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ERICH POMMER

Ele foi um dos produtores mais significativos dos anos vinte e início dos anos trinta, ajudando a criar uma reputação internacional para os filmes germânicos depois da Primeira Guerra Mundial. Posteriormente, promoveu a idéia de um cinema “Pan-europeu” antes de ser obrigado a emigrar pelos Nazistas. Após a Segunda Guerra Mundial, e uma variada carreira na Inglaterra e nos Estados Unidos, foi fundamental na reconstrução da indústria cinematográfica da Alemanha Oriental.

Erich Pommer

Filho de um comerciante têxtil, Pommer (1889-1966) nasceu em Hildesheim, na Alemanha e começou a trabalhar para as companhias francesas Gaumont (a partir de 1907) e Éclair (a partir de 1912) nas suas respectivas filiais em Viena e Berlim. Ferido no serviço ativo durante a Primeira Guerra Mundial, contribuiu para o esforço de guerra trabalhando em cinejornais e documentários.

O Gabinete do Dr. Caligari

Em 1915, fundou com outro sócio a Decla-Film-Gesellschaft Holz und Co., sediada na filial germânica da Éclair (Deutsche Éclair), depois reunida com a Meiner Film Company, ampliando seu alcance. As primeiras produções foram do gênero popular como histórias de detetives, filmes de aventuras, melodramas e curtas-metragens de dois rolos com o comediante e artista de cabaré Harry Lambertz-Paulsen. Após o fim da Primeira Guerra Mundial e do retorno de Pommer a Berlim, as produções da Decla tornaram-se mais ambiciosas com filmes de renome mundial tais como O Gabinete do Dr. Caligari / Das Cabinet des Dr. Caligari / 1920

Os Nibelungos

Metrópolis

Uma futura fusão com a Deutsche Bioscop se seguiu em 1920. Durante estes anos Pommer promoveu as carreiras de diretores influentes como Fritz Lang, cujas produções na Decla Bioscop incluíram A Morte Cansada / Der Müde Todd / 1921 e Dr. Mabuse, o Jogador / Dr. Mabuse, Der Spieler / 1922 e O Castelo Vogelöd / Schloss Vogelöd /1921 de F. W. Murnau. Após a aquisição da Decla-Bioscop pela Ufa, Pommer em 1923 tornou-se membro do conselho consultivo da empresa, e continuou a formar um a equipe de diretores, roteiristas, cinegrafistas e atores talentosos. A estratégia de Pommer foi investir em produções caras de prestígio direcionadas para o mercado internacional, tais como Os Nibelungos – A Morte de Siegfried / Die Nibelungen / 1924 de Fritz Lang e Fausto / Faust – Eine deutsche Volkssage / 1926 de Murnau. Entretanto, o épico monumental de ficção científica Metrópolis / Metroplis / 1927 de Fritz Lang ultrapassou drasticamente seu orçamento, fazendo com que Pommer perdesse sua posição na Ufa, enquanto a companhia quase foi à falência.

Flor do Asfalto

O Anjo Azul

O Congresso Dança

Um breve período trabalhando para a Paramount nos Estados Unidos inspirou Pommer a adotar cronogramas de filmagem mais apertados e uma nova tecnologia de câmera. Chamado de volta pela nova administração de uma Ufa reestruturada em 1927, ele realizou uma série de produções de entretenimento de alta qualidade, notadamente Flor do Asfalto / Asphalt / 1929 de Joe May e O Anjo Azul / Der blaue Engel / 1930 de Josef von Sternberg. Seguindo o advento do som, o grupo de produção de Pommer na Ufa criou uma série de comédias musicais e opereta, tais como Os Três do Posto de Gasolina / Die Drei von der Tankstelle / 1930 e O Congresso Dança / Der Kongress tanzt / 1931. A maioria destes filmes foi filmada simultaneamente em versões em vários idiomas com atores diferentes, prática comum durante os primeiros anos do cinema sonoro.

Junto com outros realizadores judeus, aUfa rescindiu o contrato de Pommer apos a tomada de poder nazista wm 1933. Pommer foi para Paris como chefe da Fox Film Europa, produzindo dois filmes dirigidos respectivamente por Max Ophuls e Fritz Lang: Prisioneiro de uma Mulher / On a Volé un Homme / 1934 e Coração de Apache / Liliom / 1934.

Vivien Leigh e Laurence Olivier em Fogo sobre a Inglaterra

Transferindo-se para a Inglaterra, Pommer produziu para Alexander Korda (Fogo por sobre a Inglaterra / Fire Over England / 1936) e formou a Mayflower Pictures Corp.com o ator Charles Laughton. Da parceria resultaram três filmes: As Calçadas de Londres / St. Martin´s Lane / 1938, Náufrago da Vida / Vessel of Wrath / 1938 (a única intervenção de Pommer também como diretor) e A Estalagem Maldita. / Jamaica Inn / 1939 (dirigido por Alfred Hitchcock).

Charles Laughton e Maureen O´Hara em Estalagem Maldita

Na eclosão da Segunda Guerra Mundial, Pommer assinou contrato com a RKO e se mudou para Hollywood, onde a maioria de seus projetos de filme não conseguiram se materializar devido a problemas de saúde. Ele conseguiu realizar apenas:  A Vida é Uma Dança / Dance, Girl, Dance e Não Cobiçarás a Mulher Alheia / They Knew What They Wanted, ambos de 1940.

Pommer voltou para Berlim depois da guerra como funcionário encarregado do Gabinete do Serviço Militar dos Estados Unidos com a tarefa dede reestruturara indústria cinematográfica da Alemanha Ocidental. Embora Pommer tivesse conseguido muito ao dar o pontapé inicial na produção do pós-guerra, ele ficou desiludido com seus esforços e fundou uma companhia independente, Intercontinental Film, em 1951. A primeira produção Nachts auf den Strassen / 1952, drama criminal dirigido por Rudolf Jugert com Hans Albers, Hildegard Neff e Lucie Mannheim, teve boa recepção por parte da crítica e do público. As três produções subsequentes de Pommer da Alemanha Ocidental envolveram melodramas e filmes pacifistas, destacando-se Illusion in Moll / 1952 e Kinder, Mütter und ein General / 1955.

Illusion in Moll

Keinner mutter ein general

Sofrendo cada vez mais de problemas de saúde (usava uma cadeira de rodas após ter uma perna amputada), ele se retirou para a Califórnia em meados dos anos cinquenta, incapaz de realizar outros projetos.

ROBERT FLOREY

Conhecido geralmente como diretor de filmes B, durante quase um século no cinema, de 1916 a 1963, ele dirigiu 65 longas-metragens e 250 filmes de televisão na maioria dos grandes estúdios. Exibindo habilidade em vários gêneros, também ficou conhecido como um artista, ganhando fama primeiramente por seus curtas-metragens experimentais e seus filmes de maior duração se distinguiram por integrar estilos de filmagem europeus no sistema de estúdio de Hollywood.

Robert Florey

Robert Florey (1900 – 1979), cujo nome verdadeiro era Robert Fuchs, nasceu em Paris, França. Seu pai faleceu pouco após o filho nascer. Sua mãe casou-se novamente, mas ela, também, morreu dentro de poucos anos, deixando o menino aos cuidados da família do padrasto. A imaginação do menino foi despertada quando, morando perto do Teatro do mágico Robert Houdin, ele assistiu Georges Mélìes montando suas fantasias cinematográficas primitivas. O padrasto de Florey introduziu o menino no teatro clássico e através dos anos levou-o para viajar através de boa parte da Europa, inclusive Austria, Itália, Suiça e Espanha.

Depois de concluir os estudos secundários, o jovem estava previsto para cursar Engenharia, porém seu estado de saúde exigiu uma mudança de clima e ele foi para a Suiça, matriculando-se em 1915 na École Professionelle de Genebra.  Quando tinha 16 anos de idade, seu padrasto faleceu e o rapaz teve que sair da escola. Em março de 1917, conseguiu seu primeiro emprego estável na indústria de cinema, colocando legendas francesas em filmes estrangeiros para a Select Film Company de Genebra, onde conheceu Max Linder, ao qual prestou assistência brevemente. Posteriormente, Florey se uniu à Companhia de Operetas Kursaal, ajudando o gerente de palco e interpretando pequenos papéis. Permanecendo ativo no teatro e no cinema,  organizou um show itinerante de peças de horror  “Grand Guignol” e logo  o jornalismo passou a ser uma de suas atividades, cobrindo esportes e exercendo depois a crítica teatral. Ele ainda encontrou tempo para interpretar o papel do detetive no filme de um rolo de Alfred Lind, Le Cirque de la Mort.

Em dezembro de 1918, Florey e alguns amigos formaram, com o apoio do produtor-cinegrafista- ator Leon Tombet, uma companhia de cinema e decidiram produzir um filme imitando o estilo de Charles Chaplin. Assim surgiu Isidore a la Deveine, dirigido por Tombet com o acrobata Walter Gfeller, conhecido como o “Chaplin Suiço” no papel principal. Florey forneceu o roteiro e também atuou como ator e operador de câmera. Em maio de 1919, a Tombet Films realizou Une Heureuse Intrervention, provavelmente o primeiro filme suíço de longa-metragem, no qual Florey foi novamente ator e operador de câmera; porém ele teve seu batismo como diretor, dirigindo algumas cenas, embora Tombet tivesse recebido o crédito como diretor. No mês seguinte outro falso Chaplin foi feito, Isidore sur le Lac, e desta vez Florey pôde dirigir seu próprio roteiro.

Ansioso para aprender sua profissão num estúdio importante, no início de 1920, Florey deixou Genebra e retornou à França, e arurmou emprego no estúdio da Gaumont em Nice como assistente do diretor Louis Feuillade. Enquanto trabalhava no cinema, Florey continuou sua carreira de jornalista, juntando-se ao staff da Cinemagazine, a primeira revista de cinema francesa verdadeiramente popular. O conhecimento de cinema impressionou alguns de seus entrevistados como Max Linder, que o incentivou a tentar a sorte nos Estados Unidos. Prometendo aceitar matérias sobre astros de Hollywood seu editor ajudou a financiar sua viagem para a América e, ao chegar a Nova York, rumou imediatamente para Hollywood. Chegando na Terra do Cinema, ele se dirigiu ao estúdio da Fox e, como não havia porteiros, ele simplesmente entrou de mansinho. Parando para assistir a filmagem de Monte Cristo / 1922 (com John Glbert), ele ficou tão alarmado com a imprecisão da atmosfera francesa, que se lançou para frente das duas câmeras e interrompeu a filmagem. Felizmente, o cinegrafista era outro emigrado francês, Lucien Andriot, que conseguiu persuadir o diretor, Emmet J. Flynn, de que Florey não deveria ser expulso do set, mas ser contratado como consultor técnico.  Este trabalho durou algumas semanas. Quando a filmagem de Monte Cristo terminou, Florey tornou-se gag writer para as comédias Sushine de Al St. John e, por causa de sua altura (1,93m), ele era algumas vezes chamado para fazer pontas, tais como em o xerife em Straight from the Farm / 1922.

Rudolph Valentino e Natacha Rambova noa turnê Mineralava

Ao mesmo tempo, fez amizade com muitas celebridades da época como Alla Nazimova, Renée Adorée e Charles Chaplin e foi contratado como diretor de publicidade no estrangeiro para Mary Pickford e Douglas Fairbanks. Nesta posição, cuidou da correspondência dos dois astros e escreveu os intertítulos franceses para Robin Hood / 1922, ficando muito amigo deles, ensinando francês para Fairbanks e aprendendo inglês com Pickford. Pouco depois, Florey cuidou também da publicidade da turnê que Rudolph Valetino e sua esposa Natacha Rambova fizeram para promover um produto de beleza, Mineralava Cold Cream. De volta para Hollywod, Florey formou a companhia Imperial Pictures, com o diretor de fotografia Paul Ivano e um revendedor de carros Pierce-Arrow, Humphrey Birge, e escreveu e dirigiu Fifty-Fifty / 1923, curta-metragem de dois rolos protagonizado pelo comediante francês Maurice de Canonge. Infelizmente eles não conseguiram distribuidor para seu filme e Florey teve que abandonar momentaneamente sua esperança de desse tornar um diretor free lancer. Neste momento, ele já havia escrito Filmland e Deux ans dans les studios américains e logo começou uma série de biografias de tais astros como Charles Chaplin, Pola Negri e Adolphe Menjou, todos escritos em francês e publicados em Paris. Florey então tornou-se assistente de diretor de Louis Gasnier no filme Vinho Capitoso / Wine / 1924, produzido pela Universal com Clara Bow no papel principal.

Após uma estadia no Canadá com o ator dramático francês Charles de Rochefort para produzir pequenas peças e esquetes, entre elas uma pantomima intitulada L´Apache que ele dirigiu, Florey voltou para o cinema como assistente de direção de Alfred Santell em Noites Parisienses / Parisian Nights na F.B. O. Lá ele conheceu outro assistente de direção, Josef von Sternberg e, pouco depois, a pedido de Alla Nazimova, interpretou o papel de um bôemio em Pecado Redentor / The Redeeming Sin / 1925. Por alguns anos seguintes ele serviu como assistente de direção (v.g. de King Vidor em O Grande Desfile / The Big Parade / 1925, La Boheme / La Boheme / 1926 e O Cavaleiro dos Amores / Bardelys the Magnificent / 1926) e consultor técnico, frequentemente combinando ambas as capacidades. Seu cuidado e atenção para o detalhe na criação de ambientes europeus, particularmente na Metro-Goldwyn-Mayer, rendeu-lhe muitos elogios. Entrementes von Sternberg fora contratado pela MGM e pediu Florey para ser seu assistente; ele trabalhou com Sternberg em Amor, Vício e Virtude / The Masked Bride / 1925. Lamentavelmente, o estúdio não gostou da abordagem de Sternberg e Christy Cabanne terminou o filme.

