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UM REI DO MELODRAMA NOS PRIMÓRDIOS DO CINEMA RUSSO

A História do Cinema Russo tem sido mais divulgada a partir das experiências de montagem de cineastas do cinema soviético dos anos 1920 como Kulechov, Vertov e Eisenstein e das atividades da Fábrica de Atores Excêntricos (FEK) de Kozintzev e Trauberg, omitindo o período pré-revolucionário (1908-1919), do qual procurarei fazer um breve resumo antes de apresentar o “Rei do Melodrama”.

O cinematógrafo foi apresentado na Rússia por Francis Doublier, que trabalhava no laboratório da fábrica Lumière. Sua chegada em Moscou coincidiu com a coroação do Tzar Nicolau II, marcada para 14 de maio de 1896, que foi filmada por Charles Moisson, operador de câmera acompanhando Doublier na ocasião. Em março de 1897 o cinematógrafo estava percorrendo cidades russas, familiarizando as pessoas com a nova atração. Os filmes eram exibidos principalmente em estandes de feiras e exposições e não em lugares fixos. Os primeiros cinemas surgiram a partir de 1903 e se espalharam pelo país, atraindo público de todas as classes sociais.

No final do século dezenove a Gaumont e a Pathé dominavam o mercado cinematográfico russo, mas gradualmente as platéias russas cansaram-se de ver somente imagens filmadas em outros países em vez de verem sua própria cultura.  A Rússia tinha condições de realizar sua própria produção doméstica, e muitos russos haviam adquirido experiência trabalhando nas companhias francesas que mantinham negócios no país.

A. Drankov

A produção de filme na Rússia começou em 1907 quando Alexander Drankov, fotógrafo oficial da Duma (Assembléia Legislativa), abriu um escritório em São Petersburgo e anunciou que faria filmes que ofereceriam imagens autênticas do país. Na mesma ocasião a Gaumont e a Pathé também inauguraram seus próprios estúdios na Rússia. Em 1908 Drankov já havia produzido uma série de filmes intitulada “Rússia Pitoresca”, que vendeu também para outros países. No mesmo ano ele produziu o primeiro filme narrativo, Stenka Razin, dirigido por Vladimir Romashkov, focalizando a trajetória do famoso rebelde que se tornou um grande herói popular no seu país.

Em 1909 surgiram duas novas companhias: 1. a Thiemann & Reinhardt, fundada por Pavel Thiemann (que havia trabalhado na sucursal russa da Gaumont) e Friedrich Reinhardt (próspero comerciante de tabaco), começou distribuindo filmes feitos pelas companhias Nordisk (dinamarquesa), Ambrosio (italiana) e Vitagraph (americana) e depois começou a produzir seus próprios filmes na sua firma Gloria, contratando diretores como Vladimir Gardin e Yakov Protazanov e posteriormente VIacheslav Viskovsky, Vadimir Uralsky e Vsevolod Meyerhold. 2. a Khanzhonkov foi fundada pelo ex-capitão do exército Alexsandr Khanzhonkov, concorrente de Drankov e produtor de um dos primeiros filmes de longa-metragem russo, Oborona Sevastopolya (Defesa de Sebastopol).

A Pathé Moscou competiu com Drankov e as duas novas empresas. Os primeiros filmes da Pathé produzidos na Rússia e dirigidos pelo franco-dinamarquês Kai Hansen, Vasili Goncharov e André Maître focalizaram figuras históricas como o grão-príncipe Dmitri Donskoi e Pedro, o Grande. Um dos filmes desta série foi Kniazhna Tarakanowa (Princesa Tarakanowa) / 1910, dramatização de um evento histórico envolvendo a princesa suspeita de reivindicar o trono ocupado por Catarina, a Grande.  O filme foi dirigido por Hansen e Maître.

As adaptações dos clássicos da literatura – Pushkin, Gogol e Chekov – eram muito populares assim como as histórias místicas e sobrenaturais que haviam inspirado o Romantismo. Por exemplo o filme Rusalka / 1910, dirigido por Goncharov baseado em uma lenda folclórica, transformada em um poema dramático inacabado de Pushkin, contava a história da filha de um moleiro que é seduzida e abandonada por um príncipe. Desesperada, ela se afoga e ele passa a ser atormentado pela imagem da moça, como se fosse um espírito das águas (rusalka).

Ivan Mozzhukhin

Os filmes russos também começaram a abordar o melodrama. Snokhach (O Amante da Nora) / 1912), dirigido por Alexander Ivanov-Gai e Petr Chardynin, versa sobre a prática de pais ou sogros que abusam sexualmente de suas filhas e noras. Ivan (Ivan Mozzhukhin) e sua esposa Lusha (Tatyana Shornikova) vivem uma vida tranquila, porém o pai de Ivan (Arseni Bibikov) estupra Lusha. Quando fica grávida, ela se enforca de vergonha. O nome de um dos primeiros astros do cinema russo inicial aparecia nos cartazes publicitários da produção: Ivan Mozzhukhin (pronunciado como Mosjoukine depois de sua emigração para a França); Krestianskaia dolia (O Lote do Camponês / 1912), dirigido por Goncharov, examinava a impossibilidade de amor para uma jovem camponesa. Masha (Alexandra Goncharova) e Petr (Ivan Mozzhukhin) estão apaixonados e os pais consentem no casamento. Mas o destino desfere um duro golpe: a casa dos pais de Masha se incendeia e o matrimônio é cancelado porque a moça perdeu seu dote. Masha vai trabalhar como empregada doméstica na cidade onde a princípio rechaça os avanços do patrão. Em uma montagem paralela o diretor mostra o sofrimento de seus pais após o incêndio e sua agitação emocional, surgindo então uma motivação psicológica para que ela acabe cedendo ao assédio em troca de uma grande soma de dinheiro, que ela leva para seus progenitores. Entretanto, seu amor por Petr, que agora está casado com uma mulher dura e cruel, está irremediavelmente perdido: Masha se casa com um senhor de idade; Doch kuptsa Bashkirova / 1913 (A Filha do Mercador Bashkirov), depois denominado Drama na Volge (Drama no Volga) dirigido por Nikolai Larin, fala sobre casamentos arranjados para benefício financeiro e a impossibilidade de amor romântico.  A filha de um mercador, Nadia (atriz não creditada) ama o jovem mordomo Yegorushka (ator não creditado), mas seu pai não pode saber: ele arranjou o casamento de Nadia com um mercador rico, que ela não ama. A mãe de Nadia ajuda a filha a se encontrar com seu amado em segredo. Quando o pai de Nadia chega em casa inesperadamente, as duas mulheres escondem Yegorushka embaixo de um colchão onde ele morre sufocado. Elas pedem a um camponês que as ajude a se livrar do corpo, que é jogado no rio em um barril. Entretanto, o camponês chantageia Nadia, exigindo jóias e depois a estupra. Nadia ouve o camponês gabar-se do estupro na taverna; ela tranca o estuprador e seu público na taverna e ateia fogo no estabelecimento; Kliuchi schast’ ia (As Chaves de Felicidade) / 1913, dirigido por Gardin e Protazanov e baseado no romance sucesso de vendas de Anastasia Verbitskaya, conta como uma mulher adiante de seu tempo, Manja Elcova (Olga Preobrazhenskaya), tenta se adaptar à vida moderna e acaba se matando.

Roman s kontrabasom

A comédia também esteve presente no ínicio do cinema russo primeiramente como esquetes cômicos de 10 minutos e depois esquetes mais longos, surgindo a comédia de situação, representada, por exemplo, por Roman s kontrabasom (Romance com Contrabaixo) / 1911, baseado em uma história de Anton Chekov e dirigido por Kai Hansen. A ação transcorre no campo, onde primeiro um tocador de contrabaixo (Nikolai Vasilyev) e depois a Princesa Bibulova (Vera Gorskaya) têm suas roupas roubadas enquanto nadam em um lago. Como um verdadeiro cavalheiro o músico oferece à dama a caixa de seu contrabaixo para ela se esconder, mas enquanto ele vai buscar socorro, a caixa é encontrada e transportada para seu destino. Quando a caixa é aberta uma dama de maiô muito envergonhada sai da caixa. Em outra comédia, Domik v Kolomne (A Casa em Kolomna) / 1913, baseada em um poema dramático de Pushkin e dirigida por Chardynin, um homem (Ivan Mozzhukhin) se disfarça de mulher, fazendo-se passar de cozinheira, a fim de ficar perto de sua namorada (Sofia Goslavskaya), que faz a faxina da casa sob a supervisão de sua mãe viúva (Praskoya Maksimova) uma velha mandona.

Wladislaw Starewicz

A arte da animação chegou ao estúdio de Khanzhonkov quando ele trouxe em 1912 o polonês Wladyslaw Starewicz, que adquiriu fama com mestre da animação de fantoches em filmes como Mest kinematograficheskogo operatora (A Vingança do Cameraman) / 1912, Strekoza i muravei (A Libélula e a Formiga) / 1913 e o parte-animação, parte ação ao vivo Liliya Belgii (O Lírio da Bélgica) / 1915, parábolas da vida moderna ambientadas   no mundo dos insetos e flores. Starewitz especializou-se em filmar insetos, primeiramente em documentários e depois em forma de fantoches, transformando-os em figuras com características humanas.

A. Khanzhonkov

Khanzhonkov importou filmes que mostraram aos russos os primeiros astros estrangeiros, focalizando a atenção do público no ator: o comediante francês Max Linder, a atriz dinamarquesa Asta Nielsen, o ator dinamarquês Valdemar Psilander (com o apelido de “Garrison”) e a polonesa Apolonia Chalupiec, que ganhou fama trabalhando com Ernst Lubitsch sob o nome artístico de Pola Negri. Entretanto, os atores e atrizes russos do teatro não tinham permissão para atuar no cinema. Assim, a reputação de um ator do teatro não podia ajudar na promoção de um filme. Mas o cinema logo criou seus próprios astros como Ivan Mozzhukhin, que mais tarde, em 1918, daria sua contribuição para a célebre experiência de montagem de Kulechov e aumentaria sua fama trabalhando no cinema francês dos anos vinte. Em 1916 Mozzhukhin foi para o estúdio de Iossif Ermoliev, ex-representante da Pathé na Rússia que se tornou dono de grandes estúdios em Yalta e Moscou e após a Revolução, emigrou para a França, onde fundou a Companhia Film Albatros e passou a ser conhecido como Joseph Ermolieff.

Quando Protazanov ingressou no estúdio de Ermoliev, ele se desenvolveu como diretor realizando adaptações de clássicos da literatura, destacando-se Pikovaya dama (A Dama de Espadas) / 1916, baseado no conto de Pushkin, espetáculo com altos valores de produção, técnica diretorial inventiva no uso dos flashbacks e das posições de câmera, e uma profundidade psicológica na interpretação, especialmente por parte de Ivan Mozzhukhin.

Pikovaya dama

O ambiente depressivo causado pela guerra da Rússia contra a Austria-Hungria e Alemanha iniciada em julho de 1914 e pelo assassinato de Rasputin em 1916, que levaria à abdicação do tzar em 1917, fez com que as companhias produtoras procurassem desviar o público da realidade oferecendo-lhe, além das adaptações literárias, melodramas focados em mulheres. Em um desses filmes, Mirazhi (Miragens) / 1915, dirigido por Chardynin, Vera Kholodnaya (a primeira estrela do cinema silencioso russo) interpreta o papel de Marianna, jovem pobre e decente que está trabalhando para um milionário, Herr Dymov (Arseni Bibikov). Marianna tem uma preocupação especial e um talento para as Artes e foi precisamente por isso que Dymov a empregou para ler livros para ele. Quando Marianna conhece o filho dele (Vitold Polonsky), ela vai se afastando mais e mais de seu lar seguro e de seu noivo Sergei (Andrej Gromov) em direção ao mundo artístico boêmio e se entrega Dymov Filho. Quando ele a abandona, é tarde demais; rejeitada por sua família, ela se mata.

Yevgeni Bauer

Entretanto, o mestre incontestável do melodrama (o “Rei do Melodrama”) foi Yevgeni Bauer, considerado na Rússia dos anos 1910 como o realizador de filmes mais importante do país, que seria condenado como “um decadente” pelas histórias oficiais soviéticas.

Yevgeny Frantsevich Bauer (1865-1917), nasceu em Moscou. Rússia filho de uma família de artistas. Seu pai, Franz Bauer, era um músico de renome que tocava cítara e sua mãe uma cantora de ópera. Ele estudou na Escola de Arte, Escultura e Arquitetura de Moscou e se tornou conhecido primeiramente como cenógrafo de operetas e comédias farsescas, apresentando-se também ocasionalmente como ator amador. Era também conhecido como caricaturista, jornalista e empresário teatral. Durante os anos 1900 envolveu-se com fotografia artística.

Em 1912 foi contratado como cenógrafo para a sucursal da Pathé Moscou como assistente do futuro principal cenógrafo soviético Alexei Utkin. Em 1913 Bauer desenhou os cenários de uma superprodução de Drankov e seu sócio Alexei Taldykin para comemorar o tricentenário da Dinastia Romanov e no final do mesmo ano iniciou sua carreira como diretor na Pathé e nos estúdios de Drankov – Taldykin. Em 1914 começou a trabalhar na companhia de Khanzhonkov.

Dos 82 filmes firmemente creditados a Bauer, 26 ainda existem e são suficientes para se avaliar seu estilo original em termos de cenografia com seus interiores excepcionalmente espaçosos e suas famosas colunas, que tinham afinidade com a versão Art Nouveau do arquiteto Fedor Shekhtel. Seu domínio da iluminação, seu uso da ângulos de câmera inusitados e primeríssimos planos, sua montagem inventiva e efeitos teatrais como planos gerais através de janelas ou o uso de gazes e cortinas para alterar a imagem na tela, todas essas invenções estavam décadas adiante de seu tempo.

Bauer foi um dos primeiros diretores que usaram a tela dividida (split screen). Ele desenvolveu movimentos de câmera engenhosos, mostrando uma extraordinária profundidade de campo e obtendo efeitos dramáticos poderosos. Os travellings de Bauer mostram uma simpatia pela vida interior dos personagens em vez de apenas enfatizarem a amplitude da decoração. Lembrando o trabalho de Bauer com a luz, o ator Ivan Perestiani disse: “Um feixe de luz em suas mãos era um pincel de artista”. O discípulo mais jovem de Bauer foi Lev Kulechov, que ficou famoso pela sua experiência com a montagem.

Os melodramas de Bauer exploram os sentimentos das pessoas que habitavam um mundo que estava se extinguindo e desapareceria para sempre com a Revolução.  Eles captam o modo de vida decadente da época e lidam mais com ação psicológica do que com a ação física. Todos tinham finais infelizes. Em seguida dou alguns exemplos.

No primeiro filme de Bauer, Sumerki zhenskoi dushi (Crepúsculo da Alma de uma Mulher) / 1913, a jovem Vera Duboskaja (Nina Chernova), filha de uma condessa, leva uma vida de luxo, mas está entediada. Um dia, sua mãe a convida para fazer caridade. Vera fica muito comovida com a situação dos pobres e resolve dedicar sua vida para ajudá-los. Entretanto, um rufião, Maksim Petrov (V. Demert), aproveitando-se de sua inocência, atrai a moça para a sua morada e a estupra. Então Vera o mata. Ela se casa com o Príncipe Dolskij (A. Ugrjumov), porém quando lhe revela seu passado, ele a culpa pelo estupro. Vera abandona Dolskij e se torna uma cantora de ópera. Um dia, Dolskij a vê no palco sob um novo nome, Ellen Kay, interpretando La Traviatta, mas quando se aproxima dela, ela se recusa a aceitá-lo de volta. Dolskij se mata.

Ditya bolshogo goroda

Em outro filme de Bauer, Ditya bolshogo goroda (Garota da Cidade Grande) / 1914, uma jovem costureira Manetschka (Elena Smirnova), sonha com uma vida melhor. Seus sonhos se realizam quando chama a atenção de Viktor Kravtsov (Mikhail Salarov), um cavalheiro que a convida para jantar e faz dela uma dama, que agora se chama Mary. Algum tempo depois ela se cansou dele e quase o arruinou financeiramente. Quando Viktor propõe a Mary se mudar para fora da cidade, onde seu dinheiro seria suficiente para uma vida modesta, ela rompe com ele e arruma um novo amante. Um ano mais tarde, Viktor está ocupando um pequeno quarto, escuro e frio, ainda pensando em se encontrar novamente com Mary. Ele vai procurá-la, mas o porteiro não o deixa entrar. Quando o porteiro comunica sua presença à Elena esta lhe dá três rublos, para que ele os entregue ao pobre Viktor. Desesperado, ele se mata nos degraus da casa de Mary e ela tem a arrogância e o sangue-frio de passar por cima de seu corpo para ir ao restaurante Maxim´s, falando: “Dizem que dá sorte passar por cima de um cadáver”.

Em Nemye svideteli (Testemunhas Silenciosas) / 1914, o tema central é a interação entre a criadagem de uma residência da classe alta e seus patrões. Uma das criadas dos Kostritzyns quer deixar o emprego a fim de ficar perto de seu marido e filhos. Nastya (Dora Tschitorina), uma moça curiosa que observa tudo o que se passa no andar de cima onde ficam os aposentos dos patrões, aceita substituí-la. Pouco depois a patroa parte em uma viagem, deixando seu filho Pavel (Aleksandr Chargonin) em casa. Nastya percebe que Pavel está apaixonado por Yelena (Elsa Krueger), mas ela está mantendo um relacionamento romântico com o Barão von Roheren (Viktor Petipa). Quando Nastya consola o bêbado Pavel, este a embriaga também e a seduz. Forçada pelo pai a se casar com Pavel Kostritzyn, Ellen continua seu caso amoroso com o barão abertamente. Nastya, que se apaixonou por Pavel, assiste tudo com tristeza.

 

Griozy

Em Griozy (Devaneios) / 1915, Sergei Nedelin (Aleksandr Vyrubow), vive obcecado com a morte de sua esposa adorada Yelena (F. Werchowzewa) sempre lembrada pelas tranças que ele guardou em uma caixa de vidro. Um dia, ele pensa ter reconhecido a falecida ao ver passar na rua Tina (N. Tshernobajewa) atriz que atua em “Robert, le Diable” de Meyerbeer. Seu papel na ópera é o de uma mulher que ressuscita emergindo de um caixão. Nedelin consegue uma foto de Tina com seu autógrafo e quer vê-la pintada em um quadro vestida com as roupas de Yelena. Tina por sua vez espera obter vantagens através do relacionamento com Nedelin: ela exige as jóias e as roupas de Yelena e quando o provoca retirando as tranças da caixa de vidro e se enrolando nelas, ele a estrangula.

Deti Veka

Em Deti Veka (Filhos do Século) / 1915, Maria Nikolaevna (Vera Kholodnaya) leva uma vida simples com seu marido, caixa de um banco (Ivan Gorskij), e seu filhinho. Um dia, ao sair para fazer compras, ela se encontra com sua velha amiga Lidija Verkhovskaya (Vera Glinskaya), herdeira da fortuna de seu esposo. Lidija convida Maria para sua casa e a introduz nos prazeres mundanos da alta sociedade. Maria vê assediada por Lebedev (Arseni Biibkov), empresário rico e influente. Lebedev usa sua influência no banco para que o marido de Maria seja demitido, sem que ela saiba. Eventualmente, Maria cede aos avanços de Lebedev. Envergonhada e com sentimento de culpa, ela deixa o marido e este recebe uma proposta deo advogado de Lebedev para renunciar a Maria e à criança em troca de dinheiro. Indignado, ele recusa e se suicida.

Vera Kholodnaya e Olga Rakhmanova

Em Zhizn za zhizn (Uma Vida por Outra) / 1916, baseado no romance “Serge Panine” de Georges Ohnet, a viúva milionária Senhora Khromova (Olga Rakhmanova) tem duas filhas: uma biológica Musya (Lidyia Koreneva) e outra adotada Nata (Vera Kholodnaya). Nata está apaixonada por pelo Príncipe Bartinsky (Vitold Polonsky) mas o rico comerciante Zhurov (Ivan Perestiani) também a quer. Bartinsky perdeu muito dinheiro no jôgo e precisa se casar com uma jovem rica. Zhukov sugere que Bartinsky se case com Musya e que ele se case com Nata. Apesar das reservas das Senhora Khromova sobre Bartinsky o casamento duplo segue em frente. Musya e Bartinsky viajam em lua-de-mel, mas após seu retorno ele reaviva seu caso amoroso com Nata, que revela a verdade para a Senhora Khromova. Enquanto isso, Musya dá todo seu dinheiro para Batinsky, que ele perde nas corridas de cavalos e na mesa de jogo. Zhukov surpreende Bartinsky em um encontro íntimo com sua esposa. Tendo sido incapaz de matá-los ele faz uma denunciação caluniosa contra Bartinsky, para que ele seja punido pela lei; depois, confessa para a Senhora Khromova que sua acusação contra Bartinsky era falsa. A Senhora Khromova e Bartinsky estão no mesmo aposento quando um criado chega avisando que a polícia cercou o local. Quando a Senhora Khromova fica a sós com Bartinsky, ela sugere que ele seja “homem pelo menos uma vez na vida” e se mate. Bartinsky a desafia, ela o mata, e coloca a arma na sua mão, para que pareça um suicídio. Na última cena vemos Musia e Nata desesperadas ao verem o cadáver do homem que as duas amavam.

Nelly Raintseva

Em Nelli Raintseva (Nelli Raintseva) / 1916, Nelli (Zoya Barantsevich), entediada pela falta de sentido na sua vida provinciana, vai a uma festa organizada por alguns criados, onde é embriagada e violentada por um dos empregados de seu pai. Quando descobre que está grávida, ela se mata.

Em Umirayushchiy lebed (O Cisne Moribundo) / 1916 Viktor (Vitold Polonsky) corteja a  muda Giselle (Vera Karalli) sob o olhar vigilante de seu pai. Quando Giselle o vê com uma outra moça, ela fica enciumada e pede a seu pai que a deixe dançar no palco. Giselle faz uma bela carreira no tablado e sua performance é apreciada pelo pintor Valeri Glinsky (Andrej Gromov,) que estava procurando capturar “a morte” na tela. Vendo Giselle como um cisne moribundo no balé ele pede a ela para posar para ele, a fim de que possa pintá-la na pose final sem vida de sua dança. Quando Viktor reencontra Giselle e explica o malentendido, eles decidem se casar. Mas a energia na expressão de Giselle no seu retrato necrófilo atrapalha o pintor e ele mata Giselle a fim de que possa completar seu retrato.

Za schastiem

Em Za schastiem (Para a Felicidade) / 1917 uma viúva rica, Zoya Verenskaia (Lidiia Koreneva), está apaixonada pelo advogado Dmitrii Gzhatskii (Nikolai Radin). Entretanto, como sua filha Li (Taisia Borman) está com problema de saúde e corre o risco de perder a visão, ela adia o casamento até que sua filha esteja melhor. Em uma estadia na Criméia, um rapaz, Enrico (Lev Kuleshov), propõe casamento a Li, mas é rejeitado porque ela está secretamente enamorada de Dmitrii. Zoya ouve a conversa entre Li e Enrico e implora a Dimitrii que ele se case com Li. Dmitrii recusa e quando diz a Li que ama sua mãe, a moça fica cega.

Bauer queria fazer o papel de Enrico, mas infelizmente sofreu uma queda e quebrou a perna. Mesmo assim ele usou uma cadeira de rodas e começou a filmar seu último filme, Korol Parizha (O Rei de Paris) / 1917. Complicações inesperadas interromperam seu trabalho e ele foi internado em um hospital. O filme foi completado pela atriz Olga Rakhmanova e seus colegas. Bauer faleceu de pneumonia aos 52 anos de idade. Ficamos sem saber se ele poderia ter sido um dos grandes cineastas do período soviético, caso tivesse vivido até os anos vinte.

                                                         Filmes de Bauer em Dvd:

Existem dois dvds da Milestone Films com três filmes de Bauer: Mad Love: The Films of Evgeni Bauer e Early Russian Cinema -10 volumes, sendo que nos volumes 7, 9, e 10 estão outros três filmes de Bauer.

LYNN BARI E SUA BUSCA PELO ESTRELATO

Ela era atriz contratada de estúdio típica durante a época de ouro de Hollywood. Alta (1.70m), bonita, muito talentosa e admirada pelos fãs e colegas de trabalho, parecia destinada a se tornar uma grande estrela. Os admiradores brasileiros – que eram muitos – prognosticavam seu sucesso na tela e suas fotos – sempre elegantemente vestida – eram impressas constantemente na maioria das nossas revistas, notadamente em reportagens tipo “estrelas na intimidade” ou como modelo em anúncios de propaganda.

Lynn Bari

Para conhecer melhor o percurso de sua ascensão profissional, consultei o excelente livro de Jeff Gordon, “Foxy Lady -The Autorized Biography of Lynn Bari” (BearManor, 2010), valorizado pelos extensos depoimentos da própria biografada, entrevistas com dezenas de seus amigos, membros da família e associados profissionais, além de muitas fotos.

Lynn Bary (1919 – 1989), cujo verdadeiro nome era Marjorie Shuyler Fisher (mas seria sempre chamada de Peggy), nasceu em Roanoke, Virginia, filha de Marjorie e John Fisher. Seu irmão, John, era cinco anos mais velho. Os Fishers viveram em Roanoke até 1922, quando se mudaram para Mill Mountain e se instalaram no bairro de classe média de Walnut Hill. Em 1925 a família se transferiu para Lynchburg, onde John montou uma concessionária de automóveis. Marjorie tornou-se alcoólatra e passou a hostilizar o marido, que entrou em depressão e se suicidou, pulando da janela de um hotel. Em 1927 Marjorie foi morar com os filhos na casa de sua irmã Ellen em Melrose; dois anos depois, foi com Peggy para Boston, deixando John com a tia. Marjorie não se deu bem nos empregos que teve como recepcionista em dois escritórios e se tornou membro do Institute of Religious Sciences, onde conheceu e acabou se casando com um de seus líderes locais, o Reverendo Robert L. Bitzer. No início de 1930 o reverendo foi designado para incrementar a Christian Science em Los Angeles e inaugurar uma igreja em Hollywood, onde este movimento religioso estava prosperando.

