouquecido com o incêndio do seu atelier por um sócio inescrupuloso, procura reconstituí-lo e, apaixonado pela idéia de uma galeria de personagens históricas famosas, utiliza criaturas reais como matéria-prima. Entrementes, uma das visitantes do atelier verifica que uma figura assemelha-se com sua amiga que fôra assassinada, o que dá margem a uma investigação policial, que culmina com a morte do escultor ao cair em um recipiente de cera em ebulição. A narrativa do tema truculento proporciona uma série de momentos de terror que o diretor Andre De Toth – integrando-se no espírito do novo processo – maneja muito bem, mantendo o suspense e a ação movimentada.

Herbert Marshall e Vincent price em A Mosca da Cabeça Branca

A Mosca da Cabeça Branca (Regal, 20thCentury-Fox), filmado em CinemaScope, é um filme de horror acrescido de ficção científica, com roteiro de James Clavell, que tem início quando o vigia noturno de um grande laboratório, atraído pelo funcionamento da prensa, depara-se com uma cena espantosa – da máquina baixada até o ponto zero, pendem as pernas de um cientista Andre Delambre (Al Hedison) enquanto uma mulher, visivelmente transtornada, abandona às pressas o local. A polícia, na pessoa do inspector Charas (Herbert Marshall) interroga Helene (Patricia Owens), esposa do morto, supostamente a autora do crime. Em um retrospecto, o espectador é levado, com o inspector Charas (Herbert Marshall) e o cunhado de Helene (Vincent Price), para os antecedentes do fato: o cientista morto inventara um processo de desintegração e reintegração sucessiva para transportar os corpos no espaço: ao testá-lo consigo próprio viu-se misturado com uma mosca que, sem ser pressentida, entrara na câmara desintegradora. Voltando ao presente, sem que mais ninguém saiba do ocorrido, a esposa procura desesperadamente localizar o inseto para salva o marido. O diretor Kurt Neumann constrói o suspense, primeiro deixando-nos imaginar o que aconteceu no laboratório e depois adiando o desmascaramento de Andre o máximo possível. O som estereofônico (desde o ruído da prensa elétrica, ao zumbido de uma mosca) é usado para se criar o clima assim como a tela larga, como naquela cena em que vemos imagens múltiplas de Helene de uma maneira que supomos uma mosca veria e ouvimos o seu grito de terror. E quem pode esquecer a cena final quando a aranha se aproxima da mosca e ouvimos a súplica desta pedindo socorro?

 Em A Casa dos Maus Espiritos (Allied Artists) o milionário Frederic Loren (Vincent Price) reúne um grupo de convidados em uma velha mansão, onde ocorreram vários crimes, e oferece 10 mil dólares para quem passar a noite lá. Os hóspedes são assustados por aparições de esqueletos, sangue pingando do teto, uma cabeça cortada etc. Na manhã seguinte, Loren lhges revela que sua esposa e o amante haviam planejado um crime perfeito, do qual ele seria a vítima. A atmosfera de tensão e de terror é bem criada, ganhando intensidade no curso dos episódios, cada vez mais angustiantes. Emergo, o truque publicitário empregado pelo produtor-diretor William Castle – “mais espantososo do que a 3-D”, era simplesmente um esqueleto preso por fios, que delizava sobre a platéia no momento em que Loren fazia com que os dois amantes caíssem em um tanque de ácido, para serem transformados instantaneamente em um monte de ossos.

 

Vincent Price em Força Diabólica

O enredo de Força Diabólica é ridículo, porém original: um médico, Dr. Warren Chapan (Vincent Price), descobre que o medo faz com que um microorganismo, parecido com uma centopéia, cresça dentro de um corpo humano até quebrar a sua coluna vertebral, causando a morte. Ele verifica também que gritar alivia a tensão, sendo, portanto, a única maneira de impeder que o microorganismo cresça. Mais tarde, ao examinar uma surda-muda que morrera aterrorizada, pois não podia gritar, encontra a centopéida dentro do corpo da falecida. Porém o monstro foge e provoca o pânico em um cinema, onde só passam filmes mudos. Esta é a melhor cena do filme: a centopéia aparece enquanto a platéia está assistindo ao clássico bucólico de Henry King, David, o Caçula / Tol’able David / 1921. Neste ponto, algumas poltronas dos cinemas nos quais Força Diabólica estava sendo exibido, previamente eletrificadas por ordem do Sr. Castle, começavam a vibrar, e o horror se transferia da arte para a vida.

 

Vincent Price em O Solar Maldito

 

 

 

VIncent Price em Orgia da Morte

Vincent Price em O Túmulo Sinistro

Nos anos sessenta, período áureo para o horror gótico, Price participou de oito produções dirigidas por Roger Corman em cores e tela larga, adaptados livremente das obras de Edgar Allan Poe e distribuídos pela American International Pictures (AIP). Esta associação de Price com Corman obteve grande êxito comercial e mereceu o respeito dos críticos. Foram sete filmes (1960 – O Solar Maldito / The Fall of the House of Usher. 1961 – A Mansão do Terror / The Pit and the Pendulum.1962 – Muralhas do Pavor / Tales of Terror. 1963 – O Corvo / The Raven. O Castelo Assombrado / The Haunted Palace. 1964 – Orgia da Morte / Masque of the Red Death.  O Túmulo Sinistro / The Tomb of Ligéia). A literatura gótico -romântica de Poe, explorando o lado sombrio da experiência humana – morte, alienação, ansiedade existencial, pesadelos, fantasmas, várias formas de insanidade e melancolia -, apesar de discrepâncias radicais entre os textos dos contos (ou poema) originais e os enredos dos filmes, encontrou um intérprete compreensivo em Corman, que soube manter o espírito do genial escritor. Mas o principal trunfo de Corman foi obviamente Vincent Price, que embora tivesse sido às vezes criticado por superrepresentar, tirou excelente partido de sua voz suave e dicção perfeitas para expressar com perfeição os seres humanos atormentados e excêntricos desses filmes impregnados de terror psicológico, os quais examinei detalhadamente no meu post de 21 de janeiro de 2012.

Vincent Price em O Caçador de Bruxas

Ainda nos anos sessenta Price atuou em: 1961 – Robur, o Conquistador do Mundo / Master of the World. Nefertiti, a Rainha do Egito / Queen of the Nile. O Pirata Negro / Gordon, Il Pirata Nero – Rage of the Buccaneers. 1962 – Vício Que Mata / Confessions of an Opium Eater. A Morte Caminha a Meu Lado / Convicts 4. A Torre de Londres / Tower of London. 1963 – Diário de um Louco / Diary of a Madman. A Praia dos Amores / Beach Party. Nos Domínios do Terror / Twice Told Tales. Farsa Trágica / The Comedy of Terrors. 1964 – Mortos Que Matam / The Last Man on Earth. 1965 – Monstros da Cidade Submarina / War Gods of the Deep. A Máquina de Fazer Bikinis / Dr. Goldfoot and the Bikini Machine. 1966 – Bonecas Explosivas / Le Spie Vengono del  SemifreddoDr. Goldfoot and the Girls Bombs. 1967 – La Casa de Las Mil Muñecas –  House of a 1.000 Dolls. Os Chacais / The Jackals. 1968 – O Caçador de Bruxas(TV) / Witchfinder General. 1969 – Mais Morto Do Que Vivo / More Dead Than Alive. Lindas Encrencas: As GarotasThe Trouble with Girls. O Ataúde do Morto Vivo / The Oblong Box.

 

Dentre estes, merece destaque Farsa Trágica. uma paródia dos filmes de horror com roteiro de Richard Matheson (que colaborou com Roger Corman em quatro exemplares da série Poe), valorizada pela presença de quatro intérpretes famosos familiarizados com o gênero  (Vincent Price, Peter Lorre, Basil Rathbone, Boris Karloff) e uma breve participação do “Boca Larga” (Joe E. Brown) como um coveiro. Esta farsa cômica, misturando humor negro e burlesco, explora uma única idéia: o dono de uma empresa funerária falida, o beberrão e inescrupuloso Waldo Trumbull (Vincent Price), não podendo pagar os aluguéis atrasados reclamados pelo senhorio, Sr. John F. Black (Basil Rathbone), decide matar algumas pessoas com a ajuda de seu empregado Felix Gillie (Peter Lorre), para aumentar a clientela, inclusive o cobrador – porém este sofre de catalepsia (citando Shakesperare após cada ataque) e ressuscita diversas vezes, levando o desespero aos seus desatinados matadores. Boris Karloff é Amos Hinchley, velho senil, surdo e glutão, fundador da empresa funerária e sogro de Trumbull, cuja maltratada esposa, Amarylis (Joyce Jameson), tem mania de cantora e acaba fugindo com seu eternamente apaixonado Felix, deixando o marido em depressão. O espetáculo se excede por vezes no grotesco e vira uma chanchada, mas é bem divertido.

Vincent Price emO Uivo da Bruxa

Nos anos setenta e oitenta Price fez: 1970 – Agonia do Terror / Scream and Scream Again. O Uivo da Bruxa / Cry of the Banshee. 1971 – O Abominável Dr. Phibes / The Abominable Dr. Phibes. 1972 – A Câmara de Horrores do Diabólico Dr. Phibes / Dr. Phibes Rises Again. The Aries Computer. 1973 – As Sete Máscaras da Morte / Theater of Blood. A Casa dos Rituais Satânicos / Madhouse. 1974 – Após o Transplante, o Super-Homem / Percy´s ProgressIt´s Not The Size That Counts. 1975 – Jornada do Pavor / Journey Into Fear. 1977 – The Butterfly Ball. 1979 – Scavenger’s Hunt. 1981 – O Clube dos Monstros / The Monster Club. 1983 – A Mansão da Meia-Noite / House of the Long Shadows. 1984 – Banho de Sangue na Casa do Terror / Bloodbath in the House of Death. 1987 – Do Sussurro ao Grito / The OffspringFrom a Whisper to a Scream. Baleias de Agosto / The Whales of August.1988 – Um Tira do Outro Mundo / Dead Heat. O Abominável Dr. Phibes e As Sete Máscaras da Morte foram os mais importantes.

Vincent Price em O Abominável Mr.Phibes

No primeiro, dirigido por Robert Fuest e baseado em personagens criados por James Whiton e William Goldstein, em Londres, na década de 30, vários médicos são mortos de modo brutal. O Dr. Anton Phibes (Vincent Price) e sua assistente muda Vulnavia (Virginia North) são os responsáveis. Phibes fora horrivelmente desfigurado em um acidente, dado como morto, e procede à vingança contra os nove médicos nas mãos dos quais morreu sua esposa Victoria (Caroline Munro), cujo corpo está conservado em uma cripta, utilizando as Dez Pragas do G’Tach que os hebreus usaram contra os egípcios. Assim um médico é morto por picadas de abelhas; outro estraçalhado por morcegos; um terceiro sufocado por uma máscara de sapo em uma festa; o quarto deixado sem uma gota de sangue; o quinto congelado por um aparelho que produz granizo; o sexto mutilado por ratos; o sétimo empalado pelo chifre de um unicórnio de bronze. A enfermeira Allen (Susan Travers) acaba devorada por gafanhotos; e o médico-chefe Vesalius (Joseph Cotten) tem seis minutos para extrair uma chave implantada no peito de seu filho, chave com que poderá libertá-lo e impedir que um ácido caia sobre ele. Vesalius salva o filho in extremis e o ácido mata Vulnavia. Phibes se junta ao cadáver da esposa na cripta e se auto-embalsama. Quando a polícia espera a última praga – a Maldição das Trevas – as luzes se apagam e ouvimos uma gargalhada sob o som de ”Over the Rainbow”. O sucesso comercial do fime propiciou o lançamento da continuação  A Câmara dos Horrores do Diabólico Dr. Phibes, do mesmo diretor.

Vincent Price emAs Sete Máscaras da Morte

No segundo iludido por um telefonema, o crítico teatral Maxwell (Michael Hordern) é morto a facadas em um beco por uma turba de mendigos, enquanto um homem recita um texto de “Júlio Cesar”; pouco depois, seu colega Snipe (Dennis Price) é traspassado por uma lança e seu corpo arrastado por uma biga, tal como Heitor em  “Troilus e Cressida”. O inspetor Boot  (Milo O’ Shea) e o presidente da associação de críticos teatrais Devlin (Ian Hendy) suspeitam de que o supostamente  morto ator shakespereano Edward Lionheart (Vincent Price) perpetra uma vingança contra  os críticos que lhe recusaram o prêmio de melhor ator.  Ajudado por sua filha Edwina (Diana Rigg), o alucinado Lionheart mata os críticos baseando os crimes em passagens de peças de Shakespeare. A mulher de Sprout (Joan Hickson) depara-se de manhã com o marido  (Arthur Lowe) decapitado tal como Margarida em “Cymbeline”. Dickman (Harry Andrews) tem o coração arrancado e pesado pelo Shylock de “O Mercador de Veneza”. Larding (Robert Coote) se afoga em um barril de vinho (“Ricardo III”). Psaltery (Jack Hawkins) se enciúma  da mulher a ponto de matá-la (“Othelo”). A srta Moon (Coral Browne) é eletrocutada  (paródia de “Henrique VI”). Merridew (Robert Morley) devora sem querer sues cães de estimação (“Tito Andrônico”). Devlin, ferido ao esgrimar no estilo de “Romeu e Julieta”, é poupado para o final: ter seus olhos vazados (“Rei Lear”) se não entregar o prêmio a Lionheart. O crítico recusa e a polícia chega em tempo para salvá-lo, enquanto o ator faz uma derradeira apresentação e se lança do alto do teatro.

Vincent Price em Edward Mãos de Tesoura

Em 1990 a trajetória cinematográfica de Price encerrou-se com dois filmes,  Atraída pelo Perigo / Catchfire  e Edward Mãos de Tesoura / Edward Scissorshands, no qual fez o papel do criador de Edward, que morreu sem terminar sua criação. Foi seu último papel no cinema.

Price esteve sempre ativo no teatro (v .g. na companhia La Jolla Playhouse); no rádio em novelas, radioteatros ou séries radiofônicas (v. g. como Simon Templar na série imensamente popular The Saint); na televisão (v. g. aparecendo em inúmeros teleteatros, telefilmes, documentários, sitcons, séries (quem não se lembra dele como Cabeça de Ovo no seriado Batman ou como convidado de Here´s Lucy, do Carol Burnett Show, do Muppet Show entre outros?), game shows (v. g. o controvertido $64.000 Challenge, no qual disputou o prêmio, respondendo sobre arte, com Edward G. Robinson) ou animando vários talk shows com o seu irresistível senso de humor; emprestando sua voz para filmes ou vídeos (v. g. o inolvidável Thriller de Michael Jackson).

Vincent Price como O Cabeça de Ovo na série Batman

Além disso, com o seu diploma de História da Arte na Yale e um ano de estudos na Courtauld, Price foi aceito na comunidade artística de Los Angeles como um connoisseur de arte legítimo. Ele abriu uma galeria de arte de parceria com seu colega George Macready; organizou um museu de arte moderna em Los Angeles, The Modern Institute of Art; foi curador do Los Angeles County Museum e membro do UCLA Arts Council; deu palestras sobre arte em universidades e prefeituras,  sendo às vezes solicitado para declamar poemas com sua dicção impecável, acompanhado às vezes por orquestras sinfônicas; preparou com Mary, “The Michelangelo Bible”, livro luxuoso com reproduções do artista para ser vendido pela Sears; ajudou o The White House Art Committee, presidido por Jacqueline Kennedy, a comprar obras de Arte Americana; escreveu livros sobre arte “The Vincent Price Treasury of American Art), culinária (“A Treasury of Great Recipes”), uma autobiografia visual, “A Visual Autobiography – I Like What I Know” e manteve uma coluna semanal sobre arte no Chicago Tribune.

Price e sua coleção de obras de arte

Ele se casou três vezes: com Edith Barrett (1930 – div. 1948), Mary Grant (1949- 1973) e Coral Browne (1974 – 1991, quando ela faleceu). Em “Vincent Price – A Daughter’s Biography” (reeditado pela Dover em 2018) Victoria termina o epílogo do livro, contando uma história sobre seu pai, narrada por Alan Bates, que estava presente quando o fato ocorreu. “Estavamos jantando com Coral e Vincent. No final da refeição uma mulher se aproximou e pediu para Vincent, ‘O senhor pode me dar seu autógrafo?’. E ele respondeu: ‘certamente’ e assinou com o nome ‘Dolores del Rio’. Eu disse, ‘Vincent, você não pode fazer isto. Daqui a um minuto ela vai voltar enraivecida.  Ela vai derramar uma tijela de sopa na sua cabeça’. Ele virou-se para mim e falou, ‘Antes de falecer, Dolores me disse, “Nunca deixe que eles me esqueçam.” ’ ”

PETE SMITH

setembro 9, 2020

Uma das mais longas e bem sucedidas séries de curtas-metragens de todos os tempos foi Uma Especialidade de Pete Smith / Pete Smith Specialties, produzida pela MGM. Seu criador, cujo verdadeiro nome era Peter Schmidt (1892-1979), nasceu na cidade de Nova York e entrou para a indústria do entretenimento como secretário do diretor geral de um sindicato de artistas do vaudeville. Ele trabalhou na revista do sindicato e, quando esta encerrou suas atividades, arrumou emprego na revista Billboard como editor e crítico. Movendo-se para a assessoria de imprensa, Pete trabalhou com expoentes da cinematografia como Douglas Fairbanks e Samuel Goldwyn e eventualmente tornou-se o chefe do departamento de publicidade da Matro-Goldwyn-Mayer. Quando em 1931 precisaram de alguém para escrever e narrar os curta-metragens do estúdio, Pete foi o escolhido e assumiu o posto concomitantemente como os seus deveres como publicista. Em pouco tempo, no entanto, os curtas se tornaram sua única ocupação.

Pete Smith

Os primeiros shorts do quais Pete se ocupou faziam parte de duas séries da MGM: Fisherman’s Paradise e Sports Champions. Um deles, Wild and Wooly / 1931, apresentava cenas de rodeio. Pete decidiu que, em vez de exibí-las na maneira tradicional, ele iria fazer umas trucagens, filmando-as de trás para frente, congelando-as e até mostrando-as de cabeça para baixo, e acrescentando sua narração irônica e efeitos sonoros engraçados. Este se tornou seu estilo padrão.

À medida em que a popularidade de Pete cresceu e a MGM percebeu seu potencial, a MGM colocou-o em outras séries: Fisherman´s Paradise, Sports Champions, Cinemalucos / Goofy Movies; MGM Oddities, Sports Parade, MGM Miniatures, MGM Specials, MGM Musical Revue (todas com alguns exemplares exibidos no Brasil) e finalmente, em 1935, o estúdio lhe deu a sua própria série: Uma Especialidade Pete Smith.

Treze Especialidades foram indicadas para o Oscar, sendo que duas ganharam a estatueta: Dona Prudência / Penny Wisdom / 1937 e Prodígios Fotográficos ou Coisas Que Os Olhos Não Vêem / Quicker’ n a Wink / 1940.  Em 1943 Smith narrou um short patriótico para o Governo dos Estados Unidos, The Tree in a Test Tube, filmado em cores com Stan Laurel e Oliver Hardy. O narrador das Especialidades era o próprio Smith, cuja voz de tenor e tom nasal era reconhecida como uma marca da série. Aqui no Brasil ele foi dublado por Luiz Jatobá. Nos créditos o nome de Pete Smith aparecia assim: “Produzido e Narrado por um Smith chamado Pete”.

Quicker´n a Wink

Entre os diretores que trabalharam com Smith estavam Felix Feist, Will Jason, Nick Grinde, Edward L. Cahn, Joseph M. Newman, Roy Rowland, David Miller, Gunther V. Fritsch, especialistas em curtas como Ray McCarey e Jules White (que supervisionaria a carreira de Os Três Patetas), e outros como Jacques Tourneur, Fred Zinnemann e George Sidney, que construiriam uma carreira proeminente na produção A.

Cena de Os Cacetes do Cinema

Durante os anos quarenta o stuntman, depois conhecido como mocinho de westerns B e de um seriado, Capitão Meia-Noite / Captain Midnight / 1942, Dave O’Brien tornou-se o principal ator das Especialidades, interpretando sempre um sujeito enfrentando incômodos cotidianos e outros problemas com os quais os espectadores podiam se identificar, expressando sua satisfação ou frustração inteiramente em termos visuais enquanto o narrador Smith fazia um comentário. O´Brien dirigiu vários shorts, usando o nome de David Barclay.

Dave O´Brien e Dorothy Noiteem Capitão Meia-Noite

Dave O´Brien como o Capitão Meia-Noite

Alguns dos shorts de O´Brien eram baseadas em várias  “pestes”. A primeira delas, Os Cacetes do Cinema / Movie Pests é encontrada em uma platéia de cinema: a senhora que insiste em usar seu chapéu na poltrona à frente de outro infeliz espectador; um sujeito que quebra amendoins durante toda a projeção do filme e joga as cascas fora aleatoriamente; um espectador de pernas longas que mantém um pé no corredor, fazendo com que pessoas tropecem, e assim por diante. O short, indicado para o Oscar, é muito engraçado, mas o melhor ocorre no final quando alguns espectadores incomodados pelas “pestes” se vingam, um cortando as plumas do chapéu da senhora na sua frente, outro pisando no pé do idiota de pernas longas etc. Já em Como é Bom Andar de Ônibus Bus Pests / 1945, Convidados Indigestos / Guest Pets / 1945 e Vizinhos Indigestos / Neighbor Pests / 1948, Dave tem que lidar com outras “pestes”. Neste último short os vizinhos de Dave usam seu telefone, tomam emprestado seu cortador de grama, dão festas de arromba até tarde da noite e, pior do que tudo, , abrigam um cão policial ferocíssimo.

