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PRIMÓRDIOS DO CINEMA PORTUGUÊS

A primeira sessão de cinema em Portugal ocorreu no dia 18 de junho de 1896 no Real Colyseu na Rua da Palma em Lisboa quando, por iniciativa do empresário Antonio Manuel dos Santos Junior, foi apresentado o “Animatógrafo Rousby”, que era na verdade o projetor de filmes Theatographe, inventado pelo pioneiro do cinema britânico Robert William-Paul, do qual Edwin Rousby era representante.

Real Colyseu

Depois de uma temporada no Porto, Rousby voltou a Lisboa, desta vez para apresentar cenas filmadas em Portugal pelo operador Harry Short, que Robert William-Paul mandara para o Sul da Europa a fim de captar imagens destinadas aos seus catálogos. Entre os filmes com motivos portugueses rodados por Short estavam: A boca do inferno em Cascais, a Praia de Algés na ocasião dos Banhos, o mercado do peixe na Ribeira Nova, Na Avenida da Liberdade, Jogo do Pau, Praça de D. Pedro, Fado Batido, O cais das Colunas, A Praça do Município. Como informou o eminente crítico e historiador de cinema Luís de Pina no seu livro História do Cinema Português (Produções Europa-América, 1986), que consultamos para escrever este artigo, outros motivos portugueses foram exibidos nos programas de Rousby, misturados com filmes estrangeiros, sempre com grande afluência de público e destacada notícia na imprensa.

Aurélio Paes dos Reis

Conforme L. de Pina, uma das pessoas que não perdeu uma única sessão no Porto foi o fotógrafo e floricultor Aurélio Paes dos Reis que, após ter tentado em vão obter dos irmãos Lumière um dos seus cinematógrafos, conseguiu filmar (talvez com um aparelho da marca Bedtz, eventualmente adaptado por ele para cumprir as mesmas funções do invento francês), imagens dos mais variados assuntos. Com seus amigos Antonio da Silva Cunha, proprietário da Camisaria Confiança, e o fotógrafo Francisco Magalhães Basto Junior, Aurélio Paes dos Reis organizou, em 12 de novembro de 1896, o primeiro espetáculo de cinema feito por portugueses e o chamou de “Kinetógrapho Português”; porém, por falhas técnicas, não obteve o resultado esperado.

Em janeiro de 1897, Paes dos Reis levou o seu Kinetógrapho ao Brasil, para apresentar um programa selecionado no Teatro Lucinda, situado no centro do Rio de Janeiro; mas não teve êxito e regressou desiludido para Portugal onde, segundo L. de Pina, pouco mais teria filmado. Quatro de seus filmes, Saída do Pessoal Operário da Camisaria Confiança, O Vira, Feira de Gado na Corujeira e O Jardim foram recuperados pela Cinemateca Portuguesa em 1982.

Após investigações do historiador Videira Santos (História do Cinema Português I, 1990) e diversas notícias recolhidas por Antonio J. Ferreira  (A Fotografia Animada em Portugal (1894-1897), ambos os livros publicados pela Cinemateca Portuguêsa, a prioridade de Paz dos Reis como primeiro cineasta português – já suspeitada por Luís de Pina – foi contestada e hoje parece não haver mais dúvidas de que antes dele, em 27 de agosto de 1896, teve lugar no Teatro Príncipe Real do Porto a exibição de algumas vistas promovida pelo empresário Francisco Pinto Moreira. O cartaz do evento anunciava a “Estréia do Animatographo portuguez” com 12 quadros, mas não mencionava quais os títulos destes quadros.  Foi informado apenas que os filmes agradaram bastante, em especial Dança Serpentina, cuja exibição foi bisada a pedido do público.

Manuel da Costa Veiga

Manuel Maria da Costa Veiga, empresário interessado em mecânica e eletricidade, seguiu os passos de Paz dos Reis, iniciando sua atividade como exibidor em Lisboa no Eden Concerto da Praça dos Restauradores e em Cascais na Esplanada D. Luis Filipe, onde fazia projeções ao ar livre. Adquirindo uma máquina de filmar Urban em um leilão em Londres, aproveitou a presença do rei D. Carlos em Cascais no verão de 1899 e filmou o soberano na praia. Com mais algumas imagens do local, ele exibiu seu primeiro filme Aspectos da Praia de Cascais / 1900 e daí em diante filmou eventos cotidianos (v. g. Uma Tourada a Antiga portuguesa / 1901 e principalmente visitas de soberanos estrangeiros (v. g. Chegada a Lisboa de Sua Majestade El-Rei Eduardo VII de Inglaterra / 1903, Visita do Rei Afonso XIII de Espanha / 1903, Visita do Imperador Guilherme II da Alemanha / 1905). Mais tarde Costa Veiga fundou a Portugal Film, primeira empresa cinematográfica portuguesa.

João Freire Correia

Os Crimes de Diogo Alves

Outro pioneiro lisboeta foi o fotógrafo João Freire Correia que em 1909 abriu com Manuel Cardoso Pereira a Portugália Film em Lisboa.  A Portugália produziu Os Crimes de Diogo Alves / 1911, espetáculo de grande sucesso. Segundo L. de Pina, espetáculo, dirigido por João Tavares, interpretado por Alfredo de Sousa (Diogo Alves) e realizado com grande cuidado técnico, rigor de reconstituição histórica e certo entusiasmo nas cenas de ação, tinha o seu ponto alto na famosa sequência em que o criminoso atirava as vítimas do alto do Aqueduto das Águas Livres. Apresentado como “versão falada”, ao filme foi exibido com vozes por trás da tela e acompanhamento musical da orquestra da Guarda Nacional Republicana. João Freira e Manuel Cardoso dedicaram-se também ao filme documentário e de atualidades (v. g. Batalha de Flores, Artilharia Portuguesa, Bombeiros Portugueses, O Terramoto de Benavente). A Portugália fechou em 1912.

Rainha Depois de Morta

Também em 1909 Julio Martins Costa, filho de um comerciante de fazendas, de sociedade com João Almeida, adquiriu o cinema mais antigo de Lisboa, o Salão Ideal, e fundou a Empresa Cinematográfica Ideal – Manufactura Portuguesa de Película, que funcionou como distribuidora, produtora e exibidora (lembrando que até 1910 o austríaco Carlos Stella estava sozinho no ramo da distribuição com a sua Empresa Cinematográfica, Lda). Enquanto não ficava concluído um estúdio, um laboratório e um escritório de distribuição, a empresa empreendeu a realização de atualidades e depois filmes de ficção (v.g. Chantecler Atraiçoado, Rainha Depois de Morta, O Casamento do Zé Gordo, todos de 1910). Rainha Depois de Morta contava o romance de D. Pedro e D. Inêz de Castro e foi dirigido por Carlos Santos, ator respeitado no meio artístico nacional, que interpretou o papel de D. Pedro ao lado de Eduardo Brazão (D. Afonso IV) e Amélia Vieira (Inês de Castro). O filme é também importante por ter marcado a estréia cinematográfica de Antonio Silva, que viria a ser um dos mais populares atores do teatro e do cinema português do século vinte. Em setembro de 1911, um incêndio de grandes proporções ocasionou o fechamento da empresa que, pelo fato de reunir os três ramos fundamentais da atividade cinematográfica, tinha todas as condições de triunfar.

Malmequer

Em 1918 Celestino Soares e Luis Reis Santos constituem a Lusitânia Filmes, que ocupou, após uma remodelação, o estúdio da Portugália Film na Rua de São Bento em Lisboa, e teve uma vida efêmera, terminando logo em 1919. O que sobrou de mais importante na sua atividade foram dois curta-metragens de enredo, Mal de Espanha e Malmequer ambos dirigidos por Leitão de Barros, então um jovem de vinte e um anos.

Ernesto de Albuquerque

Quim e o Manecas na história em quadrinhos

Pratas o Conquistador

Pioneiro lisboeta foi ainda Ernesto de Albuquerque, responsável por uma outra firma denominada Portugália de existência breve na qual foram realizadas atualidades (Cidade de Tomar / 1908, A Cultura de Cacau / 1908, A Festa da Flor / 1912) e alguns filmes de ficção dos quais se destacam Quim e o Manecas / 1916, baseado em uma dupla de heróis de história em quadrinhos;  Uma Conquista de Cardo ou Charlot no Jardim Zoológico de Lisboa /  1916, com um imitador de Chaplin que se intitulava Cardo mas era na realidade o ator espanhol Héctor Quintanilha. Por curiosidade, Cardo esteve no Brasil estreando no Rio de Janeiro no Teatro República e se apresentando posteriormente no Teatro Phoenix. E. de Albuquerque teve participação como fotógrafo em uma farsa produzida pela Pratas Film de Emídio Ribeiro Pratas, intitulada Pratas, O Conquistador / 1917, versando sobre um inveterado conquistador, mas desajeitado e sempre se metendo em encrenca, interpretado pelo próprio Emídio, que foi também o argumentista e diretor do filme.

O Naufrágio do Veronese

A Lusitânia Filmes competia diretamente com a Invicta Film, companhia de produção fundada em 1910 no Porto por Alfredo Nunes de Matos com a denominação de Nunes de Matos & Cia. à qual acrescentou a designação Invicta Film em 1912. Nesta primeira fase de sua existência a Invicta dedicou-se sobretudo à realização de reportagens e atualidades (v. g. Manobras Navais Portuguesas / 1912, O Naufrágio do “Veronese” / 1913).

Georges Pallu

Rosa do Adro

Barbanegra

Os Fidalgos da Casa Mourisca

O Primo Basilio

Depois de uma reestruturação levada a efeito em 1917, quando ela passou a ser designada como Invicta Film, a empresa investiu na construção de estúdios e laboratórios e contratou dois cineastas estrangeiros: o francês Georges Pallu (Frei Bonifácio / 1918, A Rosa do Adro / 1919, O Comissário de Polícia / 1919, O Mais Forte / 1919, Amor Fatal / 1920, Barbanegra / 1920, Os Fidalgos da Casa Mourisca / 1920, Amor de Perdição / 1921, O Primo Basilio / 1923) e Rino Lupo, nascido em Roma mas com carreira construída em outros países europeus (As Mulheres da Beira / 1922) -,  privilegiando os filmes de ficção com temas geralmente baseados em romances clássicos da literatura portuguesa e folhetins. A Invicta Film encerrou suas atividades em 1928 após uma crise financeira.

Rino Lupo

Mulheres da Beira

Roger Lion

A Sereia de Pedra

Os Olhos da Alma

O Fado

Na década de vinte nova companhias cinematográficas são fundadas:  a Caldevilla Film   pelo publicitário Raul de Caldevilla, que contratou o  cineasta francês, Maurice Mariaud (Os Faroleiros / 1922, As Pupilas do Sr. Reitor / 1923); a meteórica  Fortuna Films, com sede em Paris e escritórios em Lisboa, pela escritora Virgínia de Castro e Almeida, que também contratou um realizador francês, Roger Lion (A Sereia de Pedra / 1922, Os Olhos da Alma / 1923 ); a Patria Film por Henrique Alegria, antigo diretor artístico da Invicta Film  onde Mariaud dirigiu O Fado /  1923; Enigma Film pelo antigo operador de câmera Ernesto de Albuquerque que após a realização de dois filmes, O Rei da Força / 1922 e O Suicida da Boca do Inferno / 1923, partiu com sua esposa para o Brasil, onde trabalhou como repórter em várias revistas e ela como modista, logo afamada. Ele morreu no Rio de Janeiro em 1940; Iberia Film formada por Rino Lupo depois de ser despedido da Invicta Film com financiamento do Banco Pinto da Fonseca & Irmão. Nesta empresa, como sócio minoritário e diretor artístico, Lupo realizou Os Lobos / 1923; Lisboa Film, Braga Film na qual Ernesto de Albuquerque e Erico Braga realizaram Morgadinha de Val-Flor / 1923.

Morgadinha do Val-Flor

Manuel Luiz Vieira

O Fauno das Montanhas

Resta mencionar a ECA – Empresa Cinegráfica Atlântida, criada na Ilha da Madeira em 1926 por Manuel Luís Vieira, fotógrafo natural de Funchal, onde realizou seus primeiros documentários (v. g. Festa de São Pedro na Ribeira Brava, Tosquia de Ovelhas no Paul da Serra) e filmes de enredo (v. g. A Calúnia, O Fauno das Montanhas) antes de se fixar em Lisboa em 1928, iniciando uma longa carreira como diretor de fotografia.

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O SABONETE EUCALOL E OS COMIC COLORS DE PAT POWERS

Quem viveu nos anos 30,40 e 50 pode se lembrar do sabonete Eucalol, cujas embalagens vinham acompanhadas de estampas, impressas em cartão formato 6×9, apresentando na frente desenhos com temas variados e no verso um texto explicativo.

O sabonete Eucalol era um dos produtos de higiene pessoal fabricado pela firma Paulo Sterne Cia Ltda, fundada em 1917 pelo imigrante alemão Paulo Stern, para exercer a atividade de venda de essências. Após o fim da Primeira Guerra Mundial seu irmão Ricardo veio para o Brasil e ajudou a dinamizar a sociedade, iniciando as obras de construção de uma fábrica, inaugurada em 1924, onde foi lançado o sabonete cor de eucalipto e mais tarde a pasta de dentes e o talco. Em 1932, um terceiro irmão, Erich, ingressou na sociedade e a razão social passou a ser Perfumaria Myrta S/A.

Inicialmente os irmãos Stern tentaram conquistar o público com um concurso de poemas tendo por tema o sabonete, porém as vendas do produto não aumentaram. Inspirados nas estampas dos produtos Liebig Bilder Caldo e Extrato de Carne, editadas pela tradicional firma alemã entre 1875 e 1940, resolveram lançar as Estampas Eucalol, incentivando os fregueses a colecioná-las. A estratégia obteve grande êxito aumentando as vendas do sabonete e impulsionando o crescimento da empresa.

As estampas tinham temas brasileiros e / ou universais (v. g. A Vida de Santos Dumont, Jogos Olímpicos, Danças Através do Mundo, História do Brasil, Fatos Decisivos da História Mundial, Índios do Brasil, Lendas da Antiguidade, Uniformes do Brasil, Escotismo, Compositores Célebres bem como Celebridades da Tela e Histórias Infantís (v. g. João e Maria, Branca de Neve, Gato de Botas, Chapeuzinho Vermelho, A Bela Adormecida).

Pat Powers

Patrick Anthony “Pat” Powers (1870-1948) nasceu em Buffalo, Nova York. Associado a Joseph A. Schubert, Sr., ele vendeu fonógrafos de 1900 a 1907 e então formou a Buffalo Film Exchange que comprava filmes dos produtores e os alugava para os nickelodeons. Em 1910, Powers foi para a cidade de Nova York, onde fundou a Powers Moving Picture Company, também anunciada e creditada nos seus filmes como “Powers Picture Plays”.

Em 1912 a companhia de Powers fundiu-se com a Independent Moving Pictures Company (IMP) de Carl Laemmle e juntamente com outras companhias (Bison, Rex, Nestor, Champion) foram depois absorvidas pela Universal Film Manufacturing Company, que começou a operar dois estúdios em Los Angeles, um em Edendale e o antigo Nestor Studio no Sunset Boulevard com Gower Street. Mais tarde, em 1916-1917 Powers a produziu nove desenhos animados reunidos em uma série intitulada Fuller Pep.

Ub Iwerks

Em 1927, após ter feito sem êxito uma oferta para a compra da DeForest Phonofilm, Powers contratou um ex-técnico da DeForest, William Garity para produzir uma versão clonada do sistema de som Phonofilm que se tornou o Powers Cinephone. Em 1928 Powers vendeu a Powers Cinephone para Walt Disney para que ele pudesse fazer seus desenhos animados falados tais como Steamboat Willie / 1928 com o Mickey Mouse. Sem conseguir um distribuidor para seus desenhos animados sonoros, Disney distribuiu-os através da companhia de Powers, Celebrity Pictures. Em 1930 os dois se desentenderam por questão de dinheiro e Powers ajudou Ub Iwerks, animador principal de Disney a criar seu próprio estúdio, que realizou os Comi Color Cartoons, os quais foram distribuídos pela Celebrity Pictures. Iwerks dirigiu estes desenhos animados de 1933 a 1936, produzidos em Cinecolor, um processo de duas-cores combinando vermelho e azul. Entre os colaboradores de Iwerks distinguiram-se Shamus Culhane e Al Eugster, os roteiristas Otto Englander, Ben Hardaway, George Manuell e o músico Carl Stalling. O primeiro filme da série, Jack and the Beanstalk estreou em 1933. Em 1934 Iwerks utilizou a sua invenção de maior prestígio, câmera multiplana, mecanismo que permite à câmera se deslocar, passando por diversos “Planos” (folhas de celofane ou camadas de vidro com os desenhos) colocados a várias distâncias da câmera. Fotografando-os à medida em que avança, a câmera multiplana propicia a ilusão de profundidade e perspectiva. Ele inaugurou o seu uso em The Headless Horseman, baseado no conto “The Legend of Sleepy Hollow” de Washington Irving.

A maioria dos exemplares dos Comi Color Cartoons foram baseados em histórias infantís como aquelas representadas nas Estampas Eucalol e, provavelmente por causa disso, os filmes da série exibidos no Brasil receberam o título de Historietas Eucalol.

                                                                     FILMOGRAFIA

1933

João Pé de Feijão / Jack and the Beanstalk. 8 min.

1934

Pequena Galinha Vermelha / The Little Red Hen. 7 min.

The Brave Tin Soldier. 8 min.

O Gato de Botas/ Puss in Boot. 7 min.

The Queen of Hearts.  8 mn.

 

Aladim e a Lâmpada Maravilhosa / Aladdin and the Wonderful Lamp.  8 min.

The Headless Horseman. 9 min.

The Valiant Taylor ou The King´s Taylor. 8 min.

Don Quixote. 8 min.

João Geada / Jack Frost. 9 min.

1935

Sambô, o Negrinho / Little Black Sambo. 8 min.

The Brementown Musicians. 9 min.

A Velhinha e o Cão / Old Mother Rubbard. 8 min.

A Pequena Ovelha de Maria / Mary´s Little Lamb. 8 min.

Tempo de Verão / Summertime. 8 min.

Sinbad, o Marujo / Sinbad, the Sailor. 7 min.

Os Três Ursos / The Three Bears. 8 min.

Balloonland ou The Pincushion Man. 7 min.

Simão Simplório / Simple Simon. 7 min.

Ovos Mágicos / Humpty Dumpty. 7 min.

1936

Ali Baba. 7 min.

O Pequeno Polegar / Tom Thumb. 7 min.

O Gato de Dick Wittington / Dick Wittington´s Cat.  8min.

O Rapazinho de Azul / Little Boy Blue. 7 min.

Dias Felizes / Happy Days. 9 min.

PRIMÓRDIOS DO CINEMA ITALIANO

Em 11 de novembro de 1895, Filoteo Alberini patenteou um aparelho denominado Kinetografo Alberini, mas esta invenção rudimentar foi rapidamente ultrapassada pelo Cinematógrafo dos irmãos Lumière, máquina usada como câmera, projetor e copiadora, portátil, e acionada manualmente, não dependendo de uma fonte de eletricidade.

Filoteo Alberini

 O primeiro representante dos Lumière na Itália foi Vittorio Calcina, treinado pelo chefe dos operadores de câmera da fábrica de Lyon, Jean Alexandre Louis Promio, que viajou por vários países da Europa para divulgar o Cinematógrafo, inclusive na Itália, onde filmou a cidade de Veneza de uma gôndola em movimento. Enquanto Promio continuava suas viagens pela Europa, Vittorio Calcina registrava eventos e visitas reais e ajudava a enriquecer o catálogo dos Lumière.

Em 1896 um imitador dos Lumière, Italo Pacchioni, inventou uma máquina semelhante ao cinematógrafo, com a qual filmou um inevitável Arrivo del treno ala Stazione di Milano, algumas “vistas” cômicas (v. g. La Gabbia dei Matti, Il Finto Storpio, La Bataglia di Neve) e atualidades como I funerali de Umberto I e I funerali di Giuseppe Verdi a Milano.

Ainda em 1896, Leopoldo Fregoli, o famoso transformista (muito popular em nosso país onde se apresentou em 1895 no Teatro Lyrico, em 1915 no Palace-Theatre e em 1925 no Teatro Recreio) encontrou-se com Louis Lumière e obteve alguns filmes deste último para usá-los como parte de seus espetáculos. O sucesso destes encorajou-o a filmar seus próprios números no palco. Ele usou muitos truques e teve ainda a idéia de projetar seus filmes ao contrário. Além disso criou um acompanhamento vocal dos bastidores imitando as vozes dos personagens na tela.