Lynn Bari

Assim que chegou em Los Angeles, Peggy quis entrar para o cinema. Aos treze anos de idade, era uma bela adolescente e, quando viu o anúncio na página de classificados de um jornal “Procura-se moças para um musical da MGM. Tragam maiô”, com a aprovação entusiástica da mãe, levando o maiô e de sapatos de salto alto, chegou no estúdio, onde três mil mulheres também se apresentaram. No palco bem iluminado onde elas desfilaram estava Sammy Lee, diretor de danças da Fox, na ocasião trabalhando para a MGM por empréstimo. Ele estava á procura de showgirls / modelos (muitas vezes chamadas de coristas, mas que não se confundem elas, porque não eram dançarinas – apenas desfilavam com vestidos bonitos e, de vez em quando, fingiam cantar a letra de uma música pré-gravada).

O primeiro emprego de Peggy (falsificando a idade) no cinema foi como modelo em Amor de Dançarina / Dancing Lady / 1933. No mesmo ano, ainda na MGM, ela pareceu em Viva o Barão! / Meet the Baron, que foi lançado antes de Amor de Dançarina. Marjorie tinha como certo que Peggy iria se tornar uma estrela e ajudou a filha a criar o nome artístico de Lynn Bari (inspirado no prenome da atriz Lynn Fontanne e no sobrenome do escritor James Barrie (mudando a pronúncia de Barrie para Bari). Em 1934 Lynn conseguiu emprego como extra em Eu sou Suzanne! / I am Suzanne! (Fox) e A Conquista da Beleza / Search for Beauty (Paramount) e, no período 1934 – 1937, trabalhou na Fox como showgirl, extra ou em pequenos papéis em aproximadamente vinte filmes da Fox / Twentieth Century-Fox por ano, tendo sido emprestada para a MGM para atuar como showgirl em Ziegfeld, o Criador de Estrelas / The Great Ziegfeld. Quando não estava diante das câmeras, Lynn frequentava as aulas da escola de arte dramática da Fox (dirigida por Lillian Barkley), que lhe serviram também para suprir a falta de uma educação formal, que ela também complementou, frequentando bibliotecas a fim de conhecer as grandes obras literárias. Após quatro anos de muita persistência e dedicação, a jovem atriz saiu do anonimato com três filmes: O Lanceiro Espião / Lancer Spy / 1937, A Baronesa e o Mordomo / The Baroness and the Butler / 1938 e Walking Down Broadway / 1938. No primeiro filme ela fez um pequeno papel (Miss Fenwick, filha do Coronel Fenwick / Lionel Atwill) que, durante uma viagem de avião, ouve do pai, a história de espionagem) e seu nome saiu em último lugar nos créditos finais; no segundo e terceiro filme, era coadjuvante (a camareira Klari; a corista Sandra de Voe que é atropelada por um caminhão ao sair do teatro) com o nome nos créditos iniciais.

Lloyd Nolan e Lynn Bari em Testemunha Ocular

 Preston Foster e Lynn Bari em O Espião Japonês

Claire Trevor, a estrela de Walking Down Broadway, havia sido a principal atriz dos filmes B da Fox nos últimos cinco anos e, quando deixou o estúdio, Lynn herdou esta posição na unidade supervisionada por Sol Wurtzel. Tal como Trevor, Lynn era uma atriz forte e inteligente com um profundo compromisso com o seu ofício e, assim como sua antecessora, possuia uma “qualidade de estrela”, sua simples presença podia animar um filme. Entre 1938 e 1942 Lynn interpretou a heroína em 17 filmes supervisionados por Wurtzel entre eles filmes de séries como Mr. Moto (O Palpite de Mr. Moto / Mr. Moto´s Gamble / 1938); Charlie Chan (Charlie Chan na Cidade das Trevas / Charlie Chan in the City of Darkness / 1939); Big Town Girls (Meet the Girls / 1939, Desculpe Nossa Ousadia / Pardon Our Nerve / 1939); Camera Daredevills (Salvando um Reino / Sharpshooters / 1938,  Cortejando a Morte / Chasing Danger / 1939); Michael Shayne (Testemunha Ocular / Sleepers West  / 1941). Outros filmes sob contrôle de Wurtzel foram: 1938 – Casaremos Amanhã / Battle of Broadway; O Relâmpago da Pista / Speed to Burn. 1939 – Surpresa Noturna / News is Made at Night; Três Capacetes de Aço / Pack Up Your Troubles. 1940 – A Sorte Engana / City of Chance, Loura Perigosa / Free, Blonde and 21, Vingança do Passado / Earthbound, O Segredo da Noiva / Pier 13, Um Drama do Ar / Charter Pilot. 1941 – Vivemos a Pressa / We Go Fast, Minha Esposa Diverte-se / Moon Over Her Shoulder, Precisa-se de um Marido / The Perfect Snob. 1942 – O Espião Japonês  / Secret Agent of Japan.

George Sanders e Lynn Bari em Nas Garras do Falcão

Simultaneamente, salvo em uma ocasião quando, emprestada à RKO, atuou ao lado de George Sanders na série B The Falcon (Nas Garras do Falcão / The Falcon Takes Over / 1942), Lynn serviu como coadjuvante em filmes classe A (1938 – Josette / Josette, Adeus para Sempre / Always Goodbye, Mendigo Milionário / I´ll Give a Million. 1939 – A Volta de Cisco Kid / The Return of Cisco Kid, Hotel para Mulheres / Hotel for Women, Hollywood em Desfile / Hollywood Cavalcade. 1940 – A Bela Lillian Russell / Lillian Russell. 1941 – Sangue e Areia / Blood and Sand, Quero Casar-me Contigo / Sun Valley Serenade. 1942 – The Night Before the Divorce, Serenata Azul / Orchestra Wives), sendo creditada como atriz principal em Kit Carson / Kit Carson / 1941 (produzido por Edward Small) e Assim Vivo Eu / The Magnificent Dope / 1942

Dana Andrews, Lynn  Bari e Jon Hall em Kit Carson

Ao nível do filme B Lynn interpretou papéis de heroína, alegre e simpática. Nos filmes A ocorreu o contrário: Lynn foi quase que exclusivamente mostrada como uma personagem secundária insensível, geralmente como malvada, a mulher fatal da história. Ela queria estrelar filmes A, mas o estúdio estava satisfeito em mantê-la como atração principal na área do filme B, onde seu nome garantia sucesso na bilheteria. Lynn nunca teve um forte apoio publicitário para impulsionar sua ascensão ao estrelato apesar de todo seu esforço e dedicação ao trabalho.

Sonja Henie, John Payne e Lynn Bari em Quero Casar-me Contigo

Em um filme A produzido em 1941, Quero Casar-me Contigo, ela chegou perto de atingir sua meta. Nesta comédia musical dirigida por Bruce Humberstone, Lynn fazia o papel de Vivian Dawn, cantora de blues temperamental que, durante uma gravação, se interessava por Ted Scott (John Payne), pianista da orquestra de Phil Corey (Glenn Miller). Vivian contratava Phil e sua banda para se apresentar com ela em Sun Valley, no Idaho, onde surgia uma refugiada norueguesa, Karen Benson (Sonja Henie), nascendo uma rivalidade entre elas. Glamorosamente fotografada por Edward Cronjager e vestida com elegância por Travis Banton, Lynn recebeu finalmente um “tratamento” completo de estrela. No mesmo ano, sua situação promissora foi reforçada em um filme B, Minha Esposa Diverte-se / Moon Over Her Shoulder, comédia romântica com um pendor feminista dirigida por Alfred L. Werker. Lynn é Susan Rossiter, esposa negligenciada de um psiquiatra, Dr. Phillip Rossiter (John Sutton). Susan sente-se não realizada, desempenhando o modelo de uma dona de casa perfeita, sentimento agravado pela obsessão de seu marido pelo trabalho. Ele sugere que ela retome seu antigo passatempo, a pintura. Um dia ela encontra um iatista Rex Gibson (Dan Dailey) e passam o dia juntos. Ela abraça seu estilo de vida excêntrico, passa por uma renovação pessoal, e finalmente é obrigada a escolher entre o velejador e o analista. Novamente, muito bem vestida e fotografada (desta vez respectivamente por Herschel McCoy e Lucien Andriot), Lynn interpreta um papel importante com muito charme e entusiasmo.

Entre 1943 e 1946 Lynn fez : (1943 – Paixão Oriental / China Girl; Aquilo Sim, Era Vida! / Hello, Frisco, Hello. 1944 – A Ponte de San Luis Rey / The Bridge of San Luis Rey; Tampico / Tampico, Explosão Musical / Sweet and Low-Down. 1945 – O Capitão Eddie / Captain Eddie. 1946 – Choque / Shock; Lar, Doce Tortura / Home Sweet Homicide; Margie / Margie, mas em nenhum deles teve oportunidade de mostrar seu talento, fato aliás lamentado pelos críticos e seus fãs. Durante os anos de guerra a jovem atriz gozou de muita popularidade entre os soldados como pin-up e foi apelidada de “The Woo Woo Girl” e “The Girl with the Million Dollar Figure”.

Lynn Bari e Edward G. Robinson   em Tampico

Bari e Vincent Price em Choque

Lynn Bari como Pin-Up Girl

Em 1947 Lynn foi requisitada pela RKO, onde contracenou com George Raft em um filme noir muito bom, Noturno / Nocturne, dirigido por Edwin L. Marin e produzido por Joan Harrison, assistente de longa data de Alfred Hitchcock. Na trama um compositor donjuanesco é encontrado morto caso sobre o teclado de um piano. As paredes da sala estão cheias de retratos fotográficos de suas muitas conquistas. A única pista da identidade do assassino é a partitura da música, que ele estava tocando quando morreu, dedicada a uma tal de “Dolores”. Porém ele costumava chamar todas as amantes por este nome. O detetive Joe Warne (George |Raft) investiga o caso e Lynn é uma das moças dos retratos e, portanto, uma das suspeitas do crime. Mais uma vez ela recebeu um tratamento fotográfico especial, agora por um especialista do gênero, Harry J. Wild, e uma atenção também por parte da produtora, que acompanhou de perto a escolha de seu vestuário.

Lynn Bari e George Raft em Noturno

Depois deste interlúdio recompensado, Lynn voltou para a Fox, recusou indignada um papel de segunda importância que lhe ofereceram e foi suspensa. Cumpriu sua penitência e, quando retornou ao estúdio, alguns incidentes e mal entendidos provocaram sua saída do estúdio, após tantos anos de serviço. Como disse Jeff Gordon no seu livro, foi-se todo o seu apoio criativo, financeiro e emocional. Pela primeira vez em sua vida a quase-estrela estava realmente sozinha.

Turhan Bey e Lynn Bari em O Místico

Ciente de que suas opções de emprego se tornaram limitadas devido à ira de Darryl F. Zanuck contra ela, Lynn aceitou logo a primeira oferta que teve, vinda da recentemente formada Eagle-Lion, onde fez dois filmes em 1948: Morrerei Onde Nasci / The Man from Texas e O Místico / The Spiritualist ou Amazing Mr. X. Graças  sobretudo aos efeitos fotográficos  especiais proporcionados por John Alton e ao score romântico de Alexander Laszlo, o último filme citado foi o melhor que ela fez na fase final de sua carreira. Neste drama de mistério Lynn faz o papel de uma Christine Faber, herdeira rica e encantadora, que reside em uma mansão ao longo da costa da Califórnia. É na praia que Chris fica pela primeira vez ouve a voz de seu marido Paul (Donald Curtis), supostamente falecido há dois anos em um desastre de automóvel. Paul na verdade está vivo e, com a cumplicidade de um falso vidente chamado Alexis (Turhan Bey), que o ajuda a assombrar sua mulher, está armando um plano para se apossar de sua fortuna. Atuando com naturalidade, Lynn destaca-se do resto do elenco e seus close-ups belíssimos expõem sua formosura.

Lynn Bari e Ray Middleton em Minha Vida Te Pertence 

Os papéis de Lynn nos seus filmes derradeiros produzidos por companhias variadas, assinalaram um final melancólico para a sua carreira cinematográfica: 1949 – Revolta de um Coração / The Kid from Cleveland (Herbet Kline / Republic). 1951- Um Homem e Sua Alma / I´d Climb the Highest Mountain (Fox); Uma Canção e um Beijo / Sunny Side of the Street (Columbia); Abismos do Desejo / On the Loose (Filmakers / RKO). 1952 – Minha Vida Te Pertence / I Dream of Jeannie (Republic); Sinfonia Prateada / Has Anybody Seen My Gal (Universal-International). 1954 – Francis entre as Boas / Francis Joins the Wacs (U-I). 1955 – De Pernas Pro Ar / Abbott and Costello Meet the Keystone Kops (U-I) 1957 – Terror na Ilha das Mulheres / The Women of Pitcairn Island (Regal); 1958 – Damn Citizen (U-I). 1962 – As Nove Vidas de Elfego-Baca / Elfego Baca: Six-Gun Law (Walt Disney / Buena Vista). Sua trajetória no cinema sempre foi acompanhada por apresentações no rádio, e depois no teatro e na televisão, onde ainda manteve algum prestígio, até se aposentar definitivamente da vida artística em 1974.

No âmbito familiar a ascensão de Lynn para o estrelato foi sabotada por problemas não resolvidos com sua mãe dominadora e alcoólatra, três casamentos frustrados (sempre explorada pelos seus sucessivos consortes (Walter Kane, Sid Luft, Nathan Rickles) e, a partir de determinado momento de sua vida, pelo seu próprio alcolismo. Lynn morreu de ataque cardíaco em 1898, deixando um filho, John Luft.

PERSONAGENS DO WESTERN NA VIDA REAL E NA TELA – OS ÍNDIOS

Ao lado do caubói, o índio americano é a figura mais proeminente no western. Até os anos cinquenta, os índios eram apresentados na tela como assassinos, sequestradores e incendiários, raramente como indivíduos e, com toda certeza, sem uma tentativa de se compreender e refletir sobre a sua visão dos fatos históricos. Em 1950, dois filmes, Flechas de Fogo / Broken Arrow de Delmer Daves, e O Caminho do Diabo / Devil´s Doorway, de Anthony Mann, mudaram essa imagem, iniciando-se um processo de reabilitação que prosseguria nos anos seguintes. Seguem em ordem alfabética relação de dez figuras verídicas focalizadas pelo “cinema americano por excelência”, acompanhadas por um resumo de sua história e uma filmografia compreendendo apenas produções realizadas até 1979.

Captain Jack

Charles Bronson em Rajadas de Ódio

CAPTAIN JACK (circa 1840 – 1873). Chefe da tribo Modoc. Keintpoos ou Captain Jack como era chamado pelos brancos nasceu na região dos lagos que se estende pela fronteira Califórnia-Oregon. Durante a década turbulenta que se seguiu à abertura de um caminho de emigrantes através do país Modoc em 1846, o pai de Capitão Jack, líder de um pequeno grupo de Modocs, foi morto em um massacre organizado por colonos europeu-americanos.  Captain Jack assumiu o controle do grupo por sua própria iniciativa, pois a liderança Modoc não se adquiria por hereditariedade. Ele defendeu uma existência pacífica com os brancos e fez amigos entre os colonos que estavam se deslocando para Lost River Valley. Um tratado assinado em 1864 estabeleceu a remoção de todos os Modocs, juntamente com os Klamath, para uma reserva no Oregon, mas Captain Jack ficou pouco tempo naquele local. Ele levou seu grupo de 150 pessoas de volta para o Lost River Valley, esperando que uma reserva fosse instalada   ali, só para os Modocs; porém o Indian Office decidiu contra a proposta e, no final de 1872, uma tentativa frustrada de prendê-lo ocasionou a Guerra Modoc. A predileção de Captain Jack pela manutenção da paz com os brancos tornou-o impopular entre alguns de seus seguidores, que tinham razão para acreditar que seriam enforcados se Captain Jack se rendesse.  Esta facção apelou para a sua responsabilidade como líder de protegê-los, e ameaçaram substituí-lo ou matá-lo caso recusasse. Captain Jack concordou, com muita relutância, a participar do assassinato dos comissários de paz federais. Eventualmente ele foi traído por membros do seu próprio povo, capturado e enforcado em 3 de outubro de 1873.

Filmografia: 1954 – Charles Bronson em Rajadas de Ódio / Drum Beat.

Chato

Eugene Iglesias  (à direita) em Herança Sagrada

CHATO (1860? – 1934). Guerreiro apache da subtribo Chiricahua do Sul também conhecida como Nde’indai ou Pinery Apache. Sua ascendência ao papel de líder carismático começou depois da morte de Victorio em 1880, quando tentou se tornar chefe da subtribo Chiricahua do Leste também conhecida como Warm Springs, Ojo Caliente, Coppermine, MImbreños ou Mongollones. Chato executou vários ataques a colonos americanos e mexicanos em 1882. Em 1884 foi obrigado a se render e conduzido para San Carlos, Arizona pelo Tenente Britton Davis. Subsequentemente tornou-se batedor para o exército dos Estados Unidos contra seus amigos apaches e quando Geronimo fugiu da reserva em 1885, ele persuadiu pelos menos três quartos dos apaches a permanecer onde estavam.  Apesar dele e seus homens terem sido considerados pelo General Crook os responsáveis pela eventual capitulação de Geronimo, Chato também foi preso em Fort Marion. Tal como Geronimo foi eventualmente conduzido para Fort Still, Oklahoma. Ao contrário dele, viveu para se instalar finalmente na reserva Mescalero em 1913, onde morreu vítima de um acidente de automóvel.

Filmografia: 1953- Eugene Iglesias em Herança Sagrada / Taza, Son of Cochise. 1957 – George Keymas em Guerreiro Apache / Apache Warrior. 1965 – John Hoyt (“Chata”) em Duel at Diablo. 1968 – Woody Strode em Shalako / Shalako.1970 – Henry Silva (“Chatto”) em 5 Homens Selvagens / The Animals. 1971 – Charles Bronson (“Pardon Chato”) em Renegado Vingador / Chato´s Land.

Cochise

Jeff Chandler em Flechas de Fogo

COCHISE (1824? – 1874). Chefe apache da subtribo Chiricahua do Centro ou Chok’anen, dotado de um físico imponente (tinha mais do que um metro e oitenta de altura) e forte. Sua esposa era uma das filhas de Mangas Coloradas e Mangas e Cochise foram amigos e aliados até a morte do primeiro em 1863. Tal como outros apaches Chiricahua, Cochise atacava cidadãos mexicanos que viviam em ambos os lados da fronteira dos Estados Unidos e do México. Foi somente em 1861 que ele se tornou inimigo também dos americanos. A guerra entre os Estado Unidos e o bando de apaches de Cochise originou-se de um incidente ocorrido em uma casa de fazenda de adobe ao longo do riacho Sonoita no sul do Arizona, onde moravam o irlandês John Ward e sua companheira. Mexicana, Jesusa. Os apaches raptaram Felix Tellez, filho adotivo de Ward e roubaram algum gado. Este estava ausente na ocasião, mas ao retornar, queixou-se ao comandante do posto militar mais próximo, acusando Cochise de ter sido o culpado. Ward pediu ao exército que resgatasse o menino, então com cerca de doze anos. No final de janeiro de 1861 o Tenente George Bascom foi enviado para o extremo norte das Chiricahua Mountains e a estação de diligências da Overland State no Apache Pass, perto de onde Cochise habitualmente acampava. Nos acontecimentos que se seguiram, o tenente, fingindo amizade, cercou os apaches. Cochise disse a Bascom, que não havia raptado o filho de Ward nem atacado seu rancho. Bascom não acreditou nele e op reteve como refém para assegurar o retôrno do menino e do gado. Cochise usou sua faca para cortar a tenda em que estava prisioneiro e escapou. Subsequentemente, os homens de Cochise capturaram e mataram três americanos. Em dois meses mais de 150 não-indígenas foram mortos. Mangas Coloradas e Cochise uniram seus esforços para atacar colonos, mineiros e pequenos destacamentos de soldados. Eles chegaram até a atacar um contigente da California Column (Voluntários da Califórnia) do General James H. Carleton no Apache Pass em 1862, embora sua emboscada tivesse fracassado. Felix Tellez reapareceu oportunamente nos anos 1880 como Mickey Free, batedor do exército nos anos 1880s. Ele não havia sido capturado por Cochise, mas pelos apaches Coyoteros ou Western Apache. Em 1872 o General Oliver O. Howard, trabalhando com a ajuda de Thomas J. Jeffords, amigo íntimo de Cochise, conseguiu se encontrar com o chefe apache nas Dragon Mountains no sudeste do Arizona, onde lhe prometeu uma reserva que ele escolhesse. O resultado foi uma vasta reserva que incluía a maior parte do canto sudeste do território. Jeffords foi nomeado agente indígena especial da reserva. Cochise morreu dois anos depois provavelmente de um câncer no estômago.

Filmografia: 1942 – Antonio Moreno em O Vale do Sol / Valley of the Sun. 1948 – Miguel Inclan em Sangue de Heróis / Fort Apache. 1950 – Jeff Chandler em Flechas de Fogo / Broken Arrow. 1951 – Chief Yowlachie em A Revolta dos Apaches / The Last Outpost. 1952 – Jeff Chandler em O Levante dos Apaches / Battle of Apache Pass. 1953 – John Hodiak em Conquista de Apache / Conquest of Cochise. 1953 – Jeff Chandler em Herança Sagrada / Taza, Son of Cochise. 1966 – Michael Keep em Os Rifles da Desforra / 40 Guns to Apache Pass.

Crazy Horse

Anthony Quinn em O Intrépido General Custer

CRAZY HORSE (circa 1841 – 1877). Líder guerreiro da subtribo Oglala dos Teton Sioux.  Exerceu um papel importante nas campanhas do chefe Oglala Red Cloud contra os fortes e assentamentos do Wyoming em 1865-68. Participou do Fetterman Massacre (1866), do Hayfield Fight (1867) e do Wagon-Box Fight (1867). Sua habilidade na batalha e seu espírito ousado ajudaram-no a se tornar um dos líderes daqueles entre os Sioux do Sul e os Cheyenne do Norte, que se recusaram a permanecer nas reservas e frequentemente atacaram os brancos ou os rivais Crow. O primeiro casamento de Crazy Horse com uma mulher Cheyenne, estreitou sua aliança com esta tribo. Após a corrida do ouro nas Black Hills, Crazy Horse, tal como outros “hostís”, não obedeceu às ordens do Departamento de Guerra para que todas as tribos indígenas retornassem às suas reservas em 1 de janeiro de 1876. Em 17 de junho, sua força de 1.200 Oglalas e Cheyennes foi atacada na parte superior do Rio Rosebud pelo exército do General George Crook, que contava com 1300 homens. As táticas de Crazy Horse deixaram Crook perplexo e, após um dia de luta, o General se retirou com perdas significativas. Crazy Horse então seguiu para o norte e se juntou a Sitting Bull e seu grande número de seguidores no vale de Little Big Horn. Na batalha famosa de 25 de junho sua força, composta majoritariamente por Cheyennes, atacou Custer pelo norte e oeste enquanto o chefe Gall dos Hunkpapa Dakota, depois de derrotar o Major Marcus A. Reno, atacou Custer pelo sul e leste. Depois da fuga de Sitting Bull para o Canadá, Crazy Horse continuou a luta com as tropas do exército e conduziu uma campanha brilhante contra o General Nelson A. Miles. Ele se rendeu em 6 de maio de 1877. Em 5 de setembro, após ter saído da agência sem autorização, a fim de levar sua segunda esposa doente, Black Shawl, para a casa dos pais dela, foi preso em Fort Robinson. Inicialmente, estava calmo. Mas quando ficou claro que seria conduzido para uma cela, resistiu e foi morto, atingido pela baioneta de um soldado.

Filmografia: 1936 – High Eagle em A Flecha Sagrada / Custer´s Last Stand. 1941 – Anthony Quinn em O Intrépido General Custer / They Died with Their Boots On. 1944 – Chief Thundercloud em Buffalo Bill / Buffalo Bill. 1954 – Iron Eyes Cody em Índio Heróico / Sitting Bull. 1955 – Victor Mature em O Grande Guerreiro / Chief Crazy Horse. Murray Alper em Os Reis do Faroeste / The Outlaws is Coming. 1965 – Iron Eyes Cody em O Grande Masssacre / The Great Sioux Massacre. 1977 – Will Sampson em O Grande Búfalo Branco / The White Buffalo.

 

Geronimo

Chief Thundercloud em Gerônimo

GERONIMO (1829? – 1909). Curandeiro e líder da subtribo Chiricahua do Sul, chamado de Goyakla (“Aquele que boceja”) pelos apaches, nasceu e cresceu em algum lugar na região ao redor das cabeceiras do Rio Gila. Em 1958 soldados mexicanos atacaram o acampamento apache perto de Janos, no Estado de Chihuaha e mataram sua mãe, esposa e filhos. Depois disso o ódio intenso de Geronimo pelos mexicanos nunca diminuiu. Durante os anos seguintes sua fama como guerreiro cresceu, especialmente no México. Em abril de 1877, em Ojo Caliente, New Mexico ele foi preso pelo agente indígena John Clum e conduzido para San Carlos, Arizona com 110 homens de seu grupo. Geronimo permaneceu pouco notado na reserva até 1881, quando ele e outros apaches fugiram e iniciaram ataques principalmente na Sierra Madre do México, sudeste do Arizona e sudoeste do México. Em 1883 o General George Crook persuadiu-o a se render, embora ele não tenha realmente se entregado até fevereiro de 1884 – e basicamente em seu próprios temos. Ele fugiu de novo da reserva em maio de 1885 e em março de 1886 Crook de novo efetuou uma rendição condicional. A caminho do Fort Bowie, Arizona, o local combinado para a rendição, Geronimo fugiu para as montanhas mais uma vez. Finalmente, em 3 de setembro de 1886 o General Nelson Miles presidiu a rendição final e incondicional de Geronimo. Ele e outros apaches de seu grupo foram enviados para o exílio e prisão na Flórida e cinco anos depois em Fort Sill, Oklahoma. Enquanto o mantinha como prisioneiro, o governo dos Estados Unidos capitalizou sua fama exibindo-o em vários eventos (na Trans-Mississipi and International Exposition de 1898 em Omaha, na Pan American Exposition de 1901 em Buffalo e na St. Louis World´s Fair em 1904) durante os quais Geronimo ganhou dinheiro vendendo fotos de si mesmo e pequenos arcos e flechas com o nome dele. Quando ele faleceu no hospital de Fort Sill, constava da folha de pagamento federal como batedor do exército.