The Romance of Radium

Em 1937 a equipe de Smith tornou-se a primeira a fotografar o radium no California Institute of Technology para o short O Romance do Radium / The Romance of Radium, indicado ao Oscar. No ano anterior, dois jovens, Arthur Ornitz e Gunther von Fritsch, trouxeram para Smith um filme de 16mm que haviam feito sobre um viralata sem teto em uma cidade movimentada. Smith gostou e os contratou para expandí-lo e refilmá-lo como Wanted: A Master, também indicado ao prêmio da Academia

Nos anos 40 Fritsch continuou a fazer shorts sobre cães para Smith, inclusive o excelente Fala-O Cachorrinho do Presidente / Fala-The President’s Dog / 1943. Este foi um dos melhores shorts do tempo da guerra, uma “ autobiografia” do cãozinho do Presidente Roosevelt que (com a voz de Pete Smith) nos conta  sobre um dia típico na sua vida . O short combina cenas de atualides e material de arquivo com novas cenas filmadas na Casa Branca, inclusive algumas tomadas de Fala brincando com “o Chefe”. Uma continuação em Technicolor, Fala-O Cachorro Prodígio / Fala at Hyde Park, foi feita anos depois com um script aprovado e ligeiramente revisado por Franklyn Delano Roosevelt.

Fala, the President´s Dog

Durante o Segundo Conflito Mundial Mundial Smith colaborou para o esforço de guerra realizando filmes para levantar a moral dos soldados e/ou filmes instrutivos.

Marines in the Making

Dois deles, Campeões do Exército / Army Champions / 1941 e Fuzileiros de Tio Sam / Marines in the Making / 1942, foram indicados para o Oscar. Porém o mais original foi Ferro Velho / Scrap Happy, contando a história de pedaços de metal curiosos achados nos montes de ferro velho recolhidos para a fabricação de armamentos.

Animado com a popularidade do seus shorts sobre esportes, principalmente Football Thrills of 1937 /1938, Smith resolveu lançar um todo ano no início de cada campeonato de futebol. Outra série-dentro-da série foi Testes / What´s Your I. Q.? , um short de testes para o público cobrindo variados temas. Em 1940, Smith superou sua série sobre 3-D iniciada nos seus MGM Specials (Audioscópios / Audiscopiks / 1935, A Nova Audioscopia / New Audioscopiks / 1938, Assassinato Metroscópio / Third-Dimensional Murder / 1941) com outro short singular, Prodígios Fotográficos ou Coisas Que Os Olhos Não Vêem / Quicker ‘n a Wink (Já mencionado acima). Ele nasceu de uma colaboração  entre o diretor George Sidney, o roteirista Buddy Adler (depois produtor e chefe de produção da 20thCentury-Fox) e o Dr. Harold Eggerton do Massachusetts Institute of Technology. Foi a primeira fez que o estroboscópio foi usado para filmar ações fugazes, para mostrar o que realmente acontece em uma fração de segundo (v. g.  uma bolha estourando, e assim por diante).

Em 1953 Smith foi agraciado com um Prêmio Honorário da Academia “pelas suas observações espirituosas e pungentes da cena americana na série Pete Smith Specialties”. Ele passou os últimos anos anos de sua vida com problemas de saúde, internado em uma casa de convalescença em Santa Monica, Califórnia e, em 12 de janeiro de 1979, cometeu suicídio, saltando do telhado do edifício, onde estava internado.

FILMOGRAFIA DAS ESPECIALIDADES PETE SMITH

1936

Killer Dog (Dir: Jacques Tourneur)

Behind the Headlines (Dir: Edward Cahn)

Olympic Ski Champions (Dir:  não creditado)

Sports on Ice (Dir: não creditado)

Hurling (Dir: David Miller)

Wanted: A Master (Dir: Gunther Von Fritsch, Arthur Ornitz). Indicado ao Oscar.

1937

Destreza / Dexterity (Dir: David Miller)

Embelezando o Belo / Gilding the Lily (Dir: David Miller).

Bar-Rac’s Night Out (Dir: Earl Frank)

Dona Prudência / Penny Wisdom (Dir: David Miller). Filmado em Technicolor. vencedor do Oscar.

Tennis Tactis (Dir: David Miller)

Grand Bounce (Dir: Jacques Tourneur)

Golf Mistakes (Dir: Felix E. Feist)

Pigskin Champions (Dir: Charles Clarke)

Acrobacias Equestres / Equestrian Acrobatics (Dir: David Miller)

Jungle Juveniles (Dir: John A. Haeseler)

Ski Skill (Dir: não creditad)

Romance do Radium / The Romance of Radium (Dir: Jacques Tourneur). Indicado ao Oscar.

Cameramaníacos / Candid Cameramaniacs (Dir: Hal Yates)

Decathlon Champion (Dir: Felix E. Feist)

1938

Verdadeiro Amigo / Friend Indeed (Dir: Fred Zinnemann)

Jungle Juveniles #2 (Dir: John A. Haeseler)

Três Numa Corda / Three on a Rope (Dir: Willard Vander Veer)

La Savate (Dir: David Miller). Filmado em Technicolor.

Penny’s Party (Dir: David Miller). Filmado em Technicolor.

Manequins de Carne e Osso / Modeling for Money (Dir: David Miller).

Heróis das Ondas / Surf Heroes (Dir: Charles T. Trego)

A História do Dr. Carver / The Story of Dr. Carver (Dir: Fred Zinnemann)

Anestesia / Anesthesia (Dir: Will Jason)

Arco e Flecha / Follow the Arrow (Dir: Felix E. Feist)

A Arte de Esmurrar / Fisticuffs (Dir: David Miller).

Footbal Thrills of 1937 (Dir: não creditado)

Grid Rules (Dir: Edward Cahn)

Tempo Quente no Gelo / Hoton Ice (Dir: Willard Vander Veer)

O Maior Amigo do Homem / Man’s Gretest Friend (Dir: Joe Newman).

O Picnic de Dona Prudência / Penny´s Picnic (Dir: Will Jason). Filmado em Technicolor.

1939

Mergulhos Duplos / Double Diving (Dir: Felix E. Feist).

Heróis por Esporte / Heroes at Leisure (Dir: Charles T. Trego)

Circo Marinho / Marine Circus (Dir: James A. FitzPatrick)

 

Profetas do Tempo

Profetas do Tempo / Weather Wizards (Dir: Fred Zinnemann)

Radio Amadores/ Radio Hams (Dir: Felix E. Feist)

A Poesia da Natureza / Poetry of Nature (Dir: Mervyn Freeman)

A Arte de Trinchar

A Arte de Trinchar / Culinary Carving (Dir: Felix E. Feist)

O Jôgo do Bilhar / Take a Cue (Dir: Felix E. Feist).

Football Thrills of 1938 (Dir: não creditado)

O Jôgo da Bola / Set’em Up (Dir: Felix E. Feist).

O Perú Assado / Let´s Talk Turkey (Dir: Felix E. Feist)

Esquiadores Alados / Ski Birds (Dir:  Charles T. Trego)

A História da Batata / Romance of the Potato (Dir: Sammy Lee).

1940

Justiça Acima de Tudo / Maintain the Right (Dir: Joe Newman, Willard Vander Veer)

What´s Your I. Q. #1 (Dir: não creditado).

Stuffie / Stuffie (Dir: Fred Zinnemann).

Sexo Forte / The Domineering Male (Dir: John Hines)

Manchas Que Desmancham / Spots Before Your Eyes (Dir: John Hines)

Testes / What´s Your I. Q. #2 (Dir: George Sidney).

Feras de Estimação / Cat College (Dir: Joe Newman).

Focas Sociais / Social Sea Lions (Dir: John Hines).

Please Answer (Dir: Roy Rowland).

Football Thrills of 1939 (Dir: não creditado).

Pete Smith, George Sidney e Dave O´Brien

Prodígios Fotográficos ou Coisas Que Os Olhos Não Vêem / Quicker’n a Wink (Dir: George Sidney. Vencedor do Oscar.

Contas de Casamento / Wedding Bills (Dir: Roy Mack)

Divertimentos Aquáticos / Sea for Yourself (Dir: Charles T. Trego)

1941

Prudência em Ação / Penny to the Rescue (Dir: Will Jason). Filmado em Technicolor.

Quiz Biz (Dir: Will Jason)

Memory Tricks (Dir: Will Jason)

Calouros do Ar  / Aeronautics (Dir: Francis Corby, S, B. Harrison)

Leões à Solta / Lions on the Loose (Dir: Marjorie Freeman)

Ritmo Cubano

Ritmo Cubano / Cuban Rhythm (Dir: Will Jason)

Piolhos D´Água / Water Bugs (Dir: Will Jason)

Football Thrills of 1940 Dir: não creditado)

Um Drama / Flicker Memories (Dir: George Sidney)

Campeões do Exército / Army Champions (Dir: Paul Vogel). Indicado ao Oscar.

Fancy Answers (Dir: Basil Wrangell)

Como Prender Seu Marido / How To Hold Your Husband -Back (Dir: John Hines)

1942

Passatempos Aquáticos / Aqua Antics (Dir: Louis Lewyn)

Quem Tem Pena de Papai / What About Daddy? (Dir: Will Jason)

Férias de Circo / Acro-Batty (Dir: Louis Lewyn)

Victory Quiz (Dir: Will Jason)

O Album de Pete Smith / Pete Smith’s Scrapbook (Dir: não creditado)

Barbee-Cues (Dir: Will Jason)

Defesa Própria / Self Defense (Dir: Philip Anderson)

Vida de Câo / It´s a Dog Life (Dir: Robert Wilmot)

Victory Vittles (Dir: Will Jason)

Football Thrils of 1941 (Dir:  Não creditado)

Como é Bom Ser Papai / Calling All Pa´s (Dir: Will Jason)

Fuzileiros Navais de Tio Sam / Marines in the Making (Dir: Herbert Polesie). Indicado  ao Oscar.

1943

Primeiros Socorros/ First Aid (Dir: Will Jason)

Os Temerários de Hollywood / Hollywood Daredevils (Dir: Louis Lewyn)

Fala – O Cachorro do Presidente / Fala – The President’s Dog (Dir: Gunther V. Fritsch)

Wild Horses (Dir: não creditado)

Asas Seguras /Sky Science (Dir: Will Jason)

Asilo Canino / Dog House (Dir: Robert Wilmot)

Mãos Videntes / Seeing Hands (Dir: Gunther V. Fritsch). Indicado ao Oscar.

A Sétima Coluna / Seventh Column (Dir: Will Jason).

Ferro Velho / Scrap Happy (Dir: Wil Jason)

Coisas Que Incomodam / Fixin’ Tricks (Dir: Will Jason)

Football Thrills of 1942 (Dir: não creditado)

Tips on Trips (Dir: Will Jason)

Sabedoria Aquática / Water Wisdom (Dir: não creditado)

1944

O Engraçadinho / Practical Joker (Dir: Will Jason)

Feito em Casa / Home Maid (Dir: Will Jason)

Groovie Movie (Dir: Will Jason)

Memórias de um Desportista / Sportsman’s Memories (Dir: não creditado)

Os Cacetes do Cinema / Movie Pests (Dir: Will Jason). Indicado ao Oscar.

Sabatina Desportiva / Sports Quiz (Dir: não creditado)

Football Thrils of 1943 (Dir: não  creditado)

Abaixo com os Acidentes/ Safety Sleuth (Dir: Will Jason)

1945

Track and Field Quiz (Dir: não creditado)

Totós de Hollywood / Hollywood Scout (Dir: Phil Anderson)

Football Thrills of 1944 (Dir: não creditado)

Convidados Indigestos / Guest Pests (Dir: Will Jason)

Como é Bom Andar de Ônibus / Bus Pests (Dir: Chuck Riesner)

Badminton (Dir: Philip Anderson)

1946

Sports Sticklers (Dir: não creditado)

Fala – O Cachorro Prodígio / Fala at Hyde Park (Dir: Gunther V. Fritsch)

Getting’ Glamor (Dir: Philip Anderson)

Studio Visit (Dir: não creditado)

Você é Bom Cavaleiro ?/ Equestrian Quiz (Dir: não creditado)

Treasures from Trash (Dir: David Barclay)

Football Thrills #9 (Dir: não creditado)

Sure Cures (Dir: David Barclay). Indicado ao Oscar.

Eu Gosto de Meu Marido … às Vezes / I Love my Husband, But! (Dir: David Barclay)

Brincando no Escuro / Playing by Ear (Dir: David Barclay)

1947

Athletiquiz (Dir: David Barclay)

Diamond Demon (Dir: David Barclay)

Esportes de Antigamente / Early Sports Quiz (Dir: David Barclay)

I Love My Wife, But! (Dir: David Barclay)

Vizinhos Indigestos / Neighbor Pests (Dir: David Barclay)

Coisas Que Aborrecem / Pet Peeves (Dir: David Barclay)

Football Thrills # 10 (Dir: não creditado)

Surfboard Rhythm (Dir: David Barclay)

What D’Ya Know (Dir: David Barclay)

Have You Ever Wonderer (Dir: David Barclay)

1948

O Rei do Boliche / Bowling Tricks (Dir: David Barclay)

Eu Gosto de Minha Sogra … às Vezes / I Love My Mother-in-Law, But! (Dir: David Barclay)

Now You See It (Dir: Richard L. Cassell). Indicado ao Oscar.

You Can´t Win (Dir: David Barclay). Indicado ao Oscar.

Vamos Supor / Just Suppose (Dir: David Barclay)

Football Thrills #11 (Dir: não creditado)

Por Que Será? / Why Is It? (Dir: David Barclay)

Pigskin Skill (Dir: Carl Dudley). Filmado em Technicolor.

Arte Sobre o Gelo / Ice Aces (Dir: David Barclay)

Vamos Cogitar / Let’s Cogitate (Dir: David Barclay)

1949

Super Homens do Bilhar / Super Cue Men (Dir: David Barclay)

What I Want Next (Dir: David Barclay)

Scientifiquiz (Dir: não creditado)

Those Good Old Days (Dir: David Barclay)

Pescando e Brincando / Fishing for Fun (Dir: Lewis Ossi). Filmado em Technicolor.

Football Thrills #12 (Dir: não creditado)

Water Trix (Dir: Charles T. Trego). Indicado ao Oscar.

Mas Como? / How Come? (Dir: David Barclay)

We Can Dream, Can´t We? (Dir: David Barclay)

Proezas Desportivas / Sports Oddities (Dir: não creditado)

Pest Control (Dir: David Barclay)

Atores a Muque / Crashing the  Movies (Dir: não creditado)

Wrong Son (Dir: Gunther V. Fritsch)

1950

Did’Ja Know (Dir: David Barclay).

Quem Conta um Conto … / That’s His Story (Dir: David Barclay). Indicado ao Oscar.

A Wife’s Life (Dir: David Barclay)

 

Wrong Way Butch (Dir: David Barclay). Indicado ao Oscar.

Football Thrills #13 (Dir: não creditado)

Magos do Bilhar / Table Toppers (Dir: David Barclay)

Competições Originais/ Curious Contests (Dir: não creditado)

Wanted: One Egg (Dir: David Barclay)

1951

Esquiadores dos Céus / Sky Skiers (Dir: Charles T. Trego) Curious Contests (Dir: não creditado)

O Gênio Louco / Fixin’Fool (Dir: David Barclay)

Fotógrafo Detetive / Camera Sleuth (Dir: David Barclay)

A Delícia dos Médicos/ Bandage Bait (Dir: David Barclay)

Football Thrills #14 (Dir: não creditado)

Isso é o Que Você Pensa / That’s What You Think (Dir: David Barclay)

Se Você é Curioso / In Case You’re Curious (Dir: David Barclay)

Proezas de Pesca / Fishing Feats (Dir: Charles T. Trego)

Acham Que Entendem os Músicos? / Musiquiz (Dir: David Barclay)

1952

Dona Gordurosa / Reducing (Dir: David Barclay)

É Só Saber Como / Mealtime Magic (Dir: Will Jason). Filmado em Technicolor.

 

Ginástica Rítmica / Gymnastic Rhythm (Dir: não creditado). Filmado em Technicolor.

It Could Happen to You (Dir: David Barclay)

Pedestrian Safety (Dir: David Barclay)

Football Thrills #5 (Dir: não creditado)

Doces Memórias / Sweet Memories (Dir: David Barclay)

Keep it Clean (Dir: David Barclay). Não foi lançado.

Adoro Crianças, Mas … / I Love Children, But! (Dir: David Barclay)

 

1953

Esquiadores Aquáticos Infantís / Aquatic Kids (Dir: não creditado)Sinuca de Bico / The Mosconi Story (Dir: David Barclay)

Você Pode Responder? / Travel Quiz (Dir: não creditado)

The Postman (Dir: não creditado)

Cachorros e Patos / Dogs’n Ducks (Dir: não creditado)

Ancient Cures (Dir: não creditado)

Cash Stashers (Dir: David Barclay)

Serviço Bem Feito / It Would Serve’ em Right (Dir: David Barclay)

This is a Living (Dir: não creditado)

Os Males do Senhorio / Landlording (Dir: David Barclay)

Things We Can Do Without (dir: David Barclay)

1954

Film Antics (Dir: David Barclay)

Ain’t It Aggravatin’(Dir: David Barclay)

Conversa Fiada / Fish Tales (Dir: não creditado). Filmado em Technicolor.

Isso de Favores… / Do Someone a Favor (Dir: David Barclay)

Out of Fun (Dir: David Barclay)

Perigos Domésticos / Safe at Home (Dir: David Barclay)

Raridades Fílmicas / The Camera Caught It (Dir: não creditado)

Rough Riding (Dir: não creditado). Filmado em Technicolor.

Sem Jeito Mandou Lembranças / The Man Around the House (Dir: David Barclay)

Mantenha-se Jovem / Keep Young (Dir: não creditado)

Proezas Esportivas / Sports Trix (Dir: não creditado)

Só Faltava Isto / Just What I Needed (Dir: David Barclay)

Adivinhe Se Puder! / Global Quiz (Dir: não creditado). Filmado em Technicolor.

Cenas do Reino Animal / Animals in Action (Dir: não creditado)

Curiosidades Históricas / Historical Oddities (Dir: não creditado)

 

Fraturas, Escoriações e Cia. / Fall Guy (Dir: não creditado). Tributo a Dave O´Brien e suas proezas atléticas com cenas de cinco de seus shortsYou Can´t Win, Wrong Way Butch, Pet Peeves, We Can Dream Can´t We? e Let´s Cogitate.

 

TELEVISÃO CONTRA HOLYWOOD

agosto 26, 2020

A televisão ameaçou Hollywood com uma nova tecnologia, e Hollywood reagiu com algo equivalente, explorando as vantagens tecnológicas que o cinema possuía em 1950 sobre o novo meio: a cor, os processos de tela e filme largos e a 3a Dimensão.

A competição com a televisão ocasionou a rápida conversão da produção em preto e branco para a colorida entre 1952 e 1955. Em 1947, apenas 12% dos filmes de longa-metragem americanos eram feitos em cores; em 1954 o número havia subido para mais de 50%.

A cor foi amplamente usada desde os primórdios do cinema. Os sistemas de cor pódiam ser naturais ou artificiais. Os sistemas de cor artificial datam do nascimento do cinema e envolvem a colorização do filme no todo ou em parte. Os processos então disponíveis eram a colorização à mão, a estencilização, o tingimento e a viragem.

O Roubo do Grande Expresso

Os primeiros filmes foram coloridos à mão imagem por imagem (v. g. o plano da explosão de um tiro de revólver no final de O Roubo do Grande Expresso / The Great Train Robbery / 1903 de Edwin S. Porter). Em 1905, Charles Pathé inventou um processo de pintura por meio de estêncil chamado Pathécolor (rebatizado de Pathéchrome em 1929), que mecanizava a aplicação da cor. Nos Estado Unidos uma outra forma de estencilização foi patenteada em 1916 pelo gravador Max Handschiegl e pelo cinegrafista Alvin Wycoff. O processo Handschiegl foi usado, por exemplo, em Intolerância / Intolerance / 1916 (Dir: David Wark Griffith) e Ouro e Maldição / Greed / 1925 (Dir: Erich von Stroheim).

Ouro e Maldição

Depois, os filmes passaram a ser colorizados por meio dos processos de tingimento e viragem. O processo de tingimento (tinting) consistia na imersão do filme positivo preto-e-branco em um banho de tinta. O processo de viragem (toning) era obtido pelo tratamento químico da prata que havia no filme. A combinação do tingimento com a viragem permitia efeitos de cor complexos – tais como o efeito de crepúsculo e luar sobre as água  -, mas eram muito difíceis e caros (King Vidor usou-os em The Sky Pilot / 1921). No começo dos anos 20, 80 a 90% de todos os filmes americanos usavam um desses processos em pelo menos algumas cenas. Porém a chegada do som trouxe problemas, porque as tintas usadas interferiam na trilha de som, absorvendo muita luz.