Arturo Ambrosio

Porém o primeiro sinal de uma atividade cinematográfica mais significativa veio de Turim, para onde o fotógrafo Edoardo Di Sambuy trouxe uma câmera que havia comprado na França. Ele a repassou para um revendedor de equipamentos óticos e fotográficos, Arturo Ambrosio, sob cuja égide Roberto Omegna filmou os primeiros cinejornais italianos (v. g. La prima corsa automobilista Susa Moncenisio, Manovre degli alpini Colle Ranzola). Em 1904 a Società Anonima Ambrosio ergueu o primeiro estúdio cinematográfico italiano.

No mesmo ano, Filoteo Alberini abriu o Cinema Moderno em Roma e em 1905 fundou com Dante Santoni o “Primo Stabilimento Italiano di Manufattura Cinematografica Alberini e Santoni”. No final deste ano, Alberini e Santoni construiram na via Appia Nuova um estúdio, que diziam ter o equipamento mais avançado importado da França e da Alemanha, e nele produziram um filme com enredo, La Presa di Roma. Este filme, uma evocação da conquista de Roma pelas tropas italianas em 1870 (com sete cenas, 250 metros) teve a colaboração do renomado ator Carlo Rosaspina e, mais importante ainda, a cooperação do Ministro da Guerra “para uniformes, artilharia e armamento”.

La Presa di Roma

De repente o cinema italiano começou a se tornar uma indústria e, no início de 1906, Alberini e Santoni tornou-se uma sociedade anônima, Società Anonima per Azioni Cines, administrada pelo engenheiro Adolfo Pouchain, tendo como secretário o Barão Alberto Fassini, magnata da indústria têxtil. Santoni deixou a empresa pouco tempo depois e Alberini passou a ocupar o cargo de diretor técnico. No mesmo ano, a Cines contratou um dos melhores técnicos da Pathé, Gaston Velle, que trouxe vários assistentes consigo. Como diretor artístico, Velle realizou filmes de vários gêneros entre eles Viaggio in una Stella, La malia dell’oro, Pierrot innamorato. Em 1907, Mario Caserini, que havia entrado para a Cines como ator, iniciou suas atividades como diretor e Velle retornou para a França. A Cines começou então a se especializar na produção de dramas shakespereanos e filmes históricos.

Inspirado nesses filmes históricos da Cines e com o êxito da Ambrosio Film em Turim com Os Últimos Dias de Pompéia / Gli Ultimi Giorni di Pompei / 1908, os industriais Carlo Rossi e Guglielmo Remmert, o sogro deste, Carlo Sciamengo, e o inventor Lamberto Pineschi, fundaram a Carlo Rossi & C. Oito meses depois, por divergências entre os sócios, a empresa entrou em liquidação. Com a ajuda do então jovem contador, Giovanni Pastrone, Sciamengo reavivou-a e, em setembro de 1908, ela foi transformada em Itala Film, que obteve muitos triunfos com O Conde Ugolino / Il Conte Ugolino / 1908 e Máscara de Ferro / La Mascara de Ferro / 1909 e se saiu muito bem nas comédias de Cretinetti e Tontollini, respectivamente interpretadas pelos cômicos franceses André Deed e Ferdinand Guillaume. Quanto a Rossi, ele foi contratado pelo Barão Fassini para ocupar um cargo de direção na Cines. Em 1913 a Cines absorveu a Celio Film, fundada em 1912 pelo advogado (e depois deputado) Gioacchino Mecheri, o diretor Baldassare Negroni e o marquês Alberto Del Gallo.

O sucesso das primeiras “fábricas de filme” em Turim e Roma logo atraíram a atenção em outros lugares, surgindo várias firmas em 1908, notadamente em Milão onde se distinguiu a Saffi-Comerio (depois Milano Film) presidida por Luca Fortunato Comerio, ex-fotógrafo oficial da Casa Real e do Rei Vittorio Emanuelle III. Em Turim foi fundada a Aquila Film do empresário Camilo Ottolenghi e a Pasquali Film do ex-jornalista e empregado da Ambrosio Film, Ernesto Maria Pasquali. Em Roma, os irmãos Azaglio e Lamberto Pineschi organizaram uma companhia que em 1909 tornou-se a Latium Film. Em Nápoles surgiu a Fratelli Troncone (Partenope Film). Em outras cidades como Veneza, Florença, Velletri, Palermo, companhias mais ou menos efêmeras, filmaram eventos locais. No começo da Primeira Guerra Mundial novas produtoras foram fundadas: Caesar Film, Palatino-Film, Medusa-Film, Tiber Film, Nova-Film em Roma; Lombardo Film em Nápoles; Armenia Film em Milão etc.

Esta grande expansão da indústria de cinema italiana foi marcada por um florescimento precoce do drama de época extraído da literatura ou da história, emergindo diretores importantes: Luigi Maggi (Os Últimos Dias de Pompéia / Gli Ultimi GIorni di Pompei / 1908, La Gioconda / 1911), Giuseppe De Liguoro (Il Conte Ugolino / 1909, O Inferno / L´Inferno / 1909); Giovanni Pastrone (Giordano Br uno / 1908, A Queda de Tróia / La Caduta di Troia / 1910, Cabiria / Cabiria / 1914); Mario Caserini (Romeu e Julieta / Romeo e Giuletta / 1908, Os Três MosqueteirosI Tre Moschettieri / 1909); Enrico Guazzoni (Brutus / Brutus / 1910, Agrippina / 1910, Jerusalem LIbertada / La Gerusalemme LIberata / 1911, Quo Vadis? / Quo Vadis? / 1912, Marco Antonio e Cleópatra / Marcantonio e Cleopatra / 1913, Grandeza e Decadência de Roma ou No Tempo dos Césares / Caius Julius Caesar / 1914; Nino Oxilia (Joana D ´Arc – A Donzela D´Orleans / Giovanna d´Arco / 1913, Com Este Sinal Vencerás / In Hoc Signo Vinces / 1913).

O filme mais famoso foi Cabiria, superprodução dirigida por Giovanni Pastrone com cenografias espetaculares que teriam influenciado David Wark Griffith na realização do seu monumental Intolerência / Intolerance / 1917 e lançado o personagem de Maciste, o gigante de uma força hercúlea e bom coração, visto depois em uma série de filmes de aventura interpretado por Bartolomeo Pagano.

Preocupado com a competição italiana, Charles Pathé decidiu enfrentá-la no seu próprio terreno e fundou uma subsidiária, a F.A.I. (Film d´Arte Italiano), para funcionar nos moldes da Le Film D´Art francêsa (companhia criada para realizar, com o concurso de eminentes escritores e atores e filmes de qualidade artística capazes de interessar a um público mais exigente), nomeando o empresário teatral Adolfo Re Riccardi, como diretor geral e com Gerolamo Lo Savio e Ugo Falena exercendo função administrativa e funcionando também como diretores ou argumentistas. Este triunvirato contratou atores famosos do palco como Ettore Berti, Ermete Novelli, Ruggero Ruggeri, Cesare Dondini, Ferrucio Garavaglia, Vittoria Lepanto etc. e lançou as jovens atrizes Francesca Bertini e Maria Jacobini, que se tornariam duas das mais famosas “divas” do cinema italiano mudo. Entre os filmes incluíam-se Otello / 1909, Carmen / Carmen / 1909, A Dama das Camélias /  La Signora delle Camelie / 1909, Rei Lear / Re Lear / 1910, Lucrécia Borgia / Lucrezia Borgia / 1912 etc. Em 1917, a maioria das ações da F.A.I. foi adquirida por Gioacchino Mecheri, que a afiliou à Tiber Films, companhia cinematográfica romana que ele havia fundado em 1914.

Francesca Bertini

Pina Mennichelli

No período 1909-1916, além do filme histórico-literário e da linha cômica podemos apontar o divismo e a tendência realista. Assim como Cabiria instalou a tradição do super-espetáculo cinematográfico, o divismo italiano precedeu e provocou o estrelismo hollywoodiano. Entre as grandes divas podemos citar os nomes de Francesca Bertini, Lyda Borelli, Maria Jacobini, Lina Cavalieri, Hesperia, Pina Menichelli, Rina de Liguoro Italia Almirante Manzini etc. e, para serví-las, apareceram novos diretores como por exemplo: o roteirista Baldassare Negroni (História de um Pierrot / Histoire d´un Pierrot / 1913 com Francesa Bertini) e os atores Emilio Ghione (Esposa na Morte / Sposa nella morte / 1915 com Lina Cavalieri), Gustavo Serena (Assunta Spina ou Sangue Napolitano / Assunta Spina / 1915 com Francesca Bertini) e Febo Mari. Outra diva, mas do teatro, Eleonora Duse, que estava ausente dos palcos há sete anos, aceitou o convite da Ambrosio Film para atuar em Cinzas / Cenere / 1916 ao lado de Febo e dirigida por ele. Os dois escreveram o roteiro e a grande atriz dramática esperava que esta experiência lhe abrisse uma nova carreira no cinema, porém ficou desapontada tanto com a produção quanto com sua interpretação. Já Perdidos nas Trevas / Sperdutti nel Buio / 1914 e Teresa Raquin / Thérèse Raquin / 1915, realizados pelo jornalista, poeta, autor e produtor teatral Nino Martoglio, representam a corrente realista, geralmente ignorada de uma produção paralela à dos filmes colossais e grandiloquentes e que mais tarde inspiraria o neorealismo.

Eleonora Duse 

Outro gênero, chamado commedia brillante (alta comédia), revelou Lucio D´Ambra, roteirista que se tornou diretor, cuja obra mais estimada parece ter sido a opereta Echec ao Rei ou Cheque Ao Rei! / Il Re, le Torri, gli Alfieri / 1916. As comédias silenciosas de D´Ambra suscitaram comparações com os filmes de seu contemporâneo alemão Ernst Lubitsch e ele foi cognominado “o Goldoni do Cinema Italiano”.

Il Re, le Torri, gli Alfieri

Entre os diretores que fizeram sua estréia antes do ínicio da Primeira Guerra Mundial ainda estavam Gennaro Righelli (vários filmes estrelados por Maria Mauro, sua esposa na época), Carmine Gallone (O Beijo de Cyrano / Il Bacio di Cirano / 1913, A Mulher Nua / La Donna Nuda / 1914) e Augusto Genina (La Moglie di sua eccelenza / 1913, A Palavra que Mata / La Parola qui uccide / 1914) cujas carreiras prosseguiriam com vigor no cinema sonoro. Outro ator, Mario Bonnard, parceiro das divas mais famosas, progrediria para a direção um pouco mais tarde,.

Nos primeiros tempos do cinema as empresas francesas, italianas e dinamarquesas dominavam o mercado internacional sem que existisse uma colisão frontal de interesses. Foi exatamente o oposto que ocorreu com a importação massiva de filmes americanos que tomaram o velho mundo de assalto a partir dos anos 1916-1917. Apesar desta nova situação, o cinema italiano tentou continuar como antes. Em 1916 Guazzoni filmou São Sebastião, O Mártir ou Fabiola / Fabiola, drama edificante da Roma Cristã; Caserini, um Ressureição / Resurrezione, baseado no romance de Tolstoi; Negroni, A Princesa de Bagdad / La Principessa di Bagdad, e Febo Mari, após o realismo de Cenere, rodou um ambicioso Attilla – Flagellum Dei / Attila, flagello di Dio seguido por Judas em 1917. Ainda neste ano, a Tespi Film de Roma, recentemente fundada por Eugenio Sacerdotti, produziu A Vida de São Francisco de Assis / Frate Sole, a vida de São Francisco de Assis em quatro episódios, dirigida por Mario Corsi e Ugo Falena.

Porém o cinema americano havia conquistado o mercado mundial, que pretendia manter.

 

BASIL DEARDEN

Ele não possuía o prestígio de um Alfred Hitchock, David Lean, Carol Reed ou Michael Powell, mas realizou uma quantidade considerável de bons filmes e sucessos de bilheteria, primeiramente como diretor contratado nos estúdios da Ealing, depois com produtor independente de parceria com Michael Relph, participando ainda de produções de Hollywood e da Televisão. Profissional competente, abordou os mais variados gêneros (drama de guerra, romântico, histórico, social e criminal, comédia, fantástico, ficção científica), manifestando sempre senso visual e inventividade fílmica.

BASIL DEARDEN

Basil Dearden (1911 – 1971) nasceu em Westcliffe-on-Sea com o nome de Basil Clive Dear, filho de James Dear e Florence Tripp. Seu pai faleceu prematuramente e sua mãe assumiu sozinha o sustento da família, que incluía mais quatro filhos e uma filha. Nesse tempo difícil a educação de Basil teve que ser interrompida e ele foi colocado em um orfanato onde ficou por algum tempo até arrumar seu primeiro emprego aos quatorze anos de idade como office boy de uma companhia de seguros de Londres.

Inspirado pelo sucesso de seu irmão mais moço Peter como modelo e ator infantil tanto no teatro como em filmes mudos, Basil ingressou como intérprete na Ben Greet Company, tornando-se depois assistente de gerente de palco no Fulham´s Grand Theatre. Em 1932 foi trabalhar como gerente de produção para o produtor teatral Basil Dean, passando depois a lhe prestar serviço também nos filmes que Dean realizava na Associated Talking Pictures (ATP), primeiramente como assistente junior do estúdio, mas logo sendo promovido a assistente de direção, tendo ainda recebido momentaneamente outras incumbências. Nesta oportunidade Basil mudou seu nome de Dear para Dearden para evitar confusão com o patrão.

Na ATP Dearden, funcionou como assistente de produção de uma comédia de Will Hay (The Ghost of St. Michaels / 1941), assistente de direção de duas comédias de George Formby (It´s in the Air /1938 e Come on George /1939) e produtor associado de três outras (Spare a Copper / 1941, Let George Do It /1941 e Tudo Acabou Bem? / Turned Out Nice Again / 1941), nesta última já quando Michael Balcon assumiu os estúdios da ATP e mudou sua denominação para Ealing. Sua carreira como diretor (compartilhando esta função com o astro Will Hay) teve início em três comédias (Detetive à Força / The Black Sheep of Whitehall / 1941, Professor Astuto / The Goose Steps Out / 1942 e My Learned Friend / 1943). Nos anos quarenta Dearden foi ainda um dos roteiristas de Now You´re Talking (12 min.), dirigiu Did You Ever See a Dream Talking (7 min.) e participou sob a supervisão de Alberto Cavalcanti de Trois Chansons de la Résistance (8 min.), shorts de propaganda de guerra produzidos pela Ealing.

O primeiro trabalho dele como único diretor foi The Bells Go Down / 1943, filme de ficção que prestava tributo ao heroísmo da Auxiliary Fire em tempo de guerra. O diretor de arte era Michael Relph e seu encontro com Dearden marcou o início de uma colaboração notável que iria durar quase trinta anos. Quando a Ealing fechou as portas em 1958 a dupla Dearden-Relph continuou produtivamente até a morte trágica de Dearden em um acidente de carro em 1971.

Michael Relph e Basil Dearden

Depois de sua estréia sózinho atrás das câmeras, Dearden fez mais cinco filmes compartilhando a direção com outros colegas: Na Solidão da Noite / Dead of Night / 1945 (episódios com Alberto Cavalcanti, Charles Crichton e Robert Hamer), Train of Events / 1949 (episódios com Sidney Cole e Charles Crichton), Confio Em Ti / I Believe in You / 1952 e Punhos Traiçoeiros / The Square Ring / 1953 (ambos com Michael Relph).

Os filmes restantes dirigidos somente por Dearden incluem: 1944 – The Halfway House; They Came to a City. 1946 – Corações Aflitos / The Captive Heart; 1947 – Frieda / Frieda. 1948 – Sarabanda / Saraband for Dead Lovers. 1950 – A Lâmpada Azul / The Blue Lamp; Do Amor a Ódio / Cage of Gold. 1951 – Beco do Crime / Pool of London. 1952 – O Ódio Era Mais Forte / The Gentle Gunman. 1954 – The Rainbow Jacket. 1955 – Out of the Clouds; A Morte de um Herói / The Ship That Died of Shame. 1956 – Who Done It. 1957 – The Smallest Show on Earth. 1958 – Seduzidos pela Maldade / Violent Playground. 1959 – Safira, A Mulher sem Alma / Sapphire. 1960 – Os Sete Cavalheiros do Diabo / The League of Gentlemen; Um Homem na Lua / Man in the Moon. 1961 – O Sócio Secreto / The Secret Partner; Meu Passado me Condena / Victim. 1962 – All Night Long; Escravo de uma Obsessão / Life for Ruth. 1963 – The Mind Benders; A Place to Go. 1964 – A Mulher de Palha / Woman of Straw. 1965 – Oriente Contra Ocidente / Masquerade. 1966 – Khartoum / Khartoum. 1968 – No Mundo dos Escroques / Only When I Larf. 1969 – Sindicato do Crime / The Assassination Bureau. 1970 – O Homem Que Não Era (na TV) / The Man Who Haunted Himself.

Entre os que pude ver, eis os dez que mais me agradaram, todos com histórias muito interessantes.

THE HALFWAY HOUSE / 1944

Em junho de 1943 dez pessoas precisando muito de um descanso chegam a uma estalagem, The Halfway House, perdida na região campestre do País de Gales. Eles são recebidos pelo proprietário Rhys (Mervyn Johns) e sua filha Gwyneth (Glynis Johns). Os hóspedes compreendem: um casal  de meia idade(Tom Walls, Françoise Rosay) de luto pela morte de seu filho em serviço ativo na guerra; um par mais jovem (Richard Bird, Valerie White) prestes a se divorciar e sua filha (Sally Ann Howes) tentando reconciliá-los; um militar (Guy Middleton) degradado por ter dado um desfalque nos fundos de seu regimento; um traficante do mercado negro (Alfred Drayton); um maestro famoso (Esmond Knight) com poucos meses de vida, um rapaz irlandês (Pat McGrath)  e sua noiva (Philippa Hiatt) com pontos de vista conflitantes sobre a guerra. Pouco após sua chegada os hóspedes começam a perceber que algo está errado. Os jornais e o calendário estão um ano desatualizados. Rhys não mostra nenhum reflexo em um espelho e Gwyneth não projeta sombra quando sai de casa. É como se o dono da estalagem e sua filha fossem fantasmas. Depois de ouvirem uma transmissão radiofônica de 1942 os hóspedes ficam surpresos ao perceber que eles foram levados de volta exatamente a um ano no tempo, para a hora exata em que a estalagem foi destruída por um bombardeio aéreo.

Cena de The Halfway House

Drama com um toque sobrenatural e uma mensagem patriótica no seu desfecho tendo como escopo a unidade nacional em tempo de guerra. Espetáculo continuadamente absorvente graças a uma direção segura e desempenho correto e homogêneo do elenco. Apesar de seu tema sombrio é uma história de fantasmas com elementos de um humor suave, na qual o horror é substituido pela melancolia. A câmera de Wilkie Cooper capta muito bem a paisagem campestre encantadora onde se desenrola a ação.

CORAÇÕES AFLITOS / THE CAPTIVE HEART / 1946.

Em 1940 o Capitão Karel Hasek da Exército Tcheco (Michael Redgrave) escapa do campo de concentração de Dachau e assume a identidade de um oficial britânico morto, Capitão Geoffrey Mitchell. Quando é capturado, ele se junta a milhares de prisioneiros de guerra. Seus companheiros do campo suspeitam que ele seja um espião companheiros porque fala bem o alemão, porém o oficial britânico superior, Major Dalrymple (Basil Radford), acredita na sua história. Procurado pela Gestapo, Hasek mantém a correspondência com a viúva de Mitchell, Celia (Rachel Kempson). Antes da guerra Mitchell tinha abandonado sua mulher e seus dois filhos, mas as cartas reacendem seu amor pelo marido. Ao ser repatriado, Hasek vai visitar Celia. Ele lhe dá a notícia da morte de Mitchell e revela que se apaixonou por ela. Passado um primeiro está gostando dele.

Michael Redgrave em Corações Aflitos

Drama de guerra com uma história de amor expondo com realismo, vigor emocional e riqueza cinematográfica, a vida em um campo de prisioneiros alemão. Nomentos marcantes são a chegada dos soldados britânicos ao campo de Marlag; a leitura da carta de um prisioneiro relatando sua vida no campo e a câmera mostrando as imagens dela; a visita noturna ao arquivo para a substituição dos nomes; o retorno dos soldados ingleses para as suas casas; os close-ups de Celia e Hasek falando-se pelo telefone no meio de uma Paris em festa.

FRIEDA / FRIEDA / 1947.