Filmografia: 1912 – Geronimo´s Last Raid. 1939 – Chief White House em No Tempo das Diligências / Stagecoach. 1940 – Chief Thundercloud em Gerônimo / Geronimo. 1942 -Tom Tyler em O Vale do Sol / Valley of the Sun. 1950 – Chief Thundercloud em I Killed Geronimo; Jay Silverheels em Flechas de Fogo / Broken Arrow. 1951 – John War Eagle em A Revolta dos Apaches / The Last Outpost; Miguel Inclan em Rebelião de Bravos / Indian Uprising. 1952 – Jay Silverheels em O Levante dos Apaches / The Battle of Apache Pass; Chief Yowlachie no seriado O Cavaleiro Relâmpago / Son of Geronimo. 1953 – Ian MacDonald em Herança Sagrada / Taza, Son of Cochise. 1954 – Monte Blue em O Último Bravo / Apache. 1956 – Jay Silverheels em Honra de Selvagens / Walk the Proud Land. 1962 – Chuck Connors em Sangue de Apache / Geronimo.

Quanah Parker

Henry Brandon em Terra Bruta

QUANAH PARKER (circa 1845 – 1911). Chefe comanche, filho de uma branca cativa Cynthia Ann Parker e do chefe comanche Peta Nocona. Ele comandou seu bando contra um grupo de caçadores de búfalos na Batalha de Adobe Walls em 1874, mas no ano seguinte rendeu-se ao exército. Uma vez instalado na reserva ele se adaptou à estrutura política da mesma e trabalhou para obter o melhor acordo quando o governo quis negociar os direitos fundiários dos índios em 1892. Culturalmente ele era um conservador, recusando a assimilação e é considerado o fundador da religião peyote ou Native American Church.

Filmografia: 1954 – John War Eagle em Traição Heróica / They Rode West. 1955 – Kent Smith em Comanche / Comanche.  1961 – Henry Brandon em Terra Bruta / Two Rode Together.

Mangas Coloradas

Lex Barker em Tambores da Guerra

MANGAS COLORADAS (1795? – 1863). Chefe apache da subtribo Chiricahua do Leste nascido provavelmente no sul do New Mexico. Vingando-se de injustiças feitas a seus parentes íntimos e a seu povo, ele comandou ataques e campanhas contra os mexicanos no norte de Durango no México e do oeste do Texas ao leste do Arizona. Durante os anos 1840 seus ataques no México se estenderam dos estados do norte ao longo de todo o flanco oriental da Sierra Madre. Com relação aos americanos, Mangas Coloradas expressou amizade e aliança. Em 1846, quando o General Stephen Watts Kearny estaca a caminho de Santa Fe para a Califórnia, Mangas Coloradas encontrou-se com ele ao longo da trilha do Rio Gila e prometeu manter a amizade com os americanos, oferecendo-se inclusive para a exercer parte ativa na guerra deles contra o México, oferta que Kearny respeitosamente declinou. Em 1852, Mangas Coloradas continuou a prometer amizade com os americanos, mas seus ataques contra os mexicanos continuaram implacáveis. Em 1861, quando Cochise começou a guerrear com os americanos, ele ficou do lado de seu companheiro apache, ao qual havia dado sua filha mais velha em casamento. Logo após o irromper da Guerra Civil em abril de 1861, tropas do exército dos Estados Unidos saíram do Arizona. Mangas Coroladas, Cochise e outros apaches supuseram erroneamente que haviam tido algo a ver com a retirada. Depois de uma breve ocupação do sul da Arizona pelas forças confederadas em junho de 1962, o general da União James H. Carleton e seus Voluntários da Califórnia reconquistaram o território. Em julho de 1862 um contingente da Primeira Infantaria dos Voluntários da Califórnia, comandado pelo Capitão Thomas L. Roberts partiu para o Apache Pass no extremo norte das Chiricahua Mountain. Mangas Coloradas e Cochise e seus homens, tentaram uma emboscada, mas foram derrotados. Durante o combate Mangas Coloradas foi baleado do seu cavalo por um soldado. Os apaches levaram-no para Janos em Chihuhaua no México, onde obrigaram um médico mexicano a cuidar de seu ferimento. Ele se recuperou, mas em janeiro de 1863 foi capturado perto de Pinos Altos, New Mexico, e conduzido como prisioneiro ao abandonado Fort McLane. Embora existam pelo menos quatro versões sobre o que aconteceu com Mangas Coloradas em Fort Lane – a versão oficial do exército é que ele foi morto quando tentava escapar do cativeiro – a mais provável é que ele foi morto quando se opôs com raiva contra os soldados que estavam queimando suas pernas e pés com baionetas aquecidas.

Filmografia: 1955 – Abel Fernandez em Semeando Ódio / Fort Yuma. 1956 – Lex Barker em Tambores de Guerra / War Drums. 1958 – Charles Horvath em Vingando Minha Honra / Gunmen of Laredo.1962 Chuck Connors em Sangue de Apache / Geronimo.

Red Cloud

Eduard Franz em A Um Passo da Morte

RED CLOUD (circa 1822 – 1909). Líder guerreiro da subtribo Oglala dos Teton Sioux. Nasceu perto das bifurcações do Rio Platte e, tendo ficado órfão pouco depois de seu nascimento, foi criado pelo tio materno, Chefe Smoke. Começou a participar de grupos de guerra em uma idade precoce e rapidamente ganhou uma reputação de astúcia e crueldade em ataques contra os Pawnee e os Crow. Jovem muito ambicioso envolveu-se em uma rivalidade de longa data entre Smoke e o chefe Oglala mais poderoso, Bull Bear e durante uma confrontação perto de Fort Laramie em 1841 matou o rival de seu tio. Este assassinato dividiu os Oglala durante cinquenta anos e embora tivesse conquistado certa popularidade entre os seguidores de Smoke, Red Cloud perdeu qualquer chance de alcançar a liderança geral dos Sioux. Ainda assim, seu prestígio como líder guerreiro continuou a crescer. Quando o governo dos Estados Unidos em 1865-66 decidiu abrir a trilha Bozeman através dos campos de caça dos índios na região do Rio Powder, Red Cloud e a vasta maioria dos Sioux se recusaram a reconhecer o tratado pelo qual o exército teria o direito de proteger a rota. Durante a luta resultante desta oposição veemente dos índios, Red Cloud foi o principal arquiteto das táticas dos Sioux, inclusive da armadilha que aniquilou as tropas sob comando do General William J. Fetterman.  Estas vitórias levaram a comissão federal de paz de 1867 a pensar que Red Cloud era o principal chefe Sioux e as tentativas para pôr um fim às hostilidades foram baseadas nesta suposição. Após negociações difíceis em Fort Laramie, Red Cloud em novembro de 1868 concordou com a paz em troca do abandono do exército dos fortes da região do Rio Powder e prometeu tentar manter seu povo fora da guerra. A satisfação do governo com o tratado de Fort Laramie foi injustificada, porque Red Cloud ainda era apenas um líder guerreiro para a maioria dos Sioux.  Em 1871, quando ele se instalou na reserva que o governo havia criado com o seu nome, só conseguiu reunir um-quinto da população Sioux para acompanhá-lo. Entretanto, com o transcorrer do tempo, um número cada vez maior de Sioux foi compelido a se deslocar para a reserva e Red Cloud passou o resto de sua vida esforçando-se para atender as demandas inconstantes dos brancos e a conciliar os homens de sua tribo, sem se indispor com nenhum deles.

Filmografia: 1925 – Len Haynes em Warrior Gap. 1927 – Chief Big Tree em Despojadores do Deserto / Spoilers of the West. 1932 – John White Eagle em O Fim da Trilha / End of the Trail. 1950 – John War Eagle em Coração Selvagem / Tomahawk. 1952 – Jay Silverheels em Alçapão Sangrento / Jack McCall Desperado. 1953 – John War Eagle em Hordas Selvagens / The Great Sioux Uprising. 1955 – Robert Bice em A Conquista do Oeste / The Gun That Won the West; Morris Ankrum em O Grande Guerreiro / Chief Crazy Horse; Eduard Franz em A Um Passo da Morte / The Indian Fighter; Manuel Donde em O Tirano da Fronteira / The Last Frontier.1957 – Frank de Kova em Renegando o Meu Sangue / Run of the Arrow; Eddie Little Sky em Sinistra Emboscada / Revolt at Fort Laramie.

Sitting Bull

J. Carroll Naish em Índio Heróico

SITTING BULL (circa 1831 – 1890). Chefe e curandeiro da subtribo Hunkpapa dos Teton Sioux. Nasceu perto do Rio Grand no que é hoje Dakota do Sul. Aos quatorze anos de idade ele se distinguiu na luta contra os Crow, adquirindo fama por sua coragem. Somente depois que os Generais Henry Hastings Sibley e Alfred Sully, em 1863 e 1864, marcharam contra os Sioux da subtribo Santee após a Guerra dos Dakotas ou Minnesota Santee Uprising de 1862, foi que Sitting Bull se envolveu em lutas contra os brancos Ele participou de pequenas escaramuças com a força de Sibley no verão 1863 e ajudou a defender o acampamento Teton que Sull atacou com sucesso na Killdeeer Mountain em 28 de julho de 1864. Exatamente um ano depois Sitting Bull liderou um grande grupo de guerra que sitiou o Fort Rice. Em 1866 uma parte dos Teton Sioux, inclusive o líder guerreiro Red Cloud, fez a paz com os Estados Unidos em troca de uma vasta reserva ao redor das Black Hills. Escolhido como chefe de todo os Teton, Sitting Bull, com a ajuda de guerreiros como Crazy Horse, Gall e o velho American Horse (filho do Chefe Smoke e primo de Red Cloud), se esforçou para instilar um espírito de disciplina e unidade entre os Sioux. Em 1874, a descoberta de ouro nas Black Hills um exame de mineradores penetrou na reserva dos Siouxe em 1875 o governo ordenou que toda a tribo fosse para agência perto do White River. Como nenhuma resposta chegasse por parte dos grupos nômades de Sitting Bull, uma campanha militar foi montada contra eles na primavera de 1876. Um grande número de Sioux, Cheyenne e Araphao (alguns estimam cerca de 11 mil) se reuniu com Sitting Bull na proximidade dos rios Rosebud e Little Big Horn para discutir a ameaça branca. Após muito jejum, Sitting Bul teve uma visão de soldados mortos caindo como chuva no acampamento indígena. Logo depois, guerreiros liderados por Crazy Horse derrotaram as tropas do General George Crok na batalha de Rosebud (17 de junho) e em 25 de junho cinco tropas da 7ª Cavalaria comandadas pelo Tenente Coronel George A. Custer foram aniquiladas em Little Big Horn. Sitting Bull não participou destas batalhas. Ele ficou jejuando e rezando como era adequado para a sua posição e teve uma visão de soldados no acampamento indígena. Depois das batalhas e da retaliação subsequente ele e um grupo de seguidores partiu para o Canadá, porém o governo canadense não quís se responsabilizar por eles.  Confrontados com a fome, eles voltaram para os Estados Unidos e Sitting Bull se rendeu em 19 de julho de 1881 no Fort Buford.  Ele ficou confinado em uma reserva, mas em 1885 viajou com o Buffalo Bill´s Wild West Show. Suportando com dignidade o que deve ter sido uma experiência um tanto humilhante.

Em 1890 quando o movimento religioso em defesa da cultura Sioux chamado de Ghost Dance varreu as planícies, o agente indígena James McLaughlin temeu que Sitting Bull pudesse reemergir como líder. A polícia indígena foi enviada para prendê-lo na sua cabana no Grand River. Após uma luta feroz na madrugada de 15 de dezembro, Sitting Bull, seu filho adolescente e seis de seus leais guarda-costas foram mortos.

Filmografia: 1914 – Sitting Bull, the Hostile Sioux Chief (obs. com Buffalo Bill Cody como ele mesmo). 1926 – Noble Johnson em Golpes de Audácia / Hands Up; Noble Johnson em Grito de Batalha / Flaming Frontier. 1927 – Chief Yowlachie em Sitting Bull at The Spirit Lake Massacre .1935 – Chief Thunderbird em Na Mira de um Coração / Annie Oakley. 1936 – Howling Wolf em A Flecha Sagrada / Custer´s Last Stand. 1950 – J. Carroll Naish em Annie Get Your Gun. 1953 – Michael Granger em Código de Guerreiro / Fort Vengeance. 1954 – J. Carroll Naish em Índio Heróico / Sitting Bull. 1958 – John War Eagle em Tonka e o Bravo Comache / Tonka. 1965 – Michael Pate em O Grande Massacre / The Great Sioux Massacre. 1976 – Frank Kaquitts em Oeste Selvagem / Buffalo Bill and the Indians.

Victorio

Michael Pate em Caminhos Ásperos

VICTORIO (1809? – 1880). Chefe apache da subtribo Chiricahua do Leste. Nascido no New Mexico, provavelmente na área da Black Range ou Sierra Diablo. Associado nos anos 1850 com Geronimo e depois com Mangas Colorada, após a morte deste último, ele formou um grupo de guerreiros Chiricahua do Leste e Mescalero. Eles executaram ataques por todo o interior, porém em 1865 concordaram em se instalar na reserva Ojo Caliente ou Warm Springs. Em 1877, quando o governo dos Estados Unidos os removeu à força para uma reserva inóspita em San Carlos no Arizona, Victorio e seu grupo fugiram, matando pastores de ovelhas, roubando cavalos do Exército e mulas e gado dos colonos, emboscando tropas, saqueando em Chihuahua no México. Entretanto em 14 de outubro de 1880, tropas americanas e mexicanas rastrearam-nos perto das Tres Castillos Mountains. Os mexicanos mandaram os americanos embora e então mataram todos os apaches menos dezessete deles. Um relato diz que Victorio foi morto por outro índio, um batedor Tarahumara a serviço das tropas mexicanas. Os apaches afirmaram que ele se suicidou.

Filmografia:  1953 – Michael Pate em Caminhos Ásperos / Hondo. 1957 – Larry Chance em Defensores da Fronteira / Fort Bowie. 1970 – Dan Kemp em Trilha Sangrenta / Cry Blood Apache.

 

SERIADOS DO CINEMA NO RÁDIO

Já escreví alguns artigos sobre os seriados do cinema (As Rainhas das Selvas, Lembrando Grandes Seriados, Os Seriados de Antigamente, Heróis dos Quadrinhos nos Seriados Sonoros Americanos, Seriados Mudos Americanos e Europeus, Seriados Sonoros Americanos), mas ainda não tinha pensado no rádio.

Movido pela curiosidade, consultei vários livros (On the Air -The Encyclopedia of Old-Time Radio de John Dunning, Oxford University Press, 1968; The Big Broadcast 1920 -1950 de Frank Buxton e Bill Owen, 1972; The Great American Broadcast – A Celebration of Radio´s Golden Age de Leonard Maltin, Dutton, 1997; Serials  and Series – A World Filmography 1912-1956 de Buck Rainey, McFarland & Company, 1999; World Encyclopedia of Comics ed. por Maurice Horn, Avon, 1976), para tentar identificar quais os seriados sonoros do cinema que foram ao ar pelas ondas do rádio americano. Segue abaixo o resultado de minha pesquisa, ressaltando que nem todos os personagens das séries radiofônicas são iguais aos dos seriados cinematográficos e que alguns deles receberam vozes de mais de um radioator.

Superhomem / Superman. Columbia, 1948. Baseado na história em quadrinhos criada em 1938 por Jerry Siegel e Joe Shuster. 15 episódios. Dir: Spencer Gordon Bennett, Thomas Carr. Clark Kent / Superman (Kirk Alyn), Lois Lane (Noel Neill), Perry White, editor do Daily Planet de Metropolis (Pierre Watkin), Jimmy Olsen (Tommy Bond).

Budd Collyer

No rádio: ADVENTURES OF SUPERMAN (Início 1940). Clark Kent / Superman (Clayton Bud Collyer; substituído a partir de 1950 por Michael Fitzmaurice), Lois Lane (Joan Alexander), Perry White (Julian Noa), Jimmy Olsen (Jackie Kelk). Em 1945, Batman (Gary Merrill, Stacy Harris, Matt Crowley) e Robin (Ronald Liss) juntaram-se brevemente ao Superhomem. Abertura: Locutor: “Kellog´s Pep … o cereal super delicioso … apresenta… The Adventures of Superman! Mais veloz do que uma bala”. Sonoplastia: som do ricochete do tiro de um rifle. Locutor: “Mais poderoso do que uma locomotiva!”. Sonoplastia: som de uma locomotiva. Locutor: “Capaz de saltar para o alto de edifícios de uma só vez!”. Sonoplastia: som de uma rajada de vento forte. Locutor: “Vejam!  Lá no céu!”. 1ª Voz: “É um pássaro!”. 2ª Voz (de mulher): “É um avião!”.  3ª Voz (mais forte): “É o Superhomem!”. O ator falava em um tom de voz relativamente agudo, quando interpretava Clark Kent, e depois em um tom mais profundo e forte, quando interpretava o Superhomem. A mudança de voz ocorria geralmente no meio da fala “Isto é um trabalho – para o Superhomem!”.

Buck Rogers / Buck Rogers. Universal, 1939. 12 episódios. Baseado na história em quadrinhos criada em 1929 por Phil Nowlan  e Dick Calkins. Dir: Ford Beebe, Saul Goodking. Buck Rogers (Larry “Buster” Crabbe, Wilma Deering (Constance Moore), Dr. Huer (C. Montagu Shaw), Killer Kane (Anthony Warde), Buddy Wade (Jackie Moran), Captain Rankin (Jack Mulhall), Captain Lasca (Henry Brandon).

Carl Frank

No rádio: BUCK ROGERS IN THE 25TH CENTURY (Início 1932). Buck Rogers (Curtis Arnall, Matt Crowley, Carl Frank, John Larkin), Wilma Deering (Adele Ronson, Virginia Vass). Dr, Huer (Edgar Stehli), Killer Kane (Bill Shelley, Dan Ocko, Arthur Vinton), Ardala Valmar (Elaine Melchior). Abertura Sonoplastia: Barulho de trovão feito por um tambor. Locutor (com um efeito sonoro de um eco): “Buck Rogers in the Twenty-fifth Century!”. No elenco de radioatores estavam ainda Everett Sloane e Paul Stewart, coadjuvantes de Cidadão Kane / Citizen Kane / 1941.

O Capitão Meia-Noite / Captain Midnight. Columbia, 1942. 15 episódios. Dir: James W. Horne. Baseado na série radiofônica. Captain Albright / Captain Midnight (Dave O´Brien), Joyce Ryan (Dorothy Short), Ivan Shark (James Craven), Fury (Luana Walters), Chuck (Sam Edwards), Ichabod Mudd (Guy Wilkerson).

No rádio:  CAPTAIN MIDNIGHT (Início 1939). Captain Albright / Captain Midnight (Bill Bouchey, Ed Prentiss, Paul Barnes), Joyce Ryan (Angeline Orr, Marilou Neumayer), Ivan Shark (Boris Aplon), Fury (Rene Rodier, Sharon Grainger), Chuck (Billy Rose, Jack Bivens, Johnny Coons), Patsy Donovan (Shirley Bell), Ichabod Mudd (Art Hern, Sherman Marks). Abertura Sonoplastia: Gongo soando meia-noite … avião … descendo. Locutor: “Cap …tain…Mid… night!”.

Dick Tracy. O Detetive / Dick Tracy. Republic, 1937. 15 episódios. Dir: Ray Taylor, Alan James. Baseado na história em quadrinhos criada em 1931 por Chester Gould. Dick Tracy (Ralph Byrd), Gwen Andrews (Kay Hughes), Mike McGurk (Smiley Burnette), Junior (Lee Van Atta), Moloch (John Picorri), Steve Lockwood (Fred Hamilton), Gordon Tracy (Dick Beach antes da operação, Carleton Young depois da operação), Anderson (Francis X. Bushman). Baseado na história em quadrinhos criada em 1931 por Chester Gould.

Ned Wever

No rádio: DICK TRACY (Início 1934). Dick Tracy (Bob Burlen, Barry Thomson, Ned Wever, Matt Crowley; Pat Patton (Walter Kinsella); Junior Tracy (Jackie Kelk, Andy Donnelly); Tess Trueheart (Helen Lewis). Abertura Sonoplastia: sinais de códigos de rádio. Locutor: “Aqui é Dick Tracy no caso de … Preparem-se para a ação!”. Sonoplastia: Carros partindo sob o som de sirenes. Locutor: “Vamos lá, rapazes!”. Locutor: “Sim, é Dick Tracy. Protetor da Lei e da Ordem!”. No elenco de radioatores estava Mercedes Mc Cambridge, a rival de Joan Crawford em Johnny Guitar / Johnny Guitar / 1954.

Flash Gordon / Flash Gordon. Universal, 1936. 13 episódios. Baseado na história em quadrinhos criada em 1934 por Alex Raymond. Dir: Frederick Stephani. Flash Gordon (Larry “Buster” Crabbe), Dale Arden (Jean Rogers), Emperor Ming (Charles Middleton), Aura (Priscilla Lawson), Vultan (John Lipson), Prince Barin (Richard Alexander), Dr. Zarkov (Frank Shannon).

No rádio: FLASH GORDON (Início 1935). Flash Gordon (Gale Gordon), Dale Arden (atriz desconhecida), Dr. Zarkoff (Maurice Franklin), Ming (Bruno Wick). Embora Famoso nos quadrinhos e nos seriados, o programa radiofônico teve vida curta. Ficou apenas 26 semanas no ar e curiosamente terminou com Flash e seus companheiros caindo na selva e sendo resgatados por… Jungle Jim (Jim das Selvas), que se tornou o próximo seriado da emissora. No elenco de radioatores estavam ainda Everett Sloane e Ray Collins coadjuvantes de Cidadão Kane.

Os Tambores de Fu Manchu / Drums of Fu Manch. Republic, 1940. 15 episódios. Baseado no romance de Sax Rohmer. Dir: William Witney, John English. Fu Manchu (Henry Brandon), Sir Dennis Nayland Smith (William Royle), Allen Parker (Robert Kellard), Fah Lo Suee (Gloria Franklin), Dr. Petrie (Olaf Hytten), Professor Randolph (Tom Chatterton), Mary Randolph (Luana Walters).

No rádio: FU MANCHU (Início 1929-31). Fu Manchu (Arthur Hughes, John Daly, Harold Huber), Nayland Smith (Charles Warburton), Dr. James Petrie (Bob White), escrava Karameneh (Sunda Love, Charlote Manson). Houve uma retransmissão, THE SHADOW OF FU MANCHU com Hanley Stafford como Nayland Smith e Gale Gordon como Dr. James Petrie.

O Besouro Verde / The Green Hornet. Columbia, 1940. 13 episódios. Baseado na série radiofônica. Dir: Ford Beebe, Ray Taylor. Britt Reid / The Green Hornet (Gordon Jones), Lenore Case (Anne Neagle), Kato o mordomo filipino de Britt (Keye Luke), Michael Axford (Wade Boteler), Jasper Jenks (Philip Trent), Dean (Walter McGrail), Corey (Gene Rizzi), Pete Hawks (John Kelly).

 

Britt Reid

No rádio: THE GREEN HORNET (Início 1936). Britt Reid / Besouro Verde (Al Hodge, Donovan Faust, Bob Hall, Jack McCarth), Kato (Tokutaro Hayashi renomeado   Raymond Toyo por razões profissionais), Rolland Parker, Michael Tolan), Lenore Case (Leonore Allman), Michael Axford (Jim Irwin), Gilly Shea), Ed Lowry (Jack Petruzzi), jornaleiro que fechava cada transmissão, anunciando o último triunfo do Besouro Verde (Rollon Parker).

Jim das Selvas / Jungle Jim. Universal, 1937. 15 episódios. Baseado na história em quadrinhos criada em 1934 por Alex Raymond. Dir: Ford Beebe, Cliff Smith. Jungle Jim (Grant Withers), Joan (Betty Jane Rhodes), Malay Mike (Raymond Hatton), The Cobra (Henry Brandon), Shanghai Lil (Evelyn Brent), Bruce Redmond (Bryant Washburn), Kolu (Al Duvall).

No rádio: JUNGLE JIM (Início 1935). Jungle Jim (Matt Crowley, Gerald Mohr), Shanghai Lil (Franc Hale), Kolu (Juano Hernandez), Tiger Lil (Irene Winston), Tom Sun (Owen Jordan), Singh-Lee (Arthur Hughes), Van (Jack Loyd).

O Guarda Vingador / The Lone Ranger. Republic, 1936. 15 episódios. Baseado no personagem criado por Frank Stryker para o rádio, depois levado em 1938 para os quadrinhos. Dir: William Witney, John English. Allan King / The Lone Ranger ((Lee Powell), Tonto (Chief Thundercloud, Bert Rogers (Herman Brix), Joan Blanchard (Lynn Roberts), Jim Clark (George Letz, depois conhecido como George Montgomery), Dick Forrest (Lane Chandler), Bob Stuart (Hal Taliaferro).

Earle Graser

No rádio: THE LONE RANGER (Início 1933). The Lone Ranger (George Stenius – depois conhecido como o diretor George Seaton, Jack Deeds, James Jewell, Earle Graser, Brace Beemer), Tonto (John Todd), Dan Reid, sobrinho do Lone Ranger (Ernie Stanley, James Lipton, Dick Beals), Butch Cavendish (Jay Michael), Thunder Martin Paul Hughes). Tema musical: Abertura da ópera “Guilherme Tell” de Rossini. Outros temas:  Les Preludes de Liszt, Abertura de 1812 de Tchaikovsky, Danças Polovetsianas da ópera Príncipe Igor de Borodin, música incidental da suíte Rosamunde de Schubert e várias passagens de Mendelssohn, Wagner, Strauss e outros compositores clássicos. Sonoplastia: Tropel de cavalos. Voz do Lone Ranger: Hi-yo Silver!!! Sonoplastia: Tiros e tropel de cavalos. Locutor: Um cavalo fogoso com a velocidade da luz, uma nuvem de poeira e um grito forte Hi-yo Silver! The L-o-o-o-ne Ranger! No elenco de radioatores estava ainda John Hodiak, conhecido coadjuvante dos filmes da MGM.

Mandrake, o Mágico / Mandrake, The Magician. Columbia, 1939. 12 episódios. Baseado na história em quadrinhos criada em 1934 por Lee Falk e Phil Davis. Dir: Sam Nelson, Norman Deming. Mandrake (Warren Hull), Betty (Doris Weston), Lothar (Al Kikume), Tommy (Rex Downing), Andre (Edward Earle), Professor Houston (Forbes Murray), Webster (Kenneth MacDonald).