O primeiro processo natural foi um sistema de duas cores, vermelho e azul-esverdeado denominado Kinemacolor. O filme colorido era produzido por um processo aditivo, usando-se filtros coloridos na câmera e depois no aparelho de projeção. Este sistema patenteado na Inglaterra em 1906 por George Albert Smith, e explorado nos Estados Unidos por Smith e Charles Urban, não deu bom resultado. Ele foi aperfeiçoado por William Van Doren Kelley, que usou um processo subtrativo (eliminando as cores não desejadas do espectro). Seu sistema, Prizmacolor, foi usado em shorts e inserções ocasionais em filmes como Horizonte Sombrio / Way Down East / 1920  (Dir: David Wark Griffith) e Flor de Ouro / The Gilded Lily / 1921 (Robert Z. Leonard), mas também tinha defeitos. Para solucioná-los, Kelley se uniu com Handschiegl em 1926, e lançaram um sistema de embebimento (imbibition) com o nome de Kelley Color. Todavia, nessa ocasião, o mercado do filme colorido já estava dominado pela Technicolor Motion Picture Corporation.

Van Doren e a câmera do Prizmacolor

Câmera do Kinemacolor

The Gulf Between

Flor de Lotus

Os fundadores da Technicolor (o “ Tech” de Technicolor derivou de sua associação com o Massachussetts Institute of Technology), Herbert T. Kalmus e Daniel Comstock, criaram um sistema de duas cores baseado na colagem ou cimentação de dois negativos. Primeiramente, eles experimentaram um sistema aditivo parecido como o Kinemacolor em The Gulf Between / 1917 (Dir: Wray Physioc), que apresentou problemas no ajuste do prisma acoplado ao projetor para registrar adequadamente as duas imagens coloridas na tela. Kalmus e Comstock então introduziram o Technicolor subtrativo de duas cores em Flor de Lotus / The Toll of the Sea / 1922 (Dir: Chester Franklin). O processo número dois tinha como novidade o registro da cor na própria imagem, sem necessidade de filtros. Um único negativo registrava tanto o vermelho quanto o azul-esverdeado. Duas matrizes eram produzidas  e recebiam um banho de tinta de uma cor complementar à cor original registrada (a vermeha recebia o ciano e a azul-esverdeada o magenta), sendo depois coladas, para dar origem às cópias de exibição.

Os Dez Mandamentos

Ben-Hur

O Fantasma da Ópera

 

O Vagabundo do Deserto

O Pirata Negro

Os avanços do novo sistema encorajaram os produtores hollywoodianos a empregar o Technicolor em algumas cenas de filmes em preto e branco (v. g. Os Dez Mandamentos / The Ten Commandments / 1923 (Dir: Cecil B. DeMille), O Grande Desfile / The Big Parade / 1925 (Dir: King Vidro), Ben-Hur / Ben-Hur / 1926 (Dir: Fred Niblo), O Fantasma da Ópera / Phantom of the Opera / 1926 e depois em filmes inteiramente em Technicolor como O Vagabundo do Deserto / Wanderer of the Wasteland / 1924 (Dir: Irvim Willat|) e O Pirata Negro / The Black Pirate / 1926 (Dir: Albert Parker). Porém o segundo processo também tinha suas próprias dificuldades: as tiras de película coladas dobravam-se sob o calor da projeção, deixando o vfilme fora de foco.

O Rei dos Reis

A Marcha Nupcial

Um terceiro processo empregou um método de embebimento parecido como de Kelley e Handschiegl, que dispensava a colagem. O embebimento permitiu à Technicolor um controle muito maior das cores. O Rei dos Reis / The King of Kings / 1927 (Dir: Cecil B. DeMille) e A Marcha Nupcial / The Wedding March / 1928 (Dir: Erich von Stroheim) usaram este sistema, que ficou em uso geral até 1933. Na fase Sonora, o novo processo foi primeiramente usado em sequências de Broadway Melody / Broadway Melody / 1929 (Dir: Harry Beaumont) e A Canção do Deserto / The Desert Song / 1929 (Dir: Roy Del Ruth) e os primeiros filmes sonoros inteiramente em Technicolor foram Toca a Música / On With the Show / 1929 (Dir: Alan Crosland) e As Mordedoras / Gold Diggers of Broadway / 1929 (Dir: Roy Del Ruth). A Warner realizou o ultimo filme em technicolor de duas cores, Os Crimes do Museu / The Mystery of the Wax Museum / 1933 (Dir: Michael Curtiz). No final dos anos 20, foi também utilizado um outro processo de duas cores intitulado Multicolor (v. g. algumas sequências de Follies / Fox Movietone Follies of 1929 / 1929 (Dir: David Butler).

Toca a Música

 

As Mordedoras

Os Crimes do Museu

Finalmente, em 1932, Kalmus lançou um processo de três cores, o chamado glorious technicolor. Ele criou uma câmera especial, dentro da qual correm três negativos diferentes, cada um deles sensível à uma cor básica: o vermelho, o verde e o azul. Os negativos servem para fazer as matrizes, cujas superfícies retêm os colorantes por embebimento, tal como as pedras litográficas retêm a tinta de impressão. Cada matriz é coberta com uma tinta de cor complementar, a matriz vermelha recebendo o ciano; a verde, o magenta; e a azul, o amarelo. Uma de cada vez, as matrizes são postas em contato, sob alta pressão, com o filme receptador (que é um filme preto-e-branco coberto de uma substância para fixar as cores), e a tinta é transferida para este.

Natalie Kalmus

O processamento das cópias era totalmente controlado pela companhia. Os produtores alugavam as câmeras especiais da Technicolor e o trabalho de cameramen que sabiam operá-las, inicialmente J. Arthur Ball e, depois, Ray Rennahan. Outra imposição da Technicolor era a de que a mulher de Kalmus, Natalie Kalmus, servisse como consultora, para garantir o controle de qualidade. Por isso, o nome dela aparece nos créditos de todos os filmes rodados no processo technicolor. Esse processo de três cores era tecnicamente superior a qualquer outro, mas tinha seus inconvenientes. O aluguel das câmeras custava caro e elas eram muito pesadas, complicando a filmagem em locação. A exposição de três nergativos em preto e branco requeria muita luz, aumentando ainda mais os custos de produção.

Herbert Kalmus e Walt Disney

Flores e Árvores

Vaidade e Beleza

 

A Technicolor não quis se aventurar no campo da produção por conta própria, preferindo oferecer o processo inicialmenteaos pequenos independentescomo Walt Disney e a Pioneer Film. Disney foi o primeiro a usar o Technicolor de três cores no seu desenho Flores e Árvores / Flowers and Trees / 1932, obtendo grande sucesso e arrebatando um Oscar da Academia. O primeiro filme de ação ao vivo neste processo foi um curta-metragem da Pioneer intitulado La Cucaracha / La Cucaracha / 1934 (Dir: Lloyd Corrigan), que também ganhou o Oscar.Animada com este êxito, a Pioneer realizou o primeiro longa-metragem em Technicolor de três cores com o título Vaidade e Beleza / Becky Sharp / 1935 (Dir: Rouben Mamoulian). A técnica do filme em cores foi evoluindo e, em 1941, a Technicolor criou um processo que dispensava os três negativos; porém este processo, chamado demonopack ou tripack integral, foi considerado insatisfatório. Surgiram alguns processos concorrentes como o Cinecolor e o Tricolor, mas o Technicolor praticamente monopolizou o Mercado até que, nos anos 50, um novo sistema tripack integral aperfeiçoado pela Eastman Kodak, denominado Eastmancolor, que podia ser usado por qualquer câmera e revelado pelos meios convencionais, iria prevalecer.

Dá-me um Beijo

Sete Noivas para Sete Irmãos

A Lenda dos Beijos Perdidos

O Eastmancolor foi baseado no processo alemão Agfacolor, muito usado no cinema nazista em produções espetaculares (v. g. Die goldene Stadt / 1942 e Immensee / 1943 de Veit Harlan), O Barão Münchausen / Münchausen / 1943 de Josef von Baky), depois por Eisenstein em Ivã, o Terrível -Parte II / Ivan Grosny / 1945-46, e se tornou a base técnica para o sistema Sovcolor durante os anos 50. Após a guerra, e a liberação das patentes Agfa, os princípios do Agfacolor foram também empregados emm vários sistemas , como o Ferraniacolor (Itália), o Gevacolor (França) e, mais notavelmente, no Anscolor, que teve uso corrente em Hollywood (Dá-me um Beijo / Kiss me Kate / 1953 (Dir: George Sidney), Sete Noivas para Sete Irmãos / Seven Brides for Seven Brothers / 1954 (Dir: Stanley Donen), A Lenda dos Beijos Perdidos / Brigadoon / 1954 (Dir: Vincente Minnelli) etc). Mas foi o Eastmancolor que substituiu o Technicolor como sistema de cor dominante no Ocidente, ficando conhecido pelos nomes dos estúdios que pagavam para usá-lo (v. g. WarnerColor, MetroColor, PathéColor, SupeCineColor da Columbia) ou pelos laboratórios que o processavam (Movielab, DeLuceColor, e a Technicolor – que, a partir de 1975, fazia apenas cópias fotografadas em eastmancolor).

O problema com o Eastmancolor, não previsto na época de sua introdução, e só  manifestado na década seguinte, é que suas cores eram menos estáveis (i. e. mais sucetíveis de descoloração do que o velho processo de embebição do technicolor), resultando em um protesto por parte de cineastas e arquivistas no começo dos anos 80. Em resposta, a Eastman Kodak lançou um novo “ filme de baixa descoloração”. Em 1979, 96 % de todos os filmes americanos de longa-metragem eram realizados Para vencer a concorrência com a televisão, a indústria também experimentou uma série de sistemas óticos, que davam maior largura ou profundidade da imagem em cores.

Napoleon de Abel Gance

O primeiro dos novos formatos, introduzidos em setembro de 1952, foi o processo de câmeras e projetores triplos, denominado Cinerama, parecido como o processo Polyvision, usado por Abel Gance em Napoleão / Napoleon / 1927, e originalmente projetado como simulador de batalha para o treinamento da artilharia durante a Segunda Guerra Mundial pelo inventor Fred Waller. As três cameras trabalhavam ao mesmo tempo e registravam, cada uma delas, um terço da cena filmada: depois, três projetores projetavam os segmentos filmados sobre uma grande tela côncava, formada pela conjugação de três telas. A imagem projetada era três vezes mais larga do que a imagem padrão de 35mm, e também quase duas vezes mais alta, por causa de duas perfurações laterais extras (seis em vez de quatro) – a formatação (aspect ratio) variava de 3:1 a 2.6:1. Combinado com o som estereofônico de sete faixas, o Cinerama criava uma ilisão de profundidade e envolvimento do espectador, que era muito excitante para as platéias acostumadas com a tela plana retilínea das décadas passadas, e, por algum tempo, foi imensamente popular.

Cena de How the West Was Won

Porém o processo era defeituoso (a junção entre as três imagens nunca foi satisfatória e muito caro (tanto para o realizador como para o exibidor e, portanto, para o público pagante). Consequentemente, ele oferecia circo em vez de narrativa. Filmes como Isto é Cinerama / This is Cinerama / 1952, Cinerama Holiday / Cinerama Holiday / 1955, As Sete Maravilhas do Mundo / The Seven Wonders of the World / 1956, Cinerama em busca do paraíso / Search for Paradise / 1957 (exibidos no Brasil nos anos 60) ou Windjammer / (958 (filmado em um processo rival chamado Cinemiracle, que havia sido comprado pela Cinerama Corporation) apresentavam uma sucessão de espetáculos extravagantes e viagens exóticas, e não histórias dramáticas. Os primeiros filmes com histórias realizados em Cinerama, A Conquista do Oeste / How the West Was Won / 1962 (Dir: John Ford, Henry Hathaway, George Marshall) e O Mundo Maravilhoso dos Irmãos Grimm / The Wonderful World of the Brothers Grimm / 1962 (Dir: Henry Levin, George Pal) provaram que o processo de câmera múltipla era simplesmente impróprio e muito dispendioso para produção  de narrativas convencionais.

The Power of Love

Tal como o Cinerama, a experiência seguinte de Hollywood com novos formatos óticos foi inicialmente muito popular. A estereoscópica 3-D teve precedentes nos primeiros dias do cinema, quando pioneiros como William Friese-Greene e os Lumière experimentaram sistemas anaglíficos (duas tiras de filme, um  pintada de vermelho e outra de azul-esverdeado, projetadas simultaneamente para uma platéia usando óculos com lentes dessas cores, produziam a ilusão de profundidade). Em 1922, Harry K. Fairall exibiu em 3-D, The Power of Love (Dir: Nat Deverich). Na mesma ocasião, William Van Doren Kelley mostrou seu processo, conhecido como Plasticon e, dois anos depois, Frederick Eugene Ives e J. F. Leventhal produziram uma série de curtas tridimensionais intitulada Plastigrams. George K. Spoor, com a ajuda do cientista sueco Paul Berggen, usou o processo  Natural Vision no longa-metragem  Fugindo ao Perigo / Danger Lights / 1930 (Dir: George B. Seitz). Ligeiramente diferente do processo anaglífico foi o Teleview, inventado por Laurens Hammond e William F. Cassidy, e aplicado no filme Radiomania / Radio-Mania / 1923 (Dir: Roy William Neill). Nos anos 30, a MGM lançou dois shorts analíticos, produzidos por Pete Smith, sob os títulos de Audioscópios / Audioscopiks / 1935 e A Nova Audioscopia ou 10 Minutos de Cinema em Relevo / New Audioscopiks / 1938, ambos sem diretor creditado. Em 1941, foi feito um terceiro exemplar da série, Assassinato Metroscópio / The Third Dimensional Murder, dirigido por George Sidney.

Em novembro de 1952, o produtor independente e diretor Arch Oboler introduziu um processo de 3-D polarizado, denominado Natural Vision (inventado por Milton Gunzburg), no filme Bwana, o Demônio / Bwana Devil. Uma câmera especial, de lentes duplas, registrava, em duas tiras de filme separadas, imagens ligeiramente diferentes da mesma cena, em ângulo; na projeção, interligavam-se dois projetores equipados com lentes Polaroid e as duas imagens eram simultaneamente projetadas na tela, formando um todo tridimensional. A grande vantagem do Natural Vision era que ele não necessitava de uma conversão em larga escala como o Cinerama (bastava a adição de uma câmera especial) e o custo da instalação do projetor adequado saía muito mais barato para os exibidores. O segundo filme em Natural Vision, Museu de Cera / House of Wax / 1953 (Dir: Andre de Toth) foi um êxito de crítica e de público, e a corrida para produção de depthies, como os jornais que circulavam no âmbito da exibição agora os estavam chamando, tornou-se ainda mais disputada.

Durante os anos 1953 e 1954, foram feitos muitos filmes em 3-D. mas a novidade  logo passou, porque a ilusão de profundidade criada pelo Natural Vision não era particularmente satisfatória e as pessoas não gostavam de usar os óculos polaróides, indispensáveis para se obter o efeito de terceira dimensão pretendido; muitos espectadores reclamavam de fadiga ocular e dores de cabeça. Além disso, a 3-D encontrou um rival poderoso no processo anamórfico de tela larga, patenteado pela 20thCentury-Fox cono CinemaScope, que explorava a profundidade através da visão periférica, e se anunciava como  “O Milagre Moderno Que Você Vê Sem Óculos”.

A Grande Jornada

 

Durante os anos 20 e início dos 30 vários filmes foram produzidos em formato largo, processos como o Magnascope da Paramount (v. g. A Fragata Invicta / Old Ironsides / 1926 (Dir: James Cruze); Grandeur da Fox (v. g. Follies / Fox Movietone Follies of 1929 / 1929 (Dir David Butler), A Grande Jornada / The Big Trail / 1930 (Dir: Raoul Walsh), O Cantar do meu Coração / Song O´ My Heart / 1930 (Dir: Frank Borzage); o Realife da MGM (v. g. O Vingador / Billy the Kid / 1930 (Dir: King Vidor) e Terra Virgem / The Great Meadow / 1931 (Dir: Charles Brabin); o Vitascope da Warner Bros. (v. g. A Soldier´s Plaything / 1930 (Dir: Michael Curtiz); O Chicote / The Lash / 1930 (Dir: Frank Lloyd) e Kismet / Kismet / 1930 (Dir: John Francis Dillon), o Magnifilm da Joseph M. Schenck Productions / United Artists (v. g. The Bat Whispers / 1930 (Dir: Roland West), mas o sistema que vingou foi inventado na década de 50.

O CinemaScope, introduzido em setembro de 1953 com o filme O Manto Sagrado / The Robe (Dir: Henry Koster), era baseado na lente anamórfica  “Hypergonmar”, inventada pelo Dr. Henri Chrétien, e usada pela primeira vez em 1928 (no filme de Claude Autant-Lara, Pour Construire un Feu). O CinemaScope permitia registrar em película de 35mm uma imagem que abarca um campo mais extenso do que as objetivas normais. A imagem era comprimida por meio de uma lente anamórfica e, na projeção, lente de propriedade inversa colocava as imagens filmadas em proporções normais, projetando-as em grandes tela retangulares. A formatação convencional da tela de cinema, chamada Academy aperture, havia sido padronizada em 1.33:1 pela Academia de Artes e Ciências Cinematográficas. O CinemaScope oferecia uma ratio radicalmente nova de 2.55:1, subsequentemente reduzida para 2.35: 1, e tinha a vantagem de não precisar de câmeras, filme e projetores especiais, apenas lentes especiais, uma tela larga metalizada   som estereofônico magnético de quatro faixas. Suas desvantagenms eram uma perda de brilho na iagem (logo corrigida pela tela refletiva Miracle Mirror) e problemas de distorção.

Natal Branco

No final de 1953 todo grande estúdio de Hollywood, exceto a Paramount, havia obtido licença para usar os filmes em CinemaScope, tendo surgido processos como o RegalScope (para a produção classe “ B “ em preto e branco da Fox até1960), Techniscope, SuperScope, Warnescope etc. Em 1960, Robert E. Gottschalk inventou a lente prismática variável, que oferecia uma definição da imagem sem distorção e o novo processo, chamado de Panavision, gradualmente substituiu o CinemaScope  como sistema anamórfico dominante. Em abril de 1954, no filme Natal Branco / White Christmas (Dir: Michael Curtiz), a Paramount introduziu o seu próprio sistema de tela larga denominado VistaVision. Este era um processo anamórfico singular, no qual o filme de 35mm corria na câmera horizontalmente, e não verticalmente, para produzir um negativo duas vezes mais largo do que convencional, e ligeiramente mais alto. O negativo era então revolvido oticamente, 90 graus no processo de copiagem, de modo que as cópias positivas pudessem correr verticalmente em qualquer projeto.

A Face Oculta

A formatação do Vista Vision variava de 1.33:1 para 1.96:1 (mas a Paramout recomendava a projeção na formatação 1.85:1). A maior nitidez da imagem e a manutenção da intensidade da cor produzida pelo VistaVision ficou evidente para o público, e os exibidores o do sistema, porque ele não necessitava de nenhuma modificação no equipamento existente. Os filmes em VistaVision eram lançados em som Perspecta, que custava metade do preço do sistema de quatro faixas da Fox, facilitando a sua comercialização. A Paramount continuou usando o VistaVision até 1961 quando, logo após o lançamento de A Face Oculta / One Eyed Jacks (Dir: Marlon Brando), o estúdio passou a adotar o Panavision por razões financeiras.

Em 1956, a Tecnicolor lançou o processo de tela larga Technirama, utilizando uma lente anamórfica e filme de 35mm, que corria na câmera horizontalmente tal como o VistaVision; em 1960, uma nova versão do Technirama foi introduzida como SuperTechnirama 70.

Oklahoma!

Em 1955, um processo de filme largo de 70mm foi introduzido na versão cinematográfica do sucesso da Broadway Oklahoma! / Oklahoma! (Dir: Fred Zinnemann), produzida independentemente por Michael Todd. O processo, denominado Todd-AO (com formatação 2.2:1), foi desenvolvido  pelo Dr. Brian O´Brien da American Optical Company, para competir não somente com o CinemaScope, mas também como o Cinerama, porque seu filme e lentes ofereciam a cobertura visual daquele processo, sem recorrer às suas múltiplas câmeras e projetores. O negativo do Todd-AO era de 65mm; a cópia para projeção tinha 70mm, com os 5mm extras carregando seis faixas de som magnético, mais uma sétima para controle  de áudio. Todd apresentou mais dois filmes, A Volta ao Mundo em 80 Dias / Around the World in 80 Days / 1956 (Dir: Michael Anderson) e Ao Sul do Pacífico / South Pacific / 1958 (Dir: Joshua Logan) – e depois morreu em um desastre de avião. A Fox adquiriu os direitos para usar o sistema, e produziu oito filmes em Todd-AO, inclusive o multimilionário Cleópatra / Cleopatra / 1963 (Dir: Joseph L. Mankiewicz) e A Noviça Rebelde / The Sound of Music / 1965 (Dir: Robert Wise).

A Volta ao Mundo em 80 Dias

Ao Sul do Pacífico

 

Cleopatra

A Noviça Rebelde

Foram também experimentados o SuperPanavision (também conhecido como Panavision 70), o Ultra Panavision 70 (originariamente chamado de MGM Camera 65, quando introduzido em 1976) e o CinemaScope-55, lançado em 1955 e somente utilizado em duas produções: Carrossel / Carousel / 1956 (Dir: Henry King) e O Rei e Eu / The King and I / 1956 (Dir: Walter Lang).

O Rei e Eu

Assim como o som, os processos de tela larga apresentaram dificuldades para os realizadores (v. g. os close-ups se tornaram subitamente problemáticos, dado o vasto tamanho da tela e a tendência das lentes anamórficas para distorcê-los). Porém, com o correr do tempo, ficou comprovadoque muitasde suas supostas limitações eram falsas. O CinemaScope foi bem recebido pelos críticos da revista Cahiers du Cinéma (principalmente André Bazin), porque estendia bas possibilidades de encenação, criando uma nova estética, na qual a mise-en-scène predominaria sobre a montagem, e a principal unidade narrativa não seria mais o plano dialético, mas o plano longo ou plano-sequência.