Quando a Segunda Guerra Mundial se aproxima do fim, uma jovem enfermeira alemã, Frieda (Mai Zetterling), ajuda um aviador da R.A.F., Robert (David Farrar), a escapar de um campo de prisioneiros alemão. Para impedir que ela seja punida por sua deslealdade ao Reich, casa-se com ela e eventualmente chegam na casa da família dele em Oxfordshire. Frieda conhece sua mãe (Barbara Everest), sua cunhada Judy (Glynis Johns), seu meio-irmão Tony (Ray Jackson), a empregada Edith (Gladys Henson) e tia Eleanor (Flora Robson), figura de destaque na política local e veementemente anti-germânica.

Judy é mais tolerante com Frieda embora sendo viúva do irmão de Robert, morto em um combate aéreo. A mãe de Robert permanece sem julgamento, mas Tony e a criada sentem-se ambos incomodados com a presença de uma estranha. A princípio a população da cidade hostiliza Frieda e Robert é obrigado a desistir de seu emprego como professor. Mas aos poucos a jovem ganha a confiança de todos – com exceção de Eleanor – até que aparece seu irmão Richard (Albert Lieven), ex-soldado alemão vestido com um uniforme polonês. Inicialmente, pensando que ele morrera, Frieda fica muito feliz, mas logo verifica que Richard continua fiel à ideologia nazista. Entrementes Richard é denunciado em um bar como um dos guardas de um campo de concentração e, para Robert em particular, admite a verdade desta acusação acrescentando que Frieda aprova seu plano neonazista. Sentindo-se comprometida, Frieda joga-se de uma ponte em um rio caudaloso, mas Robert chega a tempo de salvá-la, levando-a de volta para casa, onde Eleanor admite que seu preconceito anti-germânico é errôneo.

David Farrar e Mai Zetterling em Frieda

Drama social sobre o problema das atitudes no pós-guerra em relação aos alemães e a difícil passagem de uma família da classe média e de uma comunidade – lidando com seu preconceito raivoso e seus temores – para a aceitação de uma jovem alemã doce e inocente. Dearden mantém a atmosfera tensa, conduzindo a ação com sobriedade, armando algumas cenas agitadas mais para o desfecho melodramático.

SARABANDA / SARABAND FOR DEAD LOVERS / 1948.

Em 1862 na Alemanha a jovem Sophie-Dorothea (Joan Greenwood) se vê obrigada a desposar o Príncipe George Louis de Hanover (Peter Bull). Enquanto George se ocupa com suas amantes, Sophie fica sozinha com sua sogra a Eleitora Sophia (Françoise Rosay), que tem pouca afeição por ela. Solitária e deprimida, Sophie se consola com o soldado mercenário sueco Conde Philip Christoph von Königsmark (Stewart Granger). Os dois pretendem fugir do país, mas a Condessa Platen (Flora Robson), a nova amante de George, tendo sido rejeitada pelo conde, descobre o plano dos dois e conta tudo ao rei. Descoberta a infidelidade de Sophia, Kögnismarck é assassinado e a princesa encarcerada no Castelo de Ahlden onde permaneceu trinta e dois anos até sua morte. E George se torna George I, Rei da Inglaterra.

Joan Greenwood e Stewart Granger em Sarabanda

Drama romântico baseado vagamente em acontecimentos históricos, realizado com apreciável senso plástico, notadamente na sequência da festa carnavalesca na qual vemos a princesa perdida e em pânico no meio da multidão que se diverte histericamente. É uma sucessão de cortes interrompidos, panorâmicas rápidas e esplêndidos close-ups de máscaras sucedendo-se em uma montagem rápida ao ritmo de uma partitura palpitante. Dearden deixou o fotógrafo Douglas Slocombe utilizar o technicolor à sua maneira, ou seja, com contraste, por exemplo, naquele claro-escuro ameaçador da luta de espadas no final.

A LÂMPADA AZUL / THE BLUE LAMP / 1950.

Na área de Paddington, George Dixon (Jack Warner), guarda veterano da Polícia Metropolitana de Londres, prestes a se aposentar, supervisiona um novo recruta, Andy Mitchell (Jimmy Hanley). Apesar da relutância inicial de sua esposa, ele oferece hospedagem a Andy, que tem a mesma idade do filho que perderam na guerra e acabam formando uma família feliz. Em uma ronda, Dixon se vê face a face com o jovem delinquente Tom Riley (Dirk Bogarde) roubando a bilheteria de um cinema. Dixon tenta convencer Riley a se render, mas ele atira e foge. Dixon morre no hospital algumas horas depois e a Scotland Yard inicia a busca do criminoso. Após vários incidentes Riley é localizado quando tenta se esconder entre a multidão em um hipódromo de corrida de galgos, mas com a ajuda da administração do estádio, o criminoso é cercado pelos policiais e é Andy quem vai prendê-lo.

Dirk Bogarde em A Lâmpada Azul

Drama criminal com rigor documentário sobre o cotidiano de uma delegacia da Guarda Metropolitana de Londres (simbolizada pela lâmpada azul) e a colaboração que lhe é prestada pela Scotland Yard, colocando em foco o caso de um assassinato cometido por jovem delinquente  desesperado e perigoso porque imprevisível. Após uma exposição meticulosa do aspecto trabalhoso e metódico das investigações, Dearden constrói uma última parte bastante nervosa que termina com uma perseguição frenética do criminoso pelas ruelas londrinas até o final ofegante no lugar onde ele é capturado.

DO AMOR AO ÓDIO / CAGE OF GOLD / 1950.

A jovem pintora Judith Moray (Jean Simmons) desfaz seu noivado com o Dr. Alan Kearn (James Donald) e se casa com um antigo namorado, o ex-piloto militar Bill Glennon (David Farrar), aventureiro sem escrúpulos. Decepcionado porque seu plano incluía a presuntiva herança da esposa e esta herança não existe mais, ele a abandona, levando suas jóias e dinheiro, e volta para a amante, Marie Jouvet (Madeleine Lebeau) cantora do cabaré “A Gaiola de Ouro” em Paris.  Em Londres, Judy pede auxílio a Alan, mas ele recusa seu pedido para fazer um aborto. Depois que a criança nasce, sai uma notícia no jornal listando Bill entre os mortos em um acidente aéreo. Alain e Judith se casam até que Bill reaparece e exige uma enorme quantia para não acusar o casal de bigamia, o que importaria na perda da guarda da criança. Armada de um revólver, Judith confronta-o no seu apartamento. Alan descobre onde ela foi e corre para lá cruzando com Judith correndo agitada no meio do nevoeiro. Ele segue para o apartamento e descobre Bill morto, sendo surpreendido com a arma na mão por um policial. Para proteger Judith, Alan admite ter matado Bill. Porém o Inspetor Grey (Bernard Lee) recebe a confissão do verdadeiro assassino, a amante parisiense de Bill, que na viagem de volta para Paris comete suicídio.

Jean Simmons em Do Amor ao Ódio

Drama criminal com todos os ingredientes típicos de um melodrama, exposto por Dearden com muita habilidade e valorizado pela soberba iluminação dramática de Douglas Slocombe. No desenrolar da narrativa encontram-se lances cinematográficos como, por exemplo, o grito de Judith chamando pelo marido que a abandonou e este grito e o seu rosto fundindo-se como apito da locomotiva avançando velozmente em direção à câmera. Nota-se o contraste entre a gaiola do cabaré em cujo centro vemos Madeleine, encarnação do desejo feminino e a casa dos Kearn, na verdade outra gaiola, onde Judith expia seu erro inicial de ter sido seduzida por Robert, tornando-se enfermeira de seu sogro inválido, mãe de seu filho, esposa conformada com a serenidade da vida familiar.

A MORTE DE UM HERÓI / THE SHIP THAT DIED OF SHAME / 1955.

Durante a Segunda Guerra Mundial, a lancha torpedeira 1087 – cuja tripulação comandada pelo Capitão Bill Randall (George Baker) incluía mais dois homens, George Hoskins (Richard Attenborough) e Coxwain Birdie (Bill Owen) – realizou com êxito várias missões perigosas ao longo da costa da França ocupada pelos nazistas. Após o fim do conflito, Hoskins convence Randall e Birdie a comprar e restaurar a lancha e usá-la para contrabandear mercadorias de luxo como uísque, meias de sêda e chocolate através do Canal da Mancha. Porém quando Hoskins se associa a uma organização criminosa liderada pelo Major Fordyce (Roland Culver), eles passam a transportar dinheiro falsificado e armas. A partir daí a embarcação começa a apresentar defeitos como se estivesse com vergonha desta carga. Em uma viagem, Hoskins aceita levar um passageiro misterioso e quando a lancha se aproxima do porto, para se livrar dos guardas alfandegários, ele joga o passageiro no mar, deixando-o morrer afogado. Depois os três parceiros ficam sabendo pelos jornais que o tal passageiro era um assassino de criança fugitivo da justiça, surgindo discordância entre eles e incidentes violentos, que culminam na autodestruição da lancha chocando-se contra os rochedos e ocasionando   a morte de Hoskins enquanto Randall e Birdie conseguem se salvar.

George Baker e Richard Attenborough em A Morte de um Herói

Misturando três gêneros – drama de guerra, criminal e fantástico – o filme aborda a questão da sobrevivência no pós-guerra, retratando especificamente a frustração de ex-combatentes que não conseguem se adaptar ao tempo de paz e se afundam cada vez mais no mundo do crime. As qualidades antropomórficas da lancha ajudam a tornar a história mais excitante que Dearden conduz exemplarmente ajudado pela esplêndida fotografia atmosférica de Gordon Dines, servindo como exemplo a sequência em que o criminoso fugitivo, no meio de intenso nevoeiro, fica rondando o convés da lancha apavorado, ouvindo cegamente as vozes do alto falante e o apito do barco da polícia que se aproxima até ser empurrado para a morte por Hoskins.

SAFIRA, A MULHER SEM ALMA / SAPPHIRE / 1959.

O superintendente da polícia londrina, Robert Hazard (Nigel Patrick) e o inspetor Phil Learoyd (Michael Craig) – que tem preconceito contra negros -, investigam o assassinato de uma jovem estudante de música, Sapphire Robbins (Yvonne Buckingham). Um médico de Birmingham, Dr. Robbins (Earl Cameron), revela que ele e Sapphire eram filhos de pai branco e mãe negra, mas como ela tinha a pele clara, fazia-se passar por branca. Os investigadores descobrem que Sapphire levava uma vida dupla, estudando de dia e frequentando boates suspeitas nas áreas habitadas por negros. Os investigadores interrogam David Harris (Paul Massie), estudante de arquitetura namorado de Sapphire, seus pais (Bernard Miles, Olga Lindo), sua irmã Mildred (Yvonne Mitchell) e inspecionam as boates que a moça frequentava. Em um desses locais eles questionam um amiguinho de Sapphire, Johnny Fiddle (Harry Baird), sobre um lençol e uma faca com manchas de sangue encontradas no seu quarto e que ele alega ter sido o resultado de uma briga com outro sujeito, fato depois confirmado. Hazard reúne toda a família e convida o Dr. Robbins para comparecer. Duante o encontro, o Dr. Robbins brinca inadvertidamente com uma boneca encontrada e o ódio racista de Mildred vem à tona. Arrancando a boneca das mãos de Robbins, ela confessa que matou Sapphire enfurecida por ela se gabar de sua gravidez e pensando como a raça de seu bebê iria afetar a família. Mildred é presa e Hazard e um arrependido Learoyd desejam ao Dr Robbins uma boa viagem de volta a Birmingham.

Nigel Patrick em A Mulher Sem Alma

Drama criminal sociológico com um libelo discreto mas vigoroso contra o preconceito racial ao descrever detalhadamente as tensões étnicas na Londres dos anos cinquenta.  Articulando sabiamente as suspeitas sobre diferentes personagens, Dearden mantém o interesse do espectador o tempo todo, auxiliado por uma boa fotografia de cores neutras em perfeita harmonia com a história.

OS SETE CAVALHEIROS DO DIABO / THE LEAGUE OF GENTLEMEN / 1960.

Tenente coronel reformado após vinte e cinco anos de serviço, John George Norman Hyde (Jack Hawkins), decide se vingar. Utilizando informações que possui sobre eles, Hyde reune um grupo de sete oficiais, todos expulsos do exército – Major Peter Graham Race (Nigel Patrick), Mycroft (Roger Livesey), Edward Lexy (Richard Attenborough) Martin Porthill (Bryan Forbes), Stevens (Kieron Moore), Rupert Rutland-Smith (Terence Alexander), Frank Weaver (Norman Bird) – e os treina para a “Operação Tosão de Ouro”, cada qual seguindo sua especialidade militar. Por uma manobra inteligente, eles saqueiam um depósito de armas e munições desviando as suspeitas sobre os revolucionários irlandeses. Sob a cobertura de uma empresa de mudanças, Hyde e seus comparsas dispõem seu material em pleno centro de Londres nas proximidades de um banco. Na hora certa uma nuvem de fumaça inunda os arredores, os telefones são cortados, as emissões de rádio da polícia embaralhadas. Protegidos por máscaras contra gás eles penetram no banco e se apoderam de um milhão de libras. Eles se retiram estrategicamente e se reencontram mais tarde na casa de campo de Hyde para dividir o saque. A polícia consegue rastreá-los graças um erro ínfimo em um plano aliás, impecável. Eles serão todos presos.

Cena de Os Sete Cavalheiros do Diabo

Drama criminal combinando com incontestável originalidade assalto e estratégia militar. Após a apresentação dos diferentes personagens o filme ganha intensidade, acumulando surpresas e reviravoltas, sempre com uma nota de humor, mas em tom voluntariamente sério, culminando com um roubo espetacular com duração de vinte minutos, filmado com rigor e eficácia. Todos os atores que personificam os oito assaltantes atuam com muita convicção, contribuindo enormemente para o êxito do espetáculo. 

MEU PASSADO ME CONDENA / VICTIM / 1961.

O eminente advogado Melville Farr (Dirk Bogarde), em vias de se tornar Conselheiro da Rainha, é procurado por Jack “Boy” Barrett (Peter McEnery), com o qual teve um relacionamento amoroso. Farr se recusa a falar com ele, pensando que Barrett está tentando chantageá-lo, porém o rapaz está ele próprio sendo vítima de chantagistas, que possuem uma foto dele com Farr abraçados dentro de um carro. A fim de pagar a chantagem, Barrett deu um desfalque na firma onde trabalha, está fugindo da polícia e necessita do auxílio financeiro de Farr para sair do país. Barrett finalmente é preso e, para não ser forçado a revelar os detalhes da chantagem e o papel de Farr nesse esquema, ele se enforca em sua cela; porém a polícia descobre sua relação com o advogado. Laura fica sabendo do suicídio de Barrett e, achando que seu marido não cumpriu a promessa que fizera quando se casaram de que ele não seria mais indulgente com sua atração homossexual, decide deixá-lo. Ajudado por um amigo de Barrett, Farr consegue identificar outras vítimas de chantagem e resolve ajudar a polícia a prender os chantagistas, comprometendo-se a prestar testemunho perante a côrte mesmo sabendo que isto poderá destruir sua carreira. Os criminosos são presos e Farr pede que Laura parta antes do julgamento, com a intenção de poupá-la deste constrangimento, mas que espera que ela retorne depois. Laura responde que acredita que já encontrou força para voltar para ele.

Dirk Bogarde e Sylvia Simms em Meu Passado Me Condena

Drama criminal com vocação social tendente a denunciar a legislação inglesa da época, que tipificava o homossexualismo como crime. Dearden aborda o assunto abertamente e com seriedade, mostrando os danos causados por chantagistas às vítimas de várias profissões – um operário fabril, um dono de livraria, um barbeiro, um vendedor de automóveis, um fotógrafo, um lorde, um ator de teatro famoso -, que tentam viver sua diferença nas suas respectivas profissões. Uma das muitas virtudes do filme de Dearden está em não apresentar personagens “gays” como estereótipos efeminados, mas sim como indistinguíveis de personagens “éteros”, apresentando a homosexualidade com honestidade e sem sensacionalismo.

CURTAS METRAGENS SOBRE ASSUNTOS HISTÓRICOS AMERICANOS

Esmiuçando a Pequena História do Cinema, encontrei alguns filmes curtos sobre assuntos da História dos Estados Unidos produzidos nas décadas de trinta e quarenta pela Warner Bros., utilizando principalmente atores secundários contratados do estúdio e geralmente favorecendo mais a ficção do que o fato. Alguns foram premiados com o Oscar; outros, realizados por diretores eminentes com Michael Curtiz e Jean Negulesco. Em 1939 a Columbia Pictures entrou nesta área de curtas-metragens históricos com a intenção de produzir uma série intitulada Tolos Que Passaram à Posteridade / Fools Who Made History, mas infelizmente a série projetada só teve dois filmes.

HISTORICAL FEATURETTES – WARNER BROS.

1936

GIVE ME LIBERTY. Warner Bros. 22 minutos. Dir: B. Reeves Eason. Rot: Forrest Barnes. Foto: W. Howard Greene (Technicolor). El: John Litel (Patrick Henry), Nedda Harrigan (Doxie Henry), Robert Warwick (George Washington), George Irving (Thomas Jefferson), Myrtle Stedman (Martha Washington), Carlyle Moore Jr. (Mensageiro). Vencedor do Oscar de Melhor Curta-Metragem em Cores.

Give Me Liberty

George Washington tenta encorajar o grande orador Patrick Henry (advogado, agricultor, político, figura proeminente na Revolução Americana) a usar seu talento oratório para defender a causa da independência colonial perante a Câmara dos Burgueses de Virginia (Câmara dos Representantes de Virginia) mas a promessa que ele fez para a sua esposa inicialmente o impede. Quando o clima político muda, ela eventualmente dá sua permissão e Henry pronuncia um discurso vibrante “Give Me Liberty or Give Me Death” (Dá-me a liberdade ou me dá a morte) na Convenção de Virginia em 1775.

THE SONG OF A NATION. Vitaphone / WB. 18 minutos. Dir: Frank McDonald. Rot: Forrest Barnes. Foto (Technicolor): W. Howard Greene. William Skall. El: Donald Woods (Francis Scott Key), Claire Dodd (MarycKey), Joseph Crehan (Coronel John Skinner), Addison Richards (Administrador Britânico Cochrane), Carlyle Moore Jr. (Tenente Richard West), Virginia Brissac (Mrs. Callan).

The Song of a Nation

Em 1814, o advogado e poeta amador Francis Scott Key acha que o governo não estava tomando providências suficientes para proteger o país dos belicosos britânicos. Ele não tem receio de expor, como civil, suas opiniões contra o círculo militar / político no meio do qual circula. Este entendimento envergonha sua esposa, Mary Key, que acredita que ele é impatriótico e, inconscientemente, afeta seu casamento. Francis acredita que alguém algo tem que unir a nação, mas ele não sabe ainda quem ou o quê. Ao assistir a bordo de um navio o bombardeio do Fort McHenry – localizado em Baltimore, Maryland -, pelos britânicos durante a Guerra de 1812 e ver a bandeira americana ainda tremulante no forte, ele se inspira e escreve um poema, “ Defense of Fort M ‘ Henry”, que seu amigo John Skinner pensa que poderia ser o meio ideal para manter a nação unida. Este poema se tornaria a letra do hino nacional dos Estados Unidos “The Star Spangled Banner.”

1937

O ROMANCE DA LOUISIANA / ROMANCE OF LOUISIANA. Vitaphone / WB. 18 minutos. Dir / Rot: Crane Wilbur. Foto (Technicolor): Ray Rennahan. El: Addison Richards (Radioator e James Monroe), Suzanne Kearen (Imperatriz Josefina), Ian Wolfe ( Talleyrand), Erville Alderson (Radialista e Thomas Jefferson), Alphonse Ethier (Marbaugh), Ted Osborne (George Ross, representante da Pennsylvania).

Romance of Lousiana

A compra do Território da Lousiana pelo governo da França em 1803 pelo presidente Thomas Jefferson e a intriga política e as questões constitucionais envolvidas nesta compra famosa. O Rei George da Inglaterra exorta os Estados Unidos a tomar o território pela força porque a França está vendendo esta área apenas para conseguir mais dinheiro a fim de lutar contra a Inglaterra. Napoleão fica sabendo disso e prontamente vende o território por quinze milhões de dólares.

UNDER SOUTHERN STARS. Warner Bros. 17 minutos. Dir: Nick Grinde. Rot: Forrest Barnes. Foto:  W, Howard Green (Techncicolor).  El: Fritz Leiber (Thomas J. “Stonewall” Jackson), Fred Lawrence (Tenente George Wilbert), Jane Bryan (Arlene), Pierre Watkin (Robert E. Lee), Olive Tell (Mrs. Jackson), Gordon Hart (Major Hawks), Wayne Morris (Dallas).

 

Passado na primavera de 1863 durante a Guerra Civil Americana em Chancellorsville, Virginia durante a Guerra Civil, este filme focaliza o heroico general confederado Thomas Jonathan “Stonewall” Jackson na noite anterior do dia em que encontraria seu destino.