Raymond Edward Johnson

No rádio: MANDRAKE, THE MAGICIAN (Início 1940.) Mandrake (Raymond Edward Johnson), Lothar (Juano Hernandez), Princess Narda (Francesca Lenni). Ao contrário do seriado cinematográfico a série radiofônica conservou a personagem da Princesa Narda. Mandrake: Invoco legem magiciarum (Invoco a lei da mágica).

Aventuras de Red Ryder / Adventures of Red Ryder. Republic, 1940. 12 episódios. Baseado na história em quadrinhos criada em 1938 por Fred Harman. Dir: William Witney, John English. Red Ryder (Don “Red” Barry), Little Beaver (Tommy Cook), Ace Hanlon (Noah Beery Sr.), Calvin Drake (Harry Worth), One -Eye (Bob Kortman), Colonel Tom Ryder (William Farnum), Duchess (Maude Pierce Allen), Beth (Vivian Coe), Cherokee Sims (Hal Taliaferro), Shark (Ray Teal), One-Eyed Chapin (Robert Kortman).

No rádio: RED RYDER (Início 1942). Red Ryder (Reed Hadley, Carlton KaDell, Brooke Temple, Little Beaver (Tommy Cook, Franklin Bresee, Henry Blair, Johnny McGovern, Sammy Ogg), Buckskin Blodgett (Horace Murphy), Roland Rolinson (Arthur C. Bryan). Sonoplastia: Tropel de cavalos. Locutor: “Do Oeste vem o famoso e valente cowboy – Red Ryder!”. 

A Sombra do Terror / The Shadow. Columbia, 1940. 15 episódios. Baseado no personagem criado em uma pulp story de 1931 por Walter Brown Gibson sob o pseudônimo de Maxwell Grant. Depois do seriado do cinema, foi levado para os quadrinhos, desenhado por Vernon Greene. Dir: James W. Horne. The Shadow / Lamont Cranston / Lin Chang (Victor Jory), Margot Lane (Veda Ann Borg), Harry Vincent (Robert Moore), Turner (Robert Fiske), Stanford Marshall / Black Tiger (J. Paul Jones), Flint (Jack Ingram), Roberts (Charles Hamilton), Commissioner Ralph Weston (Frank La Rue), Inspector Cordona (Edward Piel Sr.).

No rádio: THE SHADOW (Início 1930). The Shadow (James La Curto, Frank Readick, Orson Welles (aos 22 anos de idade), Bill Johnstone, Bret Morrison, John Archer, Steve Courtleigh), Margo Lane (Agnes Moorehead, Marjorie Anderson, Judith Allen, Laura Mae Carpenter, Lesley Woods, Grace Mathews, Gertrude Warne), Commissioner Weston (Ray Collins, Arthur Vinton). No elenco de radioatores estavam ainda: Keenan Wynn, Everett Sloane, Ted de Corsia.

Orson Welles

Em 1943 houve uma versão do seriado radiofônico americano, transmitida pela Rádio Nacional às 22h05 das terças-feiras sob o patrocínio das lâminas de barbear Gilette Azul, com o personagem interpretado por Saint Clair Lopes. Em 1944 foi ao ar pela Radio Record, com a voz de Otávio Gabus Mendes. Os ouvintes da época nunca se esqueceram da famosa frase: “Quem sabe o mal que se esconde nos corações humanos?… O Sombra sabe!…” Sonoplastia: gargalhada apavorante. Algumas crianças ficavam com medo; outras, mais corajosas, gostavam de imitar a voz cavernosa do herói.

 O Terror dos Mares / The Sea Hound. Columbia, 1947. 15 episódios. Baseado na série radiofônica. Dir: Walter B. Eason, Mach Wright. Captain Silver (Buster Crabbe), Tex (Jimmy Lloyd), Ann Whitney (Pamela Blake), Jerry (Ralph Hodges), Admiral (Robert Barron), Stanley Rand (Hugh Prosser), Manila Pete (Rick Vallin), Kukai (Spencer Chan), Vardman (Pierce Lyden), Singapore Manson (Rusty Wescott). No rádio: THE SEA HOUND (Início 1942). Captain Silver (Ken Daigneau), Jerry (Bobby Hastings).

 Aventuras de Chico Viramundo / Adventures of Smilin’ Jack. Universal, 1943. 13 episódios. Baseado. Na história em quadrinhos criada em 1933 por Zack Mosler. Dir: Ray Taylor, Lewis D. Collins. Smilin’ Jack (Tom Brown), Janet (Marjorie Lord), Wu Tan (Philip Ahn), Kushimi (Jay Novello), Lo San (Nigel de Brulier), Tommy (Edgar Barrier), Kageyama (Turhan Bey), Frauline Von Teufel (Rose Hobart), Captain Wing (Keye Luke), General Kai Ling (Sidney Toler), Mah Ling (Cyril Delavani). No rádio: SMILIN`JACK (Início 1939). Smilin’ Jack (Frank Readick). Locutor: Tom Shirley. Abertura Sonoplastia: zumbido de um avião e uma voz ordenando: “Limpem a pista para Smilin’ Jack!

Terry e os Piratas / Terry and the Pirates. Columbia, 1940.15 episódios. Baseado na história em quadrinhos criada em 1934 por Milton Caniff. Dir: James W. Horne.Terry Lee (William Tracy), Pat Ryan (Granville Owen), Normandie Drake (Joyce Bryant), Connie (Allen Jung), Big Stoop (Victor De Camp), Dragon Lady (Sheila Darcy), Fang (Dick Curtis), Dr.Lee (J. Paul Jones), Allen Drake (Forrest Taylor), Stanton (Jack Ingram). No rádio: TERRY AND THE PIRATES (Início 1937). Terry Lee (Jackie Kelk, Cliff Carpenter, Owen Jordan, Bill Fein), Pat Ryan (Clayton Budd Collyer, Warner Anderson, Bob Griffin, Larry Alexander), Dragon Lady (Agnes Moorehead, Adelaide Klein,Marion Sweet), Connie (Cliff Norton, John Gibson, Peter Donald), Flip Corkin (Ted De Corsia), Eleta (Greta Rozan), Burma (Frances Chaney), Hotshot Charlie (Cameron Andrews). Locutor: Douglas Browning. Abertura Sonoplasita: de um gongo.Locutor:

GRANDES COADJUVANTES DO CINEMA AMERICANO CLÁSSICO

Chamados de supporting actors, eles eram parentes, patrões, auxiliares, vizinhos, componentes de várias profissões, amigos ou inimigos dos astros que encabeçavam o elenco dos filmes nos quais apareciam. Em muitos casos interpretavam o mesmo tipo de um filme para o outro, de modo a fazer com que o público soubesse o que esperar deles, e aí recebiam o nome de character actors. Muitos atores trabalharam como astros ou coadjuvantes; outros atores funcionaram somente como coadjuvantes e eventualmente como astros. Dada a quantidade deles no cinema clássico americano, escolhí para representá-los dois, que são os meus favoritos; mas esclareço que eles não são de maneira nenhuma os únicos dignos de serem mencionados; pelo contrário, existem centenas de outros, masculinos ou femininos, capazes de figurar em qualquer lista de preferências.

WALTER BRENNAN

Walter Brennan

Ele iluminava uma cena quando aparecia na tela e tirava proveito de suas deficiências físicas, incluindo perda de dente, cabelo raro e corpo frágil, para interpretar personagens muito mais velhos do que sua idade real. Walter Andrew Brennan (1894 – 1974) nasceu em Lynn, Massachusetts filho de imigrantes irlandeses. Seu pai, William John Brennan era engenheiro e o jovem Walter estudou engenharia na Rindge Technical High School em Cambridge, Massachusetts. Quando estava na escola secundária, Brennan interessou-se pela carreira de ator e aos quinze anos começou a atuar no vaudeville. Quando trabalhava como funcionário de banco, alistou-se no Exército, e serviu como soldado raso no 101st Field Artillery Regiment na França durante a Primeira Guerra Mundial. Neste tempo sofreu uma lesão nas suas cordas vocais devido à exposição ao gás de mostarda, o que explica sua voz esganiçada e aguda, que se tornou a marca registrada na tela. Após o armistício, Brennan prestou serviço como repórter financeiro para um jornal em Boston. Ele pretendia se mudar para a Guatemala e se dedicar ao cultivo de abacaxis, porém só chegou até Los Angeles. Durante o início dos anos vinte, ganhou muito dinheiro no mercado imobiliário, porém perdeu quase tudo na crise de 1925.

Passou então a ganhar a vida como extra ou em pequenos papéis primeiramente nos estúdios da Universal e depois em outras companhias, aparecendo entre 1925 e 1935 em inúmeras produções classe A (v. g. Lei e Ordem / Law and Order / 1932, O Véu Pintado / The Painted Veil / 1934), faroestes de caubóis famosos v. g. Tim McCoy, Tom Mix, Buck Jones, Hoot Gibson), seriados (v. g. O Rei dos Detetives / Blake of the Scotland Yard / 1927)  e comédias curtas ( v. g. nas de Slim Summerville e, por curiosidade, na primeira comédia dos Três Patetas, Woman Haters / 1934). Quando estava fazendo uma cena de luta em um desses filmes, algum outro ator lhe deu um chute no rosto e todo os seus dentes se quebraram. Ele teve que colocar dentes postiços, mas quando necessário podia tirá-los e subitamente parecer cerca de quarenta anos mais velho.

Sua primeira chance surgiu, quando trabalhou em um filme produzido por Samuel Goldwyn, A Noite Nupcial / The Wedding Night / 1935. Ele era apenas um figurante, mas sua participação foi expandida durante a filmagem (assumindo o papel de Bill Jenkins), e acabou assinando contrato com Goldwyn, que o emprestou para outros estúdios. Brennan foi promovido a coadjuvante em Duas Almas de Encontram / Barbary Coast / 1936 (fazendo o papel do velho valente Old Atrocity) e depois obteve um dos papéis principais em Três Padrinhos / Three Godfathers / 1936 (MGM) formando com Chester Morris e Lewis Stone o trio de bandidos. Destacou-se também como Lem em Vivendo na Lua / The Moon´s Our Home / 1936 (Walter Wanger / Paramount) e “Bugs” Mayers em Fúria / Fury / 1936 de Fritz Lang (MGM).

Walter Brennan, Edward Arnold e Frances Farmer em Meu Filho é Meu Rival

Walter Brennan em Romance do Sul

Ainda em 1936, Brennan conquistou o primeiro dos seus três Oscar de Melhor Ator Coadjuvante em Meu Filho é Meu Rival / Come and Get It (Goldwyn), como Swan Bostrom, o melhor amigo de um magnata da madeira, Barney Gasglow (Edward Arnold), que se casa com a mulher que Barney abandonara por dinheiro e posição. Brennan recebeu seu segundo Oscar em Romance do Sul / Kentucky /1938 (20thCentury-Fox) como Peter Goodwin, o tio mal-humorado de uma moça, Sally (Loretta Young), que se apaixona pelo jovem Jack Dillon (Richard Greene) de uma família rival desde a Guerra Civil neste drama romântico tendo como pano de fundo as corridas de cavalos do Kentucky Derby. O terceiro Oscar veio em O Galante Aventureiro / The Westerner / 1940 (Goldwyn) como o excêntrico e corrupto Juiz Roy Bean, que se intitula “a única lei a Oeste de Pecos” e é um fã devotado da atriz Lilian Langtry. Explorando este sentimento do juiz, um vaqueiro acusado do roubo de um cavalo (Gary Cooper) consegue adiar sua sentença, prometendo-lhe um cacho de cabelos de Lilian.

Walter Brennan e Gary Cooper em O Galante Aventureiro

Além dos três prêmios da Academia, Brennan obteve mais uma indicação em Sargento York / Sergeant York / 1941 (Warner Bros.) por seu desempenho como o Pastor Rosie Pile, que defende as convicções religiosas de Alvin C. York (Gary Cooper), o soldado americano mais condecorado da Primeira Guerra Mundial. No mesmo ano ele teve seu nome em primeiro lugar nos créditos de O Segredo Pântano / Swamp Water (20thCentury-Fox), primeiro filme de Jean Renoir nos EUA, interpretando o papel do fugitivo da justiça Tom Keefer, que vive com sua filha (Anne Baxter) em um pântano da Georgia.

Walter Brennan e Henry Fonda em Paixão dos Fortes

O admirável ator coadjuvante enriqueceu com sua presença marcante muitos filmes de  grandes e pequenos diretores, merecendo destaque seu desempenho em: Uma Aventura na Martinica / To Have and Have Not / 1944 (como Eddie, o  bêbedo claudicante e tagarela amigo do herói (Humphrey Bogart),  capitão de um barco de pesca envolvido com a Resistência e os policiais do Regime de Vichy); em Paixão dos Fortes / My Darling Clementine /1946 (como o patriarca severo (“when ya pul a gun, kill the man”) da família Clanton que enfrenta Wyatt Earp e seus amigos no célebre duelo do O.K. Corral); em Rio Vermelho / Red River / 1949 (como o amigo teimoso de Tom Dunston (John Wayne); em Onde Começa o Inferno / Rio Bravo / 1959 (como Stumpy, o auxiliar idoso e aleijado do xerife John T. Chance (John Wayne).

Sem abandonar o cinema, Brennan trabalhou no rádio (v. g. na versão radiofônica de Do Mundo Nada se Leva / You Can´t Take It With You / 1938   assumindo, depois de Everett Sloane, o papel de Martin Vanderhof, que fôra de Lionel Barrymore no filme de Frank Capra) e na televisão (v. g. como o Vovô Amos na série The Real McCoys). O sucesso da série levou-o a fazer algumas gravações, sendo a mais popular (e emocionante) “Old Rivers”, sobre um menino, um velho fazendeiro e sua mula.

THELMA RITTER

Especialista em interpretar personagens amargurados ou com língua afiada, dando sua opinião ou conselhos não solicitados, ela sempre chamava atenção quando estava na tela.  Foi indicada seis vezes para o Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante, sendo as quatro primeiras vêzes em anos consecutivos.

Thelma Riter (1902 – 1969) nasceu no Brooklyn, Nova York, filha de Charles e Lucy Riiter.

Thelma Ritter

Iniciou sua carreira ainda adolescente aparecendo em peças encenadas no seu colégio e depois em companhias teatrais de repertório, recebendo treinamento na American Academy of Dramatic Arts. No outono de 1926 ela estreou na Broadway em um pequeno papel na comédia “The Shelf”, que ficou somente 32 dias em cartaz. Em 1927 casou-se com Joseph Moran (que também era ator, mas mudou de profissão nos meados dos anos trinta, tornando-se um executivo do ramo da publicidade) e se afastou por um tempo do palco para criar seus dois filhos. Posteriormente, retomou seu trabalho no teatro e atuou também no rádio. Somente aos 55 anos de idade fez seu primeiro filme (sem ser creditada) em um papel pequeno, mas memorável, como a mãe incapaz de achar o brinquedo que Kris Kringle (Edmund Gwenn), o velho que se diz Papai Noel, prometeu ao seu filho em De Ilusão Também se Vive / Miracle on 34th Street / 1947 (20thCentury-Fox).

Thelma Ritter e Bette Davis em A Malvada

 

No segundo (Sublime Devoção / Call Northside 777 / 1948) e terceiro (Quem é o Infiel? / A Letter to Three Wives / 1949) filme de Thelma na Fox, sua personagem tinha um nome (respectivamente secretária Dollie Caillet e empregada Sandra Dugan), mas não foi novamente creditada. Joseph L. Mankiewicz, diretor do segundo filme, ficou com a imagem dela na cabeça e a incluiu no elenco de A Malvada / All About Eve / 1950, proporcionando-lhe a conquista de sua primeira indicação para o Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante como Birdie Coonan, a cínica e piadista camareira de Margo (Bette Davis). Nos três anos seguintes ela repetiu a façanha: como Ellen McNulty, a sogra-cozinheira de filha de um embaixador casada com seu filho em O Quarto Mandamento / The Mating Season / 1951; como Clancy, a enfermeira devotada e espirituosa em Meu Coração Canta / With a Song in my Heart / 1952; como Moe Williams, a vendedora de gravatas informante de Skip McCoy (Richard Widmark) em Anjo do Mal / Pick Up on South Street / 1953.

Thelma Ritter e Richard Widmark em Anjo do Mal

Thelma receberia mais duas indicações ao Oscar: como Alma, a empregada constantemente de pileque de Jan Morrow (Doris Day) em Confidências à Meia-Noite / Pillow Talk / 1959 e como Elizabeth Stroud, mãe de Robert Stroud (Burt Lancaster), o presidiário que virou ornitólogo, em O Homem de Alcatraz / Birdman of Alcatraz / 1962. Entre os outros filmes que fez entre 1947 e 1968, ela teve desempenhos merecedores de destaque como Mae Swasey, a casamenteira profissional em A Modelo e a Casamenteira / The Model and the Marriage Broker / 1951; como Maude Young, a viúva milionária de Montana em Náufragos do Titanic / Titanic / 1953; como Stella, a enfermeira destemida de Jeff (James Stewart) em Janela Indiscreta / Rear Window / 1959 de Alfred Hitchcock.

Burt Lancaster e Thelma Ritter em O Hmem de Alcatraz

Doris Day e Thelma Ritter em Confidências à Meia-Noite

Thelma Rtter e James Stewart em Janela Indiscreta

Thelma trabalhou também na televisão e no palco, ganhando o Emmy como atriz coadjuvante em 1956 por sua performance em um teleteatro do programa Goodyear Television Playhouse, “The Cattered Affair”, de autoria de Paddy Chayefsky e, dois anos depois, o Tony Award de Melhor Atriz em um musical, “New Girl in Town”, baseado na peça “Anna Christie” de Eugene O´Neill.

                                                                                                                                                         HOMENAGEM

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Harry Carey Jr. Morris Carnovsky. Leo Carrillo. John Carroll. Leo G. Carroll. Jack Carson. Lon Chaney Jr. Lee J. Cobb. Charles Coburn. James Coburn. Louis Calhern. Phil Carey. John Carradine. Leo G. Carroll. Anthony Caruso. Wally Cassell. Howland Chamberlin. Mady Christians. Berton Churchill. Eduardo Ciannelli. Dane Clark. Fred Clark. Steve Cochran. George Colouris. Ray Collins. Joyce Compton. Walter Connolly. Tom Conway. Elisha Cook Jr. Gladys Cooper. Jackie Cooper. Pedro de Cordoba. Jeff Corey. Jerome Courtland. Laird Cregar. Laura Hope Crews. Donald Crisp. Richard Cromwell. Hume Cronyn. Finlay Curie. Ken Curtis. Marcel Dalio. Howard Da Silva. Henry Daniell. Royal Dano. Helmut Dantine. Roy D´Arcy. Frankie Darro. Harry Davenport, Jane Darwell. Cathy Downs. Ted De Corsia. Don DeFore. Olivia De Havilland. John Dehner. Albert Dekker. William Demarest. Richard Denning. Reginald Denny. Andy Devine. Brad Dexter. John Dierkes. Charles Dingle. Philip Dorn. Melvyn Douglas. Charles Drake. Ellen Drew. Howard Duff. Andrew Duggan. Douglas Dumbrille. Dan Duryea. Maude Eburne. Barbara Eden. James Edwards. Richard Egan. Jack Elam. James Ellison. William Eythe. Hope Emerson. John Emery. Leif Erickson. Gene Evans. Stuart Erwin. Peter Van Eyck. William Eythe. Frank Faylen. Fritz Feld. Frank Ferguson. Mel Ferrer. Stepin Fetchit. W. C. Fields. Barry Fitzgerald. Geraldine Fitzgerald. Jo Van Fleet. Jay C. Flippen. Nina Foch. Francis Ford. Wallace Ford. Byron Foulger.  Arthur Franz. William Frawley. Bert Freed. Will Geer. Gladys George. Steven Geray. James Gleason. Thomas Gomez. C. Henry Gordon. Leo Gordon. Bonita Granville. Charley Grapewin. Sydney Greenstreet. Jane Greer. Virginia Grey. Hugh Griffith. Paul Guilfoyle. Edmund Gwenn. Gene Hackman.  Sara Haden. Reed Hadley. Jean Hagen. Alan Hale. Porter Hall. Thurston Hall. Charles Halton. Margaret Hamilton. Richard Haydn. Cedric Hardwicke. Raymond Hatton. Signe Hasso. Juano Hernandez. Jean Hersholt. Darryl Hickman. Russell Hicks. Rose Hobart. John Hodiak. Sterling Holloway. Celeste Holm. Taylor Holmes. Skip Homeier. Oscar Homolka. Edward Everett Horton. John Hoyt. Rochelle Hudson. Mary Beth Hughes. Henry Hull. Ian Hunter. Kim Hunter. Ruth Hussey. Martha Hyer. Warren Hymer. Eugene Iglesias. John Ireland. Burl Ives. Richard Jaeckel. Sam Jaffe. Dean Jagger. Claude Jarman Jr. Allen Jenkins. Isabel Jewell. Ben Johnson. Carolyn Jones. Victor Jory. Allyn Joslyn. Katy Jurado. Robert Keith. Cecil Kellaway. Barry Kelley. Paul Kelly. Charles Kemper. Arthur Kennedy. Edgar Kennedy. J. M. Kerrigan. Guy Kibbee. Percy Kilbridge. Patrick Knowles. Barry Kroeger. Otto Kruger. Jack Lambert. Elsa Lanchester. Carole Landis. Jack La Rue. Marc Lawrence. Anna Lee. Sheldon Leonard.  Oscar Levant. Sam Levene. Fritz Leiber. John Litel. Norman Lloyd. Gene Lockhart. Richard Long. Richard Loo. Montagu Love.  Lukas. Donald McBride. Aline MacMahon. Frank McHugh. Barton McLane. Stephen McNally. Marjorie Main. Karl Malden. Miles Mander. Margo. Hugh Marlowe. Herbert Marshall. Tully Marshall. Lee Marvin. Mike Mazurki. Mercedes McCambride. Hattie McDaniel. Roddy McDowall. Charles McGraw. John McIntire. Stephen McNally. Butterfly McQueen. George Mcready. Patricia Medina. Donald Meek. Beryl Mercer. Una Merkel.  Emile Meyer. Robert Middleton. Ann Miller. Cameron Mitchell. Grant Mitchell. Millard Mitchell. Thomas Mitchell. Gerald Mohr. Frank Morgan. Henry Morgan. Ralph Morgan. Agnes Moorehead. Antonio Moreno. Rita Moreno. Vic Morrow. Arnold Moss. Zero Mostel. Allan Mowbray. George Murphy. Clarence Muse. Alan Napier. Mildred Natwick. Alla Nazimova. Jeannette Nolan. Simon Oakland. Hugh O´Brian. Virginia O´Brien. Arthur O´Connell. Una O´Connor. Barbara O´Neil. Henry O´Neill. Jack Oakie. Warner Oland. Edna May OIiver. Moroni Olsen. David Opatoshu. Robert Osterloh. Maria Ouspenskaia. Reginald Owen. Eugene Palette. Franklin Pangborn. Nat Pendleton. Nehemian Persoff. Paul Picerni.. Tom Powers. John Qualen. Eddie Quilan. Jessie Ralph. Jane Randolph. Carl Benton Reid.  Anne Revere. Stanley Ridges. Richard Rober. Roy Roberts. Gilbert Roland. Anthony Ross. Charles Ruggles. Sig Ruman. Ann Rutherford. S. Z. Sakall. Olga San Juan. Walter Sande. Joe Sawyer. Dan Seymour. Joseph Schildkraut. Arthur Shields. Reinhold Schunzel.  Henry Silva. Frank Silvera. Russell Simpson. Walter Slezak. Everett Sloane. Art Smith. C. Aubrey Smith. Vladimir Sokoloff. Gale Sondergaard. Guy Standing. Henry Stephenson. Jan Sterling. Paul Stewart. Milburn Stone. Ludwig Stoessell. Glenn Strange. Woody Strode. Shepperd Strudwick. Gloria Stuart. John Sutton. Lyle Talbot. William Talman. Akim Tamiroff. Jessica Tandy. Ray Teal. Marshall Thompson. George Tobias. Regis Toomey. Kenneth Tobey. Forrest Tucker. Tom Tully. Lee Van Cleef. Raymond Walburn. Lucille Watson. James Whitmore. Dame May Whitty. Richard Whorf. Guinn “Big Boy” Williams. John Williams. Rhys Williams. Charles Winninger. Joseph Wiseman. Ian Wolfe. Donald Woods. Will Wright. Margaret Wycherly. Keenan Wynn. Blanche Yurka. George Zucco.

Ainda estão faltando muitos outros como, por exemplo, os astros que foram coadjuvantes, os coadjuvantes que foram astros eventualmente ou personificaram amigos dos mocinhos, mocinhas ou vilões nos faroestes classe “B”  e nos seriados (v. g. Morris Ankrum, Roy Barcroft, Trevor Bardette, Buzz Barton, Adrian Booth, Pat Brady, Rand Brooks, Smiley Burnette, Pat Buttram, Martin Garralaga, Lane Chandler, George Chesebro, Andy Clide, Phyllis Coates, Edmund Cobb, Art Davis, Rufe Davis, Buddy Ebsen, Penny Edwards, Dale Evans, Jane Frazee, Lorna Gray, George “Gabby” Hayes, Jennifer Holt, Arthur Hunnicutt, Paul Hurst, Anne Jeffreys, Charles King, Fred Kohler Sr., Frank Lackteen, George J. Lewis, Tom London, Kenneth McDonald, Chris Pin Martin, Iris Meredith, Leroy Mason, Charles Middleton, Walter Miller, Ruth Mix, Fuzzy Night, Wheeler Oakman, Bud Osborne, Cecilia Parker, Marshall Reed, Duncan Renaldo, Marjorie Reynolds, Estelita Rodriguez, Sheila Ryan, Tom Santschi, Linda Stirling, Al St. John, Dub Taylor, Max Terhune, Hal Taliafero, Chief Thunderclod, Luana Walters, Louis Wolhein. Joan Woodbury, Harry Woods, Hank Worden, Frank Yaconnelli). A todos presto tributo pela sua inestimável contribuição ao cinema de Hollywood,  muitas vezes despercebida do público.