Com sua experiência variada, Florey se sentiu qualificado para dirigir longas-metragens e pediu uma promoção aos executivos da MGM; porém estes lhe sugeriram que começasse em uma produtora independente, garantindo-lhe uma posição na Tiffany. Chegando lá, disseram-lhe que o que eles estavam precisando não era um diretor, mas um roteirista e lhe encarregaram de terminar em curto prazo o argumento e continuidade de O Direito de Viver / That Model from Paris / 1926. Ele cumpriu a tarefa no tempo desejado e, quando o diretor Louis Gasnier caiu doente, Florey substituiu-o, mas sem receber crédito por ambos estes serviços. Bem satisfeita com seu trabalho, a Tiffany entregou-lhe a direção de Conquistado à Força / One Hour of Love/ 1927, um dos filmes principais da temporada.

Depois disto, não desejando voltar a trabalhar mais como assistente, Florey aceitou um emprego na Fox ajudando Frank Borzage a preparar o ambiente de Paris durante a Primeira Guerra Mundial para Sétimo Céu / 7th Heaven / 1927 e na Samuel Goldwyn Company para ser assistente de Henry King em A Chama do Amor /The Magic Flame / 1927. Ele também passou alguns meses na United Artists preparando um argumento para um filme envolvendo personagens históricos que seriam interpretados pelos maiores astros do estúdio: Douglas Fairbanks como D´Artagnan; Mary Pickford (Maria Stuart); Charles Chaplin (Hamlet); John Barrymore (François Villon); Gloria Swanson (Cleopatra); Norma Talmadge (Madame du Barry). Florey até sugeriu que Ernst Lubitsch interpretasse Napoleão. Porém o projeto não vingou.

The Loves of Zero

A Idade Romântica / The Romantic Age / 1927, realizado para a Columbia, marcou o retorno de Florey à direção. Para se manter neste posto, aceitou dirigir em seguida, Face Value / 1927, filme do qual ele mesmo não gostou, produzido pela Sterling Pictures, companhia independente sediada na Universal, onde permaneceu prestando outras colaborações até perceber que, realizar filmes independentes, não levaria a um contrato de diretor nos grandes estúdios. De fato, não seriam estes filmes iniciais que o iniciariam no caminho do reconhecimento, mas sim os quatro shorts experimentais que fez em 1927 e 1929 (The Life and Death of 9413 – A Hollywood Extra; The Loves of Zero, Johann the Coffin Maker; Skyscraper Symphony), influenciados pelo expressionismo e pela vanguarda, os quais marcaram o começo de sua carreira como diretor com um estilo próprio. As novidades técnicas exibidas nos filmes de vanguarda de Florey chamaram a atenção dos executivos da Paramount-Famous-Lasky, que estavam pretendendo produzir seus primeiros filmes falados, reabrindo seu antigo estúdio Astoria em Long Island, Nova York. O diretor Monta Bell assumiu a supervisão do estúdio e Florey foi encarregado de dirigir dezenas de testes a fim encontrar rostos fotogênicos com boas vozes para substituirem os atores dos filmes silenciosos. Entre os que receberam seu batismo diante da câmera de Florey estavam Ethel Barrymore, Walter Huston e Edward G. Robinson. Num próximo passo, Florey filmou alguns dos artistas selecionados em filmes de um ou dois rolos em esquetes humorísticos ou musicais. Alguns desses shorts, inclusive um com Eddie Cantor e outro com Helen Morgan, seriam mais tarde incluídos no filme Glorificação da Beleza / Glorifying the American Girl / 1929. Os três primeiros longas-metragens falados de Florey foram The Hole in the Wall / 1928, Hotel da Fuzarca / The Cocoanuts / 1929 e A Batalha de Paris / The Battle of Paris / 1929, que – pela ordem – lançaram as carreiras cinematográficas, de Claudette Colbert e Edward G. Robison, os Irmãos Marx e Gertrude Lawrence.

Os Irmãos Marx em Hotel da Fuzarca

Cena de Os Assassinatos na Rua Morgue

Atendendo a um convite de um jovem produtor independente francês, Pierre Braunberger, Florey foi para a Europa onde dirigiu sucessivamente de La Route est Belle / 1929, L’ Amour Chante / 1930 e Le Blanc et le Noir / 1931; porém acabou se desentendendo com Braunberger e seu sócio Roger Richebé e voltou para Hollywood, ingressando na Universal. Após ter dado uma contribuição valiosa para o roteiro de Frankenstein / Frankenstein /1931, ele realizou Os Assassinatos na Rua Morgue / Murders in the Rue Morgue / 1932, um dos seus filmes mais dominados pelo estilo germânico tanto na sua concepção como no seu tratamento. Florey continuou na Universal durante alguns meses, colaborando em vários scripts de horror com Garrett Fort e, no início de 1932, aceitou convite de Sam Bischoff, o novo chefão da Tiffany (recentemente rebatizada de K.B.S. e depois comprada pela World Wide). Nesta companhia realizou The Man Called Back / 1932 e Those We Love / 1932 e chegou a escrever (de parceria com Reginald Owen) o roteiro de A Study in Scarlet; mas como a K.B.S. estava em péssima situação financeira, ele preferiu se desligar da empresa e atender ao chamado da Warner Bros.com a qual assinou um contrato de longo prazo.  No período 1932-1935, Florey fez  13  filmes para a Warner: A Esposa Desaparecida / Girl Missing / 1933; Amante de seu Marido / Ex-Lady / 1933; Presa do Destino / The House on 56th Street / 1933; O Nome é Tudo / Bedside / 1934; Abnegação / Registered  Nurse / 1934; Smarty / 1934; I Sell Anything / 1935; Ladrões Internacionais / I Am a Thief / 1935; A Mulher de Vermelho / The Woman in Red / 1935; O Punhal dos Bórgias / The Florentine Dagger / 1935; Going Highbrow / 1935; Don´t Bet on Blondes/ 1935; Liquidando Contas / The Pay-Off / 1935. O melhor foi O Punhal dos Bórgias, drama criminal de mistério baseado em romance de Ben Hetch, no qual o herói, descendente dos Bórgias, pensa ter herdado as tendências criminais de seus antepassados.

 

Cena de O Punhal dos Bórgias

Filmagem de Em Pleno Espetáculo.

Insatisfeito com a maioria de seus projetos na Warner, Florey retornou ao seu antigo estúdio, Paramount, onde, no período 1935 – 1940, assumiu a direção de 17 filmes: Café Concerto / Ship Café / 1935; Em Pleno Espetáculo / Preview Murder Mystery / 1936; Amantes Inimigos / Till We Meet Again / 9136; Boulevard de Hollywood / Hollywood Boulevard / 1936; Vencida a Calúnia / Outcast / 1937 (Prod: Major Productions /  DIst: Paramount); O Amor é como o Jogo / King of Gamblers / 1937; Mountain Music / 1937; Amor nos Bastidores / This Way Please / 1937;Tráfico Humano / Daughter of Shanghai / 1937; Verdugo de si Mesmo / Dangerous to Know / 1939; O Tirano de Alcatraz / King of Alcatraz / 1938; Eva no Tribunal / Disbarred / 1939; Hotel Imperial / Hotel Imperial / 1939; Caviar para sua Excelência / The Magnificent Fraud / 1939; Quem Matou o Campeão / Death of a Champion / 1939; Mercadores do Crime / Parole Fixer / 1940; Mulheres sem Nome / Women Without Names / 1940. Os melhores foram Em Pleno Espetáculo (drama criminal de mistério passado num estúdio de cinema, cheio de suspense criado através de composições e iluminação inusitadas) e Vencida a Calúnia (drama social poderoso e convincente, expondo a história de um médico que, perseguido porque um de seus pacientes cometeu suicídio, foge para uma cidade pequena, mas é identificado e se vê ameaçado de linchamento). Quando seu contrato com a Paramount expirou, coincindindo com o irromper da Segunda Guerra Mundial na Europa que iria afetar o faturamento da empresa no exterior, o estúdio só concordou em renovar o contrato de Florey, se ele aceitasse um corte no seu salário. Florey recusou a oferta e deixou a Paramount pela última vez.

Cena de A Máscara de Fogo

Charles Chaplin em Monsieur Verdoux

Cena de Afrontando a Morte

Na década de 1940-1950 ele celebrou uma série de contratos de curto tempo com várias companhias e, após o final da guerra, se tornaria independente. Brian Taves, autor de Robert Florey, The French Expressionist (Bearmanor Media, 2014, livro magnifico do qual colhemos muita informação, expõe a filmografia do diretor na década citada nesta forma: Columbia: A Máscara de Fogo / The Face Behind the Mask / 1941; Rastro nas Trevas / Meet Boston Blackie / 1941; Alugam-se Senhoritas / Two in a Taxi / 1941. Warner Bros.: Alarme no Atlântico / Dangerously They Live / 1941; Mulher Gângster / Lady Gangster / 1942; A Canção do Deserto / The Desert Song / 1943.Twentieth Century-Fox: O Último Gangster /1944. Republic: O Homem Fenomenal / Man from Frisco / 1944. Warner Bros.: A Mão que nos Guia / God is my Co-Pilot / 1945; Sinal de Perigo / Danger Signal / 1945; Os Dedos da Morte / The Beast with Five Fingers / 1946. United Artists: Monsieur Verdoux / Monsieur Verdoux / 1947. RKO Radio: Tarzan e as Sereias / Tarzan and the Mermaids / 1948. Universal- International: Legião Sinistra / Rogue´s Regiment / 1948. United Artists – Morrocan Picture: Posto Avançado em Marrocos / Outpost in Morocco / 1949; Afrontando a Morte / The Crooked Way / 1949; Ladrão com Alma / Johnny One-Eye / 1950. Emerald-Film Classics-Monogram: The Vicious Years / 1950.

Os melhores foram A Máscara de Fogo (drama criminal focalizando um imigrante (Peter Lorre) cujo rosto foi desfigurado num incêndio que, não conseguindo  arrumar emprego, usa uma máscara de borracha reproduzindo mais ou menos sua fisionomia original  e começa uma vida de crime), Monsieur Verdoux , no qual Florey foi diretor associado de Charles Chaplin e Afrontando a Morte, filme noir com o tema do ex-pracinha (John Payne) que retorna da guerra com deficiência de memória e investiga sua verdadeira identidade, valorizado pela fotografia em claro-escuro de John Alton.

Entre 1951 e 1963, o infatigável diretor aderiu à televisão, comandando, como disse no início deste artigo, 250 telefilmes, entre eles episódios das famosas séries Além da Imaginação / Twilight Zone e Alfred Hitchcock Presents.

PRIMÓRDIOS DO DESENVOLVIMENTO DA CULTURA POPULAR AMERICANA E O CINEMA

“Em novembro de 1829, cerca de doze mil pessoas, muitas das quais pagaram para ter uma boa vista, assistiram o famoso saltador de cachoeiras Sam Patch pular de um andaime nas águas turbulentas das cachoeiras do rio Genesee no norte do Estado de Nova York. Foi seu último salto. Bêbado, antes de pular, não sobreviveu. Ele dificilmente poderia ter adivinhado que este salto marcaria um momento simbólico na história da cultura popular americana. Quando Patch pulou no vazio, o entretenimento americano estava entrando em uma nova era turbulenta”.

É com este trecho que o professor de História da Washington State University, LeRoy Ashby, inicia o prólogo do seu livro admirável de 648 páginas, With Amusement for All – A History of American Popular Culture Since 1830 (ed. University Press of Kentucky, 2006), no qual faz uma síntese interpretativa de quase dois séculos do entretenimento de massa nos Estados Unidos. Esta obra magnífica, que recomendo entusiasticamente, inspirou o presente artigo, no qual modestamente, aponto como os diversos tipos de entretenimento abordados na primeira parte do livro foram aproveitados pelo cinema.

 Jim Crow

Em 1832, Thomas Dartmouth Rice, ex-jovem aprendiz de carpinteiro com o rosto pintado de preto, eletrizou um público barulhento de trabalhadores girando seu corpo em um palco do Bowery com um movimento curioso, espasmódico e cantando: “Weel about and turn about, / And dojis so; / Eb´ry time I weel about, I jump Jim Crow”. Um ano depois, o editor de jornal Benjamin Day, de vinte três anos, lançou um jornal – New York Sun – que era cerca de um terço do tamanho dos outros jornais, vendido pelo preço incrivelmente baixo de um centavo (one penny), e destacava assassinatos sensacionais, tragédias e fofocas. E, em meados de 1835, Phineas Taylor Barnum, rapaz de vinte e cinco anos, refugiado do negócio de produtos secos, exibiu Joice Heth, escrava cega, decrépita, parcialmente paralítica, que supostamente tinha 161 anos e havia amamentado e cuidado do “querido Pequeno George” Washington, primeiro presidente da nação.

Assim, no início dos anos 1830, tomou forma o arcabouço para a cultura popular moderna nos Estados Unidos. Os alicerces deste mundo emergente de entretenimentos baratos, acessíveis, e indisciplinados incluíam o blackface minstrelsy (show de menestréis com o rosto pintado de preto contendo estereótipos raciais) que a performance de Rice como Jim Crow elevou a novos níveis de popularidade; a penny press, que anunciou uma revolução na indústria gráfica americana; e “o show business”, como Barnum o apelidou e que ele, mais do que ninguém ajudou a definir.

Os shows de menestréis abriram as portas para Stephen Foster, pioneiro da música popular americana, autor da memorável “Oh! Susannah”, cuja letra foi escrita no dialeto blackface: “I Come from Alabama / With my banjo on my knee / It´s gwine to Lou’siana / My true lub to see”, ou seja, “I come to Alabama with my banjo on my knee / I´m going to Lousiana for my true love to see”. Como consequência da fama de Rice, a partir de 1838, Jim Crow tornou-se um termo pejorativo para o afro-americano e, a partir desta data, as leis de segregação racial ficaram conhecidas como “Jim Crow Laws”.