MAN WITHOUT A COUNTRY. Vitaphone / WB. 21 minutos. Dir: Crane Wilbur. Roteiro: Forrest Barnes, baseado no conto de Edward Everett Hale. Foto: Allen M. Davey. El: John Litel (Tenente Philip Nolan), Gloria Holden (Marian Morgan), Ted Osborne (Jack Morgan), Donald Brian (Coronel Morgan), Holmes Herbert (Aaron Burr). Indicado ao Oscar de Melhor Curta-Metragem em cores.

O Tenente do exército americano Philip Nolan renúncia ao seu país durante um julgamento por traição em virtude de ter tomado parte na chamada Conspiração de Aaron Burr e consequentemente é condenado a passar o resto de sua vida no mar sem ouvir a mínima palavra sobre os Estados Unidos. Por curiosidade Charles Middleton, o Imperador Ming do seriado Flash Gordon faz o papel de Abraham Lincoln. Destaque para duas radiofonizações da história: uma, em 1947, narrada por Bing Crosby; e outra, em 1963, narrada por Edward G. Robinson.

1938

THE DECLARATION OF INDEPENDENCE. Vitaphone / WB.  17 minutos. Dir: Crane Wilbur. Rot: Charles L. Tedford. Foto (Technicolor): W. Howard Greene. El: John Litel (Thomas Jefferson), Ted Osborne (Caesar Rodney), Rosella Towne (Betsy Kramer), Richard Bond (Thomas Lynch Jr.), Walter Walker (Benjamin Franklin), Owen King (John Adams).

 

The Declaration of Independence

Descrição dos eventos que cercaram a Declaração de Independência dos Estados Unidos, focalizando particularmente a figura de Caesar Rodney, representante do Estado de Delaware, que deu o voto decisivo para que ela fosse aprovada em 1776. Vencedor do Oscar de Melhor Curta-Metragem de dois rolos.

1939

LINCOLN IN THE WHITE HOUSE. Warner Bros. 21 minutos. Dir: William McGann. Rot: Charles L. Tedford. Foto (Technicolor): Wilfrid M. Cline. El: Frank McGlynn Sr. (Abraham Lincoln), Dickie Moore (Tad Lincoln), John Harron, (John Hay), Raymond Brown (Secretário da Guerra), Nana Bryant (Mary Todd Lincoln), Erville Alderson (Secretário de Estado).

Lincoln in the White House

Vários episódios da vida de Abraham Lincoln durante seus anos na presidência dos Estados Unidos. Entre as cenas mostradas incluem-se as do seu relacionamento com o filho, Tad e a doença deste; seu perdão para um jovem soldado que havia sido condenado em uma corte marcial por negligência (ter pegado no sono no seu posto) ; seu pedido para que uma banda tocasse a canção “Dixie”; e o famoso discurso proferido em Gettysburg, Pennsylvania.

SONS OF LIBERTY. Warner Bros.20 minutos. Dir: Michael Curtiz. Rot: Crane Wilbur. Foto (Technicolor): Sol Polito, Ray Rennahan. El: Claude Rains (Haym Salomon), Gael Sondegaard (Rachel Salomon), Donald Crisp (Alexander McDougall), Montagu Love (George Washington), Henry O´Neill, (Mambro do Congresso Continental), James Stephenson (Coronel Tillman).

Sons of Liberty

Em uma reunião dos Filhos da Liberdade início da Guerra Revolucionária, Haym Salomon, anuncia que quer se juntar a eles na sua causa pela independência. Passado algum tempo, é capturado pelos inglêses mas, graças ao seu conhecimento de línguas, consegue um emprego como intérprete e o usa como um meio para espionar para o General George Washington. Quando é libertado, continua a ajudar o movimento revolucionário, e é preso novamente. Prestes a ser fuzilado, ele escapa da prisão e vai para Filadélfia. Enquanto assistindo um culto na sinagoga Salomon recebe uma mensagem de Washington pedindo que ele angarie fundos para o exército revolucionário. Ele apela para a congregação e amigos e levanta quatrocentos mil dólares. O dinheiro é remetido para Washington por meio de um comboio, que é atacado pelos ingleses, mas salvo pelos homens de Washington. Logo após, o General Cornwallis se rende em Yorktown e a guerra termina, mas Salomon, que tanto contribuiu para revolução, morre pouco tempo depois. Vencedor do Oscar de Melhor Curta-Metragem de dois rolos.

MONROE DOCTRINE. Warner Bros.  22 minutos. Dir: Crane Wilbur. Rot: Charles Tedford, James Monroe. Foto: Wildrid M. Cline. El: Grant Mitchel (John Quincy Adams), Charles Waldron (James Monroe), James Stepheson (Senor De La Torre). Frank Wilcox (Henry Clay), George Reeves (John Sturgis), Nanette Fabray (Rosita De La Torre).

A Doutrina Monroe, escrita pelo Secretário de Estado John Quincy Adams e anunciada como uma mensagem no Congresso em 1823 pelo presidente James Monroe, declarava que os Estados Unidos não tolerariam mais nenhuma expansão no hemisfério oeste ou resumindo em uma frase: “a América para os americanos”. O filme mostra não somente os acontecimentos em torno da iniciação desta política por Adams e Monroe, mas também como foi usada para proteger os interesses americanos pelos presidentes que se sucederam, James K. Polk (Ed Stanley), Millard Fillmore (Millard Vincent), Grover Cleveland (Stuart Holmes) e Theodore Roosevelt (Sidney Blackmer).

THE BILL OF RIGHTS. Vitaphone / WB. 21 minutos. Dir: Crane Wilbur. Rot: Charles T. Tedford. Foto (Technicolor): W. Howard Greene. El: Ted Osborne (James Madison), Moroni Olsen (Governador Real Dunmore), Leonard Mudie (Moreland), Vernon Steele (Thomas Jefferson), John Hamilton (Coronel George Mason), Tom Chatterton Richard Henry Lee).

The Bill of Rights

A inclusão do Bill of Rights (Declaração dos Direitos dos Cidadãos) na Constituição dos Estados Unidos por meio das dez primeiras emendas à Carta Magna, propostas por James Madison no Primeiro Congresso Federal em 1789.

1940

OLD HICKORY. Warner Bros. 17 minutos. Dir: Lewis Seiler. Rot: Don Ryan, Owen Crump e Crane Wilbur (não creditado). Foto (Technicolor): Charles P. Boyle. El: Hugh Sothern (Andrew Jackson), Nana Bryant (Rachel Jackson), Victor Kilian (Tim), Irving Pichel (Bruce Renoir), Natalie Moorehead (Mrs. Renoir), Georges Revenant (Jean Lafitte).

A carreira turbulenta de Andrew Jackson começando pelo cerco de New Orleans pelos ingleses, quando Jackson recebe a oferta de ajuda por parte do pirata francês Jean Lafitte. Depois da vitória americana, seus inimigos políticos tentam provocar Jackson para um duelo com um atirador certeiro, acusando sua esposa de bigamia. Na véspera de Jackson ser eleito presidente em 1828 Rachel morre e logo em seguida Oldf Hickory, como Jackson era chamado, se confronta com a ameaça de secessão da Carolina do Sul por causa de uma questão de tarifas. O filme termina com Jackson prometendo manter a União unida mesmo que seja necessário a força. Na última cena, vemos um jovem soldado lendo as palavras de Jackson para um velho amigo do presidente. O jovem não é outro senão Abraham Lincoln.

TEDDY, THE ROUGH RIDER. 19 minutos. Dir: Ray Enright. Rot: Charles Tedford. Foto: Ray Rennahan, L. William O’Connel. El: Sidney Blackmer (Theodore Roosevelt), Pierre Watkin (Senador Platt). Arthur Loft (“Big Jim” Rafferty), Theodore Von Eltz (William Loeb), Robert Warrick (Coronel Leonard Wood), Clay Clement (Avery D. Andrews), Douglas Wood (Presidente William McKinley).

Teddy, The Rough Rider

O filme gira em torno dos Rough Riders, primeiro corpo voluntário de cavalaria formado principalmente com caubóis dos territórios do Oeste americano e liderado por Teddy Roosevelt durante a Guerra Hispano- Americana bem como seu trabalho como comissário de polícia de Nova York e secretário assistente da Marinha. Em 1901 Teddy foi eleito vice-presidente dos Estado Unidos na chapa de William McKinley e, quando este foi assassinado, sucedeu-lhe na presidência. Vencedor do Oscar de Melhor curta-metragem de dois rolos.

PONY EXPRESS DAYS. Warner Bros.  20 minutos. Dir: B. Reeves Eason. Rot: Charles L. Tedford. Foto: Charles P. Boyle. El: George Reeves (Buffalo Bill Cody), David Bruce (Johnny Frey), Frank Wilcox (Boliver Roberts), J. Farrell MacDonald (Nevada Jim), Joseph King (Coronel Joseph Randall), Addison Richards (Tipton Walton).

O filme revive os primeiros dias do Pony Express, o correio expresso, colocado em funcionamento em 1860, que levava correspondência a cavalo cruzando territórios selvagens dos Estados Unidos. Um jovem Bill Cody (depois mundialmente famoso como Buffalo Bill) se junta ao recém-formado Pony Express como empregado de um posto e substitui o mensageiro regular, quando ele é morto em um ataque dos índios.

FLAG OF HUMANITY. Warner Bros. 19 minutos. Dir: Jean Negulesco. Rot: Charles L. Tedford. Foto (Technicolor): Charles P. Boyle. El: Nana Bryant (Clara Barton), Fay Helm (Elsie Howard), John Hamilton (General Garfield), Ted Osborne (Dr. Bellows), John Arledge (Jeremy, soldado confederado), Scotty Beckett (Johnny Wilson).

Clara Barton foi a fundadora da Cruz Vermelha Americana e este filme conta a história de seu trabalho, que se iniciou durante a Guerra Civil, quando ela organizou uma associação para obter suprimentos para os soldados. O filme conta também sua campanha para que os Estados Unidos aprovassem a Primeira Convenção de Genebra, marco da criação da Cruz Vermelha Internacional.

1942

MARCH ON, AMERICA! Warner Bros.  21 minutos. Dir: Richard Whorf. Rot: Owen Crump. Foto (Technicolor): Charles P. Boyle. Narrador: Carleton Young.

Usando trechos de várias de suas Historical Featurettes assim como cinejornais e filmagens originais este curta-metragem dá aos espectadores uma visão geral da história dos Estados Unidos desde o desembarque dos Pilgrims em 1620 até o ataque japonês a Pearl Harbor, enfatizando   o heroísmo americano.  Ao contrário dos outros filmes da série, este é basicamente um documentário, que intercala tomadas de arquivo de produções anteriores para contar sua história e não tem seu próprio elenco de intérpretes.

1945

PLANTATION MELODIES. Vitaphone / WB.  20 minutos. Dir: Le Roy Prinz. Rot: Jack Scholl. Foto (preto e branco). El: Craig Stevens (Stephen Foster).

Usando retrospectos este último curta-metragem histórico da Warner Bros. conta – usando retrospectos – a vida do compositor Stephen Foster desde os seis anos de idade até a sua morte, sem um tostão e quase esquecido. O filme mostra Foster compondo canções como “Oh, Suzanna”, “Camptown Races” e “Jeanie with the Light Brown Hair”.

FOOLS WHO MADE HISTORY – COLUMBIA PICTURES

1939

THE STORY CHARLES GOODYEAR. Columbia. 11 minutos. Dir / Rot: Jan Leman. El: Robert Sterling (Charles Goodyear), Hal Taliaferro (Baker), Richard Fiske (Henry)

Charles Goodyear

A história do inventor da vulcanização da borracha. Acidentalmente ele descobriu que a combinação da borracha e enxofre em um fogão quente fazia com que a borracha. vulcanizasse.

THE STORY OF ELIAS HOWE. Columbia. 11 minutos. Dir / Rot: Jan Leman. El: Richard Fiske (Elias Howe), Lucille Brown (Elizabeth Howe), Lindsay Macharrie (Narrador). Foto: Benjamin H. Kline.

Elias Howe

A história do inventor da máquina de costura com ponto fixo. Sua máquina continha as três características essenciais comuns à maioria das máquinas modernas: uma agulha com o olho de ponta, uma lançadeira operando sob o tecido para formar o ponto do travamento e uma alimentação automática.

AS CINÉPHONIES

Ainda não perdí o hábito de esmiuçar a Pequena História do Cinema, para tentar encontrar aspectos pouco conhecidos ou totalmente desconhecidos da 7ª Arte. No meu primeiro artigo para este blogue, escrito em 13 de fevereiro de 2012, intitulado “Um Curioso Momento da História do Cinema”, abordei um breve porém fascinante fenômeno que merecia ser melhor conhecido: os chamados Soundies, aqueles filmes de breve duração, exibidos em uma máquina parecida com as juke-boxes, vitrolas de pé muito comuns nos bares e restaurantes na década de 40.

Agora encontrei outra curiosidade: as Cinéphonies. Ancestrais do clipe musical, elas eram curtas-metragens realizados a partir de uma música clássica por alguns cineastas de renome sob orientação de Émile Vuillermoz.  As filmagens ocorreram nos estúdios da Paramount em St. Maurice pela Compagnie des Grandes Artistes Internationaux, fundada pelo violinista Jacques Thibaud.

Émile Vuillermoz

Émile – Jean – Joseph Vuillermoz (1878 – 1960) Nascido em Lyon, era compositor, musicógrafo, crítico de música, literatura, teatro e cinema. Por volta de 1916, foi o principal crítico de cinema na França, usando frequentemente os pseudônimos de Gabriel Darcy e Claude Bonvin. Ele e Louis Delluc são considerados como os verdadeiros fundadores da crítica cinematográfica, também exercida na época por René Jeanne e Léon Moussinac.

Em 1924 Vuillermoz ajudou a organizar a primeira exibição importante de cinema no Museu Galliera, “L Éxposition de l´art dans le cinéma français”. Em 1935 Vuillermoz e Jacques Thibaud iniciaram o projeto das cinéphonies empregando diretores como Max Ophuls, Dimitri Kirsanoff, Marcel L´Herbier, os diretores de fotografia Franz Planner e Boris Kauffman (irmão mais novo de Dziga Vertov) e artistas como Elisabeth Schumann, Alfred Cortot, Alexander Brailowsky, Ninon Vallin, Tasso Janopoulo, Jacques Thibaud e a nossa Magdalena Tagliaferro. Os compositores representados foram Albeniz, Chopin, Debussy, Fauré, Mompou, Schubert e Szymanowski. Em 1936 ele foi membro do júri no Quarto Festival Internacional de Cinema de Veneza e teve, juntamente com René Jeanne, uma participação importante na criação do Festival de Cannes.

Jacques Thibaud (1880 – 1953) nasceu em Bourdeaux e estudou violino com seu pai antes de entrar para o Conservatório de Paris aos treze anos de idade. Em 1896 ele ganhou – juntamente com Pierre Monteux (que depois se tornou maestro famoso) – o prêmio de violino do Conservatório. Thibaud teve que reconstruir sua técnica após ter sido ferido na Primeira Guerra Mundial. Em 1943 ele e Marguerite Long instituiram a Marguerite Long-Jacques Thibaud International Competition para violinistas e pianistas, que tem lugar todos os anos em Paris. A partir de 2011 ela incluiu cantores e agora é conhecida como Long – Thibaud – Crespin Competition, em homenagem à soprano Régine Crespin. Thibaud ficou conhecido não somente pelo seu trabalho como solista, mas também por sua performance como músico de câmera, particularmente com o pianista Alfred Cortot e o violoncelista Pablo Casals. Em 1 de setembro de 1953, Thibaud e outros 41 passageiros morreram em um acidente aéreo do vôo 178 da Air France. Seu violino Stradivarius de 1720 foi destruído no acidente.

As cinéphonies estão preservadas, entre outras instituições, nos Archives Françaises du Film. Suas restaurações, no início dos anos noventa, possibilitaram sua divulgação, muitas vêzes, no Canal Europeu Arte e podem ser vistas no You Tube.

Pude apurar apenas sete cinéphonies:

AVE MARIA DE SCHUBERT – Música de Franz Schubert cantada pela soprana alemã Elizabeth Schumann. Dir: Max Ophuls / 1935.

Elizabeth Schumann

LES BERCEAUX – Música de Gabriel Fauré cantada pela soprano francêsa Ninon Vallin enquanto a câmera evoca cenas marinhas e bretãs. Dir: Dimitri Kirsanoff / 1935.Fotografia: Boris Kaufman.

Ninon Vallin

LA JEUNE FILLE AU JARDIN – Música de Frederico Mompou executada pela pianista brasileira Magdalena Tagliaferro enquanto a dançarina alemã Clotilde von Derp (esposa do dançarino e coreógrafo russo Alexander Sakharoff), expressa a melodia em um bailado especial. Dir: Dimitri Kirsanoff / 1935.

Magdalena Taliaferro

LA FONTAINE d’ ARÉTHUSE – Música de Karol Szymanowski interpretada pelo violinista Jacques Thibaud e pelo pianista grego Tasso Janoupolo enquanto Sabine Earl e Michel Gevel interpretam, ela au naturel, a lenda da mitologia grega sobre a ninfa Aretusa e o deus do rio Alfeu.  Dir: Dimitri Kirsanoff / 1935. Fotografia: Boris Kaufman.

La Fontaine d’ Aréthuse

LA VALSE BRILLANTE EM LA BÉMOL – Música de Frédéric Chopin) interpretada pelo pianista Alexander Brailowski. Dir: Max Ophuls / 1936. Fotografia: Franz Planner.

Alexander Brailowski

CHILDREN´S CORNER / LE COIN DES ENFANTS – Música de Claude Debussy interpretada pelo pianista Alfred Cortot. Dir: Marcel L’Herbier / 1936. Fotografia: Franz Planner. Premiado na Bienal de Veneza.

Children´s Corner

Alfred Cortot

MALAGUENA – Música de Isaac Albeniz interpretada pelo violinista Jacques Thibaud. Dir: ignorado / 1940.

Jacques Thibaud

UM REI DO MELODRAMA NOS PRIMÓRDIOS DO CINEMA RUSSO

A História do Cinema Russo tem sido mais divulgada a partir das experiências de montagem de cineastas do cinema soviético dos anos 1920 como Kulechov, Vertov e Eisenstein e das atividades da Fábrica de Atores Excêntricos (FEK) de Kozintzev e Trauberg, omitindo o período pré-revolucionário (1908-1919), do qual procurarei fazer um breve resumo antes de apresentar o “Rei do Melodrama”.

O cinematógrafo foi apresentado na Rússia por Francis Doublier, que trabalhava no laboratório da fábrica Lumière. Sua chegada em Moscou coincidiu com a coroação do Tzar Nicolau II, marcada para 14 de maio de 1896, que foi filmada por Charles Moisson, operador de câmera acompanhando Doublier na ocasião. Em março de 1897 o cinematógrafo estava percorrendo cidades russas, familiarizando as pessoas com a nova atração. Os filmes eram exibidos principalmente em estandes de feiras e exposições e não em lugares fixos. Os primeiros cinemas surgiram a partir de 1903 e se espalharam pelo país, atraindo público de todas as classes sociais.

No final do século dezenove a Gaumont e a Pathé dominavam o mercado cinematográfico russo, mas gradualmente as platéias russas cansaram-se de ver somente imagens filmadas em outros países em vez de verem sua própria cultura.  A Rússia tinha condições de realizar sua própria produção doméstica, e muitos russos haviam adquirido experiência trabalhando nas companhias francesas que mantinham negócios no país.

A. Drankov

A produção de filme na Rússia começou em 1907 quando Alexander Drankov, fotógrafo oficial da Duma (Assembléia Legislativa), abriu um escritório em São Petersburgo e anunciou que faria filmes que ofereceriam imagens autênticas do país. Na mesma ocasião a Gaumont e a Pathé também inauguraram seus próprios estúdios na Rússia. Em 1908 Drankov já havia produzido uma série de filmes intitulada “Rússia Pitoresca”, que vendeu também para outros países. No mesmo ano ele produziu o primeiro filme narrativo, Stenka Razin, dirigido por Vladimir Romashkov, focalizando a trajetória do famoso rebelde que se tornou um grande herói popular no seu país.

Em 1909 surgiram duas novas companhias: 1. a Thiemann & Reinhardt, fundada por Pavel Thiemann (que havia trabalhado na sucursal russa da Gaumont) e Friedrich Reinhardt (próspero comerciante de tabaco), começou distribuindo filmes feitos pelas companhias Nordisk (dinamarquesa), Ambrosio (italiana) e Vitagraph (americana) e depois começou a produzir seus próprios filmes na sua firma Gloria, contratando diretores como Vladimir Gardin e Yakov Protazanov e posteriormente VIacheslav Viskovsky, Vadimir Uralsky e Vsevolod Meyerhold. 2. a Khanzhonkov foi fundada pelo ex-capitão do exército Alexsandr Khanzhonkov, concorrente de Drankov e produtor de um dos primeiros filmes de longa-metragem russo, Oborona Sevastopolya (Defesa de Sebastopol).