PERSONAGENS FAMOSOS DO WESTERN NA VIDA REAL E NA TELA

Para os fãs do western é interessante conhecer os personagens da vida real do Velho Oeste, que deixaram sua marca nos filmes do gênero e os intérpretes que tiveram na tela, cumprindo lembrar que nem sempre os fatos correspondem à ficção. Seguem em ordem alfabética relação de doze figuras verídicas focalizadas pelo “cinema americano por excelência”, acompanhada por um resumo de sua história e uma filmografia compreendendo apenas produções realizadas até 1970.

Judge Roy Bean

Walter Brennan e Gary Cooper em O Galante Aventureiro

Judge Roy Bean (1825-1903)Após algumas aventuras, entre elas ter combatido como paramilitar durante a Guerra Civil, Roy Bean, nascido em Mason County, Kentucky, estabeleceu-se no sudoeste do Texas, onde abriu o saloon Jersey Lilly e fundou a aldeia de Langtry, ambos batizados com o nome da atriz inglesa Lillian Langtry, de quem era um fã devotado. Antes de fundar Langtry, obteve uma nomeação como juiz de paz e, apesar de não ter conhecimento devido da lei e dos procedimentos judiciais adequados, suas sentenças baseadas no bom senso, eram amplamente aceitas pela população escassa da região. Autoproclamando-se “a lei a oeste de Pecos”, Bean tornou-se famoso nacionalmente por sua personalidade excêntrica.

Filmografia: 1940 – Walter Brennan em O Galante Aventureiro / The Westerner. 1969 – Victor Jory em Gatilhos da Violência / A Time for Dying.  1970 – Paul Newman em Roy Bean – O Homem da Lei / The Life and Times of Judge Roy Bean.

Billy the Kid

 

Johnny Mack Brown em O VIngador

Billy the Kid (1859-1903) – Nasceu em Manhattan, Nova York., com o nome de Henry McCarty, filho de imigrantes irlandeses. Depois de trabalhar como lavrador e vaqueiro sob o nome de William Antrim, Billy – então com dezessete anos de idade – matou um ferreiro, que o provocava e ofendia. Para escapar das autoridades, fugiu para Mesilla New Mexico, onde assumiu o nome de William H. Bonney e dalí partiu para Lincoln County no mesmo Estado. Na época, John Chisum estava desafiando o domínio econômico de Lawrence G. Murphy e seus associados sobre contratos com o governo. Billy, que havia trabalhado para Murphy como ajudante de rancho (e ladrão de gado) envolveu-se mais diretamente na disputa entre Chisum e Murphy, quando foi trabalhar para o inglês John Tunstall, aliado de Chisum. Nos meses seguintes as relações entre as facções rivais pioraram, até que Tunstall foi morto pelos capangas de seu adversário.

Nomeados como delegados de justiça e batizados de “Os Reguladores de Lincoln”, Billy e outros homens saíram em busca dos assassinos de Tunstalll. Na busca dos procurados três foram mortos, entre eles o xerife Brady, apoiador da facção Murphy. Em um tiroteio em grande escala entre os grupos em choque, Billy conseguiu escapar. O novo governador do território, Lew Wallace, emitiu um decreto de anistia geral, mas que não se aplicava a Billy por causa de seu envolvimento com a morte do xerife Brady. Em fevereiro de 1879 foi declarada uma trégua, mas ela somente durou até que membros da facção Murphy matassem um advogado chamado Chapman. Decidido a por fim de uma vez por todas à luta entre as duas facções, o governador Wallace prometeu a Billy o perdão em troca de seu testemunho contra os assassinos de Chapman. Billy concordou e se entregou, porém os assassinos de Chapman escaparam. Billy permaneceu em custódia na prisão em Lincoln County até o início dos trabalhos da côrte. Cansado de esperar o perdão prometido, ele fugiu, e se envolveu em roubo de gado e cavalos e alguns incidentes de morte. O xerife Pat Garrett capturou-o perto de Fort Sumner e Billy foi condenado pelo assassinato do xerife Brady. Após matar dois dos seus guardas, Billy conseguiu fugir mais uma vez. Garrett perseguiu-o novamente, encontrando-o no rancho de Pete Maxwell. Garrett estava no quarto escuro de Maxwell, quando Billy entrou. Garrett reconheceu sua voz e atirou duas vezes, matando-o. Billy morreu sem saber quem o matou.

Filmografia: 1930 – Johnny Mack Brown em O Vingador / Billy the Kid. 1938 – Roy Rogers em Billy the Kid Returns. 1940 – Jack Buetel em O Proscrito / The Outlaw. 1941 – Robert Taylor em Gentil Tirano/ Billy the Kid. 1942 – Gordon De Main em Redenção de um Bandido / West of Tombstone. 1949 – Audie Murphy em Duelo Sangrento / The Kid from Texas. 1949 – Don “Red” Barry em I Shot Billy the Kid. 1953 – Tyler MacDuff em Aço de Boa Têmpera / The Boy from Oklahoma. 1954 – Scott Brady em O Último Matador / The Law vs. Billy the Kid. 1955 – Nick Adams em Uma Estranha em meu Destino / Strange Lady in Town. 1957 – Anthony Dexter em Destino Violento / The Parson and the Outlaw; Paul Newman em Um de Nós Morrerá / The Left-Handed Gun. 1964 – Johnny Ginger em Os Reis do Faroeste / The Outlaws is Coming. 1965 – Chuck Courtney em Billy the Kid vs. Dracula. 1970 – Geoffrey Deuel em Chisum / Chisum. Vale mencionar ainda a série Billy the Kid, produzida pela PRC primeiramente com Bob Steele e depois Buster Crabbe como Billy.

Daniel Boone

George O´Brien e Heather Angel em Rasgando Horizontes

Daniel Boone (1734-1820). Pioneiro e desbravador, filho de Quakers, nascido em Berks County, Pennsylvania. A trilha que abriu no desfiladeiro de Cumberland nos montes Apalaches foi fundamental para o povoamento do Oeste dos Estados Unidos. Em 1753 seu irmão Squire comprou uma fazenda em Davidson County, North Carolina e alí nasceu o interesse profundo de Daniel pelos bosques e caçadas. Em 1767 ele atravessou os Apalaches e entrou na região do Kentucky pela primeira vez. Em 1773 tentou se instalar lá com sua família, mas um ataque de índios forçou-o a se retirar. Em 1775 Boone, a serviço da Transylvania Company, começou a abrir a Boone’s Trail ou Wilderness Road de Cumberland Gap para o Kentucky River e neste último lugar ajudou a construir o Fort Boonesboro. Entre 1775 e 1778 Boone estava envolvido no conflito com os índios no Kentucky. Ele foi aprisionado pelos Shawnee e nos próximos três meses viveu entre eles, porém conseguiu fugir e defender o forte de um ataque conjunto de índios e britânicos. As terras que reivindicou para si no Kentucky foram perdidas em virtude de um erro no registro civil. Em 1799 Boone viajou com sua família mais e mais para o oeste, terminando seus dias no Missouri.

Filmografia: 1923 – Charles Brinley no seriado da Universal Nos Dias de Daniel BooneI / In the Days of Daniel Boone. 1926 – Roy Stewart em Daniel Boone Through The Wilderness. 1935 – Buffallo Bill Jr no seriado da Mascot O Cavaleiro Alado / The Miracle Rider.1936 – George O´Brien em Rasgando Horizontes / Daniel Boone. 1941 – Bill Elliott em A Volta de Daniel Boone / The Return of Daniel Boone. 1950 – David Bruce em Perfídia Selvagem / Young Daniel Boone. 1956 – Bruce Bennett em Alma de Bandeirante / Daniel Boone,Trail Blazer.

James Bowie

Allan Ladd em Nenhuma Mulher Vale Tanto

James Bowie (1795-1836). Nascido em Logan County, Kentucky. Aos 19 anos de idade saiu de casa e se instalou em Lousiana. Após um duelo quase-fatal, o irmão de Jim, Rezin, desenhou para ele a famosa faca de dois gumes, que se tornou conhecida como “faca Bowie”. Em 1828 Bowie foi para o Texas, onde fez amizade com o vice-governador mexicano, Juan Martin Veramendi, assumiu a cidadania mexicana, e se casou com a filha de Veramendi, Ursula em 1831. Depois de procurar em vão uma mina de prata no rio San Saba, Bowie combateu na batalha de Nacogdoches ao lado de um grupo de texanos que se revoltaram contra a ordem do comandante do exército mexicano Jose de las Piedras, para que entregassem suas armas. Bowie lutou também contra os índios em 1833 e, enquanto estava afastado do lar, sua esposa e dois filhos faleceram vitimados pela cólera. Bowie envolveu-se na revolução texana contra o México e, no final de fevereiro de 1836, estava comandando uma pequena força de voluntários em San Antonio, quando William Barret Travis chegou com tropas regulares do exército texano. Pouco depois os grupos compartilharam a defesa do Alamo, velha missão abandonada onde os texanos resistiram ao inimigo. Os voluntários de Bowie não aceitavam Travis como seu líder enquanto Travis e sua tropa se queixavam de que Bowie estava sempre bêbado e era muito pouco militar no comando de seus voluntários. Durante o cerco do Alamo Bowie caiu doente vitimado pela pneumonia e passou seus últimos onze dias alternado entre calafrios e febre em uma cama estreita. Quando o massacre final veio em 6 de março de 1836, ainda deitado na cama, Bowie lutou ferozmente com sua famosa faca, antes que os mexicanos o matassem a baionetas.

Filmografia: 1915 – Alfred Paget em Martyrs of the Alamo. 1926 – Bob Fleming em DavyCrockett at the Fall of the Alamo. 1937 – Roger Williams m Heroes of the Alamo. 1937 – Hal Taliaferro no seriado da Republic O Aliado Misterioso / The Painted Stallion. 1939 – Robert Armstrong em A Grande Conquista / Man of Conquest. 1950 – MacDonald Carey em Terra Selvagem / Comanche Territory. 1952 – Alan Ladd em Nenhuma Mulher Vale Tanto / The Iron Mistress. 1953 – Stuart Randall em Sangue por Sangue / The Man from the Alamo. 1954 – Fess Parker em Davy Crockett, o Rei da Fronteira / Davy Crockett, King of the Wild Frontier. 1955 – Sterling Hayden em A Última Barricada / The Last Command. 1956 – Jeff Morrow em O Homem do Destino / The First Texan. 1960 – Richard Widmark em O Álamo / The Alamo.

Buffalo Bill

Joel McCrea em Buffalo Bill

Buffalo Bill (1840 – 1917). William Frederick Cody nasceu em Le Claire, Scott County, Iowa. Quando o território do Kansas foi aberto para colonização em 1854, a família se transferiu para lá e se instalou em Salt Creek Valley perto do Fort Leavenworth. Após a morte de seu pai o jovem Cody foi empregado pela firma Major e Russell como mensageiro montado e posteriormente montou no Pony Express para a mesma companhia.  Em 1864 alistou-se como soldado no exército da União, servindo na 7th Kansas Volunteer Cavalry. Em 1866 Cody conheceu e se casou com Louisa Frederici. Depois de tentar sem sucesso manter um hotel em Salt Creek Valley, partiu para o Oeste, onde trabalhou irregularmente como batedor e guia. Em 1867-68 foi contratado para suprir de carne de búfalo os operários da construção da estrada-de-ferro Kansas Pacific, tendo sido apelidado pela primeira vez de “Buffalo Bill” neste emprego. Por ter se distinguido em transportar despachos por uma longa rota através de uma região indígena hostil, Cody chamou a atenção do General Sheridan, que o empregou como chefe dos batedores para a 5th U. S. Cavalry. Cody tomou parte em dezesseis combates contra índios, inclusive na derrota dos Cheyennes em julho de 1869. A certa altura de sua vida, um prolífico escritor de dime novels (romances baratos), Ned Buntline (pseudônimo de Edward Zane Carroll Judson), tornou Cody o herói de uma história sensacional, que foi depois dramatizada (Buntline inclusive persuadiu Cody a aparecer em um melodrama encenado em um teatro de Chicago). No verão de 1876 Cody participou de outra luta contra índios, durante a qual matou o guerreiro Cheyenne Yellow Hair (costumeira e erroneamente traduzido como Yellow Hand) na Batalha de Warbonne Creek. Cody atingiu-o com sua carabina Winchester e depois pegou uma faca Bowie e o escalpelou. Em 1883, Cody organizou o Buffalo Bill´s Wild West, espetáculo ao ar livre que dramatizava o Oeste contemporâneo. Sua exibição em Londres em 1887 nas comemorações do Jubileu da Rainha Victoria e outras excursões pela Europa fizeram do Wild West de Buffalo Bill um sucesso internacional.

Filmografia: 1922 – Duke R. Lee em In the Days of Buffalo Bill. 1924 – George Waggner em O Cavalo de Ferro / The Iron Horse. 1925 – John Fox Jr. em Correio a Cavalo / The Pony Express. 1926 – Jack Hoxie em A Última Aventura / The Last Frontier; Edmund Cobb   no seriado da Universal As Aventuras de Buffalo Bill / Fighting With Buffalo Bill; Roy Stewart em Buffalo Bill on the U. P. Trail. 1927 – Duke R. Lee   em Buffalo Bill´s Last Fight. 1928 -William Fairbanks em Ódio Fraternal / Wyoming. 1931 – Tom Tyler no seriado da Universal Aventuras de Buffalo Bill / Battling with Buffalo Bill. 1933 – Douglas Dumbrille em A Humanidade Marcha / The World Changes. 1935 – Earl Dwyer no seriado da Mascot O Cavaleiro Alado / The Miracle Rider; 1935 – Moroni Olsen em Na Mira de um Coração / Annie Oakley. 1936 – James Ellison em Jornadas Heróicas / The Plainsman; Ted Adams   em A Flecha Sagrada / Custer´s Last Stand. 1938 – Carlyle Moore em O Correio do Oeste / Outlaw Express. 1940 – Roy Rogers em O Jovem Buffalo Bill / Young Buffalo Bill. 1942 -Bob Baker em   Diligência Vitoriosa / Overland Mail. 1944 – Joel Mc Crea em Buffalo Bill / Buffalo Bill. 1946 – Richard Arlen em Buffalo Bill Volta a Galopar / Buffalo Bill Rides Again. 1949 – Monte Hale em Law of the Golden West. 1950 – Louis Calhern em Bonita e Valente  /Annie Get Your Gun; Dickie Moore em Correio das Planícies / Cody of the Pony Express. 1951 – Tex Cooper em King of the Bullwhip. 1952 – Clayton Moore em Buffalo Bill e os Índios / Buffalo Bill in Tomahawk Territory; Charlton Heston em As Aventuras de Buffalo Bill / Pony Express.1954 – Marshall Reed no seriado da Columbia Buffalo Bill, o Invencível / Riding with Buffalo Bill. 1958 – Malcolm Atterbury em Morte a Cada Passo / Badman´s Country.1964 – Jim McMullan em Bandoleiros do Oeste / The Raiders. 1966 – Guy Stockwell em Respondendo á Bala / The Plainsman.

Kit Carson

Jon Hall em Kit Carson

Kit Carson (1809-1868). Christopher “Kit” Houston Carson nasceu em Richmond, Kentucky. Aos 14 anos, já no Missouri, foi aprendiz de um seleiro. Após algum tempo, cansado deste ofício, juntou-se a uma caravana que rumava para New Mexico. Após uma breve estadia em Santa Fe, viajou para o norte, chegando à cidade de Taos, onde trabalhou com muitos homens da montanha e caçadores de peles. De 1828 a 1831 Carson acompanhou o famoso caçador Ewing Young através do sul do Arizona e Califórnia aprendendo o comércio de castores e nos anos seguintes percorreu na companhia de Jim Bridger a vastíssima zona das Montanhas Rochosas e do Far West, adquirindo amplo conhecimento da geografia e da topografia da área. Em 1842 ele conheceu o explorador John C. Frémont, participando de suas três expedições. Em 6 de fevereiro de 1843, Carson casou-se com uma jovem de quinze anos de Taos, Josefa Jaramillo.  Em seguida envolveu-se na luta contra os mexicanos, servindo também como mensageiro. Com o desfecho das hostilidades na Califórnia Carson retornou para Taos na primavera de 1849 e se tornou pecuarista em Rayado (leste de Taos), juntamente com Lucien Maxwell. Em 1853 os dois homens conduziram um grande rebanho de ovelhas para a Califórnia, obtendo um lucro expressivo. Mais tarde, Carson foi nomeado agente indígena para as tribos do norte do México e continuou neste posto até o eclodir da Guerra Civil em 1861, quando se tornou tenente coronel no exército da União e liderou expedições contra os Apaches Mescaleros, Navajos e Kiowas. Após servir como comandante do Fort Garland no sul do Colorado, Carson instalou-se com sua família em Boggsville perto de Las Animas. Sua esposa faleceu lá em abril de 1868 e Carson no mês seguinte em Fort Lyon.

Filmografia: 1911 – Jack Conway em Nos Dias de Ouro / Kit Carson´s Wooing. 1923 – Jack Perrin em The Santa Fe Trail; Guy Oliver em Os Bandeirantes / The Covered Wagon. 1925 – Guy Oliver em Alma Cabocla / The Vanishing American; Jack Mower em Kit Carson Over the Great Divide. 1927- Fred Warren em Califórnia / California. 1928 – Fred Thomson em O Grande Benfeitor / Kit Carson. 1933 – Johnny Mack Brown no seriado da Mascot Os Cavaleiros Mascarados ou Sacrifício Glorioso / Fighting With Kit Carson. 1936 – Harry Carey em O Czar do Ouro / Sutter´s Gold.1937 – Sammy McKim no seriado da Republic O Aliado Misterioso / The Painted Stallion.1939 – Bill Elliott no seriado da Columbia Luta Sem Tréguas / Overland With Kit Carson.1940 – Jon Hall em Kit Carson / Kit Carson.

David Crockett

John Wayne em O Álamo

David Crockett (1786 – 1836). Nasceu no lugar hoje conhecido como Greene County, Tennessee.  A família era pobre e Crockett teve que começar a trabalhar para os fazendeiros prósperos do local desde os doze anos de idade, conduzindo gado para Virginia. Retornando ao lar aos dezesseis anos de idade, o rapaz continuou trabalhando para outros, como tropeiro ou carroceiro, a fim de pagar as dívidas de seu progenitor, e depois por conta própria. Em 1806 ele se casou com Polly Finley, teve três filhos com ela e, em 1811, instalou-se em Bean Creek.  Crockett mostrou-se inábil para a agricultura, mas bastante capacitado para a caça, tendo matado 105 ursos em uma única temporada. Quando os índios Creek massacraram os habitantes de Fort Mims, Alabama. Crockett apresentou-se como voluntário para o exército de Andrew Jackson. Sua esposa morreu logo após seu retorno da guerra e ele se encontrou viúvo com uma filha recém nascida e dois filhos menores. Crocket logo contraiu matrimônio Elizabeth Patton, viúva com alguns recursos e dois filhos, e eles foram para Shoal Creek no Lawrence County, onde Crockett iniciou sua carreira política primeiro como magistrado, depois como juiz de paz e coronel da milícia local. Finalmente, em 1821, foi eleito para legislatura estadual, distinguindo-se como defensor dos direitos dos posseiros às terras nas quais haviam sido pioneiros. Em 1827 foi eleito para o Congresso e em 1833 obteve outro mandato que exerceu sempre em defesa dos pobres e dos índios; porém foi derrotado na próxima eleição de 1835. Profundamente amargurado, voltou sua atenção para o Texas, onde colonos americanos estavam ficando inquietos contra as medidas repressivas dos mexicanos. Crockett juntou-se aos rebeldes texanos e participou da resistência heróica no Álamo em 23 de fevereiro de 1836. Todos, com exceção de uns poucos, defensores da missão foram mortos. Provavelmente Crockett foi executado após ter sido capturado pelo exército de Santa Anna.

Filmografia: 1909 – Charles K. French em Davy Crockett – In Hearts United. 1910 – Hobart Bosworth em Davy Crockett. 1916 – A. D. Sears em Martyrs of the Alamo.  1916 – Dustin Farnum em Davy Crockett. 1926 – Cullen Landis em Davy Crockett at the Fall of the Alamo. 1937 – Jack Perrin no seriado da Republic O Aliado Misterioso / The Painted Stallion; Lane Chandler em Heroes of the Alamo. 1939 – Robert Barrat em A Grande Conquista / Man of Conquest. 1941 -Bill Elliott em O Rei do Terror / The Son of Davy Crockett. 1950 – George Montgomery em A Voz do Sangue / Davy Crockett, Indian Scout. 1953 – Trevor Bardette em Sangue por Sangue / The Man from the Alamo. 1955 – Arthur Hunnicut em A Última Barricada / The Last Command. 1956 -James Griffith em O Homem do Destino / The First Texan. 1959 – Fess Parker em Valentão é Apelido / Alias Jesse James. 1960 – John Wayne em O Álamo / The Alamo.

George Armstrong Custer

Errol Flynn em O Intrépido General Custer

George Armstrong Custer (1839-1876). Nascido em New Rumbley, Ohio. Após uma carreira tempestuosa em West Point, acumulando uma série de deméritos com relação ao estudo e à disciplina, Custer distinguiu-se na Guerra Civil por sua bravura e agressividade em vários combates da 5th Calvary, sobretudo na Batalha de Gettysburg. No início de 1864 casou-se com Elizabeth Bacon. Depois de seu retorno ao serviço ativo, participou da maioria das últimas batalhas da guerra, desempenhando papel decisivo nos acontecimentos que levaram à rendição do General Lee em Appomatox. No final do conflito, aos 23 anos de idade, ele era o major general mais jovem do exército.  Quando a paz voltou, Custer reverteu ao seu posto normal de carreira: capitão. Porém quando o exército foi ampliado para lidar com a crescente ameaça indígena nas Grandes Planícies, ele foi nomeado tenente coronel da recém criada 7th Cavalry, que desempenhou papel importante na campanha do General Hancock para pacificar os índios Cheyenne e Sioux. No decorrer das operações Custer foi julgado por uma Côrte Marcial e suspenso de suas funções por um ano pelo tratamento severo de suas tropas. Ele foi reintegrado a tempo de comandar seu regimento na chamada Battle of Washita em Oklahoma, sobre a qual os historiadores divergem se teria sido uma vitória militar sobre os índios ou um massacre. Em 1873 o regimento foi transferido para o Dakota, onde, sob o comando de Custer, participou da Stanley Expedition, que explorava o Yellowstone River. Em 1874 a expedição chegou nas Black Hills, área reservada aos Sioux por um tratado e o anúncio de que naquele lugar havia ouro ocasionou uma afluência de mineiros na área e consequentemente a retaliação dos índios. Em 1876 uma campanha em larga escala contra os indígenas culminou na Batalha de Little Big Horn no Território de Montana onde, cercados pelos Cheyennes, Sioux e outras outras tribos aliadas, Custer e mais de duzentos de seus homens perderam suas vidas.

Filmografia: 1912 – Francis Ford em Custer´s Last Fight ou Custer´s Last Raid.  1921 – T. D. Crittenden em Grito de Batalha / Bob Hampton of Placer. 1926 – Dustin Farnum em The Flaming Frontier; John Beck em General Custer at the Little Big Horn. 1932 –   William Desmond no seriado da RKO O Fantasma Vingador ou A Última Fronteira / The Last Frontier. 1933 – Clay Clement em A Humanidade Marcha / The World Changes. 1936 – Frank McGlynn Jr. em A Flecha Sagrada / Custer´s Last Stand John Miljan em Jornadas Heróicas / The Plainsman. 1939 – Roy Barcroft no seriado da Universal Perigos dos Sertão / The Oregon Trail. 1940 – Paul Kelly em O Bamba do Sertão / Wyoming; Ronald Reagan. em A Estrada de Santa Fé / Santa Fe Trail. 1941 – Addison Richards em Traição de Irmão /   Badlands of Dakota; Errol Flynn em O Intrépido General Custer / They Died with Their Boots On. 1951 – James Millican em Sanha Selvagem / Warpath. 1952 – Sheb Wooley em O Último Baluarte / Bugles in the Afternoon. 1954 – Douglas Kennedy em Índio Heróico / Sitting Bull. 1958 – Britt Lomond em Tonka e o Bravo Comanche / Tonka. 1965 – Phil Carey em O Grande Massacre / The Great Sioux Massacre. 1966 – Leslie Nielsen em Respondendo à Bala / The Plainsman. 1967 – Robert Shaw em Os Bravos Nâo de Rendem / Custer of the West. 1970 – Richard Mulligan em O Pequeno Grande Homem / Liittle Big Man.

Wild Bill Hickock

Gordon (Bill) Elliott em A Invasão dos Peles-Vermelhas

“Wild Bill” Hickock (1837 – 1876). James Butler Hickok nasceu em Homer, Illinois. Em 1855, aos dezoito anos de idade, rumou para o Kansas, onde trabalhou conduzindo carroças e diligências. Seriamente ferido por um urso na ocasião de uma viagem pela Trilha de Santa Fé foi colocado em um serviço leve na Rock Creek Stage Section no Nebraska, onde a lenda de “Wild Bill” teve início. Ali Hickok brigou com David McCanles, matando-o, assim como seus dois cúmplices. Esta luta foi exagerada mais tarde em romances de dez centavos e suas três vítimas aumentadas para dez e até trinta vezes. Seus serviços prestados ao exército da União durante a Guerra e um duelo a bala na rua principal de Springfield, Missouri contribuíram para sua imagem de pistoleiro. Após a guerra ele exerceu brevemente a função de delegado federal. Sua bela aparência, seus cabelos compridos esvoaçantes e roupas de camurça, sua precisão com a pistola, sua vocação para o jôgo, e seu papel como batedor do General Philip H. Sheridan aumentaram-lhe a reputação. Hickok também serviu de guia para um grupo de caça organizado por um senador do Massachusetts e Delegado de Hays City, Kansas. Em 1870, de acordo com alguns relatos, ele se casou secretamente com Calamity Jane. (Martha Jane Canary). Em 15 de abril de 1871 ofereceram-lhe o cargo de delegado em Abilene, Kansas. Os oito meses nos quais exerceu este encargo foram o clímax da carreira de “Wid Bill” e sua lenda foi ainda mais propagada. Hickok passou algum tempo no Buffalo Bill Wild West Show e, em 1870, casou-se com Agnes Lake Thatcher, artista equestre e dona de um outro circo. Duas semanas mais tarde ele partiu para as Black Hills. Lá em Deadwood, no Território de Dakota, no dia 2 de agosto de 1878, Hickok foi assassinado por Jack McCall em um saloon, enquanto jogava pôquer. Seu assassino foi julgado e enforcado.