Exibindo um gênio absoluto para a publicidade, Barnum traçou diversas estratégias para divulgar a exibição de Joice Heth e se defender dos críticos. Trabalhando com Levi Lyman, que havia contratado como assistente, programou encontros de religiosos com Heth, mostrando-lhe certidões de batismo que ele e Lyman haviam falsificado. Ao mesmo tempo, aproveitou as acusações de que Heth era, de fato, uma fraude. Publicou histórias nos jornais e encenou incidentes sugerindo que ela era na verdade feita de osso de baleia e borracha e que a voz de sua engenhoca vinha de um ventríloco. Como Barnum disse, sorrindo: “Muitas pessoas que a tinham visto estavam igualmente desejosos de uma segunda visão, a fim de determinar se haviam sido ou não enganados”. Se eles pagaram uma ou duas vezes, o empresário espertalhão colheu os dividendos.

Em 1841, Barnum comprou um museu no centro de Manhattan onde exibiu “curiosidades humanas”, ou “aberrações”, tais como mulheres barbadas, indivíduos sem pernas, albinos, gigantes e anões. Uma exibição muito popular foi um jogador de xadrez mecanizado que os espectadores poderiam se perguntar se era realmente uma máquina pensante ou um glorioso embuste. Até que um jornal de Fidadélfia expôs o truque. Porém o astucioso empreendedor percebeu que, mesmo depois que o segredo foi revelado, ainda podia ser uma fonte de lucro. “De vez em quando”, ele lembrava, “alguém gritava ‘farsante’ e ‘charlatão’, porém tanto melhor para mim.  Isto ajudava a me promover”. Com esta lição em mente, Barnum cultivou sua crescente reputação como “o príncipe dos charlatões”, termo que ele orgulhosamente aplicou a si mesmo.

Barnum e Stratton

A emergência de uma classe média com um extenso conjunto de valores e crenças influenciou profundamente a cultura popular e, para cortejá-la e adquirir mais respeitabilidade, Barnum apresentou como nova atração um anão, Charles S. Stratton, lançando-o como General Tom Thumb (General Pequeno Polegar). Sob cuidadosa tutela de Barnum, Tom tornou-se muito popular, cantando, dançando e imitando uma variedade de personagens como Cupido, Hércules e Napoleão. Depois, Barnum contratou outro anão, George Washington Morrison Nutt, que ele apelidou de “Prince of the Lilliputs” (Príncipe dos Liliputianos) e uma cantora suiça Jenny Lind, anunciando-a como “The Swedish Nightingale “(A Rouxinol Suiça). No início dos anos 1880, Barnum, e seu novo sócio, James A. Bailey, ofereceram ao público “The Greatest Show on Earth” – o famoso circo itinerante de três picadeiros, que se uniria mais tarde com seu rival, o Ringling Brothers – cuja principal atração era um elefante africano chamado Jumbo, símbolo da tendência de Barnum à extravagância.

Em 1883, William F. “Buffalo Bill” Cody inaugurou o seu Buffalo Bill´s Wild West Show, trazendo uma excitante e romantizada adaptação do Oeste Americano para um público que muitas vezes conhecia pouco a região. O circo de Cody logo se tornou fenômeno nacional – e depois internacional – combinando competições de rodeio com produções teatrais dramáticas que celebravam a “conquista do Oeste”, incluindo nativos americanos autênticos, reconstituições de batalhas nas fronteiras, e exibições de búfalos, cavalos selvagens, e até leões das montanhas.

Mickey Rooney e Judy Garland em Sangue de Artista

No cinema de Hollywod houve três abordagens da vida e obra de Stephen Foster: Melodias Inolvidáveis / Harmony Lane / 1935; O Coração de um Trovador / Swanee River / 1939 (com Al Jolson cantando “Oh! Susannah”) e Minha Vida te Pertence / I Dream of Jeanie / 1921. Em Sangue de Artista / Babes in Arms / 1939, Mickey Rooney e Judy Garland arrazaram cantando “Oh! Susannah” com o rosto pintado de preto. Podemos lembrar ainda O Seresteiro / Oh! Susannah / 1936, western de Gene Autry, no qual a canção de Foster é ouvida como parte de uma coletânea durante a apresentação dos créditos e no final do filme, tocada no acordeão de Smiley Burnette. Al Jolson em O Cantor de Jazz / The Jazz Singer / 1927; Eddie Cantor em Whoopee! / Whoopee / 1930; a pequenina Shirley Temple em A Pequena Rebelde / The Littlest Rebel / 1935); Judy Garland em Diabinho de Saias / Everybody Sing / 1938; Bing Crosby em Duas Semanas de Prazer / Holiday Inn / 1942; Joe E. Brown em Um Rapaz Delicado / The Daring Young Man /1942; Os Três Patetas na comédia curta Uncivil Warbirds / 1946 e até Bugs Bunny (Coelho Pernalonga) e Elmer Fudd (Hortelino Troca-Letra) surgiram telas com o rosto pintado de preto. Em Dias Felizes / Happy Days / 1929, o campeão de boxe Jim Corbett atuou como interlocutor em um show de menestréis e, em 1941, foi realizado um short, Minstrel Days, da série Broadway Brevities da Warner, utilizando tomadas de arquivo com cenas de filmes com Al Jolson e Eddie CantorYes Sir, Mr. Bones / 1951 mostra um menino que se encontra em um retiro de velhos artistas menestréis e procura saber sobre seu passado, sucedendo-se retrospectos dos velhos tempos.

Wallace Beery e Adolphe Menjou em O Rei do Blefe

O cinema se lembrou de Barnum em O Rei do Blefe / The Mighty Barnum / 1934 com Wallace Beery no papel título, sendo que Beery já havia personificado Barnum em Dama Virtuosa / A Ladie´s Morals / 1930, filme sobre Jenny Lind, interpretada por Grace Moore, renomada cantora lírica do Metropolitan Opera House, que se tornou também atriz. E não há dúvida de que Cecil B. DeMille se inspirou nele e no seu circo para realizar O Maior Espetáculo da Terra / The Greatest Show on Earth / 1952.

James Ellison (à esquerda ao lado de Gary Cooper) em Jornadas Heróicas

Buffalo Bill Cody apareceu, ainda moço (James Ellison) em Jornadas Heróicas / The Plainsman / 1936 e já mais velho (Louis Calhern) em Bonita e Valente / Annie Get Your Gun / 1950; mas o filme que traçou sua biografia completa foi Buffalo Bill / Buffalo Bill / 1944, interpretado por Joel McCrea. Neste artigo não pretendo oferecer filmografias completas, citando apenas alguns filmes – todos do período áureo de Hollywood – sobre cada assunto; de modo que, sobre Buffalo Bill, vou apenas acrescentar: o seriado As Aventuras de Bufffalo Bill / Battling with Buffalo Bill / 1931 (com Tom Tyler), o western B O Jovem Buffalo Bill / 1940 (com Roy Rogers) e As Aventuras de Buffalo Bill / Pony Express / 1953 (com Charlton Heston).

Prosseguindo na primeira parte do seu estudo, o professor Ashby aponta o surgimento de outros entretenimentos de massa como a comercialização da celebração do Natal e do Dia dos Namorados, as lutas de boxe (incrementadas pela popularidade de John L. Sullivan, o grande campeão de peso-pesados até ser derrotado pelo “Gentleman Jim” Corbett); o basebol; o rugby (futebol americano) universitário, o teatro burlesco, o vaudeville e os parques de diversão.

Thomas Mitchell, Donna Reed e James Stewart em A Felicidade Não se Compra 

O filme mais famoso sobre o Natal é, sem dúvida, A Felicidade não se Compra / It´s a Wonderful Life / 1946, emocionante drama sobrenatural dirigido por Frank Capra, que se passa numa véspera de Natal e foi baseado em um conto de Philip Van Doren Stern, The Greatest Gift, por sua vez remotamente inspirado em A Christmas Carol de Charles Dickens. Em segundo lugar, podemos citar os também notáveis Noite de Natal / Christmas Carol / 1938 (este uma versão direta da novela de Dickens) e De Ilusão Também se Vive / Miracle on 34th Street / 1947. Sobre o Dia dos Namorados só encontrei O Massacre de Chicago / St. Valentine´s Days Massacre / 1967, drama criminal de Roger Corman sobre o massacre da quadrilha de Bugs Moran pelo bando de Al Capone que ocorreu em Chicago no ano de 1929 naquele feriado comemorado nos EUA em 14 de fevereiro.

Errol Flynn em O Ídolo do Público

Filmes sobre o ambiente de lutas de boxe no cinema houve vários, destacando-se: O Ídolo do Público / Gentleman Jim / 1942 (no qual estão os já citados John L. Sullivan e “Gentleman Jim” Corbett, interpretados respectivamente por Ward Bond e Errol Flynn); Corpo e Alma / Body and Soul / 1947; Punhos de Campeão / The Set-Up / 1948; O Invencível / Champion / 1949; Marcado pela Sarjeta / Somebody Up There Likes Me / 1956 (cinebiografia do grande nocauteador Rocky Marciano, interpretado por Paul Newman); A Trágica Farsa / The Harder They Fall / 1956 (com a participação de Max Baer e Jersey Joe Walcott); Requiem para um Lutador / Requiem for a Heavyweight / 1962 (com a presença no elenco de Jack Dempsey e Cassius Clay / Muhammad Ali).

Max Baer, Jack Dempsey e Primo Carnera emO Pugilista e a Favorita

Por curiosidade, três pugilistas campeões mundiais de peso-pesados, Max Baer, Primo Carnera e Jack Dempsey, trabalharam no filme O Pugilista e a Favorita / The Prizefighter and the Lady / 1933. Uma raridade foi o empate na conquista do Oscar de 1931-32 entre Fredrich March e Wallace Beery, este indicado por sua atuação em O Campeão / The Champ / 1932 (Dir: King Vidor), dramalhão sobre um ex-campeão de boxe decadente e beberão adorado pelo filho (Jackie Cooper). Outro filme passado em ambiente de boxe foi Talhado para Campeão / Kid Galahad / 1937, refilmado em 1962 como o mesmo título, tanto em inglês como em português, com Elvis Presley no papel anteriormente ocupado por Wayne Morris.

Gary Cooper em Ídolo, Amante e Herói

Talvez o melhor filme sobre basebol tenha sido Ídolo, Amante e Herói / The Pride of the Yankees / 1942 com Gary Cooper como o jogador “Lou” Gehrig que, vitimado por uma esclerose lateral miotrófica, teve que deixar prematuramente o esporte, falecendo aos 37 anos de idade. Vale lembrar o comovente discurso de despedida de Gehrig no Yankee Stadium e a presença de Babe Ruth e outros verdadeiros craques no elenco. Outro filme importante versando sobre o mesmo assunto, foi Sangue de Campeão / The Stratton Story / 1949, com James Stewart como o conhecido lançador Monty Stratton, cuja carreira chegou ao fim, quando teve a perna amputada. Podemos lembrar ainda, entre outros: Um Portento no Esporte / Casey at the Bat / 1927 com Wallace Beery; Vencendo o Medo / Fear Strikes Out / 1959, contando o drama de Jim Piersall, jogador que sofria de transtorno bipolar; Combinação Invencível / The Winning Team / 1952 com Ronald Reagan como Grover Cleveland Alexander; O Homem do Dia / The Pride of St. Louis / 1952 com Dan Dailey como Dizzy Dean. Vale a pena citar também um musical (Parceiro de Satanás / Damn Yankees / 1958) e uma comédia do “Boca Larga” Joe E. Brown (Esfarrapando Desculpas / Alibi Ike / 1935), ambos passados em ambiente de beisebol. E, sem dúvida, O Grande Babe Ruth / The Babe Ruth Story / 1948 com William Bendix no papel do imortal beisebolista. Recordo-me ainda de um musical dirigido por Busby Berkeley, A Bela Ditadora / Take Me Out to the Ball Game / 1949, sobre jogadores de basebol  (Frank Sinatra, Gene Kelly) que, fora da temporada esportiva, trabalham no vaudeville.

Harold Lloyd em O Calouro

O rugby (ou seu similar o futebol americano) foi representado no cinema americano clássico principalmente na comédia muda, O Calouro / The Freshman / 1925 com Harold Lloyd e em O Homem de Bronze / Jim Thorpe, All American / 1951 cinebiografia do famoso atleta descendente de índios (campeão de várias modalidades esportivas além do rugby), revivido na tela por Burt Lancaster. Cito também , sem a preocupação de fornecer uma lista completa:  Gênios da Pelota / Horse Feathers / 1932 com os Irmãos Marx; Agarrem essa Normalista/ Hold that Co-ed / 1938; Criador de Campeões / Knute Rockne All American / 1940, cinebiografia do famoso treinador da Universidade de Notre Dame, vivido por Pat O´Brien, que também deu vida a outro treinador (e herói da Primeira Guerra Mundial) Frank Cavanaugh em Forjador de Homens / The Iron Major / 1943; Papai foi um Craque / Father was a Fullback / 1949; Tormento de uma Glória / Easy Living / 1949; Ídolo Dourado / Saturday´s Hero / 1951; O Filhinho do Papai / That´s My Boy / 1951; Atalhos do Destino / Trouble Along the Way / 1953; Alma Invencível / All American / 1953;

Anna Held

Eva Tanguay

O teatro burlesco foi introduzido nos EUA em 1868 por uma trupe de coristas chamada Lydia Thompson´s British Blondes. Era um show de variedades, reunindo vários elementos como caricatura, paródia, sátira, erotismo e strip-tease. Outra forma, mais respeitável de exibicionismo feminino encontrou expressão no final do século dezenove, em grande parte devido aos esforços iniciais de Florenz Ziegfeld Jr.: o vaudeville, forma de entretenimento popular que misturava números curtos de variedades, música e comédia, mágicas, canto, dança, acrobacias, performances de animais treinados e estereótipos étnicos). Umas de suas grandes atrações foram o musculoso Sandow; a formosa cantora Anna Held; a comediante um tanto robusta, Eva Tanguay, cujas canções picantes e trajes escassos encantavam o público;  e, principalmente, suas show girls, lindas coristas que desfilavam sensualmente diante de cenários suntuosos. Segundo apurei, a verdadeira Anna Held foi protagonista de Madame la Presidente / 1916, dirigido por Frank Lloyd.