O exame das inovações técnicas usadas para combater a televisão não estaria completo sem a menção de dois filmes, que utilizaram cheiros para aumentar o senso de realismo da platéia. O documentário La Muraglia Cinesa/ 1958 (Dir: Carlo Lizzani quando foi exibido em Nova York, tinha como atração um processo chamado AromaRama (inventado por Charles Weiss) que, através do sistema de ar condicionado, infiltrava aromas orientais no auditório para coincidir com algumas cenas na tela. Outro filme, Scent of Mystery / 1959 (Dir: Jack Cardid), usou o processo Smell-O Vision, chamado inicialmente de Scento Vision (inventado por Hans Lauber) que emitia odores para cada espectador por intermédio de pulverizadores colocados estrategicamente entre as fileiras de poltronas do cinema.

OS FILMES DE FICÇÃO CIENTÍFICA DOS ANOS 50 -II

agosto 3, 2020

FILMES DE FICÇÃO CIENTÍFICA AMERICANOS DOS ANOS 50 -I I

A Guerra dos Mundos / War of the Worlds / 1953, produzido por George Pal para a Paramount e dirigido por Byron Haskin, ganhou um prêmio da Academia pelos efeitos especiais sob supervisão de Gordon Jennings. Chesley Bonestell chefiou a equipe responsável pelos mattes e pinturas, o roteiro foi escrito por Barré Lyndon e Sir Cedric Hardwicke atuou como narrador.

Baseado no conhecido romance de H. G. Wells, o filme passa-se na Califórnia em vez da Inglaterra e em 1953 em vez de 1890. Um disco voador pousa perto de uma pequena comunidade, mas um físico nuclear famoso, chamado Clayton Forrester (Gene Barry), supõe que se trata de uma espaçonave marciana. Na realidade a nave é parte de uma invasão em massa, pois os discos surgem em todo o mundo, abrindo-se para mostrar máquinas com raios mortíferos. Forrester manda chamar o exército, mas não importa quanto armamento seja usado contra os marcianos, eles são invencíveis. Estas máquinas marcianas inquietantes e futuristas, os jatos de fogo  transformando os objetos ou os humanos em cinzas, tudo isto consitui uma bela vitória sob o ponto de vista dos cenários, efeitos fotográficos, côr e encenação. A luta cruel e impiedosa entre humanos para escapar da catástrofe aumenta ainda mais a angústia das cenas de destruição. São vistas imagens de cidades em ruínas e de refugiados enquanto Forrester e outros rezam para que Deus intervenha.  Símbolos religiosos abundam e a solução parece mesmo ter sido enviada por Ele, porque os marcianos começam a morrer por exposição às bactérias da Terra.

O melhor filme sobre infiltração alienígena foi Vampiros de Almas / Invasion of the Body Snatchers, dirigido por Don Siegel, produzido por Walter Wanger e distribuído pela Allied Artists em 1956. O filme apresenta o inimigo como vagens gigantes que, como resultado da radiação atômica, chegam na Terra para se apossar de corpos humanos em uma pequena cidade da Califórnia. Apenas duas pessoas escapam, o Dr. Miles J. Bennell (Kevin McCarthy) e sua namorada Becky Driscoll (Dana Wynter). Como as vítimas continuam vivas, porém não mais controlando suas próprias mentes, a invasão alienígena aqui assemelha-se a uma lavagem cerebral, como ocorria nas prisões políticas durante a Guerra da Coréia. Miles e Becky têm que se esconder dos alienígenas e não podem dormir, porque é então que as vagens se apossam dos corpos humanos. Becky dorme quando Miles deixa o esconderijo deles por alguns momentos. Quando ele volta e a beija, os olhos dela se abrem com um olhar vazio e ele percebe que ela também é uma pessoa vagem. Miles corre pela rodovia, tentando em vão parar os carros. Ele grita: “Vocês serão os próximos, seus tolos! Vocês correm perigo! “, mas os motoristas o ignoram. Como o estúdio achou que o filme era muito pesssimista, um prólogo e uma conclusão foram acrescentados com Miles contando a história em retrospecto e finalmente conseguindo fazer com que as autoridades se conscientizassem da ameaça. Com um orçamento barato Siegel consegue criar uma atmosfera de temor apesar da quase completa ausência de efeitos especiais. O filme foi lançado em Superscope.

Em Casei-me com um Monstro / I Married a Monster from Outer Space / 1958, dirigido e produzido por Gene Fowler Jr. e distribuído pela Paramount, após um ano de casamento, Marge Bradley Farrell (Gloria Talbot) sente que seu marido Bill  Farrell (Tom Tryon) não demonstra a mesma afeição que tinha por ela, quando eram noivos. Uma noite, ele sai para um passeio, e ela o segue até uma área isolada no bosque, onde vê uma forma de vida extraterrestre deixar o corpo de Bill e entrar em uma espaçonave escondida. Ela confronta o alienígena e ele explica que veio do planeta Andromeda Nebula, onde uma explosão solar matou todas as mulheres de sua raça. Ele e outros machos de sua espécie estão assumindo a forma humana para terem filhos com a mulheres da Terra, salvando sua raça de extinção. Marge fica aterrorizada com esta perspectiva e tenta avisar outras pessoas do plano alienígena, porém muitos homens da cidade ja foram assumidos pelos invasores de corpos, inclusive o Chefe de Polícia Collins (John Eldredge), que nada faz, depois de ouvir sua história. Finalmente, seu médico, Dr. Wayne (Ken Lynch), acredita em Marge e reune um grupo de homens – que ele sabe que não são alienígenas, porque se tornaram pais recentemente – na sala de espera da maternidade Eles atacam os invasores, mas as balas não lhes fazem mal; somente um par de cães pastores alemães consegue matá-los. Entrando na espaçonave, o grupo verifica que todos os machos humanos cativos estão inconscientes, porém ainda vivos, inclusive Bill.

Os efeitos terríveis da radiação atômica tornaram-se conhecidos depois de 1952, quando tanto os Estados Unidos como a União Soviética deram início a testes atmosféricos com bombas termonucleares de vários megatons. Um teste com uma bomba de hidrogênio em março de 1954 espalhou resíduos radioativos sobre cerca  de 14 mil quilômetros quadrados do Pacífico. A Comissão de Energia Atômica manteve este caso em segredo do público até, que na primavera de 1955, a Administração Federal de Defesa Civil revelou que a precipitação nuclear era “insidiosa, invisível e singularmente perigosa”.

O pânico sobre os aspectos negativos da radiação forneceu matéria-prima para muitos filmes de ficção científica.  Pequenos insetos transformaram-se em monstros enormes, pessoas tornaram-se impossívelmente grandes ou incrivelmente minúsculas e criaturas extintas há muito tempo ganharam vida.

O Mundo em Perigo / Them! produzido em 1954 pela Warner Bros e dirigido por Gordon Douglas em um estilo semi-documentário tinha um script inteligente escrito por Ted Sherdeman.  A ação ocorre no New Mexico perto de Los Alamos, onde dois policiais, Sargento Ben Paterson (James Whitmore) e o soldado Ed Blackburn (Chris Drake) encontram um armazém destruído, o comerciante morto e uma menina (Sandy Descher), cujos pais desapareceram, em estado de choque. Ben vai pedir ajuda, trazendo o agente do FBI, Robert Graham (James Arness) para o local, onde encontram Ed morto e uma pegada estranha na areia. Dois entomologistas do Departamento de Agricultura Dr. Harold Medford (Edmund Gwenn) e sua filha Patricia  (Joan Weldon) chegam no mesmo lugar e verificam que está faltando açucar no armazém e que os corpos do comerciante e do policial estão cheios de ácido fórmico. Eles identificam a pegada como sendo de uma formiga gigantesca. Além disso, quando os entomologistas fazem a menina aspirar um pouco de ácido fórmico, ela sai do estado de choque e grita: “Them! Them !  (Elas! Elas!)” e, a esta altura, aparece uma formiga gigante. Juntos, os cientistas e os militares destroem o ninho de formigas do New Mexico, porém duas rainhas escapam: uma, para um navio mercante, onde destroem quase toda a tripulação inclusive, em uma cena chocante, o operador de rádio; a outra, vai para um enorme bueiro subterrâneo de Los Angeles, onde se dá o final do filme. Dois meninos estão retidos pelas formiga. Ben consegue salvá-los, mas morre, e as formigas são exterminadas com lança chamas. A mutação genética delas fora causada pela radiação prolongada da explosão da primeira bomba atômica. O Mundo em Perigo trouxe uma mensagem anti-nuclear bem clara e as formigas podiam ser vistas como um inimigo simbólico: a União Soviética.

Tarântula! / Tarantula / 1955, produzido por William Alland, para a Universal- International e dirigido por Jack Arnold, deu continuidade ao ciclo de filmes sobre insetos gigantescos. Em uma pequena cidade do Arizona, um cientista morre em condições misteriosas de acromegalia, causando apreensão no médico local, Dr. Matt Hastings (John Agar), que passa a investigar e descobre que o falecido  trabalhava com o Professor Deemer (Leo G. Carroll) em uma experiência secreta para encontrar a fórmula de determinada substância nutritiva. Deemer injeta uma mistura atômica em vários animais e obtém efeitos de gigantismo extraordinários. Uma târantula que chegou a atingir a altura de 30 metros, escapa do laboratório e prossegue destruindo tudo em seu caminho e atacando o Dr. Matt e a nova assistente de Deemer, Stephanie “Steve” Clayton (Mara Corday), até ser morta por bombas de napalm jogadas pela força aérea americana, cujo piloto principal é … Clint Eastwood.

 

 

Entre outros mutantes cinematográficos da década estavam: gafanhotos inchados pelas radiação que invadem Chicago em O Começo do Fim (TV) / Beginning of the End / 1957 (Dir: Bert I. Gordon); caracóis gigantes afetados por radiação que rastejam em direção à base Naval de Los Angeles para comer o pessoal da Marinha em O Monstro Que Desafiou O Mundo / The Monster That Challenged the World / 1957 (Dir: Jack Arnold) um polvo que se tornou monstro pela radioatividade que quase destrói San Francisco em O Monstro do Mar Revolto / It Came From Beneath The Sea / 1955 (Dir: Robert Gordon) e caranguejos enormes, alterados geneticamente por uma precipitação radioativa que absorvem o conhecimento e as vozes das pessoas que eles comem em A Ilha do PavorAttack of the Crab Monsters / 1957 (Dir: Roger Corman). Em cada caso explosões ou radiações atômicas trouxeram à vida um monstro que, por sua vez, foi destruído por algum uso de energia atômica.  O retorno à normalidade se dá, quando a ciência e a tecnologia solucionam os problemas, que elas ajudaram a criar.

Os filmes com temas sobre metarmofoses eram sobre pessoas ou criaturas que mudaram completamente sua forma ou estrutura. A Mosca da Cabeça Branca / The Fly, produzido e dirigido por Kurt Neumann em CinemaScope para a Twentieth Century-Fox estreou em 1958. Em Montreal, Quebec no Canadá, o cientista André Delambre (Al Hedison, que depois adotou o nome de David Hedison) é encontrado morto com sua cabeça esmagada em uma prensa hidráulica. Embora sua esposa, Hélène (Patricia Owens) confesse o crime, ela se recusa a fornecer o motivo e começa a agir estranhamente, obcecada por uma suposta mosca de cabeça branca. Ela finalmente conta para François o que se passou na realidade. André trabalhava para o Ministério da Defesa Aérea, fazendo experiências com uma máquina de teleportação quando, sem que ele perceba, uma mosca cai no aparelho durante o processo e provoca uma fusão de suas moléculas com as do inseto. Ele se torna metade humano metade mosca, ou melhor, ficou com a cabeça e um dos braços iguais ao de uma mosca. Enquanto  ainda pode pensar como um ser humano, André destrói seu equipamento e suas anotações. Depois, aciona a prensa hidráulica, põe sua cabeça e um de seus braços debaixo dela e manda Hélène apertar o botão. Após ouvir a confissão de Hélène, o Inspetor Charas (Herbert Marshall) considera-a insana. Quando ia levá-la para um sanatório, o filho do casal Delambre, Philippe (Charles Herbert) diz a François que viu a mosca presa em uma teia no jardim. François e Charas vêem a mosca com a cabeça e o braço de André gritando: “Ajude-me! Ajude-me!” enquanto uma aranha avança em direção a ela. Quando a aranha está prestes a devorar a criatura, Charas esmaga ambas com uma pedra. Sabendo que ninguém vai acreditar na verdade, ele e François decidem declarar André morto por suicídio. Um texto publicitário do filme   dizia:  “A primeira vez que a mutação atômica de humanos foi mostrada na tela”. Entretanto, no ano anterior as telas dos cinemas mostraram pelo menos três filmes nos quais humanos são metamorfoseados, dois em proporções gigantescas, o outro em dimensões minúsculas.

Em A Mulher de Quinze Metros / Attack of The 50 Foot Woman  / 1958, lançamento da Allied Artists de uma produção de Bernard Woolner, dirigido por Nathan Hertz (Nathan Juran), Nancy Fowler Archer (Allison Hayes), mulher rica mas emocionalmente instável, é sequestrada por um gigante alienígena (Mike Ross) no deserto e contaminada por irradiação pelo seu toque. Nancy consegue fugir, mas ninguém acredita na sua história, devido ao seu problema com alcoolismo e uma recente estadia em um sanatório. Seu marido mulherengo, Harry Archer (William Hudson), está mais interessado na sua última conquista, Honey Parker (Yvette Vickers), e no dinheiro da esposa. Incentivado pela amante, Harry planeja injetar na esposa uma dose letal de sedativo, mas quando entra no seu quarto descobre que ela cresceu até atingir um tamanho enorme. O médico da família, Dr. Isaac Cushing (Roy Gordon) e um especialista, Dr. Von Loeb (Otto Waldis) não sabem como tratar sua paciente. Eles mantêm Nancy em um estado de coma induzido por morfina e acorrentada enquanto aguardam o xerife Dubbitt (George Douglas). Nancy desperta, livra-se das correntes, destrói o telhado de sua mansão e ruma para a cidade, a fim de se vingar de seu marido infiel, que ela esmaga, antes de ser morta por uma descarga elétrica provocada pelos tiros do xerife em um transformador de linha de energia.

Em O Monstro Atômico / The Amazing Colossal Man / 1957 lançamento da American-International (James H. Nicholson / Samuel Z. Arkoff), dirigido e produzido por Bert Gordon, o Tenente Coronel Glenn Manning (Glenn Langan creditado como Glen Langan) é queimado em uma explosão de plutônio durante um teste com uma bomba atômica, em Desert Rock, Nevada. Tratado pelo Dr. Paul Linstrom (William Hudson) e pelo cientista militar Major Eric Coulter (Larry Thor), ele regenera sua pele, porém cresce três metros por dia até atingir 21 metros de altura, para espanto de sua noiva, Carol Forrest (Cathy Downs). Quando Coulter informa a Linstrom de que pode ter encontrado uma solução para o crescimento fenonemal de Glenn, este desaparece. Os militares o encontram em Las Vegas, causando muito tumulto depois de ter tido um colapso mental. O gigante ruma para a Represa Boulder, perseguido por helicópteros. Coulter, Carol e Linstrom chegam lá com o sôro criado por Coulter. Quando eles enfiam uma seringa no tornozelo de Glenn, este arranca a seringa e espeta Coulter com ela, matando-o. Glenn apanha Carol e foge mas, atendendo a um apelo de Linstrom, ele a libera e é crivado pelas balas dos militares, mergulhando no rio Colorado.

Nenhum desses filmes tinha a pungência de O Incrível Homem que Encolheu / The Incredible Shrinking Man / 1957, produzido por Albert Zugsmith para a Universal-International e dirigido por Jack Arnold em CinemaScope. Nesta excelente adaptação escrita pelo próprio Richard Matheson de seu romance “The Shrinking Man”, Robert Scott Carey (Grant Williams) estava andando de barco, quando ficou exposto à precipitação nuclear de uma nuvem que deixou partículas brancas cintilantes nele. Isto fez com que começasse a encolher incontrolavelmente porque suas moléculas foram reordenadas e seu crescimento invertido. Ele consulta os médicos e um deles consegue interromper por algum tempo esta redução, porém a doença retoma seu curso e ele tem que iniciar uma luta solitária e permanente para sobreviver. Não há monstros nem alienígenas no filme, somente animais e objetos comuns tais como o tal gato, uma torneira vazando, uma caixa de costura com agulhas e alfinetes e uma aranha, que se tornam ameaçadores e perigosos para o herói liliputiano. Incapaz de ser um marido normal, sente-se humilhado e cheio de auto-aversão, mas quando diminui para pouco mais de dois centímetros e continua a encolher, ele afirma, “Eu existo”. Este é um momento marcante do filme, pois embora Scott tenha se tornado infinitesimal em tamanho, ainda é humano e consciente de sua própria existência. O Incrível Homem Que Encolheu capta as experiências emocionais da América da Guerra Fria com seus temas de paranóia, medo e desconfiança.  Arnold resistiu à preferência da Universal por um final feliz com médicos encontrando um soro para reverter o processo de encolhimento, porque ele queria um final metafísico com o homem aceitando seu destino. No final do filme Scott aguarda com resignação o momento em que seu corpo acabará por se diluir no espaço.

Uma criatura extinta trazida à vida, geralmente por uma explosão atômica, foi a base para filmes como O Monstro do Mar / The Beast From 20.000 Fathoms / 1953. Produzido por Hal Chester e Jack Dietz da Mutual Pictures of Califórnia (pequena companhia independente que foi comprada pela Warner Bros.), e dirigido por Eugene Lourie, o filme é uma adaptação de um conto de Ray Bradbury, “The Foghorn”.  Um redossauro, uma besta fictícia, é solto de uma calota de gelo por uma explosão atômica. Ele é máu, desordenado e mau-humorado, invadindo a cidade de Nova York, esmagando carros, arrazando edifícios, devorando pessoas, e criando pânico entre as multidões ao entrar como um furacão em Times Square. Prédios são destruídos, comunicações são inundadas e muitas vidas perdidas. A Guarda Nacional bombardeia o redossauro com bazucas, canhões e metralhadoras, mas ele desaparece, seriamente ferido. Quando os soldados o rastreiam, seguindo grandes poças de sangue, ficam muito doentes e desmaiam. Depois que amostras  de sangue da fera são analisadas, descobre-se que elas contém uma bactéria tóxica resistente a antibióticos. Um jovem cientista atômico, Tom Nesbitt (Paul Hubschmid creditado como Paul Christian) conclui que eles devem usar um isótopo radioativo para matar o redossauro. Os soldados então confrontam a besta em Coney Island onde, enquanto ela está despedaçando uma montanha russa, um atirador de elite dispara o isótopo e a mata. O “monstro” (magnificamente animado por Ray Harryhauser) toma conta do filme por sua presença colossal, ofuscando a interpretação de Paul Christian e de Paula Raymond, que faz o papel de Lee Hunter, a paleontóloga assistente do Dr. Thurgood Elson (Cecil Kellaway); mas alguns personagens secundários ou episódicos chamam atenção como, por exemplo, o dito professor e Jacob, um marinheiro vítima do redossauro (Jack Pennick)

Talvez a criatura préhistórica mais inesquecível dos filmes de ficção científica dos anos cinquenta tenha sido O Monstro da Lagoa Negra / Creature From The Black Lagoon, uma produção de 1954 da Universal Internacional em 3-D, produzida por William Alland e dirigida por Jack Arnold, dois homens que se tornaram os maiores contribuidores para os filmes de ficção científica dos anos 50. Este filme é sobre o Homem Peixe, um ser metade peixe, metade humano, descoberto por paleontologistas nas selvas do Amazonas. Da expedição fazem parte: Dr. Carl Maia (Antonio Moreno); seu ex-aluno, o ictiologista Dr. David Reed (Richard Carlson), que trabalha no aquário do Instituto de Biologia Marítima e se interessa pelo conhecimento que a excursão  poderá proporcionar; o Dr. Mark Williams  (Richard Denning, chefe de David, que financia o projeto, obcecado pelo lucro econômico com a captura da criatura; a noiva de David, Kay Lawrence (Julia Adams); e um outro cientista, Dr. Edwin Thompson (Whit Bissell). Enquanto tentam estudar o Homem Peixe, vários membros da expedição são mortos. O monstro fica atraído por Kay e impede que os cientistas saiam do lugar onde o encontraram. Mark decide capturá-lo, mas é morto por ele, que o arrasta para as profundezas da Lagoa Negra. O Homem Peixe subsequentemente captura Kay, levando-a para uma caverna., onde  David penetra para para atacar o monstro e salvá-la. O monstro está prestes a liquidar David, quando chegam Maia e o capitão do barco da expedição (Nestor Paiva) e desferem alguns tiros contra ele. Mortalmente ferido, o Homem Peixe cambaleia e desliza para a profundezas do rio. Como a criatura não morre, houve duas continuações: A Revanche do Monstro / The Revenge of the Creature /1955 e À Caça do Monstro / The Creature Walks Among Us / 1957. As cenas submarinas nas quais o Homem Peixe nada em baixo de Kay tentando tocar em suas pernas são tanto assustadoras quanto eróticas. Ricou Browning, estudante da Florida State University foi escolhido para ser o Homem Peixe debaixo d’água porque conseguia prender sua respiração por longos períodos de tempo. O stuntman Ben Chapman, interpretou a criatura em terra.