Filmografia: 1923 – William S. Hart em Beijos Que Torturam / Wild Bill Hickok. 1924 – John Padjan em O Cavalo de Ferro / The Iron Horse. 1932 – Yakima Canutt no seriado da RKO O Fantasma Vingador ou A Última Fonteira / The Last Frontier. 1936 – Gary Cooper em Jornadas Heróicas / The Plainsman. 1938 – George Houston em Frontier Scout; Gordon (Bill) Elliott no seriado da Columbia A Invasão dos Peles-Vermelhas / The Great Adventures of Wild Bill Hickok. 1940 – Bill Elliott em Prairie Schooners; Bill Elliott em Perseguidor Implacável / Beyond the Sacramento; Bill Elliott em O Puma de Tucson / Wildcat of Tuckson; Roy Rogers em Sede de Ouro / Young Bill Hickok; Lane Chandler no seriado da Columbia O Caveira / Deadwood Dick. 1941 – Bill Elliott em Além das Rochosas / Across the Sierras; Bill Elliott em Algemas da Lei / North from the Lone Star; Bill Elliott em O Bamba de Kansas / King of Dodge City; Bill Elliott em O Chicote Acusador / Hands Across the Rockies; Bill Elliott em Justiça da Fronteira / Roaring Frontiers; Richard Dix em Traição de Irmão / Badlands of Dakota. 1942 – Bill Elliott em Vigilantes do Texas / Lone Star Vigilantes; Bill Elliott em O Caminho de Satanás / The Devil´s Trail; Bruce Cabot em Tropel de Bárbaros / Wild Bill Hickok Rides. 1950 – Reed Hadley em VIngador Impiedoso / Dallas. 1952 – Robert Anderson em Bando de Renegados / The Lawless Breed. 1953 – Douglas Kennedy em Alçapão Sangrento / Jack McCall Desperado; Forrest Tucker em As Aventuras de Buffalo Bill / Pony Express; Ewing Miles Brown em Son of the Renegade; Howard Keel em Ardida como Pimenta / Calamity Jane. 1956 – Tom Brown em I Killed Wild Bill Hickock. 1964 – Robert Culp em Bandoleiros do Oeste / The Raiders; Paul Shannon em Os Reis do Faroeste / The Outlaws is Coming. 1965 – Robert Dix em A Cidade dos Fora da Lei / Deadwood´76. 1966 – Don Murray em Respondendo à Bala / The Plainsman. 1970 – Jeff Corey em O Pequeno Grande Homem.  Little Big Man.

Jesse James

Tyrone Power e ane Darwell em Jesse James

Jesse e Frank James. Jesse Woodson James (1847 – 1882) e Alexander Franklin James (1843 -1915) nasceram em Clay County, MIssouri, filhos do Pastor Robert James e sua esposa Zerelda. Jesse tinha apenas três anos de idade, quando seu pai partiu para a Califórnia em busca de ouro. O pastor morreu lá e, em 1855, Zerelda James casou-se com o Dr. Reuben Samuel. Os meninos James cresceram em uma atmosfera de conflito seccional. Quando veio a Guerra Civil, Frank se juntou aos guerrilheiros de William Clarke Quantril, que logo se tornou conhecido como saqueador e assassino. Em 1864, Jesse seguiu o exemplo do irmão e, sob as ordens do guerrilheiro sanguinário Bill Anderson, participou do massacre de Centralia, no qual vinte e quatro soldados desarmados da União foram implacavelmente mortos. Na primavera de 1865 Jesse tentou se render, segurando uma bandeira branca, mas foi alvejado e seriamente ferido pelos soldados da União. Após a recuperação de Jesse, os dois irmãos teriam iniciado sua carreira de crimes em Liberty, Missouri, roubando e matando uma pessoa presente. Outros assaltos de bancos foram atribuídos a eles e seus amigos os Youngers, mas somente no roubo de um banco em Gallatin, Missouri eles foram claramente identificados. Outros assaltos se seguiram de Iowa ao Alabama e os irmãos James expandiram suas atividades, incluindo roubo de diligências e trens. A eficácia do bando em roubar trens era tão grande que, em 1874, detetives da agência Pinkerton foram contratados para caçá-los. Na noite de 5 de janeiro de 1875, dois homens não identificados, depois suspeitos de serem detetives da Pinkerton, provocaram um incêndio na casa do Dr. Samuel, dele resultando a morte de um meio irmão menor de Jesse e a mutilação do braço de sua mãe. Jesse tirou proveito deste incidente, aumentando suas pilhagens, sabendo que passara a contar com a simpatia das pessoas. Então, em 1876, cometeu um erro. Ele e Frank uniram forças com o bando dos Younger para roubar um banco em Northfield, Minnesota e caíram em uma armadilha. Três homens foram mortos, os Younger capturados, e Jesse e Frank escaparam por pouco. Durante três anos os irmãos James viveram sob nomes falsos em Nashville, Tennessee. Porém em outubro de 1879, formaram outro bando e atacaram um trem em Glendale Station no Missouri. Em 1881 o Estado do Missouri ofereceu uma recompensa de vinte e cinco cinco mil dólares para a captura de Jesse “vivo ou morto”.  Dois membros do bando, Robert Ford e seu irmão Charles, firmaram um acordo como Governador Thomas Crittenden para assassinar Jesse. Em 3 de abril de 1882 Jesse foi morto em sua casa em St. Joseph, Missouri por Robert Ford, quando estava em cima de uma cadeira endireitando um quadro na parede. Alguns meses depois Frank James se entregou. Ele foi julgado em vários estados e considerado inocente. A simpatia do público por ele era tal, que a lei não conseguiu uma condenação. Agora um homem livre, Frank viveu uma vida tranquila e reservada até seu falecimento em 1915.

Filmografia: Jesse James Jr.  (Jesse Edwards “Tim” James, filho do verdadeiro Jesse James) em Jesse James Under the Black Flag; Jesse James Jr. em Jesse James as the Outlaw. 1927 – Fred Thomson em Jesse James / Jesse James. 1939 – Tyrone Power em Jesse James; / Jesse James; Don Barry em Dias de Jesse James / Days of Jesse James. 1941 – Roy Rogers em Jesse James at Bay; Alan Parker em Três Homens Maus / Bad Men of Missouri. 1942 – Rod Cameron em Sombra Amiga / The Remarkable Andrew. 1946 -Lawrence Tierney em A Terra dos Homens Maus / Badman´s Territory. 1947 – Clayton Moore no seriado da Republic A Volta de Jesse James / Jesse James Rides Again. 1948 -Clayton Moore no seriado da Republic Aventuras de Frank e Jesse James; Reed Hadley em Eu Matei Jesse James / I Shot Jesse James. 1949 – Dale Robertson em O Lutador /   Fighting Man of the Plains. 1950 – Keith Richards em As Aventuras de Jesse James / The James Brothers of Missouri; Audie Murphy em Cavaleiros da Bandeira Negra / Kansas Raiders; MacDonald Carey em A Vingança de Jesse James / The Great Missouri Raid. 1951 – Lawrence TIerney   em O Melhor dos Homens Maus / Best of the Badmen. 1953 – Ben Cooper em A Renegada / Woman They Almost Lynched; Willard Parker em The Great Jesse James Raid. 1954 – Don Barry em Jesse James´ Women. 1957 – Robert Wagner em Quem Foi Jesse James / The True Story of Jesse James.; Henry Brandon em Sangue de Valentes / Hell´s Crossroads. 1959 – Wendell Corey em Valentão é Apelido / Alias Jesse James. 1960 – Ray Strickling em O Jovem Jesse James / Young Jesse James. 1964 – Wayne Mack em Os Reis do Faroeste / The Oulaws is Coming. 1965 – John Lupton em Jesse James Contra a FIlha de Frankenstein / Jesse James Meets Frankenstein´s    Daughter. 1969 – Audie Murphy em Gatilhos da Violência / A Time for Dying.

Wyatt Earp

Henry Fonda em Paixão dos Fortes

Wyatt Earp (1848 – 1929). Wyatt Berry Stapp Earp, nascido em Monmouth, Illinois, foi o membro mais famoso de uma família que incluía James (1841 – 1926), Virgil (1843 – 1906), Morgan (1851 – 1882) e Warren (1855 – 1900). Após alguns anos vivendo como condutor de carroça, jogador e caçador de búfalos, Wyatt chegou em Wichita em 1874, onde seu irmão James era garçom e a esposa de James administrava um bordel. Wyatt foi contratado como policial. Em 1876 ele ingressou na força policial em Dodge City e em 1878 foi nomeado ajudante de delegado. Nesta época fez amizade com Luke Short, Doc Holliday, Bat Masterson e o pessoal que controlava o jogo e a prostituição na cidade. Suas realizações em Dodge foram normais.  Em 1879 Wyatt foi para Tombstone, Arizona, onde Virgil era delegado. Wyatt logo se tornou xerife de Pima County. Morgan e James chegaram e os irmãos formaram uma associação estreita com o empresariado local, inclusive o ex-agente indígena e jornalista John Clum. Em outubro de 1880 o delegado Fred White foi morto. Wyatt prendeu Curly Bill Brocius pelo crime e Virgil se tornou o delegado da cidade. Este episódio desencadeou uma disputa entre os Earps e os caubóis locais, que se ressentiam de suas tentativas de evitar confusões e roubo de gado na cidade. O velho Clanton e seus filhos, como Phil e Billy, eram os líderes deste grupo de caubóis. As desavenças chegaram ao auge em um tiroteio no O. K. Corral no dia 26 de outubro de 1881 no qual Wyatt, Morgan, Virgil e Doc Holliday se confrontaram com Ike e Billy Clanton e Frank e Tom McLaury. Os Mc Laurys e Billy foram mortos. Depois houve controvérsia considerável sobre se os Clantons tiveram realmente intenção de lutar e Virgil foi demitido do cargo. Dois meses mais tarde ele foi alvejado e ferido em uma emboscada e em março de 1882 Morgan foi morto. Wyatt vingou-o, matando Frank Stidwell e Florentino Cruz, que ele suspeitava do assassinato de Morgan. Depois disso, Wyatt voltou à sua antiga carreira de jogador, vagueando de uma cidade de mineração de ouro para outra. Em vários momentos ele esteve em Cripple Creek, Colorado, no Alaska e Nevada. O final de sua vida se passou em Hollywood, onde ficou amigo de William S. Hart, Tom Mix e John Ford.

Filmografia:  1932 – Walter Huston em Lei e Ordem / Law and Order. 1934 – George O´Brien em O Último Favor / Frontier Marshal. 1939 – Randolph Scott em A Lei da Fronteira / Frontier Marshal; Errol Flynn em Uma Cidade Que Surge / Dodge City. 1940 -Johnny Mack Brown em A Lei Manda / Law and Order. 1942 – Richard Dix em O Homem do Perigo / Tombstone, The Town Too Tough to Die. 1946 – Henry Fonda em Paixão dos Fortes /My Darling Clementine.1950 – Will Geer em Winchester 73 / Winchester 73. 1953 – Ronald Reagan em Com a Lei e a Ordem / Law and Order; James Millican em De Homem Para Homem / Gun Belt; Rory Calhoun em Honra Sem Fronteiras / Powder River. 1954 – Bruce Cowling em Ases do Gatilho / Masterson of Kansas.  1955 – Joel McCrea em Choque de Ódios / Wichita. 1956 – Burt Lancaster em Sem Lei e Sem Alma / Gunfight at O.K. Corral. 1957 – Barry Sullivan em Dragões da Violência / Forty Guns. 1958 – Buster Crabbe em A Terra dos Homens Maus / Badman´s Territory. 1959 – Hugh O´Brian em  Valentão é Apelido / Alias Jesse James. 1964 – James Stewart em Crepúsculo de uma Raça / Cheyenne Autumn; Bill Camfield em Os Reis do Faroeste / The Outlaws is Coming. 1967 – James Garner emA Hora da Pistola /  Hour of the Gun.

Bat Masterson

Randolph Scott e Madge Meredith em O Passo do Ódio / Trail Street

Bat Masterson (1853 – 1921). Batizado como Bartholomew Masterson, nasceu na Província de Quebec no Canadá e depois mudou o nome para William Barclay Masterson, por razões nunca explicadas. Masterson foi caçador de búfalos durante algum tempo e participou da Batalha de Adobe Walls travada em 27 de julho de 1874 entre caçadores e índios Comanches e Kiowas liderados por Quanah Parker. Após Adobe Walls ele se alistou como batedor do exército e serviu durante a Red River War contra tribos das planícies do Sul. Em 1876 foi para Dodge City no Kansas, onde no ano seguinte se tornou assistente do xerife e depois xerife de Ford County, condado que abrangia a cidade de Dodge City. Foi um momento agitado de sua vida. Seu irmão, Ed, delegado de Dodge City, foi morto em um tiroteio, Masterson perseguiu ladrões de trem e outros foras-da-lei e em setembro de 1878 perseguiu um bando de Cheyennes comandados por Dull Knife. Masterson estava envolvido com o grupo que controlava a vida empresarial da cidade. Em 1879 foi afastado do cargo. Ele se instalou em Tombstone por algum tempo com Wyatt Earp e em 1883 foi chamado, juntamente com Earp e Doc Holliday por Luke Short para apoiá-lo na chamada Dodge City War contra o prefeito que queria fechar seu saloon e expulsá-lo da cidade. Desde então até o final do século manteve-se como jogador, na maior parte do tempo no Colorado. Ele então rumou para a cidade de Nova York, onde foi brevemente nomeado delegado federal por Theodore Roosevelt. Passou o pouco tempo restante de sua vida como jornalista, compondo esboços de outras celebridades do Oeste e se tornou crítico teatral e repórter esportivo do New York Morning Telegraph.

Fiilmografia: 1923 – Jack Gardner em Beijos Que Torturam / Wild Bill Hickok. 1943 – Albert Dekker em A Mulher da Cidade / The Woman of the Town. 1947 – Randolph Scott em O Passo do Ódio /  Trail Street. Monte Hale em Príncipe das Planícies / Prince of the Plains. 1950 – Steve Darrrell em Winchester 73 / Winchester 73. 1954 – George Montgomery em Azes do Gatilho / Masterson of Kansas. 1955 – Keith Larsen em Choque de Ódios / Wichita. 1956 – Kenneth Tobey em Sem Lei e Sem Alma / Gunfight at O. K. Corral. 1958 – Gregory Walcott em Morte a Cada Passo / Badman´s Country; Joel McCrea em À Véspera da Morte / The Gunfight at Dodge City. 1964 – Ed T. McDonnell em Os Reis do Faroeste / The Outlaws is Coming.

WILLIAM WELLMAN II

Nos anos quarenta Wellman continuou trabalhando para vários estúdios e, entre alguns filmes rotineiros, realizou algumas obras de maior qualidade artística: 1941 – A Cidade Que Nunca Dorme / Reaching for the Sun  / Paramount (comédia romântica com Joel McCrea, Ellen Drew, Eddie Bracken, Albert Dekker); Pernas Provocantes / Roxie Hart / 20th Century-Fox (comédia satírica baseada na peça “Chicago” (que teria uma versão musical em 1975, coreografada por Bob Fosse) com Ginger Rogers, George Montgomery, Adolph Menjou; Até Que a Morte nos Separe / The Great Man´s Lady / Paramount (drama romântico-histórico  com Barbara Stanwyck, Joel McCrea, Brian Donlevy); Águias de Fogo / Thunder Birds  / 20th Century-Fox (drama de guerra patriótico com Preston Foster, Gene Tierney, John Sutton, Jack Holt).

Dana Andrews em Consciências Mortas

Joel McCrea em Buffalo Bill

1943 – Consciências Mortas / The Ox-Bow Incident / 20th Century-Fox (western  claustrofóbico propiciando uma reflexão sombria sobre a intolerância e um requisitório contra o linchamento, mostrando a insensibilidade humana e a histeria da multidão em uma comunidade da fronteira. Em Bridge’s Well, no Nevada, um grupo de cidadãos raivosos e neuróticos, tomando a lei em suas próprias mãos, enforca três suspeitos (Dana Andrews, Anthony Quinn, Francis Ford) de um roubo de gado, e depois descobrem que eles eram inocentes.Dois vaqueiros (Henry Fonda, Harry Morgan) que estão de passagem pela cidade, testemunham os fatos. Wellman faz uma descrição minuciosa e circunstanciada da expedição punitiva, imprimindo-lhe grande dramaticidade. O filme foi indicado ao Oscar; A Morte Dirige o Espetáculo / Lady of Burlesque / Hunt Stromberg Productions (parte comédia-dramática, parte musical, parte policial de mistério baseado em um romance atribuído à famosa stripper Gipsy Rose Lee, versando sobre o assassinato de duas dançarinas de striptease, ambas estranguladas com seus tapa-sexos. No elenco: Barbara Stanwyck, Michael O´Shea, J. Edward Bromberg, Frank Conroy, Iris Adrian, Charles Dingle. 1944 – Buffalo Bill / Buffalo Bill / 20th Century-Fox (cinebiografia romanceada de William Frederick Cody, caçador de búfalos, cavaleiro do correio expresso e batedor do exército que ficou famoso como Buffalo Bill graças ao jornalista Ned Buntline (Thomas Mitchell). Cody reconstitui em um espetáculo circense suas façanhas do passado, seu casamento com Louisa (Maureen O´Hara), sua denúncia da ganância e corrupção de capitalistas e politicos. Filmado em soberbo technicolor e com uma sequência de ação espetacular (a batalha no rancho, com duração de nove minutos, incluindo a luta corpo-a-corpo entre Bufffalo Bill e Yellow Hand (Anthony Quinn). 1945 – O Rompe Nuvens / This Man’s Navy  / MGM (drama de guerra destacando o uso de dirigíveis pela Marinha dos Estados Unidos na Segunda Guerra Mundial com Wallace Beery, Tom Drake, James Gleason);

Robert Mitchum em Também Somos Seres Humanos

Anne Baxter em Céu Amarelo

Também Somos Seres Humanos / The Story of G. I. Joe / Lester Cowan Productions (drama de guerra realista baseado nas reportagens – premiadas com o Pulitzer Prize – do correspondente de guerra Ernie Pyle (Burgess Meredith),  que acompanhou um grupo de soldados da infantaria – comandados pelo Capitão Bill Walker (Robert Mitchum) – desde a campanha no deserto do Norte da África até a invasão da Itália e acabou morrendo, atingido por um franco-atirador japonês na Batalha de Okinawa em 1945. Pyle tornou-se o melhor amigo do soldado comum e seus despachos refletiram os dramas íntimos dos combatentes.  Wellman ilustrou os textos de Pyle com imagens de soldados de verdade, sem transformar a guerra em uma coisa heróica ou gloriosa. O filme recebeu quatro indicações ao Oscar (Melhor Roteiro, Melhor Score, Melhor Canção Original e Melhor Ator Coadjuvante (R. Mitchum). 1946 – Jornada Gloriosa / Gallant Journey / Columbia (drama histórico biográfico sobre o pioneiro da aviação, John J. Montgomery (Glenn Ford), inventor e piloto do primeiro planador em 1883. 1947 – Cidade Encantada / Magic Town / RKO-Radio (sátira social tendo como alvo pesquisa sobre opinião pública a respeito do interior da América com James Stewart, Jane Wyman). 1948 – Cortina de Ferro / The Iron Curtain / 20thCentury-Fox (drama de espionagem durante a Guerra Fria com Dana Andrews e Gene Tierney); Céu Amarelo / Yellow Sky / 20th Century-Fox (western sóbrio e tenso cuja trama gira em torno de sete assaltantes de banco (Stretch (Gregory Peck), Dude (Richard Widmark), Lenghty (John Russell), Half Pint (Henry Morgan), Bull Run (Robert Arthur), Walrus (Charles Kemper) e Jed (Robert Adler), que penetram em um deserto de sal para escapar de seus perseguidores. Eles chegam a Yellow Sky, uma cidade fantasma. Os únicos habitantes são um velho garimpeiro (James Barton) e sua neta Mike (Anne Baxter). Os bandidos acreditam que o velho tenha uma fortuna escondida e pretendem se apoderar dela. Stretch começa a se interessar pela jovem e isto provoca divergências entre ele e o resto do bando. Logo no início do filme ocorre um trecho memorável: a longa e extenuante travessia do deserto salgado até a chegada ao saloon, onde os assaltantes contemplam o quadro da mulher nua. Luxúria, ambição, ciúme, desconfiança e violência são as matérias brutas com as quais Wellman desenvolve as tensões e os conflitos entre o bando de fora-da-lei. Paralelamente, a filmagem em locação e a magnífica fotografia contrastada de Joe MacDonald (notadamente nas cenas no Vale da Morte e no duelo final) dão integridade visual e consistência ao espetáculo.

Cena de O Preço da Glória

1949 – O Preço da Glória / Battleground / MGM (drama de guerra narrando a epopéia vivida pela Companhia I da 101ª Divisão de tropas aéreas cujos componentes (entre eles Van Johnson, John Hodiak, Ricardo Montalban, George Murphy, Marshall Thompson, Jerome Courtland, Don Taylor, James Whitmore, James Arness) cercados pelos alemães durante a Batalha do Bulge no inverno de 1944, encontraram-se sem abastecimentos, em grande desvantagem numérica e sob um nevoeiro intenso que dificultava a movimentação dos soldados, a identificação do inimigo e, pior ainda, o suporte aéreo. Wellman transmite com perfeição a insegurança e o desnorteamento dos soldados e cria cenas inspiradas como o combate corpo a corpo silencioso entre as patrulhas; a morte de um jovem soldado ao procurar suas botas.; a descoberta  (pela sombra de um soldado na neve) de que o sol iria vencer a cerração, permitindo que os bombardeiros pudessem entrar em ação; o desfile dos homens esgotados ou feridos que, em um ímpeto de heroísmo, readquirem o garbo, a flama, a fim de elevar o moral dos que chegam para o “batismo de fogo”. A produção mereceu seis indicações ao Oscar (Melhor Filme, Melhor Diretor, Melhor Ator Coadjuvante (James Whitmore), Melhor História e Roteiro (Robert Pirosh), Melhor Fotografia em preto e branco (Paul C. Vogel), Melhor Montagem (John Dunning). Pirosh e Dunning ficaram com a estatueta.

Clark Gable em Assim São os Fortes

Na década de cinquenta Wellman continuou repartindo seu talento entre filmes de maior ou menor importância servindo apenas a dois estúdios: MGM e Warner Bros. 1950 – Era Sempre Primavera / The Happy Years / MGM (comédia dramática  tendo como centro das atenções ”Dink” Stover (Dean Stockwell), um adolescente incorrigível e suas experiências em um colégio de New Jersey, onde finalmente ganha juízo para alegria de seu progenitor); A Voz Que Vão Ouvir / The Next Voice You Hear / MGM (drama em forma de parábola no qual a voz de Deus é ouvida em todos os programas de rádio do mundo durante uma semana e sua repercussão, principalmente  na vida de um operário (James Whitmore) de uma fábrica de aviões. 1951 – Assim São os Fortes / Across the Wide Missouri / MGM (western retratando a vida dos caçadores de peles de castor e seu relacionamento com os índios no tempo da Fronteira Selvagem. Entre as cenas de harmonia racial – o líder dos caçadores, Flint Mitchell (Clark Gable) casa-se com a índia Kamiah (Maria Elena Marques), com quem tem um filho -, explode a ira de Iron Shirt (Ricardo Montalban), índio orgulhoso que resiste ao expansionismo comercial dos brancos. Filmado na linda paisagem do Colorado, o relato conserva a forma de um diário, desenvolvendo os acontecimentos na sua cronologia. Duas sequências memoráveis: o último ataque de Iron Shirt, no qual Kamiah morre com uma flechada no peito e o cavalo (que carrega o bebê) sai em desabalada carreira, perseguido por Flint; o cacique vestido com a armadura, passando no meio de uma briga cômica entre os caçadores; No Palco da Vida / It´s a Big Country / MGM (Wellman dirigiu o episódio “The Minister of Washington” de 9 minutos desta antologia celebrando a América. História e roteiro de Dore Schary, fotografia de William C. Mellor e participação de Van Johnson, Lewis Stone e Leon Ames.

Robert Taylor em O Poder da Mulher

O Poder da Mulher / Westward the Women / MGM (western que se inicia quando, em Chicago, um rico fazendeiro da Califórnia, Roy Whitman (John McIntire), contrata o batedor Buck Wyatt (Robert Taylor) para guiar uma caravana de cento e quarenta mulheres, esposas por correspondência dos homens de seu rancho. Decidido a vencer todos os obstáculos, Buck impõe uma disciplina rígida. Na viagem, as mulheres aprendema lutar contra intempérie, a doença, a sede, os índios. Após este rito de passagem, conquistam o direito de não serem apresentadas imediatamente aos seus futuros parceiros: arrancando os toldos das carroças, elas confecionam seus vestidos e se tornam novamente femininas. A idéia de um comboio de futuras esposas enfrentando os perigos de uma travessia pelo deserto é original e Wellman trata o assunto com muita propriedade, providenciando as cenas de ação espetaculares, sem se esquecer do romance (o herói misógino também encontra a mulher de sua vida) nem a emoção (o silêncio sepulcral quando ressoam os nomes das mortas após o ataque de peles-vermelhas; a mulher que deu à luz durante o percurso e veio ao baile com seu bebê, sendo convidada para dançar). 1952 – Sem Pudor / My Man And I / MGM melodrama focalizando um trabalhador rural mexicano, Chu Chu Ramirez (Ricardo Montalban), que se orgulha de ter adquirido a cidadania americana e acaba arriscando perdê-la, ao ser falsamente acusado de ter tentado matar seu patrão (Wendell Corey).