Luise Rainer como Anna Held

No cinema destaca-se a cinebiografia Ziegfeld, o Criador de Estrelas / The Great Ziegfeld / 1936, na qual o empresário foi interpretado por William Powell e Luise Rainer era Anna Held. O filme conquistou o Oscar e Rainer recebeu a estatueta como Melhor Atriz. Powell repetiu seu papel em Ziegfeld Follies / Ziegfeld Folies / 1946, revista musical com um elenco all-star (Judy Garland, Lucille Ball, Fanny Brice, Fred Astaire e Gene Kelly dançando juntos, Red Skelton, Lena Horne, Cyd Charisse, Esther Williams e direção geral de Vincente Minnelli. A figura de Ziegfeld apareceu ainda em: Sonharei com Você / I´ll See You in My Dreams / 1951 com William Forrest como Ziegfeld; A História de Will Rogers / A The Story of Will Rogers / 1952 com Forrest novamente como Ziegfeld; Bem no Meu Coração / Deep in my Heart / 1954 com Paul Henreid como Ziegfeld. O Meu Amado / Rose of Washington Square / 1939 foi remotamente inspirado na vida de Fanny Brice, uma das estrelas do Ziegfeld Follies. Ziegfeld não aparece em um O Mundo é um Teatro / Ziegfeld Girl / 1941, que gira em torno de três garotas (Lana Turner, Hedy Lamarr, Judy Garland) escolhidas para participar de seus espetáculos.

O vaudeville ou o burlesco estiveram ainda presentes nas telas por exemplo em: Sangue de Artista / Babes in Arms / 1939; A Bela Lillian Russell / Lillian Russell / 1940; Idílio em Do-Re-MI / For Me and My Gal / 1942; A Canção da Vitória / Yankee Doodle Dandy / 1942; Melodia do Amor / Shine on Harvest Moon / 1944; Sonhos Dourados / The Jolson Story / 1946; Mentira Salvadora / Ladies of the Chorus / 1948; Malabaristas da Vida / Give my Regards to Broadway / 1948; Esquece Teus Pesares / April Showers / 1948; Crepúsculo de uma Glória / Look for the Silver Lining / 1949; Um Coringa e Sete Ases / The Seven Little Foys / 1955; Em Busca de um Sonho / Gypsy / 1962 , cinebiografia da dançarina Gypsy Rose Lee com Rosalind Russell no papel-título; Quando o Strip Tease Começou / The Night They Raided Minsky´s / 1968.

Cena de Solidão

O parque de diversões mais conhecido de Nova York é o Luna Park, situado em Coney Island, bairro situado a sudoeste do Brooklyn. Ele é famoso pela sua roda gigante (Wonder Wheel) e sua montanha russa (Cyclone) e foi inaugurado por um empresário do entretenimento brilhantemente inovador, Frederic W. hompson, em 16 de maio de 1903. No cinema, vários filmes têm cenas passadas em Coney Island, entre os quais destacamos os admiráveis Solidão / Lonesome /1928 de Paul Fejos e O Pequeno Fugitivo / Little Fugitive / 1953 de Morris Engel. que conta a história de uma criança sozinha no parque.

MADAME BOVARY DE GUSTAVE FLAUBERT NO CINEMA

Nesta obra-prima da literatura francesa e mundial, Gustave Flaubert, através do estudo psicológico de uma mulher intoxicada pelo romantismo que busca na infidelidade e nas compras um substituto para a felicidade, investe contra   as convenções burguesas do seu tempo, zombando de sua tolice, sua futilidade, e sobretudo seu falso moralismo, buscando com obsessão “a palavra precisa”, a única adequada para levar cada frase ao ponto mais próximo da perfeição.

Gustave Flaubert

Observando um caso individual, o escritor fez de sua heroína um tipo universal. Durante o desenrolar da narrativa acompanhamos as emoções e frustrações de Emma Bovary, seu desejo por um mundo diferente daquele que destroça seu sonho e sua formidável faculdade de ilusão, que recebeu o nome doravante tradicional de Bovarismo. Houve várias versões do romance para o cinema. Os filmes que pude ver estão marcados em negrito e no final escolho o meu predileto.

FILMOGRAFIA

Excluídas adaptações remotas do original literário ou produzidas diretamente para a televisão.

Madame Bovary 1934 com Valentine Tessier

Madame Bovary / 1934 (Dir: Jean Renoir) com Valentine Tessier (Emma) e Pierre Renoir (Charles). França.

Madame Bovary 1937 com Pola Negri

A Mulher Que Amou Demais / Madame Bovary / 1937 (DIr: Gerard Lamprecht) com Pola Negri (Emma) e Aribert Wäches (Charles). Alemanha.

Madame Bovary 1947 com Mecha Ortiz

Madame Bovary / 1947 (Dir: Carlos Schlieper) com Mecha Ortiz (Ema) e Alberto Bello (Carlos). Argentina.

Madame Bovary 1949 com Jennifer Jones

A Sedutora Madame Bovary / Madame Bovary / 1949 (Dir: Vincente Minnelli) com Jennifer Jones (Emma) e Van Heflin (Charles). Estados Unidos.

Os Pecados de Madame Bovary / De Nackte Bovary / 1969 (Dir: Hans Schott-Schöbinger) com Edwige Fenech (Emma) e Gerhard Riedman (Charles). Alemanha Oriental- Itália.

Salvai e Protejei / Spasi i sokhran / 1989 (Dir: Alesandr Sokurov) com Cécile Zervudacki (Emma) e Robert Vaap (Charles). União Soviética – Alemanha Oriental.

Madame Bovary 1991 com Isabelle Hupert

Madame Bovary / Madame Bovary / 1991 (Dir: Claude Chabrol) com Isabelle Hupert (Emma) e Jean-François Baumer (Charles). França.

Madame Bovary / 2014 (Dir: Sophie Barthes) com Mia Wasikowska (Emma) e Henry Lloyd-Hughes (Charles).

MINHA VERSÃO PREDILETA É A DE VINCENTE MINNELLI

A primeira atriz escolhida para interpretar a personagem de Flaubert em A Sedutora Madame Bovary foi Lana Turner, porém o Código de Autocensura julgou-a “demasiado sexy”. Minnelli então sugeriu Jennifer Jones e, com ela expressou, à maneira de Hollywood naturalmente, a alma sonhadora da heroína e os falsos valores da burguesia.

James Mason como Flaubert

Jennifer Jones (Emma) e Van Heflin (Charles Bovary)

Jennifer Jones  (Emma) e Louis Jourdain (Rodolphe)

Jennifer Jones (Emma) e Gene Lockhart (Mr.Homais)

Contracenando com Jennifer estavam Van Heflin (Charles Bovary), Louis Jourdain (Rodolphe), o ator sueco Alf Kjellin creditado como Christopher Kent (Léon) e Gene Lockhart (Homais) enquanto James Mason encarnava Flaubert, servindo como narrador da intriga pois, para driblar a censura do Código Hays, o roteirista Robert Ardrey inventou um prólogo, mostrando em rápidas cenas o processo aberto contra o escritor, acusando-o de imoralismo por causa de seu livro. O filme traduz muito bem toda a essência do livro de Flaubert, ilustrada pelo estilo brilhante de Minnelli, que se manifesta esplendorosamente na vertiginosa sequência no baile sob o som da valsa “neurótica” de Miklos Rozsa, com Emma excitada rodopiando pelo salão e o espelho mostrando-a deslumbrante vestida de branco e rodeada de admiradores elegantes, imagem perfeita da realização de seus desejos romanescos.

Cenas no baile

Além da música de Rozsa, os cenários grandiosos (Cedric Gibbons – Jack Martin Smith,) figurinos (Walter Plunkett), fotografia (Robert Plank), distingue-se prioritariamente o desempenho  de Jennifer Jones, comunicando perfeitamente o tédio e o temperamento sonhador da personagem e o seu desejo insaciável de satisfazer suas fantasias, que a leva à degradação moral e ao suicídio.

 

DOIS GRANDES DIRETORES DE FOTOGRAFIA: KARL FREUND E FRANZ PLANER

KARL FREUND

Nascido em Königinhof (Austria-Hungria, hoje Dvur Králové nad Labem, República Checa, Karl Freund (1890-1969), responsável pelo desenvolvimento da ‘Entfesselte Kamera’ (câmera desenfreada) usada por F. W. Murnau em A Última Gargalhada / Der Letzte Mann / 1924 e pelo trabalho notável de câmera em Metrópolis / Metropolis / 1927, trouxe  um estilo visual Weimar para os clássicos de horror da Universal nos anos 30.

Karl Freund

Criado em Berlim, ainda adolescente começou a trabalhar como projecionista e, em 1908, ingressou na Pathé como operador de câmera de cine jornais. Servindo como assistente técnico do Tonbilder Biophon (curtas-metragens com música tocada em um gramofone sincronizada com imagens em movimento) do pioneiro Oskar Messter, ele fotografou seu primeiro longa-metragem em Belgrado em 1911, e posteriormente conseguiu emprego na recém-fundada Sascha-Film-Fabrik em Viena.

Retornando a Berlim em 1913, foi operador de câmera com Axel Graatjaer na série de filmes de Asta Nielsen, produzidos pela Projektions-AG Union (PAGU) e dirigidos por Urban Gad, passando depois a fotografar cine jornais e longas-metragens, mais frequentemente com Robert Baberske como seu assistente.  Em 1919, fundou seu próprio laboratório especializado, Karl Freund GmbH, e a partir deste ponto se estabeleceu como free lancer. Considerado como um dos líderes em seu campo de atuação durante os anos vinte, ele trabalhou com diretores como Paul Wegener, Richard Oswald, Ludwig Berger, Paul Czinner, Fritz Lang e E.A.Dupont, assim como o dinamarquês Carl Theodor Dreyer.

Freund então tornou-se parte do conjunto de artistas mais importantes do cinema de Weimar, compreendendo o diretor F. W Murnau, os cenógrafos Robert Herlth e Walter Röhrig, o roteirista Carl Mayer e o produtor Erich Pommer. Primeiro “desencandeando” a câmera cinematográfica em A Última Gargalhada / Der letzte mann / 1924, montando-a em uma bicicleta ou deixando-a subir em um elevador, ele subsequentemente a fixou em um trapézio no filme de E. A. Dupont, Varieté / Varieté / 1925.

Filmagem de Varieté

Durante seu tempo como chefe de produção nos escritórios europeus da Fox Film Corporation em 1926, projetos inovadores com Aventuras de uma Nota de Banco /Die Abenteuer eines Zehnmarkscheines / 1926 de Berthold Viertel e Berlim – Sinfonia da Metrópole / Berlin – Die Sinfonie Der Grossstadt / 1926 de Walter Ruttmann se concretizaram.

Depois de fazer experiências com o som e a cor no cinema em Londres no final dos anos vinte, Freund rumou para Hollywood e obteve uma posição de diretor de fotografia na Universal. Após fotografar Dracula / Dracula / 1931 de Tod Browning e Os Assassinatos da Rua Morgue / Murders in the Rue Morgue / 1931 de Robert Florey – que consagrou Bela Lugosi como um astro do horror – o estúdio lhe confiou outros filmes como diretor, começando com A Múmia / The Mummy / 1932 com Boris Karloff.

Freund filmando A Múmia

Transferindo-se para a MGM em 1935, ele dirigiu a estréia de Peter Lorre em Hollywood em Dr. Gogol, o Médico Louco / Mad Love / 1935 e então voltou para as funções de câmera, fotografando dois filmes de Greta Garbo – A Dama das Camélias / Camille / 1936 (Dir: George Cukor); Madame Waleska / Conquest / 1937 (Dir: Clarence Brown) – e ganhando o Oscar de Melhor Fotografia por Terra dos Deuses / The Good Earth / 1937 de Sidney Franklin. Trabalhou também na Warner Bros entre 1947 e 1950.

Freund filmando A Dama das Camélias

Freund filmando Madame Waleska

Freund na filmagem de Terra dos Deuses

Montando sua Photo Research Corporation em 1944, Freund continuou a fazer experiências em todas as áreas da tecnologia a câmera e, em 1954, ele e Frank Crandell ganharam um prêmio técnico da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas pelo projeto e aperfeiçoamento de um medidor de luminosidade de leitura direta. Enquanto diretor de fotografia principal do estúdio de televisão Desilu (a partir de 1950), Freund criou o sistema multi-câmera para facilitar o corte entre diferentes câmeras, que desenvolveu ao máximo nas seis primeiras temporadas da série I Love Lucy (1951-1957).

Ele se retirou para um rancho em San Fernando Valley em 1960, mas continuou ativo como inventor e mentor da nova geração de técnicos até sua morte.