Godzilla, o Monstro do Mar / Godzilla, King of the Monsters refletiu a ansiedade nuclear tanto dos japoneses quanto do americanos. Realizado originalmente no Japão pela Toho como Gojira em 1954 com direção de Ishirô Honda, o filme japonês foi remontado sob a direção de Terry Morse para a Embassy Pictures (a companhia distribuidora do exibidor Joseph E. Levine) e lançado nos EUA em 1956. O diretor Terry Morse filmou inserções de Raymond Burr como Steve Martin, um repórter americano no Japão, com tal habilidade – respeitando o estilo visual do filme japonês – que pouca gente percebeu que as cenas com Burr foram filmadas 18 meses depois que o espetáculo original foi completado. Testes nucleares revivem um reptil anfíbio préhistórico, Godzilla, que tem mais de 120 metros de altura. Ele sai do mar em Tóquio vomitando chamas e destruindo edifícios, sendo impenetrável a tiros e alta tensão. Até que o cientista Dr. Daisuke Serizawa (Akihiko Hirata) inventa um “destruidor de oxigênio” e Godzilla finalmente sucumbe a esta arma secreta. O filme foi um sucesso de bilheteria e, assim sendo, retornou repetidamente em continuações realizadas no Japão.

O tema mais pessimista dos filmes de ficção científica dos anos cinquenta foi o medo de que as bombas nucleares explodissem a Terra. Entretanto, a maioria dos filmes  também expressaram otimismo quanto a sobrevivência. O primeiro filme de ficção científica a lidar com o holocausto nuclear foi Os Últimos Cinco / Five, escrito, produzido, dirigido por Arch Oboler (Arch Oboler Productions) e distribuído pela Columbia em 1951. Após uma explosão atômica, somente cinco pessoas ainda existem. Nas montanhas perto de uma grande cidade está Michael (William Phipps), poupado porque estava sozinho no tôpo do Empire State Building. Eventualmente chegam os outros quatro únicos sobreviventes: Roseanne (Susan Douglas), que está grávida; um alpinista aventureiro, Eric (James Anderson); um porteiro de banco negro, Charles (Charles Lampkin) e Oliver Peabody Barnstable (Earl Lee), bancário idoso, que logo morre envenenado pela radiação. Eles enfrentam a díficil tarefa de se readaptarem à vida normal diante da destruição total do mundo no qual viviam e que agora está cheio de cadáveres. À medida em que os dias passam, as fraquezas de caráter e misérias humanas se tornam mais patentes neste reduzido grupo de sobreviventes. Charles e Eric se interessam por Roseanne, mas ela está certa de que seu marido ainda vive. Eric mata Charles por motivo racista e leva Roseanne para uma cidade próxima em busca do marido dela. Esqueletos jazem por toda a parte. Ela encontra os restos mortais de seu esposo e quer voltar para as montanhas, mas Eric tenta impedí-la de ir. Os dois lutam, a camisa de Eric se rompe e ele verifica horrorizado feridas de radiação no seu peito. Só ficam vivos Roseanne e Michael. Roseanne perde o bebê. Depois de enterrá-lo, ela e Michael tentarão construir um novo mundo, onde todas as pessoas poderão viver juntas em paz e harmonia.

O Fim do Mundo / When Words Collide / 1951, produzido por George Pal, dirigido por Rudolph Maté e distribuído pela Paramount, foi baseado em um romance de Philip Wylie e Edwin Balmer. A história diz respeito a um cientista que descobre que, dentro de um ano, o planeta Zyra vai passar tão perto da Terra que maremotos, erupções vulcânicas e incêndios irão ocorrer e então a estrela Bellus irá colidir com o que restar do mundo. Com uma reviravolta do tipo “Arca de Noé”, um foguete é construído para transportar 44 pessoas, animais e plantas para um novo planeta. A ONU se recusa a financiar o projeto, mas Sidney Stanton (John Hoyt), um milionário preso a uma cadeira de rodas, se oferece para pagar o custeio dela, se ele puder ir no foguete. Os viajantes são as seis pessoas que tiveram a idéia e 19 homens e 19 mulheres selecionadas por um sorteio. Entre os passageiros estão: o Dr. Cole Hendron (Larry Keating); sua filha Joyce (Barbara Rush); o namorado dela, Dr. Tony Drake (Peter Hanson) e seu rival romântico, o piloto David Randall (Richard Derr). O desastre ocorre, deixando a cidade de algumas pesssoas que não foram sorteados tentam penetrar no foguete. O Dr. Hendron resolve não embarcar para poupar combustível e se recusa a empurrar a cadeira de rodas de Stanton.  Com um esforço desesperado, Stanton fica em pé e caminha em uma tentativa inútil de alcançar o foguete. Quando este levanta vôo, os passageiros vêem em uma tela de televisão a colisão entre a Terra e Bellus. Ao pousarem no novo planeta, verificam que ele é igual à Terra e que eles são peregrinos iniciando uma nova vida.

O Planeta Vermelho / Red Planet Mars, filme de 1952 dirigido por Harry Horner e produzido por Anthony Veiller e Donald Hyde (Melaby Productions) e distribuído pela United Artists, foi baseado na peça “Red Planet” de John L. Balderston e John E. Hoare. Na Califórnia, um casal de cientistas, Chris (Peter Graves) e Linda Cronyn (Andrea King), tenta fazer contato com Marte por meio de um transmissor de rádio com uma válvula de hidrogênio, invenção de um cientista nazista desaparecido logo após o fim do Terceiro Reich. Enquanto isso, Franz Calder (Herbert Berghof), o inventor da válvula, dado como morto, está em um laboratório nos Andes a serviço de comunistas russos, liderados por Gaspardian Arjenian (Marvin Miller). Os comunistas estão insistindo para que ele entre em contato com Marte antes dos Cronyn. Calder explica que não pode fazer contato com Marte, mas pode interceptar as mensagens transmitidas ou recebidas pelo laboratório da Califórnia. Ele então as forja, dando a entender que Marte é governado por um Ente Supremo e que o planeta vermelho está milhares de anos à frente do nosso no que tange à ciência. Essas noticias causam um pandemônio na Terra. O conhecimento de que Marte não necessita de carvão ou petróleo (que seus cientistas substituiram pelo aproveitamente de energia cósmica) acarreta o pânico na indústria e o consequente fechamento das fábricas. O desemprego, as revoltas populares, a proximidade da fome, tudo isto põe em perigo o Ocidente. Porém as últimas mensagens têm outra origem: são realmente de Marte e trazem palavras contidas no Sermão da Montanha. São comunicações de fundo religioso e pacifista e, difundindo-se por todo o mundo, atravessam também a “Cortina de Ferro” e alcançam a Rússia, onde tem lugar uma contra-revolução popular, que restabelece a prática religiosa, pondo fim à opressão comunista.

Day the World Ended / 1955, produzido e dirigido por Roger Corman e distribuído pela American Releasing Corporation (que se tornaria American International em 1956) tem como tema a quase destruição da Terra por uma guerra nuclear. Em um vale isolado o ex-capitão da Marinha, Jim Maddison (Paul Birch) estava preparado para esta eventualidade e sobreviveu, juntamente com sua filha Louise (Lori Nelson), em um abrigo antibomba. Louise aguarda ansiosamente o retorno de “Tommy” (não fica claro se ele é seu noivo ou irmão, provavelmente noivo, pois Maddison nunca se refere a um filho). Eles são surpreendidos com a chegada de Rick (Richard Denning), um geólogo; do pistoleiro Tony Lamont (Mike Connors, creditado como Touch Connors) e sua companheira Ruby (Adele Jergens), dançarina de striptease; do velho garimpeiro Pete (Raymond Hatton); e Radek (Paul Dubov), um homem já morrendo de radiação. Jim não quer recebê-los, porque tem suprimentos limitados, mas Louise insiste. Conflitos previsíveis se seguem. Tony e Rick se confrontam por causa de Louise. Ruby sente ciúmes. Maddison tenta manter contrôle sobre o grupo. Pete quer voltar a garimpar, sem compreender o que aconteceu com o mundo. Radek continua vagando de noite para comer animais selvagens. Maddison mostra para Rick desenhos que ele fez de animais alterados pelos testes da bomba atômica em Bikini. E com certeza, rondando na escuridão, está um sobrevivente humano, que se transformou em um mutante com três olhos. O mutante pode falar telepaticamente com Louise, sugerindo que ele é Tommy, que está voltando para ela (a foto deTommy é a de Roger Corman). A idéia central é a de que esta mutação é o último destino de todas as pessoas no vale. No climax do filme, depois que quase todos são mortos, Rick enfrenta o monstro (Paul Blaisdell) no lago do vale. Ele atira no mutante com seu rifle, porém seu corpo é impenetrável. Aí começa a chover. Aparentemente caindo de nuvens não contaminadas, a simples água da chuva mata a horrenda criatura. O filme foi lançado em SuperScope.

Em 1959 dois filmes retomaram o tema do apocalipse nuclear de uma maneira calma e realista, salientando a experiência de indivíduos comuns em vez de mutações, alienígenas ou outros elementos de fantasia.  O Diabo, a Carne e o Mundo / The World, The Flesh and the Devil lançado pela MGM em CinemaScope foi dirigido por Ranald MacDougall com base no seu próprio argumento. Ele apresenta uma guerra pós-nuclear  na cidade de Nova York habitada por apenas três sobreviventes. Ralph Burton (Harry Belafonte), um inspetor de minas de carvão que estava no subsolo de uma mina na Pennsylvania quando as bombas caíram, escapa do desmoronamento resultante e se dirige para Nova York. Ele encontra um segundo sobrevivente, uma loura chamada Sarah Crandall (Inger Stevens). Eles logo ficam amigos, mas Ralph se torna um tanto distante, quando fica claro que Sarah se sente atraída por ele. Apesar de estarem vivendo em um mundo pós-apocalíptico e do fato de que Susan parece despreocupada com suas diferenças raciais, Ralph não consegue superar as inibições instauradas nele em uma sociedade americana racista. Eventualmente um terceiro sobrevivente aparece: Benson Thacker (Mel Ferrer), que estava no mar quando as bombas caíram. Ralph e Sarah cuidam dele, mas quando ele se recupera, Ben fica interessado em Sarah e vê Ralph como um rival. Esta rivalidade romântica culmina com Benson insistindo em um conflito armado com Ralph. Os dois homens armados caçam um ao outro pelas ruas desertas. Finalmente Ralph passa pelo prédio das Nações Unidas e ao ler uma inscrição de um trecho  da Bíblia que fala sobre a paz, ele joga seu rifle no chão e vai desarmado ao encontro de Ben que, por sua vez, não se sente capaz de matar seu inimigo. No final Sarah dá a mão para os dois e os três caminham juntos para construirem um futuro juntos. Durante toda a primeira parte do filme MacDougall capta muito bem – com o auxílio da magnífica foto em preto e branco de Harold J. Marzorati – o vazio de uma cidade outrora borbulhante, mostrando os carros abandonados e os imóveis meio soterrados, deixando-nos imaginar o pânico da população e a violência do cataclisma. Nota-se apenas uma implausibilidade: a ausência completa de cadáveres após a carnificina de dimensão inimaginável.  No decorrer da intriga surge o problema social, mas a última imagem mostra os três sobreviventes caminhando de mãos dadas enquanto “The Beginning” aparece na tela no lugar do habitual “The End”. O final é ambíguo: os dois homens vão compartilhar a mulher? Ou Benson e Ralph estarão lutando novamente amanhã?

A Hora Final / On the Breach / 1959, produzido e dirigido por Stanley Kramer e distribuido pela United Artists, baseado no romance de Nevil Shute e adaptado para a tela por John Paxton, não mostra um holocausto nuclear com cidades bombardeadas e uma vasta destruição, mas sim os efeitos da chuva radioativa e os sentimentos de desesperança dela resultantes. A história tem início quando quase todas as pessoas do mundo morreram. Um submarino nuclear americano “Sawfish”, comandado por Dwight Towers (Gregory P9eck), chega na Austrália, onde os sobreviventes aguardam a morte na medida em que uma nuvem letal de poeira atômica desce lentamente sobre eles. Em Melbourne Towers encontra Porter Holmes (Anthony Perkins), oficial da Marinha cuja esposa Mary (Donna Anderson) deu à luz recentemente e o cientista britânico Julian Osborne (Fred Astaire). Julian sente-se amargurado por ter ajudado a desenvolver a Bomba. Em uma festa na praia organizada para ele por Holmes e sua esposa, Towers conhece Moira (Ava Gardner); eles são fortemente atraídos um pelo outro, porém Towers ainda se sente casado: ele sabe que sua esposa e família em Mystic, Connecticut estão mortos, mas não consegue aceitar o fato emocionalmente. Towers deixa a Austrália, procurando em vão sinais de vida em outro lugar. De volta a Melbourne, ele finalmente se permite amar Moira no tempo em que lhe resta. Julien compete pela primeira vez com o seu Ferrari em uma corrida automobilística, sai vencedor, volta para casa e, na sua garagem, senta no seu carro, acelera o motor e morre asfixiado pelo monoxido de carbono. Holmes convence sua esposa a tomar as pílulas de suicidio (que estão sendo distribuídas pelo governo) com ele e dar uma para seu bebê; eles morrem na  cama, no seu lar. Sua tripulação deseja retornar aos Estados Unidos para morrer em casa – ou pelo menos naquela direção – e então Towers despede-se de Moira e parte no submarino. Ela fica na praia assistindo sua partida. As cenas finais mostram as ruas desertas de Melbourne. Um cartaz visto anteriormente no filme, “Ainda Há Tempo, Irmão” (presumivelmente significando tempo para encontrar Deus), se agita frouxamente sob o vento.

OS FILMES DE FICÇÃO CIENTÍFICA DOS ANOS 50- I

Os filmes de ficção científica tornaram-se um grande gênero hollywoodiano nos anos 50, repercutindo a ansiedade e o medo do povo americano diante da possibilidade de um holocausto nuclear ou uma invasão comunista da América. Este medo foi expresso de várias formas, tais como alienígenas usando o controle da mente, mutantes monstruosos desencadeados por precipitações radioativas, terríveis efeitos da radiação sobre a vida humana, e cientistas obcecados por experiências perigosas.

Nenhum outro gênero na história do cinema se desenvolveu e se multiplicou tão rapidamente em um período tão curto. Até então os filmes de ficção científica de Hollywood haviam sido limitados aos seriados nos anos 30-40 (v. g. Buck Rogers  / 1939; Flash Gordon / 1940). O gênero só deslanchou em 1950 por diversas razões. Em primeiro lugar, como era em grande medida uma resposta à ansiedade nuclear, esta ansiedade recebeu um grande impulso quando os russos testaram com sucesso um bomba atômica em 1949. Em segundo lugar, a literatura de ficção cientifica representada por autores com Robert A. Heinlein e Ray Bradbury e pelo escritor e editor John W. Campbell Jr., estava crescendo no início dos anos 50. Em terceiro lugar, o sucesso de bilheteria dos filmes de ficção científica em 1950 e 1951 levou a um aumento de produção nos anos futuros como é típico dos ciclos de Hollywood. Em quarto lugar, o relançamento exitoso do King Kong de 1933 em 1952 demonstrou ainda mais o apetite do público pela ficção científica  – e deve ter influenciado os filmes de ficção científica dos anos 50 relacionados com o sub gênero de mutantes e monstros.

Outros acontecimentos contemporâneos que inspiraram os realizadores de filmes de ficção científica foram os avistamentos de objetos voadores não identificados (UFO) e o início da viagem especial. Os UFOs foram relatados desde 1947 perto de Roswell, New Mexico e no Estado de Washington, e os avistamentos continuaram durante os anos 50. A viagem especial tornou-se uma realidade em 4 de outubro de 1957 quando a União Soviética lançou o Sputnik. Esta demonstração de proeza científica e tecnológica pelos soviéticos deu início a uma nova onda de pânico e paranóia nos Estados Unidos.

Como a indústria de Hollywood havia sofrido reversões econômicas devido à decisão anti-truste e à popularidade da televisão, os estúdios menores e as companhias produtoras independentes acharam que era mais fácil obter recursos financeiros para projetos de orçamento relativamente pequeno.  Embora os filmes de ficção científica de grande orçamento como O Dia em que a Terra Parou  / The Day the Earth Stood Still /1951 fossem comercializados para adultos, os filmes de orçamento pequeno eram agressivamente comercializados para adolescentes e cinemas drive-in. Mais filmes B de ficção científica produzidos por realizadores independentes como Roger Corman ou produtores como Samuel Z. Arkoff e James H. Nicholson da American International Pictures foram exibidos em cinemas drive-in do que qualquer outro gênero.

Quatro grandes temas podem ser percebidos nos filmes de ficção científica dos anos 50: 1. Viagem Extraterrestre. 2. Invasão e Infiltração Alienígenas. 3. Mutantes, Metamorfoses e Ressurreição de Espécies Extintas. 4. Quase Aniquilação ou o Fim da Terra. Cada um destes temas se relaciona, pelo menos indiretamente, aos eventos mundiais dos anos 50 e refletem o medo e a ansiedade da era atômica e da Guerra Fria.

O filme sobre viagem extraterrestre mais importante foi Destino à Lua / Destination Moon / 1950, vagamente baseado em uma história de Robert A. Heinlein, “Rocketship Galileo”, produzido por George Pal, dirigido por Irving Pichel e distribuído pela Eagle-Lion, fez com que a idéia de uma viagem espacial fosse não somente plausível mas também fascinante. A história é simples. Temendo que uma nação menos benigna do que os Estados Unidos pudesse assumir o controle da Lua, o General Thayer (Tom Powers) convence o empresário Jim Barnes (John Archer) a financiar uma expedição ao nosso satélite em foguete movido por energia atômica, o Luna. A tripulação incluia: Barnes, como piloto; Dr. Charles Cargraves (Warner Anderson), o cientista que projetou o motor do foguete; Thayer como co-piloto; e o técnico em electrônica e especialista em rádio Joe Sweeney (Dick Wesson). O orçamento do filme ($586,000) não era muito alto, mas deu para cobrir os elementos necessários: Technicolor, bons efeitos especiais (Lee Zavitz) e precisão técnica. Para garantir autenticidade, Pal empregou como consultores técnicos físicos e engenheiros e o eminente ilustrador científico Chesley Bonestell. O desenhista de produção Ernst Fegté ganhou um prêmio da Academia. Pal queria realismo documentário para o filme e portanto este é altamente técnico e bastante profético do verdadeiro pouso na Lua, que ocorreu em 1969. Foi inserida uma sequência de animação produzida por Walter Lantz na qual Woody Woodpecker explica a teoria da viagem por foguete.

Outros filmes sobre o mesmo assunto foram Da Terra à Lua / Rocketship X-M /  1950 e Voando para Marte / Flight to Mars / 1951.

Da Terra à Lua, escrito, produzido, e dirigido por Kurt Neumann (com script adicional de Dalton Trumbo – não creditado) para a Lippert Pictures (Robert L. Lippert) foi o primeiro filme de ficção científica dos anos 50 a enfatizar que a humanidade poderia se aniquilar em uma guerra nuclear; entretanto, neste caso, a humanidade estava em Marte. Uma expedição americana composta pelos astronautas Coronel Floyd Graham (Lloyd Bridges), Dra. Lisa Van Horn (Osa Massen), Dr. Carl Eckstrom (John Emery), Major William Corrigan (Noah Beery Jr.) e Harry Chamberlain (Hugh O’Brien) a caminho da Lua é desviada por meteoros para Marte, onde a tripulação descobre que a civilização foi varrida por armas atômicas. Os marcianos sobreviventes, cegos, horrivelmente desfigurados e enlouquecidos, voltaram à Idade da Pedra. Vivendo como trogloditas, eles matam o Dr. Eckstrom e o Major Corrigan. Um terceiro homem, Harry Chamberlain, é ferido. Os outros dois Floyd e Lisa conseguem chegar à sua espaçonave com o homem ferido e rumar para a Terra, porém os três morrem em um pouso forçado, mas não antes de transmitir pelo rádio a sua descoberta. O Dr. Fleming (Morris Ankrum) o outro responsável responsável pela expedição, anuncia planos para  RX-M II imediatamente. Para todas as cenas em Marte o filme foi tingido em vermelho rosado.

Outro vôo para fora de nosso planeta teve lugar no filme Voando para Marte / Flight To Mars, dirigido por Lesley Selander em Cinecolor, produzido por Walter Mirisch e distribuído pela Monogram. Desta vez, dois cientistas Dr. Lane e Professor Jackson (John Litel, Richard Gaines); um engenheiro, Jim Barker (Arthur Franz) e sua assistente Carol (Virginia Huston); e um jornalista, Steve Abbott (Cameron Mitchell) fazem um pouso forçado em Marte, onde os marcianos, cuja aparência se assemelha à dos terráqueos, vivem uma vida subterrânea confortável. O líder dos marcianos, Ikron (Morris Ankrum) fala inglês fluentemente, que ele aprendeu escutando transmissões de rádio e televisão da Terra. Embora de início eles pareçam amigáveis, os marcianos desejam tomar posse do foguete dos terráqueos, fazer alguns milhares deles e partir para a conquista da Terra, pois seu suprimento de Corium  (material não existente inventado para o filme) se exauriu e logo Marte se tornará inabitável, mesmo no subterrâneo. A maioria de seus governantes decide manter os visitantes prisioneiros, mas estes têm simpatizantes entre os marcianos e logo um plano é armado para introduzir os terráqueos e dois de seus aliados marcianos Alita (Marguerite Chapman) e Tillamar (Robert Barrat) na espaçonave interditada e escapar para a Terra.