A Pathé Moscou competiu com Drankov e as duas novas empresas. Os primeiros filmes da Pathé produzidos na Rússia e dirigidos pelo franco-dinamarquês Kai Hansen, Vasili Goncharov e André Maître focalizaram figuras históricas como o grão-príncipe Dmitri Donskoi e Pedro, o Grande. Um dos filmes desta série foi Kniazhna Tarakanowa (Princesa Tarakanowa) / 1910, dramatização de um evento histórico envolvendo a princesa suspeita de reivindicar o trono ocupado por Catarina, a Grande.  O filme foi dirigido por Hansen e Maître.

As adaptações dos clássicos da literatura – Pushkin, Gogol e Chekov – eram muito populares assim como as histórias místicas e sobrenaturais que haviam inspirado o Romantismo. Por exemplo o filme Rusalka / 1910, dirigido por Goncharov baseado em uma lenda folclórica, transformada em um poema dramático inacabado de Pushkin, contava a história da filha de um moleiro que é seduzida e abandonada por um príncipe. Desesperada, ela se afoga e ele passa a ser atormentado pela imagem da moça, como se fosse um espírito das águas (rusalka).

Ivan Mozzhukhin

Os filmes russos também começaram a abordar o melodrama. Snokhach (O Amante da Nora) / 1912), dirigido por Alexander Ivanov-Gai e Petr Chardynin, versa sobre a prática de pais ou sogros que abusam sexualmente de suas filhas e noras. Ivan (Ivan Mozzhukhin) e sua esposa Lusha (Tatyana Shornikova) vivem uma vida tranquila, porém o pai de Ivan (Arseni Bibikov) estupra Lusha. Quando fica grávida, ela se enforca de vergonha. O nome de um dos primeiros astros do cinema russo inicial aparecia nos cartazes publicitários da produção: Ivan Mozzhukhin (pronunciado como Mosjoukine depois de sua emigração para a França); Krestianskaia dolia (O Lote do Camponês / 1912), dirigido por Goncharov, examinava a impossibilidade de amor para uma jovem camponesa. Masha (Alexandra Goncharova) e Petr (Ivan Mozzhukhin) estão apaixonados e os pais consentem no casamento. Mas o destino desfere um duro golpe: a casa dos pais de Masha se incendeia e o matrimônio é cancelado porque a moça perdeu seu dote. Masha vai trabalhar como empregada doméstica na cidade onde a princípio rechaça os avanços do patrão. Em uma montagem paralela o diretor mostra o sofrimento de seus pais após o incêndio e sua agitação emocional, surgindo então uma motivação psicológica para que ela acabe cedendo ao assédio em troca de uma grande soma de dinheiro, que ela leva para seus progenitores. Entretanto, seu amor por Petr, que agora está casado com uma mulher dura e cruel, está irremediavelmente perdido: Masha se casa com um senhor de idade; Doch kuptsa Bashkirova / 1913 (A Filha do Mercador Bashkirov), depois denominado Drama na Volge (Drama no Volga) dirigido por Nikolai Larin, fala sobre casamentos arranjados para benefício financeiro e a impossibilidade de amor romântico.  A filha de um mercador, Nadia (atriz não creditada) ama o jovem mordomo Yegorushka (ator não creditado), mas seu pai não pode saber: ele arranjou o casamento de Nadia com um mercador rico, que ela não ama. A mãe de Nadia ajuda a filha a se encontrar com seu amado em segredo. Quando o pai de Nadia chega em casa inesperadamente, as duas mulheres escondem Yegorushka embaixo de um colchão onde ele morre sufocado. Elas pedem a um camponês que as ajude a se livrar do corpo, que é jogado no rio em um barril. Entretanto, o camponês chantageia Nadia, exigindo jóias e depois a estupra. Nadia ouve o camponês gabar-se do estupro na taverna; ela tranca o estuprador e seu público na taverna e ateia fogo no estabelecimento; Kliuchi schast’ ia (As Chaves de Felicidade) / 1913, dirigido por Gardin e Protazanov e baseado no romance sucesso de vendas de Anastasia Verbitskaya, conta como uma mulher adiante de seu tempo, Manja Elcova (Olga Preobrazhenskaya), tenta se adaptar à vida moderna e acaba se matando.

Roman s kontrabasom

A comédia também esteve presente no ínicio do cinema russo primeiramente como esquetes cômicos de 10 minutos e depois esquetes mais longos, surgindo a comédia de situação, representada, por exemplo, por Roman s kontrabasom (Romance com Contrabaixo) / 1911, baseado em uma história de Anton Chekov e dirigido por Kai Hansen. A ação transcorre no campo, onde primeiro um tocador de contrabaixo (Nikolai Vasilyev) e depois a Princesa Bibulova (Vera Gorskaya) têm suas roupas roubadas enquanto nadam em um lago. Como um verdadeiro cavalheiro o músico oferece à dama a caixa de seu contrabaixo para ela se esconder, mas enquanto ele vai buscar socorro, a caixa é encontrada e transportada para seu destino. Quando a caixa é aberta uma dama de maiô muito envergonhada sai da caixa. Em outra comédia, Domik v Kolomne (A Casa em Kolomna) / 1913, baseada em um poema dramático de Pushkin e dirigida por Chardynin, um homem (Ivan Mozzhukhin) se disfarça de mulher, fazendo-se passar de cozinheira, a fim de ficar perto de sua namorada (Sofia Goslavskaya), que faz a faxina da casa sob a supervisão de sua mãe viúva (Praskoya Maksimova) uma velha mandona.

Wladislaw Starewicz

A arte da animação chegou ao estúdio de Khanzhonkov quando ele trouxe em 1912 o polonês Wladyslaw Starewicz, que adquiriu fama com mestre da animação de fantoches em filmes como Mest kinematograficheskogo operatora (A Vingança do Cameraman) / 1912, Strekoza i muravei (A Libélula e a Formiga) / 1913 e o parte-animação, parte ação ao vivo Liliya Belgii (O Lírio da Bélgica) / 1915, parábolas da vida moderna ambientadas   no mundo dos insetos e flores. Starewitz especializou-se em filmar insetos, primeiramente em documentários e depois em forma de fantoches, transformando-os em figuras com características humanas.

A. Khanzhonkov

Khanzhonkov importou filmes que mostraram aos russos os primeiros astros estrangeiros, focalizando a atenção do público no ator: o comediante francês Max Linder, a atriz dinamarquesa Asta Nielsen, o ator dinamarquês Valdemar Psilander (com o apelido de “Garrison”) e a polonesa Apolonia Chalupiec, que ganhou fama trabalhando com Ernst Lubitsch sob o nome artístico de Pola Negri. Entretanto, os atores e atrizes russos do teatro não tinham permissão para atuar no cinema. Assim, a reputação de um ator do teatro não podia ajudar na promoção de um filme. Mas o cinema logo criou seus próprios astros como Ivan Mozzhukhin, que mais tarde, em 1918, daria sua contribuição para a célebre experiência de montagem de Kulechov e aumentaria sua fama trabalhando no cinema francês dos anos vinte. Em 1916 Mozzhukhin foi para o estúdio de Iossif Ermoliev, ex-representante da Pathé na Rússia que se tornou dono de grandes estúdios em Yalta e Moscou e após a Revolução, emigrou para a França, onde fundou a Companhia Film Albatros e passou a ser conhecido como Joseph Ermolieff.

Quando Protazanov ingressou no estúdio de Ermoliev, ele se desenvolveu como diretor realizando adaptações de clássicos da literatura, destacando-se Pikovaya dama (A Dama de Espadas) / 1916, baseado no conto de Pushkin, espetáculo com altos valores de produção, técnica diretorial inventiva no uso dos flashbacks e das posições de câmera, e uma profundidade psicológica na interpretação, especialmente por parte de Ivan Mozzhukhin.

Pikovaya dama

O ambiente depressivo causado pela guerra da Rússia contra a Austria-Hungria e Alemanha iniciada em julho de 1914 e pelo assassinato de Rasputin em 1916, que levaria à abdicação do tzar em 1917, fez com que as companhias produtoras procurassem desviar o público da realidade oferecendo-lhe, além das adaptações literárias, melodramas focados em mulheres. Em um desses filmes, Mirazhi (Miragens) / 1915, dirigido por Chardynin, Vera Kholodnaya (a primeira estrela do cinema silencioso russo) interpreta o papel de Marianna, jovem pobre e decente que está trabalhando para um milionário, Herr Dymov (Arseni Bibikov). Marianna tem uma preocupação especial e um talento para as Artes e foi precisamente por isso que Dymov a empregou para ler livros para ele. Quando Marianna conhece o filho dele (Vitold Polonsky), ela vai se afastando mais e mais de seu lar seguro e de seu noivo Sergei (Andrej Gromov) em direção ao mundo artístico boêmio e se entrega Dymov Filho. Quando ele a abandona, é tarde demais; rejeitada por sua família, ela se mata.

Yevgeni Bauer

Entretanto, o mestre incontestável do melodrama (o “Rei do Melodrama”) foi Yevgeni Bauer, considerado na Rússia dos anos 1910 como o realizador de filmes mais importante do país, que seria condenado como “um decadente” pelas histórias oficiais soviéticas.

Yevgeny Frantsevich Bauer (1865-1917), nasceu em Moscou. Rússia filho de uma família de artistas. Seu pai, Franz Bauer, era um músico de renome que tocava cítara e sua mãe uma cantora de ópera. Ele estudou na Escola de Arte, Escultura e Arquitetura de Moscou e se tornou conhecido primeiramente como cenógrafo de operetas e comédias farsescas, apresentando-se também ocasionalmente como ator amador. Era também conhecido como caricaturista, jornalista e empresário teatral. Durante os anos 1900 envolveu-se com fotografia artística.

Em 1912 foi contratado como cenógrafo para a sucursal da Pathé Moscou como assistente do futuro principal cenógrafo soviético Alexei Utkin. Em 1913 Bauer desenhou os cenários de uma superprodução de Drankov e seu sócio Alexei Taldykin para comemorar o tricentenário da Dinastia Romanov e no final do mesmo ano iniciou sua carreira como diretor na Pathé e nos estúdios de Drankov – Taldykin. Em 1914 começou a trabalhar na companhia de Khanzhonkov.

Dos 82 filmes firmemente creditados a Bauer, 26 ainda existem e são suficientes para se avaliar seu estilo original em termos de cenografia com seus interiores excepcionalmente espaçosos e suas famosas colunas, que tinham afinidade com a versão Art Nouveau do arquiteto Fedor Shekhtel. Seu domínio da iluminação, seu uso da ângulos de câmera inusitados e primeríssimos planos, sua montagem inventiva e efeitos teatrais como planos gerais através de janelas ou o uso de gazes e cortinas para alterar a imagem na tela, todas essas invenções estavam décadas adiante de seu tempo.

Bauer foi um dos primeiros diretores que usaram a tela dividida (split screen). Ele desenvolveu movimentos de câmera engenhosos, mostrando uma extraordinária profundidade de campo e obtendo efeitos dramáticos poderosos. Os travellings de Bauer mostram uma simpatia pela vida interior dos personagens em vez de apenas enfatizarem a amplitude da decoração. Lembrando o trabalho de Bauer com a luz, o ator Ivan Perestiani disse: “Um feixe de luz em suas mãos era um pincel de artista”. O discípulo mais jovem de Bauer foi Lev Kulechov, que ficou famoso pela sua experiência com a montagem.

Os melodramas de Bauer exploram os sentimentos das pessoas que habitavam um mundo que estava se extinguindo e desapareceria para sempre com a Revolução.  Eles captam o modo de vida decadente da época e lidam mais com ação psicológica do que com a ação física. Todos tinham finais infelizes. Em seguida dou alguns exemplos.

No primeiro filme de Bauer, Sumerki zhenskoi dushi (Crepúsculo da Alma de uma Mulher) / 1913, a jovem Vera Duboskaja (Nina Chernova), filha de uma condessa, leva uma vida de luxo, mas está entediada. Um dia, sua mãe a convida para fazer caridade. Vera fica muito comovida com a situação dos pobres e resolve dedicar sua vida para ajudá-los. Entretanto, um rufião, Maksim Petrov (V. Demert), aproveitando-se de sua inocência, atrai a moça para a sua morada e a estupra. Então Vera o mata. Ela se casa com o Príncipe Dolskij (A. Ugrjumov), porém quando lhe revela seu passado, ele a culpa pelo estupro. Vera abandona Dolskij e se torna uma cantora de ópera. Um dia, Dolskij a vê no palco sob um novo nome, Ellen Kay, interpretando La Traviatta, mas quando se aproxima dela, ela se recusa a aceitá-lo de volta. Dolskij se mata.

Ditya bolshogo goroda

Em outro filme de Bauer, Ditya bolshogo goroda (Garota da Cidade Grande) / 1914, uma jovem costureira Manetschka (Elena Smirnova), sonha com uma vida melhor. Seus sonhos se realizam quando chama a atenção de Viktor Kravtsov (Mikhail Salarov), um cavalheiro que a convida para jantar e faz dela uma dama, que agora se chama Mary. Algum tempo depois ela se cansou dele e quase o arruinou financeiramente. Quando Viktor propõe a Mary se mudar para fora da cidade, onde seu dinheiro seria suficiente para uma vida modesta, ela rompe com ele e arruma um novo amante. Um ano mais tarde, Viktor está ocupando um pequeno quarto, escuro e frio, ainda pensando em se encontrar novamente com Mary. Ele vai procurá-la, mas o porteiro não o deixa entrar. Quando o porteiro comunica sua presença à Elena esta lhe dá três rublos, para que ele os entregue ao pobre Viktor. Desesperado, ele se mata nos degraus da casa de Mary e ela tem a arrogância e o sangue-frio de passar por cima de seu corpo para ir ao restaurante Maxim´s, falando: “Dizem que dá sorte passar por cima de um cadáver”.

Em Nemye svideteli (Testemunhas Silenciosas) / 1914, o tema central é a interação entre a criadagem de uma residência da classe alta e seus patrões. Uma das criadas dos Kostritzyns quer deixar o emprego a fim de ficar perto de seu marido e filhos. Nastya (Dora Tschitorina), uma moça curiosa que observa tudo o que se passa no andar de cima onde ficam os aposentos dos patrões, aceita substituí-la. Pouco depois a patroa parte em uma viagem, deixando seu filho Pavel (Aleksandr Chargonin) em casa. Nastya percebe que Pavel está apaixonado por Yelena (Elsa Krueger), mas ela está mantendo um relacionamento romântico com o Barão von Roheren (Viktor Petipa). Quando Nastya consola o bêbado Pavel, este a embriaga também e a seduz. Forçada pelo pai a se casar com Pavel Kostritzyn, Ellen continua seu caso amoroso com o barão abertamente. Nastya, que se apaixonou por Pavel, assiste tudo com tristeza.

 

Griozy

Em Griozy (Devaneios) / 1915, Sergei Nedelin (Aleksandr Vyrubow), vive obcecado com a morte de sua esposa adorada Yelena (F. Werchowzewa) sempre lembrada pelas tranças que ele guardou em uma caixa de vidro. Um dia, ele pensa ter reconhecido a falecida ao ver passar na rua Tina (N. Tshernobajewa) atriz que atua em “Robert, le Diable” de Meyerbeer. Seu papel na ópera é o de uma mulher que ressuscita emergindo de um caixão. Nedelin consegue uma foto de Tina com seu autógrafo e quer vê-la pintada em um quadro vestida com as roupas de Yelena. Tina por sua vez espera obter vantagens através do relacionamento com Nedelin: ela exige as jóias e as roupas de Yelena e quando o provoca retirando as tranças da caixa de vidro e se enrolando nelas, ele a estrangula.

Deti Veka

Em Deti Veka (Filhos do Século) / 1915, Maria Nikolaevna (Vera Kholodnaya) leva uma vida simples com seu marido, caixa de um banco (Ivan Gorskij), e seu filhinho. Um dia, ao sair para fazer compras, ela se encontra com sua velha amiga Lidija Verkhovskaya (Vera Glinskaya), herdeira da fortuna de seu esposo. Lidija convida Maria para sua casa e a introduz nos prazeres mundanos da alta sociedade. Maria vê assediada por Lebedev (Arseni Biibkov), empresário rico e influente. Lebedev usa sua influência no banco para que o marido de Maria seja demitido, sem que ela saiba. Eventualmente, Maria cede aos avanços de Lebedev. Envergonhada e com sentimento de culpa, ela deixa o marido e este recebe uma proposta deo advogado de Lebedev para renunciar a Maria e à criança em troca de dinheiro. Indignado, ele recusa e se suicida.

Vera Kholodnaya e Olga Rakhmanova

Em Zhizn za zhizn (Uma Vida por Outra) / 1916, baseado no romance “Serge Panine” de Georges Ohnet, a viúva milionária Senhora Khromova (Olga Rakhmanova) tem duas filhas: uma biológica Musya (Lidyia Koreneva) e outra adotada Nata (Vera Kholodnaya). Nata está apaixonada por pelo Príncipe Bartinsky (Vitold Polonsky) mas o rico comerciante Zhurov (Ivan Perestiani) também a quer. Bartinsky perdeu muito dinheiro no jôgo e precisa se casar com uma jovem rica. Zhukov sugere que Bartinsky se case com Musya e que ele se case com Nata. Apesar das reservas das Senhora Khromova sobre Bartinsky o casamento duplo segue em frente. Musya e Bartinsky viajam em lua-de-mel, mas após seu retorno ele reaviva seu caso amoroso com Nata, que revela a verdade para a Senhora Khromova. Enquanto isso, Musya dá todo seu dinheiro para Batinsky, que ele perde nas corridas de cavalos e na mesa de jogo. Zhukov surpreende Bartinsky em um encontro íntimo com sua esposa. Tendo sido incapaz de matá-los ele faz uma denunciação caluniosa contra Bartinsky, para que ele seja punido pela lei; depois, confessa para a Senhora Khromova que sua acusação contra Bartinsky era falsa. A Senhora Khromova e Bartinsky estão no mesmo aposento quando um criado chega avisando que a polícia cercou o local. Quando a Senhora Khromova fica a sós com Bartinsky, ela sugere que ele seja “homem pelo menos uma vez na vida” e se mate. Bartinsky a desafia, ela o mata, e coloca a arma na sua mão, para que pareça um suicídio. Na última cena vemos Musia e Nata desesperadas ao verem o cadáver do homem que as duas amavam.

Nelly Raintseva

Em Nelli Raintseva (Nelli Raintseva) / 1916, Nelli (Zoya Barantsevich), entediada pela falta de sentido na sua vida provinciana, vai a uma festa organizada por alguns criados, onde é embriagada e violentada por um dos empregados de seu pai. Quando descobre que está grávida, ela se mata.

Em Umirayushchiy lebed (O Cisne Moribundo) / 1916 Viktor (Vitold Polonsky) corteja a  muda Giselle (Vera Karalli) sob o olhar vigilante de seu pai. Quando Giselle o vê com uma outra moça, ela fica enciumada e pede a seu pai que a deixe dançar no palco. Giselle faz uma bela carreira no tablado e sua performance é apreciada pelo pintor Valeri Glinsky (Andrej Gromov,) que estava procurando capturar “a morte” na tela. Vendo Giselle como um cisne moribundo no balé ele pede a ela para posar para ele, a fim de que possa pintá-la na pose final sem vida de sua dança. Quando Viktor reencontra Giselle e explica o malentendido, eles decidem se casar. Mas a energia na expressão de Giselle no seu retrato necrófilo atrapalha o pintor e ele mata Giselle a fim de que possa completar seu retrato.

Za schastiem

Em Za schastiem (Para a Felicidade) / 1917 uma viúva rica, Zoya Verenskaia (Lidiia Koreneva), está apaixonada pelo advogado Dmitrii Gzhatskii (Nikolai Radin). Entretanto, como sua filha Li (Taisia Borman) está com problema de saúde e corre o risco de perder a visão, ela adia o casamento até que sua filha esteja melhor. Em uma estadia na Criméia, um rapaz, Enrico (Lev Kuleshov), propõe casamento a Li, mas é rejeitado porque ela está secretamente enamorada de Dmitrii. Zoya ouve a conversa entre Li e Enrico e implora a Dimitrii que ele se case com Li. Dmitrii recusa e quando diz a Li que ama sua mãe, a moça fica cega.