John Wayne em Geleiras do Inferno

1953 – Geleiras do Inferno / Island in the Sky / Warner Bros. (aventura e suspense ocorrem nesta adaptação do livro escrito pelo autor de histórias de aviação Ernest K. Gann, quando um Corsair faz uma aterrissagem forçada em uma região inóspita e deserta no norte do Canadá. Enquanto a tripulação, comandada pelo Capitão Dooley (John Wayne), tenta sobreviver sob um frio terrível, com escassez de víveres e o um desespero crescente, organizam-se na Ilha de Presque no Maine os planos de salvamento. Direção sóbria e eficiente com boas sequências (fotografadas pelo competente Archie Stout), destacando-se aquele momento em que um dos homens, vencido pelo cansaço, incapaz de acertar o rumo em direção á aeronave caída, onde seus companheiros se abrigam da intempérie, reproduz em círculo as próprias pegadas, caí e, qual um preâmbulo de morte, sucessivas imagens da noiva passam na sua lembrança. 1954 – Um Fio de Esperança / The High and the Mighty / Warner Bros. (drama de aviação baseado em outro livro de Ernest K. Gann, descrevendo a angústia dos tripulantes e passageiros de um avião no trajeto de Honolulu para San Francisco quando a hélice de um dos motores, se parte, tornando problemática a chegada do quadrimotor ao seu destino. As angústias dos passageiros (entre eles Claire Trevor, Laraine Day, Jan Sterling, Phil Harris, Robert Newton, David Brian, Paul Kelly, Sidney Blackmer, Julie Bishop, Karen Sharpe, John Smith, John Howard, Ann Doran, John Qualen, Paul Fix, Joy Kim, Michael Wellman) e dos tripulantes  (Robert Stack, John Wayne, William Campbell, Wally Brown, Doe Avedon) e suas diversas reações permitem ao diretor manter ininterruptamente a atenção do espectador durante o longo desenrolar da narrativa, que transcorre quase que inteiramente no interior da aeronave, salvo alguns retrospectos para estabelecer os personagens e um ou outro revezamento da ação principal com o pessoal do aeroporto e o de uma aeronave de socorro. O vigor da direção manifesta-se pelo domínio do suspense, pela penetração dramática e por certas imagens inspiradas como o símbolo cinematográfico da cruz de luzes no aeroporto, desfazendo-se com o afastamento da perspectiva de morte. O filme ensejou 6 indicações ao Oscar: Melhor Diretor, Melhor Atriz coadjuvante (Jan Sterling, Claire Trevor), Melhor Montagem (Ralph Dawson), Melhor Canção (Dimitri Tiomkin, Ned Washington), Melhor Música de Filme Não Musical (Dimitri Tiomkin). Dimitri Tiomkin foi o único vitorioso;

John Wayne e Robert Stack em Um Fio de Esperança

Dominados pelo Terror / Track of the Cat / Warner Bros. (drama psicológico sombrio passado em um rancho nas montanhas do Oeste dos Estados Unidos cobertas de neve, que tem como personagens os membros de uma família (Robert Mitchum, Philip Tonge, Beulah Bondi, William Hopper, Tab Hunter, Teresa Wright), a noiva de um dos rapazes (Diana Lynn), um índio de cem anos de idade (Carl Switzer, muito lembrado como Alfafa / Espeto da série Bs Peraltas / Our Gang, conhecida na TV como Os Batutinhas) e uma pantera negra, símbolo do Mal. O filme comporta uma experiência com a cor: com exceção de duas peças de vestuário (uma vermelha e outra amarela) tudo o mais é em preto e branco ou cores neutras. 1955 – Rota Sangrenta. / Blood Alley / Warner Bros. (aventura marítima acionada quando um americano capitão da Marinha Mercante (John Wayne) conduz, em uma velha balsa roubada, a filha de um missionário (Lauren Bacall) e os aldeões chineses que o ajudaram a fugir de uma prisão comunista para a liberdade de Hong Kong. 1956 – Cruel Dilema / Good-bye, My Lady / Warner Bros. (drama pastoral sobre um menino órfão (Brando de Wilde), seu velho tio idoso (Walter Brennan), e um cão encontrado nos pântanos do sudeste do Mississipi; o menino adota o animal, treina-o para ser um bom cachorro de caça, mas quando descobre que ele é de uma raça africana rara e pertence a um esportista do norte, tem que tomar uma decisão crucial – manter o animal ou devolvê-lo ao seu legítimo dono (William Hopper).1958 – Aqui Só Cabem os Bravos / Darby´s Rangers / Warner Bros. (drama de guerra com James Garner como o Major William Orlando Darby, organizador exigente de um regimento de elite, os “Rangers”, similar aos comandos britânicos, ponta-de lança nas principais vitórias americanas na Segunda Guerra Mundial. Lutando Só Pela Glória / Lafayette Escadrille / Warner Bros. (drama romântico focalizando um rapaz de família rica, Thad Walker (Tab Hunter), que se alista com mais três companheiros – Bill Wellman (William Wellman, Jr.), Duke Sinclaire (David Janssen), Tom Hitchcock (Jody McCrea) – na Esquadrilha Lafayette. Na França, ele se apaixona por uma jovem prostituta, Renee Beaulieu (Etchika Choreau). Após vários incidentes, Thad se distingue como piloto em uma missão perigosa e se casa com Renee.

William Wellman em plena filmagem

William Wellman Jr. revelou na sua biografia “Wild Bill Wellman – Hollywood Rebel” (Pantheon Books, 2015) que, durante a Primeira Guerra Mundial, quando servia na Lafayette Flying Corps, seu pai se casou secretamente com uma francesa chamada Renee. Este matrimônio durou muito pouco, porque ela morreu vítima de um bombardeio. Sob os destroços do prédio onde sua esposa estava, ele encontrou apenas um dedo carbonizado e um pouco de sua mão e, no dedo, sua aliança de ouro. Mais tarde o cineasta se casaria sucessivamente com Helene Chadwick (1918-1923), Margery Chapin (1925-1926), Marjorie Crawford (1931-1933) e Dorothy “Dottie” Coonan (1934 – 1975, data do falecimento de Wellman na sua casa em Brentwood na Califórnia).

WILLIAM WELLMAN I

William Augustus Wellman (1896 – 1975) nasceu em Brookline, Massachusetts, filho da irlandesa Celia McCarthy e do inglês Arthur Gouverneur Wellman, que trabalhava em uma corretora de seguros. Em 1904, aos 46 anos de idade, Arthur desenvolveu um problema agudo de alcoolismo e foi substituído por alguém mais novo na corretora. A família foi obrigada a vender sua casa e se mudar para uma alugada na cidade vizinha de Newton, onde William e seu irmão terminaram o curso secundário e Celia arrumou emprego como assistente social (cujos encargos incluíram seu filho que se tornara um delinquente juvenil e fôra expulso do colégio). Após trabalhar como vendedor e operário em um depósito de madeira, Wellman tornou-se jogador professional de hokey no gêlo em Boston, onde o ator Douglas Fairbanks, o viu jogar, gostou dele e se mostrou disposto a lhe arranjar um emprego em Hollywood.

William Wellman

Em 1917, antes dos Estados Unidos entrarem na Primeira Guerra Mundial, Wellmann se apresentou como voluntário para o serviço de ambulância na França e depois se alistou na Legião Estrangeira Francêsa Ele recebeu treinamento como piloto e foi transferido para a esquadrilha Franco-American Flying Corps (depois denominada Lafayette Flying Corps), composta apenas de aviadores americanos. Nesta ocasião ganhou o apelido “Wild Bill” e recebeu a Croix de Guerre com duas palmas depois de executar várias missões perigosas e ser abatido pela bateria anti-aérea germânica. Wellman sobreviveu ao acidente, mas ficou manco pelo resto de sua vida.

De volta aos Estados Unidos, trabalhou como instrutor de combate da United States Air Service, no campo de aviação Rockwell em San Diego, Califórnia. Posteriormente pediu seu desligamento da Fôrça Aérea e começou a procurar emprego na vida civil. Enquanto fazia isto encontrou na sua mochila  um telegrama que Douglas Fairbanks lhe havia enviado, congratulando-o pela Cruz de Guerra e lhe oferecendo um emprego, quando retornasse da guerra. Ao saber que Fairbanks e Mary Pickford iam dar uma festa luxuosa (tendo como convidados Theda Bara, John Barrymore, Cecil B. DeMille, D. W. Griffith, William S. Hart, Harold Lloyd, Tom Mix, Will Rogers, Mack Sennett, Gloria Swanson, Norma Talmadge, Rudolph Valentino, para citar apenas algumas celebridades) em um campo de polo, Wellman vestiu seu uniforme cheio de medalhas entrou no seu avião e aterrisou no campo de golfe, depois de fazer várias piruetas no céu e passar raspando sobre os comvidados, causando enorme confusão. Já no solo ele foi recebido por Douglas e Mary. “Lembra-se de mim, Mr. Fairbanks? O senhor disse que se um dia eu viesse em Hollywood, que lhe procurasse. “Fairbanks respondeu: “Você sabe montar a cavalo?”. Wellmann: “Não, mas eu poderia”. Fairbanks: “Tenho um papel para você no meu novo filme. Venha comigo, vou apresentá-lo ao meu diretor Albert Parker”. Em vez de pilotar um avião, dentro em pouco Wellman estaria montando um cavalo (como o principal ator juvenil) com Douglas Fairbanks em Audaz e Caprichoso / The Knickerbocker Buckaroo / 1919, ganhando um salário de 200 dólares semanais.

Em seguida Wellman obteve um outro papel em Evangelina / Evangeline /1919, filme da Fox, escrito, produzido e dirigido por Raoul Wash e estrelado por Miriam Cooper. Na primeira cena do filme ele tinha que tirar Miriam de um barco e conduzí-la a salvo até a praia. Carregando a linda atriz nos seus braços, ele não resistiu, beijou-a e os dois pisaram em um buraco no oceano e desapareceram de vista. Miriam não sabia nadar, entrou em pânico e, para acalmá-la, Wellman esbofeteou-a. Ele conseguiu levar seu corpo inerte a salvo até os pés do diretor, mas a estrela era casada com Walsh e isto pôs fim à sua carreira de ator.

Fairbanks foi mais compreensível e colocou Wellmann como mensageiro no Pickford-Fairbanks Studio, porém seu salário passou de 400 para 22 dólares por semana. Todavia Wellman queria se tornar um diretor e começou a frequentar os sets de filmagem, o departamento de elenco e as salas de montagem. Ele até roubou scripts, novos e antigos, e se debruçou sobre eles, sempre do ponto de vista de um diretor. Além disso, viu tantos filmes quantos podia, estudando os maiores sucessos artísticos e comerciais. Assim foi progredindo de mensageiro para assistente de aderecista, aderecista, assistente de diretor, e eventualmente … diretor.

Wellmann serviu como assistente de diretores como E. Mason Hopper, Alfred Green, Clarence Badger, Charles Brabin, Emmett Flynn, Harry Beaumont, Colin Campbell e Bernard J. Durning. Durante a filmagem de A Fórmula Secreta / The Eleventh Hour / 1923, oitavo filme sob as ordens de Durning, a pedido dele, assumiu a direção, quando ele passou mal, alcoolizado. Wellman completou a filmagem com muita eficiência e, por recomendação do substituído, foi promovido a diretor. Seu primeiro compromisso como diretor foi Redenção de uma Alma / The Man Who Won / 1923, western estrelado por Dustin Farnum e ele dirigiu mais seis westerns na Fox, todos estrelados por Buck Jones: 1923 – Remendando Amores / Second Hand Love; Dan, o Grande / Big Dan; Amor e Chamas / Cupid´s Fireman. 1924 – Vagabundo Gentilhomem / The Vagabond Trail; Amizade Sublime / Not a Drum Was Heard; O Jaguarino / The Circus Cowboy.

Em uma segunda-feira de manhã o todo poderoso William Fox chegou no estúdio e Wellmann ficou esperando o dia todo para falar com ele. Já estava ficando tarde e a secretária estava se preparando para sair. Ela repetiu a frase que vinha falando o dia todo: “Mr. Fox está muito ocupado para vê-lo hoje”. De repente a porta da sala de Fox se abriu e ele saiu a caminho de casa. Fox parou, olhou para Wellman e disse: “O que é que você quer?”. Wellman respondeu com duas palavras: “Um aumento”. Fox também respondeu com duas palavras: “Está despedido” e saiu para o corredor. Wellman seguiu-o, lembrando-o de que havia feito sete filmes com o mesmo salário. Fox se virou e reafirmou: “Você me ouviu. Está despedido”.

Fox se encarregou de colocar seu ex-empregado na lista negra e ele se viu banido de todos os estúdios. Precisando de dinheiro, Wellman foi trabalhar com entregador de mercearia e, como o salário não dava para cobrir as despesas alimentares dele e de seu cachorro Chow, passou a roubar as mercadorias. Após mais de um ano nesta situação, Wellmann foi chamado por Harry Cohn, chefão da Columbia, para dirigir (em apenas três dias) Quando os Maridos Flertam / When Husbands Flirt / 1925. Nesta ocasião, sentindo remorso, Wellman restituiu o valor das mercadorias que havia roubado e esperava que, depois do lançamento do filme, a Columbia teria mais trabalho para ele. Como isso não aconteceu, ele deu um passo atrás e assinou contrato com a MGM como assistente de direção. Wellman exerceu esta função na filmagem de Sally, Irene e Mary / Sally, Irene and Mary (Dir: Edmund Goulding), assumiu momentaneamente a filmagem em The Way of a Girl / 1925 (Dir: Robert Vignola) e Ele e a Cigana ou O Rapaz e a Cigana / The Exquisite Sinner / 1926 (Dir: Josef von Sternberg, Phil Rosen) e, substituindo Robert Vignola em O Cavaleiro Pirata / The Boob / 1926, acabou dirigindo quase todo o filme, recebendo crédito por isso. Porém Louis B. Mayer e Irving Thalberg não gostaram do filme e despediram Wellman.

Buddy Rogers, Clara Bow e Richard Arlen em Asas

Wallace Beery, Richard Arlen e Louise Brooks em Mendigos da Vida

A esta altura, Quando os Maridos Flertam teve um grande sucesso e Wellmann chegou ao estúdio da Paramount Pictures Corporation, contratado por B. P. Schulberg, chefe de produção deste estúdio de 1925 a 1930. Na Paramount Wellman dirigiu: 1926 – Juramento de Amor / The Cat´s Pajamas (comédia com Betty Bronson, Ricardo Cortez); Amor Sem Rumo / You Never Know Women (drama tendo como pano de fundo um trupe teatral russa com Florence Vidor, Clive Brook, Lowell Sherman formando um triângulo amoroso). 1927 – Asas / Wings.  (drama de guerra / aviação com Buddy Rogers, Richard Arlen, Jobyna Ralston e Clara Bow, vencedor do primeiro Oscar de Melhor Filme, valorizado pela fotografia áerea de Harry Perry e pelos efeitos técnicos de Roy Pomeroy). 1928 – A Legião dos Condenados / The Legion of the Condemned (drama de espionagem / aviação com Gary Cooper, Fay Wray); Fidalgas da Plebe / Ladies of the Mob (drama criminal com Clara Bow, Richard Arlen); Mendigos da Vida / Beggars of Life (drama realista e muito bem filmado (com uma sequência inicial primorosa) sobre uma jovem (Louise Brooks) que mata seu pai adotivo, quando ele tenta estuprá-la, e foge  – vestida de homem – na companhia de um vagabundo (Richard Arlen), juntando-se a outros vagabundos (entre eles Wallace Beery), que viajam nos trens de carga). 1929 – No Bairro Chinês ou A Guerra dos Tongs / Chinatown Nights (drama criminal com Florence Vidor, Wallace Beery; O Homem Que Amo / The Man I Love (comédia-dramática / pugilismo com Richard Arlen, Mary Brian e Olga Baclanova); Armadilha de Mulher / Woman Trap (drama criminal com Chester Morris, Hal Skelly, Evelyn Brent). 1930 – Paraíso Perigoso / Dangerous Paradise (terceira versão de “Victory” de Joseph Conrad com Nancy Carroll, Richard Arlen); Águias Modernas / Young Eagles (drama / aviação com  Buddy Rogers, Jean Arthur).

James Cagney em O Inimigo Público

Joan Blondell, Ben LYyon e Barbara Stanwyck em Triunfos de Mulher

Dorothy Mackaill em Safe in Hell

Franchot Tone e Loretta Young em O Passado de uma Mulher

Richard Barthelmess e Loretta Young em Fome por Glória

Ward Bond em uma cena de Idade Perigosa

Em março de 1930 Wellman deixou a Paramount e assinou contrato com a Warner Brothers (que havia incorporado a First National), onde dirigiu: 1930 – Maybe It´s Love (comédia com Joe E. Brown, Joan Bennett, James Hall) 1931 – Other Man´s Women (tragicomédia em torno de um triângulo amoroso com Grant Withers, Mary Astor, Regis Toomey); O Inimigo Público / The Public Enemy (drama criminal violento, importante no desenvolvimento do subgênero filme de gângster com James Cagney, Jean Harlow, Eddie Woods); Triunfos de Mulher / Night Nurse (drama criminal intenso sobre uma enfermeira que descobre um plano terrível para deixar duas crianças sob seus cuidados morrerem de fome com Barbara Stanwyck, Ben Lyon, Joan Blondell, Clark Gable); O Preço do Dever / The Star Witness (melodrama criminal com Walter Huston, Frances Starr, Grant Mitchell, Sally Blane, Charles “Chic” Sale; Safe in Hell (drama criminal ousado para a época com uma trama sórdida focalizando uma prostituta que pensa ter matado um de seus clientes e foge para uma ilha remota com  Dorothy Mackaill, Donald Cook).1932 – Vingança de Buda / The Hatchet Man (drama criminal tendo como pano de fundo disputas entre gangues de Chinatown com Edward G. Robinson, Loretta Young);  No Palco da Vida / So Big! (melodrama baseado em romance de Edna Ferber com Barbara Stanwyck, George Brent, Bette Davis); Love is a Racket (comédia-dramática com Douglas Fairbanks, Jr., Frances Dee, Ann Dvorak, Lee Tracy);  O Preço da Compra / The Purchase Price (drama romântico com Barbara Stanwyck, George Brent); The Conquerors  (épico histórico com  Richard Dix, Ann Harding – realizado por Wellmann emprestado  para a RKO). 1933 – Sagrado Dilema / Frisco Jenny (melodrama na categoria “filme para mulheres” com Ruth Chatterton, Donald Cook, Louis Calhern; Atração dos Ares / Central Airport (drama  enfocando   a   rivalidade romântica entre dois irmãos pilotos no mundo da aviação com Richard Barthelmess, Sally Eilers, Tom Brown); Lily Turner (melodrama na categoria “filme para mulheres” com Ruth Chatterton, George Brent); O Passado de uma Mulher / Midnight Mary, melodrama com Loretta Young, Franchot Tone, Ricardo Cortez contando, por meio de um retrospecto em um ritmo rápido no estilo Warner Bros., close-ups belíssimos de Loretta e liberdade pré-código, a vida difícil de uma jovem que está sendo julgada por assassinato e como ela chegou a esta situação – realizado por Wellman emprestado para a MGM); Fome por Glória / Heroes for Sale, drama social contundente e amargo, mostrando como um ex-combatente na Primeira Guerra Mundial (Richard Barthelmess) suportou o vício da morfina, desemprego, perseguição política, encarceramento, morte de pessoas amadas (inclusive sua esposa, interpretada por Loretta Young) e se tornou um andarilho sem teto, porém adotando sempre uma atitude positiva diante da vida e acreditando no futuro da América; Idade Perigosa / Wild Boys of the Road (drama social vigoroso e realista acompanhando um grupo de jovens vagabundos durante a Depressão, viajando em trens de cargas e se defendendo dos detetives  corruptos da ferrovia na sua busca por um emprego e uma vida melhor com Frankie Darro, Edwin Phillips, Rochelle Hudson, Dorothy Coonan); Risos e Lágrimas / College Coach (drama passado em ambiente esportivo com Pat O’Brien, Dick Powell , Ann Dvorak, Lyle Talbot).

Paul Kelly, Peggy Conklin e Arthur Byron em O Presidente Desaparece

Jack Oakie e Clark Gable em O Grito dasSelvas

Warner Baxter em O Bandoleiro do Eldorado

James Stewart e Janet Gaynor em Garota do Interior

Fredric March e Janet Gaynor em Nasce uma Estrela

Fredric March, Carole Lombard e  em Nada é Sagrado

Robert Preston, Gary Cooper e Ray MIlland em Beau Geste

Ida Lupino e Ronald Colman em Luz Que Se Apaga

1934, cansado da trabalhar na Warner sem ter controle sobre seus filmes, saiu do estúdio e até o ínicio da década de quarenta fez, celebrando contratos com uma ou outra companhia: Procurando Encrenca / Looking for Trouble / Twentieth Century (drama criminal com certa dose de comédia com Spencer Tracy, Jack Oakie, Constance Cummings; O Bandoleiro do Amor / Stingaree / RKO-Radio (aventura romântica de época President Vanishes / Walter Wanger Productions (thriller exposto em narrativa ágil e inspirados toques cinemáticos – entre eles a antológica metáfora da cena do cinzeiro metamorfoseando magnatas em abutres -, concernindo o misterioso desaparecimento do presidente  dos Estados Unidos (Walter Byron) enquanto aproveitadores inescrupulosos planejam jogar  os Estados Unidos em uma guerra européia com Paul Kelly, Peggy Conklin, Edward Arnold, Andy Devine, Rosalind Russell além de Byron. 1935 – O Grito das Selvas / The Call of the Wild / Twentieth Century (northwestern em adaptação livre do romance de aventura de Jack London, mas com direção dinâmica, tomadas de câmera marcantes e exteriores das montanhas e florestas cobertas de neve esplendidamente fotografados por Charles Rosher com Clark Gable, Loretta Young, Jack Oakie, Reginald Owen). 1936 – O Bandoleiro do Eldorado / Robin Hood of Eldorado / MGM (cinebiografia romanceada  de Joaquim Murietta (Warner Baxter), o peão mexicano que virou fora-da-lei ao vingar o brutal assassinato da esposa por garimpeiros  americanos, no sul da Califórnia em 1859, acionada dinâmicamente e com boas cenas como a do enforcamento do meio-irmão do herói emquanto este é chicoteado, a festa no acampamento colorida de exotismo  e a perseguição entre matas e rochas até o fugitivo cair morto sobre o túmulo de sua amada. Além de Baxter estão no elenco: Bruce Cabot, Margo, J. Carroll Naish e Ann Loring); Garota do Interior / Small Town Girl / MGM (comédia romântica muito divertida com Janet Gaynor como uma garota do interior que se apaixona por um médico da cidade grande intrerpretado por Robert Taylor, arma um plano para se casar com ele enquanto ele está bêbado, mas depois os dois se apaixonam. 1937 – Nasce uma Estrela / A Star is Born / Selznick-International (drama absorvente sobre um famoso ator de cinema, alcoólatra (Fredric March), que descobre uma jovem talentosa (Janet Gaynor) e a transforma em estrela; mas, à medida que a carreira dela cresce, a dele entra em declínio. O filme foi apontado para o Oscar além de concorrer em várias categorias, saindo vencedor na de História Original (de Wellmann e Robert Carson). Um Oscar especial foi atribuído a W. Howard Greene pela sua esplêndida fotografia em Technicolor); Nada é Sagrado / Nothing is Sacred / Selznick-International (comédia dramática satirizando sagazmente a imprensa marrom, com roteiro de Ben Hetch cheio de cinismo e elementos da comédia maluca. O centro das atenções é a pequena do interior (Carole Lombard) que pensa estar morrendo de doença rara e se vê transformada por um reporter (Fredric March) em heroína nacional – no entanto o diagnóstico estava errado. 1938 – Conquistadores do Ar / Man With Wings / Paramount (drama  envolvendo um triângulo amoroso (Fred MacMurray – Ray MIlland – Louise Campbell) e mostrando etapas do crescimento da indústria aeronáutica Beau Geste / Beau Geste  / Paramount (adaptação do romance clássico de aventura na Legião Estrangeira escrito por P.C. Wren, tão boa quanto a versão muda de Brenon e filmada na região desértica de Yuma, fotografada  como se fosse o Saara por dois mestres: Theodor Sparkhul e Archie Stout – com Gary Cooper, Ray Milland, Robert Preston, Brian Donlevy, Susan Hayward, J. Carroll Naish. Donlevy e os cenógrafos Hans Dreier e Robert Odell concorreram ao Oscar; Luz Que Se Apaga / The Light That Failed / Paramount (adaptação bem sucedida do romance de Rudyard Kipling sobre um pintor (Ronald Colman), que vê seu amor rejeitado pela namorada de infância e truncada a carreira, justamente quando criara sua obra prima (o retrato de uma jovem cockney magnificamente interpretada por Ida Lupino), pela perda de visão.

 

 

EXTRAS, SUBSTITUTOS E DUBLÊS – OS DESCONHECIDOS DO CINEMA

Eles fazem parte da indústria de cinema quase desde o seu início, mas são geralmente desconhecidos e despercebidos pelo público. Extra ou Figurante (Background Actor), é aquele ator cujo papel não tem uma fala no filme. Substituto (Stand-In) é a pessoa que assume o lugar dos atores para a realização de testes de fotografia, iluminação, ensaios, etc. Dublê (Stuntman) é um profissional treinado, contratado para executar proezas físicas perigosas.

Para escrever este artigo, inspirei-me e colhí boas informações no livro de Anthony Slide Hollywood Unknowns (University Press of Mississipi, 2012), consultando também o seu The New Historical Dictionnary of the American Film Industry (Scarecrow Press, 1998). Slide é autor de uma quantidade íncrivel de livros de cinema, que tenho sempre imenso prazer de ler juntamente com os de Kevin Brownlow, outro eminente historiador britânico.

Os extras da tela tiveram como antecedentes os extras do palco e não se confundiam com eles. Estes últimos faziam parte da profissão teatral. Já os primeiros extras do cinema não tinham nenhuma experiência de cinema como atores. Eram indivíduos fascinados pelo glamour do cinema e pela possibilidade, não somente de fazer parte da cena, mas principalmente de serem notados e obterem um papel de verdade no filme.

Inicialmente, salvo raras exceções, os estúdios contratavam os extras diretamente. Os escritórios dos casting directors (diretores de elenco) dos estúdios ficavam abarrotados, de candidatos a extra. Um dos diretores de elenco mais famoso foi Fred Datig, que exerceu primeiramente esta função na Universal, transferindo-se depois sucessivamente para a Famous Players Lasky / Paramount e MGM, onde ficou até sua morte em 1951. O dress extra era um tipo de extra que possuía e sabia usar com elegância roupas formais para cenas de festas, etc. Por isso, ganhava mais do que um extra comum.