FILMOGRAFIA NOS EUA

(Câmera) 1930 – Sem Novidade no Front / All Quiet on the Western Front; Rival dos Maridos / The Boudoir Diplomat. 1931 – Dracula / Dracula; Garota Rebelde / Bad Sister; Pena de Amor / Up for Murder; Criada de Confiança / Personal Maid; Más Intenções / Strictly Dishonorable; Os Assassinatos da Rua Morgue / Murders in the Rue Morgue. 1932 – Mercado de Escândalos / Scandal for Sale; Esquina do Pecado / Back Street; Asas Heróicas / Air Mail; Fala e Morrrerás / Afraid to Talk, A Múmia / The Mummy (dir). 1933 – O Beijo Diante do Espelho / A Kiss Before the Mirror; Luar e Melodia / Moonlight and Pretzels (dir); Sob Falsas Bandeiras / Madame Spy (dir). 1934 – A Condessa de Monte Cristo / The Countess of Monte Cristo (dir); Brincando Com Fogo / Uncertain Lady (dir); Dei Meu Amor / I Give My Love; O Dom da Alegria / The Gift of Gab (dir). 1935 – Dr. Gogol o Médico Louco / Mad Love. 1936 – Ziegfeld, o Criador de Estrelas / The Great Ziegfel; A Dama das Camélias / Camille. 1937 – Terra dos Deuses / The Good Earth; Parnell, o Rei Sem Coroa / Parnell; Conquest. 1938 – Amor de Ida e Volta / Man-Proof; O Porto dos Sete Mares / Port of the Seven Seas; Três Camaradas / Three Comrades; Dia de Promessa / Letter of Introduction. 1939 – Balalaika / Balalaika (co cam). 1940 – O Conde de Chicago / The Earl of Chicago; Inferno Verde / Green Hell; Florian / Florian; Dois Contra o Mundo / We Who Are Young; Orgulho e Preconceito / Pride and Prejudice; O Inimigo X / Comrade X (op. cam); Mary é Ciumenta / Keeping Company. 1941 – Flores do Pó /-Blossoms in the Dust; O Soldado de Chocolate / The Chocolate Soldier. 1942 – Boêmios Errantes / Tortilla Flat; Aço da Mesma Têmpera / The War Against Mrs. Hadley: De Cartola e Calças Listradas / A Yank at Eaton. 1943 – Du Barry Era Um Pedaço / Du Barry Was a Lady; A Cruz de Lorena / The Cross of Loraine; Aurora Sangrenta / Cry Havoc; Dois no Céu / A Guy Named Joe. 1944 – A Sétima Cruz / The Seventh Cross; O Regresso Daquele Homem / The Thin Man Goes Home. 1945 – Sem Amor / Without Love; Os Quatro Testamentos / Dangerous Partner. 1946 – Uma Carta Para Eva / A Letter for Evie. 1946 – Two Smart People; Correntes Ocultas / Undercurrent. 1947 – Marcada pela Calúnia / That Hagen Girl; Saudade de Teus Lábios / This Time for Keeps. 1948 – A Desdenhada / Wallflower; Paixões em Fúria / Key Largo; O Poder da Inocência/ The Decision of Christopher Blake; 1949 – Mercadores de Intrigas / South of St. Louis. 1950 – Montana, Terra Proibida / Montana; Cinzas ao Vento / Bright Leaf

FRANZ PLANER

Nascido em Karlsbad (Boêmia, Austria – Hungria, agora Karlovy Vary, República Checa), Franz Planer (1894 – 1963), treinado no estilo da cinematografia germânica nos anos vinte, Franz Planer tornou-se um dos diretores de fotografia mais procurados de Hollywood nos anos 40 e 50, igualmente apto a criar composições atmosféricas em claro-escuro no estúdio, iluminar astros e estrelas, captar as paisagens naturais e trabalhar com o Technicolor.

Franz Planer

Treinado como fotógrafo de retratos, Planer trabalhou também como operador de cinejornais em Viena, Paris e Munich. Ele ingressou na indústria cinematográfica germânica em 1920, primeiramente na companhia Emelka, filmando entretenimentos leves para diretores de segunda categoria, mas também servindo a F.W. Murnau em As Finanças do Grão Duque / Die Finanzen Des Grossherzogs / 1923 e fornecendo a Brigitte Helm a iluminação estrelar apropriada em Alraune / Alraune / 1927 de Henrik Galeen. Com o advento do som, Planer avançou para produções de maior prestígio, entre elas a comédia de muito sucesso de William Thiele O Caminho do Paraíso / Die Drei Von Der Tankstelle / 1930 e o romance melancólico de Max Ophuls Uma História de Amor / Liebelei / 1934.

Cena de Uma História de Amor

Depois que os nazistas chegaram ao poder, Planer mudou-se para Viena com sua esposa judia, onde filmou algumas operetas e revistas musicais tais como Premiere / Premiere / 1937 e La Bohème / Zauber Der Bohème / 1937. Durante os anos trinta, Planer trabalhou através da Europa inclusive na Grã-Bretanha (O Ditador / The Dictator / 1935 e O Querido Vagabundo / The Beloved Vagabond / 1936); França (curta-metragem de Max Ophuls Ave Maria / 1936); e Itália (Casta Diva / Casta Diva / 1935). Neste período colaborou frequentemente com antigos colegas que haviam se exilado, inclusive Max Ophuls e Curtis Bernhardt e trabalhou em uma ocasião na Alemanha, fotografando Capriolen / 1937 para Gustaf Gründgens

Cena de Casta Diva

Contratado pela Columbia, Planer mudou-se para Hollywood em 1937. Seu primeiro filme americano foi a comédia Boêmio Encantador / Holiday / 1938 dirigida por George Cukor com Katharine Hepburn e Cary Grant. Subsequentemente ele diversificou sua atividade em uma vasta gama de gêneros, como, por exemplo, o filme de horror Máscara de Fogo / The Face Behind the Mask / 1940 de Robert Florey com Peter Lorre; filmes de guerra de baixo orçamento como Caça ao Inimigo / Submarine Raider / 1942; musical de Mae West, Sedução Tropical / The Heat´s On / 1943.

Após completar seu contrato com a Columbia, Planer trabalhou repetidamente com outros emigrados europeus como o produtor Seymour Nebenzal (A Senda do Crime / The Chase / 1946) e os diretores Robert Siodmak (Baixeza / Criss Cross / 1948) e – mais uma vez – Max Ophuls (Carta de uma Desconhecida / Letter from an Unknown Woman / 1948).

Cena de Baixeza 

Cena de Carta de uma Desconhecida

Nos anos cinquenta, filmou principalmente filmes coloridos, incluindo a aventura de Jules Verne 20.000 Léguas Submarinas / 20.000 Leagues Under the Sea / 1954, o western Da Terra Nascem os Homens/ The Big Country / 1958 (no qual usou esplendidamente o Technirama) e a comédia Bonequinha de Luxo / Breakfast at Tiffany´s / 1961 com Audrey Hepburn. Esta última Planer já havia fotografado maravilhosamente em A Princesa e o Plebeu / Roman Holiday / 1953 e ela foi também uma das estrelas em seu último filme, Infâmia / The Children´s Hour / 1962.

Cena de A Princesa e o Plebeu

Cena de Da Terra Nascem os Homens

FILMOGRAFIA NOS EUA

(Câmera) 1938 – Boêmio Encantador / Holiday; Flores da Primavera / Girl´s School; Aventura no Sahara / Adventure in Sahara. 1940 – Alugam-se Senhoritas / Glamour for Sale; Máscara de Fogo / The Face Behind the Mask. 1941- Rastro nas Trevas / Meet Boston Blackie; Proibidos de Amar / They Dare Not Love; Entra no Cordão / Time Out for Rhythm; A Namorada do Colégio / Sweetheart of the Campus; A Noiva de Meu Marido / Our Wife; Três Graças e uma Desgraça / Three Girls About Town; Dançarina de Aluguel / Sing for Your Supper; Honolulu Lu / Honolulu Lu; Harvard Here I Come. 1942 – As Aventuras de Martin Eden / The Adventures of Martin Eden; Nas Asas da Glória / Canal Zone; Um Louco Entre Loucos / The Wife Takes a Flyer; Sacrifício de Pai / Flight Lieutenant; Pela Pátria / Sabotage Squad; The Spirit of Stanford; Um Rapaz Decidido / The Daring Young Man; Caça ao Inimigo / Submarine Raider. 1943 – Canta Coração / Something to Shout About; Encontro em Berlim / Appointment in Berlin; Meu Reino por uma Cozinheira / My Kingdom for a Cook; Destróier / Destroyer; Sedução Tropical / The Heat´s On. 1944 – O Eterno Pretendente / Once Upon a Time; A Obra Destruidora / Secret Command; O Banquete da Morte / Strange Affair. 1945 – Donativo Desastroso / Leave It to Blondie; Estranho Romance / I Love a Bandleader; Loucuras da Mocidade / Snafu. 1946 – Her Sister´s Secret; A Senda do Temor / The Chase.1947 – O Exilado / The Exile. 1948 – Carta de uma Desconhecida / Letter from an Unknown Woman; Vênus, A Deusa do Amor / One Touch of Venus; Baixeza / Criss Cross. 1949 – O Invencível / Champion; Um Passo em Falso / Take One False Step; Nascida para Amar / Once More My Darling. 1950 – Vendeta / Vendetta; Sindicato do Crime / 711 Ocean Drive; Três Maridos / Three Husbands; Cyrano de Bergerac / Cyrano de Bergerac. 1951 – EvidênciaTrágica / The Scarf; Ainda Há Sol Em Minha Vida / The Blue Veil; Decisâo Antes do Amanhercer / Decision Before Dawn. 1952 – A Morte do Caixeiro Viajante / Death of a Salesman. 1953 – Os 5.000 Dedos do Dr. T / The 5.000 Fingers of Dr. T; A Princesa e o Plebeu / Roman Holiday; A Morte Ronda o Cais / 99 River Street; Ambição Que Mata / Bad For Each Other. 1954 – Procurado por Homicídio / The Long Wait; Após a Tempestade / A Bullet is Waiting; A Nave da Revolta / The Caine Mutiny; 20.000 Léguas Submarinas / 20.000 Leagues Under the Sea. 1955 – Não Serás Um Estranho / Not as a Stranger; Do Destino Ninguém Foge / The Left Hand of God. 1956 – A Maldição da Montanha/ The Mountain. 1957 – Orgulho e Paixão / The Pride and the Passion. 1958 – Quando o Espetáculo Termina /Stage-Struck; Da Terra Nascem os Homens / The Big Country. 1959 – Uma Cruz à Beira do Abismo / The Nun´s Story. 1960 – O Passado Não Perdoa / The Unforgiven. 1961 – Bonequinha de Luxo / Breakfast at Tiffany´s; O Rei dos Reis / King of King´s; Infâmia / The Children´s Hour.

A FAMÍLIA WESTMORE – MAQUIADORES E CABELEREIROS DE HOLLYWOOD

A dinastia dos Westmore abrange mais de cem anos e quatro gerações. Em certa ocasião, havia um Westmore chefiando o departamento de maquiagem em quase todo grande estúdio de Hollywood. Juntos, eles definiram o papel dos artistas maquiadores e cabelereiros e estabeleceram os padrões para  a indústria da qual eles foram pioneiros.

Neste artigo não vou apresentar a filmografia completa dos maquiadores para não cansar os leitores; indicarei apenas algumas de suas proezas artísticas.

George Westmore

George Henry Westmore (1879-1931), o patriarca da família, foi um cabelereiro inglês que emigrou para os Estados Unidos com sua família. Especializado em fazer perucas e depois em maquiagem, ele montou seu primeiro departamento de maquiagem em 1917 na Selig Polyscope Company e ao mesmo tempo fabricava perucas, tendo inventado a peruca do laço. Trabalhou também para a Triangle Film Corporation e foi responsável pela criação dos famosos cachos de Mary Pickford, que se tornou um estilo imitado por Shirley Temple entre outras atrizes. Os famosos cachos de Mary eram reais, mas ela comprou 18 cachos falsos de George por 50 dólares cada um, para adicioná-los aos seus quando necessitasse de mais volume na sua cabeleira.

Com o advento do cinema falado, George viu a carreira de seus filhos eclipsando a sua. Ele entrou em depressão, sentindo que seu próprio trabalho foi esquecido e se suicidou tomando veneno. George teve seis filhos que se seguiram a carreira de maquiadores em Hollywood durante os Anos Dourados de Hollywood: Monte, os gêmeos Perc e Ern e Wally Westmore nasceram na Inglaterra; Bud e Frank Westmore, na Califórnia.

Desde o final da década de 1910, quando George montou seu primeiro departamento de maquiagem até o último filme de Frank (O Último dos Valentões / Farewell my Lovely) em 1975, os Westmores trabalharam como cabelereiros e maquiadores em Hollywood, frequentemente como encarregados de grandes departamentos de maquiagem e supervisionado todos os filmes de seus estúdios.

Como já foi dito, George criou os cachos da “Namoradinha da América” para a Triangle.

Mary Pickford e seus cachos

Monte serviu na Famous Players Lasky como maquiador de Rudolph Valentino (criando seu visual latino), realizou um trabalho notável em O Rei dos Reis / The King of Kings / 1927, criou uma cicatriz sinistra para Paul Muni em Scarface, a Vergonha de uma Nação / Scarface / 1932 e mais tarde foi capaz de realçar a matiz de verde dos olhos castanhos de Vivien Leigh com o uso de sombra e roupas para combinar com a descrição de Margaret Mitchell em … E O Vento Levou / Gone with the Wind / 1939.

Paul Muni e sua cicatriz em Scarface

Perc trabalhou com Adolph Menjou e Paul Muni; criou a face grotesca maravilhosa de Charles Laughton em O Corcunda de Notre Dame / The Hunchback of Notre Dame / 1939; arranjou um aprimoramento para o decote de Carole Lombard (aplicando-lhe uma linha de ruge); fez um corte de cabelo masculino inovador na altura da orelha para Coleen Moore; aplicou baton laranja na ruiva Ann Sheridan. Depois que transformou Bette Davis na Rainha Elizabeth (raspando suas sobrancelhas e sua testa e aparando seus cílios), ele ficou intimamente ligado a seus filmes posteriores. Perc providenciou  um rosto  indígena e austero para Paul Muni como o líder revolucionário mexicano em Juarez / Juarez / 1939 e providenciou uma maquiagem para Ronald Reagan Em Cada Coração Um Pecado / King´s Row / 1942: deixou-o essencialmente sem maquiagem a fim de torná-lo crível.