Outros filmes sobre viagens extraterrestres foram feitos durante a década mas, realizado com maiores valores de produção e atores mais famosos, o melhor foi Planeta Proibido / Forbidden Planet / 1956, lançado pela MGM em CinemaScope e Eastman Color e dirigido por Fred McLeod Wilcox. Baseado vagamente na peça “The Tempest”. de William Shakespeare (Prospero torna-se Morbius, Miranda torna-se Altamira, e Robby e o monstro ocupam o lugar de Ariel e Caliban respectivament) e escrito por Cyril Hume, sua ação transcorre no século 23 no planeta Altair – IV, onde uma missão militar americana chega em um disco voador suntuoso, o C-57-D, em busca de sobreviventes de um vôo anterior de vinte anos atrás. Os únicos sobreviventes no planeta são o Dr. Edward Morbius (Walter Pidgeon) e sua filha Altaira (Anne Francis) que vivem em uma casa de alta tecnologia com um robô espantoso chamado Robby, que tem força sobrehumana. Os americanos ficam sabendo que uma super raça, conhecida como Krel, havia habitado Altair – IV, porém seus membros foram destruídos quando seus próprios ids subconscientes voltaram-se contra eles. Além disso, um monstro invisível espreita o planeta, matando alguns americanos. O monstro é uma projeção do id invejoso do Dr. Morbius: uma criatura separada, seu eu mal que fica furioso com a atenção do comandante John J. Adams (Leslie Nielsen) para com sua filha. Para protegê-la, Morbius explode Altair – IV (e a si próprio) enquanto os americanos escapam com Altaira e Robby. Este robô simpático  – que trazia um ator dentro dele (Frankie Carpenter, Frankie Darro) e cuja voz era de Marvin Miller – apareceu mais uma vez em O Menino Invisível / The Invisible Boy / 1957, em parte porque custou caro para ser construído e a MGM se sentiu na obrigação de usá-lo novamente. O design soberbo foi obra dos diretores de arte Arthur Lonergan, Irving Block, Mentor Huebner, Arnold Gilespie (também responsável pela equipe de efeitos especiais) e algumas sugestões do chefe do departamento de arte da MGM Cedric Gibbons. Robert Kinoshita desenhou e construiu Robby e os efeitos de animação foram feitos por técnicos do Walt Disney Studios sob a direção Joshua Meador.

Dois dos filmes mais notáveis sobre invasão e infiltração alienígena foram lançados em 1951: O Monstro do Ártico/ The Thing from Another World e O Dia em que a Terra Parou / The Day The Earth Stood Still.

Em O Monstro do Ártico, produção da Winchester Pictures de Howard Hawks, distribuída pela RKO Radio (provavelmente dirigida por Christian Nyby sob supervisão de Hawks), com roteiro de Charles Lederer e Ben Hecht (não creditado) inspirado em uma história de John Campbell, Jr, “ Who Goes There?”, o Capitão Patrick Hendry (Kenneth Tobey) da Fôrça Aérea e seus homens; um repórter, Ned Scott (Douglas Spencer); um grupo de cientistas liderados pelo Dr. Arthur Carrington (Robert Cornthwaite); e uma secretária, Nikki (Margaret Sheridan), descobrem no Polo Norte, os vestígios de uma nave espacial enterrada no gêlo.  Ao tentarem tirá-la do gêlo, a nave explode. Perto dali eles encontram um corpo de mais de dois metros de altura congelado. Eles o levam para uma estufa e descobrem que ele não é um homem mas uma espécie de vegetal humanóide evoluido, que se alimenta de sangue. Em vez de usar efeitos especiais, o filme mete medo porque a criatura (James Arness) somente é vista nas sombras e em uma escuridão claustrofóbica, deixando os detalhes para a nossa imaginação. A trilha sonora assustadora de Dimitri Tiomkin aumenta os calafrios. A equipe de militares derrota o invasor malévolo, porém eles têm que resistir ao cientista, que deseja preservá-lo para estudo. No final, após o monstro ter sido torrado por uma armadilha elétrica, o cientista pede desculpas por sua falta de cautela e o repórter adverte o mundo a  “continuar observando os céus”.

O Dia em que a Terra Parou, produzido por Julian Blaustein para a Twentieth Century-Fox e dirigido por Robert Wise, foi baseado em um conto de Harry Bates, “Farewell to the Master” e não tinha cenas no espaço. Os olhos do mundo convergem para Washinton D.C. onde disco voador pousou e, de dentro dele, emerge um alienígena com forma humana, Klaatu (Michael Rennie) e um enorme robô Gort. Quando Klaatu procura na sua roupa especial por um objeto que era nada mais que um presente para o presidente dos Estados Unidos, ele é alvejado por um soldado. Gort reage, destruindo todas as armas à vista. O alienígena deseja um contato com todos os líderes do mundo, mas é informado por um membro da Casa Branca de que isto é impensável. Klaatu foge do hospital e se esconde em uma pensão sob o nome de Mr. Carpenter. Lá ele conhece uma jovem viúva, Helen Benson (Patricia Neal) e seu filho Bobby (Billy Gray). Por indicação de Bobby, Klaatu procura o eminente cientista, professor Jacob Barnhardt (Sam Jaffe), ao qual revela sua identidade e explica suas preocupações: as armas nucleares estariam preocupando os habitantes de outros planetas. Ele pede que Barnhardt reuna membros importantes da comunidade científica internacional para que eles sejam os portadores de sua mensagem. Em uma demonstração não violenta de seus poderes, o alienígena interrompe toda eletricidade na Terra por trinta minutos mas, a contrário do que previa, ele é considerado uma ameaça ao país e começa a ser perseguido. Klaatu tenta chegar à sua espaçonave e é ferido mortalmente pelos militares. Agindo sob suas instruções, Helen procura a ajuda de Gort. O robô recolhe o corpo de Klaatu e o ressuscita. Antes de partir, dá um ultimato para aos cientistas reunidos próximos à espaçonave: outros planetas passaram a viver uma coexistência pacífica por causa da vigilância de robôs poderosos como Gort e a Terra deve ser juntar a eles, caso contrário será destruída. Locke Martin, um sujeito muito alto que era porteiro do Grauman’s Chinese Theater vestiu a roupa de Gort, mas só conseguia ficar dentro dela meia hora de cada vez, A trilha musical foi composta por Bernard Herrmann, usando violinos elétricos, contrabaixo e teremins. A fala mais famosa do filme está em uma de suas cenas mais excitantes. Klaatu foi alvejado e Helen ouve seu último desejo. Ele diz a ela o que ela deve dizer para Gort. Helen consegue chegar onde se encontra a nave especial. onde o gigante metálico está de pé, encerrado em um sólido bloco de um material plástico transparente. Ouve-se um ruído como se energia elétrica estivesse se produzindo. O ruído aumenta. A matéria plástica começa a se derreter. A cabeça de Gort está livre. Dois soldados avançam para ele, porém são desintegrados por faíscas de luz projetadas de seu único ôlho. O material plástico de suas pernas começa a se derreter. Ele se move em direção a Helen, derrubando uma fileira de cadeiras, que haviam sido colocadas para a reunião com Barnhardt e se inclina sobre a mulher apavorada, que está agachada contra uma parede de metal. O visor de Gort se abre, o raio de cristal dentro dele começa a cintilar, e ela finalmente consegue gritar: “Klaatu barada nikto!”

Os filmes sobre invasão ou iniltração alienígena que se seguiram eram mais apavorantes. Os invasores, mesmo quando não pretendiam fazer nenhum mal, eram frequentemente marcianos perigosos ou monstros com uma inteligência superior, capazes de controlar os humanos em proveito próprio ou de uma destruição em massa.

Veio do Espaço  / It Came From Outer Space, dirigido por Jack Arnold para a Universal, lançado em 1953, foi o primeiro filme em 3-D de um grande estúdio, apresentado em uma tela larga com som estereofônico e também o primeiro no gênero ficção científica produzido por William Alland (lembram-se dele como o repórter que nós acompanhamos durante o desenrolar de Cidadão Kane?). Baseado em uma história de Ray Bradbury, “The Meteor”, ele tem início quando, em uma pequena cidade do Arizona, o astrônomo amador John Putnam (Richard Carlson) e sua noiva Ellen Fields (Barbara Rush) assistem à queda de uma nave especial, que parece um meteoro, logo coberta por um deslizamento de terra. Os alienígenas são xenomorfos, seres ectoplasmáticos capazes de assumir a identidade de outros mas, no seu estado natural, parecem globos oculares gigantes. Estes seres estranhos assumem a identidade de pessoas da cidade apenas porque precisam consertar sua nave para seguir viagem sem serem percebidos e temem que os humanos lhes façam mal. Eventualmente, a população tenta destruí-los, mas Putnam os protege na confrontação final, explicando: “Eles não confiam em nós porque o que nós não compreendemos, nós destruimos”. Em algumas cenas, o diretor Jack Arnold cria belas composições ameaçadoras como aquela tomada de um alienígena duplicata do personagem de Barbara Rush no topo de uma montanha. Este filme é um tanto inusitado pelo fato de que não há forças militares, somente um xerife (Charles Drake), para lutar contra os invasores, que deixam a Terra ilesos.

Já os alienígenas de Os Invasores de Marte / Invaders from Mars / 1953 – produzido pela National Pictures, dirigido pelo desenhista de produção William Cameron Menzies e distribuído pela Twentieth Century-Fox em Eastmancolor – queriam fazer o mal, porque implantaram rádios nos pescoços dos cidadãos, tornando-os frios, sem emoção, escravos usados para destruir as armas e estações de pesquisa dos Estados Unidos. O filme é visto pelo olhos de Jimmy Hunt (David MacLean), um menino de doze anos de idade, de uma pequena cidade da Califórnia, que desperta de noite e vê uma nave espacial marciana pousar e afundar em uma área arenosa. Os marcianos são verdes muito altos com rostos rígidos sem emoção e olhos arregalados. Eles são controlados por uma inteligência suprema desencarnada na forma de uma cabeça em um globo de vidro e pretendem sabotar a construção de um foguete nuclear. Sem conseguir convencer a população de que os marcianos chegaram e estão se apropriando das pessoas, inclusive de seus pais (Leif Erickson, Hillary Brooke), o menino persuade uma psicóloga, Dra. Pat Blake (Helena Carter), um cientista, Dr. Stuart Kelston (Arthur Franz) e um oficial do exército, Coronel Fielding (Morris Ankrum): este então destrói os marcianos e sua espaçonave com explosivos. No final do filme, Jimmy acorda e ficamos sabendo que tudo não passou de um sonho, e aí ele vê uma nave espacial no céu. Jimmy estará para sempre à mercê de um mundo de pesadêlo de invasores marcianos / comunistas. O score deRaoul Kraushaar é muito inventivo. Usando um côro de 16 vozes, ele criou um som sobrenatural diferente de qualquer outro filme de ficção científica. Curiosamente a silenciosa mas poderosa Inteligência Marciana dentro do globo foi interpretada pela atriz anã Luce Potter (nome artístico da mexicana Luz Villalobo).

Em Guerra Entre Planetas / This Island Earth / 1955, produzido por William Alland, em Technicolor, distribuído pela Universal-International e dirigido por Joseph M. Newman, um alienígena, Exeter (Jeff Morrow), do planeta Metaluna, situado a milhões de anos luz da Terra, captura dois cientistas nucleares, Dr. Cal Meacham (Rex Reason) e Dra. Ruth Adams (Faith Domergue) e os transporta para seu planeta, que está se desintegrando. É preciso uma nova fonte de energia atômica, para instalar uma camada de isolamento em torno de Metaluna, a fim de protegê-lo do ataque contínuo do mais poderoso planeta Zahgon; entretanto, o alienígena e os cientistas americanos chegam tarde demais, pois o inimigo explodiu ogivas nucleares em Metaluna. Embora tecnológica e intelectualmente mais avançados do que os terráqueos, os metalunos têm um sistema social cheio de regras, imposto por um ditador, The Monitor (Douglas Spencer), que exige obediência completa. Os dissidentes são lobotomizados. Os Mutantes, monstros grotescos meio-insetos, meio-homens, são seus escravos. Com a ajuda de Exeter, os cientistas sequestrados voltam para a Terra mais devotados ao sistema político americano e convencidos da necessidade de um arsenal atômico forte, para dissuadir qualquer ataque da União Soviética. Esta é a mensagem do filme.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

EDMUND GOULDING

julho 29, 2020

Ele não somente dirigiu alguns dos melhores dramas dos anos 30-40 (e nos anos 50  duas boas comédias), mas assumiu múltiplas funções na realização de cada um deles, escrevendo ou co-escrevendo roteiros, compondo música incidental, produzindo e até sendo consultado sobre maquilagem, figurinos e penteados. Foi também um grande diretor de intérpretes, porém não deixou nos seus filmes a marca de um estilo pessoal inconfundível, adaptando-se sempre ao molde de cada estúdio no qual trabalhou.

Edmund Goulding

Goulding se concentrou mais na interpretação. Durante os ensaios (aos quais  dedicava um tempo considerável) interpretava ele mesmo cada papel nos seus mínimos detalhes, embora estivesse sempre disposto a ouvir as sugestões dos atores. Por outro lado, não se interessava pela câmera, a não ser na medida em que ela permitia registrar de forma mais completa e fielmente a atuação dos intérpretes. Segundo Lee Garmes “Ele gostava que a câmera seguisse os atores o tempo todo”.

Na sua vida particular o cineasta era um homem complicado e contraditório cujas orgias notórias, bissexualidade, alcolismo e dependência de drogas foram propaladas em Hollywood durante anos. Entretanto, ele fazia uma distinção muito clara entre seu comportamento privado e o que a tela podia e deveria mostrar para o público.

Edmund George (1891-1959) nasceu em Feltham, Middlesex, Inglaterra filho de George Goulding e Florence Ivis Charlotte Hartshorn, que imigraram do campo para Londres em meados do século XIX, onde a promessa de melhores salários e um rendimento regular  eram irresistíveis. Em 1905, George Goulding abriu um açougue no distrito de Chelsea e Edmund ajudou o pai puxando um carrinho com carne para ser entregue aos fregueses. Depois, ele trabalhou como carregador de malas no Savoy Hotel e ali conheceu o empresário teatral Robert Gelardi, que o incentivou a seguir uma carreira no palco. Goulding escreveu e atuou em algumas peças em Londres,  participou de dois filmes silenciosos, Henry VIII (Dir: Will Barker) e The Life of a London Shopgirl (Dir: Charles Raymond) e serviu brevemente (por ter sido ferido) na Primeira Guerra Mundial. Em 1915 partiu para a América.

Chegando em Nova York, graças à sua voz respeitável de barítono, embora destreinada, conseguiu emprego como cantor de pequenos papéis de ópera em uma casa de espetáculos dos irmãos Shubert. Ele retornou brevemente à Londres, onde escreveu nominalmente com Gabrielle Enthoven, frequentador de teatro cheio da grana, a peça “Ellen Young”, cujo enredo serviu como precedente de muitos melodramas, que ele faria em Hollywood. De volta a Nova York, Goulding  decidiu seguir carreira de escritor para o cinema e, sem nenhuma experiência, ingressou na Lewis Selznick Company como aprendiz de montador, com a intenção de conseguir depois a função de roteirista.  Entretanto, sua passagem como montador na Selznick durou pouco meses porque, ao saber que Jesse Lasky estava pagando mil dólares por histórias originais, foi trabalhar para ele no seu quartel general em Astoria, Long Island.

Goulding forneceu argumentos para The Quest for Life  / 1916 – Dir: Ashley Miller) e Crença e Constância / The Silent Partner / 1917 – Dir: Marshall Neilan) mas, quando os EUA entraram na guerra, ele se alistou, e acabou sendo relocado para a Inglaterra, onde realizou um bom trabalho na recepção dos soldados americanos. Nesta ocasião, enviou algumas histórias para os realizadores na América, as quais originaram filmes como Não Há Tal Coisa / The Ordeal of Rosetta / 1917 (Dir: Emile Chautard); The Glorious Lady  / 1919  (Dir: George Irving) e The Perfect Lover / 1919 (Dir: Ralph Ince). Voltando à Terra de Tio Sam, Goulding continuou escrevendo ou co-escrevendo argumentos e roteiros ou fazendo adaptações para 32 filmes de vários estúdios (principalmente  Selznick Pictures), dos quais o mais importante foi Tol’able David / 1921 (Dir: Henry King).

Greta Garbo e John Gilbert em Anna Karenina

Em 1925, Goulding começou a trabalhar na MGM como diretor, roteirista, produtor ou adaptador. Seus filmes na MGM como diretor foram: 1925- O Filho das Selvas / Sun-Up com Pauline Stark, Conrad Nagel; Sally, Irene e Mary/ Sally, Irene and Mary com Constance Bennett, Joan Crawford, Sally O´Neil, William Haines. 1926 – Paris / Paris com Charles Ray, Joan Crawford; Elas Querem Diamantes / Women Love Diamonds com Pauline Starke, Owen Moore. 1927 – Anna Karenina / Love com Greta Garbo, John Gilbert. Em 1929, ele escreveu a história original de Melodia da Broadway / The Broadway Melody (Dir: Harry Beaumont) – filme musical premiado  com o Oscar. Ainda na década de vinte, ele permitiu adaptação de uma peça sua para Loucuras de Mãe / Dancing Mothers / 1926 (Dir: Herbert Brenon – Famous Players-Lasky-Paramount); forneceu o argumento de O Amor é Cego / Happiness Ahead / 1928 (Dir: William A. Seiter – First National); dirigiu, co-produziu, escreveu o roteiro e compôs (com Elise Janis) uma canção para Tudo Pelo Amor / The Trespasser / 1929 com Gloria Swanson, Robert Ames (Gloria Productions-United Artists).

Os cinco primeiros filmes de Goulding nos anos 30 foram: 1930 O Despertar da Vida / The Grand Parade (roteirista, produtor e autor de canções – Pathé); Paramount em Grande Gala / Paramount on Parade  (diretor do segmento com Richard Arlen, Jean Arthur, Mary Brian, Virginia Bruce, Gary Cooper  – Paramount); Noivado de

Phillips Holmes e Nancy Carroll em Noivado de Ambição

Fredric March e Nancy Carrol em O Anjo da Noite

Ambição / The Devil´s Holiday (diretor, roteirista) com Nancy Carroll, Phillips Holmes – Paramount). 1931 – O Príncipe dos Dólares / Reaching for the Moon (diretor, co-argumentista e co-roteirista) com Douglas Fairbanks, Bebe Daniels, Edward Everett Horton – United Artists; O Anjo da Noite / The Night Angel (diretor, roteirista) com Nancy Carroll, Fredric March – Paramount. O drama romântico Noivado de Ambição passou no Brasil dublado em português con Nancy Carroll no papel que ia ser de Jeanne Eagels e ficou vago quando ela morreu. Nancy demonstrou capacidade dramática até então insuspeitada e quase arrebatou o Oscar de Melhor Atriz, afinal outorgado a Norma Shearer.

Em 28 de novembro de 1931, para surpresa de todos, Goulding contraiu matrimônio com Marjorie Violet Moss, que formava com George Fontana um par de dançarinos no vaudeville e estava desempregada e doente, diagnosticada como tuberculosa. Segundo Louise Brooks, Goulding casou-se com Marjorie por compaixão, com a intenção de lhe trazer felicidade no pouco tempo de vida que lhe restava. Ela faleceu em 1935. Mais tarde, ele revelaria para sua amiga e advogada Fanny Holtzmann que nunca amara Marjorie e aceitara se casar com ela durante uma bebedeira.

Greta Garbo e John Barrymore em Grand Hotel

Os astros de Grande Hotel

Goulding na filmagem de Grande Hotel

Em 1932, Goulding fez Grande Hotel / Grand Hotel, adaptação do romance de Vicki Baum, com elenco multiestelar, idéia de Irving Thalberg. Greta Garbo é a bailarina decadente; John Barrymore, o aristocrático ladrão de jóias; Lionel Barrymore, o contador que resolve passar no luxo os últimos dias de vida; Joan Crawford, a ambiciosa estenógrafa a serviço de Wallace Beery, o industrial prussiano prestes a falir; Lewis Stone, o gerente do hotel. Quando a filmagem terminou, os roteiristas apelidaram Goulding de “o domador de leões”. A certa altura, Garbo pronuncia a legendária frase: “I want to be alone”. O filme, dirigido com classe por Goulding, arrebatou o Oscar, deu uma renda bruta e um grande prestígio para seu diretor.

Edmund Goulding, Leslie Hayward e em Ann Harding na filmagem de Corações em Duelo

Em seguida, ele dirigiu, ainda na MGM, Princesa da Broadway / Blonde of the Follies / 1932 com Marion Davies, Robert Montgomery, Billy Dove; Quando Uma Mulher Ama / Riptide / 1934 com Norma Shearer, Robert Montgomery, Herbert Marshall; Corações en Duelo / The Flame Within / 1935 com Ann Harding, Herbert Marshall, Maureen O´Sullivan, Louis Hayward e escreveu histórias para Carne / The Flesh / 1932 (Dir: John Ford – MGM) e Casar por Azar / No Man of Her Own / 1932 (Dir: Wesley Ruggles – Paramount).

Bette Davis e Henry Fonda em Cinzas do Passado.