Bauer queria fazer o papel de Enrico, mas infelizmente sofreu uma queda e quebrou a perna. Mesmo assim ele usou uma cadeira de rodas e começou a filmar seu último filme, Korol Parizha (O Rei de Paris) / 1917. Complicações inesperadas interromperam seu trabalho e ele foi internado em um hospital. O filme foi completado pela atriz Olga Rakhmanova e seus colegas. Bauer faleceu de pneumonia aos 52 anos de idade. Ficamos sem saber se ele poderia ter sido um dos grandes cineastas do período soviético, caso tivesse vivido até os anos vinte.

                                                         Filmes de Bauer em Dvd:

Existem dois dvds da Milestone Films com três filmes de Bauer: Mad Love: The Films of Evgeni Bauer e Early Russian Cinema -10 volumes, sendo que nos volumes 7, 9, e 10 estão outros três filmes de Bauer.

LYNN BARI E SUA BUSCA PELO ESTRELATO

Ela era atriz contratada de estúdio típica durante a época de ouro de Hollywood. Alta (1.70m), bonita, muito talentosa e admirada pelos fãs e colegas de trabalho, parecia destinada a se tornar uma grande estrela. Os admiradores brasileiros – que eram muitos – prognosticavam seu sucesso na tela e suas fotos – sempre elegantemente vestida – eram impressas constantemente na maioria das nossas revistas, notadamente em reportagens tipo “estrelas na intimidade” ou como modelo em anúncios de propaganda.

Lynn Bari

Para conhecer melhor o percurso de sua ascensão profissional, consultei o excelente livro de Jeff Gordon, “Foxy Lady -The Autorized Biography of Lynn Bari” (BearManor, 2010), valorizado pelos extensos depoimentos da própria biografada, entrevistas com dezenas de seus amigos, membros da família e associados profissionais, além de muitas fotos.

Lynn Bary (1919 – 1989), cujo verdadeiro nome era Marjorie Shuyler Fisher (mas seria sempre chamada de Peggy), nasceu em Roanoke, Virginia, filha de Marjorie e John Fisher. Seu irmão, John, era cinco anos mais velho. Os Fishers viveram em Roanoke até 1922, quando se mudaram para Mill Mountain e se instalaram no bairro de classe média de Walnut Hill. Em 1925 a família se transferiu para Lynchburg, onde John montou uma concessionária de automóveis. Marjorie tornou-se alcoólatra e passou a hostilizar o marido, que entrou em depressão e se suicidou, pulando da janela de um hotel. Em 1927 Marjorie foi morar com os filhos na casa de sua irmã Ellen em Melrose; dois anos depois, foi com Peggy para Boston, deixando John com a tia. Marjorie não se deu bem nos empregos que teve como recepcionista em dois escritórios e se tornou membro do Institute of Religious Sciences, onde conheceu e acabou se casando com um de seus líderes locais, o Reverendo Robert L. Bitzer. No início de 1930 o reverendo foi designado para incrementar a Christian Science em Los Angeles e inaugurar uma igreja em Hollywood, onde este movimento religioso estava prosperando.

Lynn Bari

Assim que chegou em Los Angeles, Peggy quis entrar para o cinema. Aos treze anos de idade, era uma bela adolescente e, quando viu o anúncio na página de classificados de um jornal “Procura-se moças para um musical da MGM. Tragam maiô”, com a aprovação entusiástica da mãe, levando o maiô e de sapatos de salto alto, chegou no estúdio, onde três mil mulheres também se apresentaram. No palco bem iluminado onde elas desfilaram estava Sammy Lee, diretor de danças da Fox, na ocasião trabalhando para a MGM por empréstimo. Ele estava á procura de showgirls / modelos (muitas vezes chamadas de coristas, mas que não se confundem elas, porque não eram dançarinas – apenas desfilavam com vestidos bonitos e, de vez em quando, fingiam cantar a letra de uma música pré-gravada).

O primeiro emprego de Peggy (falsificando a idade) no cinema foi como modelo em Amor de Dançarina / Dancing Lady / 1933. No mesmo ano, ainda na MGM, ela pareceu em Viva o Barão! / Meet the Baron, que foi lançado antes de Amor de Dançarina. Marjorie tinha como certo que Peggy iria se tornar uma estrela e ajudou a filha a criar o nome artístico de Lynn Bari (inspirado no prenome da atriz Lynn Fontanne e no sobrenome do escritor James Barrie (mudando a pronúncia de Barrie para Bari). Em 1934 Lynn conseguiu emprego como extra em Eu sou Suzanne! / I am Suzanne! (Fox) e A Conquista da Beleza / Search for Beauty (Paramount) e, no período 1934 – 1937, trabalhou na Fox como showgirl, extra ou em pequenos papéis em aproximadamente vinte filmes da Fox / Twentieth Century-Fox por ano, tendo sido emprestada para a MGM para atuar como showgirl em Ziegfeld, o Criador de Estrelas / The Great Ziegfeld. Quando não estava diante das câmeras, Lynn frequentava as aulas da escola de arte dramática da Fox (dirigida por Lillian Barkley), que lhe serviram também para suprir a falta de uma educação formal, que ela também complementou, frequentando bibliotecas a fim de conhecer as grandes obras literárias. Após quatro anos de muita persistência e dedicação, a jovem atriz saiu do anonimato com três filmes: O Lanceiro Espião / Lancer Spy / 1937, A Baronesa e o Mordomo / The Baroness and the Butler / 1938 e Walking Down Broadway / 1938. No primeiro filme ela fez um pequeno papel (Miss Fenwick, filha do Coronel Fenwick / Lionel Atwill) que, durante uma viagem de avião, ouve do pai, a história de espionagem) e seu nome saiu em último lugar nos créditos finais; no segundo e terceiro filme, era coadjuvante (a camareira Klari; a corista Sandra de Voe que é atropelada por um caminhão ao sair do teatro) com o nome nos créditos iniciais.

Lloyd Nolan e Lynn Bari em Testemunha Ocular

 Preston Foster e Lynn Bari em O Espião Japonês

Claire Trevor, a estrela de Walking Down Broadway, havia sido a principal atriz dos filmes B da Fox nos últimos cinco anos e, quando deixou o estúdio, Lynn herdou esta posição na unidade supervisionada por Sol Wurtzel. Tal como Trevor, Lynn era uma atriz forte e inteligente com um profundo compromisso com o seu ofício e, assim como sua antecessora, possuia uma “qualidade de estrela”, sua simples presença podia animar um filme. Entre 1938 e 1942 Lynn interpretou a heroína em 17 filmes supervisionados por Wurtzel entre eles filmes de séries como Mr. Moto (O Palpite de Mr. Moto / Mr. Moto´s Gamble / 1938); Charlie Chan (Charlie Chan na Cidade das Trevas / Charlie Chan in the City of Darkness / 1939); Big Town Girls (Meet the Girls / 1939, Desculpe Nossa Ousadia / Pardon Our Nerve / 1939); Camera Daredevills (Salvando um Reino / Sharpshooters / 1938,  Cortejando a Morte / Chasing Danger / 1939); Michael Shayne (Testemunha Ocular / Sleepers West  / 1941). Outros filmes sob contrôle de Wurtzel foram: 1938 – Casaremos Amanhã / Battle of Broadway; O Relâmpago da Pista / Speed to Burn. 1939 – Surpresa Noturna / News is Made at Night; Três Capacetes de Aço / Pack Up Your Troubles. 1940 – A Sorte Engana / City of Chance, Loura Perigosa / Free, Blonde and 21, Vingança do Passado / Earthbound, O Segredo da Noiva / Pier 13, Um Drama do Ar / Charter Pilot. 1941 – Vivemos a Pressa / We Go Fast, Minha Esposa Diverte-se / Moon Over Her Shoulder, Precisa-se de um Marido / The Perfect Snob. 1942 – O Espião Japonês  / Secret Agent of Japan.

George Sanders e Lynn Bari em Nas Garras do Falcão

Simultaneamente, salvo em uma ocasião quando, emprestada à RKO, atuou ao lado de George Sanders na série B The Falcon (Nas Garras do Falcão / The Falcon Takes Over / 1942), Lynn serviu como coadjuvante em filmes classe A (1938 – Josette / Josette, Adeus para Sempre / Always Goodbye, Mendigo Milionário / I´ll Give a Million. 1939 – A Volta de Cisco Kid / The Return of Cisco Kid, Hotel para Mulheres / Hotel for Women, Hollywood em Desfile / Hollywood Cavalcade. 1940 – A Bela Lillian Russell / Lillian Russell. 1941 – Sangue e Areia / Blood and Sand, Quero Casar-me Contigo / Sun Valley Serenade. 1942 – The Night Before the Divorce, Serenata Azul / Orchestra Wives), sendo creditada como atriz principal em Kit Carson / Kit Carson / 1941 (produzido por Edward Small) e Assim Vivo Eu / The Magnificent Dope / 1942

Dana Andrews, Lynn  Bari e Jon Hall em Kit Carson

Ao nível do filme B Lynn interpretou papéis de heroína, alegre e simpática. Nos filmes A ocorreu o contrário: Lynn foi quase que exclusivamente mostrada como uma personagem secundária insensível, geralmente como malvada, a mulher fatal da história. Ela queria estrelar filmes A, mas o estúdio estava satisfeito em mantê-la como atração principal na área do filme B, onde seu nome garantia sucesso na bilheteria. Lynn nunca teve um forte apoio publicitário para impulsionar sua ascensão ao estrelato apesar de todo seu esforço e dedicação ao trabalho.

Sonja Henie, John Payne e Lynn Bari em Quero Casar-me Contigo

Em um filme A produzido em 1941, Quero Casar-me Contigo, ela chegou perto de atingir sua meta. Nesta comédia musical dirigida por Bruce Humberstone, Lynn fazia o papel de Vivian Dawn, cantora de blues temperamental que, durante uma gravação, se interessava por Ted Scott (John Payne), pianista da orquestra de Phil Corey (Glenn Miller). Vivian contratava Phil e sua banda para se apresentar com ela em Sun Valley, no Idaho, onde surgia uma refugiada norueguesa, Karen Benson (Sonja Henie), nascendo uma rivalidade entre elas. Glamorosamente fotografada por Edward Cronjager e vestida com elegância por Travis Banton, Lynn recebeu finalmente um “tratamento” completo de estrela. No mesmo ano, sua situação promissora foi reforçada em um filme B, Minha Esposa Diverte-se / Moon Over Her Shoulder, comédia romântica com um pendor feminista dirigida por Alfred L. Werker. Lynn é Susan Rossiter, esposa negligenciada de um psiquiatra, Dr. Phillip Rossiter (John Sutton). Susan sente-se não realizada, desempenhando o modelo de uma dona de casa perfeita, sentimento agravado pela obsessão de seu marido pelo trabalho. Ele sugere que ela retome seu antigo passatempo, a pintura. Um dia ela encontra um iatista Rex Gibson (Dan Dailey) e passam o dia juntos. Ela abraça seu estilo de vida excêntrico, passa por uma renovação pessoal, e finalmente é obrigada a escolher entre o velejador e o analista. Novamente, muito bem vestida e fotografada (desta vez respectivamente por Herschel McCoy e Lucien Andriot), Lynn interpreta um papel importante com muito charme e entusiasmo.

Entre 1943 e 1946 Lynn fez : (1943 – Paixão Oriental / China Girl; Aquilo Sim, Era Vida! / Hello, Frisco, Hello. 1944 – A Ponte de San Luis Rey / The Bridge of San Luis Rey; Tampico / Tampico, Explosão Musical / Sweet and Low-Down. 1945 – O Capitão Eddie / Captain Eddie. 1946 – Choque / Shock; Lar, Doce Tortura / Home Sweet Homicide; Margie / Margie, mas em nenhum deles teve oportunidade de mostrar seu talento, fato aliás lamentado pelos críticos e seus fãs. Durante os anos de guerra a jovem atriz gozou de muita popularidade entre os soldados como pin-up e foi apelidada de “The Woo Woo Girl” e “The Girl with the Million Dollar Figure”.

Lynn Bari e Edward G. Robinson   em Tampico

Bari e Vincent Price em Choque

Lynn Bari como Pin-Up Girl

Em 1947 Lynn foi requisitada pela RKO, onde contracenou com George Raft em um filme noir muito bom, Noturno / Nocturne, dirigido por Edwin L. Marin e produzido por Joan Harrison, assistente de longa data de Alfred Hitchcock. Na trama um compositor donjuanesco é encontrado morto caso sobre o teclado de um piano. As paredes da sala estão cheias de retratos fotográficos de suas muitas conquistas. A única pista da identidade do assassino é a partitura da música, que ele estava tocando quando morreu, dedicada a uma tal de “Dolores”. Porém ele costumava chamar todas as amantes por este nome. O detetive Joe Warne (George |Raft) investiga o caso e Lynn é uma das moças dos retratos e, portanto, uma das suspeitas do crime. Mais uma vez ela recebeu um tratamento fotográfico especial, agora por um especialista do gênero, Harry J. Wild, e uma atenção também por parte da produtora, que acompanhou de perto a escolha de seu vestuário.

Lynn Bari e George Raft em Noturno

Depois deste interlúdio recompensado, Lynn voltou para a Fox, recusou indignada um papel de segunda importância que lhe ofereceram e foi suspensa. Cumpriu sua penitência e, quando retornou ao estúdio, alguns incidentes e mal entendidos provocaram sua saída do estúdio, após tantos anos de serviço. Como disse Jeff Gordon no seu livro, foi-se todo o seu apoio criativo, financeiro e emocional. Pela primeira vez em sua vida a quase-estrela estava realmente sozinha.

Turhan Bey e Lynn Bari em O Místico

Ciente de que suas opções de emprego se tornaram limitadas devido à ira de Darryl F. Zanuck contra ela, Lynn aceitou logo a primeira oferta que teve, vinda da recentemente formada Eagle-Lion, onde fez dois filmes em 1948: Morrerei Onde Nasci / The Man from Texas e O Místico / The Spiritualist ou Amazing Mr. X. Graças  sobretudo aos efeitos fotográficos  especiais proporcionados por John Alton e ao score romântico de Alexander Laszlo, o último filme citado foi o melhor que ela fez na fase final de sua carreira. Neste drama de mistério Lynn faz o papel de uma Christine Faber, herdeira rica e encantadora, que reside em uma mansão ao longo da costa da Califórnia. É na praia que Chris fica pela primeira vez ouve a voz de seu marido Paul (Donald Curtis), supostamente falecido há dois anos em um desastre de automóvel. Paul na verdade está vivo e, com a cumplicidade de um falso vidente chamado Alexis (Turhan Bey), que o ajuda a assombrar sua mulher, está armando um plano para se apossar de sua fortuna. Atuando com naturalidade, Lynn destaca-se do resto do elenco e seus close-ups belíssimos expõem sua formosura.

Lynn Bari e Ray Middleton em Minha Vida Te Pertence 

Os papéis de Lynn nos seus filmes derradeiros produzidos por companhias variadas, assinalaram um final melancólico para a sua carreira cinematográfica: 1949 – Revolta de um Coração / The Kid from Cleveland (Herbet Kline / Republic). 1951- Um Homem e Sua Alma / I´d Climb the Highest Mountain (Fox); Uma Canção e um Beijo / Sunny Side of the Street (Columbia); Abismos do Desejo / On the Loose (Filmakers / RKO). 1952 – Minha Vida Te Pertence / I Dream of Jeannie (Republic); Sinfonia Prateada / Has Anybody Seen My Gal (Universal-International). 1954 – Francis entre as Boas / Francis Joins the Wacs (U-I). 1955 – De Pernas Pro Ar / Abbott and Costello Meet the Keystone Kops (U-I) 1957 – Terror na Ilha das Mulheres / The Women of Pitcairn Island (Regal); 1958 – Damn Citizen (U-I). 1962 – As Nove Vidas de Elfego-Baca / Elfego Baca: Six-Gun Law (Walt Disney / Buena Vista). Sua trajetória no cinema sempre foi acompanhada por apresentações no rádio, e depois no teatro e na televisão, onde ainda manteve algum prestígio, até se aposentar definitivamente da vida artística em 1974.

No âmbito familiar a ascensão de Lynn para o estrelato foi sabotada por problemas não resolvidos com sua mãe dominadora e alcoólatra, três casamentos frustrados (sempre explorada pelos seus sucessivos consortes (Walter Kane, Sid Luft, Nathan Rickles) e, a partir de determinado momento de sua vida, pelo seu próprio alcolismo. Lynn morreu de ataque cardíaco em 1898, deixando um filho, John Luft.

PERSONAGENS DO WESTERN NA VIDA REAL E NA TELA – OS ÍNDIOS

Ao lado do caubói, o índio americano é a figura mais proeminente no western. Até os anos cinquenta, os índios eram apresentados na tela como assassinos, sequestradores e incendiários, raramente como indivíduos e, com toda certeza, sem uma tentativa de se compreender e refletir sobre a sua visão dos fatos históricos. Em 1950, dois filmes, Flechas de Fogo / Broken Arrow de Delmer Daves, e O Caminho do Diabo / Devil´s Doorway, de Anthony Mann, mudaram essa imagem, iniciando-se um processo de reabilitação que prosseguria nos anos seguintes. Seguem em ordem alfabética relação de dez figuras verídicas focalizadas pelo “cinema americano por excelência”, acompanhadas por um resumo de sua história e uma filmografia compreendendo apenas produções realizadas até 1979.

Captain Jack

Charles Bronson em Rajadas de Ódio

CAPTAIN JACK (circa 1840 – 1873). Chefe da tribo Modoc. Keintpoos ou Captain Jack como era chamado pelos brancos nasceu na região dos lagos que se estende pela fronteira Califórnia-Oregon. Durante a década turbulenta que se seguiu à abertura de um caminho de emigrantes através do país Modoc em 1846, o pai de Capitão Jack, líder de um pequeno grupo de Modocs, foi morto em um massacre organizado por colonos europeu-americanos.  Captain Jack assumiu o controle do grupo por sua própria iniciativa, pois a liderança Modoc não se adquiria por hereditariedade. Ele defendeu uma existência pacífica com os brancos e fez amigos entre os colonos que estavam se deslocando para Lost River Valley. Um tratado assinado em 1864 estabeleceu a remoção de todos os Modocs, juntamente com os Klamath, para uma reserva no Oregon, mas Captain Jack ficou pouco tempo naquele local. Ele levou seu grupo de 150 pessoas de volta para o Lost River Valley, esperando que uma reserva fosse instalada   ali, só para os Modocs; porém o Indian Office decidiu contra a proposta e, no final de 1872, uma tentativa frustrada de prendê-lo ocasionou a Guerra Modoc. A predileção de Captain Jack pela manutenção da paz com os brancos tornou-o impopular entre alguns de seus seguidores, que tinham razão para acreditar que seriam enforcados se Captain Jack se rendesse.  Esta facção apelou para a sua responsabilidade como líder de protegê-los, e ameaçaram substituí-lo ou matá-lo caso recusasse. Captain Jack concordou, com muita relutância, a participar do assassinato dos comissários de paz federais. Eventualmente ele foi traído por membros do seu próprio povo, capturado e enforcado em 3 de outubro de 1873.

Filmografia: 1954 – Charles Bronson em Rajadas de Ódio / Drum Beat.

Chato

Eugene Iglesias  (à direita) em Herança Sagrada

CHATO (1860? – 1934). Guerreiro apache da subtribo Chiricahua do Sul também conhecida como Nde’indai ou Pinery Apache. Sua ascendência ao papel de líder carismático começou depois da morte de Victorio em 1880, quando tentou se tornar chefe da subtribo Chiricahua do Leste também conhecida como Warm Springs, Ojo Caliente, Coppermine, MImbreños ou Mongollones. Chato executou vários ataques a colonos americanos e mexicanos em 1882. Em 1884 foi obrigado a se render e conduzido para San Carlos, Arizona pelo Tenente Britton Davis. Subsequentemente tornou-se batedor para o exército dos Estados Unidos contra seus amigos apaches e quando Geronimo fugiu da reserva em 1885, ele persuadiu pelos menos três quartos dos apaches a permanecer onde estavam.  Apesar dele e seus homens terem sido considerados pelo General Crook os responsáveis pela eventual capitulação de Geronimo, Chato também foi preso em Fort Marion. Tal como Geronimo foi eventualmente conduzido para Fort Still, Oklahoma. Ao contrário dele, viveu para se instalar finalmente na reserva Mescalero em 1913, onde morreu vítima de um acidente de automóvel.

Filmografia: 1953- Eugene Iglesias em Herança Sagrada / Taza, Son of Cochise. 1957 – George Keymas em Guerreiro Apache / Apache Warrior. 1965 – John Hoyt (“Chata”) em Duel at Diablo. 1968 – Woody Strode em Shalako / Shalako.1970 – Henry Silva (“Chatto”) em 5 Homens Selvagens / The Animals. 1971 – Charles Bronson (“Pardon Chato”) em Renegado Vingador / Chato´s Land.