Charles Laughton em O Corcunda de Notre Dame

Bette Davis como a Rainha Elizabeth (ao lado  de Errol Flynn) em Meu Reino por um Amor

Ern é geralmente considerado o maior inovador dos Westmores, parcialmente devido à sua capacidade de improvisar vários efeitos especiais (v. g. ele usou um bife de flanco cru amarrado em volta da perna de John Barrymore, coberto com maquiagem, de modo que, quando um ferro de marcar quente lhe fosse aplicado, parecesse estar fazendo um barulho de carne em brasa – e isso em 1926). Ele também foi responsável por inovações como dar a Bette Davis lábios retos em vez de lábios em forma de picada de abelha (bee-stings lips) como os de Theda Bara e Mae Murray. Quando ele fez isso com Katharine Hepburn, a mulher Americana passou a ter um novo rosto. Ele ficou famoso por sua maquiagem de envelhecimento, notavelmente de Sam Jaffe e Margo em Horizonte Perdido / Lost Horizon /1937. Ele envelheceu também Irene Dunne em Cimarron / Cimarron / 1931.

Irene Dunne em Cimarron

Wally usou espuma de borracha e um arreio para envelhecer Barbara Stanwyck   em Até Que a Morte Nos Separe / The Great Man´s Lady / 1941, fez um molde dos olhos de um ator chinês e aplicou o molde em Akim Tamiroff no filme O General Morreu ao Amanhecer / The General Died at Dawn / 1936 e uma falsa mão para Harold Lloyd em O Professor Faraó / Professor Beware / 1938; ele foi também o criador do visual satânico  / neandertal do Mr. Hyde de Fredric March (em O Médico e o Monstro / Dr. Jeklyll and Mr. Hyde / 1931) por meio do uso de molde facial, uma peruca ventilada e dentes caninos de porcelana.

Fredric March como Mr. Hyde em O Médico e o Monstro (1931)

Bud usou a mesma espuma de borracha que Wally havia usado em Barbara Stanwick para fazer a cauda de sereia de Ann Blyth em Ele e a Sereia / Mr. Peabody and the Mermaid / 1948, porém ficou mais famoso pelos seus monstros da Universal nos anos cinquenta, trabalhando em estreita colaboração como o diretor de arte Alexander Golitzen. Seu monstro mais célebre foi aquele usado em O Monstro da Lagoa Negra / The Creature from the Black Lagoon / 1954, baseado na forma de um iguana e feito com borracha líquida aplicada no corpo do stuntman Ricou Browning. No entanto, é preciso esclarecer que Bud recebeu colaboração preciosa de Millicent Patrick (desenhista do humanóide pré-histórico), Jack Kevin (criador da roupa do monstro) e Chris Mueller, Jr. (escultor da cabeça do monstro) mas, como ele era o chefe do departamento de maquiagem somente seu nome constou nos créditos. A criação mais bizarra de Bud foram os seres extras-terrestres com cérebros expostos  Guerra entre Planetas / This Island Earth / 1954.

Ann Blyth sendo transformada em Sereia

Bud e a cabeça do monstro da lagoa negra

A criatura de Guerra entre Planetas

O primeiro trabalho de Frank em um filme foi escurecer as partes íntimas de um chimpanzé em Além do Horizonte Azul / Beyond the Blue Horizon / 1942, mas ele teve uma carreira cinematográfica longa, inclusive funcionando quase como um diretor de segunda unidade em Os Dez Mandamentos / The Ten Commandments / 1956 e ganhou um prêmio Emmy pelo seu trabalho no seriado de televisão Kung Fu / Kung Fu / 1972-1975 protagonizado por David Carradine. Ele transformou Shirley MacLaine em uma geisha em Minha Doce Geisha / My Geisha / 1962.

Frank e sua maquiagem de Shirley MacLaine para Minha Doce Geisha

Monte Westmore teve três filhos, Monty, Michael e Marvin e Marvin teve um filho, Kevin. Monty foi responsável pela maquiagem de Joan Crawford em O Que Terá Acontecido a Baby Jane? / What Ever Happened to Baby Jane? / 1962 e e indicado para o Oscar de Melhor Maquiagem por seu trabalho em A Volta do Capitão Gancho / Hook /1991 de Steven Spielberg. Michael deu sua contribuição para vários episódios da série e TV Jornada nas Estrelas / Star Strek, ganhou 9 prêmios Emmy e repartiu o Oscar de Melhor Maquiagem com Zoltan Elek por seu trabalho em Marcas do Destino / Mask / 1985 de Peter Bogdanovich. Marvin exerceu um de seus trabalhos mais expressivos em Blade Runner, Caçador de Andróides / 1982. Kevin, filho de Marvin, o Westmore da quarta geração, mostrou sua competência, por exemplo, na série de TV Arquivo X / The X-Files (1993-2002), que lhe deu dois prêmios Emmy e no filme O Demolidor / Demolition Man / 1993 estrelado por Sylvester Stallone, Wesley Snipes e Sandra Bullock e dirigido por Marco Brambilla.

 

HANS FISHERKOESEN, O “DISNEY” DE HITLER

Apaixonados pelos desenhos animados de Walt Disney, Adolf Hitler e seu ministro da propaganda Joseph Goebbels decidiram formar uma poderosa indústria de animação, criando um estúdio parecido com o do americano. Entre os convocados para este empreendimento estava Hans Fischerkoesen, um dos animadores mais destacados da Alemanha ente 1933 e 1945, cujo trabalho incluía um trio de filmes notáveis: Verwitterte Melodie, Der Schneemann e Das dumme Gänslei

Hans Fisherkoesen

Hans Fisher (1896 – 1973) nasceu em Bad Koesen, cidade perto de Naumburg na Saxônia. Como o sobrenome Fisher fosse muito comum no meio cinematográfico, ele acrescentou o nome da cidade de nascimento ao seu próprio, passando a se chamar Hans Fischerkoesen, para se distinguir de outros.  Quando criança, Hans e sua irmã Leni satisfaziam seu gôsto por fantasia, criando um teatrinho de marionetes e outros entretenimentos domésticos. Ambos estudaram na Lepzig Art Academy e, posteriormente, ela trabalhou com Hans e muitos filmes.

Ele foi dispensado do serviço militar durante a Primeira Guerra Mundial por sofrer de asma, porém serviu em hospitais do exército perto das linhas de frente, onde sentiu a insanidade da guerra nas trincheiras. Quando a guerra acabou, FIscherkoesen voltou para a casa de sua família e, depois de muito esforço e determinação, conseguiu realizar o primeiro desenho animado da Alemanha, Das Loch in Western  (O Buraco no Ocidente) / 1919, expondo as pessoas que tiravam proveito da população com a pobreza e destruição depois da guerra.

Fisherkoesen fez um filme de publicidade de muito sucesso, Bummel-Petrus (Pedro Passeador ) / 1921 para a fábrica de sapatos de Nordheimer, que levou a um contrato de dois anos com Julius Pinschew, pioneiro da utilização de comerciais de animação nos cinemas em 1911. Depois, montou seu Fisherkoesen Studio em Leipzig e se especializou em filmes de publicidade, algo para o qual parecia perfeitamente adequado, pois possuía inegável senso de humor, bom senso de ritmo, e um estilo de desenho animado flexível – bem como uma concentração obsessiva necessária para fazer filmes animados perfeitos em todo o sentido.

Em 1931, um jornal de Leipzig celebrizou Fischerkoesen como “o queridinho do público com um artigo de página inteira intitulado “Tomem cuidado, Mickey Mouse, Gato Felix, e companhia!”, que continha imagens deliciosas de uma vaca com uma lira embutida nos seus chifres, um touro de smoking, e uma dança cangurú em um estilo art-deco encantador, figuras populares de seus anúncios. Em 1937, quando ele arrebatou ambos o primeiro e o segundo prêmios em uma competição internacional de filmes de publicidade patrocinada pela Dinamarca (da qual participaram inclusive George Pal e Alexander Alexeieff), Fisherkoesen havia feito cerca de mil filmes de publicidade. Infelizmente, todos salvo uns poucos se perderam ou permanecem não identificados em coleções que não consideram importantes os filmes comerciais.

Durante muitos anos, Fisherkoesen manteve sua produção confinada ao tipo de filmes de publicidade que fazia tão bem; mas, em 1941, o Ministro de Propaganda do Reich, Joseph Goebbels, exigiu que ele transferisse seu estúdio e pessoal para Postdam, perto dos estúdios Neubabelsberg da UFA e ficasse disponível para consultas ou efeitos especiais sobre filmes de longa-metragem ou documentários. Entre as coisas específicas que Goebbels determinou para a nova indústria de desenho animado foi o desenvolvimento de efeitos “tri-dimensionais” que pudessem competir com o processo Stereo-Óptico de Max Fleischer ou com a câmera multiplano de Walt Disney.

A Melodia Desgastada

O primeiro desenho animado (curto) que Fisherkoesen fez para o seu novo chefe foi Scherzo – Die Verwitterte Melodie (Scherzo – A Melodia Desgastada) / 1942, sobre uma abelha que descobre uma vitrola em pleno campo e consegue tocar os discos antigos (com música no estilo swing) usando o seu ferrão. Para se apreciar a ousadia de Fisherkoesen, devemos lembrar que os nazistas haviam proibido o jazz e o swing, considerando-os como uma trama para minar a cultura germânica tradicional. Além disso, toda a comunidade de animais descrita no filme é pacífica, amigável, divertida, imaginativa e altruísta, exatamente o oposto da exigência nazista para um dedicado cidadão Ariano.

Nos outros dois cartoons curtos de Fisherkoesen durante a Segunda Guerra Mundial, Der Schneemann / 1944 (Boneco de Gelo) e Das dumne Gänslein (O Gansinho Parvo) / 1945, ele também criou uma narrativa complexa e ambígua que confunde e contradiz a política nazista. FIsherkoesen demonstrou que, mesmo na hora mais escura, mais ameaçadora de depravação humana, os homens de princípios podem resistir, subvertendo com sutileza as regras e preconceitos do tirano.

Boneco de Gelo

O Gansinho Parvo

No final da guerra, as tropas invasoras russas prenderam Fisherkoesen como um possível colaborador nazista. Embora pudesse provar que não era realmente um simpatizante nazista, mas sim um membro de um grupo de artistas da resistência, ele foi mantido no campo de concentração de Sachsenhauser por três anos, antes de ser libertado. Durante este tempo, trabalhou na cozinha e pintou murais irônicos e alegóricos usando criaturas vegetais, os quais se encontram agora preservados como um monumento histórico nacional.

Quando foi finalmente sôlto, havia provado que não era um nazista, mas também que não era comunista; assim, não foi autorizado a trabalhar privativamente nos seus próprios filmes, mas somente como funcionário do estúdio DEFA, controlado pelo Estado. Em 1948, Fisherkoesen e sua família fugiram da Alemanha Oriental, carregando apenas uma câmera; ele então reinstalou seu estúdio perto de Bonn, na Alemanha Ocidental.

Conforme informações de William Moritz, professor do California Institute of Arts (que foram fundamentais para a elaboração deste artigo), Fisherkoesen continuou fazendo filmes de propaganda até 1969, conquistando prêmios importantes nos festivais de filmes comerciais em Roma, Milão (três vezes), Veneza, Monte Carlo e Cannes.

COURT COURANT

Nascido em Berlim, Alemanha, ele foi um prolífico diretor de fotografia do cinema de Weimar e do cinema impressionista francês, assim como de filmes britânicos dos anos trinta, trabalhando com grandes diretores.

Curt Courant

Treinado como fotógrafo, Courant iniciou sua carreira cinematográfica em 1917 na função de assistente de câmera para a companhia produtora de Joe May. Em 1921, atuou como diretor pela única vez em sua trajetória artística na realização do filme Kameraden, estrelado por Elsa Wagner e Max Gustorff. Desde o início dos anos vinte, trabalhou como free lancer para várias companhias em filmes como Das Mädchen Aus Der Ackerstrasse, um estudo social dirigido por Reinhold Schünzel.  A perspicácia para o detalhe social tornou-se a sua especialidade em filmes como Familientag Im Hause Prelstein / 1927. Courant tornou-se também bastante apto para fotografar estrelas como Asta Nielsen no papel título de Hamlet / 1920.

Em 1924, Courant viajou para Roma a fim de fotografar o épico histórico espetacular Quo Vadis? / Quo Vadis? O filme, dirigido por Gabriellino D´Annunzio e Georg Jacoby, impressionou não somente pelo seu elenco de astros, tendo à frente Emil Jannings como Nero, mas também pela experimentação precoce com o formato de tela-larga.

Cena de Quo Vadis?

Em 1927, Courant assinou contrato com a Ufa e subsequentemente fotografou espetáculos exóticos de grande orçamento como Segredos do Oriente / Geheimnisse Des Orients / 1928 e O Diabo Branco / Der Weisse Teufel / 1929 e melodramas, incluindo Die Frau, Nach Der Man Sich Sehnt / 1929 com Marlene Dietrich. Junto com Otto Kanturek, Courant também contribuiu para o filme de ficção científica de Fritz Lang, A Mulher na Lua / Frau Im Mond / 1929.Tendo trabalho em vários países da Europa em coproduções desde o final dos anos vinte, Courant, que era judeu, deixou a Alemanha permanentemente em 1933.

Courant e Fritz Lang na filmagem de A Mulher na Lua

Na Inglaterra, ele trabalhou para vários diretores entre eles Cyril Gardner em Casamento Liberal / Perfect Understanding, / 1932 com Laurence Olivier e Gloria Swanson; Alfred Hitchcock em O Homem Que Sabia Demais / The Man Who Knew Too Much / 1934; Berthold Viertel em O Desconhecido / The Passing of the Third Floor Back / 1935, uma intrigante mistura de realismo documentário e alegoria espiritual; John Brahm na refilmagem  em 1936 de Lírio Partido / Broken Blossoms de David Wark Griffith e  Maurice Elvey em The Spy of Napoleon / 1936, único filme britânico de Richard Barthelmess.