Quando Irving Thalberg morreu, em 14 de setembro de 1936, Louis B. Mayer resolveu fazer uma “limpeza” no estúdio e, depois de provocar uma discussão acirrada com Goulding, ele o expulsou da MGM, ameaçando-o de “nunca mais trabalhar nesta indústria”. Porém Goulding logo foi acolhido pela Warner Bros., onde ocorreu a melhor fase de sua carreira. Jack Warner queria fazer mais filmes com papéis femininos fortes e Goulding se encaixou perfeitamente neste novo esquema . Para ele começar no estúdio, Jack teve a idéia de refilmar The Trespasser, que ele escrevera e dirigira para Gloria Swanson em 1929, e este foi o primeiro encontro do diretor com Bette Davis, cujo parceiro no filme era Henry Fonda. Os atores e os técnicos admiraram o trabalho de Goulding especialmente Bette, que  graças à ajuda do fotógrafo Ernest Haller, nunca esteve tão formosa na tela. “Ele era o que chamamos de “a woman´s director” e um “star maker”, ela declarou. O filme, de 1937, chamava-se That Certain Woman exibido no Brasil como Cinzas do Passado.

No ano seguinte, Gouding dirigiu Novos Horizontes / White Banners com Fay Bainter, Claude Rains, Jackie Cooper, Bonita Granville, seguindo-se quatro de seus melhores filmes na década de trinta: 1938 – A Patrulha da Madrugada / The Dawn Patrol. 1939 – Vitória Amarga / Dark Victory; Eu Soube Amar / The Old Maid; Não Estamos SósWe Are Not Alone.

Basil Rathbone, David Niven e Errol Flynn em A Patrulha da Madrugada

A Patrulha da Madrugada é a segunda filmagem do drama de aviação escrito por John Monk Saunders, agora com uma quase imperceptível mudança de ênfase em relação ao pacifismo, mais de acordo com a época. Foram aproveitadas muitas tomadas aéreas da versão de 1930 e rodados exteriores do campo de aviação no rancho Calabasas, de propriedade da Warner. Errol Fynn tem uma de suas melhores perfomances como o líder de uma esquadrilha que não suporta ver pilotos inexperientes serem mandados para missões perigosas. Basil Rathbone e David Niven dão forte apoio interpretativo ao espetáculo, que não fica nada a dever à versão de 1930, dirigida por Howard Hawks.

Bette Davis e Ronald Reagan em Vitória Amarga

O script de Casey Robinson em Vitória Amarga conta uma história cuja pungência é acentuada pela direção sensível de Goulding e pela música romântica de Max Steiner. Bette Davis fez muita gente chorar como a jovem da sociedade condenada por um tumor no cérebro, que se apaixona pelo médico interpretado por George Brent. A cena final da morte da protagonista, com ela deitada na cama e seu rosto em close até sair de foco é sublime e antológica. Bette, Steiner e o filme foram indicados para o Oscar. Nos créditos percebe-se ainda os nomes de Ronald Reagan e Humphrey Bogart como coadjuvantes.

Bette Davis e Miriam Hopkins em Eu Soube Amar

Foi novamente um roteiro de Casey Robinson, aqui baseado no romance de Edith Wharton, que serviu para Goulding dirigir Bette Davis em outro drama notável, Eu Soube Amar, e o diretor mostrou mais uma vez como sabia lidar com o gênero e com atrizes. Bette é a jovem que tem uma filha ilegítima e a entrega para ser criada por uma prima, vivida por Miriam Hopkins. Esta, apesar de ter se casado com outro, ainda amava o ex-noivo, pai da criança, surgindo daí os vários conflitos. Absorvente do início ao fim, o filme, além das primorosas atuações das duas atrizes, tem ainda bela partitura de Max Steiner e a apurada fotografia de Tony Gaudio.

Flora Robson e Paul Muni em Não Estamos Sós

Ator principal de Não Estamos Sós, Paul Muni considerava seu melhor papel o do médico do interior que, na Inglaterra durante a Primeira Guerra Mundial, é acusado de matar a mulher e ter caso amoroso com uma governanta austríaca. Ele, Jane Bryan (como a amante) e Flora Hobson (como a esposa) têm brilhantes atuações e Goulding reproduz satisfatoriamente o ambiente britânico do romance de James Hilton.

Nos anos 40, Goulding fez mais quatro filmes para a Warner: 1940 – O Último Encontro / Till We Meet Again com Merle Oberon, George Brent, Geraldine Fitzgerald, Pat O´Brien, Binnie Barnes, Frank McHugh, Eric Blore. 1941 – A Grande Mentira / The Great com Bette Davis, Mary Astor, George Brent; De Amor Também Se Morre / The Constant Nymph com Joan Fontaine, Charles Boyer, Alexis Smith, Charles Coburn, Brenda Marshall, Peter Lorre. 1946 – Escravo de uma Paixão / Of Human Bondage com Eleanor Parker, Paul Henreid, Alexis Smith, Edmund Gwenn (obs. filmado em 1944, mas só lançado em 1946).

Merle Oberon e George Brent em O Último Encontro

O primeiro filme é uma refilmagem com acréscimo de personagens e situações de A Única Solução / One Way Passage / 1932  (Dir: Tay Garnett com William Powell e Kay Francis). Brent e Oberon não têm o mesmo charme de Powell e Francis, mas não decepcionam. Os coadjuvantes são todos muito bons, sobressaindo Binnie Barnes, como uma vigarista que tem um passado com o personagem de Brent.

Bette Davis, George Brent e Mary Astor em A Grande Mentira

No segundo filme, Pierre (George Brent,) um piloto, se casa com Sandra (Mary Astor), pianista muito conhecida Ele não tarda a lamentar este matrimônio muito rápido e percebe que ama Maggie (Bette Davis), uma de suas amigas do tempo de estudante. Entrementes, seu advogado descobre que o casamento é nulo, porque Sandra não estava ainda divorciada. Pierre se casa com Maggie e parte em uma expedição, pouco depois considerada como perdida, Sandra espera um bebê. Maggie quer criar o filho de Pierre. Oferece uma boa quantia e a artista aceita. Pierre é encontrado alguns meses depois. Ele pensa que Maggie é a mãe do bebê. Em presença de Sandra, Maggie confessa sua mentira a seu marido, mas Sandra parte, deixando a criança com eles. Ajudado pela grande atriz Bette Davis, Goulding soube conduzir o drama, dando às cenas uma emoção poderosa. Porém foi Mary Astor que ganhou o Oscar.

Charles Boyer e Joan Fontaine em De Amor Também se Morre

O terceiro filme é a terceira versão de um romance de Margaret Kennedy, contando em síntese a história de uma jovem de sáude frágil, Tessa (Joan Fontaine), apaixonada por seu professor Lewis Dodd (Charles Boyer), compositor egocêntrico e mais velho do que ela. Ele se casa com a prima de Tessa, a rica socialite Florence  (Alexis Smith) e a pobre moça morre, escutando no rádio o triunfo do músico. A interpretação tocante de Joan Fontaine como a adolescente apaixonada (que lhe valeu uma indicação para o Oscar) e a música arrebatadora de Erich Wolfgang Korngold ajudaram Goulding a realizar um bom drama romântico.

O quarto filme é a segunda versão do romance de Somerset Maugham (que agora se passa no final do século XIX, tão boa ou melhor do que a primeira  (Escravos do Desejo / 1934 (Dir: John Cromwell com Bette Davis e Leslie Howard), graças aos dois intérpretes centrais, Paul Henreid e Eleanor Parker em perfomances magníficas, à beleza plástica da fotografia de Paverel Marley, à sinfonia inspirada de Erich Wolfgang Korngold e a consciência cinematográfica de Goulding.

Goulding colaborou com o esforço de guerra, participando com outros seis diretores e muitos astros e estrelas de Para Sempre e Um Dia / Forever and a Day / 1943, produzido pela RKO. O filme conta a história de uma casa inglesa, por onde passam várias gerações. O segmento sob responsabilidade de Goulding mostra a dita casa aproveitada como hotel residência de militares durante a Primeira Guerra Mundial e tem como personagens principais um soldado americano (Robert Cummings) e a balconista do hotel (Merle Oberon); porém a cena mais comovente  ocorre entre um casal de idosos (Gladys Cooper, Roland Young), quando recebem a notícia de que seu filho foi morto em ação.

Antes de ingressar definitivamente na Twentieth Century-Fox, Goulding fez para esta companhia, Claudia / Claudia /1943, comédia dramática demasiadamente teatral (baseada na peça de Rose Franken), contando a história de uma jovem (Dorothy McGuire, repetindo seu papel na Broadway e estreando no cinema) casada com um homem maduro e compreensivo (Robert Young) e suas atribulações, a maioria das quais girando em torno de sua imaturidade crônica e seu apêgo à mãe (Ina Claire). A moça acaba aprendendo muito sobre a vida e se tornando adulta.

Devidamente instalado na Twentieth Century-Fox, foi lá que Goudling encerrou sua carreira, após ter realizado oito filmes, começando com dois dramas e duas comédias de bom nível artístico (1946 – O Fio da Navalha / The Razor´s Edge. 1947 – O Beco das Almas Perdidas / Nightmare Alley. 1949 – Cante Noutra Freguesia / Everybody Does It. 1950 – Senhor 880 /Mister 880) e depois fez apenas filmes indignos de seu talento (1952 – Travessuras de Casados / We´re Not Married. 1953 – À Sombra das Palmeiras / Down Among the Sheltering Palms. 1956 – Alma Rebelde / Teenage Rebel).

Gene Tierney e Tyrone Power em O Fio da Navalha

John Payne, Herbert Marshall, Gene Tierney e Clifton Webb em O Fio da Navalha

O Fio da Navalha é um drama psicológico e filosófico baseado em um romance de Somerset Maugham, interpretado no filme por Herbert Marshall, como um observador imparcial e involuntário dos acontecimentos. O principal protagonista, Larry Darrell (Tyrone Power), jovem aviador americano traumatizado pela morte de um amigo na Primeira Grande Guerra, abandona tudo, inclusive seu noivado com uma jovem da alta sociedade, Isabel (Gene Tierney), em busca de um sentido para a vida. Ele vai para Índia consultar um místico hindu. Ao retornar, Isabel faz de tudo para reconquistá-lo, embora já esteja casada com outro. Apesar de uma cena horrível do Himalaia com montanhas de papelão e uma reconstituição ridícula do ambiente parisiense, Goulding mantém o drama sob controle, auxiliado por boas interpretações de todo o elenco. Anne Baxter ganhou o Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante como Sophie, a jovem que se torna alcoólatra após a morte do marido e do filho em um desastre de automóvel e Clifton Webb foi indicado como Melhor Ator Coadjuvante pela sua divertida composição como Elliott Templeton, tio esnobe de Isabel. O filme também foi indicado para o prêmio da Academia. A música de Alfred Newman e a fotografia de Arthur Miller são outros trunfos do espetáculo.

Tyrone Power e Joan Blondell em O Beco das Almas Perdidas

 

O Beco das Almas Perdidas é um drama com história original e atmosfera corrosiva, tocando em assuntos ousados na época (dipsomania, sexo pré-marital, pseudo religião) e contendo elementos noirs (mulher fatal, protagonista cínico e amoral, degradação, venalidade, fotografia expressionista). Stanton Carlisle (Tyrone Power) aprende com Zeena (Joan BLondell) o código que esta usa no seu espetáculo de telepatia. Depois, abandona-a e seduz Molly (Colleen Gray), uma garota que trabalha no mesmo parque de diversões. Os dois vão para Chicago, onde Stanton faz muito sucesso em uma boate. Ali conhece uma psicóloga, Dra. Lilith Ritter (Helen Walker), que passa a ser sua sócia, fornecendo as gravações das consultas de seus pacientes para que ele , como reputado espiritualista, possa enganar os incautos. Durante uma farsa para tirar dinheiro de um ricaço, o charlatão é desmascarado. Stanton passa a viver como um vagabundo, tornando-se alcoólatra. Ele se degrada tanto, que acaba como uma repugnante atração de feira. Embora sendo um diretor mais especializado no filme “ para mulheres”, Goulding lida bem como o tema em desacordo com seu temperamento, dando força trágica ao protagonista e um bom andamento à narrativa.

Linda Darnell e Paul Douglas em Cante Noutra Freguesia

Paulo Douglas e Celeste Holm em Cante Noutra Freguesia

Cante Noutra Freguesia é uma comédia satírica, baseada em uma história de James M. Cain sobre uma burguesa, Doris Borland (Celeste Holm) que, sem ter a devida vocação, deseja ser uma grande cantora lírica, atormentando seu marido Leonard (Paul Douglas.) Levado pela mania da mulher a conhecer empresários e cantores, Leonard encontra a famosa prima dona Cecil Carver (Linda Darnell), que anda à procura de um barítono. Ela descobre por acaso que Leonard tem uma voz formidável e o converte da noite para o dia na maior sensação dos meios musicais de Nova York. Porém seu contato com o público na Ópera é um desastre, porque ele tem um medo do palco que o impede de mostrar suas aptidões sonoras. Cecil Carver se afasta dele enquanto Doris perdoa sua fuga. E partem os dois… cantando. A direção de Goulding é ágil, mantendo o desenrolar dos acontecimentos em um ritmo rápido. As situações cômicas são bem tratadas com diálogos bastante humorísticos.

Brrt Lancaster, Dorothy McGuire e Edmund Glenn em Senhor 880

 

Senhor 880 é uma comédia dramática, inspirada em um fato policial autêntico, conhecido como o “ caso 880”, adaptado à tela por Robert Riskin. O entrecho gira em torno de um velhinho, ex-capitão da Marinha, Skipper Miller (Edmund Gwenn, depois de cogitado Walter Huston), que “emite” em uma velha prensa, notas mal confeccionadas de um dólar para seu modesto sustento e é precisamente a natureza diminuta dos valores dispersamente lançados que intriga e desnorteia a polícia. Quando sua vizinha, Ann Winslow (Dorothy McGuire,) passa inconscientemente duas dessas cédulas falsas, ela é seguida pelo agente do FBI Steve Buchanan (Burt Lancaster) e acaba descobrindo o ingênuo falsário. Com a ajuda dos numerosos amigos do velhinho, Ann defende Skipper e ele é condenado a uma pena mínima por um juiz indulgente e compreensivo. Este entrecho leve e interessante, habilmente conduzido por Goulding, é muito bem interpretado pelos três atores centrais, principalmente Edmund Gwenn, adorável como o velhinho de uma afabilidade e de uma lógica désarmante.

KAY FRANCIS

julho 15, 2020

Ela foi uma das atrizes mais populares da tela no anos 30, classificada como “a rainha da Warner Bros.“, “a mulher mais bem vestida do Cinema” e, por sua cor de pele morena e cabelos negros, “a americana mais brasileira de Hollywood” (aqui no Brasil houve até rumores de que ela teria nascido em Pernambuco). Entre 1930 e 1937 ninguém, a não ser Shirley Temple, apareceu mais nas capas das revistas de cinema dos Estados Unidos e, em nosso país, basta folhear as nossas Cinearte e A Scena Muda para constatar a constância de suas fotos em quase todos os números destas duas publicações, sempre chique em modelos muito admirados pelas fãs. Apesar de sofrer de uma leve gagueira e pronunciar os “rs” como “ws” (palavras começando por “r” eram cortadas dos roteiros de Francis) ela era uma das estrelas mais glamourosas e bem pagas (em meados da década de trinta seu salário de mais de 5 mil dólares semanais ultrapassava o de várias outras colegas), interpretando, primeiro na Paramount e depois na Warner Bros., mulheres elegantes e mundanas em melodramas românticos e, eventualmente, em algumas comédias.

Kay Francis

Katharine Edwina Gibbs (1905-1968), nasceu em Oklahoma City, filha de Joseph Gibbs, proprietário de terras e criador de cavalos que havia perdido sua fortuna quando ela nasceu e de Katherine Clinton, atriz de teatro. Quando Kay tinha nove meses de idade a família se mudou para a Califórnia e depois foi para Denver e Salt Lake City onde, Mrs. Gibbs, cansada das frequentes mudanças, problemas financeiros e alcoolismo de Joseph, e arrependimento por ter abandonado a carreira teatral, decidiu se separar do marido e voltar para o palco.

A pequena Katharine passou a infância acompanhando a mãe em suas excursões frequentes, estudando em alguns colégios religiosos e finalmente em uma escola de treinamento para secretárias de Nova York até que arrumou emprego como assistente de Juliana Cutting, organizadora de festas para a alta sociedade novaiorquina. Nesta ocasião a carreira de sua mãe teve um impulso, quando ela apareceu em duas peças no Garrick Theater de Nova York, produzidas pelo prestigioso Theatre Guild.

Em 1922 Kay trabalhou brevemente como modelo e como secretária, perdeu sua virgindade e iniciou uma vida de sexualidade desinibida (casou-se aos 17 anos de idade com James Dwight Francis, filho de família rica, teve amantes de ambos os sexos e fez três abortos). Ela se divorciou de James em 1925 e neste mesmo ano estreou no teatro em uma versão moderna do “ Hamlet” de Shakespeare, casou-se com William Gaston, assistente de um promotor público (outro matrimônio frustrado) e fez um teste no estúdio da Famous Players em Astoria para o diretor David Wark Griffith, provavelmente para ser incluída no elenco de Tristezas de Satanás / Sorrow of Satan. Mas não deu em nada.

Deixando de lado a vida pessoal de Kay – seus / suas amantes, mais um aborto, início de sua tendência para o alcoolismo, algumas aparições no teatro, trabalho como modelo, vejamos como ela debutou no cinema. Existem várias versões, mas parece que foi por intermédio de Walter Huston, o ator principal de “Elmer the Great”, peça na qual ela desempenhara um pequeno papel como uma corista. Escolhido para liderar o elenco de Algema Cruel / Gentlemen of the Press / 1929, Huston teria convencido os responsáveis pela Paramount a contratar Kay. Logo em seguida, ela participou de um filme dos Irmãos Marx, Hotel da Fuzarca / The Cocoanuts / 1929, usando em ambos o nome artístico de Katherine Francis. Após Kay ter completado seus dois primeiros filmes em Nova York, a Paramount decidiu transferí-la para Los Angeles a fim de continuar sua carreira no estúdio da Melrose Avenue em Hollywood e, assim que ela chegou, imediatamente iniciou uma campanha de publicidade, lançando Kay como competidora das duas atrizes consideradas as ”mais bem vestidas” da época, Constance Bennett e Lilyan Tashman. Sua presença esbelta e vistosa, figura de modelo (com 1.75 ms de altura), cabelos  bem pretos e capacidade de se vestir com elegância  (com figurinos de Travis Banton e Orry-Kelly) ela conquistou o público, principalmente o feminino.

Kay Francis e Ronald Colman em Raffles

Nos seus filmes iniciais em Hollywood, a maioria deles na Paramount – Curvas Perigosas / Dangerous Curves / 1929 com Clara Bow e Richard Arlen; Ilusão / Illusion / 1929 com Charles “ Buddy” Rogers, Nancy Carroll; Órfãos do Divórcio / The Marriage Playground / 1929 com Mary Brian, Fredric March; Por Traz da Máscara / Behind the Make-Up / 1930 com Hal Skelly, William Powell, Fay Wray; Caminhos da Sorte / Street of Chance / 1930 com William Powell, Jean Arthur; Paramount em Grande Gala / Paramount on Parade / 1930 com um elenco de astros e estrelas; Mulher Desejada / A Notorious Affair / 1930  (First National) com Billie Dove, Basil Rathbone – Kay não teve o papel principal, o que só viria acontecer em Defesa Que Humilha / For the Defense  / 1930 e logo depois em Raffles /  Raffles / 1930 (Samuel Goldwyn), nos quais dividiu o estrelato respectivamente com William Powell e Ronald Colman. Foram os seus dois melhores filmes até então.

Kay Francis e Jack Oakie em Naufrágio Amoroso

Ela fez sucessivamente, – salvo quando mencionados outros estúdios – na Paramount: Naufrágio Amoroso / Let´s Go Native / 1930 (com Jeannette MacDonald encabeçando o elenco); Coragem de Amar / The Virtuous Sin / 1930 com Walter Huston, Kenneth MacKenna); Um Sonho Apenas / Passion Flower / 1930 (MGM) com Kay Johnson, Charles Bickford; Página de Escândalo / Scandal Sheet /1931 com George Bancroft, Clive Brook; O Benzinho de Todas / Ladie´s Man /1931 com William Powell, Carole Lombard. The Vice Squad / 1931 com Paul Lukas; Reconquistada / Transgression / 1931 (RKO) com Paul Cavanagh, Ricardo Cortez; Mãos Culpadas / Guilty Hands/ 1931 (MGM) com Lionel Barrymore, Madge Evans; 24 Horas / 24 Hours / 1931 com Clive Brook, Miriam Hopkins; Prá Que Casar / Girls About Town / 1931 com Joel McCrea, Lilyan Tashman; A Falsa Madona / The False Madonna / 1932 com William “ Stage” Boyd; A Volta do Deserdado / Strangers in Love  / 1932 com Fredric March.

Lionel Barrymore e Kay Francis em Mãos Culpadas

Neste lote destaco em negrito Mãos Culpadas, drama criminal com ótimo enredo: em uma viagem de trem, o ex-promotor público e agora advogado, Richard Grant (Lionel Barrymore), diz para seus companheiros de viagem que, baseado em sua longa experiência, o assassinato algumas vezes pode ser justificado e uma pessoa inteligente deve ser capaz de cometê-lo, sem ser descoberto. É o que ele pretende fazer, a fim de impedir que sua filha (Madge Evans) se case com Gordon Rich (Alan Mowbray) um canalha bem mais velho do que ela. Kay faz o papel da amante despeitada de Rich, que suspeita de que a morte dele não foi suicídio, como Grant fizera a polícia crer. O diretor W. S. Van Dyke dirigiu com boa imaginação cinematográfica um roteiro cheio de reviravoltas e Barrymore brindou o espectador com um de seus melhores desempenhos.