Cochise

Jeff Chandler em Flechas de Fogo

COCHISE (1824? – 1874). Chefe apache da subtribo Chiricahua do Centro ou Chok’anen, dotado de um físico imponente (tinha mais do que um metro e oitenta de altura) e forte. Sua esposa era uma das filhas de Mangas Coloradas e Mangas e Cochise foram amigos e aliados até a morte do primeiro em 1863. Tal como outros apaches Chiricahua, Cochise atacava cidadãos mexicanos que viviam em ambos os lados da fronteira dos Estados Unidos e do México. Foi somente em 1861 que ele se tornou inimigo também dos americanos. A guerra entre os Estado Unidos e o bando de apaches de Cochise originou-se de um incidente ocorrido em uma casa de fazenda de adobe ao longo do riacho Sonoita no sul do Arizona, onde moravam o irlandês John Ward e sua companheira. Mexicana, Jesusa. Os apaches raptaram Felix Tellez, filho adotivo de Ward e roubaram algum gado. Este estava ausente na ocasião, mas ao retornar, queixou-se ao comandante do posto militar mais próximo, acusando Cochise de ter sido o culpado. Ward pediu ao exército que resgatasse o menino, então com cerca de doze anos. No final de janeiro de 1861 o Tenente George Bascom foi enviado para o extremo norte das Chiricahua Mountains e a estação de diligências da Overland State no Apache Pass, perto de onde Cochise habitualmente acampava. Nos acontecimentos que se seguiram, o tenente, fingindo amizade, cercou os apaches. Cochise disse a Bascom, que não havia raptado o filho de Ward nem atacado seu rancho. Bascom não acreditou nele e op reteve como refém para assegurar o retôrno do menino e do gado. Cochise usou sua faca para cortar a tenda em que estava prisioneiro e escapou. Subsequentemente, os homens de Cochise capturaram e mataram três americanos. Em dois meses mais de 150 não-indígenas foram mortos. Mangas Coloradas e Cochise uniram seus esforços para atacar colonos, mineiros e pequenos destacamentos de soldados. Eles chegaram até a atacar um contigente da California Column (Voluntários da Califórnia) do General James H. Carleton no Apache Pass em 1862, embora sua emboscada tivesse fracassado. Felix Tellez reapareceu oportunamente nos anos 1880 como Mickey Free, batedor do exército nos anos 1880s. Ele não havia sido capturado por Cochise, mas pelos apaches Coyoteros ou Western Apache. Em 1872 o General Oliver O. Howard, trabalhando com a ajuda de Thomas J. Jeffords, amigo íntimo de Cochise, conseguiu se encontrar com o chefe apache nas Dragon Mountains no sudeste do Arizona, onde lhe prometeu uma reserva que ele escolhesse. O resultado foi uma vasta reserva que incluía a maior parte do canto sudeste do território. Jeffords foi nomeado agente indígena especial da reserva. Cochise morreu dois anos depois provavelmente de um câncer no estômago.

Filmografia: 1942 – Antonio Moreno em O Vale do Sol / Valley of the Sun. 1948 – Miguel Inclan em Sangue de Heróis / Fort Apache. 1950 – Jeff Chandler em Flechas de Fogo / Broken Arrow. 1951 – Chief Yowlachie em A Revolta dos Apaches / The Last Outpost. 1952 – Jeff Chandler em O Levante dos Apaches / Battle of Apache Pass. 1953 – John Hodiak em Conquista de Apache / Conquest of Cochise. 1953 – Jeff Chandler em Herança Sagrada / Taza, Son of Cochise. 1966 – Michael Keep em Os Rifles da Desforra / 40 Guns to Apache Pass.

Crazy Horse

Anthony Quinn em O Intrépido General Custer

CRAZY HORSE (circa 1841 – 1877). Líder guerreiro da subtribo Oglala dos Teton Sioux.  Exerceu um papel importante nas campanhas do chefe Oglala Red Cloud contra os fortes e assentamentos do Wyoming em 1865-68. Participou do Fetterman Massacre (1866), do Hayfield Fight (1867) e do Wagon-Box Fight (1867). Sua habilidade na batalha e seu espírito ousado ajudaram-no a se tornar um dos líderes daqueles entre os Sioux do Sul e os Cheyenne do Norte, que se recusaram a permanecer nas reservas e frequentemente atacaram os brancos ou os rivais Crow. O primeiro casamento de Crazy Horse com uma mulher Cheyenne, estreitou sua aliança com esta tribo. Após a corrida do ouro nas Black Hills, Crazy Horse, tal como outros “hostís”, não obedeceu às ordens do Departamento de Guerra para que todas as tribos indígenas retornassem às suas reservas em 1 de janeiro de 1876. Em 17 de junho, sua força de 1.200 Oglalas e Cheyennes foi atacada na parte superior do Rio Rosebud pelo exército do General George Crook, que contava com 1300 homens. As táticas de Crazy Horse deixaram Crook perplexo e, após um dia de luta, o General se retirou com perdas significativas. Crazy Horse então seguiu para o norte e se juntou a Sitting Bull e seu grande número de seguidores no vale de Little Big Horn. Na batalha famosa de 25 de junho sua força, composta majoritariamente por Cheyennes, atacou Custer pelo norte e oeste enquanto o chefe Gall dos Hunkpapa Dakota, depois de derrotar o Major Marcus A. Reno, atacou Custer pelo sul e leste. Depois da fuga de Sitting Bull para o Canadá, Crazy Horse continuou a luta com as tropas do exército e conduziu uma campanha brilhante contra o General Nelson A. Miles. Ele se rendeu em 6 de maio de 1877. Em 5 de setembro, após ter saído da agência sem autorização, a fim de levar sua segunda esposa doente, Black Shawl, para a casa dos pais dela, foi preso em Fort Robinson. Inicialmente, estava calmo. Mas quando ficou claro que seria conduzido para uma cela, resistiu e foi morto, atingido pela baioneta de um soldado.

Filmografia: 1936 – High Eagle em A Flecha Sagrada / Custer´s Last Stand. 1941 – Anthony Quinn em O Intrépido General Custer / They Died with Their Boots On. 1944 – Chief Thundercloud em Buffalo Bill / Buffalo Bill. 1954 – Iron Eyes Cody em Índio Heróico / Sitting Bull. 1955 – Victor Mature em O Grande Guerreiro / Chief Crazy Horse. Murray Alper em Os Reis do Faroeste / The Outlaws is Coming. 1965 – Iron Eyes Cody em O Grande Masssacre / The Great Sioux Massacre. 1977 – Will Sampson em O Grande Búfalo Branco / The White Buffalo.

 

Geronimo

Chief Thundercloud em Gerônimo

GERONIMO (1829? – 1909). Curandeiro e líder da subtribo Chiricahua do Sul, chamado de Goyakla (“Aquele que boceja”) pelos apaches, nasceu e cresceu em algum lugar na região ao redor das cabeceiras do Rio Gila. Em 1958 soldados mexicanos atacaram o acampamento apache perto de Janos, no Estado de Chihuaha e mataram sua mãe, esposa e filhos. Depois disso o ódio intenso de Geronimo pelos mexicanos nunca diminuiu. Durante os anos seguintes sua fama como guerreiro cresceu, especialmente no México. Em abril de 1877, em Ojo Caliente, New Mexico ele foi preso pelo agente indígena John Clum e conduzido para San Carlos, Arizona com 110 homens de seu grupo. Geronimo permaneceu pouco notado na reserva até 1881, quando ele e outros apaches fugiram e iniciaram ataques principalmente na Sierra Madre do México, sudeste do Arizona e sudoeste do México. Em 1883 o General George Crook persuadiu-o a se render, embora ele não tenha realmente se entregado até fevereiro de 1884 – e basicamente em seu próprios temos. Ele fugiu de novo da reserva em maio de 1885 e em março de 1886 Crook de novo efetuou uma rendição condicional. A caminho do Fort Bowie, Arizona, o local combinado para a rendição, Geronimo fugiu para as montanhas mais uma vez. Finalmente, em 3 de setembro de 1886 o General Nelson Miles presidiu a rendição final e incondicional de Geronimo. Ele e outros apaches de seu grupo foram enviados para o exílio e prisão na Flórida e cinco anos depois em Fort Sill, Oklahoma. Enquanto o mantinha como prisioneiro, o governo dos Estados Unidos capitalizou sua fama exibindo-o em vários eventos (na Trans-Mississipi and International Exposition de 1898 em Omaha, na Pan American Exposition de 1901 em Buffalo e na St. Louis World´s Fair em 1904) durante os quais Geronimo ganhou dinheiro vendendo fotos de si mesmo e pequenos arcos e flechas com o nome dele. Quando ele faleceu no hospital de Fort Sill, constava da folha de pagamento federal como batedor do exército.

Filmografia: 1912 – Geronimo´s Last Raid. 1939 – Chief White House em No Tempo das Diligências / Stagecoach. 1940 – Chief Thundercloud em Gerônimo / Geronimo. 1942 -Tom Tyler em O Vale do Sol / Valley of the Sun. 1950 – Chief Thundercloud em I Killed Geronimo; Jay Silverheels em Flechas de Fogo / Broken Arrow. 1951 – John War Eagle em A Revolta dos Apaches / The Last Outpost; Miguel Inclan em Rebelião de Bravos / Indian Uprising. 1952 – Jay Silverheels em O Levante dos Apaches / The Battle of Apache Pass; Chief Yowlachie no seriado O Cavaleiro Relâmpago / Son of Geronimo. 1953 – Ian MacDonald em Herança Sagrada / Taza, Son of Cochise. 1954 – Monte Blue em O Último Bravo / Apache. 1956 – Jay Silverheels em Honra de Selvagens / Walk the Proud Land. 1962 – Chuck Connors em Sangue de Apache / Geronimo.

Quanah Parker

Henry Brandon em Terra Bruta

QUANAH PARKER (circa 1845 – 1911). Chefe comanche, filho de uma branca cativa Cynthia Ann Parker e do chefe comanche Peta Nocona. Ele comandou seu bando contra um grupo de caçadores de búfalos na Batalha de Adobe Walls em 1874, mas no ano seguinte rendeu-se ao exército. Uma vez instalado na reserva ele se adaptou à estrutura política da mesma e trabalhou para obter o melhor acordo quando o governo quis negociar os direitos fundiários dos índios em 1892. Culturalmente ele era um conservador, recusando a assimilação e é considerado o fundador da religião peyote ou Native American Church.

Filmografia: 1954 – John War Eagle em Traição Heróica / They Rode West. 1955 – Kent Smith em Comanche / Comanche.  1961 – Henry Brandon em Terra Bruta / Two Rode Together.

Mangas Coloradas

Lex Barker em Tambores da Guerra

MANGAS COLORADAS (1795? – 1863). Chefe apache da subtribo Chiricahua do Leste nascido provavelmente no sul do New Mexico. Vingando-se de injustiças feitas a seus parentes íntimos e a seu povo, ele comandou ataques e campanhas contra os mexicanos no norte de Durango no México e do oeste do Texas ao leste do Arizona. Durante os anos 1840 seus ataques no México se estenderam dos estados do norte ao longo de todo o flanco oriental da Sierra Madre. Com relação aos americanos, Mangas Coloradas expressou amizade e aliança. Em 1846, quando o General Stephen Watts Kearny estaca a caminho de Santa Fe para a Califórnia, Mangas Coloradas encontrou-se com ele ao longo da trilha do Rio Gila e prometeu manter a amizade com os americanos, oferecendo-se inclusive para a exercer parte ativa na guerra deles contra o México, oferta que Kearny respeitosamente declinou. Em 1852, Mangas Coloradas continuou a prometer amizade com os americanos, mas seus ataques contra os mexicanos continuaram implacáveis. Em 1861, quando Cochise começou a guerrear com os americanos, ele ficou do lado de seu companheiro apache, ao qual havia dado sua filha mais velha em casamento. Logo após o irromper da Guerra Civil em abril de 1861, tropas do exército dos Estados Unidos saíram do Arizona. Mangas Coroladas, Cochise e outros apaches supuseram erroneamente que haviam tido algo a ver com a retirada. Depois de uma breve ocupação do sul da Arizona pelas forças confederadas em junho de 1962, o general da União James H. Carleton e seus Voluntários da Califórnia reconquistaram o território. Em julho de 1862 um contingente da Primeira Infantaria dos Voluntários da Califórnia, comandado pelo Capitão Thomas L. Roberts partiu para o Apache Pass no extremo norte das Chiricahua Mountain. Mangas Coloradas e Cochise e seus homens, tentaram uma emboscada, mas foram derrotados. Durante o combate Mangas Coloradas foi baleado do seu cavalo por um soldado. Os apaches levaram-no para Janos em Chihuhaua no México, onde obrigaram um médico mexicano a cuidar de seu ferimento. Ele se recuperou, mas em janeiro de 1863 foi capturado perto de Pinos Altos, New Mexico, e conduzido como prisioneiro ao abandonado Fort McLane. Embora existam pelo menos quatro versões sobre o que aconteceu com Mangas Coloradas em Fort Lane – a versão oficial do exército é que ele foi morto quando tentava escapar do cativeiro – a mais provável é que ele foi morto quando se opôs com raiva contra os soldados que estavam queimando suas pernas e pés com baionetas aquecidas.

Filmografia: 1955 – Abel Fernandez em Semeando Ódio / Fort Yuma. 1956 – Lex Barker em Tambores de Guerra / War Drums. 1958 – Charles Horvath em Vingando Minha Honra / Gunmen of Laredo.1962 Chuck Connors em Sangue de Apache / Geronimo.

Red Cloud

Eduard Franz em A Um Passo da Morte

RED CLOUD (circa 1822 – 1909). Líder guerreiro da subtribo Oglala dos Teton Sioux. Nasceu perto das bifurcações do Rio Platte e, tendo ficado órfão pouco depois de seu nascimento, foi criado pelo tio materno, Chefe Smoke. Começou a participar de grupos de guerra em uma idade precoce e rapidamente ganhou uma reputação de astúcia e crueldade em ataques contra os Pawnee e os Crow. Jovem muito ambicioso envolveu-se em uma rivalidade de longa data entre Smoke e o chefe Oglala mais poderoso, Bull Bear e durante uma confrontação perto de Fort Laramie em 1841 matou o rival de seu tio. Este assassinato dividiu os Oglala durante cinquenta anos e embora tivesse conquistado certa popularidade entre os seguidores de Smoke, Red Cloud perdeu qualquer chance de alcançar a liderança geral dos Sioux. Ainda assim, seu prestígio como líder guerreiro continuou a crescer. Quando o governo dos Estados Unidos em 1865-66 decidiu abrir a trilha Bozeman através dos campos de caça dos índios na região do Rio Powder, Red Cloud e a vasta maioria dos Sioux se recusaram a reconhecer o tratado pelo qual o exército teria o direito de proteger a rota. Durante a luta resultante desta oposição veemente dos índios, Red Cloud foi o principal arquiteto das táticas dos Sioux, inclusive da armadilha que aniquilou as tropas sob comando do General William J. Fetterman.  Estas vitórias levaram a comissão federal de paz de 1867 a pensar que Red Cloud era o principal chefe Sioux e as tentativas para pôr um fim às hostilidades foram baseadas nesta suposição. Após negociações difíceis em Fort Laramie, Red Cloud em novembro de 1868 concordou com a paz em troca do abandono do exército dos fortes da região do Rio Powder e prometeu tentar manter seu povo fora da guerra. A satisfação do governo com o tratado de Fort Laramie foi injustificada, porque Red Cloud ainda era apenas um líder guerreiro para a maioria dos Sioux.  Em 1871, quando ele se instalou na reserva que o governo havia criado com o seu nome, só conseguiu reunir um-quinto da população Sioux para acompanhá-lo. Entretanto, com o transcorrer do tempo, um número cada vez maior de Sioux foi compelido a se deslocar para a reserva e Red Cloud passou o resto de sua vida esforçando-se para atender as demandas inconstantes dos brancos e a conciliar os homens de sua tribo, sem se indispor com nenhum deles.

Filmografia: 1925 – Len Haynes em Warrior Gap. 1927 – Chief Big Tree em Despojadores do Deserto / Spoilers of the West. 1932 – John White Eagle em O Fim da Trilha / End of the Trail. 1950 – John War Eagle em Coração Selvagem / Tomahawk. 1952 – Jay Silverheels em Alçapão Sangrento / Jack McCall Desperado. 1953 – John War Eagle em Hordas Selvagens / The Great Sioux Uprising. 1955 – Robert Bice em A Conquista do Oeste / The Gun That Won the West; Morris Ankrum em O Grande Guerreiro / Chief Crazy Horse; Eduard Franz em A Um Passo da Morte / The Indian Fighter; Manuel Donde em O Tirano da Fronteira / The Last Frontier.1957 – Frank de Kova em Renegando o Meu Sangue / Run of the Arrow; Eddie Little Sky em Sinistra Emboscada / Revolt at Fort Laramie.

Sitting Bull

J. Carroll Naish em Índio Heróico

SITTING BULL (circa 1831 – 1890). Chefe e curandeiro da subtribo Hunkpapa dos Teton Sioux. Nasceu perto do Rio Grand no que é hoje Dakota do Sul. Aos quatorze anos de idade ele se distinguiu na luta contra os Crow, adquirindo fama por sua coragem. Somente depois que os Generais Henry Hastings Sibley e Alfred Sully, em 1863 e 1864, marcharam contra os Sioux da subtribo Santee após a Guerra dos Dakotas ou Minnesota Santee Uprising de 1862, foi que Sitting Bull se envolveu em lutas contra os brancos Ele participou de pequenas escaramuças com a força de Sibley no verão 1863 e ajudou a defender o acampamento Teton que Sull atacou com sucesso na Killdeeer Mountain em 28 de julho de 1864. Exatamente um ano depois Sitting Bull liderou um grande grupo de guerra que sitiou o Fort Rice. Em 1866 uma parte dos Teton Sioux, inclusive o líder guerreiro Red Cloud, fez a paz com os Estados Unidos em troca de uma vasta reserva ao redor das Black Hills. Escolhido como chefe de todo os Teton, Sitting Bull, com a ajuda de guerreiros como Crazy Horse, Gall e o velho American Horse (filho do Chefe Smoke e primo de Red Cloud), se esforçou para instilar um espírito de disciplina e unidade entre os Sioux. Em 1874, a descoberta de ouro nas Black Hills um exame de mineradores penetrou na reserva dos Siouxe em 1875 o governo ordenou que toda a tribo fosse para agência perto do White River. Como nenhuma resposta chegasse por parte dos grupos nômades de Sitting Bull, uma campanha militar foi montada contra eles na primavera de 1876. Um grande número de Sioux, Cheyenne e Araphao (alguns estimam cerca de 11 mil) se reuniu com Sitting Bull na proximidade dos rios Rosebud e Little Big Horn para discutir a ameaça branca. Após muito jejum, Sitting Bul teve uma visão de soldados mortos caindo como chuva no acampamento indígena. Logo depois, guerreiros liderados por Crazy Horse derrotaram as tropas do General George Crok na batalha de Rosebud (17 de junho) e em 25 de junho cinco tropas da 7ª Cavalaria comandadas pelo Tenente Coronel George A. Custer foram aniquiladas em Little Big Horn. Sitting Bull não participou destas batalhas. Ele ficou jejuando e rezando como era adequado para a sua posição e teve uma visão de soldados no acampamento indígena. Depois das batalhas e da retaliação subsequente ele e um grupo de seguidores partiu para o Canadá, porém o governo canadense não quís se responsabilizar por eles.  Confrontados com a fome, eles voltaram para os Estados Unidos e Sitting Bull se rendeu em 19 de julho de 1881 no Fort Buford.  Ele ficou confinado em uma reserva, mas em 1885 viajou com o Buffalo Bill´s Wild West Show. Suportando com dignidade o que deve ter sido uma experiência um tanto humilhante.

Em 1890 quando o movimento religioso em defesa da cultura Sioux chamado de Ghost Dance varreu as planícies, o agente indígena James McLaughlin temeu que Sitting Bull pudesse reemergir como líder. A polícia indígena foi enviada para prendê-lo na sua cabana no Grand River. Após uma luta feroz na madrugada de 15 de dezembro, Sitting Bull, seu filho adolescente e seis de seus leais guarda-costas foram mortos.