 

Gloria Swanson e Laurence Olivier em  Casamento Liberal 

Cena de O Homem Que Sabia Demais

Na França, Courant fotografou, entre outros, alguns dos filmes franceses mais significativos da década e colaborou com diretores como Jean Renoir (A Besta Humana / La Bête Humaine / 1938); Pierre Chenal (Pecadoras de Tunis / La Maison du Maltais / 1938); Marcel Carné (Trágico Amanhecer / Le Jour se Lève / 1939; Max Ophuls (De Mayerling a Sarajevo / De Mayerling a Sarajevo / 1940).

Courant ao lado de Jean Renoir filmando cena de A Besta Humana

Marcel Dalio e Vivianne romance em Pecadoras de Tunis

Após a queda da França, Courant fugiu para os Estados Unidos e durante a Segunda Guerra Mundial trabalhou para Frank Capra na Special Services Division, mas não conseguiu ser membro da American Society of Cinematographers (ASC), o que dificultou sua contratação para trabalhar em estúdios de Hollywood. Embora lhe tenha sido negado um reconhecimento oficial, ele contribuiu ocasionalmente para alguns filmes inclusive Monsieur Verdoux / Monsieur Verdoux / 1947 de Charles Chaplin. Na falta de trabalho contínuo, Courant foi ensinar cinema na UCLA, onde supervisionou em 1954, A Time Out of War, filme de 22 minutos dirigido por Denis Saunders para a sua tese de mestrado, que acabou ganhando o Oscar de Melhor Curta- Metragem de dois rolos.

CLARA BOW

Ela foi a famosa “It girl”, sensação da tela silenciosa, o primeiro símbolo sexual de Hollywood, a maior atração de bilheteria na sua época e uma personificação dos loucos anos vinte.

Clara Bow

Clara (1905-1965), nasceu no Brooklyn, Nova York, filha de Robert Bow e Sarah Gordon. Seu pai era hipersexuado, abusivo e um perdedor típico. A mãe, uma mulher bonita, mas assexuada, cujos progenitores eram um alcoólatra e uma louca. Eles moravam num apartamento minúsculo e pobre sem ventilação, janelas ou luz do sol. Clara foi a terceira filha do casal: a primeira, Alene, nasceu prematuramente e morreu três dias depois. Pouco após, Sarah estava grávida novamente e sua segunda filha, Emily, também veio ao mundo cedo e só viveu duas horas. Tal como a irmã, foi enterrada em uma vala comum porque os pais não tinham dinheiro para pagar um túmulo. Sarah quase morreu neste segundo parto e o médico lhe advertiu que uma futura gravidez poderia ser fatal para a mãe e para a criança. Ainda assim, deu à luz pela terceira vez. Era uma forma perversa de suicídio, mas adequada para seu propósito: forçada a ter filhos por um homem que ela não amava, Sarah decidiu morrer de parto. Robert não se opôs.  Estava cansado das queixas de sua esposa sobre a falta de dinheiro e sua incapacidade para ganhá-lo. Ela também zombava de seus sonhos de sucesso com um garçom cantor, lembrando-lhe que ele era apenas um modesto ajudante de garçom em um restaurante nojento. Em vez de encarar a verdade, Robert a deixou.

Abandonada e grávida, Sarah não teve outra opção senão retornar para o apartamento de seu irmão acima de uma Igreja Batista no número 697 da Rua Bergen. Como ela havia se casado apenas para fugir de sua família, o regresso ao lar foi duplamente humilhante e as condições de habitabilidade piores do que nunca. Durante uma onda de calor, Sarah entrou em trabalho de parto.  Considerando a morte como uma libertação e acreditando que este nascimento traria isto, ela não chamou um médico. Sua mãe louca serviu como parteira, quando Sarah deu à luz sua terceira filha. Para seu alívio, o bebê parecia estar morto. Mas quando a mãe de Sarah sacudiu o recém-nascido sem vida, ele emitiu um grito fraco. Informado disso, Robert voltou para a esposa. Ele e Sarah estavam tão certos da morte iminente do bebê, que nunca providenciaram nenhuma certidão de nascimento. Assim nasceu Clara, já não desejada e mal-amada. Durante sua infância, quando Sarah atormentava Robert sobre seu fracasso, ele aliviava sua frustração batendo tão fortemente no rosto da filha, que ela caía no chão.

Clara tornou-se uma menina solitária e supersensível e sua gagueira era motivo de diversão constante para as outras meninas do bairro. Seu único amigo era um garoto chamado Johnny que morava no mesmo prédio. Ele se tornou seu irmão imaginário, que ela protegia quando os outros meninos o importunavam. Um dia, ouviu subitamente gritos pavorosos vindos do apartamento de Johnny. Clara desceu correndo e o encontrou em chamas gritando seu nome em agonia. Ela o enrolou em um tapete. Ele morreu em seus braços. A morte terrível de Johnny deixou Clara sozinha mais uma vez. Na sua vida solitária, só havia um lugar aonde Clara podia ir e esquecer a miséria do seu lar e as mágoas de sua existência. Era no cinema.

Clara não estava somente fascinada pelo novo meio de expressão, mas achava que ele lhe traria fama, adulação e, mais importante do que tudo, amor. Aos dezesseis anos de idade, decidiu que iria ser artista de cinema. Nesta ocasião, sua mãe caiu de uma janela do segundo andar da casa onde moravam e sofreu uma lesão na cabeça, que lhe deixou sequelas como confusão, alucinações, paranóia e comportamento agressivo. Ao saber que sua filha vinha tentando uma carreira no cinema, Sarah lhe disse que preferia ver a filha morta e que poderia matá-la.

A grande chance de Clara surgiu quando, no outono de 1921, ela venceu o concurso nacional da revista Brewster chamado “Fame and Fortune” com sua presença encantadora e fotogênica. No escritório da Brewster, conheceu o diretor Christy Cabane, que a escalou para o papel de um rapazinho no filme Para Fazer Ciúmes / Beyond the Rainbow, estrelado pela corista do Ziegfeld Follies Billie Dove, uma das beldades da época. Até então a violenta oposição de Sarah à carreira de Clara no cinema limitava-se a ameaças verbais, mas quando Clara terminou seu trabalho em Para Fazer Ciúmes, Sarah passou das palavras aos atos. Despertando uma noite de um sono profundo, Clara assustou-se ao ver sua mãe pairando sobre ela com uma faca na mão e dizendo que ia matá-la. Sara levantou a faca para atingir o pescoço de Clara e então desmaiou. Por conta deste episódio, Robert internou sua esposa em um sanatório.

Para Fazer Ciúmes estreou em 19 de fevereiro de 1922 sem uma única tomada de Clara, porque Cabanne achou que a presença de muitos personagens complicava o enredo e perturbava o ritmo do filme e resolveu cortar vários atores. Porém Clara teve nova oportunidade ao ser contratada para um papel em Rumo ao Mar / Down to the Sea in Ships e depois, sem ser creditada (aparecendo como uma garota dançando em cima de uma mesa), em Inimigos das Mulheres / Enemies of Women, ambos lançados em 1923 e dirigidos respectivamente por Elmer Clifton e Alan Crosland.

Ainda em 1923, Clara trabalhou em O Corajoso / Grit (Dir: Frank Tuttle), que lhe proporcionou seu melhor papel até então. O filme era fraco, mas ela impressionou Tuttle por sua capacidade de expressar emoção com a maior facilidade. Na filmagem desta história escrita por F. Scott Fitzgerald, Clara conheceu seu primeiro namorado, o operador de câmera Arthur Jacobson e Jack Bachman, funcionário da Preferred Pictures, produtora independente, fundada por B. P. Schulberg e sediada em Hollywood.

Clara em Os Bois Pretos

Depois de fazer um papel secundário em Mocidade Cega / The Daring Years (Dir: Kenneth Webb), Clara foi para Hollywood onde, ainda em 1923, fez Amores de Primavera / Maytime (Dir: Louis Gasnier) para a  Preferred e depois, quase sempre, foi emprestada para produções modestas  de outros estúdios: 1924 – Os Bois Pretos ou O Que As Mulheres Querem / Black Oxen (Dir: Frank Lloyd); Paraiso Envenenado / Poisoned Paradise (Dir: Louis Gasnier); Filhas do Prazer / Daughters of Pleasure (Dir: William Beaudine); Os Filhos de Helena / Helen´s Babies (Dir: William A. Seiter);  Vinho Capitoso / Wine  (Dir: Louis Gasnier); Corações Esgotados / Empty Hearts (Dir: Alfred Santell); Esta Mulher / This Woman (Dir: Phil Rosen ); Relâmpago Negro / Black Lightning (Dir: James Hogan). 1925 – Sexo Aventureiro / The Adventurous Sex (Dir: Charles Giblyn); Pena de Morte / Capital Punishment (Dir: James Hogan); Os Lábios de Minha Mulher / My Lady´s Lips (Dir: James Hogan); Uma Aventura Gloriosa / Eve´s Lover (Dir: Roy Del Ruth); Sob Amparo da Lei / The Lawful Cheater (Dir: Frank O´Connor); Calvário de Amor / The Scarlet West (Dir: John G. Adolfi).

Nenhum desses filmes possuía algum mérito, mas Clara sobressaiu por sua atuação em Os Bois Pretos, no qual ofuscou a atriz principal Corinne Griffith e foi considerada uma das mais promissoras jovens atrizes, tendo sido selecionada como Wampas Baby Star em 1924. Pouco depois, quando estava filmando Uma Aventura Gloriosa na Warner, chamou a atenção de Ernest Lubitsch, que a colocou no elenco de uma produção de primeira classe, Beija-me Outra Vez. / Kiss Me Again / 1925, como Grizette, a secretária parisiense sensual que enfeitiça seu patrão casado, Gaston Fleury (Monte Blue). O filme foi um sucesso e uma delícia e o melhor papel de Clara até então; porém, no mesmo ano, Schulberg relegou-a mais uma vez aos filmes de baixo orçamento – Amor Parisiense / Parisian Love (Dir: Louis Gasnier); Como Nasce o Amor / The Primrose Path (Dir: Harry Hoyt); O Guardião das Abelhas / Keeper of the Bees (Dir: James Meehan / FBO); Livre para o Amor / Free to Love (Dir: Frank O´Connor).

Clara em Beija-me Outra Vez

Finalmente, convencido de que uma adaptação cinematográfica de The Plastic Age impulsionaria Clara para o estrelato, Schulberg comprou os direitos do romance, gastou mais dinheiro na produção e contratou um diretor melhor, Wesley Ruggles. Promovida como “the hottest jazz baby in films”, Clara causou enorme sensação e Luar, Música e Amor ou Dias de Colegial, como a adaptação de The Plastic Age foi intitulada no Brasil, tornou-se o maior êxito da Preferred até então. Durante a filmagem, Clara tornou-se amante de um dos seus companheiros de elenco: Luis Antonio Damaso de Alonso, que ficou conhecido no mundo cinema como Gilbert Roland.

Clara e Gilbert Roland em Luar, Música e Amor

Mesmo após este sucesso, Schulberg continuou emprestando os serviços de Clara novamente para quem pagasse mais e, embora não houvesse falta de ofertas, também não havia nenhuma que valesse a pena artisticamente falando (1925 – Bandoleiro por Esporte / The Best Bad Man (Dir: J. G. Blystone); O Mar Encantado / The Ancient Mariner (Dir: Chester Bennet). 1926 – Caprichos de Moça / My Lady of Whims (Dir: Dallas M. Fitzgerald); A Sombra da Lei / The Shadow of the Law (Dir: Wallace Worsley); Teimoso / Two Can Play (Dir: Nat Ross). Para sorte de Clara, quando Adolph Zukor propôs a Schulberg que ele trouxesse toda a sua companhia para a Paramount, então o maior estúdio de Hollywood, ela ganhou o segundo papel principal em Loucuras de Mãe / Dancing Mothers / 1926 (DIr: Herbert Brenon) e, com sua vitalidade irresistível, “roubou” o filme de sua heroína nominal, interpretada por Alice Joyce.

A estréia de Clara na Paramount foi tão estrondosa que o estúdio lhe proporcionou uma breve aparição – como Clara Bow, estrela de cinema –  em Desafio à Mocidade /  Fascinating Youth (espetáculo especial no Ritz Carlton Hotel em Nova York para a primeira classe de formandos na Paramount School for Stars, dirigido por Sam Wood) e logo a trouxe de volta para Hollywood a fim de fazer Ou Dinheiro ou Amor / The Runaway (Dir: William C. de  Mille), seguindo-se Provocação de Amor / Mantrap (Dir: Victor Fleming) e Casar e Descasar / Kid Boots (Dir: Frank Tuttle). Estes dois últimos filmes foram um sucesso de audiência e, fora de cena, Clara terminou seu romance com Gilbert Roland, aproximando-se amorosamente do diretor Victor Fleming.

Clara entre Buddy Rogers e Richard Arlen em Asas

Embora figurasse como atriz principal de Asas / Wings / 1927, Clara teve um papel supérfluo neste único filme mudo a ganhar o Oscar. Este drama de aviação passado na Primeira Guerra Mundial, dirigido por William Wellmann, conta a história de dois pilotos, Jack Powell e David Armstrong (Charles “Buddy” Rogers, Richard Arlen), que se odeiam, mas acabam ficando grandes amigos durante os treinamentos. Jack ama a sofisticada Sylvia Lewis (Jobyna Ralston), que por sua vez é apaixonada por David. No final, sem saber, Rogers abate o amigo que escapara através das linhas inimigas usando um avião alemão. Clara faz apenas um pequeno papel como Mary Preston, interessada em Jack. A produção de Asas foi seguida pelo filme mais importante de sua carreira.