Kay Francis e Ricado Cortez em Capricho Branco

Em 1931, Kay casou-se com o ator Kenneth MacKenna. Pouco depois assinou contrato com a Warner Bros. e, depois de fazer três de seus melhores filmes em 1932 – Ladrão Romântico / Jewel Robbery; A Única Solução / One Way Passage; Ladrão de Alcova / Trouble in Paradise (este na Paramount) – seus papéis foram diminuindo de qualidade em produções de menor merecimento artístico: 1932 – Amante Discreta / Cynara com Ronald Colman. 1933 – Pela Fechadura / The Keyhole com George Brent; Aurora de Duas Vidas / Storm at Daybreak (MGM) com Nils Asther, Walter Huston; Mulher e Médica / Mary Stevens, M.D. com Lyle Talbott, Glenda Farrell; A Mulher Que Eu Amei / I Loved a Woman (First National) com Edward G. Robinson; Presa do Destino / The House on 56th Street com Ricardo Cortez, Gene Raymond. 1934 – Capricho Branco / Mandalay com Ricardo Cortez, Lyle Talbot; Wonder Bar / Wonder Bar (First National) com Al Jolson, Dolores Del Rio, Ricardo Cortez, Dick Powell; Monica / Dr. Monica com Warren William.  Espionagem / British Agent (First National) com Leslie Howard. 1935 – Vivendo em Veludo / Living on Velvet (First National) com Warren William; O Primeiro Beijo / Stranded com George Brent; A Favorita / The Goose and the Gander com George Brent; Amores Trágicos / I Found Stella Parrish com (First National) com Ian Hunter, Paul Lukas. 1936 – Anjo de Piedade / White Angel com Ian Hunter, Donald Woods; Dá-me Teu Coração / Give Me Your Heart com George Brent; 1937 – Ventura Roubada / Stolen Holiday com Claude Rains, Ian Hunter; Outra Aurora / Another Dawn com Errol Flynn, Ian Hunter; Confession; Intrigas da Alta Roda / First Lady com Anita Louise, Preston Foster. 1938 –  Assim São as Mulheres / Women Are Like That com Pat O´Brien , Ralph Forbes; Filhos Sem Lar / My Bill com Dickie Moore, Bonita Granville; Segredos de uma Atriz / Secrets of an Artist com George Brent, Ian Hunter; Promessa CumpridaComet Over Broadway com Ian Hunter. 1939 – Contra a Lei / King of the Underworld com Humphrey Bogart; Mulheres Que O Vento Leva / Women in the Wind com William Gargan.

Kay Francis e Ronald Colman em Amante Discreta

Kay Francis, Walter Huston e NIls Asther em Aurora de Duas Vidas

Ricardo Cortez, Dolores Del Rio,   Al Jolson, Kay Francis e Dick Powell  em Wonder Bar

Kay Francis e Warren William em Monica 

Leslie Howard e Kay Francis em Espionagem

George Brent e Kay Francis em Dá-me Teu Coração

Ladrão Romântico, muito bem dirigido por William Dieterle, é uma comédia romântica excelente, baseada em uma peça de Ladislaus Fodor, sobre uma dama da alta sociedade, Baronesa Teri (Kay Francis), esposa adúltera de um milionário que percebeu o vazio de sua vida e se curou de seu tédio com um ladrão de jóias audacioso, elegante e requintado  (William Powell), – parecido com o Arsène Lupin de Maurice Leblanc. Dotado de uma técnica incomparável para esvaziar as joalherias da Ringstrasse de Viena nas barbas das autoridades, ele ridiculariza os representantes da lei e até o prefeito sucumbe aos cigarros de marijuana oferecidos pelo charmoso larápio. Outra dose parecida de amoralidade – pois trata-se de um filme anterior ao Código Hays – é o decote escandalosamente ousado nas costas de Teri e, no final, o oferecimento de seu marido para uma cura de descanso em Nice, onde a espera o irresistível gatuno.

Kay Francis e William Powell em Ladrão

A Única Solução é um melodrama com história original de Robert Lord premiada com o Oscar. Dan Hardesty (William Powell), condenado  por homicídio e preso em Honk Kong é levado para San Francisco no transtlântico  SS Maloa a bordo do qual se encontra com uma doente incurável, Joan Ames (Kay Francis). Os dois se envolvem em um idílio, cada qual sem saber que a vida do outro está prestes a se extinguir. O diretor Tay Garnett deu pungência ao tema romântico, equlibrando-o com toques de comédia, providenciados por Aline MacMahon e Frank McHugh, um vigarista e uma falsa condessa, espécie de cupidos dos casal com os dias contados.

William Powell e Kay Francis em A Única Solução

Em Ladrão de Alcova, comédia romântica dirigida magnificamente por Ernst Lubitsch, Gaston Monescu (Herbert Marshall) e Lily (Miriam Hopkins) são dois ladrões cosmopolitas que pretendem furtar as jóias de Madame Mariette Colet  (Kay Francis), dona de uma fábrica de perfumes, empregando-se em sua casa. Depois de muitos imprevistos, finura e mordacidade, termina esta farsa mundana, deliciosamente cínica e amoral, um dos filmes prediletos do diretor, que conta ainda com a presença hilariante de Edward Everett Horton e Charles Ruggles como os rivais pela mão de Madame Cole.

Kay, Herbert Marshall e Miriam Hopkins em Ladrão de Alcova

Kay Francis e Herbert Marshall em Ladrão de Alcova

Confession, é a refilmagem – incompreensívelmente inédita no Brasil, pois se tratava de uma produção classe A da Warner – do filme alemão Mazurca / Mazurka / 1935 de Willi Forst com Pola Negri, coincidentemente dirigida por outro alemão, Joe May, então radicado nos EUA. Tal como na produção germânica, a história foi valorizada pela excelência da direção. Kay é Vera Kowalska, cantora de ópera pupila de um grande maestro, Michael Michailow (Basil Rathbone), seu admirador; porém ela se casa com outro e tem uma filha, Lisa (Jane Bryan). Quando o marido vai para a guerra, ela se embriaga em uma festa e se entrega ao maestro. O marido fica sabendo de tudo,  deixa-a e se casa novamente, obtendo a guarda da filha. Vera, para ganhar a vida, vai ser cantora em um cabaré. Basta descrever uma sequência do filme para mostrar a intuição de cinema de Joe May. Vera está cantando no cabaré. De repente ela avista em uma das mesas, o ex-amante beijando sua filha. Vera desmaia. Nervoso, o maestro resolve sair rapidamente com a garota. Quando estão subindo a escada em direção à porta de saída, a câmera se volta para baixo, onde vemos Vera com um revólver na mão. Ela atira e atinge Michailov pelas costas. O corpo dele rola pela escada, indo cair ao lado de algumas serpentinas e da arma assassina.

Kay Francis na filmagem de Confession

Na sua vida íntima sempre turbulenta Kay divorciou-se de Kenneth MacKenna, continuou se entregando à bebida, fazendo abortos e colecionando amantes entre eles Maurice Chevalier, Otto Preminger, Delmer Daves, Rouben Mamoulian e Fritz Lang. Sua carreira que parecia tão promissora dez anos atrás, tornou-se um fardo em 1939, por ter a Warner colocado a atriz em um amontoado de filmes com histórias ruins; mas havia se tornado uma milionária. Durante a filmagem de seu último filme neste estúdio, Mulheres Que O Vento Leva, ela concedeu uma entrevista para a revista Photoplay, cujo título e primeira frase era: “I can´t wait to be forgotten”.

Em fevereiro de 1939 a RKO contratou-a para Esposa Só No Nome / In Name Only, bom filme de John Cromwell, no qual ela contracenou com Carole Lombard e Cary Grant e impressionou os críticos, interpretando uma esposa vingativa e amarga. Em janeiro de 1940 trabalhou com Deanna Durbin e Walter Pidgeon na Universal em Rival Sublime / It´s a Date, sob a direção de William Seiter, atuando como mãe de Deanna. Esta, é claro, era a principal atração, porém Kay não ficou embaraçada no papel de uma estrela envelhecida que é obrigada a competir com sua filha.

Jack Benny e Kay Francis em A Tia de Carlitos

 

Cena de Sempre no MeuCoração

Como free lancer Kay fez em seguida: 1940 – A Vingança dos Daltons  / When The Daltons Rode  (Universal) com Randolph Scott, Brian Donlevy; Homenzinho / Little Men (RKO) com Jack Oakie, George Bancroft. 1941 – Mulheres de Luxo / Play Girl (RKO) com James Ellison); O Homem Que Se Perdeu / The Man Who Lost Himself (Universal) com Brian Aherne; A Tia de Carlitos / Charley´s Aunt (Twentieth Century-Fox) com Jack Benny, James Ellison, Anne Baxter; Ciúme Não é Pecado / The Feminine Touch (MGM) com Rosalind Russell, Don Ameche, Van Heflin. 1942 – Sempre no Meu Coração / Always in My Heart (Warner Bros.), com Walter Huston, Gloria Warren; Fruta Cobiçada / Between Us Girls (Universal) com Diana Barrymore, Robert Cummings. 1944 – Quatro Moças Num Jeep/ Four Jills in a Jeep (Twentieth Century-Fox) com Carole Lombard, Martha Raye, Mitzi Mayfair. Neste grupo de filmes, sobressaiu Sempre no Meu Coração, apenas por ter sido grande sucesso de público no Brasil, tendo ficado 22 semanas em cartaz no Rio de Janeiro

Durante a Segunda Guerra Mundial Kay colaborou com o esforço de guerra, ajudando a divertir as tropas em shows domésticos e no exterior, visitando hospitais e servindo mesas em cantinas especiais para soldados. Em abril de 1945  esteve no Brasil, cumprindo missão da U. S. O. Camp Shows, primeiro no Recife e depois no Rio de Janeiro.

Em 1945-1946 Kay produziu com Jeffrey Bernerd seus três filmes derradeiros, todos de baixo orçamento e distribuídos pela Monogram:  1945 – Divórcio / Divorce com Bruce Cabot; Esposas ErrantesAllotment Wives com Paul Kelly. 1946 – Precisa-se de uma Esposa / Wife Wanted com Paul Cavanagh. Em 1946 ela se retirou do cinema e, exceto algum trabalho no palco e aparições na televisão no início dos anos 50, evitou totalmente os refletores. Quando faleceu em 1968, vitimada pelo cancer, deixou a maior parte da sua fortuna de quase 2 milhões de dólares para a Seeing Eyes, Inc., organização que treinava cães para serem guias de cegos.

MATHILDE COMONT

julho 9, 2020

Ela era uma atriz nos filmes de Hollywood dos anos 20-30, que sempre chamava atenção pelo seu físico imponente e suas qualidades interpretativas. Hoje talvez ninguém mais se lembre dela, mas tendo revisto recentemente  suas atuações em O Ladrão de Bagdad / The Thief of Bagdad e O Bamba do Rio Verde / The Hard Hombre e visto pela primeira vez Rosita / Rosita (em uma cópia restaurada exibida no canal franco-alemão Arte, que me foi enviada por Sergio Leemann), achei que ela merecia uma homenagem.

Mathilde Comont

Mathilde Comont (1886-1938) apareceu primeiramente no cinema em oito curtas-metragens franceses : 1908 – Mon Chef Vient Dejeuner (Dir: Maurice de Féraudy / Gaumont); Les Vingt-Huit Jours de Clairette (Dir: Maurice de Féraudy / Gaumont). 1909 – La Dormeuse (Dir: Michel Carré / Pathé-Frères). Ordre du Roi (Dir: Michel Carre´/ Pathé-Frères); Mathurin Fait la Noce (Dir: Michel Carré / Pathé-Frères); Mange ta Soupe (Dir: Georges Monca / Pathé-Frères); Ce que Femme Veut (Dir: Georges Monca (Pathé-Frères). 1910 – L´Inspecteur des Becs-de-Gaz (Dir: René Chavance / Pathé-Frères).

Mathilde e Stan Laurel

Instalada definitivamente nos EUA, participou de alguns filmes curtos: não creditada em Max in a Taxi e Max Wants a Divorce, ambos de 1917 (Dir: Max Linder / Essanay); A Bad Little Good Man / 1917 e Eddie Get the Mop / 1918 (Dir: William Beaudine, argumento King Vidor / Nestor); Romance de um Apache / A Rogue´s Romance / 1919 (Dir: James Young / Vitagraph); não creditada em O Lírio do Reino Florido / A Tale of Two Worlds / 1921 (Dir: Frank Lloyd / Goldwyn); The Handy Man / 1923 (Dir: Robert Kerr / Quality Film) contracenando com Stan Laurel.

Seus dois primeiros papéis importantes ocorreram em duas grandes produções: Rosita / 1923 (Dir: Ernst Lubitsch), interpretando a mãe de Rosita (Mary Pickford) e O Ladrão de Bagdad / 1924 (DIr: Raoul Walsh), filme de aventuras orientais protagonizado por Douglas Fairbanks no qual, sem receber crédito, assumiu a figura masculina do Príncipe Persa, de bigode e turbante.

Mathilde ao lado de Mary Pickford em Rosita

Mathilde em O Ladrão de Bagdad

Ainda na década de trinta, fez mais 27 filmes como coadjuvante, em pequenos papéis ou apenas pontas, algumas vezes sem ser creditada: 1924 – O Espírito da Meia-Noite / Mademoiselle Midnight (Dir: Robert Z. Leonard); Confissão Suprema / His Hour (Dir: King Vidor). 1925 – não creditada em Playing with Souls (Dir: Raph Ince): A Falência do Casamento / If Marriage Fails (Dir: John Ince). 1926 – A Fera do Mar / The Sea Beast (Dir: Millard Webb); A Montanha Encantada / The Enchanted Hill (Dir: Irvin Willat); A Dansarina de Montmartre / The Girl from Montmartre (Dir: Alfred E. Green); Um Grito D´Alma / The Far Cry (Dir: Silvano Balboni); La Bohème / La Bohème (Dir: King Vidor); A Felicidade Depende do Dinheiro / The Gilded Highway /  (Dir: J. Stuart Blackton); não creditada em Kiki / Kiki (Dir:  Clarence Brown); Meia-Noite em Paris / Paris at Midnight (Dir: E. Mason Hopper); Coração Que Hesita / Volcano (Dir: William K. Howard); Amor Napolitano / (Dir: George Archainbaud); não creditada em Sonhos e Realidade / The Passionate Quest (Dir:  J. Stuart Blackton); Sangue por Glória  / What Price Glory (Dir: Raoul Walsh); A Flor dos Cortiços / Rose of the Tenements (Dir: Phil Rosen). 1927 – em cenas extirpadas de Que Escândalo! / The Whole Town´s Talking (Dir: Edward Laemmle); Dois Xarás e uma Xarada / The Wrong Mr. Right  (Dir: Scott Sidney); Os Amores de Carmen / The Loves of Carmen (Dir: Raoul Walsh); Anna Karenina / Love (Dir: Edmund Goulding); Ruas de Shanghai / Streets of Shanghai (Dir: Louis J. Gasnier). 1928 – Noite de Estréia ou O Caminho de uma Mulher / A Woman´s Way (Dir: Edmund Mortimer); Ramona / Ramona (Dir: Edwin Carewe); Una Nueva y Gloriosa Nación / The Beautiful Spy (Co-Prod. Argentino-Americana. Dir: Albert Kelly); You Know What Sailors Are (Prod britânica. Dir: Maurice Elvey); Paris de Contrabando / The Rush Hour.

Mathilde e Lilian Gish  em La Bohème

Mathilde em Meia-Noite em Paris

Mathilde em A Woman´s Way

Às vezes o nome de Mathilde aparecia como Matilde ou Mathilda nos créditos. Entre seus melhores papéis (Madame Benoit em La Bohème, com Lilian Gish e John Gilbert; Camille em Sangue por Glória com Victor MacLaglen, Edmund Lowe, Dolores Del Rio; Emilia em Os Amores de Carmen com Dolores Del Rio, Don Alvarado, Victor MacLaglen; Marda em Ramona com Dolores Del Rio, Warner Baxter) destaca-se o de Madame Vauquer, a dona da pensão do romance famoso de Honoré de Balzac, “Le Père Goriot”, em Meia-Noite em Paris, adaptação cinematográfica (com muita liberdade) da obra do grande escritor, na qual estão presentes também outros conhecidos personagens da Comédia Humana como Vautrin (Lionel Barrymore), Eugene de Rastignac (Edmund Burns) e Pai Goriot (Emile Chautard).

Mathilde com Ramon Novarro em Seviha de Meus Amores

Nos anos 30 foram mais 30 longas-metragens e 1 curta: 1930 – O Monstro Marinho / The Sea Beast (Dir:  Lionel Barrymore, Wesley Ruggles); Sevilha de Meus Amores / Call of the Flesh (Dir: Charles Brabin); Romance / Romance (Dir: Clarence Brown); Just Like Heaven (Dir:  Roy William Neill); não creditada em O Chicote / The Lash(Dir: Frank Lloyd); não creditada em Along Came Youth (Dir: Lloyd Corrigan, Norman Z. McLeod); Le Chanteur de Séville (Dir: Ramon Novarro, versão de Sevilha de Meus Amores / Call of the Flesh); não creditada em The Lady Who Dared (Dir: William Baudine); O Bamba do Rio Verde / The Hard Hombre  (Dir: Otto Brower); Melodia Cubana / The Cuban Love Song ( Dir: W. S. Van Dyke); não creditada em Monstros / Freaks (Dir: Tod Browning); não creditada em Coquetel de Amores / Lady With a Past (Dir: Edward H. Griffith); não creditada em Mulheres e Aparências / Careless Lady / 1932 (Dir: Kenneth MacKenna); L´Athlète Incomplet (Dir: Claude Autant Lara, versão de Sêde de Escândalo / Local Boy Makes Good). 1933 – Rindo-se da Vida / Laughing at Life (Dir: Ford Beebe); não creditada em Vidas sem Rumo / The Devil´s in Love (Dir: William Dieterle); não creditada em Sócios no Amor / Design for Living (Dir: Ernst Lubitsch). 1934 – não creditada em Paixão de Zíngaro / Caravan (Dir: Erik Charell); A Torch Tango (curta-metragem musical com Ruth Etting); Idílio Interrompido / All Men Are Enemies (Dir: George Fitzmaurice); não creditada em Promessa de Mãe / A Wicked Woman (Dir: Charles Brabin). 1935 – Flirt / Escapade (Dir: Robert Z. Leonard); Um Brinde ao Amor / Here´s to Romance (Dir: Alfred E. Green); Waterfront Lady (Dir: Joseph Santley). 1936 – não creditada em Heróis do Ar / Ceiling Zero (Dir: Howard Hawks); não creditada em O Bandoleiro de El Dorado / Robin Hood of Eldorado (Dir: William Wellman); Pobre Menina Rica / Poor Little Rich Girl (Dir: Irving Cummings); Adversidade / Anthony Adverse (Dir: Mervyn LeRoy); não creditada em Noite sem Fim / The Longest Night (Dir: Errol Taggart); Along Came Love (Dir: Bert Lytell). 1937 – Porque o Diabo Quis / God´s Country and the Woman (Dir: William Keighley); não creditada em Moça de Expediente / Wise Girl (Dir: Leigh Jason).

Hoot Gibson, Lina Basquette e Mathilde em O Bamba do Rio Verde

Gostei muito de Mathilde, ou Matilde, como saiu o nome dela como o terceiro nome nos créditos logo depois de Hoot Gibson e Lina Basquette em O Bamba do Rio Verde, um dos melhores westerns cômicos do cowboy menos convencional da História do Western.  No filme, Hoot é William Penn “ Peaceful” Patton, rancheiro simplório  queridinho de sua mamãe, que pede emprego de capataz na fazenda de uma linda viúva, Isabel Martinez (Lina Basquette). Confundido com um bandido perigosíssimo, conhecido como The Hard Hombre, ele consegue defender os interesses de sua patroa, pois todos estremecem de medo diante dele, inclusive Maria Romero, vizinha de Isabel, o personagem interpretado por Matilde. Quando o verdadeiro Hard Hombre aparece e ameaça a mãe de  “ Peaceful”, ele fica furioso, acaba com o fora-da-lei e conquista Isabel.

Grande Mathilde

Vi Mathilde também em outros filmes (v. g. Sevilha de Meus Amores, no qual ela é La Rumbarita, que aluga o quarto onde Juan de Dios (Ramon Novarro), Maria Consuelo (Dorothy Jordan) e Esteban (Ernest Torrence) se hospedam em Madrid; Pobre Menina Rica como a esposa de Tony (Henry Armetta), tocador de realejo italiano em cuja casa Barbara (Shirley Temple) se abriga depois de ter ficado sozinha na rua quando a empregada que a conduzia para uma nova escola foi atropelada por um carro) sempre com o maior prazer, por mais breve que tivesse sido as suas aparições na tela (v. g. como a cozinheira de Norma Talmadge em Kiki ou como uma cigana dançando com Eugene Pallette em Paixão de Zíngaro).

Mathilde Comont morreu prematuramente aos 51 anos de idade, vitimada por um ataque cardíaco pouco depois do lançamento de seu último filme.