Duas grandes produções de Cecil B. DeMille dos anos vinte, Os Dez Mandamentos / The Ten Commandments / 1923 e O Rei dos Reis / The Kings of Kings / 1927 empregaram numerosos extras e a Warner Bros. contratou cerca de cinco mil extras para a realização de A Arca de Noé / Noah´s Ark / 1928, dirigido por Michael Curtiz. Apesar dos arquivos do estúdio silenciarem a respeito, muitos extras teriam sido gravemente feridos e ocorrido pelo menos um óbito durante a filmagem da sequência do dilúvio.

Os Dez Mandamentos

 

A Arca de Noé

Em 4 de dezembro de 1925, por iniciativa de Will H. Hays e da Motion Picture Producers and Distributors of America (MPPDA) foi criado oficialmente o Central Casting Bureau para classificar os milhares de indivíduos (60% dos quais mulheres) que procuravam emprego como extras na indústria cinematográfica. Os objetivos principais do Central Os objetivos do Central Casting eram: acabar com as altas taxas cobradas dos extras pelas agências de emprego privadas; garantir que os eles fossem pagos na forma da lei; desencorajar o influxo de pessoas aglomerando-se em Hollywood na tentativa de emprego como extras; garantir um emprego estável para extras qualificados. Para os estimados 30 mil aspirantes a extras em Hollywood o Central Casting tornou-se a única fonte de trabalho.

Entre as atrizes do cinema silencioso que começaram como extras estavam por exemplo: Evelyn Brent, Gloria Swanson, Joan Crawford, Norma Talmadge, Florence Vidor, Mae Marsh, Seena Owen, Mary Philbin, Laura La Plante, Betty Bronson, Norma Shearer, Claire Windsor, Lois Wilson. Entre os atores: Rudolph Valentino, George Walsh, Clark Gable, Gary Cooper, David Niven. Durante a era sonora podemos citar Lana Turner e Alan Ladd.  O diretor Fred Zinemann trabalhou como extra em Sem Novidade no Front / All Quiet on the Western Front / 1930 como um soldado alemão e como um chofer de ambulância francês.

Ao contrário, algumas estrelas e astros do cinema silencioso encerraram suas carreiras como extras, como foi o caso de Florence Turner, a “Vitagraph Girl” e seu galã no mesmo estúdio Maurice Costello. Cecil B. DeMille empregou vários atores do cinema mudo como extras em Cleopatra / Cleopatra / 1933 entre eles William Farnum, Julanne Johnston, Jack Mulhall, Bryant Washburn, Claire McDowell e em Vendaval de Paixões / Reap the Wild Wind / 1942 ele usou, além de outros, Monte Blue, Mildred Harris, Dorothy Sebastian. Em abril de 1936 Louis B. Mayer anunciou a colocação de pelo menos uma dúzia de astros do cinema mudo na folha de pagamento da MGM como extras, entre eles, o ex-diretor King Baggot, Helene Chadwick, Flora Finch, Florence Lawrence e a primeira esposa de Valentino, Jean Acker.

Cena de A Última Ordem (Emil Jannings na fila dos extras)

Cena de The Life and Death of 9413: a Hollywood Extra

Dois filmes famosos fizeram alusão aos extras e às suas experiências em um estúdio. Na produção da Paramount A Última Ordem / The Last Command / 1928, dirigida por Josef von Sternberg, Emil Jannings faz o papel do ex-General Dolgorucki, fugitivo da Revolução de 1917 que, para sobreviver, trabalha como extra em Hollywood. The Life and Death of 9413: a Hollywood Extra / 1928, co-escrito e dirigido por Robert Florey e Slavko Vorkapich, considerado um marco do cinema americano de vanguarda, conta a história de Mr. Jones (Jules Raucourt), que vai para Hollywood, com a intenção de se tornar um astro, e acaba desumanizado, reduzido pelos executivos de estúdio a um extra, com o número 9413 escrito na sua testa.

Os substitutos não devem ser confundidos com os dublês de corpo (body doubles), pessoas que atuam em cenas que atores ou atrizes não querem fazer (v. g. cenas de amor ou de nudismo). Algumas produções pedem que dois personagens apareçam no mesmo plano, retratados por um único ator. Um dublê de corpo interpreta um dos personagens enquanto um ator creditado interpreta o outro, permitindo assim que ambos os personagens apareçam simultaneamente diante da câmera.

Comumente se diz que a idéia do stand-in teve origem nos anos vinte, quando Pola Negri sugeriu que fôsse substituída por um boneco ou um manequim, mas parece que houve exemplos anteriores. Slide cita como exemplo o caso de Blanche Sweet que, ao contrair escarlatina durante a filmagem de The Escape / 1914 de D. W. Griffith, foi substituída em algumas cenas por uma atriz menor chamada Claire Anderson, muito parecida com ela.

Julie Haydon substituta de Ann Harding

Ainda segundo Slide, nos anos trinta os substitutos eram comuns nos sets de filmagem dos estúdios. Algumas estrelas tinham substitutas que haviam sido ou eram elas próprias atrizes. A substituta de Ann Harding era Julie Haydon, que trabalhou como leading lady no cinema, mas era mais conhecida na Broadway; Joan Crawford teve como substituta Ann Dvorak, antes que esta tivesse sido elevada ao estrelato na Warner Bros.; a carreira de atriz infantil dos anos dez, Baby Marie Osborne já estava encerrada há muito tempo, quando ela se tornou substituta de Ginger Rogers e posteriormente de Deanna Durbin. Katharine Hepburn usava duas irmãs, Mimi e Patricia (Patsy) Doyle como substitutas. Esta última também trabalhou como dançarina e substituta de Barbara Stanwyck e continuou no cinema até 1942, quando se casou com o então montador e futuro diretor Robert Wise.

Slide enumera muitos outros exemplos de substitutos, mas vou citar apenas alguns para não cansar o leitor, mencionando primeiro o nome da substituta ou substituto e entre parêntesis o da atriz ou ator substituído: Edna Weckert (Mae West), Fern Barry (Helen Hayes), Pluma Noison (Claudette Colbert), Helene Holmes (Alice Faye), Kathryn ou Kay Stanley (Irene Dunne), Sally Sage (Bette Davis), Geraldine De Vorak (Greta Garbo);  Victor CHatten (Lew Ayres), “Dutch” Petit (Richard Barthelmess e depois Paul Muni),  Tommy Noonan (Tyrone Power), Ted Hall (George Raft), Bill Hoover (Charles Laughton e Edward Arnold), Art Berry Jr. (Herbert Marshall), Malcom Merrihugh (Cary Grant), Bill Meader (Fredric March),etc. etc. Alguns substitutos trabalharam para vários atores:  Leonard Mann para Eddie Bracken, Dick Powell, Bing Crosby e Wendell Corey; Gale Mogul para Eddie Cantor, Ronald Colman, Adolphe Menjou, Leslie Howard, Robert Donat e Charles Boyer. Os astros infantís também tinham seus substitutos. Marilyn Granas substituía Shirley Temple (depois Granas foi substituída por Mary Lou Isleib), Gloria Fisher substituía Jane Withers, Carol Ann Saunders substituía Margaret O´Brien e Barbara Campbell substituía Virginia Weidler.

Mary Lou e Shirley Temple

Entre os substituídos e substitutos dos anos 40 selecionei na lista enorme de Slide: Byron Fitzgerad (William Holden), Neil Collins (George Raft), Gordon Clark (Douglas Fairbanks Jr.), “Fig” Nelson (Charles Boyer), Tommy Summers (Alan Ladd), June Kilgore (Paulette Goddard), Ruth Peterson (Rita Hayworth). Para terminar, por receio de enfastiar o leitor, em Casablanca / Casablanca / 9142, Betty Brooks substituiu Ingrid Bergman e Russ Llewellyn substituiu Humphrey Bogart.

Em 1939 os stand-ins formaram sua própria organização fraterna, Hollywood Standin Players, Inc., que depois mudou o nome para Hollywood Stand-Ins Guild. Nos anos 40 foi organizada a Associated Stand-Ins of Hollywood, que introduziu seus próprios prêmios, os Elmers Awards.

Richard Talmadge em uma de suas cenas arriscadas

Harvey Parry o dublê de Harold Lloyd em

O uso de dublês data de 1908. Embora muitos atores e atrizes do cinema silencioso – particularmente os comediantes – realizassem suas acrobacias, os dublês eram usados quando necessários. Richard Talmadge e Harvey Parry serviram de dublês para Harold Lloyd. Talmadge dublou para Douglas Fairbanks. Numerosos stuntmen dublaram para Pearl White nos seus seriados. Geralmente os nomes dos dublês não era divulgado e a indústria se apegou ao mito de que os astros excutavam suas próprias façanhas arriscadas.

Yakima Canutt em ação

Os dublês tornaram-se mais conhecidos do que os extras e substitutos, porém muitos dublês do cinema mudo permanecem anônimos. No meu artigo Grandes Dublês do Cinema Americano de Outrora, publicado neste blogue em 28 de Outubro de 2013,   forneço mini-cinebiografias de Bob Rose, Richard Talmadge, Cliff Lyons, David Sharpe, Enos Edward Canutt (Yakima Canutt), Dick Grace, Al Wilson, Ormer Locklear, Albert Paul Mantz, Tom Steele, Dale Van Sickel. Yakima Canutt notabilizou-se pelo seu trabalho como diretor de segunda unidade em Ben-Hur / Ben-Hur / 1959 e recebeu um Oscar honorário em 1966. Ormer Locklear, especialista em vôos acrobáticos, morreu em 1920 enquanto filmava Aviador Temerário / The Skywayman / 1920. Paul Mantz perdeu a vida quando filmava O Vôo da Fênix / Flight of the Phoenix / 1965. Alguns dublês tornaram-se astros como George O´Brien, Jock Mahoney, Rod Cameron e George Montgomery.

Paul Mantz

Uma dublê chamada Winna Brown, ficou conhecida pelas suas habilidades de equitação. Ela fazia o papel de índias na Universal em 1910 e nos anos vinte dublou Norma e Constance Talmadge. Quando Joseph Schildkraut foi contratado para contracenar com Norma Talmadge em Canção de Amor / The Song of Love / 1923, descobriu-se que ele tinha medo de cavalos e então Norma fez com que Winna Brown o dublasse. Uma dublê feminina pioneira dos anos trinta foi Lila Finn que apareceu em mais de cem filmes. Ela serviu como dublês de Dorothy Lamour em O Furacão / The Hurricane / 1937 nadando e mergulhando na locação na ilha de Pago Pago em Samoa e de Paulette Goddard, descendo pelas corredeiras em Vendaval de Paixões / Reap the Wild Wind /1942 e Os Inconquistáveis / Unconquered / 1947. Em Ladrão de Casaca / To Catch a Thief / 1955 de Alfred Hitchcock ela dublou a ladra interpretada por Brigitte Auber, pulando de um telhado para outro e eventualmente caindo de um deles e sendo segurada pela mão de Cary Grant.

SHAKESPEARE NO CINEMA (1899-1957)

O Cinema foi atraído por Shakespeare desde sua invenção. Em 1899, apenas quatro anos depois que os irmãos Lumière promoveram a primeira projeção pública do seu Cinematógrafo em Paris, William Kennedy-Laurie Dickson filmou em Londres uma cena de quatro minutos da peça King John de Shakespeare, protagonizada pelo ator Sir Herbert Beerbohm Tree.

Nos anos seguintes a relação Shakespeare-Cinema progrediu através de três estágios de desenvolvimento: era do cinema silencioso, as primeiras experiências com o som em Hollywood e na Inglaterra, e uma grande fase internacional após a Segunda Guerra Mundial, iniciada com os filmes de Laurence Olivier e Orson Welles.

A fase silenciosa cobriu três décadas do século, de King John de Dickson a A Mulher Domada / Taming of the Shrew / 1929 de Sam Taylor, o primeiro filme shakespereano falado, estrelado por dois astros consagrados, Mary Pickford e Douglas Fairbanks. Nestes trinta anos mais de 400 filmes mudos foram baseados em Shakespeare, a maioria com apenas um ou dois rolos (10 ou 20 minutos de duração), entre eles The Taming of the Shrew / 1908 (17 minutos) de David Wark Griffith, produzido pela American Mutoscope BIograph e Macbeth, Romeo and Juliet, Richard III, Antony and Cleopatra / Julius Caesar, The Merchant of Venice, King Lear, A Midsummer Night´s Dream de J. Stuart Blackton, realizados para a American Vitagraph Company.

O primeiro filme shakespereano de longa-metragem (55 minutos) parece ter sido Richard III / 1912, co-produção franco-americana, dirigida por André Calmettes e James Keane, com Frederick Warde no papel principal. A única cópia sobrevivente era de propriedade de um ex-projecionista de um cinema de Portland, Oregon, que doou o filme para o American Film Institute em 1996, sem saber que estava preservando uma preciosidade cinematográfica.

As peças de Shakespeare têm alcance global e logo cineastas de vários países demonstraram interesse pela realização de filmes shakespereanos. Um exemplo curioso foi o filme alemão Hamlet / Hamlet / 1921 (Dir: Svend Gade) com a célebre atriz dinamarquesa Asta Nielsen no papel de Hamlet que, no caso, é uma mulher.  Na trama, baseada em um livro do americano Edward P. Vining, Hamlet nasceu uma menina. Como o nascimento ocorreu quando seu pai estava lutando em uma guerra contra a Velha Noruega, na qual se disputava terras existentes entre os dois países, a rainha Getrudes escondeu a verdadeira identidade da criança, como proteção caso seu esposo fosse morto na batalha. Quando a menina cresce, ela tenta expor a traição de Claudius, suprimindo o tempo todo sua paixão por Horácio. Outra grande atriz, Sarah Bernhardt, havia interpretado Hamlet na tela em 1900, porém estava representado um papel masculino e não uma mulher vestida de homem.

Outros atores – Godfrey Tearle (Romeo and Juliet / 1908); Jacques Grétillat (Hamlet / 1908); Jean-Mounet-Sully (Hamlet / 1910); Ermete Novellli (Re Lear / 1910); Constance Benson (Julius Caesar, Macbeth, The Taming of the Screw e Richard III / todos de 1911); Amleto Novelli (Marco Antonio e Cleopatra / Marc’Antonio e Cleopatra / 1913); Sir Johnston Forbes-Robertson (Hamlet / 1913);Matheson Lang (The Merchant of Venice / 1916); Frederick Warde (The Life and Death of King Richard III / 1912, King Lear / 1916); Ruggero Ruggeri (Hamlet / Amleto / 1917) – seguiram os passos de Beerbohm Tree, Asta Nielsen, Sarah Bernhardt e no British Film Catalog (1895-1970) de Dennis Gifford (McGraw-Hill, 1973) encontramos diversos filmes shakespereanos ou inspirados em obras do Bardo, incluindo versões cômicas ou paródias.

Mickey Rooney e Olivia de Havilland em Sonho de uma Noite de Verão

Leslie Howard e Norma Shearer em Romeu e Julieta

Quando o cinema começou a falar, teve que se confrontar com o texto profundo e poético de Shakespeare. O segundo filme shakespereano falado reuniu o notável diretor de teatro alemão Max Reinhardt com seu conterrâneo companheiro de exílio, o diretor de cinema William Dieterle, em Sonho de uma Noite de Verão / A Midsummer Night´s Dream / 1935. Embora repleta de atores populares (Dick Powell, Olivia de Havilland, James Cagney, Joe E. Brown, Mickey Rooney, Anita Louise, etc.) e tecnicamente inventiva, esta produção da Warner Bros. não encontrou um público e o filme shakespereano seguinte Romeu e Julieta / Romeo and Juliet / 1937, produzido pela MGM dirigido por George Cukor, talvez por causa da idade avançada de seu Romeu (Leslie Howard, 43 anos e sua Julieta (Norma Shearer com 35 anos), não teve melhor destino na bilheteria.

Laurence Olivier e Elizabeth Bergner em Como Gosteis

No início dos anos trinta a famosa atriz polonesa Elizabeth Bergner e seu marido alemão Paul Czinner, fugiram da Alemanha nazista para Londres onde, em colaboração com o dramaturgo J.M. Barrie, participaram da realização do filme shakespereano Como Gosteis / As You LIke It / 1936, estrelado por ela e Laurence Olivier; porém o espetáculo não teve o sucesso esperado, deixando a impressão de que Shakespeare e o Cinema não se combinavam.

Entretanto, o primeiro filme de Olivier como diretor, Henrique V / Henry V / 1944, deu início a uma grande fase internacional de obras cinematográficas no gênero, que compreendeu, nos anos 40-50, mais dois filmes de Olivier, Hamlet / Hamlet / 1948 e Ricardo III / Richard III / 1955; Macbeth, Reinado de Sangue / Macbeth / 1948 e Othelo / The Tragedy of Othello: The Moor of Venice / 1951 de Orson Welles;  Júlio César /  Julius Caesar  de J. L. Mankiewicz /  1953;  Romeu e Julieta / Giulietta e Romeo  / 1954 de Renato Castellani; Otelo, o Mouro de Veneza / Otello / 1956 de Sergei Youtkevich; Trono Manchado de Sangue / Kumonosu-jô / 1957 de Akira Kurosawa. Destaco em negrito os melhores.

 

Henrique V

Henrique V

Encarregado do comando de todo o projeto  (como diretor, ator principal, co-autor do roteiro e co-produtor),  no momento em que os Aliados estavam reunidos na Inglaterra para planejar e lançar uma invasão massiva da França a fim de retomar a Europa de Hitler, Laurence Olivier percebeu que o texto shakespereano (embora dizendo respeito a uma outra invasão da França bem menor mas igualmente famosa, levada a efeito por um jovem rei inglês em 1415), devidamente ajustado, poderia servir ao esforço de guerra. Com esta compreensão, ele concebeu ao mesmo tempo uma peça de propaganda estimulante e uma obra de arte cinematográfica, misturando habilmente teatro e cinema, em uma profusão de cores e efeitos técnicos surpreendentes. Sua idéia mais fértil foi começar e terminar o filme pela descrição realista de uma representação do teatro elisabetano. O espetáculo começa com a panorâmica de uma maquete da Londres Elizabetana e em seguida a câmera nos conduz pelo Tâmisa até uma réplica do Globe Theater. Após as cenas de abertura, filmadas como se estivéssemos diante de uma performance da peça de Shakespeare no Globe, o filme volta no tempo para a França no final da Idade Média, mostrada por cenários pintados e paisagens construídos no palco de filmagem de um estúdio. Finalmente, Olivier transporta a narrativa para uma locação na Irlanda, onde filma a Batalha de Agincourt. Transcorridos alguns acontecimentos na côrte francesa, o espetáculo retorna ao Globe para o final. Nas cenas da batalha – empolgantes por seu movimento, sua montagem e pela música agitada de Wiliam Walton – com a câmera ao ar livre, o filme se torna totalmente cinematográfico, salientando-se outro grande momento, como a alocução feita aos soldados por Henrique, finalizada quando o rei, sobre uma carreta e cercado por todos, faz a incitação ao combate. O idílio dele no fim com a princesa Catherine (Renée Asherson) encanta pela graça do diálogo e comportamento dos atores.

 

Hamlet

Hamlet

Apesar da eliminação drástica de várias personagens da peça como Fortimbrás, Reinaldo e a dupla Rosencrantz e Guildenstein e da alteração de vários trechos até em sua colocação em cena, como foi o caso do monólogo “To be or not be”, recitado após o encontro com Ofélia (Jean Simmons), quando devia precedê-lo, trata-se aqui de uma adaptação cinematográfica soberba da obra-prima de Shakespeare, feita pelo melhor especialista. Olivier optou por uma leitura Edipiana do texto e, embora enunciado como a história de um homem indeciso, o filme mostra um Hamlet em ação, quase sempre impulsivo e violento, que trama sua vingança com forte determinação. O diretor abandona o Technicolor brilhante de Henrique V, para explorar, com a fotografia em preto e branco contrastada, a atmosfera sombria e profundamente psicológica de Elsinore, onde se desenvolve o drama do atormentado Príncipe da Dinamarca. Combinando profundidade campo com a movimentação incessante da câmera pelos cenários tenebrosos do castelo, com suas escadas gigantescas e corredores intermináveis, Olivier cria uma espécie de paralelismo com o que se passa no âmago de Hamlet, sondando sua inteligência secreta, que se manifesta por vezes através de solilóquios em voz over como monólogos interiores. Avultam, pela sua dramaticidade, as cenas da representação dos comediantes na côrte reconstituindo o crime nefando de Claudio (Basil Sidney), a visita incestuosa de Hamlet ao quarto de sua mãe (Eileen Herlie) ocasionando a morte acidental de Polônio (Felix Aylmer), e o duelo final trágico.

 

Ricado IIIr

Ricardo III.

Tal como nas suas precedentes transposições para a tela das obras de Shakespeare, Laurence Olivier logrou de forma admirável, traduzir o pensamento do dramaturgo elisabetano com os recursos da câmera cinematográfica. Suprimindo personagens (como a rainha Margaret), acrescentando outros (como Jane Shore, apenas mencionada na peça), ou refazendo cenas (Ricardo seduz Anne não diante do caixão de seu sogro Henrique VI, mas do seu esposo), soube traçar um retrato perfeito do ambicioso e diabólico Duque de Gloucester e sua conspiração contra o rei para se apoderar da corôa que, em primeiro plano, abre e fecha o espetáculo. Uma das originalidades do filme é que Ricardo é um vilão disforme e carismático que, confidenciando seus planos diretamente para os espectadores, os faz cúmplices de suas tramas e crimes; ele acaba manipulando o público tão habilmente quanto faz com seus rivais pelo trono da Inglaterra. O diretor usa por vezes a sombra de Ricardo como uma metáfora visual, refletindo o defeito físico e moral do protagonista e sua perversidade. Como ator, Olivier compõe magnificamente esta figura envolvente e sinistra, cercado por um elenco de apoio notável, no qual se destacam Cedric Hardwicke (Eduardo IV); Ralph Richardson (Duque de Buckingham); John Gieguld (Duque de Clarence); Claire Bloom (Lady Anne).

 

Macbeth

Macbeth, Reinado de Sangue.

Nesta sua primeira incursão na obra de William Shakespeare, produzida com poucos recursos, em vez de uma representação acadêmica, Orson Welles preferiu realizar um espetáculo inovador bárbaro e barroco, influenciado pelo expressionismo e pelo cinema de Eisenstein, criando com audácia estilística uma atmosfera fantasmagórica e funérea, que confere ao relato um poder visual impressionante. Utilizando cenários primitivos de formações rochosas (v. g. o castelo escocês cujos interiores mais parecem grutas) envoltos em sombras e névoas; fazendo todo o elenco dizer suas falas com sotaque escocês; suprindo ou mudando a ordem de cenas, e até mesmo criando um novo personagem como o Homem Santo com longas tranças (Alan Napier) para acentuar o conflito com a antiga religião; impondo um vestuário insólito (v. g. a coroa em forma de tridente de Macbeth) e, evidentemente, expondo sua enorme visão de cinema em cenas admiráveis como a morte de Duncan (Erskine Sanford) off-screen e a aproximação de Macduff (Dan O´Herlihy) e dos soldados ingleses no final, Welles confirmou plenamente seu gênio artístico.

 

Otelo

Othelo

Apesar da filmagem ter sido perturbada por problemas financeiros e interrompida por períodos de tempo prolongados, Welles conseguiu juntar os fragmentos rodados quase que inteiramente em múltiplos interiores e exteriores naturais na Itália e no Marrocos, oferecendo-nos uma transcrição visualmente excitante da obra do Bardo. O cineasta resolveu contar a história em retrospecto, filmando primeiro os funerais do Mouro de Veneza e de Desdêmona (Suzanne Cloutier) em vez de seguir um relato linear tal como na peça. Desde o plano de abertura em íris do rosto de Otelo no seu caixão a Iago suspenso em uma gaiola nas muralhas de Mogador, ao assassinato de Rodrigo  (Robert Coote) no banho turco sob o som de bandolins, à perseguição de Cassio  (Michael Lawrence) nos esgotos de Chipre, à capela abobadada onde se dá a morte de Desdemona, ele demonstra uma criatividade sem limites, exprimindo em termos puramente cinematográficos (por meio de planos breves, variedade dos enquadramentos e ritmo sempre dinâmico)  os lances de perfídia, ciúme e ódio que motivam a tragédia shakespereana.

 

Trono Manchado de Sangue

Trono Manchado de Sangue

Akira Kurosawa transfere o drama inglês para o Japão medieval, adaptando-o à uma cultura, que o enriquece. Inspirado pela simplicidade e estilização do Teatro Nô, a peça é reduzida, vários personagens secundários desaparecem, os lugares de ação são limitados a duas fortalezas e à floresta, os diálogos são ínfimos, a voz over não é utilizada, os atores se deslocam o mínimo possível, os cenários são minimalistas e em lugar das três feiticeiras em torno de um caldeirão, só subsiste uma, trabalhando em sua roda de fiar como uma Parca – a deusa da mitologia romana clássica que controla o destino dos mortais, que tece o fio da vida. Dois samurais do século XVI, Washizu (Toshiro Mifune) e Miki (Minoru Chiaki) substituem os dois cavaleiros escoceses Macbeth e Banquo e o bosque de Birnam torna-se a brumosa e emaranhada floresta perto do Castelo da Teia de Aranha, que põe em destaque o fantástico latente na peça de Shakespeare. A força expressiva de Kurosawa manifesta-se em sequências antológicas como aquela em que um bando de pássaros, assustados porque o inimigo está destruindo a floresta, invadem a câmara do castelo onde Washizu preside um conselho de guerra. Sem poderem sair, as aves atacam os cortesãos atônitos, que vêem isso como um mau agouro. Washizu se levanta e diz que se trata de um bom augouro, porque significa que o inimigo está encurralado na floresta. Pouco depois, ouve-se um grito. Washizu decide ver do que se trata e no caminho vai sendo esbarrado por várias moças que estão correndo assustadas até que encontra sua esposa Asiju (Isuzu Yamada) tentando em vão lavar as mãos encharcadas de sangue. Outra sequência memorável ocorre no final quando, ao perceber a “floresta” que se move, Washizu entra em pânico.  As flechas batem na madeira ao redor dele, cravam em sua armadura, e depois na sua carne. Lentamente, cambaleante, ele desce as escadas do castelo como um porco-espinho humano. Mesmo nesta condição, ele confronta seus inimigos, seus próprios homens. Então uma flecha trespassa seu pescoço. É um esplêndido final, quase operístico.