Clara em O “Não Sei Quê” das Mulheres

Em 1926, B. P. Schulberg leu o último livro de Elinor Glynn intitulado It, estudo picante sobre atração sexual, e teve uma idéia. No ano anterior ele havia promovido Clara como “A Fogueira do Brooklyn”, porém o slogan não pegou. Então Schulberg tentou uma campanha diferente com a finalidade de transformá-la numa superestrela, produzindo um filme chamado It, para fazer com que Clara ficasse conhecida como a “It Girl”. Percebendo que as flappers (termo típico dos anos 20 para se referir ao novo estilo de vida das mulheres jovens que usavam saia e cabelos curtos, ouviam e dançavam provocativamente o jazz e o charleston e desacatavam a tradicional conduta feminina) como Clara estavam entrando rapidamente em moda no lugar de mulheres refinadas como as personagens vividas por Gloria Swanson na tela, Elinor não perdeu tempo, anunciando: “De todas as jovens senhoritas que conhecí em Hollywood, Clara Bow tem ‘It’”. Seu endosso custou 50 mil dólares à Paramount.

O sucesso de Clara em It, aqui exibido como O “Não Sei Quê” das Mulheres (DIr: Clarence Badger), fez dela o principal símbolo sexual do cinema na década de vinte. Como bem observou David Stenn na sua magnífica biografia de Clara Bow, Runnin’Wild (ed. Cooper Square Press, 2000), da qual extraí a maior parte das informações para este artigo) enquanto Mary Pickford, a “Namoradinha da América” (frase também cunhada por B. P. Schulberg) interpretava heroínas pré-sexuais, as personagens de Clara eram não somente conscientes de sua sexualidade, mas com o controle total disso.

Clara e Gary Cooper em Filhos do Divórcio

Imediatamente após O Não Sei Quê das Mulheres, Clara teve a chance de tentar fazer um papel dramático em Filhos do Divórcio / Children of Divorce / 1927 (Dir: Frank Lloyd), cujo principal papel masculino foi entregue a Gary Cooper a pedido dela, pois ela estava tendo um caso amoroso com ele na época; porém os seus três outros filmes de 1927 exploraram sua personagem cinematográfica típica: Rosa Turbulenta / Rough House Rosie (Dir: Frank Strayer), como uma operária em uma fábrica de doces que  quer entrar para alta sociedade; Hula / Hula (Victor Fleming), como filha do dono de uma plantação no Havaí que se apaixona por um engenheiro inglês casado; e Segura o que é Teu ou Apanha o Teu Homem / Get Your Man (Dir: Dorothy Arzner), como uma moça americana que se apaixona por um duque inglês que está prestes a se submeter a um casamento arranjado. A diretora deste último filme, ficou impressionada como Clara, sem ter tido um treinamento formal, projetava com um instinto infalível e naturalidade seus pensamentos e emoções.

Clara em Hula

Clara em  Cabelos de Fogo

Um mês antes da produção de Segura o que é Teu, a Paramount pagou a Schulberg cem mil dólares de bônus e uma promoção para renunciar a todos os direitos do contrato de Clara. Schulberg havia servido como produtor associado de todos os filmes dela na Paramount e agora, nomeado gerente geral de todo o estúdio, não precisava mais explorar a pobre Clara, pagando-a mal e fazendo a moça trabalhar tanto, a ponto de ter um colapso físico. Ironicamente, Cabelos de Fogo / Red Hair / 1928 (Dir: Clarence Badger), o derradeiro filme de Clara supervisionado pessoalmente por Schulberg, foi também o mais luxuoso e, embora fosse artisticamente fraco, teve boa acolhida por parte do público, impressionado com as cenas de Clara de maiô apertado com cinto branco filmadas em um technicolor de duas cores. Os próximos filmes de Clara em 1928 – Fidalgas da Plebe / Ladies of the Mob (Dir: William Wellman), Marinheiros em Terra / The Fleet´s in (Dir: Malcolm St. Clair) e As Férias de Clara / Three Weekends (Dir: Clarence Badger) – também foram medíocres, mas sua celebridade continuava inabalável.

Clara em Garotas na Farra

A estréia de Clara no cinema falado deu-se em 1929 com Garotas na Farra / Wild Party, sob direção de Dorothy Arzner e fazendo dupla com Fredric March. Como o charme de Clara residia no seu eu físico, que estava definitivamente intacto, foi fácil supor que ela poderia lidar com a transição para o som particularmente desde que suas personagens sensuais ainda eram viáveis no começo dos anos trinta. Os críticos disseram que sua voz era melhor do que a narrativa e combinava com a personalidade dela. A estrela mais popular da América fizera seu primeiro filme falado e todos queriam vê-lo. Depois de participar de uma tournée para promover o filme, Clara retornou a Hollywood, onde seu último amante, o ex-lutador de boxe irlandês que se tornou stuntman, Jimmy Dundee, estava esperando por ela.

O segundo filme falado de Clara, Curvas Perigosas / Dangerous Curves / 1929, foi melhor do que o primeiro graças à intervenção de Ernst Lubitsch, que era então supervisor de produção da Paramount. Ele ordenou que o roteiro fosse reescrito, mudou o elenco e indicou como diretor Lothar Mendes, alguém que, segundo ele, percebia o potencial inexplorado da atriz. A esta altura, Clara estava namorando o pianista Harry Richman, que se aproveitou dela para se lançar no cinema.

Clara detestou tanto o seu novo filme Uma Pequena das Minhas / The Saturday Night Kid / 1929 quanto seu diretor, Edward Sutherland, mas no seguinte, Paramount em Grande Gala / Paramount on Parade / 1929 (do qual participaram os astros e principais diretores do estúdio) ela surpreendeu cantando “True to The Navy”, o número mais aplaudido pelo público entre os outros vinte números, exceto o de Maurice Chevalier.

Clara ficou conhecida por sua vida vibrante fora da tela e foi eventualmente atingida pelo escândalo. Seus muitos casos de amor, suas loucas aventuras às vezes descuidadamente bêbada, eram conhecidas por todos no meio cinematográfico. Ela passou a personificar o que o New York Times chamaria mais tarde (no seu obituário) “the giddier aspects of na unreal era, the Roaring Twenties” (os aspectos mais vertiginosos de uma era irreal, os Loucos Anos Vinte”). Em 1931, sua secretária, amiga, confidente e algumas vezes manicura, Daisy De Voe, tentou fazer chantagem com ela. Clara processou-a e em retaliação De Voe usou o julgamento para divulgar detalhes da vida privada de Clara. De Voe foi condenada e cumpriu pena de dezoito meses.

Clara Bow e seu marido Rex Bell

Depois de Paramount em Grande Gala, Clara fez em 1930, A Noiva da Esquadra / True to the Navy, Amor entre Milionários / Love Among the Millionaires, Minha Noite de Núpcias / Her Wedding Night  e, em 1931, Indicadora de Cinema / No Limit e Emoções de Esposa / Kick In. Em 1931, Clara se casou com Rex Bell, seu companheiro no elenco de A Noiva da Esquadra. Ele depois se tornaria um dos cowboys da tela (previsto para ser o sucessor de Tom Mix) e, mais tarde, vice-governador de Nevada. O casal teve dois filhos e ele morreu em 1962, vítima de um ataque do coração.

Clara em A Noiva da Esquadra

Jeanine Basinger, no seu livro Silent Stars (ed. Wesleyan University Press, 1999), me ajudou a terminar este artigo. Disse Janine em síntese que esses filmes dos anos trinta não romperam com o que a fizeram famosa. Ela estava encantadora em todos eles e as críticas lhe eram favoráveis. Sua voz soava bem e ela até demonstrou que conseguia cantar muito bem em voz de contralto. A carreira de Clara não estava pegando fogo, mas longe de estar morta. Ela sobreviveu à transição para o som e seus filmes, que custaram pouco para serem feitos, ainda estavam dando lucro.

Clara em Sangue Vermelho

Porém algo mais estava acontecendo com a “It Girl”. Clara era a filha de uma mãe mentalmente instável e começou a sofrer colapsos nervosos. As pressões do trabalho constante e o escrutínio da fama cobraram seu preço e ela achou que não poderia continuar – sua carreira terminou com dois filmes muito divertidos, Sangue Vermelho / Call Her Savage (Dir: John Francis Dillon) / 1932 e Lábios de Fogo / Hoopla/ 1933 (Dir: Frank Lloyd). Após pedir que seu contrato com a Paramount fosse terminado, ela se internou em um sanatório para repouso e recuperação. Não foi o som que destruiu Clara Bow, mas a hereditariedade e os horrores da Juventude.

SÃO BERNARDO DE GRACILIANO RAMOS NO CINEMA

Era assim que Graciliano Ramos encarava o ofício de escritor: “Deve-se escrever da mesma maneira como as lavadeiras lá de Alagoas fazem seu ofício. Elas começam com uma primeira lavada, molham a roupa suja na beira da lagoa ou do riacho, torcem o pano, molham-no novamente, voltam a torcer. Colocam o anil, ensaboam e torcem uma, duas vezes. Depois enxaguam, dão mais uma molhada, agora jogando a água com a mão. Batem o pano na laje ou na pedra limpa, e dão mais uma torcida e mais outra, torcem até não pingar do pano uma só gota. Somente depois de feito tudo isso é que elas dependuram a roupa lavada na corda ou no varal, para secar. Pois quem se mete a escrever devia fazer a mesma coisa. A palavra não foi feita para enfeitar, brilhar como ouro falso: a palavra foi feita para dizer.”

Este entendimento exprime perfeitamente o estilo do romancista, um estilo de concisão, de unidade entre as palavras e os seus sentimentos, de rígido ascetismo tanto na narração como nos seus diálogos, todos rápidos, exatos, precisos. Diálogos e narração que fazem dele um mestre no seu ofício de romancista, um mestre da arte de escrever.

Graciliano Ramos

 

Romances de Graciliano Ramos inspiraram três filmes importantes da história do cinema brasileiro, dois dirigidos por Nelson Pereira dos Santos, Vidas Sêcas / 1964 e Memórias do Cárcere / 1984 e o outro, São Bernardo / 1971, dirigido por Leon Hirszman. Este último filme é a obra-prima da filmografia de Hirszman que inclui ainda outros longas-metragens de valor como A Falecida / 1965, com argumento baseado na peça homônima de Nelson Rodrigues e Eles Não Usam Black-tie / 1981, com argumento baseado na peça homônima de Gianfrancesco Guarnieri.

 

Othon Bastos e Isabel RIbeiro

A história de S. Bernardo se passa na década de trinta.  O narrador, Paulo Honório (Othon Bastos), escreve suas memórias, revisitando friamente dramas de sua vida e conflitos interiores que até então permaneciam inexplicáveis. Sertanejo de origem humilde, determinado a ascender socialmente, faz fortuna como caixeiro-viajante e agiota. Numa manobra financeira, assume a decadente propriedade São Bernardo, fazenda tradicional do município de Viçosa, Alagoas, transformando o inepto e endividado ex-dono das terras em seu empregado. Recupera a fazenda, expande a sua cultura, introduz máquinas para tratamento do algodão, entra na sociedade local. Desejando um herdeiro para um dia assumir o fruto da acumulação do capital, firma um contrato de casamento com a professora da cidade, Madalena (Isabel Ribeiro). O casamento se consuma, mas gradativamente as diferenças entre eles se acentuam. Paulo Honório é brutal no trato com os empregados, cujo trabalho explora impiedosamente; Madalena tem consciência social e se solidariza com os oprimidos. Seu humanismo e sensibilidade se chocam com a rudeza do marido. O fazendeiro torna-se paranóico e passa a imaginar que a mulher o trai. Persegue-a em busca de provas da traição. Madalena não suporta a pressão e se suicida. Paulo Honório penosamente tenta assumir a consciência de seus atos. “Creio que nem sempre fui egoísta e brutal. A profissão é que me deu qualidades tão ruins. E a desconfiança que me aponta inimigo em toda a parte! A desconfiança é também consequência da profissão. Foi este modo de vida que me inutilizou.”

Othon Bastos e Nildo Parente

São Bernardo é ao mesmo tempo uma análise psicológica (do drama existencial do protagonista) e uma análise social (crítica ao capitalismo latifundiário) realizado com um rigor e contenção idênticos ao dos romances de Graciliano. Para obter esta identificação estética entre o livro e o filme, Hirszman usou cenas longas com planos fixos (v. g. o monólogo de Madalena na igreja; Paulo Honório sentado na mesa após a morte da esposa resumindo sua vida marcada pela volúpia da posse e pelo arbítrio); voz over constante do narrador; quase total ausência de close-ups e planos-contraplanos; profundidade de campo; diálogos rápidos e precisos ditos magnificamente pelos atores, entre os quais se destacam naturalmente Othon Bastos e Isabel Ribeiro, muito bem acompanhados por um elenco de coadjuvantes de comprovada experiência no cinema  no teatro ou na televisão como Nildo Parente, Vanda Lacerda, Mário Lago, Joffre Soares, Josef Guerreiro, Ângelo Labanca, José Policena, Rodolfo Arena.

Othon Bastos

A fotografia de Lauro Escorel (para a qual contribuiu também o admirável senso de composição do diretor) é primorosa (notando-se a reprodução na tela do tom ocre do sertão em  interiores) assim como a cenografia e figurinos de Luis Carlos Ripper, a montagem de Eduardo Escorel e a acertadíssima música em tom de aboio e lamento de Caetano Veloso.

Esta fiel adaptação da obra de Graciliano Ramos foi feita sob estritas limitações financeiras e técnicas contornadas habilmente por Hirszman e teve problemas com a censura,  que só liberou o filme depois que a Conferência dos Bispos do Brasil (CNBB), lhe outorgou o prêmio Margarida de Prata, conferido anualmente ao filme que melhor represente temáticas centradas sobre os valores humanos, éticos e espirituais.