Filmografia: 1914 – Sitting Bull, the Hostile Sioux Chief (obs. com Buffalo Bill Cody como ele mesmo). 1926 – Noble Johnson em Golpes de Audácia / Hands Up; Noble Johnson em Grito de Batalha / Flaming Frontier. 1927 – Chief Yowlachie em Sitting Bull at The Spirit Lake Massacre .1935 – Chief Thunderbird em Na Mira de um Coração / Annie Oakley. 1936 – Howling Wolf em A Flecha Sagrada / Custer´s Last Stand. 1950 – J. Carroll Naish em Annie Get Your Gun. 1953 – Michael Granger em Código de Guerreiro / Fort Vengeance. 1954 – J. Carroll Naish em Índio Heróico / Sitting Bull. 1958 – John War Eagle em Tonka e o Bravo Comache / Tonka. 1965 – Michael Pate em O Grande Massacre / The Great Sioux Massacre. 1976 – Frank Kaquitts em Oeste Selvagem / Buffalo Bill and the Indians.

Victorio

Michael Pate em Caminhos Ásperos

VICTORIO (1809? – 1880). Chefe apache da subtribo Chiricahua do Leste. Nascido no New Mexico, provavelmente na área da Black Range ou Sierra Diablo. Associado nos anos 1850 com Geronimo e depois com Mangas Colorada, após a morte deste último, ele formou um grupo de guerreiros Chiricahua do Leste e Mescalero. Eles executaram ataques por todo o interior, porém em 1865 concordaram em se instalar na reserva Ojo Caliente ou Warm Springs. Em 1877, quando o governo dos Estados Unidos os removeu à força para uma reserva inóspita em San Carlos no Arizona, Victorio e seu grupo fugiram, matando pastores de ovelhas, roubando cavalos do Exército e mulas e gado dos colonos, emboscando tropas, saqueando em Chihuahua no México. Entretanto em 14 de outubro de 1880, tropas americanas e mexicanas rastrearam-nos perto das Tres Castillos Mountains. Os mexicanos mandaram os americanos embora e então mataram todos os apaches menos dezessete deles. Um relato diz que Victorio foi morto por outro índio, um batedor Tarahumara a serviço das tropas mexicanas. Os apaches afirmaram que ele se suicidou.

Filmografia:  1953 – Michael Pate em Caminhos Ásperos / Hondo. 1957 – Larry Chance em Defensores da Fronteira / Fort Bowie. 1970 – Dan Kemp em Trilha Sangrenta / Cry Blood Apache.

 

SERIADOS DO CINEMA NO RÁDIO

Já escreví alguns artigos sobre os seriados do cinema (As Rainhas das Selvas, Lembrando Grandes Seriados, Os Seriados de Antigamente, Heróis dos Quadrinhos nos Seriados Sonoros Americanos, Seriados Mudos Americanos e Europeus, Seriados Sonoros Americanos), mas ainda não tinha pensado no rádio.

Movido pela curiosidade, consultei vários livros (On the Air -The Encyclopedia of Old-Time Radio de John Dunning, Oxford University Press, 1968; The Big Broadcast 1920 -1950 de Frank Buxton e Bill Owen, 1972; The Great American Broadcast – A Celebration of Radio´s Golden Age de Leonard Maltin, Dutton, 1997; Serials  and Series – A World Filmography 1912-1956 de Buck Rainey, McFarland & Company, 1999; World Encyclopedia of Comics ed. por Maurice Horn, Avon, 1976), para tentar identificar quais os seriados sonoros do cinema que foram ao ar pelas ondas do rádio americano. Segue abaixo o resultado de minha pesquisa, ressaltando que nem todos os personagens das séries radiofônicas são iguais aos dos seriados cinematográficos e que alguns deles receberam vozes de mais de um radioator.

Superhomem / Superman. Columbia, 1948. Baseado na história em quadrinhos criada em 1938 por Jerry Siegel e Joe Shuster. 15 episódios. Dir: Spencer Gordon Bennett, Thomas Carr. Clark Kent / Superman (Kirk Alyn), Lois Lane (Noel Neill), Perry White, editor do Daily Planet de Metropolis (Pierre Watkin), Jimmy Olsen (Tommy Bond).

Budd Collyer

No rádio: ADVENTURES OF SUPERMAN (Início 1940). Clark Kent / Superman (Clayton Bud Collyer; substituído a partir de 1950 por Michael Fitzmaurice), Lois Lane (Joan Alexander), Perry White (Julian Noa), Jimmy Olsen (Jackie Kelk). Em 1945, Batman (Gary Merrill, Stacy Harris, Matt Crowley) e Robin (Ronald Liss) juntaram-se brevemente ao Superhomem. Abertura: Locutor: “Kellog´s Pep … o cereal super delicioso … apresenta… The Adventures of Superman! Mais veloz do que uma bala”. Sonoplastia: som do ricochete do tiro de um rifle. Locutor: “Mais poderoso do que uma locomotiva!”. Sonoplastia: som de uma locomotiva. Locutor: “Capaz de saltar para o alto de edifícios de uma só vez!”. Sonoplastia: som de uma rajada de vento forte. Locutor: “Vejam!  Lá no céu!”. 1ª Voz: “É um pássaro!”. 2ª Voz (de mulher): “É um avião!”.  3ª Voz (mais forte): “É o Superhomem!”. O ator falava em um tom de voz relativamente agudo, quando interpretava Clark Kent, e depois em um tom mais profundo e forte, quando interpretava o Superhomem. A mudança de voz ocorria geralmente no meio da fala “Isto é um trabalho – para o Superhomem!”.

Buck Rogers / Buck Rogers. Universal, 1939. 12 episódios. Baseado na história em quadrinhos criada em 1929 por Phil Nowlan  e Dick Calkins. Dir: Ford Beebe, Saul Goodking. Buck Rogers (Larry “Buster” Crabbe, Wilma Deering (Constance Moore), Dr. Huer (C. Montagu Shaw), Killer Kane (Anthony Warde), Buddy Wade (Jackie Moran), Captain Rankin (Jack Mulhall), Captain Lasca (Henry Brandon).

Carl Frank

No rádio: BUCK ROGERS IN THE 25TH CENTURY (Início 1932). Buck Rogers (Curtis Arnall, Matt Crowley, Carl Frank, John Larkin), Wilma Deering (Adele Ronson, Virginia Vass). Dr, Huer (Edgar Stehli), Killer Kane (Bill Shelley, Dan Ocko, Arthur Vinton), Ardala Valmar (Elaine Melchior). Abertura Sonoplastia: Barulho de trovão feito por um tambor. Locutor (com um efeito sonoro de um eco): “Buck Rogers in the Twenty-fifth Century!”. No elenco de radioatores estavam ainda Everett Sloane e Paul Stewart, coadjuvantes de Cidadão Kane / Citizen Kane / 1941.

O Capitão Meia-Noite / Captain Midnight. Columbia, 1942. 15 episódios. Dir: James W. Horne. Baseado na série radiofônica. Captain Albright / Captain Midnight (Dave O´Brien), Joyce Ryan (Dorothy Short), Ivan Shark (James Craven), Fury (Luana Walters), Chuck (Sam Edwards), Ichabod Mudd (Guy Wilkerson).

No rádio:  CAPTAIN MIDNIGHT (Início 1939). Captain Albright / Captain Midnight (Bill Bouchey, Ed Prentiss, Paul Barnes), Joyce Ryan (Angeline Orr, Marilou Neumayer), Ivan Shark (Boris Aplon), Fury (Rene Rodier, Sharon Grainger), Chuck (Billy Rose, Jack Bivens, Johnny Coons), Patsy Donovan (Shirley Bell), Ichabod Mudd (Art Hern, Sherman Marks). Abertura Sonoplastia: Gongo soando meia-noite … avião … descendo. Locutor: “Cap …tain…Mid… night!”.

Dick Tracy. O Detetive / Dick Tracy. Republic, 1937. 15 episódios. Dir: Ray Taylor, Alan James. Baseado na história em quadrinhos criada em 1931 por Chester Gould. Dick Tracy (Ralph Byrd), Gwen Andrews (Kay Hughes), Mike McGurk (Smiley Burnette), Junior (Lee Van Atta), Moloch (John Picorri), Steve Lockwood (Fred Hamilton), Gordon Tracy (Dick Beach antes da operação, Carleton Young depois da operação), Anderson (Francis X. Bushman). Baseado na história em quadrinhos criada em 1931 por Chester Gould.

Ned Wever

No rádio: DICK TRACY (Início 1934). Dick Tracy (Bob Burlen, Barry Thomson, Ned Wever, Matt Crowley; Pat Patton (Walter Kinsella); Junior Tracy (Jackie Kelk, Andy Donnelly); Tess Trueheart (Helen Lewis). Abertura Sonoplastia: sinais de códigos de rádio. Locutor: “Aqui é Dick Tracy no caso de … Preparem-se para a ação!”. Sonoplastia: Carros partindo sob o som de sirenes. Locutor: “Vamos lá, rapazes!”. Locutor: “Sim, é Dick Tracy. Protetor da Lei e da Ordem!”. No elenco de radioatores estava Mercedes Mc Cambridge, a rival de Joan Crawford em Johnny Guitar / Johnny Guitar / 1954.

Flash Gordon / Flash Gordon. Universal, 1936. 13 episódios. Baseado na história em quadrinhos criada em 1934 por Alex Raymond. Dir: Frederick Stephani. Flash Gordon (Larry “Buster” Crabbe), Dale Arden (Jean Rogers), Emperor Ming (Charles Middleton), Aura (Priscilla Lawson), Vultan (John Lipson), Prince Barin (Richard Alexander), Dr. Zarkov (Frank Shannon).

No rádio: FLASH GORDON (Início 1935). Flash Gordon (Gale Gordon), Dale Arden (atriz desconhecida), Dr. Zarkoff (Maurice Franklin), Ming (Bruno Wick). Embora Famoso nos quadrinhos e nos seriados, o programa radiofônico teve vida curta. Ficou apenas 26 semanas no ar e curiosamente terminou com Flash e seus companheiros caindo na selva e sendo resgatados por… Jungle Jim (Jim das Selvas), que se tornou o próximo seriado da emissora. No elenco de radioatores estavam ainda Everett Sloane e Ray Collins coadjuvantes de Cidadão Kane.

Os Tambores de Fu Manchu / Drums of Fu Manch. Republic, 1940. 15 episódios. Baseado no romance de Sax Rohmer. Dir: William Witney, John English. Fu Manchu (Henry Brandon), Sir Dennis Nayland Smith (William Royle), Allen Parker (Robert Kellard), Fah Lo Suee (Gloria Franklin), Dr. Petrie (Olaf Hytten), Professor Randolph (Tom Chatterton), Mary Randolph (Luana Walters).

No rádio: FU MANCHU (Início 1929-31). Fu Manchu (Arthur Hughes, John Daly, Harold Huber), Nayland Smith (Charles Warburton), Dr. James Petrie (Bob White), escrava Karameneh (Sunda Love, Charlote Manson). Houve uma retransmissão, THE SHADOW OF FU MANCHU com Hanley Stafford como Nayland Smith e Gale Gordon como Dr. James Petrie.

O Besouro Verde / The Green Hornet. Columbia, 1940. 13 episódios. Baseado na série radiofônica. Dir: Ford Beebe, Ray Taylor. Britt Reid / The Green Hornet (Gordon Jones), Lenore Case (Anne Neagle), Kato o mordomo filipino de Britt (Keye Luke), Michael Axford (Wade Boteler), Jasper Jenks (Philip Trent), Dean (Walter McGrail), Corey (Gene Rizzi), Pete Hawks (John Kelly).

 

Britt Reid

No rádio: THE GREEN HORNET (Início 1936). Britt Reid / Besouro Verde (Al Hodge, Donovan Faust, Bob Hall, Jack McCarth), Kato (Tokutaro Hayashi renomeado   Raymond Toyo por razões profissionais), Rolland Parker, Michael Tolan), Lenore Case (Leonore Allman), Michael Axford (Jim Irwin), Gilly Shea), Ed Lowry (Jack Petruzzi), jornaleiro que fechava cada transmissão, anunciando o último triunfo do Besouro Verde (Rollon Parker).

Jim das Selvas / Jungle Jim. Universal, 1937. 15 episódios. Baseado na história em quadrinhos criada em 1934 por Alex Raymond. Dir: Ford Beebe, Cliff Smith. Jungle Jim (Grant Withers), Joan (Betty Jane Rhodes), Malay Mike (Raymond Hatton), The Cobra (Henry Brandon), Shanghai Lil (Evelyn Brent), Bruce Redmond (Bryant Washburn), Kolu (Al Duvall).

No rádio: JUNGLE JIM (Início 1935). Jungle Jim (Matt Crowley, Gerald Mohr), Shanghai Lil (Franc Hale), Kolu (Juano Hernandez), Tiger Lil (Irene Winston), Tom Sun (Owen Jordan), Singh-Lee (Arthur Hughes), Van (Jack Loyd).

O Guarda Vingador / The Lone Ranger. Republic, 1936. 15 episódios. Baseado no personagem criado por Frank Stryker para o rádio, depois levado em 1938 para os quadrinhos. Dir: William Witney, John English. Allan King / The Lone Ranger ((Lee Powell), Tonto (Chief Thundercloud, Bert Rogers (Herman Brix), Joan Blanchard (Lynn Roberts), Jim Clark (George Letz, depois conhecido como George Montgomery), Dick Forrest (Lane Chandler), Bob Stuart (Hal Taliaferro).

Earle Graser

No rádio: THE LONE RANGER (Início 1933). The Lone Ranger (George Stenius – depois conhecido como o diretor George Seaton, Jack Deeds, James Jewell, Earle Graser, Brace Beemer), Tonto (John Todd), Dan Reid, sobrinho do Lone Ranger (Ernie Stanley, James Lipton, Dick Beals), Butch Cavendish (Jay Michael), Thunder Martin Paul Hughes). Tema musical: Abertura da ópera “Guilherme Tell” de Rossini. Outros temas:  Les Preludes de Liszt, Abertura de 1812 de Tchaikovsky, Danças Polovetsianas da ópera Príncipe Igor de Borodin, música incidental da suíte Rosamunde de Schubert e várias passagens de Mendelssohn, Wagner, Strauss e outros compositores clássicos. Sonoplastia: Tropel de cavalos. Voz do Lone Ranger: Hi-yo Silver!!! Sonoplastia: Tiros e tropel de cavalos. Locutor: Um cavalo fogoso com a velocidade da luz, uma nuvem de poeira e um grito forte Hi-yo Silver! The L-o-o-o-ne Ranger! No elenco de radioatores estava ainda John Hodiak, conhecido coadjuvante dos filmes da MGM.

Mandrake, o Mágico / Mandrake, The Magician. Columbia, 1939. 12 episódios. Baseado na história em quadrinhos criada em 1934 por Lee Falk e Phil Davis. Dir: Sam Nelson, Norman Deming. Mandrake (Warren Hull), Betty (Doris Weston), Lothar (Al Kikume), Tommy (Rex Downing), Andre (Edward Earle), Professor Houston (Forbes Murray), Webster (Kenneth MacDonald).

Raymond Edward Johnson

No rádio: MANDRAKE, THE MAGICIAN (Início 1940.) Mandrake (Raymond Edward Johnson), Lothar (Juano Hernandez), Princess Narda (Francesca Lenni). Ao contrário do seriado cinematográfico a série radiofônica conservou a personagem da Princesa Narda. Mandrake: Invoco legem magiciarum (Invoco a lei da mágica).

Aventuras de Red Ryder / Adventures of Red Ryder. Republic, 1940. 12 episódios. Baseado na história em quadrinhos criada em 1938 por Fred Harman. Dir: William Witney, John English. Red Ryder (Don “Red” Barry), Little Beaver (Tommy Cook), Ace Hanlon (Noah Beery Sr.), Calvin Drake (Harry Worth), One -Eye (Bob Kortman), Colonel Tom Ryder (William Farnum), Duchess (Maude Pierce Allen), Beth (Vivian Coe), Cherokee Sims (Hal Taliaferro), Shark (Ray Teal), One-Eyed Chapin (Robert Kortman).

No rádio: RED RYDER (Início 1942). Red Ryder (Reed Hadley, Carlton KaDell, Brooke Temple, Little Beaver (Tommy Cook, Franklin Bresee, Henry Blair, Johnny McGovern, Sammy Ogg), Buckskin Blodgett (Horace Murphy), Roland Rolinson (Arthur C. Bryan). Sonoplastia: Tropel de cavalos. Locutor: “Do Oeste vem o famoso e valente cowboy – Red Ryder!”. 

A Sombra do Terror / The Shadow. Columbia, 1940. 15 episódios. Baseado no personagem criado em uma pulp story de 1931 por Walter Brown Gibson sob o pseudônimo de Maxwell Grant. Depois do seriado do cinema, foi levado para os quadrinhos, desenhado por Vernon Greene. Dir: James W. Horne. The Shadow / Lamont Cranston / Lin Chang (Victor Jory), Margot Lane (Veda Ann Borg), Harry Vincent (Robert Moore), Turner (Robert Fiske), Stanford Marshall / Black Tiger (J. Paul Jones), Flint (Jack Ingram), Roberts (Charles Hamilton), Commissioner Ralph Weston (Frank La Rue), Inspector Cordona (Edward Piel Sr.).

No rádio: THE SHADOW (Início 1930). The Shadow (James La Curto, Frank Readick, Orson Welles (aos 22 anos de idade), Bill Johnstone, Bret Morrison, John Archer, Steve Courtleigh), Margo Lane (Agnes Moorehead, Marjorie Anderson, Judith Allen, Laura Mae Carpenter, Lesley Woods, Grace Mathews, Gertrude Warne), Commissioner Weston (Ray Collins, Arthur Vinton). No elenco de radioatores estavam ainda: Keenan Wynn, Everett Sloane, Ted de Corsia.

Orson Welles

Em 1943 houve uma versão do seriado radiofônico americano, transmitida pela Rádio Nacional às 22h05 das terças-feiras sob o patrocínio das lâminas de barbear Gilette Azul, com o personagem interpretado por Saint Clair Lopes. Em 1944 foi ao ar pela Radio Record, com a voz de Otávio Gabus Mendes. Os ouvintes da época nunca se esqueceram da famosa frase: “Quem sabe o mal que se esconde nos corações humanos?… O Sombra sabe!…” Sonoplastia: gargalhada apavorante. Algumas crianças ficavam com medo; outras, mais corajosas, gostavam de imitar a voz cavernosa do herói.

 O Terror dos Mares / The Sea Hound. Columbia, 1947. 15 episódios. Baseado na série radiofônica. Dir: Walter B. Eason, Mach Wright. Captain Silver (Buster Crabbe), Tex (Jimmy Lloyd), Ann Whitney (Pamela Blake), Jerry (Ralph Hodges), Admiral (Robert Barron), Stanley Rand (Hugh Prosser), Manila Pete (Rick Vallin), Kukai (Spencer Chan), Vardman (Pierce Lyden), Singapore Manson (Rusty Wescott). No rádio: THE SEA HOUND (Início 1942). Captain Silver (Ken Daigneau), Jerry (Bobby Hastings).

 Aventuras de Chico Viramundo / Adventures of Smilin’ Jack. Universal, 1943. 13 episódios. Baseado. Na história em quadrinhos criada em 1933 por Zack Mosler. Dir: Ray Taylor, Lewis D. Collins. Smilin’ Jack (Tom Brown), Janet (Marjorie Lord), Wu Tan (Philip Ahn), Kushimi (Jay Novello), Lo San (Nigel de Brulier), Tommy (Edgar Barrier), Kageyama (Turhan Bey), Frauline Von Teufel (Rose Hobart), Captain Wing (Keye Luke), General Kai Ling (Sidney Toler), Mah Ling (Cyril Delavani). No rádio: SMILIN`JACK (Início 1939). Smilin’ Jack (Frank Readick). Locutor: Tom Shirley. Abertura Sonoplastia: zumbido de um avião e uma voz ordenando: “Limpem a pista para Smilin’ Jack!

Terry e os Piratas / Terry and the Pirates. Columbia, 1940.15 episódios. Baseado na história em quadrinhos criada em 1934 por Milton Caniff. Dir: James W. Horne.Terry Lee (William Tracy), Pat Ryan (Granville Owen), Normandie Drake (Joyce Bryant), Connie (Allen Jung), Big Stoop (Victor De Camp), Dragon Lady (Sheila Darcy), Fang (Dick Curtis), Dr.Lee (J. Paul Jones), Allen Drake (Forrest Taylor), Stanton (Jack Ingram). No rádio: TERRY AND THE PIRATES (Início 1937). Terry Lee (Jackie Kelk, Cliff Carpenter, Owen Jordan, Bill Fein), Pat Ryan (Clayton Budd Collyer, Warner Anderson, Bob Griffin, Larry Alexander), Dragon Lady (Agnes Moorehead, Adelaide Klein,Marion Sweet), Connie (Cliff Norton, John Gibson, Peter Donald), Flip Corkin (Ted De Corsia), Eleta (Greta Rozan), Burma (Frances Chaney), Hotshot Charlie (Cameron Andrews). Locutor: Douglas Browning. Abertura Sonoplasita: de um gongo.Locutor: