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O CINEMA DA FRENTE POPULAR E O REALISMO POÉTICO

A Frente Popular foi uma maioria parlamentar – nascida de uma coalizão da esquerda composta por comunistas, socialistas e radicais -, eleita no final da primavera de 1936, que apoiou o primeiro governo de Leon Blum (1936-1937), líder parlamentar da SFIO (Section Française de l’Internationale Ouvrière). Foi também uma corrente profunda que circulou na sociedade francesa, sustentada por jornalistas, escritores, artistas e cineastas, despertando grandes esperanças na classe operária, pois significava a introdução das massas na vida política.

Leon Blum

Os estudiosos de cinema empregam a expressão Cinema da Frente Popular para designar a atividade cinematográfica durante esse período; porém, com exceção dos filmes de Jean Renoir, poucos então produzidos se aproximam daquele fenômeno tão importante, que trouxe o retorno de um gosto pelo trabalho e pela vida, de uma crença no progresso e na fraternidade. Dessarte, a Frente Popular não engendrou um importante movimento cinematográfico, mas se manifestou no cinema de três maneiras: pela agitação cultural, produção militante e impulsão dada ao realismo poético.

Os cineclubes da época, Les Amis de Spartacus, fundado pelo crítico de cinema Léon Moussinac, Les Amis de la Bellevilloise, dirigido, entre outros, pelo roteirista Jean-Paul Dreyfus (que se tornaria o diretor Jean-Paul le Chanois), e sobretudo os clubes da Association France-URRS, desempenharam um papel significativo na ascenção da Frente Popular bem como no aparecimento de novos tipos de associações que iriam aproximar o público e o mundo do cinema. Foi o caso da AEAR – Association des Écrivains et Artistes Révolutionnaires, criada em março de 1932 tendo como secretário-geral o líder comunista Paul Vaillant-Couturier e que publicou, a partir de 1933, a revista cultural Commune, na qual Georges Sadoul faria sua estréia como crítico cinematográfico em 1936. A seção de cinema da AEAR completava a ação dos cineclubes, organizando algumas projeções de filmes proibidos para um círculo de intelectuais e de profissionais de cinema.

Depois de 1936, surgiu uma nova organização, Ciné-Liberté, que se propôs a produzir, em cooperativa, documentários e filmes de ficção, promover filmes populares e travar batalhas profissionais, como a luta contra a censura ou o saneamento econômico do cinema. Os meios de ação eram, essencialmente, as sessões de cinema, conferências seguidas de debates e um jornal. Jean Renoir e Henri Jeanson apareciam como os principais ativistas dessa associação, em que se distinguiam também Jacques Becker, Charles Dullin, Jacques Feyder, Jean-Paul Dreyfus. O Ciné-Liberté desempenharia um papel notável na produção de filmes militantes.

Cinemateca Francesa

Esses anos da Frente Popular foram marcados por uma viva atividade cultural em torno do cinema. Em 1935, Jean Mitry encontrou dois jovens cinéfilos, Henri Langlois e Georges Franju, que desejavam criar um cineclube, Le Cercle du Cinéma. Os três formularam então o projeto da Cinémathèque Française, que foi fundada em 1936 como apoio moral e financeiro da Paul-Auguste Harlé, diretor da revista La Cinématographie Française. Logo Henri Langlois assumiu a direção da Cinémathèque. Ele tinha dinheiro, o que lhe permitiu salvar da destruição um grande número de filmes, e uma qualidade que faltava a Mitry: capacidade para enfrentar todas as dificuldades.

O principal filme militante, La Vie est à Nous (1936), foi financiado e utilizado pelo PCF para preparar a campanha eleitoral que levou, em maio de 1936, à vitória da Frente Popular. Os mais proeminentes intelectuais de esquerda da época, reunidos e dirigidos por Jean Renoir, exprimiam suas esperanças e sua fé na mais pura tradição do cinema engajado. A demonstração pedagógica começa por uma sequência na qual um professor explica a seus alunos que a França é um país rico e que, se fosse administrado de outra forma, o povo seria feliz. Depois, na redação do jornal L’Humanité, seu editor, Marcel Cachin, lê três cartas mostrando a vitalidade e a ubiquidade da resposta comunista: (1) um operário injustamente despedido é reintegrado pela solidariedade de seus companheiros; (2) na França rural um oficial de justiça penhora os animais e as ferramentas de um lavrador endividado e seus vizinhos arrematam os bens no leilão e os devolvem ao dono; (3) um jovem mecânico desempregado perde a única vaga que conseguira em uma garagem e o Partido Comunista lhe oferece ajuda.

Jean Renoir na filmagem de A Marselhesa

Cena de  A Marselhesa

Pierre Renoir em A Marselhesa

Renoir foi convocado, logo em seguida a La Vie est a Nous, para a realização do projeto mais grandioso do cinema militante: A Marselhesa / La Marsellaise / 1937. O dinheiro para a produção desse filme –-“concebido pelo povo e para o povo” – foi recolhido graças a uma subscrição junto aos futuros espectadores, entre os quais estavam os trabalhadores que viviam ainda no entusiasmo da Frente Popular.

A expressão realismo poético pertenceu inicialmente à crítica literária, usada por Jean Paulham, editor da prestigiosa La Nouvelle Revue Française, ao comentar La Rue Sans Nom, romance de Marcel Aymé de 1929, sobre um grupo de seres esquecidos que definhava nas ruas escuras dos subúrbios de Paris. Quando o cineasta Pierre Chenal levou o livro para as telas em 1932, Michel Gorel, crítico da revista Cinémonde, declarou: “Este filme, a meu ver, inaugura um gênero inteiramente novo no cinema francês: o realismo poético”. A partir de então o termo foi usado para caracterizar um grupo de filmes franceses, realizados entre 1934 e 1939, que criavam um mundo maravilhosamente poético, mas com impressão de realidade.

O realismo poético, na sua expressão fílmica, nasceu de uma rede de influências literárias, com as variações em torno do naturalismo, do populismo e do fantástico social de Pierre Mac Orlan e Marcel Aymé; influências cinematográficas, com o expressionismo realista, frequentemente chamado de Kammerspielfilm (filme de interiores), do qual tomou emprestado a temática (personagens que representavam a escória da sociedade, abatidos pela fatalidade), a atmosfera (a famosa Stimmung, prezada pelos alemães), a iluminação (utilização expressionista da luz devido a grandes cinegrafistas alemães emigrados na França, como Eugen Schuftan) e a representação cênica estilizada (que privilegiava a filmagem em estúdio).

As principais obras do realismo póetico tentavam, de uma maneira ou de outra, encontrar uma dimensão trágica nas vidas dos marginais, do excluídos, que não tinham outra escolha senão o exílio ou a morte. Transitando por portos banhados de sombras, bares sórdidos, hotéis de terceira categoria ou desertos distantes, esses seres procuravam se evadir para um outro destino pela aventura e pelo sonho. Alguns comentaristas preferem usar o termo “tragédia populista” ou “populismo trágico “ para denominar essa corrente do cinema francês.

 O clima sombrio e melancólico dos filmes e o sentimento de amargura e fatalismo de que estão impregnados têm sido frequentemente interpretados como uma expressão do desapontamento da esquerda após o colapso da Frente Popular e, mais geralmente, dos anos angustiosos que antecederam a Segunda Guerra Mundial. Com efeito, após a derrota da França em 1940, o novo regime colaboracionista do marechal Pétain acusou os dramas realistas poéticos de expressarem uma atitude derrotista de uma nação decadente, e, consequentemente, muitos deles foram banidos das telas francesas durante a Ocupação.

Os historiadores do cinema usam a expressão realismo poético em conexão com certos filmes realizados principalmente por Marcel Carné, Julien Duvivier, Jacques Feyder, Jean Grémillon, Pierre Chenal e Jean Renoit, porém cada qual apresenta uma relação diferente de obras básicas. A maioria dos estudiosos cita especialmente Cais das Sombras / Quais des Brumes / 1938, Hotel do Norte / Hotel du Nord / 1938, Trágico Amanhecer / Le Jour se Léve / 1939 de Marcel Carné; A Bandeira / La Bandera / 1935, Camaradas / La Belle Équipe / 1936, O Demônio da Algéria / Pepe le Moko / 1937 de Julien Duvivier; A Última Cartada / Le Grande Jeu / 1934, Pension Mimosas / 1935, Povo Errante / Les Gens du Voyage / 1937 de Jacques Feyder; Gula de Amor / Gueule d’Amour / 1937, Águas Tempestuosas / Remorques / 1941 de Jean Grémillon; L’ Alibi / 1937, Paixão Criminosa / Le Dernier Tournant / 1939 de Pierre Chenal;  A Grande Ilusão / La Grande Illusion / 1937,  A Besta Humana / La Bête Humaine / 1938  de Jean Renoir. Outros vislumbram um realismo poético “sobrevivente” em Lumière d’ Été / 1942 de Grémillom, Viagem sem Esperança / Voyage sans Espoir / 1943 de Christian-Jaque; ou O Boulevard du Crime. / Les Enfants du Paradis / 1945 de Carné, etc. E há quem perceba traços desse fenômeno no cinema mudo em filmes de precursores como Coração Fiel / Coeur Fidèle / 1923 de Jean Epstein, Em Rade / 1927 de Alberto Cavalcanti e, sobretudo, Mènilmontant / 1926 de Dimitri Kirsanoff.

Marcel Carné

O lugar de Marcel Carné (Paris,1909 – 1996) na história do cinema está assegurado como o principal expoente do realismo poético, particularmente na sua colaboração com o poeta roteirista Jacques Prévert. Carné foi aprendiz de marceneiro, depois empregado de uma companhia de seguros. Apaixonado pelo cinema, frequentou cursos de fotografia e exerceu a crítica de filmes. O encontro com a atriz Françoise Rosay, esposa do cineasta Jacques Feyder, ajudou-o a começar sua carreira como assistente de câmera em Les Nouveaux Messieurs / 1929 (Dir: Jacques Feyder), e Cagliostro / 1929 (Dir: Richard Odswald).No mesmo ano, Carné dirigiu um documentário de curta-metragem, Nogent, Eldorado du Dimanche, e depois se tornou assistente de René Clair (Sob os Tetos de Paris / Sous les Toits de Paris) e de Feyder (A Última Cartada, Pensão Mimosas, A Quermesse Heróica / La Kermesse Héroique / 1935).

Jean Gabin e Michèle Morgan em Cais das Sombras

Trabalhando intimamente com Prévert, Carné ascendeu para uma grande proeminência no cinema francês dos anos 30. De sua cumplicidade nasceram sete filmes, dotados de um equilíbrio exemplar entre o lirismo eloquente do dialoguista e a visão moderadada do cineasta. Sua colaboração produziu filmes memoráveis como Jenny / Jenny / 1936, Família exótica / Drôle de Drame / 1937, Cais das Sombras, o filme mais representativo do universo negro de Carné-Prévert; e Trágico Amanhecer. Essas duas últimas obras foram o ápice do realismo poético, juntamente como Hotel do Norte, no qual Carné não contou com a participação de Prévert, substituído por Henri Jeanson.

Celebrando Prévert, os críticos talvez tenham subestimado atributos distintivos de Carné: seu senso refinado de composição e iluminação, sua capacidade para dar vida ao artifício do estúdio, sua articulação do estado psicológico de sues heróis. Certamente seus filmes do período em questão também devem muito ao decorador Alexandre Trauner, ao compositor Joseph Kosma e a uma grande quantidade de atores notáveis, Carné era o catalisador, o condutor e o centro de tudo.

Julien Duvivier

Julien Duvivier (Lille, 1896 – Paris, 1967) costuma ser apontado como o cineasta que soube captar o espírito da Frente Popular e cuja obra abundante nunca teria ultrapassado as convenções do cinema popular. Para muitos críticos ele seria um técnico muito versátil e competente, mas sem personalidade. Porém, a realidade é mais complexa, mesmo se a sua filmografia contém um bom número de filmes de encomenda.

Educado em um colégio jesuíta de sua cidade natal, Duvivier foi para Paris e arranjou emprego no Thêatre de l’Odeon nas funções de ator e encenador. Interessado pelo cinema, ingressou na Societé Cinématographique des Auteurs et Gens des Lettres (SCAG), na qual colaborou com André Antoine, o fundador do Thêatre Libre. Em 1919, depois de ter sido assistente de Louis Feuillade e Marcel l’Herbier, e outros cineastas, dirigiu seu primeiro filme, Haceldama ou Le prix du sang. Após uma carreira bastante produtiva na cena muda, marcada por dois sucessos artísticos, Poil de Carotte / 1925(que refilmaria em 1932) e Au Bonheur des Dames / 1930 (parcialmente sonorizado), Duvivier tornou-se , nos anos 30, um dos grandes diretores do cinema francês –-ao lado de René Clair, Marcel Carné e Jacques Feyder -, e realizou entre 1930 e 1940, alguns dos melhores filmes da época, por meio dos quais expressava um pessimismo amargo: Tragédia de um Homem Rico / David Golder;  Poil de Carotte / 1932, Maria Chapdelaine / Marie Chapdelaine / 1934,  Camaradas, O Demônio da Argélia, Um Carnet de Baile / Um Carnet de Bal / 1937; La Fin du Jour / 1939.

Charles Dorat, Jean Gabin, Rafael Medina, Aimos e Charles Vanel em  Camaradas  

Em toda a sua obra esse profissional eclético e muito produtivo demonstrou sempre um extremo rigor no plano da construção dramática, uma concepção de arte dinâmica e uma técnica extraordinária. A fotografia sempre bem cuidada e seus movimentos de câmera virtuosos combinados com planos longos contribuíram para a mise-en-scène atmosférica das histórias, por cujos roteiros – convém lembrar – muitas vezes ele mesmo se responsabilizou.

Jacques Feyder

Outro cineasta que ocupou uma posição importante nesse período tão fértil do cinema francês, Jacques Feyder (Ixelles, Bégica, 1885 – Genebra, 1948), teve uma participação ainda mais expressiva do que Julie Duvivier no cinema mudo. Contrariando o desejo do pai, que esperava ver o filho em uma escola militar, o jovem Feyder preferiu ser ator. Em 1911, chegou a Paris e logo começou a trabalhar no teatro, desempenhando pequenos papéis; porém, verificou que seu verdadeiro interesse era o cinema. Depois de algum tempo de treinamento como assistente do diretor Gaston Ravel e de ter se casado com a atriz Françoise Rosay, Feyder foi convocado para o exército ao irromper a Primeira Guerra Mundial, durante a qual prestou serviço em uma companhia teatral montada pelas Forças Armadas. Ao retornar à França em 1919, iniciou a trajetória que iria projetá-lo no meio cinematográfico.

Seu primeiro filme importante, Atlantide / L’Atlantide / 1921, filmado parcialmente no deserto do Saara, foi a produção francesa mais cara até então e, juntamente com os subsequentes Crainquebille / 1923 e Visages d’enfants / 1925, Carmen / Carmen / 1927 e Thèrése Raquin / 1928, elevou-o à categoria de grande cineasta. Após a proibição de sua sátira Les Nouveaux Messieurs, “por ter ofendido a dignidade do Parlamento e de seus ministros”, Feyder aceitou o convite da MGM e partiu para a América, onde dirigiu O Beijo / The Kiss / 1929, último filme mudo de Greta Garbo, versões estrangeiras de filmes americanos e dois dramas românticos estrelados por Ramon Novarro.

Pierre Richard-Willm e Françoise Rosay em A Última Cartada

Sentindo que o ambiente de Hollywood era incompatível com o seu temperamento, o diretor belga retornou à França e solidificou sua reputação com três filmes interpretados por sua mulher: A Última Cartada / Le Grand Jeu,  Pension MImosas e A Quermesse Heróica / La Kermesse Heróique, nos quais demonstrou a sua ligação sólida com a arte clássica, a arte de exprimir o máximo dizendo o mínimo – “uma arte de pudor e de modéstia”, como a definiu André Gide. Voluntariamente sóbrio e metódico, o cineasta sabia como poucos analisar o estado de espírito de seus personagens, descrever admiravelmente um determinado ambiente social e dar vida, com a maior força, a uma ação dramática. Ajudando a estabelecer as normas de um novo classicismo, ele lançou as bases da “tradição de qualidade”.

Nos seus primeiros três filmes sonoros, Feyder atingiu o auge dos seus feitos como diretor, mas é preciso lembrar quem quando continuou trabalhando sem a colaboração do roteirista Charles Spaak, suas realizações perderam um pouco da consistência e sutileza (Feyder e seu conterrâneo Spaak formaram a primeira dupla de diretor-roteirista que marcou sua presença na indústria). Antes da Segunda Guerra Mundial, já sem o concurso de Spaak, Feyder ainda fez Povo Errante (com sua versão alemã, Fahrendes-Volk) e O Amor Nasceu do Odio / Knight Without Armour / 1937, realizado na Inglaterra. Em 1942, pode-se dizer que ele encerrou seu percurso artístico com A Lei do Norte / La Loi du Nord, seu último filme com alguma envergadura.

Jean Grémillon

Atraído pela música, Jean Grémillon (Bayeux, 1901 – Paris, 1959) finalmente venceu a oposição paterna e foi estudar na Schola Cantorum em Paris, onde chegou em 1920. Para ganhar avida, tocava violão na orquestra de um cinema, cujo projecionista era seu futuro cinegrafista Georges Périnal. O encontro com Périnal despertou seu interesse pela sétima arte. Quando veio o som, Grémillon havia filmado 19 curtas-metragens, um média-metragem e dois longas-metragnes aclamados pelos intelectuais: Maldone / 1928, e Gardiens de Phare / 1929, com a ajuda de Charles Dullin para o primeiro e de Jacques Feyder para o segundo. Nesses dois trabalhos formigados de pesquisas estilísticas audaciosas para a época, já se podiam perceber o seu senso pungente do “trágico cotidiano” e a sua aptidão para fazer brotar o lirismo das situações mais convencionais.

Contratado pela Pathé-Nathan, ele realizou La Petite Lise / 1930, que continha prematuramente o realismo poético e inovava na utilização do som, porém foi um fracasso comercial. Daí em diante, Grémillon sofreu nas mãos dos comerciantes do cinema de seu país e acabou se exilando na Espanha para filmar La Dolorosa / 1934, cujo sucesso, no entanto, não ultrapassou os Pireneus.

MIchèle Morgan e Jean Gabin em Águas Tempestuosas

A salvação veio de Berlim, onde Raoul Ploquin, diretor do departamento francês da UFA, teve confiança em Grémillon; após alguns filmes corriqueiros, ele dirigiu um atrás do outro, Gula de Amor / Gueule d’Amour e O Homem que vivia duas Vidas / L’ Etrange Monsieur Victor / 1938. Graças a esses dois filmes, o diretor obteve o reconhecimento do público e da crítica e passou a ocupar o lugar que merecia no cinema do seu tempo. Entretanto, suas obras-primas, entre elas Águas Tempestuosas / Remorques, só surgiram nos anos 1940.

Pierre Chenal

Pierre Chenal (Bruxelas, 1904 – Paris, 1990) pode não ter atingido a mesma estatura artística de seus renomados colegas do cinema francês clássico, mas chegou bem perto deles. Incialmente jornalista e desenhista especializado em pôsteres, Chenal começou sua carreira cinematográfica realizando documentários curtos de cunho didático (Une Cité du Cinéma / 1930), surrealista (Un Coup des Dés / 1930), urbanístido (Architecte  d’aujourd’hui / 1931 ou romântico social (Les Petits Métiers de Paris / 1932).

A estréia no longa-metragem deu-se com Le Martyre de l’Obese / 1933, segundo-se La Rue sans Nom, no qual procurou recriar o ambiente carregado e mórbido dos filmes alemães, sempre presente na sua obra. Seus trabalhos subsequentes, alguns baseados em obras literárias famosas, projetaram-no como diretor de primeira classe do cinema francês, destacando-se: Assassino sem Culpa / Crime et Châtiment / 1935; O Homem que voltou do outro mundo / / L’Homme de Nulle Part. / 1937; L’ Alibi / 1937; L’ Affair l’Afage / 1938; Pecadoras de Túnis / La Maison du Maltais / 1939; Paixão Criminosa / Le Dernier Tournant / 1939.

 

Michel Simon, Corinne Luchaire e Fernand Gravey em Paixão Criminosa

Após a Primeira Guerra Mundial, na qual foi ferido na perna, Jean Renoir (Paris, 1894 -Califórnia, 1979), filho do pintor impressionista Auguste Renoir, dedicou-se à cerâmica, mas se tornou cada vez mais apaixonado pelo cinema. Com o dinheiro que herdou do pai, pôde fundar sua própria produtora, com o propósito principal de construir uma carreira cinematográfica para uma ex-modelo de seu progenitor, Catherine Hessling (Andrée Heuchling), com quem se casou. Dos filmes que ele dirigiu nesse processo os mais conhecidos são: Nana / 1926 e La Petite Marchande d’Allumettes / 1928.

Nos primeiros anos do cinema falado, Renoir realizou filmes respeitáveis La Chienne / 1931; La Nuit du Carrefour / 1932; Boudu sauvé des eaux / 1932; Madame Bovary / Madame Bovary / 1934) e, a partir da segunda metade do decênio, ao lado de outros bons filmes (Bas-Fonds / Les bas-fond / 1936; La Marseillaise / 1938), uma série de seis obras-primas  nas quais se percebe mais do que nuca a sua sinceridade humana, seu realismo espontâneo e sua apurada sensibilidade pictural: Toni / 1935;  Le Crime de Monsieur Lange / 1936; Um Dia no Campo / Une Partie de Campagne / 1936; A Grande Ilusão / La Grande Illusion / 1937; A Besta Humana / La Bête Humaine / 1938 e A Regra do Jôgo / La Régle du Jeu / 1939.

Na observação do crítico Claude-Jean Philippe, “toda a arte de Renoir consiste em eliminar os artifícios, aproximar-se dos seres e das coisas da maneira mais direta possível e contemplá-las com um olhar límpido”. Com um estilo discreto, mantendo uma ligação sólida com o impressionismo na pintura e o naturalismo na literatura, o cineasta capta e transmite de uma maneira simples e calorosa o real. É essa a sua contribuição extraordinária para o cinema – o que faz dele um grande cineasta.

SÉRIES DO CINEMA AMERICANO CLÁSSICO II

JEEVES

Mordomo erudito (Arthur Treacher) e seu frívolo patrão, Bertie Wooster (David Niven), personagens criados por P.G. Woodehouse; porém o roteiro não tem semelhança com nenhum romance do referido autor. Uma continuação foi lançada em 1937 com Treacher no papel de Jeeves mas sem o personagem de Bertie, porque David Niven era contratado de Samuel Goldwyn, que o havia emprestado para a 20thCentury-Fox apenas para um filme. 1936 – Thank You, Jeeves! Dir: Arthur Greville Collins.  1937 – Step Lively Jeeves Dir: Eugene Forde.

JIGGS AND MAGGIE

Baseada na história em quadrinhos de George Mc Manus cujo tema era simples: Jiggs, ex-carpinteiro, e sua esposa Maggie, ex-lavadeira, tornavam-se subitamente milionários graças a um prêmio da loteria; enquanto Maggie procurava esquecer suas origens sociais, Jiggs só pensava em se encontrar com seus velhos amigos dos tempos difíceis em um botequim, para jogar cartas. Joe Yale (pai do ator Mickey Rooney na vida real) e Renie Riano personificam os dois personagens de McManus, que no Brasil tiveram os nomes de Pafúncio e Marocas. Monogram. 1946 – Bringing Up Father (Vida Apertada) Dir: Edward F. Cline. 1948 – Jiggs and Maggie in Court (Pafúncio e Marocas em Apuros) Dir: William Beaudine; Jiggs and Maggie in Society (Marcas, a Gostosona) Dir: Edward F. Cline. 1949 – Jiggs and Maggie in Jackpot Jitters (Pafúncio e Marocas na Televisão) Dir: William Beaudine. 1950 – Jiggs and Maggie Out West (A Voz do Espírito) Dir: William Beaudine.

JOE PALOOKA

Baseada no pugilista das histórias em quadrinhos, criado em 1928 por Ham Fisher. O personagem esteve antes no rádio (1932), no filme Palooka / Palooka (1934, interpretado por Stuart Erwin, e em nove curtas-metragens da Vitaphone (1936-37) sob os traços de Robert Norton.  Joe Palooka (Joe Kirkwood Jr.) era não só campeão de boxe como também um rapaz ingênuo de bons sentimentos e talvez este lado humano do lutador tenha sido a causa de sua popularidade. O outro personagem fixo chamava-se Knobby Walsh, o treinador manhoso de Joe, vivido por Leon Errol e depois por William Frawley em Ou Tudo ou Nada e James Gleason nos dois últimos filmes da série. Monogram. 1946 – Joe Palooka, Champ (Joe Sopapo Campeão) Dir: Reginald LeBorg; Gentleman Joe Palooka (Joe Sopapo. Granfino) Dir: Cyril Endfield. 1947 – Joe Palooka in the Knockout (Joe Sopapo não é de briga) Dir: Reginald LeBorg. 1948 – Fighting Mad ou Joe Palooka in Fighting Mad (Comprando Briga) Dir: Reginald LeBorg; Winner Take All (Ou Tudo ou Nada) Dir: Reginald LeBorg. 1949 – Joe Palooka in the Big Fight (Pistoleiros do Ringue) Dir: Cyril Endfield; Joe Palooka in the Counterpunch Dir: Reginald LeBorg. 1950 – Joe Palooka Meets Humphrey (Lua de Mel a Socos) Dir: Jean Yarbrough; Joe Palooka in Humphrey Takes a Chance Dir: Jean Yarbrough; Joe Palooka in the Squared Circle (Murros de Ouro) Dir: Reginald LeBorg. 1951 – Joe Palooka in Triple Cross (Joe Sopapo, Detetive) Dir: Reginald Le Borg.

JONES FAMILY

Em 1936, a 2Oth Century-Fox lançou uma pequena comédia doméstica, Every Saturday Night, sobre as atribulações de uma famíia do interior chamada Evers. Os mesmos personagens, Papai Evers (Jed Prouty), Mrs. Evers (Spring Byington) e Granny (Florence Roberts) foram usados novamente em Educating Father, que inaugurou a série, mas com os sobrenomes mudados para Jones. O casal Jones tinha três filhos, vividos por Kenneth Howell, George Ernest e Bill Mahan em ordem decrescente; uma filha adolescente (June Carlson); e uma filha adulta, encarnada alternadamente por June Lang, Shirley Deane e Joan Valerie. No filme Vamos ao Prado, surgiu um namorado (Russell Gleason) para a filha mais velha. 1936 – Educating Father Dir: James Tinling; Back to Nature (Ciganos à Moderna) Dir: James Tinling. 1937 – Off to the Races (Vamos ao Prado) Dir: Frank Strayer; Borrowing Trouble Dir: Frank Strayer; Hot Water Dir: Frank Strayer. 1937 – Big Business Dir: Frank Strayer. 1938 – Love on a Budget Dir: Herbert I. Leeds; A Trip to Paris (Uma Viagem a Paris) Dir: Malcolm St. Clair; Safety in Numbers (Sururu em Família) Dir: Malcolm St. Clair; Down on the Farm Dir: Malcolm St. Clair; Everybody´s Baby Dir: Mal St. Clair. 1939 – Quick Millions (A Família Jones em Novas Aventuras) Dir: Malcolm St. Clair; The Jones Family in Hollywood (A Família Jones em Hollywood) Dir: Malcolm St. Clair; Too Busy to Work Dir: Otto Brower. 1940 -Young as You Feel (Risonhos e felizes) Dir: Malcolm St. Clair; On Their Own Dir: Otto Brower.

JUNGLE JIM

Sabendo que Johhnny Weissmuller deixara os filmes de Tarzan, o produtor Sam Katzman convidou-o para estrelar esta série, baseada nas histórias em quadrinhos de Alex Raymond sobre o intrépido caçador branco na África. Nas suas aventuras, ele estava sempre cercado por animais de estimação: o corvo Caw caw, o cachorro Skipper e a chimpanzé Tamba. Nos três últimos filmes da série o nome Jim das Selvas foi retirado e Weissmuller interpretou a si mesmo. Columbia. 1948 – Jungle Jim (Jim das Selvas) Dir: William Berke. 1949 – The Lost Tribe (Tribo Perdida) Dir: William Berke. 1950 – Captive Girl (A Lagoa dos Mortos) Dir: William Berke; Mark of the Gorilla (A Marca do Gorila) Dir: William Berke; Pygmy Island (A Ilha dos Pigmeus) Dir: William Berke. 1951 – Fury of the Congo (Fúria no Congo) Dir: William Berke; Jungle Manhunt (Cacique Branco) Dir: Lew Landers.1952 – Jungle Jim in the Forbidden Land (Terra Proibida) Dir: Lew Landers; Voodoo Tiger (O Tigre Sagrado) Dir: Spencer G. Bennet. 1953 – Savage Mutiny (Tulonga, a Ilha Condenada) Dir: Spencer G. Benne; Valley of the Headhunters (Vale dos Canibais) Dir: William Berke; Killer Ape (O Gorila Assassino) Dir: Spencer G. Bennet. 1954 – Jungle Man-Eaters (Caçadores de Cabeças) Dir: Lee Sholem; Cannibal Attack (O Homem Crocodilo) Dir: Lee Sholem. 1955 – Jungle Moon Men (Deusa da Lua) Dir: Charles S. Gould; Devil Goddess (A Deusa Pagã) Dir: Spencer G. Bennet.

LASSIE

Em 1943, a MGM produziu o filme Lassie Come Home (A Força do Coração). No filme, um cão chamado Pal aparecia com o Lassie; Roddy MacDowall era Joe Carracglough, cujo pai desempregado (Donald Crisp teve que vender o animal de estimação da família para o Duque de Rudling (Nigel Bruce); e Elizabeth fazia o papel da neta do duque, Priscilla, que percebe que o animal sente a falta de seus donos e o ajuda fugir. O filme, indicado para o Oscar de Melhor Fotografia em cores, deu origem à série. 1945 – Son of Lassie (O Filho de Lassie) Dir: S. Sylvan Simon. 1946 – Courage of Lassie (A Coragem de Lassie) Dir: Fred M. Wilcox. 1948 – Hills of Home (O Mundo de Lassie) Dir: Fred M. Wilcox. 1949 – The Sun Comes Up (Sol da Manhã) Dir: Richard Thorpe; Challenge of Lassie (O Desafio de Lassie) Dir: Richard Thorpe.

LITTLE TOUGH GUYS

Rapazes dos cortiços de Nova York. Universal. 1938 – Little Tough Guys (Vidas Mal Traçadas) Dir: Harold Young; Little Tough Guys in Society (Os Bambas na Alta Sociedade) Dir: Erle C. Kenton. 1939 – Newsboys Home (A Casa do Jornaleiro) Dir: Harold Young; Code of the Streets (Código das Ruas) Dir: Harold Young; Call a Messenger (Chame um Mensageiro) Dir: Arthur Lubin). 1940 – You’re Not So Tough (Valentes de Ocasião) Dir: Joe May; Give Us Wings (Deem-nos Asas) Dir: Charles Lamont. 1941 – Mob Town (Os Bambas) Dir: William Nigh; Hit the Rooad Dir: Joe May. 1942 – Tough as They Come (Ardil Perigoso) Dir: William Nigh. 1943 – Mug Town Dir: Ray Taylor; Keep´em Slugging Dir: Christy Cabanne.

LUM AND ABNER

Oriunda do rádio com Chester Laucke e Norris Goff retomando seus personagens   Columbus “Lum” Edwards e Abner Peabody, dois jovens com aparência de velhos, donos do armazém geral de Pine Ridge, Arkansas que é o centro da vida da cidade. RKO.

1940 – Dreaming Out Loud Dir: Harold Young. 1942 – Bashful Bachelor Dir: Malcolm St. Clair. 1943 – Two Weeks to Live Dir: Malcolm St. Clair; So This is Washington Dir: Raymond McCarey. 1945 – Partners in Time Dir: William Nigh.

MA AND PA KETTLE

Quando o romance de Betty MacDonald foi transformado no filme O Ovo e Eu / The Egg and I /1947, estrelado por Claudette Colbert e Fred MacMurray, este teve um êxito inesperado e originou esta série sertaneja muito popular. O filme girava em torno de um casal da cidade que decidiu criar galinhas, mas verificou que a vida na fazenda não era o que eles esperavam. Os coadjuvantes Marjorie Main e Percy Kilbridge conquistaram o público como dois roceiros de meia-idade e se tornaram os astros de sua própria série. Marjorie interpretava uma fazendeira gabola com uma voz estridente, que mantinha o senso de humor apesar da pobreza, de treze filhos, e de um marido indolente, vivido por Kilbridge. Este foi substituído por Parker Fenelly no último filme da série. Por seu trabalho no filme Marjorie recebeu uma indicação para o Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante.1949 – Ma and Pa Kettle (Nem Tudo Que Reluz é Ouro) Dir: Charles Lamont. 1950 – Ma and Pa Kettle Go to Town (Nas Altas Rodas) Dir: Charles Lamont. 1951 – Ma and Pa Kettle Back on the Farm (Chega de Encrencas) Dir: Edward Segdwick. 1952 – Ma and Pa Kettle at the Fair (Caindo na Farra) Dir: Charles Barton. 1953 – Ma and Pa Kettle on Vacation Dir: Charles Barton. 1954 – Ma and Pa Kettle at Home Dir: Charles Barton. 1955 – Ma and Pa Kettle at Waikiki (Sassaricando de Sarong) Dir: Lee Sholem. 1956 – The Kettles in the Ozarks (Sarilho do Barulho) Dir: Charles Lamont.1957 – The Kettles on Old Macdonald´s Farm Dir: Virgil Vogel.

MAISIE

Maisie Ravier, corista do Brooklyn, mulher independente que sabia se defender em qualquer parte do mundo que os roteiristas escolhessem como ambiente para as suas aventuras. Como se tratava de produções modestas, utilizando as retroprojeções e os cenários de interiores para determinar os variados locais onde as histórias se passavam, os filmes contavam quase que exclusivamente com a vivacidade e simpatia de Ann Sothern para sustentá-los. Além de exibir o talento da atriz, a série oferecia um estudo interessante sobre a emancipação da mulher americana durante a Segunda Guerra Mundial, simbolizada pela destemida e dinâmica show girl. MGM. 1939 – Maisie (Teimosa e Bonita) Dir: Edwin L. Marin. 1940 – Congo Maisie (Mademnoiselle Maisie) Dir: H. C. Potter; Gold Rush Maisie (Peripécias de Maisie) Dir: Edwin L. Marin. 1941 – Maisie Was a Lady (Maisie na Alta Roda) Dir: Edwin L. Marin; Ringside Maisie (Perigo Louro) Dir: Edwin L. Marin. 1942 – Maisie Gets Her Man (Amor à Segunda Vista) Dir: Roy Del Ruth. 1943 – Swing Shift Maisie (Sabotadora Romântica) Dir: Norman McLeod. 1944 – Maisie Goes to Reno (Por Conta de Cupido) Dir: Harry Beaumont. 1946 – Up Goes Maisie (or Fim, Muher) Dir: Harry Beaumont. 1947 – Undercover Maisie (A Loura Detetive) Dir: Harry Beaumont.

MEXICAN SPITFIRE

A RKO escolheu Lupe Velez para estrelar esta série em tom de farsa sobre a vulcânica mexicana e ela se saiu muito bem no papel, transferindo toda a sua verve e energia para a personagem temperamental. A seu lado o estúdio colocou Leon Errol, o veterano cômico de “pernas de borracha” do Ziegfeld Follies, que interpetou simultaneamente o Tio Matt e Lord Epping, o falso aristocrata inglês sempre distraído e fraco das pernas. 1939 – The Girl from Mexico (De Cabelinho nas Ventas) Dir: Leslie Goodwins; Mexican Spitfire (Quando a Mulher Vira Bicho) Dir: Leslie Goodwins. 1940 – Mexican Spitfire Out West (Quando Macacos se Encontram) Dir: Leslie Goodwins. 1941 – Mexcan Spitfire´s Baby (O Bebê da Carmelita) Dir: Leslie Goodwins. 1942 – Mexican Spitfire at Sea (Forrobodó em Alto Mar) Dir: Leslie Goodwins; Mexican Spirtfire´s Elephant (O Elefante de Carmelita) Dir: Leslie Goodwins; Mexcan Spitfire Sees a Ghost (Aquele Careca Voltou) Dir: Leslie Goodwins. 1943 – Mexican Spitfire´s Blessed Event (O Bebê da Discórdia) Dir: Leslie Goodwins.

MR.BELVEDERE

O arrogante autointitulado gênio Lynn Belvedere, criado pela romancista Gwen Davenport, chegou ao cinema no filme da 20thCentury-Fox Ama Seca por Acaso / Sitting Pretty / 1948. O personagem fez muito sucesso (proporcionando inclusive uma indicação ao Oscar para Clifton Webb), sucedendo-se duas continuações.1949 – Mr. Belvedere Goes to College (O Gênio no Colégio) Dir: Elliott Nugent. 1951 – Mr. Belvedere Rings the Bell (O Gênio no Asilo) Dir: Henry Koster.

PENROD

O personagem Penrod, saiu do livro de Booth Tarkington para a tela, onde foi interpretado por Billie Mauch, um dos gêmeos Mauch. Seu irmão Bobby aparece nos dois outros filmes da série. Ambos ficaram muito conhecidos pela sua participação em O Príncipe e o Mendigo / The Prince and the Pauper / 1937, produzido pela Warner Bos., também responsável pela realização da série.  1937 – Penrod and Sam (Pequenos Mosqueteiros) Dir: William McGann. 1938 – Penrod and His Twin Brother (Detetives do Barulho) Dir: William McGann; Penrod´s Double Trouble (Duplo Apuro de Penrod) Dir: Lewis Seiler.

ROAD TO

Bob Hope, Bing Crosby e Dorothy Lamour são os astros desta série de comédias musicais, cuja ação se passa em vários lugares do mundo, cheias de referências a outros atores de Hollywood e graçolas sobre a Paramount, o estúdio responsável por todos os filmes com exceção de Dois Errados no Espaço /The Road to Hong Kong/ 1962, produzido por Melvin Frank na Inglaterra, no qual Dorothy Lamour faz apenas uma rápida aparição. Ocorrem também momentos frequentes em que Hope quebra a quarta parede e se dirige diretamente ao público e a sátira de alguns gêneros cinematográficos populares da época. 1940 – Road to Singapore (A Sereia das Ilhas) Dir: Victor Schertzinger. 1941 – Road to Zanzibar (Tentação de Zanzibar) Dir: Victor Schertzinger. 1942 – Road to Morocco (A Sedulção de Marrocos) Dir: David Butler. 1946 – Road to Utopia (Dois Malandros e uma Garota) Dir: Hal Walker.1947 – Road to Rio (A Caminho do Rio) Dir: Norman Z. McLeod. 1952 – Road to Bali (De Tanga e de Sarong) Dir: Hal Walker. 1962 – Road to Hong Kong (Dois Errados no Espaço) Dir: Norman Panama.

RUSTY

O cão pastor alemão Rusty apareceu na tela pela primeira vez em Adventures of Rusty (Rusty) Dir: Paul Burnford, produzido pela Columbia em 1945. Neste filme o cão que atuou como Rusty foi Ace the Wonder Dog conhecido por sua participação no seriado O Fantasma Voador / The Phantom / 1943 como Devil (chamado de Capeto nos quadrinhos publicados no Brasil), fiel companheiro do famoso herói mascarado. Um ano depois, o estúdio deu início à série, desta vez tendo o  cão Flame como Rusty e mantendo Ted Donaldson como o seu proprietário, o menino Danny Mitchell. Donaldson e Flame estiveram também em uma série de curta metragem intitulada My Pal. 1946 – The Return of Rusty (Fidelidade) Dir: William Castle.1947 – The Son of Rusty (O Filho de Rusty) Dir: William Castle; For the Love of Rusty (Aventuras de Rusty) Dir: John Sturges. 1948 – My Dog Rusty (O Coração de Rusty) Dir: Lew Landers; Rusty Leads the Way (Rusty e a Ceguinha) Dir: Will Jason. 1949 – Rusty Saves a Life (Rusty Salva uma Vida) Dir: Seymour Friedman; Rusty´s Birthday (Aniversário de Rusty) Dir: Seymour Friedman.

SCATTERGOOD BAINES

Personagem criado por Clarence Budington e oriundo do rádio, Scattergood (Guy Kibbee), dono de uma loja de ferragens na pequena cidade de Cold River é um homem bondoso e altruista, que usa a psicologia e os poderes de persuasão para fazer com que as pessoas façam o que é melhor para elas. RKO. 1941 – Scattergood Baines (O Velho Conselheiro) Dir: Christy Cabanne; Scattergood Pulls the Strings (Sábio de Rio Frio) Dir: Christy Cabanne; Scattergood Baines Meets Broadway (O Rústico e a Tentadora) Dir: Christy Cabanne. 1942 – Scattergood Rides High (O Filósofo da Roça); Scattergood Survives a Murder (O Mistério da Gata Preta) Dir: Christy C-banne. 1943 – Cinderella Swings It (O Canto da Vitória) Dir: Christy Cabanne.

SNUFFY SMITH

Em 1919 o cartunista Billy DeBeck criou o personagem Barney Google, homenzinho simplório e irritadiço de nariz bulboso e bigode espesso que passava a maior parte do seu tempo em ambientes esportivos e sempre com problemas financeiros. Em 1934, Barney encontra nas montanhas do Kentucky a figura de Snuffy Smith, outro baixinho, alcoólatra inveterado. Quando DeBeck morreu, seu assistente Frank Lasswell assumiu a tira e reduziu a participação de Barney nas histórias. Em 1928, Barney Hellum (ator sueco cujo verdadeiro nome era Bjarne Fredrik Hellum) interpretou Barney Google em uma série de 12 curtas-metragens produzida pela FBO. Em 1942, a Monogram lançou dois longas-metragens baseados nos quadrinhos: Private Snuffy Smith ou Snuffy Smith Yardbird Dir: Edward Cline; Hillbilly Blitzgrieg Dir: Roy Mack.Bob Duncan interpretou Snuffy em ambos os filmes e Cliff Nazarro apareceu como Barney no segundo filme.

TARZAN

Desde 1918 foram feitos vários filmes com o personagem criado por Edgar Rice Burroughs, mas foi a série classe A da MGM (1932-1942), reunindo a dupla Johnny Weissmuller – Maureen O´Sullivan que teve maior prestígio. Em 1943, Weissmuller transferiu-se para RKO, onde fez seis filmes B como Homem-Macaco até ser substituído por Lex Barker em 1949. MGM: 1932 – Tarzan, The Ape Man (Tarzan, o Filho das Selvas) Dir: W. S. Van Dyke. 1933 – Tarzan and His Mate (A Companheira de Tarzan) Dir: Cedric Gibbons. 1936 – Tarzan Escapes (A Fuga de Tarzan) Dir: Richard Thorpe. 1939 – Tarzan Finds a Son (O Filho de Tarzan) Dir: Richard Thorpe. Tarzan´s Secret Treasure (O Tesouro de Tarzan) Dir: Richard Thorpe. 1942 – Tarzan´s New York Adventure (Tarzan contra o Mundo) Dir: Richard Thorpe (MGM). RKO: 1943 – Tarzan Triumphs (Tarzan, o Vingador) Dir: William Thiele; Tarzan´s Desert Mystery (Tarzan e o Terror do Deserto) Dir: William Thiele. 1945 – Tarzan and the Amazons (Tarzan e as Amazonas) Dir: Kurt Neumann. 1946 – Tarzan and the Leopard Woman (Tarzan e a Mulher Leopardo) Dir: Kurt Neumann; 1947 – Tarzan and the Huntress (Tarzan e a Caçadora) Dir: Kurt Neuman. 1948 -Tarzan and the Mermaids (Tarzan e as Sereias) Dir: Robert Florey. 1949 – Tarzan´s Magic Fountain (Tarzan e a Montanha Secreta) Dir: Lee Sholem. 1950 – Tarzann and the Slave Girl (Tarzan e a Escrava) Dir: Lee Sholem. 1951 – Tarzan´s Peril (Tarzan na Terra Selvagem) Dir: Byron Haskin.v 1952 – Tarzan´s Savage Fury (Tarzan e a Fúria Selvagem) Dir: Cyril Endfield. 1953 – Tarzan and the She-Devil (Tarzan e a Mulher-Diaba) Dir: Kurt Neumann.

TAILSPIN TOMMY

As aventuras de “Tailspin” Tommy, o intrépido aviador das histórias em quadrinhos de Hal Forrest, publicadas a partir de 1928, já havia inspirado dois seriados da Universal (O Rei das Nuvenes / Tailspin Tommy / 1934 e O Grande Mistério Aéreo / Tailspin Tommy in the Great Air Mystery, protagonizados respectivamente por Maurice Murphy e Clark Williams. Quatro anos depois, a Monogram produziu esta série com o mesmo personagem, agora interpretado por John Trent, jovem ator que havia sido piloto de verdade. Os outros personagens fixos eram o mecânico Skeeter (Milburn Stone) e Betty Lou Barnes (Marjorie Reynolds), também aviadora, companheiros de Tommy na Three Point Airlines. 1939 – Mystery Plane (O Avião Misterioso) Dir: George Waggner; Stunt Pilot (O Piloto Temerário) Dir: GeorgeWaggner; Sky Patrol (Patrulha Noturna) Dir:Hoeard Bretherton; Danger Flight (Escoteiros do Ar) Dir: Howard Bretherton.

TOPPER

Criado no romance de Thorne Smith, o personagem apareceu pela primeira vez no filme Topper / A Dupla do Outro Mundo /1937, dirigido por Norman Z. McLeod, produzido por Hal Roach e distribuído pela MGM. Cosmo Topper (Roland Young) era um banqueiro tímido vítima das diabruras de um casal de fantasmas, Marion Kerby (Constance Bennett) e George Kerby (Cary Grant,) que morreu em um acidente de carro. Esta comédia fantástica teve duas continuações distribuídas pela United Artists com o mesmo Roland Young no papel principal, mas sem a presença de George Kerby no primeiro e com outro espírito feminino interpretado por Joan Blondell no segundo filme. Billie Burke era Mrs. Topper e Alan Mowbray, o mordomo Wilikins (ausente no terceiro filme). Roland Young foi indicado para o Oscar de Melhor Ator Coadjuvante. 1939 – Topper Takes a Trip (Marido Mal-Assombrado (Dir: Norman Z. McLeod. 1941 – Topper Returns (A Volta do Fantasa) Dir: Roy Del Ruth.

VAN DINE MYSTERY

Série de curta-mertragem (aproximadamente 20 mins.) da Warner Bros., escrita por S. S. Van Dine, com Donald Meek como o criminologista Dr. Crabtree e John Hamilton como o Inspetor Carr. Meek só não aparece em The Campus Mystery. 1931 – The Clyde Mystery Dir: Arthur Hurley; The Wall Street Mystery Dir: Arthur Hurley; The Week-End Mystery Dir: Arthur Hurley; 1932 – The Cole Case Dir: Joseph Henabery; The Crane Poison Case Dir: Joseph Henabery; The Side Show Mystery Dir: Joseph Henabery; The Studio Murder Mystery Dir: Joseph Henabery; The Campus Mystery Dir: Joseph Henabery; Murder in the Pullman Dir: Joseph Henabery; The Trans-Atlantic Mystery Dir: Joseph Henabery; The Symphony Murder Mystery Dir: Joseph Henabery; The Skull Murder Mystery Dir: Joseph Henabery.

WEAVER BROTHERS AND ELVIRY

Os Weavers começaram sua carreira em espetáculos de variedades itinerantes, indo depois para o vaudeville e se apresentando finalmente no rádio, onde alcançaram fama nacional como “The Arkansas Travellers”. O Grupo havia feito um filme na Warner Bros., Tudo Dança / Swing Your Lady / 1938, mas foi mais bem aproveitado na Republic. A série transmitia um humor bucólico que passava sutilmente a mensagem de que uma família rústica, honesta e dedicada podia superar as maquinações de pessoas sofisticadas, gananciosas e sem escrúpulos. No esquema usado pela Republic, Leon “Abner” Weaver, filósofo da roça, era apoiado pelo irmão, Frank “Cicero”, patomimo mudo e por June “Elviry”, moça com talento musical. Todos tinham inclinação para a música, de modo que cada filme continha interlúdios de música sertaneja romântica. 1938 – Dawn in “Arkansaw” (Forasteiros da Comarca) Dir: Nick Grinde. 1939 – Jeepers Creepers (Onde o Ouro Não é Lei) Dir: Frank McDonald. 1940 -In Old Missouri (No Velho Missouri) Dir:Frank McDonald; Gand Old Opry (Música, Maestro) Dir: Frank McDonald; Friendly Neighbours (Amigos de Verdade) Dir: Nick Grinde.  1941 – Arkansas Judge (O Juiz de Arkansas) Dir: Frank McDonald; Mountain Moonlight (Herança Inesperada) Dir: Nick Grinde; Tuxedo Junction (Erros de Adolescência) Dir: Frank McDonald. 1942 – Shepherd of the Ozarks (O Tenente e a Enfermeira) Dir: Frank McDonald; The Old Homestead Dir: Frank McDonald; Mountain Rhythm (Colégio do Bom Tom) Dir: Frank McDonald.

WHISTLING

O apresentador e ator de um programa de rádio policial Wally “The Fox” Benton (Red Skelton) e sua noiva Carol Lambert (Ann Rutherford), como detetives amadores, envolvem-se em complicações com criminosos. 1941 – Whistling in the Dark (Herdeiro em Apuros) Dir: S. Sylvan Simon. 1942 – Whistling in Dixie (O Sherloque no Ar) Dir: S. Sylvan Simon. 1943 – Whistling in Brooklyn (Sherloque Assustado) Dir: S. Sylvan Simon.

SÉRIES DO CINEMA AMERICANO CLÁSSICO I

Muitas vezes os filmes B constituiam-se em séries, ou seja, um grupo de filmes, cada qual contando uma história diferente, porém conservando sempre os mesmos personagens centrais e a ambientação geral. As séries (series) distinguiam-se dos seriados (serials), das continuações (sequels) e dos filmes de curta-metragem (shorts). Elas às vezes eram mais continuações do que series e abrangiam os mais variados gêneros cinematográficos. Algumas séries eram tipicamente classe A e outras não tiveram continuidade, encerrando-se no segundo filme. As séries foram usadas como um terreno de prova para muitos talentos jovens.

Em 5 de fevereiro de 2010 publiquei neste blogue Curtas-Metragens na Hollywood dos Anos 30 / 40 mencionando algumas séries famosas neste formato como OS PERALTAS / OUR GANG, OS CHOFERES DE PRAÇA / TAXI BOYS e THE BOY FRIENDS.

Em 16 de novembro de 2010 publiquei As Séries Policiais Americanas dos anos 30-40 (BIG TOWN, BOSTON BLACKIE, BULLDOG DRUMMOND, CHARLIE CHAN, CRIME CLUB, DEAD END KIDS, DICK TRACY, ELLERY QUEEN, THE FALCON, HILDEGARD WITHERS, HOOVER, I LOVE A MYSTERY, JOEL AND GERDA SLOANE, JOHN J. MALONE, KITTY O ´DAY, LONE WOLF, MICHAEL SHAYNE, MR. DISTRICT ATTORNEY, MR. MOTO, MR. WONG, NANCY DREW, NERO WOLFE, NICK CARTER, NOVELAS DE MIGNON EBERHARDT, PERRY MASON. ROVING REPORTERS, THE SAINT, THE SHADOW, SHERLOCK HOLMES, SOPHIE LANG, THE THIN MAN, TORCHY BLANE, THE WHISTLER, WHISTLING) deixando para uma outra oportunidade as pertencentes a outros gêneros. Neste artigo apresento estas séries, com exceção das séries no gênero western, ficando novamente excluídas também as séries do cinema mudo e de animação.

ANDY HARDY

Adolescente típico do interior (Mickey Rooney), filho do juiz James Hardy (Lionel Barrymore) em Uma Questão de Família / A Family Affair / 1937, filme que deu origem à série na qual Lewis Stone ficou com o papel do juiz. Entre os outros atores fixos do elenco: Fay Holden como a mãe de Andy, Cecilia Parker como Marian, sua irmã mais velha, Ann Rutherford como Polly Benedict, a namorada de Andy e a tia Milly (Sara Haden). As histórias giravam em torno dos problemas comuns em uma família de pequena comunidade idealizada (Carver) do interior dos EUA. MGM. 1937 – A Family Affair (Uma Questão de Família) Dir: George B. Seitz; You´re Only Young Once (Aproveite a Mocidade) Dir: George B. Seitz. 1938 – Judge Hardy´s Children (Amor de Criançola) Dir: George B. Seitz; Love Finds Andy Hardy (O Amor Encontra Andy Hardy). Dir: George B. Seitz; Out West with the Hardys (Andy Hardy Cowboy) Dir: George B. Seitz. 1939. The Hardys Ride High (Andy Hardy Milionário) Dir: George B. Seitz; Andy Hardy Gets Spring Fever (Andy Hardy é o Tal) Dir: W. S. Van Dyke; Judge Hardy and Son (Andy Hardy Banca o Sherlock) Dir: George B. Seitz. 1940 – Andy Hardy meets Debutante (Andy Hardy e a Granfina) Dir: George B. Seitz. 1941 – Andy Hardy´s Private Secretary (A Secretária de Andy Hardy) Dir: George B. Seitz; Life Begins for Andy Hardy (Andy Hardy Cava a Vida) Dir: George B. Seitz. 1942 – The Courtship of Andy Hardy (O Idílio de Andy Hardy). Dir: George B. Seitz; Andy Hardy´s Double Life (A Dupla Vida de Andy Hardy) Dir: George B. Seitz. 1944 – Andy Hardy´s Blonde Trouble (Andy Hardy Prefere as Louras. Dir: George B. Seitz. 1946 – Love Laughs at Andy Hardy (A Paixão de Andy Hardy) Dir: Willis Goldbeck. 1958 – Andy Hardy Comes Home (A Volta de Andy Hardy) Dir: Howard W. Koch.

ANNABEL

Atriz temperamental em decadência, Annabel Allison (Lucille Ball), envolve-se em confusões armadas pelo seu superentusiástico agente de publicidade Lanny Morgan (Jack Oakie). RKO. 1938 – The Affairs of Annabel (Apuros de Annabel) Dir: Ben Stolof; Annabel Takes a Tour (Tournée de Annabel) Dir: Lew Landers.

BABY SANDY.

Bebê precoce em confusões familiares. Sandy, interpretada por Sandra Lea Henville, era a Shirley Temple da Universal. 1939 – East Side of Heaven (Caído do Céu) Dir: David Butler; Unexpected Father (Pai Inexperiente) Dir: Charles Lamont; Little Accident (Pequeno Acidente) Dir: Charles Lamont). 1940 – Sandy is a Lady (Senhorita Sandy) Dir: Charles Lamont); Sandy Gets Her Man (Prêmio de Cupido) Dir: Otis Garrett. 1941 – Bachelor Daddy (Papaizinho Solteirão) Dir: Harold Young; Melody Lane (Estrada da Alegria) Dir: Charles Lamont. 1942 – Johnny Doughboy (Ela Quer Ser Mulher) Dir:  John H. Auer.

BIG TOWN GIRLS

Peripécias de uma dupla de garotas desempregadas Terry Wilson e Judy Davis (Lynn Bari e June Lang). No segundo filme entrou June Gale no lugar de June Lang. 20th Century-Fox. 1938 – Meet the Girls. Dir: Eugene Forde; Pardon Our Nerve (Desculpe Nossa Ousadia) Dir: Bruce Humberstone.

BILL AND SALLY REARDON

Detetive Bill Rearden (Melvyn Douglas) cuja esposa, Sally (Joan Blondell) se mete também a investigar crimes. No segundo filme entrou Virginia Bruce no lugar de Joan Blondell. Columbia. 1938 – There´s Always a Woman (Sempre a Mulher) Dir: Alexander Hall; There´s That Woman Again (Segura esta Mulher) Dir: Alexander Hall.

BLONDIE.

Aventuras e desventuras de um casal da classe média suburbana, Blondie (Penny Singleton) e Dagwood Bumstead (Arthur Lake)., conhecidos no Brasil como Florisbela e Pancrácio. Outros personagens fixos eram: Baby Dumping (Larry Simms / Jujuba), J. C. Dithers (Jonathan Hale), o irascível patrão de Dagwood, e a cadela Daisy. Oriunda dos quadrinhos de Murat “Chic” Young.  Columbia. 1938 – Blondie (Florisbela) Dir: Frank R. Strayer. 1939 -Blondie Meets the Boss (Florisbela Secretária) Dir: Frank R. Strayer; Blondie Takes a Vacation (Florisbela em Férias) Dir: Frank R. Strayer; Blondie Brings Up Baby (Florisbela Domestica o Baby) Dir: Frank R. Strayer. 1940 – Blondie on a Budget (Florisbela quer o Divórcio) Dir: Frank R. Strayer; Blondie Has Servant Trouble (Florisbela Boa Vida) Dir: Frank R. Strayer; Blondie Plays Cupid (Cupido Perigoso) Dir: Frank R. Strayer. 1941 – Blondie Goes Latin (Familia do Barulho) Dir: Frank R. Strayer; Blondie in Society (Bancando a Granfina) Dir: Frank R. Strayer. 1942 – Blondie Goes to College Dir: Frank R. Strayer; Blondie´s Blessed Event (Um Papai em Apuros) Dir: Frank R. Strayer; Blondie for Victory (Esposas em Pé de Guerra) Dir: Frank R. Strayer.1943 – It´s a Great Life Dir: Frank R. Strayer; Footlight Glamour. 1945 – Leave it to Blondie (Donativo Desastroso) Dir: Frank R. Strayer; Life with Blondie Dir: Abby Berlin. 1946 – Blondie Knows Best Dir: Abby Berlin. 1947 – Blondie´s Big Moment Dir: Abby Berlin; Blondie´s Holiday Dir: Abby Berlin; Blondie in the Dough Dir: Abby Berlin. Blondie´s Anniversary Dir: Abby Berlin. 1948 – Blondie´s Secret Dir: Edward Bernds; Blondie´s Reward Dir: Abby Berlin. 1949 – Blondie´s Big Deal Dir: Edward Bernds; Blondie Hits the Jackpot Dir: Edward Bernds. 1950 – Blondie´s Hero Dirt: Edward Bernds; Beware of Blondie Dir: Edward Bernds.

BOMBA

A mesmo tempo em que a Columbia iniciava a sua série Jim das Selvas com o ex-Tarzan Johnny Weissmuller, o produtor Walter Mirisch resolveu levar para as telas as aventuras criadas por Roy Rockwood nos anos vinte sobre um garoto das selvas. Mirisch contratou o jovem Johnny Sheffield, então com 18 anos, que havia interpretado o papel de Boy nos filmes de Tarzan.  Entre os animais que acompanhavam Bomba, o chimpanzé Kimba era o que mais divertia a criançada.

Monogram. 1949 – Bomba, the Jungle Boy (Bomba, o Filho das Selvas) Dir: Ford Beebe; Bomba on Panther Island (Bomba e a Pantera Negra) Dir: Ford Beebe. 1950 – The Lost Volcano (O Tesouro do Vulcão) Dir: Ford Beebe; Bomba and the Hidden City (Bomba e a Escrava) Dir: Ford Beebe. 1951 – The Lion Hunters (Bomba, Caçador de Leões) Dir: Ford Beebe; Bomba and the Elephant Stampede (A Vingança dos Elefantes) Dir: Ford Beebe. 1952 – African Treasure (Bomba e o Tesouro Africano) Dir: Ford Beebe; Bomba and the Jungle Girl (A Selva do Terror) Dir: Ford Beebe. 1953 – Safari Drums (Tambores Selvagens) Dir: Ford Beebe. 1954 – The Golden Idol (O Ídolo de Ouro) Dir: Ford Beebe; Killer Leopard (Leopardo Assassino) Dir: Ford Beebe. 1955 – Lord of the Jungle (O Soberano das Selvas) Dir: Ford Beebe.

BOWERY BOYS

Rapazes dos cortiços de Nova York. O grupo (Billy Halop, Leo Gorcey, Huntz Hall, Bobby Jordan, Gabriel Dell, Billy Benedict, David Gorcey, Bernard Punsley, Bernard Gorcey) apareceu originariamente no filme Beco sem Saída / Dead End / 1937 e depois nesta série e nas séries Dead End Kids, East Side Kids e Little Tough Guys, acompanhados por outros atores como Hally Chester, Jackie Searl, Frankie Thomas, Harris Berger, ou “Sunshine Sammy” Morrison).  Monogram. 1946 – In Fast Company (Chauffeurs e Gângsteres) Dir: Del Lord; Bowery Bombshell (Um Invento Engenhoso) Dir: Phil Karlson; Live Wires (Cadáver Esperto) Dir: Phil Karlson. Spook Busters (Cientistas da Fuzarca) Dir: William Beaudine; Mr. Hex (Macumba) Dir: Cyril Endfield. 1947 – Bowery Bookaroos (O Tesouro Maldito) Dir: Willaim Beaudine; Hard Boiled Mahoney (Os Anjos e a Necromante) Dir: William Beaudine; New Hounds (Aposta de Má Fé) Dir: William Beaudine; Angel´s Alley (Os Anjos do Beco) Dir: William Beaudine. 1948 – Jinx Money (Guarda Chuva Fatal) Dir: William Beaudine; Smugglers Cove (Herança Atrapalhada) Dir: William Beaudine; Trouble Makers (Mexeriqueiros) Dir: Reginald Le Borg. 1949 – Angels in Disguise (Anjos Disfarçados) Dir: Jean Yarbrough; Blonde Dynamite (Loura de 18 Quilates) Dir: William Beaudine; Fighting Fools (Demônios Turbulentos) Dir: Reginald Le Borg; Hold That Baby (Garoto da Fortuna) Dir: Reginald Le Borg; Master Minds (O Profeta da Terra) Dir: Jean Yarbrough. 1950 – Blues Busters (Os Anjos no Cabaré) Dir: William Beaudine; Lucky Losers (Felizardos no Azar) Dir: William Beaudine; Triple Trouble (Na Pele do Lobo) Dir: Jean Yarbrough. 1951 – Bowery Battalion (Os Anjos e os Espiões) Dir: William Beaudine; Crazy Over Horses (Veio, Viu e Venceu) Dir: William Beaudine; Ghost Chasers (Caçadores de Fantasmas) Dir: William Beaudine; Let´s Go Navy (Somos da Marinha) Dir: William Beaudine. 1952 – Feudin´Fools (Fazendeiros Fracassados) Dir: William Beaudine; Here Come the Marines (Fuzileiros da Fuzarca) Dir: William Beaudine; Hold That Line (Aguenta a Mão) Dir: William Beaudine; No Holds Barred (Vale Tudo) Dir: William Beaudine // Allied Artists. 1953 – Clipped Wings (Anjos Aéreos) Dir: Edward Bernds; Jalopy (Corrida às Avessas) Dir: William Beaudine; Loose in London (O Fidalgo da Favela) Dir: Edward Bernds; Private Eyes (Sherlock de Meia Tigela) Dir: Edward Bernds. 1954 – Bowery Boys Meet the Monsters (Os Anjos e os Monstros) Dir: Edward Bernds; jungle Gents (Cavaleiros das Selvas) Dir: Edward Bernds; Paris Playboys (Farristas de Paris) Dir: William Beaudine. 1955 – Bowery to Bagdad (Bobos em Bagdad) Dir: Edward Bernds; High Society (Anjos Granfinos) Dir: William Beaudine; Jail Busters (Escola de Vigaristas) Dir: William Beaudine; Spy Chasers (Espiando Espiões) Dir: Edward Bernds. 1956 – Dig That Uranium (Cômicos Atômicos) Dir: Edward Bernds; Crashing Las Vegas (Dsbancando a Roleta) Dir: Jean Yarbrough; Fighting Trouble (Meliantes de Ocasião) Dir: George Blair; Hot Shots (Os Reis da Bagunça) Dir: Jean Yarbrough. 1957 – Spook Chasers (Perseguindo Fantasmas) Dir: George Blair; Hold That Hipnotist (Os Macumbeiros) Dir: Austen Jewell; Looking for Danger Dir: Austen Jewell. 1958 – Up in Smoke Dir: William Beaudine; In the Money Dir: William Beaudine.

“BRASS” BANCROFT

Agente Secreto do FBI (Ronald Reagan) e seu parceiro Gabby Waters (Eddie Foy Jr.). Warner Bros. 1939 – Secret Service of the Air (Serviço Secreto Aéreo) Dir: Noel Smith. 1939 – Code of the Secret Service (Código do Serviço Secreto) Dir: Noel Smith; Smashing the Money Ring (Dinheiro Falso) Dir: Terry Morse. 1940 – Murder in the Air (Desmascarados) Dir: Lewis Seiler.

CAMERA DAREDEVILS

Cinegrafista de cinejornais Steve Mitchell (interpretado sucessivamente por Brian Donlevy e Preston Foster) e seu auxiliar Waldo Winkler (Wally Vernon). 20thCentury-Fox. 1938 – Sharpshooters (Salvando um Reino) Dir: James Tinling. 1939 – Chasing Danger (Cortejando a Morte) Dir: Ricardo Cortez.

CAPPY RICKS

Velho industrial irascível, personagem criado pelo romancista Peter B. Kyne interpretado sucessivamente por Robert McWade, Walter Brennan e Charles Winninger). Republic. 1935 – Cappy Rickes Returns (A Volta do Capitão Ricks) Dir: Mack V. Wright. 1937 – Affairs of Cappy Ricks Dir: Ralph Staub; The Go Getter (Querer é Poder) Dir: Busby Berkeley.

COHENS AND KELLYS

Rivalidades entre um casal de judeus (George Sidney – Vera Gordon) e um casal de irlandeses (Charles Murray – Kate Price) em um bairro pobre de Nova York. Universal. 1926 – The Cohens and Kellys (Ai, que Vizinhos) Dir: Harry Pollard. 1928 -The Cohens and Kellys in Paris (Dois Forasteiros em Paris) Dir: William Beaudine. 1929 – The Cohens and Kellys in Atlantic City (Cohens e Kellys em Apuros) Dir: William James Craft. 1930 – The Cohens and Kellys in Scotland (Forasteiros na Escócia) Dir: William James Craft; The Cohens and Kellys in Africa (Forasteiros na África) Dir: Vin Moore. 1932 – The Cohen and Kellys in Hollywood (Forasteiros em Hollywood) Dir: John Francis Dillon. 1933 – Cohens and Kellys in Trouble (Abraços Traiçoeiros) Dir: George Stevnes.

DEAD END KIDS

Rapazes dos cortiços de Nova York. Warner Bros. 1938 – Crime School (No Limiar do Crime) Dir: Lewis Seiler; Angels with Dirty Faces (Anjos de Cara Suja) Dir: Michael Curtiz. 1939 – They Made Me a Criminal (Tornaram-me um Criminoso) Dir: Busby Berkeley; Hell´s Kitchen (Sucursal do Inferno) Dir: Lewis Seiler e E.A. Dupont.; Angels Wash Their Faces (Os Anjos de Cara Limpa); The Dead End Kids on Dress Parade (Os Anjos Acertam o Passo) Dir: William Clements.

DR. CHRISTIAN

Médico do Interior, Dr. Paul Christian (Jean Hersholt), e seus vizinhos na cidade mítica de River´s End, no Minnesota. Outros personagens fixos: Mrs. Hastings (Maude Eburne), a governanta do Dr. Christian; a enfermeira Judy Pierce (Dorothy Lovett) e Roy Davis (Robert Baldwyn), farmacêutico namorado de Judy. Personagem oriundo de um programa de rádio estreado na CBS em 1937. RKO. 1939 Meet Dr. Christian (Consciência de Médico) Dir: Bernard Vorhaus. 1940 – The Courageous Dr. Christian (Corajoso Dr. Christian) Dir: Bernard Vorhaus; Dr. Christian Meets the Women (Médico contra Charlatão) Dir: William McGann; Remedy for Riches (Remédio para a Riqueza) Dir: Erle C. Kentyon. 1941 – Melody for Three (Melodia para Três) Dir: Erle C. Kenton; They Meet Again Dir: Erle C. Kenton.

DR.DAFOE

Baseada em um personagem real, o obstreta canadense Allan Roy Dafoe, responsável pelo parto das cinco gêmeas Dione. Jean Hersholt faz o papel do Dr. John Luke e as quíntuplas fazem o papel de si mesmas. 20thCentury-Fox. 1936 – The Country Doctor (O Médico da Aldeia) Dir: Henry King; Reunion (Cinco Gêmeas da Fortuna) Dir: Norman Taurog. 1938 – Five of a Kind (Cinco do Mesmo Naipe) Dir: Herbert I. Leeds.

DR. GILLESPIE

Continuação da série Dr. Kildare focalizando seu mentor, Dr. Gillespie (Lionel Barrymore). MGM. 1942 – Calling Dr. Gillespie (Dr. Gillespie em Perigo) Dir: Harold S. Bucquet. 1943 – Dr. Gillespie´s New Assistant (O Assistente do Dr. Gillespie) Dir: Willis Goldbeck; Dr. Gillespie Criminal Case (A Volta da Noiva) Dir: Willis Goldbeck. 1944 – Three Men in White (Os Três Homens de Branco) Dir: Willis Golbeck; Between Two Women (Beije-me Doutor) Dir: Willis Goldbeck. 1947 – Dark Delusion (O Segredo de Cynthia) Dir: Willis Goldbeck.

DR.KILDARE

O herói é um jovem interno no Hospital Blair. O personagem do jovem médico criado por Max Brand apareceu originariamente no filme Escravos do Dever / Interns Can´t Take Money / 1937 da Paramount com Joel McCrea como James Kildare. Na série, Lew Ayres assumiu o lugar de McCrea e Lionel Barrymore era seu mentor,  o Dr. Gillespie. Outros personagens fixos: Mary Lamont, enfermeira e namorada do Dr. Kildare (Laraine Day); Joe Wayman, o chofer da ambulância (Nat Pendleton); Dr. Stephen KIldare (Samuel S. Hins) e Mrs. Martha Kildare (Emma Dunn), progenitores do Dr. Kildare. 1938 – Young Dr. Kildare (O Jovem Dr. Kildare) Dir: Harold S. Bucquet. 1939 – Calling Dr. Kildare (Chamem o Dr. Kildare) Dir: Harold S. Bucquet; The Secret of Dr. Kildare (O Segredo do Dr. Kildare) Dir: Harold S. Bucquet. 1940 – Dr. Kildare Strangest Case (O Estranho Caso do Dr. Kildare) Dir: Harold S. Bucquet; Dr. Kildare Goes Home (O Dilema do Dr. Kildare) Dir: Harold S. Bucquet; Dr. Kildare ´s Crisis (A Vitória do Dr. Kildare) Dir: Harold S. Bucquet. 1941 – The People vs. Dr. Kildare (Minha Vida é Tua) Dir: Harold S. Bucquet; Dr. Kildare´s Wedding Day (Sonhos Dissipados) Dir: Harold S. Bucquet. 1942 – Dr. Kildare´s Victory (Seu Grande Triunfo) Dir: Harold S. Bucquet.

EAST SIDE KIDS

Rapazes dos cortiços de Nova York. Monogram. 1940 – East Side Kids Dir: Robert Hill; Boys of the City (Os Anjos no Castelo Misterioso) Dir: Joseph H. Lewis; That Gang of Mine Dir: Joseph H. Lewis. 1941 – Pride of the Bowery (Os Anjos Pintam o Sete) Dir: Joseph H. Lewis; Flying High (Voando Alto) Dir: William West; Bowery Blitzgrieg Dir: Wallace Fox; Spooks Run Wild (Drácula e os Anjos) Dir: Phil Rosen. 1942 – Mr. Wise Guy (Os Anjos e os Gangsters) Dir: William Nigh; Let´s Get Tough (Os Anjos contra o Dragão) Dir: Wallace Fox; Smart Alecks Dir: Wallace Fox; Neath Brooklyn Bridge (Os Anjos Abafam a Banca) Dir: Wallace Fox. 1943 – Clancy Street Boys Dir: William Beaudine; Ghosts on the Loose (Fantasmas às Soltas) Dir: William Beaudine; Kid Dynamite (Anjos Endiabrados) Dir: Wallace Fox; Mr. Muggs Steps Out Dir: William Beaudine. 1944 – Block Busters Dir: Wallace Fox; Bowery Champs (Campeões de Arrabalde) Dir: William Beaudine; Follow the Leader Dir: William Beaudine; Million Dollar Kid (Tesouro Maldito) Dir: Wallace Fox. 1945 – Million Dollar Kid (Tesouro Maldito) Dir: Wallace Fox; Come Out Fighting (O Rei do Ring) Dir: William Beaudine; Docks of New York (Docas de Nova York) Dir: Wallace Fox; Mr. Muggs Rides Again (O Grande Prêmio) Dir: Wallace Fox.

FIVE LITTLE PEPPERS

Baseada nas histórias de Margaret Sidney (pseudônimo de Harriet Mulford Stone Lothrop). Edith Fellow encabeçava o elenco como Polly, a irmã mais velha que cuidava das outras crianças (Tommy Bod, Charles Peck, Jimmy Leake e Dorothy Ann Sease), enquanto a mãe viúva, Mrs. Pepper (Dorothy Peterson, se esforçava para sustentar a família como costureira. Columbia. 1939 – Five Little Peppers and How They Grew (As Cinco Pimentinhas) Dir: Charles Barton. 1940 – Five Little Peppers at Home (Cinco Pimentinhas e Cia.) Dir: Charles Barton; Out West with the Peppers (As Cinco Pimentinhas no Oeste) Dir: Charles Barton; Five Little Peppers in Trouble (A Rebelião das Pimentinhas) Dir: Charles Barton.

FRANCIS

A amizade do Segundo Tenente do Exército Peter Stirling (Donald O´Connor) e seu mulo falante. O ator Chill Wills emprestou a voz para Francis, dando-lhe um sotaque bem apropriado. A premissa maior, e o encanto de Francis, era o de que ele podia não só falar articuladamente como possuir uma boa quantidade de bom senso e de sabedoria, fazendo com que seu companheiro Peter parecesse um idiota. No último exemplar da série Wills foi substituído por Paul Fress e O’Connor por Mickey Rooney. Universal. 1949 – Francis (… E o mulo falou). Dir: Arthur Lubin. 1951 – Francis Goes to the Races (Francis nas Corridas) Dir: Arthur Lubin. 1952 – Francis Goes to West Point (Francis na Academia) Dir: Arthur Lubin.1953 – Francis Covers the Big Town (Francis, o Detetive) Dir: Arthur Lubin. 1954 – Francis Joins the Wacs (Francis entre as Boas) Dir: Arthur Lubin. 1955 – Francis in the Navy (Francis na Marinha) Dir: Arthur Lubin.1956 – Francis in the Haunted House (Francis entre os Fantasmas) Dir: Charles Lamont.

FU MANCHU

Mestre do crime oriental (Warner Oland). Criação de Sax Rohmer. No último exemplar da série Olan foi substituído por Boris Karloff. Tornou-se uma série radiofônica na CBS em 1932.Paramount. 1929 – The Mysterious Dr. Fu Manchu (O Misterioso Dr. Fu Manchu) Dir: Rowland V. Lee. 1930 – The Return of Dr. Fu Manchu (O Ressuscitado) Dir: Rowland V. Lee. 1931 – Daughter of the Dragon (A Filha do Dragão) Dir: Lloyd Corrigan. 1932 – The Mask of Fu Manchu (A Máscara de Fu Manchu) Dir: Charles Vidor, Charles Brabin.

GAMBINI SPORTS FILMS

Pai de família numerosa, Papa Luigi Gambini (Henry Armetta), esposa (Inez Palange) e filhos, Tony (Johnnie Pirrone Jr.) e Rosa (Eleanor Virzie), em histórias passadas no meio esportivo. 20thCeNtury-Fox. 1938 – Speed to Burn (O Relâmpago da Pista) Dir: Otto Brower; Road Demon (Pista da Morte) Dir: Otto Brower.1939 – Winner Take All (O Cowboy Lutador) Dir: Otto Brower.

GAS HOUSE KIDS

Grupo de meninos rebeldes do bairro Gas House em Nova York com destaque para Carl “Alfafa” Switzer da série Os Peraltas / Our Gang. PRC. 1946 – Gas House Kids Dir: Sam Newfield. 1947 – Gas House Kids Goes West Dir: William Beaudine; Gas House Kids in Hollywood Dir: Edward Cahn.

GASOLINE ALLEY

Baseada nos quadrinhos de Frank D. King focalizando uma família residente na cidade de Gasoline Alley: Walt Wallet (Don Beddoe), sua esposa Phyllis (Madelon Baker), seu filho natural Corky (Jimmy Lydon), o adotado Skeezix (Scotty Becket), e a filha Judy (Patty Brady). 1951 – Gasoline Alley Dir: Edward Bernds; Corky of Gasoline Alley (O Primo Malandro) Dir: Edward Bernds.

GILDERSLEEVE

Personagem de dois programas de rádio (secundário em Fibber McGee and Molly e principal em The Great Gildersleeve) Throckmorton P. Gildersleeve (Harold Peary) passou para a tela em quatro filmes da RKO. Ele era solteirão e tinha dois sobrinhos, o pestinha Leroy e a adolescente Marjorie (interpretados no cinema pela ordem por Freddie Mercer e Nancy Gates) e morava em “Summerfield”. 1942 The Great Gildersleeve (Então Casa ou Não casa?) Dir: Gordon Douglas. 1943 – Gildersleeve´s Bad day (Gildersleeve Está Com Azar) Dir: Gordon Douglas; Gildersleeve on Broadway Dir: Gordon Douglas. 1944 – Gildersleeve´s Ghost Dir: Gordon Douglas.

HENRY ALDRICH

Personagem oriundo de uma peça teatral de Clifford Smitth e conhecido também pelo rádio. Rapazinho da classe média do interior, foi interpretado no cinema por Jackie Cooper nos dois primeiros filmes da série e substituído por Jimmy Lindon nos restantes. Paramount. 1939 – What a Life (A Vida Começa ao Quatorze) Dir: Ted Reed. 1941 – Life with Henry (Henry está na Berlinda) Dir: Ted Reed; Henry for President (Candidato Gaiato) Dir: Hugh Bennett. 1942 – Henry and Dizzy Dir: Hugh Bennett. 1943 – Henry Aldrich, Editor Dir: Hugh Bennett; Henry Aldrich Gets Glamour (A Tentação das Garotas) Dir: Hugh Bennett; Henry Aldrich Swings Ir Dir: Hugh Bennett. 1944 – Henry Aldrich, Boy Scout Dir: Hugh Bennett; Henry Aldrich Plays Cupid (Bancando o Cupido) Dir: Hugh Bennett; Henry Aldrich ´s Little Secret Dir: Hugh Bennett.

HIGGINS FAMILY, THE

Família do Interior nos moldes das apresentadas na série Andy Hardy da MGM e da Jones Family da 20thCentury-Fox, com James Gleason, sua esposa Lucille e seu filho Russel como Joe, Lillian e Sydney Higgins nos sete primeiros filmes. Nos dois últimos eles foram substituídos respectivamente por Roscoe Karns, Ruth Donnelly e Harry Davenport, que interpretava o avô, cedeu lugar para Spencer Charters.  A fórmula era bem simples: o pai se envolvia em uma situação impossívelpor causa da estupidez da esposa e da sua própria ignorância, orgulho ou falta de precaução; depois, a família se reuniae vencia as dificuldades, quase sempre em um desfecho contendo um elemento de pastelão. Republic. 1938 – The Higgins Family (A Família de Minha Mulher) Dir: Gus Meins. 1939 – My Wife Relatives Dir: Gus Meins; Should Husbands Work? (Deixem os Maridos Trabalhar) Dir: Gus Meins. 1939 -The Covered Trailer Dir: Gus Meins. 1940 – Money to Burn (Pobres Milionários) Dir: Gus Meins; Grandpa Goes to Town (Grande Jornada) Dir: Gus Meins; Earl of Puddlestone (O Segredo do Conde) Dir: Gus Meins; Meet the Missus (Mulher Ciumenta) Dir: Gus Meins. 1941 – Petticoat Politics (Política de Saias) Dir: Erle C. Kenton.

 

OS FILMES DE BERNARD BLIER

Ele atravessou mais de meio século trabalhando como coadjuvante ou em papéis principais em quase duzentos filmes de longa-metragem, escolhido muitas vezes por grandes cineastas que reconheceram seu talento e o ajudaram a se distinguir como um dos grandes atores do cinema francês.

Bernard Blier

Bernard Blier (1916 -1989) nasceu em Buenos Aires na Argentina, filho de Suzanne e Jules Blier. Seu pai era veterinário e estava neste país a serviço do exército francês durante a Primeira Guerra Mundial com a missão de reagrupar cavalos semi-selvagens e enviá-los de navio para Europa. De volta à França, a família se instalou em Paris, onde Bernard estudou no liceu Condorcet, e apaixonou pela literatura, devorando os romances de Alexandre Dumas, Gustave Flaubert, Victor Hugo e sobretudo “Le Petit Chose” de Alphonse Daudet, romance semi-autobiográfico do escritor no qual são transpostas suas recordações como professor em Alès.

Aos doze anos de idade quando Bernard viu pela primeira vez Pierre Fresnay na Comédie-Française, ficou impressionando com a força de sua composição e com a ovação ininterrupta que ele recebeu do público, e decidiu que iria ser ator. Sua vocação foi impulsionada pelos seus pais, pois Jules e Suzanne levavam regularmente seus filhos para ver grandes atores do palco como Louis Jouvet ou Charles Dullin. Ele, por sua vez, encontrava sempre uma maneira de penetrar nos bastidores do L´Éuropéen e ver desfilar, gratuitamente, todas as vedetes do music hall, que se apresentavam nesta casa de espetáculos de Paris.

Ao terminar os estudos secundários, sempre sonhando em entrar para o Conservatório, Bernard começou seu aprendizado de ator atuando em companhias de pequeno porte e frequentando cursos de arte dramática entre eles a Escola de Teatro fundada por Raymond Rouleau, Julien Bertheau e Jean-Louis Barrault. Raymond Rouleau foi o primeiro mentor de Bernard Blier e foi sob sua direção, como figurante, que ele estreou no cinema no filme Trois…Six…Neuf / 1936, conseguindo ao mesmo tempo ser admitido no Conservatório como ouvinte do curso de Louis Jouvet. Ele continuou como acteur de complément nos cinco filmes seguintes dos quais participou (Mulher Fatal / Gribouille de Marc Allégret; Atração da Carne / Le Messager (dir: R. Rouleau); O Segredo da Linha Maginot / Double Crime sur la ligne Maginot (Dir: Félix Gandera); A Dama de Malacca / / La Dame de Malacca (Dir: Marc Allégret), L ´Habit Vert (Dir: Roger Richebé), todos de 1937) e finalmente, em 17 de novembro de1937, Bernard Blier foi admitido como aluno regular na classe de Louis Jouvet.

Louis Jouvet e Bernard Blier em Entrée des Artistes

Ao se aproximar o final da década de trinta Blier começou fazer pequenos papéis inclusive em filmes muito importantes como os assinalados em negrito: 1938 – Grisou / Les hommes sans soleil (Dir: Maurice de Canonge); Altitude 3200 (Dir: Jean Benoît Lévy); Entrée des Artistes (Dir: Marc Allégret); Le Ruisseau (Dir: Maurice Lehmann, Claude Autant-Lara); Place de la Concorde (Dir: Carl Lamac); Hotel do Norte / Hôtel du Nord (Dir Marcel Carné); Accord Final (Dir: I.R. Bay (Ignacy Rosenkranz). 1939 – Quartier Latin (Dir: Pierre Colombier); Trágico Amanhecer / Le Jour se lève (Dir: Marcel Carné). No filme de Allégret ele era Pesconi, um dos alunos do professor Lambertin (Louis Jouvet) no Conservatório e nos filmes de Carné, marcava sua presença respectivamente como o operador de eclusa Prosper e o operário Gaston. Em 1938 Jean Renoir pensou em Blier para interpretar Pecqueux, o mecânico da locomotiva companheiro de Jacques Lantier (Jean Gabin) em A Bêsta Humana / La Bête Humaine; porém depois mudou de idéia achando que Blier era muito jovem para o papel, que acabou sendo de Julien Carette.

Bernard Blier (à direita) em Hotel do Norte

Marcel Pérès, Jacqueline Laurent e Bernard Blier em Trágico Amanhecer

Justamente quando a carreira de Blier no cinema estava decolando, ele foi convocado para servir o exército. Mobilizado em 1939, serviu em um regimento de infantaria. Capturado pelos alemães, foi enviado para o Stalag XVIIA. Após duas tentativas de fuga frustradas, graças à cumplicidade de um oficial austríaco benevolente, conseguiu ser transferido para o Stalag XVIIB, de onde foi libertado em virtude de um programa de repatriação médica de conveniência, convencendo as autoridades locais de que era médico veterinário e seria mais útil livre do que preso. Ele conseguiu isso colocando seu nome em um papel timbrado em branco que seu pai lhe enviou dissimulado em uma caixa de biscoitos, no qual constava sua condição de veterinário.

Nos anos quarenta Blier apareceu em cenas breves, mas também em papéis de coadjuvante mais destacados e papéis principais, sobressaindo nos filmes em negrito: 1940 – Les Musiciens du ciel (Dir: Georges Lacombe). 1941 – A Noite de Dezembro / La Nuit de décembre (Dir: Kurt Bernhardt); L ´Enfer des anges (Dir: Christian-Jaque); O Assassinato de Papai Noel (na TV) / L´Assassinat du Père Noël (Dir: Christian-Jaque); Premier Bal (Dir: Christian-Jaque); Le pavillon brûle (Dir: Jacques de Baroncelli). 1942 – Caprices (Dir: Léo Joannon); O Casamento de Chiffon / Le Mariage de Chiffon (Dir: Claude Autant-Lara); La Symphonie fantastique (Dir: Christian-Jaque); A Noite Fantástica (na TV) / La Nuit fantastique (Dir: Marcel L´Herbier); La Femme que j´ai plus aimé (Dir: Robert Vernay); Le journal tombe à cinq heures (Dir: Georges Lacombe); Romance à trois (Dir: Roger Richebe); Os Amores de Carmen / Carmen (Dir: Christian Jaque). 1943 – Marie-Martine / Marie Martine (Dir: Albert Valentin); Domino (Dir: Roger Richebé); Les Petites du quai aux Fleurs (Dir: Marc Allégret); Je suis avec toi (Dir: Henri Decoin). 1944 – Farandole (Dir: André Zwoboda). 1945 – Seul dans la nuit (Dir: Christian Stengel); Monsieur Grégoire s ´evade (Dir: Jacques Daniel-Normand). 1946 – Messieurs Ludovic (Dir: Jean-Paul le Chanois); Le Café du Cadran (Dir: Jean Gehret). 1947 Crime em Paris / Quai des Orfèvres (Dir: Henri-Georges Clouzot); Escravas do Amor / Dédée d´Anvers (Dir: Yves Allégret). 1948 – Les Casse-pieds (Dir: Jean Dréville); D´homme à hommes (Christian-Jaque); Retour à la vie (esquete Le retour de tante Emma (Dir: André Cayatte); L´École buissonnère (Dir: Jean-Paul Le Chanois); A Cínica / Manèges (Dir: Yves Allégret); Monseigneur (Dir: Roger Richebé); La Souricière (Dir: Henri Calef).

Bernard Blier e Suzy Delair em Crime em Paris

Bernard Blier e Marcel Dalio em Escravas do Amor

Bernard Blier em L´École Bouissonière

Jane Marken, Simone Signoret e Bernard Blier em A Cínica

Bernard Blier em Monseigneur

No filme de Clouzot Blier era Maurice Martineau, o pianista casado com a cantora de music-hall Jenny Lamour (Suzy Delair) que, movido pelo ciúme, acaba sendo suspeito de ter assassinado um velho produtor libidinoso (Charles Dullin) com o qual sua esposa tivera um encontro. Nos filmes de Allégret, Blier interpretava respectivamente M. René, dono de um bar, que ajuda a prostituta Dédée (Simone Signoret) a eliminar seu rufião (Marcel Dalio), responsável pela morte do homem por quem ela se apaixonara e Robert, dono de uma escola de equitação enganado várias vezes por sua mulher Dora (Simone Signoret), que se acidentou quando ia se encontrar com seu último amante e corre o risco de ficar paralítica. Em L´École buissonière Blier era M.  Pascal, o novo professor de uma pequena cidade do interior da Provença no princípio dos anos vinte, cuja concepção liberal da educação perturba o conservadorismo de seu predecessor, do prefeito e dos vereadores, que vão tentar afugentá-lo; porém a conspiração organizada contra ele fracassa diante do sucesso de seus alunos. Em Monseigneur Blier era o serralheiro Louis Mennechain acolhido por um grupo de aristocratas convencidos por um historiador trapaceiro (Fernand Ledoux) de que era o único descendente autêntico de Luis XVI. Nesta excelente comédia com enredo original, inspirado no famoso enigma da evasão de Louis XVII da prisão do Templo e o aparecimento de falsos delfins, Blier teve certamente a melhor de interpretação de toda a sua carreira. Ele soube expressar com espantosa habilidade as diferentes facetas de sua personagem que, após um período de estupefação e ceticismo, vai tomando gosto pelo papel de rei, com um desembaraço e uma naturalidade saborosos.

Nos anos cinquenta, Blier continuou trabalhando muito, com destaque para os personagens que interpretou nos filmes em negrito: 1950 – L´Invité du mardi (Dir: Jacques Deval); Les Anciens de Saint Loup (Dir: Georges Lampin); Lembranças do Pecado / Souvenirs perdus, esquete Le violon (Dir: Christian-Jaque); O Último Endereço / … Sans laisser d´addresse (Dir: Jean-Paul Le Chanois). 1951 – La Maison Bonnadieu (Dir: Carlo Rim); Agence matrimoniale (Dir: Jean-Paul Le Chanois). 1952 – Je l ái été trois fois! (Dir: Sacha Guitry); Suivez cet homme! (Dir: Georges Lampin). 1953 – Antes do Dilúvio / Avant le déluge (Dir: André Cayatte); Segredos de Alcova / Secrets d ´alcove, esquete Le lit de la Pompadour (Dir: Jean Delannoy). 1954 – Scènes de ménage (Dir: André Berthomieu). 1955 – O Processo Negro / Le Dossier noir (Dir: André Cayatte); Les Hussards (Dir: Alex Joffé); Prigioneri del male (Dir: Mario Costa). 1956 – Crime e Castigo / Crime et Châtiment (Dir: Georges Lampin); Minha Mulher vem aí / L ´Homme à l´impermeable (Dir: Julien Duvivier). 1957 – Os Covardes também amam / Retour de manivelle (Dir: Denys de La Patellière); Os Miseráveis / Les Misérables (Dir: Jean-Paul Le Chanois); Uma tal Condessa (na TV) / Quand la femme s´en mêle (Dir: Yves Allégret); Tudo aconteceu numa Noite / La Bonne Tisane (Dir: Hervé Bromberger); Sans famille (Dir: André Michel); Escola de Mundanas / L´École des cocotes (Dir: Jacqueline Audry). 1958 – En légitime défense (Dir: André Bertomieu); A Gata / La Chatte (Dir: Henri Decoin); Le Joueur (Dir: Claude Autant-Lara); A Volúpia do Poder / Les Grandes Familles (Dir: Denys de La Patellère); Arquimedes o vagabundo / Archimède le clochard (Dir: Gilles Grangier; Marie-Octobre (na TV) / Marie Octobre (Dir: Julien Duvivier). 1959 – Le Secret du Chevalier d ´Éon (Dir: Jacqueline Audry); A Grande Guerra / La grande guerra (Dir: Mario Monicelli); Os Olhos do Amor / Les Yeux de l´amour (Dir: Denys de La Patellère); Marche ou crève (Dir: Georges Lautner).

Danièle Delorme e Bernard Blier em Endereço Desconhecido

Bernard Blier e Jean Gabin em Os Miseráveis

Jean Desailly, Jean Gabin e Bernard Blier em A Volúpia do Poder

Em O Último Endereço Blier era o chofer de taxi Émile Gauthier que ajudava uma jovem provinciana (Danièle Delorme) a encontrar o pai de seu filho em Paris. Em Os Miseráveis assumiu os traços do inflexível Inspetor Javert, perseguidor implacável de Jean Valjean (Jean Gabin) e em A Volúpia do Poder aparecia como Simon Lachaume, assistente desonesto de Noel Schoudler (Jean Gabin), chefe autocrático de empresas familiares diversificadas que incluiam um banco, um jornal e uma refinaria de açúcar.

Bernard Blier e Renée Faure em O Presidente

Bernard Blier e Jean Gabin em Le cave se Rebiffe

Bernard Blier, Danièle Delorme, Henri Cremieux em O Sétimo Jurado

Lino Ventura, Bernard Blier e Francis Blanche  em O Testamento de um Gângster

Nos anos sessenta, o incansável ator esteve ainda mais vezes diante das câmeras inclusive sob as ordens de diretores italianos e pela primeira vez do seu filho Bertrand Blier: 1960 – L´Ennemi dans l´ombre (Dir: Charles Gérard); O Corcunda de Roma / Il Gobbo (Dir: Carlo Lizzani); Mais forte que o Amor / Arrêtez les tambours (Dir: Georges Lautner); Crime em Monte Carlo / Crimen (Dir: Mario Camerini); O Presidente / Le Président (Dir: Henri Vernueil); La Famile Fenouillard (Dir: Yves Robert (não creditado). 1961 – Os Amores de um rei / Vive Henry IV … vive l ´amour (Dir: Claude Autant-Lara); O Rei dos Falsários / Le cave se rebiffe (Dir: Gilles Grangier); Monocle, o Agente Secreto / Le Monocle noir (Dir:Georges Lautner); Legenda Heróica / I brigante italiani (Dir: Mario Camerini); Operação Barra de Ouro / En plein cirage (Dir: Georges Lautner); Mulher na Estrada / Les Petits Matins (Dir: Jacqueline Audry); O Sétimo Jurado / Le Septième Juré (Dir: George Lautner). 1962 – Marco Polo (Dir: Christian-Jaque); Mathias Sandorf (Dir: Georges Lautner); Pourquoi Paris? (Dir: Denys de La Patellìere); Les Saintes – Nitouches (Dir: Pierre Montazel); Germinal (Dir: Yves Allégret). 1963 – Os Companheiros / I compagni (Dir: Mario Monicelli); O Magnífico Aventureiro / Il magnifico avventuriero (Dir: Riccardo Freda); O Testamento de um Gângster / Les Tontons flingueurs (Dir: Georges Lautner); Amor à francesa / La Bonne Soupe (Robert Tomas); Alta Infidelidade / Alta infedeltà (Dir: esquete Gente Morderna (Dir: Mario Monicelli); 100000 dólares ao sol / Cent mille dollars au soleil (Dir: Henri Verneuil). 1964 – A Caça ao Homem / La Chasse à l ´homme (Dir: Édouard Molinaro); La Chance et l´Amour esquete Une chance explosive (Dir: Bertrand Tavernier); O Magnífico Traído / Il magnifico cornuto (Dir: Antonio Pietrangeli); Os Supersecretas / Les Barbouzes (Dir: Georges Lautner). 1965 – Quand passent les faisons (Dir: Édouard Molinaro); Os Gozadores / Les Bons Vivants / Un grand seigneur esquetes La fermeture e Le procès (Dir: Gilles Grangier); Casanova 70 / Casanova 70. (Dir: Mario Monicelli); Traído …Por uma Questão de Honra / Una questione d´onore (Dir: Luigi Zampa); Crime Quase Perfeito / Delitto quase perfetto (Dir: Mario Camerini); Duello nel mondo (Dir: Georges Combet e Luigi Scattini. 1966 – 100 ragazze per um play boy (Dir: Michael Pfleghar); Le Grand Restaurant (Dir: Jacques Besnard); Du mou dans la gâchette (Dir: Louis Grospierre); A Ordem é Matar / Peau d´espion (Dir: Édouard Molinaro); Un idiot à Paris (Dir: Serge Korber); Si j ´étais um espion (Dir: Bertrand Blier). 1967 – O Estrangeiro / Lo straniero (Dir: Luchino Visconti); Le Fou du labo 4 (Jacques Besnard); O assassino tem as horas contadas / Coplan sauve as peau (Dir: Yves Boisset); Os Amantes de Carolina / Caroline chérie (Dir: Denys de La Patellière). 1968 – As Doces Assaltantes / Faux pas prendre les canards du Bon Dieu pour des canards sauvages (Dir: Michel Audiard); Conseguirão nossos heróis encontrar o amigo misteriosamente desaparecido na África? / Riusciranno i nostri eroi a ritrovare  l´amico misteriosamente scomparso in Africa? (Dir: Ettore Scola; Quarta parete (Dir: Adriano Bolzoni). 1969 – Appelez-moi Mathilde (Dir: Pierre Mondy); Meu tio Benjamim / Mon oncle Benjamin (Dir: Édouard Molinaro); Ela não bebe, não fuma, não paquera, mas… / Elle boit pas, elle fume pas, elle drague pas … mais ele cause! (Dir:  Michel Audiard). Distinguiram-se suas atuações em dois filmes excelentes, O Presidente como Philippe Chalamont, chefe de gabinete sem escrúpulos do presidente do Conselho da República, Emile Beaufort (Jean Gabin), e seu opositor político e O Sétimo Jurado, como o farmacêutico Grégoire Duval escolhido como jurado no julgamento de um jovem que foi acusado do crime que ele cometeu. Vale mencionar também sua contribuição para o sucesso comercial de O Testamento de um Gangster como o mafioso Volfoni.

Bernard Blier em Loiro Alto do Sapato Preto

Bernard Blier e Patrick Dewaere. em Série Noire

Bernard Blier, Gérard Depardieu e Jean Carmet em Buffet Froid

Bernard Blier em Tomara que seja Mulher

Na fase final de sua carreira, abrangendo os anos setenta e parte dos oitenta, Blier demonstrou seu grande talento principalmente nos filmes que estão em negrito: 1970 – Il furto è l´anima del commercio …!? (Dir: Bruno Corbucci); Le Distrait (Dir: Pierre Richard); Le Cri du cormoran, le soir au-dessus des jonques (Dir: Michel Audiard); Laisse aller … c´est une valse (Dir: Georges Lautner). 1971 – Jo, o Diabólico / Jo (Dir: Jean GIrault); O Super Macho / Homo eroticus (Dir: Marco Vicario); Como Agarrar um Espião / Catch Me a Spy (Dir: Dick Clement); Boccacio (Dir: Bruno Coerbucci); Le Tueur (Dir: Denys de La Patellìere. 1972 – Tout le monde il est beau, tout le monde il est gentil (Dir: Jean Yanne; Ela não fala …  Atira! / Elle cause plus, elle flingue (Dir: Michel Audiard); Loiro Alto do Sapato Preto / Le Gran Blond avec une chaussure noire (Dir: Yves Robert); Moi y´en a vouloir des sous (Dir: Jean Yanne). 1973 – Je sais rien, mais je dirai tout (Dir: Pierre Richard); Quando o Sangue não é nosso (na TV) / Par le sang des autres (Dir: Marc Simenon); Os Chineses em Paris (na TV) / Les Chinois à Paris (Dir: Jean Yanne); A Mão Amputada (na TV) / La Main à couper (Dir: Étienne Pèrier). 1974 – Processo per direttissima (Dir: Lucio de Caro); Il piatto piange (Dir: Paolo Nuzzi); Bons baisers … à lundi (Dir: Michel Audiard); C ´est pas parce qu ´on a rien à dire qu´il faut ferner sa gueule … (Dir: Jacques Besnard); Ce cher Victor (Dir: Robin Davis). 1975 – Meus Caros Amigos / Amici miei (Dir: Mario Monicelli); C ´est dur pour tou le monde (Dir: Christian Gion); Le Faux-cul (Dir: Roger Hanin); Calmos (Dir: Bertrand Blier). 1976 – Nuit d ´or (Dir: Serge Moati); Ânsia de VIngança / Le Corps de mon ennemi (Dir: Henri Verneuil). 1977 – La Fuite en avant / Le Compromis (Dir: Christian Zerbib). 1978 Série noire, exibido somente no Cine Clube da Maison de France na Semana do Cinema e da TV Francesa (Dir: Alain Corneau). 1979 – Il Malato immaginario (Dir: Tonino Cervi); Coquetel de Assassinos / Buffet froid (Dir: Bertrand Blier); Voltati Eugenio (Dir: Luigi Comencini). 1981 – Il turno (Dir: Tonino Cervi); Passione d´amore (Dir: Ettore Scala); Pétrole! Pétrole! (Christian Gion). 1983 – Cuore – Lembranças do Coração / Cuore (Dir: Luigi Comencini). 1984 – As duas vidas de Matttia Pascal / Le due vite di Mattia Pascal (Dir: Mario Monicelli); Ça  n´arrive qu´a moi (Dir: Francis Perrin); Scemo di guerra (Dir: Dino Risi). 1985 – Amici miei atto 3 (Dir: Nanni Loy); Tomara que seja mulher / Speriamo che sia femmina (Dir: Mario Monicelli). 1986 – Je hais les acteurs (Dir: Gérard Krawczyk); Twist again à Moscou (Dir: Jean-Marie Poiré); Sotto il ristorante cinese (Dir: Bruno Bozzetto). 1987 – Os Possessos / Les Possédés (Dir: Andrzej Wajda); I picari (Dir: Mario Monicelli); Kinski Pagannini (Dir: Klaus Kinski; Migrations / La guerre la plus glorieuse (Dir: Aleksandar Petrovic). 1988 – Ada dans la jungle (Dir: Gérard Zingg); Mangeclous (Dir: Moshé Mizrahi); Una botta di vita (Dir: Enrico Oldoini).

Em Loiro Alto de Sapato Preto, Blier faz o papel de Milan, auxiliar imediato do chefe de um serviço secreto, que cobiça o posto de seu superior hierárquico (Jean Rochefort); porém este lhe prepara uma armadilha, usando um tímido violinista (Pierre Richard), o tal Loiro Alto. Em Série Noire, Blier foi indicado para o César por sua intepretação como Staplin, patrão chantagista do vendedor ambulante que se transformara em assassino (Patrick Dewaere). Em Coquetel de Assassinos, Blier é o Inspetor de polícia Morvandiaux, empenhado em uma investigação envolvendo um rapaz desempregado que acredita ter cometido um crime (Gérard Depardieu) e o assassino paranóico (Jean Carmet) da esposa deste. Em 1986, Blier ganhou o prêmio David di Donatello (Oscar do Cinema Italiano) como melhor ator não protagonista por sua atuação como Gugo, octogenário totalmente caduco, tio do personagem interpretado por Phillippe Noiret em Tomara que seja mulher. No ano seguinte, festejou seu meio século de cinema, longevidade profissional somente superada por Charles Vanel entre os atores franceses que ainda estavam em atividade.

Bernard Blier recebendo seu César pelas mãos de Michel Serrault

Em 1 de janeiro de 1989, ele foi promovido ao grau de oficial da Legion d´Honneur. Dois meses mais tarde recebeu um Cesar honorário (Oscar do Cinema Francês) e durante a cerimônia de entrega do prêmio pelas mãos de seu ex-aluno Michel Serrault, recebeu uma ovação da plateia em pé por mais de cinco minutos. Muito enfraquecido e magro,  trocou umas palavras engraçadas com um Serrault que mal continha sua emoção e suas lágrimas e depois se foi. Faleceu três semanas mais tarde, em 29 de março de 1989, em consequência de um câncer na Clinique du Val d´Or em Saint Cloud.

OTTO PREMINGER II

Em 1953 Otto Preminger fez sua estréia como produtor-diretor independente com Ingênua Até certo Ponto / The Moon is Blue, adaptação cinematográfica da peça de Hugh Herbert que havia dirigido na Broadway. Nos mesmos cenários Preminger filmou também uma versão alemã intitulada Die Jungfrau auf dem Dach com Johanna Matz, Hardy Krüger e Johannes Heesters nos papéis de Maggie McNamara, William Holden e David Niven. O filme foi desaprovado pelo Código Hays, órgão responsável pela autocensura de Hollywood e pela Legião Católica da Decência, mas Preminger decidiu lançá-lo assim mesmo. Sua rebeldia representou o início do fim do Código e ajudou Hollywood a se livrar dos seus valores antiquados.

Desde que assinou seu novo contrato com a Fox, Preminger evitou assumir algum novo compromisso, mas quando Zanuck chamou-o para dirigir O Rio das Almas Perdidas / River of No Return / 1954, ele gostou da história, aprovou a escolha dos dois atores principais (Robert Mitchum, Marilyn Monroe) e achou quer seria uma oportunidade de filmar em CinemaScope, formato no qual se tornaria um mestre. Após O Rio das Almas Perdidas, Preminger decidiu que nunca mais trabalharia como empregado de um estúdio e, de fato, até o final de sua carreira cinematográfica, ele só faria dois filmes para outro produtor.

 Sua trajetória fílmica a partir de então se dividiria em duas fases: a primeira, mais fértil artisticamente, vai de 1954 a 1965, incluindo os seguintes filmes, dentre os quais destaco como melhores aqueles que estão assinalados em negrito: 1954 – Carmen Jones / Carmen Jones. 1955 O Homem do Braço de Ouro / The Man with the Golden Arm; Seu Último Comando / The Court Martial of Billy Mitchell, drama biográfico sobre o julgamento do militar (Gary Cooper) que em 1925 denunciou o estado precário da Força Aérea americana e previu o ataque japonês de 1941 (Prod: Milton Sperling). 1957 – Santa Joana / Saint Joan, drama histórico baseado na peça de Bernard Shaw com Jean Seberg, como Joana D´Arc e Richard Widmark como Carlos VII). 1958 – Bom Dia Tristeza / Bonjour Tristesse. 1959 – Anatomia de um Crime / Anatomy of a Crime; Porgy e Bess / Porgy and Bess, drama musical baseado na ópera de George Gerswhin com Sidney Poitier e Dorothy Dandridge (Prod: Samuel Goldwyn). 1960 Exodus / Exodus, drama histórico sobre a fundação do Estado de Israel com roteiro abertamente creditado de Dalton Trumbo em um desafio à Lista Negra de Hollywood. 1962Tempestade sobre Washington / Advise and Consent. 1963 O Cardeal / The Cardinal, drama (indicado para o Oscar de melhor Filme) sobre a ascenção de um irlandês católico (Tom Tryon) do sacerdócio para o Colégio de Cardeais.  1965 – Primeira Vitória / In Harm´s Way, drama de guerra com John Wayne, Kirk Douglas, Patricia Neal, Tom Tryon, Jill Haworth, Paula Prentiss, Brandon de Wilde e participação de Dana Andres, Burgess Meredith, Franchot Tone, Henry Fonda, focalizando a Marinha e seus oficiais do ataque japonês a Pearl Harbor ao primeiro ano do envolvimento dos EUA no Segundo Conflito Mundial; Bunny Lake Desapareceu / Bunny Lake is Missing.

Dorothy Dandridge e Harry Belafonte em Carmen Jones

Carmen Jones. Drama baseado em um espetáculo musical da Broadway de Oscar Hammerstein II e não diretamente da ópera de Georges Bizet e as interpretações das melodias são mais jazzísticas do que líricas, muito embora os atores tivessem sido dublados por cantores líricos. A ação foi transposta do ambiente antigo de Sevilha para os EUA nos dias da Segunda Guerra Mundial, onde a intriga se desenrola não mais em uma fábrica de tabaco, mas em uma fábrica de paraquedas do Exército integrada somente por operárias negras e guarnecida por uma unidade militar também composta inteiramente por negros. Carmen ainda se chama Carmen e continua impetuosa e sensual, mas em vez de cigana vadia é uma operária relapsa; Don José (Harry Belafonte) é ainda um cabo do exército, porém com o nome de Joe; e o toureiro Escamillo torna-se um campeão de boxe chamado Husky Miller (Joe Adams).  Preminger mantém o espírito da ópera trágica e ardente de Bizet, aproveita com discernimento a música maravilhosa do compositor francês e as letras e canções de Hammerstein, e faz uma utilização audaciosa do CinemaScope contando com uma fotografia em cores soberba de Sam Leavitt / Albert Myers, devendo ser mencionada ainda a atuação de Dorothy Dandridge (indicada para o Oscar de Melhor Atriz) e a abertura bem moderna de Saul Bass.

KIm Novak e Frank Sinatra em O Homem do Braço de Ouro

O Homem do Braço de Ouro. Drama baseado em um romance de Nelson Algren, contando a história dolorosa de Frankie Machine (Frank Sinatra), croupier de um cassino clandestino de Chicago, que luta com todas as suas forças para renunciar ao vício da heroína. Após uma estadia de seis meses em um centro de desintoxicação, ele decide mudar de vida, tornando-se baterista em um grupo de jazz. Sua esposa Zosh (Eleanor Parker) foi vitimada em um acidente de carro ocasionado por Frankie e não pode caminhar. Tomado por um sentimento de culpa, ele não ousa abandoná-la, embora se sinta atraído por Molly (Kim Novak), uma dançarina de boate que lhe dá apoio moral. Aborrecimentos com a polícia e com os traficantes reconduzem-no ao antigo vício. Zosh, que se finge de paralítica para manter o marido sob seu controle, mata acidentalmente o fornecedor de entorpecente Louie (Darrin McGavin) e Frankie é suspeito do crime. Ele se refugia no apartamento de Molly, que o tranca em um quarto e consegue desintoxicá-lo. Zosh, interrogada pela polícia, sentindo-se desmascarada, se atira do alto de um prédio. Frankie poderá então refazer sua vida com Molly. Preminger conduz a narrativa em um ritmo vivo, forjando cenas excitantes como aquele em que ele estende o braço para que lhe seja aplicada a droga ou as cenas no quarto de Molly onde ele se isola na sua tentativa de vencer sua dependência. O caráter trágico do enredo é acentuado pelos cenários tristes e miseráveis de Joseph C. Wright, pela fotografia fortemente contrastada de Sam Leavitt, pelo tema musical de Elmer Bernstein e pela abertura criativa de Saul Bass. Sinatra é um intérprete espantoso nas suas crises de delírio, seus sofrimentos e seus gritos quando é privado do entorpecente. Sinatra, Joe Wright e Bernstein foram indicados para o Oscar.

Jean Seberg, David Niven e Deborah Kerr em Bom Dia, Tristeza

Bom Dia, Tristeza. Adaptação do best seller de Françoise Sagan relatando em flashbacks o drama de Cécile (Jean Seberg), jovem mimada que vive uma vida livre e dissoluta na companhia do pai viúvo, Raymond (David Niven), e de uma das namoradas dele, Elsa (Mylène Demongeot), na “Côte d´Azur”. Suas existências superficiais em busca de prazer são ameaçadas até que a chegada de Anne (Deborah Kerr), amiga da ex-mulher de Raymond reaparece. Quando Raymond propõe casamento a Anne, Cécile percebe que sua vida vai mudar por completo e, para se libertar da futura madrasta, arma uma intriga, usando seu namorado Philippe (Geoffey Horne) e Elsa, ocasionando uma tragédia. Preminger teve a idéia inteligente de usar a fotografia em preto e branco para mostrar o tempo presente triste em Paris, passado quase todo nos bistrôs e nas caves, e o technicolor para exprimir o passado alegre na Riviera Francesa. Também arguta foi a utilização da música de Georges Auric e a aparição discreta de Juliette Greco em uma boate cantando “Bonjour Tristesse” e suscitando as memórias de Cécile.  Estas se encerram com as lágrimas escorrendo pelo seu rosto enquanto ela o cobre de creme após mais uma noitada de vida falsa, mas agora angustiada pelo remorso e com um sentimento de tristeza que não a deixará jamais. Notável a abertura de Saul Bass, onde as pétalas de uma flor se transformam em lágrimas.

James Stewart e Ben Gazarra em Anatomia de um Crime

Anatomia de um Crime. Drama de tribunal passado em uma pequena cidade do Michigan, onde o advogado Paul Biegler (James Stewart), ex-promotor público que perdeu sua reeleição, assessorado por seu colega alcoólatra Parnell McCarthy (Arthur O´Connell) e sua secretária sarcástica Maida (Eve Arden), aceita a defesa do tenente Frederick Manion (Ben Gazarra), soldado arrogante acusado da morte de um homem que, segundo ele alega, violentara sua mulher, Laura (Lee Remick). Depois de uma verdadeira batalha judicial, Biegler obtém sua absolvição usando o argumento do “impulso irresistível”. Embora longo e muito dialogado o espetáculo mantém a atenção do princípio ao fim graças ao interesse do assunto versando sobre tema sexual, ao valor dos intérpretes, à boa fotografia de Sam Leavitt, à música maravilhosa de Duke Ellington e principalmente à habilidade diretorial de Preminger, valendo mencionar ainda a abertura como sempre soberba de Saul Bass com aquele corpo quebrado. O filme, indicado ao Oscar, faz uma autópsia do sistema judiciário americano, suscitando questão importante como a fragilidade de uma justiça para a qual não existe uma verdade objetiva. E contém ainda um tema secundário: a vitória pessoal do trio do escritório: Biegler retoma seu gôsto pela advocacia, McCarth para de beber e Maida fica feliz em ter ajudado os dois. Houve indicações ao Oscar também para James Stewart (Melhor Ator), Arthur O´Connell e George C. Scott, que faz o papel do promotor público (Melhor Ator Coadjuvante), Sam Leavitt (Melhor Fotografia em preto e branco), Wendell Mayes (Melhor Roteiro Adaptado) e Louis R. Loeffler (Melhor Montagem).

Cena de Exodus

Exodus. Drama histórico grandiloquente (e com evidente parti pris), baseado no livro de Leon Uris sobre a criação de Israel, com roteiro de Dalton Trumbo, ousadamente creditado em um desafio à Lista Negra de Hollywod.  O filme acompanha a aventura do navio Exodus que conduz refugiados para a nova pátria, a oposição entre dois movimentos judeus, um pacifista (o Hagana), outro terrorista (o Irgun), a luta contra os ingleses e o início do conflito com os árabes. Preminger conduz o espetáculo com muita segurança, abordando com inteligência cinematográfica tanto as cenas de ação política ou de violência quanto as cenas românticas (entre Ari Ben Canaan / Paul Newman e Kitty Fremont / Eva Marie Saint). Ele como sempre emprega a tela larga de maneira admirável, notadamente nas cenas com muitos figurantes e mantém o espetáculo em constante excitação. Ernest Gold ganhou o Oscar de Melhor Música e Sal Mineo e Sam Leavitt foram indicados respectivamente para o prêmio de Melhor Ator Coadjuvante e Melhor Fotografia em cores.

Charles Laughton e Walter Pidgeon em Tempestade sobre Washington

Tempestade sobre Washington. Drama político baseado em um romance de Allen Drury, ganhador do Pulitzer Prize, descreve com lucidez e sob forma de reportagem o desenrolar da nomeação de um Secretário de Estado, Robert Leffingwell (Henry Fonda), que deve ser sabatinado pelo Senado.  Os inimigos do candidato, tendo à frente um velho senador reacionário da Carolina do Sul, Seabright Cooley (Charles Laughton), tentam desacreditá-lo, acusando-o de ter pertencido a uma célula comunista. Preminger apresenta uma reflexão amarga e desiludida sobre a mecânica do poder e a manipulação política nos Estados Unidos, penetrando no interior do Capitólio para  mostrar com força dramática as maquinações que são tramadas nos seus corredores – incluindo campanha de difamação, falsos testemunhos, barganhas e chantagem – que podem levar até à morte. O cineasta mantém o filme permanentemente tenso até o final surpreendente apoiado por uma equipe técnica competente e pelo elenco de grandes atores veteranos (além de Fonda e Laughton, Walter Pidgeon, Peter Lawford, Gene Tierney, Franchot Tone, Lew Ayres, Burgess Meredith).

 

Tom Tryon e John Huston em O Cardeal

O Cardeal. Drama de dimensão épica baseado no romance de Henry Morton Robinson acompanhando o caminho espiritual de Stephen Fermoyle (Tom Tryon) que, no momento de sua nomeação como Cardeal em 1939, lembra-se das etapas principais de sua vida, passando por problemas dentro e fora da Igreja desde sua ordenação como padre em 1917. Este itinerário engloba uma vasta quantidade de espaços, de experiências, de conflitos históricos e particulares  – v. g. além de Roma, episódios em Boston, com o problema familiar de sua irmã ( Carol Lynley) querendo casar-se com um rapaz  judeu e se tornando mãe solteira;  no Canadá, com o padre Halley em estado terminal; em Viena, com o quase romance – quando provisoriamente secularizado – com uma moça austríaca sua aluna, Annemarie (Romy Schneider); na Georgia, com a defesa do padre negro  (Ossie Davis) e a Ku-Klux-Khan; novamente em Viena com o Cardeal Innitzer (Josef Meinrad) e os nazistas – , sem que esta constante deslocação no espaço e no tempo prejudique a unidade narrativa. Preminger expõe os fatos objetivamente, mostrando virtudes e defeitos da Igreja, em um estilo visual composto por belas composições pictóricas e seus famosos planos longos enquanto uma música linda de Jerome Moross fornece um clima solene à narrativa. Em papéis coadjuvantes vemos o diretor John Huston e dois ex-galãs de épocas distintas, Tullio Carminatti e Raf Vallone. Preminger recebeu sua segunda indicação ao Oscar de Melhor Direção e John Huston, Leon Shamroy, Lyle Wheeler, Louis R. Loeffler e Donald Brooks também foram indicados respectivamente para Melhor Ator Coadjuvante, Fotografia, Direção de Arte, Montagem e Figurinos.

Carol Lynley em Bunny Lake Desapareceu

Bunny Lake Desapareceu. Drama psicológico e de mistério tendo como ponto de partida o desaparecimento de uma menina, Bunny Lake, filha de uma mãe solteira, Ann Lake (Carol Lynley), que vive sob o domínio afetivo de seu irmão Stephen (Keir Dullea). A Polícia inicia uma investigação, mas o tenente Newhouse (Laurence Olivier) não encontra nenhum traço da criança. O policial segue várias pistas falsas encontrando tipos excêntricos (interpretados pelos atores veteranos britânicos Noel Coward, Martita Hunt, Finlay Currie) e acaba se perguntando se a menina realmente existe. Progressivamente começamos a duvidar dos personagens. Anna Lake é louca? E o irmão? Qual é a dele? O suspense vai crescendo até um final inesperado evocando de modo sutil um assunto tabu. Um dos pontos altos do filme é a fotografia em preto e branco (Denys Coop) das locações e interiores de Londres, sobressaíndo a sequência do hospital de bonecas no porão com Ann segurando uma lamparina de óleo. Outros  trunfos da realização são a partitura de Paul Glass, apresentada de um modo inventivo pelo diretor e a participação de Laurence Olivier, compondo com incomparável destreza o papel do inspetor gentil  e metódico que conduz a apuração dos fatos.

A segunda e derradeira fase da trajetória fílmica de Otto Preminger a partir de 1954 é um período de declínio criativo e comercial e vai 1967 a 1979, incluindo os seguintes filmes: 1967 – O Incerto Amanhã / Harry Sundow. 1968 – Skidoo Se Faz A Dois / Skidoo. 1970 – Dize-me Que Me Amas / Tell Me That You Love Me, Junie Moon. 1971 – Amigo É Pra Essas Coisas / Such Good Frends. 1975 – Setembro Negro / Rosebud.1979 – O Fator Humano / The Human Factor.

Este final de carreira melancólico e seu comportamento intimidativo em relação às suas equipes especialmente atores com menos experiência foram os pontos fracos do percurso cinematográfico de Otto Preminger porém, pelo conjunto de seu legado artístico como diretor e seu pioneirismo como produtor independente e corajoso merece ser sempre lembrado como um grande cineasta.

OTTO PREMINGER I

Sua importância na História do Cinema como produtor que desafiou o Código de Produção e a Lista Negra de Hollywood e como diretor de uma quantidade expressiva de bons filmes sobre uma ampla variedade de assuntos, é inegável. Além disso, ele quebrou outras barreiras realizando dois filmes somente com atores negros e abordando temas controvertidos ou proibidos.

Otto Preminger

Otto Ludwig Preminger (1905-1986), filho de Markus Preminger e Josefa Fraenkel, nasceu em Wiznitz na Polonia, mas sempre se apresentou como natural de Viena, a capital do Império Austro-Húngaro, do qual a Polonia fazia parte na época. Após ter exercido o cargo de promotor público em sua cidade natal, Czernovic, Galicia e em Graz, Esfíria, Markus ocupou o cargo eminente de procurador geral em Viena, para onde se mudou com sua família. Com a dissolução da monarquia depois da Primeira Guerra Mundial o Dr. Preminger abriu um escritório de advocacia e ganhou muito dinheiro defendendo clientes prósperos da elite.

Desde seus primeiros dias em Viena Otto ficou obcecado pelo teatro lendo e assistindo peças de famosos dramaturgos.  Sua ambição era se tornar um ator. Enquanto seu pai continuava a prosperar na Viena do pós-guerra, ele decidiu seriamente fazer uma carreira no palco. Sua grande chance surgiu em 1923, quando o vienense Max Reinhardt, que havia instalado sua base de operação em Berlim – onde firmou uma reputação de renome mundial como diretor e empresário teatral -, resolveu formar uma companhia em Viena no velho teatro Josefstadt. Otto escreveu uma carta para Reinhardt pedindo para fazer um teste, no qual foi aprovado. O Dr. Markus aceitou a decisão de Otto pedindo-lhe apenas que se formasse em Direito, o que ele conseguiu, embora faltando muito às aulas.

Quando o teatro, depois de uma reforma, foi reinaugurado em 1 de abril de 1924, Preminger fez uma breve aparição na peça Arlecchino Servitore di due patroni de Carlo Goldoni. Depois interpretou Stephano, um dos criados de Portia em The Merchant of Venice. Reinhardt pode ter tido reservas sobre a atuação de Otto, mas percebeu logo sua capacidade como administrador e o nomeou seu assistente. Porém o rapaz queria atuar e depois de passar um ano com o mestre, observando e aprendendo, achou que sua carreira iria avançar melhor se ele se juntasse a uma companhia onde tivesse a oportunidade de interpretar melhores papéis.

Com este objetivo Otto trabalhou em teatros de língua alemã de Praga, Zurich e Aussig e em 1928 voltou para Viena onde fundou uma companhia de teatro de câmara, Die Komödie, da qual se desligou no ano seguinte por divergência com seus associados. Com novos parceiros Otto organizou um teatro de repertório com o nome pomposo de Neues Wiener Schauspielhaus (Nova Casa de Teatro de Viena). Em junho de 1930, insatisfeito com o resultado artístico da companhia, demitiu-se. No mesmo ano, voltou para o teatro Josefstadt, desta vez como executivo solucionador de todos os problemas (inclusive o egocentrismo ou a irascibilidade de astros como Peter Lorre, Lili Darvas, Elisabeth Bergner, Oscar Karlweis e Alexander Moissi).  Apesar de ter sido contratado como executivo, Otto estava de olho na direção e não demorou muito para dirigir um drama de tribunal, Voruntersuchung (Investigação Preliminar), escrito por um advogado de Berlim, Max Alsberg em colaboração com o dramaturgo Otto Ernst Hesse. Na noite de estréia ele foi chamado vinte e uma vezes ao palco com seu elenco e os coautores exultantes.

Logo após este êxito, um industrial rico de Graz, Heinrich Haas, propôs ao jovem diretor de teatro que ele dirigisse um filme intitulado Die Grosse Liebe (o Grande Amor). Otto não sabia nada sobre técnica cinematográfica e, além disso, não tinha a mesma paixão pelo cinema como tinha pelo teatro, mas aceitou porque gostou da história sobre um soldado austríaco (Attila Hörbiger) que retornava da Rússia dez anos depois do final da Primeira Grande Guerra e encontrava uma senhora viúva (Hansi Niese) que pensava que ele é seu filho. Otto rejeitou o filme como uma loucura juvenil e preferiu esquecê-lo.

Desde a encenação de Voruntersuchung em janeiro de 1931 até sua última produção no Josefstad em outubro de 1935, Otto Preminger dirigiu 26 espetáculos até que Joseph Schenck (aconselhado por Julius Steger, um austríaco que havia sido parceiro de William Fox, ganhara uma fortuna na América e retornara a Viena onde se tornou cliente do Dr. Markus Preminger) o convidou para trabalhar na recém-formada Twentieth Century-Fox em Los Angeles. Preminger chegou em Nova York em 21 de outubro de 1935 e, antes de partir para Los Angeles, cumpriu um compromisso que havia assumido com o produtor teatral Gilbert Miller de reencenar Sensationsprozess, um de seus maiores sucessos em Viena, agora com o título americano de Libel!

Preminger foi contratado por Schenck, mas seria o parceiro dele, Darryl F. Zanuck, que determinaria seu destino na Twentieth Century-Fox. Depois de um aprendizado observando a filmagem de Novos Ecos da Broadway / Sing, Baby, Sing, musical de rotina dirigido por Sidney Lanfield, foi designado por Zanuck para a unidade de Sol Wurtzel (responsável por todos os filmes B do estúdio), ocupando-se da direção de duas comédias, Canção Facinadora / Under Your Spell / 1936 (com o cantor de ópera Lawrence Tibbett) e Quando o Amor Trabalha / Danger – Love at Work / 1937 (com Ann Sothern). Satisfeito com o trabalho de Preminger, Zanuck escolheu-o para dirigir um filme classe A, Kidnapped, adaptação do romance de Robert Louis Stevenson, cujo roteiro ele próprio escreveu; porém, após uma discussão séria entre eles, o diretor foi despedido. O filme seria realizado por Alfred Werker e exibido no Brasil com o título de Raptado.

Otto Preminger em Abandonados

 

Otto Preminger em Um Pequeno Erro

Com dificuldade de arranjar emprego em algum outro estúdio, Preminger retornou ao teatro, dirigindo as peças Outward Bound, Margin for Error, My Dear Children, Beverly Hills, Cue for Passion, The More the Merrier, In Time to Come, funcionando também como ator em Margin for Error e somente como ator em The Man Who Came to Dinner. Impressionado com a performance de Preminger no palco como o consul nazista Karl Baumen na peça Margin for Error, Nunnally Johnson convidou -o para interpretar o papel de outro nazista, Major Diessen, no filme Abandonados / The Pied Piper / 1942, que ele estava escrevendo e produzindo na Twentieth Century-Fox, de onde ele havia sido banido. A Fox requisitou-o novamente para repetir o papel de Karl Baumen na versão cinematográfica de Margin for Error e então Otto conseguiu convencer William Goetz (que estava administrando a Fox na ausência de Zanuck, então servindo no Army Signal Corps) a lhe conceder também a direção do filme. Depois de terminar Um Pequeno Erro / Margin for Error / 1943 e antes de conseguir outra incumbência como diretor na Fox, Preminger foi contratado por Samuel Goldwyn para aparecer como um nazista em uma comédia de Bob Hope, Correspondente Fenômeno / They Got Me Covered / 1943, e ele aceitou, porque uma aliança com Goldwyn seria útil no dia em que Zanuck retornasse do serviço militar.

Entretanto, quando Zanuck reassumiu seu posto na Fox, deu permissão para que Preminger continuasse desenvolvendo seus dois projetos, Army Wives (depois renomeado Por Enquanto, Querida / In the Meantime Darling / 1944) e Laura / Laura / 1944, ambos destinados para a unidade B; porém Preminger só poderia dirigir o primeiro. A direção de Laura, depois elevado à classe A, foi entregue a Rouben Mamoulian, mas Zanuck não gostou das primeiras cenas que ele rodou e acabou colocando Preminger no seu lugar. O filme obteve êxito e proporcionou indicações ao Oscar para Melhor Direção, Ator Coadjuvante (Clifton Webb), Roteiro, Direção de Arte e Joseph La Shelle arrebatou a estatueta por sua esplêndida fotografia em preto e branco.

Começava assim a fase na qual Preminger, continuando como diretor contratado da Fox, realizou alguns de seus melhores filmes, adiante assinalados em negrito: 1944 Laura. 1945 – Czarina / A Royal Scandal, comédia romântica histórica com Tallulah Bankhead como Catarina da Rússia no papel que fôra de Pola Negri na versão silenciosa, Paraíso Proibido / Forbidden Paradise / 1924 (Dir: Ernst Lubitsch). Anjo ou Demônio? / Fallen Angel. 1946 – Noites de Verão / Centennial Summer, musical romântico histórico passado durante a Exposição de Filadélfia em 1876 com Jeanne Crain, Cornel Wilde, Linda Darnell. 1947 – Entre o Amor e o Pecado / Forever Amber, drama romântico histórico com Linda Darnell, Cornel Wilde, George Sanders, tendo como pano de fundo a côrte de Carlos II na Inglaterra do século XVII; Êxtase de Amor / Daisy Kenyon. 1948 – A Condessa se Rende / That Lady in Ermine (Preminger apenas terminou a filmagem após a morte de Lubitsch). 1949 O Leque / The Fan; A Ladra / Whirlpool. 1950 – Passos na Noite / Where the Sidewalk Ends; Cartas Venenosas / The Thirteenth Letter, drama criminal de mistério com Linda Darnell, Charles Boyer, Michael Rennie. 1952 – Alma em Pânico / Angel Face.

Gene Tierney e Dana Andrews em Laura

Gene Tierney e Clifton Web em Laura

Laura é o mais estilizado de todos os filmes noirs. Investigando o assassinato de Laura Hunt (Gene Tierney) diretora de uma agência de propaganda, o detetive Mark McPherson (Dana Andrews) interroga seu mentor, um influente jornalista quinquagenário, Waldo Lydecker (Clifton Webb) que considerava Laura não apenas como sua maior “criação”, mas também propriedade pessoal. No decorrer da investigação McPherson começa a ficar fascinado pela falecida e quando vai ao apartamento dela em busca de provas, senta-se em uma poltrona e, contemplando seu retrato pendurado na parede, adormece. De repente, a porta se abre e entra a Laura de carne e osso. “Nunca me esquecerei do fim de semana em que Laura morreu”. É com este monólogo interior de Lydecker que começa o filme. Antes do aparecimento de Laura, é ele – já no outro mundo – quem recorda uma série de flagrantes evocando a ascensão profissional da jovem. Depois que Laura surge viva, a trama passa a ser conduzida por McPherson, objetivamente. O estilo conciso e sereno do diretor é notado desde os primeiros instantes, quando a câmera desliza da esquerda para a direita pelas prateleiras e depois pela sala cheia de objetos de arte do apartamento de Lydecker. Este deslocamento de câmera fluido e delicado casa-se perfeitamente com o leit-motiv musical e com os diálogos sofisticados enquanto a iluminação dramatizada de Joseph La Shelle – premiada com o Oscar – fornece o clima noir adequado.

Dana Andrews em Anjo ou Demônio

Alice Faye e Dana Andrews em Anjo ou Demônio

Anjo ou Demônio? Tem início quando Eric Stanton (Dana Andrews) chega a Walton, pequena cidade da Califórnia, e logo se interessa por Stella (Linda Darnell), uma linda e sensual garçonete. A jovem desperta também o desejo de outros homens como o velho Pop (Percy Kilbidge) proprietário da lanchonete na qual trabalha, e Dave Atkins (Bruce Cabot), um sujeito que explora máquinas de caça níqueis. Para conquistar Stella, Eric casa-se com June (Alice Faye), uma solteirona rica, pretendendo deposá-la de sua fortuna e se divorciar em seguida. Porém Stella aparece morta. Erica acaba descobrindo que o policial Judd (Charles Bickford) adorava Stella e a matou, quando esta lhe disse que ia se casar com Dave. Um aspecto interessante da trama é justamente a paixão que Stella desperta em quatro homens, cada qual reagindo de uma maneira diferente. A reação mais estranha é a de Judd que, no final da narrativa, revela para Eric: “Durante anos eu vim tomar café aqui, somente para vê-la. Todos os dias, durante dois anos”. Uma loucura que o levou ao crime. Além de um close-up original em silhueta de Eric e Stella no   baile, chamam a atenção a cena do interrogatório na qual o assassino veste uma luva de borracha para extorquir brutalmente a confissão de um inocente e a do final, quando, antes de ser levado preso, aciona a vitrola da lanchonete e emerge a melodia favorita da vítima, restituindo por alguns instantes a sua invisível presença.

 

Madeleine Carroll, Richard Greene e Jeanne Crain em O Leque

Richard Greene, George Sanders e John Sutton em O Leque

O Leque é uma adaptação da peça de Oscar Wilde que Ernst Lubitsch já havia ilustrado no tempo da cena muda. Preminger se concentrou mais no melodrama do que sobre a sátira brilhante da alta sociedade londrina vitoriana, mas conservou os diálogos deliciosos oriundos da pena do grande escritor, dramaturgo e poeta irlandês.  Desta vez, em uma Londres devastada pelos bombardeios após a Segunda Guerra Mundial, uma velha senhora, Mrs. Erlynne (Madeleine Carroll) assiste à venda em um leilão de um leque que lhe pertence. Ela gostaria de recuperá-lo. O leiloeiro lhe dá um prazo de vinte quatro horas para provar suas alegações. Mrs. Erlynne então vai ao domicílio de um de seus antigos relacionamentos, Lord Darlington (George Sanders). Com a ajuda de retrospectos, eles revivem o passado quando Lord Darlington contou para Lady Windermere (Jeanne Crain), de quem estava apaixonado, que seu marido (Richard Greene) a traíra com Mrs. Erlynne. Magoada, Lady Windermere parte para a residência de seu admirador Lord Darlington, que lhe havia declarado seu amor. Mrs. Erlyne vai atrás dela e lhe diz qque seu marido lhe é fiel. Quando Lord Darlington chega em casa na companhia de Lord Windermere, Lord Lorton e um outro amigo, as duas mulheres se escondem. Os homens encontram o leque de Mrs. Windermere e Lord Windermere acusa Lord Darlington de ser amante de sua esposa.  Lady Windermere foge e Mrs. Erlynne, que não é outra senão a mãe que ela nunca conheceu, sacrifica sua própria felicidade que o casamento com Lord Lorton (Hugh Dempster) lhe proporcionaria, assumindo que o leque era seu. A encenação elegante e fluente de Preminger e a atuação primorosa dos quatro intérpretes principais tornam o filme muito agradável.

Dana Andrews em Passos na Noite

Dana Andrews e Gene Tierney em Passos na Noite

Passos na Noite retrata ao mesmo tempo uma cidade noturna e um homem da lei que se corrompeu. O pai de Mark Dixon (Dana Andrews) era um ladrão, e isto o tornou o que é: um policial perigoso que quer fazer justiça pelas próprias mãos. Depois de ser repreendido por seu superior por excesso de violência, Dixon investigas a morte de um sujeito que morreu no cassino clandestino do gângster Scalise (Gary Merrill). O principal suspeito é Paine (Craig Stevens) que havia atraído Morrison para o jogo, usando a jovem Morgan Taylor (Gene Tierney). Ao interrogá-lo, Dixon entre em luta corporal com ele, matando-o acidentalmente. O chofer de taxi, Jiggs Taylor (Tom Tully), pai de Morgan, é incriminado, pois fôra procurar Paine no dia em que foi morto para tentar afastá-lo da filha. Dixon interessa-se por Morgan e faz tudo para incriminar Scalise. É com um estilo visual calmo e preciso que Preminger descreve a passagem de seu herói para a ilegalidade, sua inquietude, seu trauma de infância (“Fiz tudo para ser diferente dele”) e sua visão dark do mundo (“Um passo em falso e você pode se meter em uma enrascada”). Dixon torna-se um personagem noir típico, desorientado existencialmente e vítima das circunstâncias; porém o amor o encaminhará para a redenção. Exteriores filmados em locação e a acurada fotografia em preto e branco de La Shelle criam uma atmosfera adequada ao drama e os momentos de suspense (v. g. quando Dixon deixa o local do crime disfarçado de Paine e depois carrega seu corpo até o carro; a cena em que o tenente manda-o fingir que é Paine, reconstituindo sua saída apartamento do morto) são muito bem construídos.

Robert Mitchum e Jean Simmons em Alma em Pânico

Jean Simmons e Robert Mitchum em Alma em Pânico

Alma em Pânico tem início quando o chofer de ambulância, Frank Jessup (Robert Mitchum) salva uma senhora rica, Mrs. Tremayne (Barbra O´Neil) de morrer asfixiada por gás e é contratado como motorista particular da família. Frank apaixona-se por Diane, (Jean Simmons), a enteada de Mrs. Tremayne, que odeia a madrasta. A jovem planeja um acidente, ocasionando não só a morte da madrasta, mas também a de seu pai (Herbert Marshall), que estava no carro sem que ela soubesse. Frank prepara-se para deixar Diane, porém ocorre um desenlace trágico. A personagem central tem traços que a relacionam com o arquétipo da mulher fatal. Ela manipula, e eventualmente mata, para obter o que deseja; porém o que motiva seu comportamento não é a ambição pelo dinheiro, mas uma obsessiva fixação pelo pai e o ódio patológico da madrasta. A cena final é uma das mais chocantes do cinema, não só pela maneira horrível como os personagens morrem como também pela sua absoluta imprevisibilidade. Diane se oferece para levar Frank até o ponto de ônibus, pensando que vai conseguir convencê-lo a ficar. De repente, põe a mudança do carro em marcha a ré, fazendo-o recuar para um penhasco, matando Frank e a si própria.

Após a filmagem de Cartas Venenosas e antes de filmar Alma em Pânico, aproveitando a cláusula de seu contrato com a Fox que lhe permitia permanecer em Nova York por seis meses durante o auge da temporada teatral, Preminger encenou três peças (Four Twelves Are 48, The Moon is Blue, Modern Primitive) e participou como o comandante de um campo de prisioneiros nazista em Inferno nº 17 / Stalag 17 de Billy Wilder.  Depois deste intervalo teatral, Preminger preparou a adaptação cinematográfica de Ingênua Até Certo Ponto / The Moon is Blue, sua estréia como como produtor-diretor independente.

A SÉRIE BLONDIE

A série Blondie originou-se das histórias em quadrinhos de Murat (Chic) Young, criada em 15 de setembro de 1930 para o King Features Syndicate. Nas tiras de Chic Young, Blondie Boopadoop era inicialmente uma melindrosa fútil e despreocupada, cortejada por Dagwood Bumstead, filho de um rico industrial. Em 17 de fevereiro de 1933, Blondie casa-se com Dagwood, que é prontamente deserdado pelo pai. O ex-playboy então tem que trabalhar para sustentar a família enquanto Blondie torna-se uma esposa doce e devotada da classe média americana, que assume as rédeas do lar e, com paciência e sensatez, aguenta as palermices do marido, tenta todos os esquemas para reforçar a posição profissional do esposo e se mete em uma série de confusões nos seus esforços para complementar o orçamento familiar.

Penny Singleton, Daisy e Arthur Lake

Esta reviravolta na personalidade de Dagwood e Blondie foi talvez o fator preponderante para a sua popularidade internacional, traduzida em várias línguas e publicada simultaneamente em mais de dois mil jornais do mundo. Nos quadrinhos publicados no Brasil Blondie virou Belinda e Dagwood recebeu o nome de Alarico. Já o Jornal do Comércio publicou Blondie, mantendo o nome original americano.

As aventuras e desventuras do casal Bumstead e sua prole (que incluía o bebê Dumpling, depois chamado de Alexander, quando adolescente, e Cookie, a filha caçula) foram transportadas para o cinema em 28 filmes de orçamento modesto (com duração entre 65 a 70 minutos), produzidos pela Columbia Pictures entre 1938 e 1950.

Blondie era interpretada por Penny Singleton, Dagwood por Arthur Lake, Baby Dumpling e Alexander por Larry Simms e Cookie por Marjorie Kent. Nas cópias distribuídas em nosso país Blondie se chamava Florisbela; Dagwood, Pancrácio. e Baby Dumpling atendia pelo nome de Jujuba. A sensação que se sente vendo os filmes é que Florisbela, Pancrácio, Jujuba são reais, pessoas que podemos encontrar a qualquer momento. Em cada filme da série o cão Daisy, canino de raça híbrida (Cocker Spaniel-Poodle-Terrier), muito bem treinado por Rudd Weathermax e auxiliado por alguns truques de câmera, quase rouba o espetáculo. No Brasil Daisy recebeu o nome de Faísca.

Muito  fiel à sua fonte original, os espetáculos tinham um elenco bem escolhido e suas histórias foram desenvolvidas com  bom humor e ternura, gags verbais e visuais inteligentes e compreensão das excentricidades domésticas, destacando-se ainda outros personagens fixos: J. C. Dithers (Jonathan Hale), o irascível patrão de Dagwood, dono de uma construtora (personagem depois chamado de Mr. Radcliffe, interpretado por Jerome Cowan); o carteiro apressado (Irving Bacon) que sempre colide com Dagwood de manhã; Alvin Fuddle (Danny Mummet), amigo de infância de Dagwood.

Jujuba, Florisbela, Pancrácio e … Rita Hayworth

O elenco foi praticamente o mesmo nos 28 filmes – envelhecendo tanto na tela como na vida real. Sempre que um dos personagens contínuos era interpretado por um ator diferente, sua aparência diferente era cuidadosamente explicada no roteiro. Vários artistas contratados do estúdio podem ser vistos nos filmes da série, entre eles alguns que se tornariam grandes astros como Rita Hayworth e Glenn Ford ou se destacariam em produções A como Larry Parks, Anita Louise, Peggy Ann Garner, Adele Jergens, Janet Blair, Hans Conried, Adele Mara, Lloyd Bridges, James Craig. Em um dos filmes da série, A Família do Barulho, foi utilizado o samba “Solteiro é Melhor” de autoria de Rubens Soares e Felisberto Silva (gravado por Francisco Alves em 1939), Penny Singleton se solta, dançando uma conga com Tito Guizar e Lake (travestido de mulher) toca bateria na banda do ator mexicano.

Penny Singleton (1908- 2003), cujo verdadeiro nome era Mariana Dorothy McNulty, nasceu em Filadélfia, Pennsylvania. Seu pai era um jornalista e seu tio Diretor-Geral dos Correios. Quando criança interpretava illustrated songs (canções ou hinos patrióticos ilustrados por slides coloridos de lanterna mágica, mostrando as letras das canções e poses de modelos representando trechos das mesmas) nos primeiros cinemas e fazia alguns números de mímica. Após cursar a Universidade de Columbia, ela voltou para o teatro, aparecendo como cantora e acrobata em musicais da Broadway. Em meados dos anos trinta assinou contratos com a Warner Bros. e MGM, obtendo papéis insignificantes. Uma boa participação neste período foi em A Comédia dos Acusados / After the Thin Man / 1936 como uma cantora de boate (creditada como Dorothy McNulty). Em 1937 ela se casou com um dentista, Dr. Lawrence Singleton, e pintou seu cabelo preto para conquistar o papel da loura Blondie, quando a atriz Shirley Deane teve que abdicar do mesmo em virtude de doença. Em 1941, Penny já divorciada, casou-se com o produtor Robert Sparks. Desde que entrou para a série Blondie, Penny teve dificuldade de obter outros papéis, mas conseguiu aparecer em A Amazona Apaixonada / Go West Young Lady / 1941, dividindo o estrelato com Glenn Ford e Ann Miller.  Em 1951, quando a série Blondie terminou, Penny voltou para o circuito de boates. Em 1960, tornou-se líder sindical, cumprindo dois mandatos como presidente do American Guild of Variety Artists.

Arthur Lake e Penny Singleton

Arthur Lake (1905 – 1987), cujo verdadeiro nome era Arthur Silverlake Jr., nasceu em Corbin, Kentucky. Seu pai e o tio faziam um número de acrobacia aérea e eram conhecidos como “The Flying Silverlakes”. A mãe de Lake, Edith Goodwin, era atriz. Quando a família mudou do circo para o circuito do vaudeville, Lake e sua irmã juntaram-se a eles. O grupo viajou pelo Sul dos EUA, anunciado como “Family Affair”. Lake apareceu no cinema pela primeira vez em João, o Matador de Gigantes / Jack and the Beenstalk / 1917, produzido pela Fox Corporation. Durante os anos vinte ele participou de comédias curtas da Universal e, nos períodos de folga, trabalhou no vaudeville. O primeiro filme falado dele foi Conquistadores do Ar / Air Circus / 1920. Os espectadores ouviram sua voz pela primeira vez como Harold Astor, o papel principal que ele teve no musical de bastidor Toca a Música / On With the Show! / 1929. Nos anos trinta, os fãs veteranos devem se lembrar de Lake como o ascensorista na divertida comédia sobrenatural A Dupla do Outro Mundo / Topper / 1937. Uma vez que entrou para a série Blondie, ele se tornou tão tipificado pelo personagem abobalhado, que raramente teve oportunidade de aparecer em papéis diferentes como (v. g. Amores de Folga / Sailor´s Holiday / 1944, O Crime do Fantasma / The Ghost That Walks Alone / 1944 e Três é Demais / Three is a Family / 1944). Em 1954 ele participou, com sua esposa Patricia Van Cleve e seus dois filhos, de um telefilme piloto, Meet the Family, baseado em uma idéia de Marion Davies. Lake frequentava a mansão dos Hearst, onde conheceu Patricia que, segundo consta, era filha ilegítima de Marion e do famoso magnata da imprensa.

Em 1943, após os quatorze filmes iniciais, a Columbia perdeu o interesse pela série, porém os espectadores escreveram para o estúdio com tanto entusiasmo, que os responsáveis pela produção resolveram reativá-la em 1945 e ela continuou até 1950.

Blondie na TV

Blondie chegou ao rádio transmitido pela CBS em 1939. A série radiofônica apresentava todos os elementos familiares aos leitores da história em quadrinhos e aos espectadores da série cinematográfica e obteve o mesmo sucesso. No ar foi ouvida de 1939 a 1951 com as vozes de Penny Singleton e depois sucessivamente Ann Rutherford, Alice White e Patricia Van Cleve como Blondie; Arthur Lake como Dagwood; Leone Ledoux (especialista em papéis infantís) como Baby Dumpling e Cookie quando crianças; Larry Simms e Bobby Ellis, Jefffrey Silver como Alexander; Marlene Aames e depois Norma Jean Nilsson, Joan Rae como Cookie; Hanley Stafford como J.C. Dithers; Dix Davis como Alvin Fuddle, etc. Cada programa começava com a famosa “Uh-uh-uh- don´t touch that dial! Listen to …  (Nâo toque naquele botão de contrôle! Ouça – Blondie!). Voz de Dagwood: B-l-o-o-o-o-n-d-i-e!!! Uma sequência sempre repetida no programa de rádio era aquela de Mr. Dithers gritando por Dagwood “Come into my office” (Entre no meu escritório) contrapontuada por um obbligato de trombeta em surdina.

Na televisão, Blondie mereceu duas séries. A primeira, transmitida pela NBC, tinha 26 episódios e foi ao ar de janeiro a junho de 1957 com Pamela Britton como Blondie, Arthur Lake como Dagwood, Florenz Ames como J. C. Dithers, Ann Barnes como Cookie e foi ao ar de setembro de 1968 e janeiro de 1969 de 1968 (exceto o 14º que não chegou a ser programado) com Patricia Harty como Blondie, Will Hutchins como Dagwood, Pamelyn Ferdin como Cookie, Peter Robbins como Alexander, Jim Backus como J.C. Dithers., etc.

FILMOGRAFIA

Dirigidos por Frank Strayer:

1938 Florisbela / Blondie.

1939 Florisbela Secretária / Blondie Meets the Boss

Florisbela em Férias / Blondie Takes a Vacation.

Florisbela Domestica o Baby / Blondie Brings Up Baby

1940 Florisbela Quer o Divórcio / Blondie On a Budget

Florisbela Boa-Vida/ Blondie Has Servant Trouble

Cupido Perigoso / Blondie Plays Cupid

1941 Família do Barulho / Blondie Goes Latin

Bancando a Grã-fina / Blondie in Society

1942 Blondie Goes to College

Um Papai em Apuros / Blondie´s Blessed Event

Esposas em Pé de Guerra/ Blondie for Victory

1943  It´s a Great Life

Footlight Glamour

Dirigidos por Abby Berlin:

1945 Donativo Desastroso / Leave it to Blondie

Life with Blondie.

1946 Blondie Knows Best

Blondie´s Lucky Day

1947 Blondie’s Big Moment

Blondie’s Holiday

Bondie in. the Dough

Blondie´s Anniversary

Blondie’s Reward

1948 Blondie ´s Secret

1949 Blondie’s Big Deal

Blondie Hits the Jackpot

1950 Blondie’s Hero.

Beware of Blondie

O CINEMA DE MARCEL PAGNOL E SACHA GUITRY

Menosprezados durante muito tempo pelos críticos e pouco conhecidos pelo público brasileiro (todos os filmes de Pagnol, menos um, não foram exibidos comercialmente em nosso país e dos 27 filmes de Guitry apenas 9 passaram em nossas telas), eles foram recentemente reabilitados graças a várias retrospectivas de suas obras e uma maior divulgação por meio da televisão e dos dvds; hoje, são considerados grandes cineastas.

MARCEL PAGNOL

Marcel Pagnol (Aubagne, 1895 – Paris, 1974) defendeu a causa do “cinema teatral” e expôs os princípios que ele chamou de Cinematurgie na revista Les Cahiers du Film. Na sua síntese: “O filme falado devia reinventar o teatro”. Os críticos diziam que Pagnol não fazia cinema mas “teatro em conserva, porém ele sabia que fazia um cinema à sua maneira (e com o seu dinheiro, pois, a partir de certa época, abriu a sua produtora, o seu estúdio e até o próprio cinema).

Seguindo os passos do pai, Pagnol exerceu a profissão de professor de inglês nos arredores de Marselha. Em 1922 lecionou no Lycée Condorcet em Paris, mas logo abandonou o magistério para se dedicar exclusivamente ao teatro. O sucesso de Topaze, e depois de Marius, revelou ao público francês que ele era um escritor de verdade. Em seguida vieram Fanny, César e finalmente Pagnol decidiu entrar no novo mundo do filme sonoro. Marius / 1931 e Fanny / 1932, os primeiros filmes baseados em suas peças, foram respectivamente realizados, sob sua orientação, por Alexander Korda e Marc Allégret. Mas ele próprio completaria com César / 1936, a trilogia marselhesa, comédias de costumes impregnadas de um calor humano inimitável, que asseguraram a glória de seu autor e de seus intérpretes (Raimu – César, Pierre Fresnay – Marius, Orane Demazis – Fanny, Charpin – Panisse).

Em 1933 Pagnol estreou na direção com Le Gendre de Monsieur Poirier, adaptação de uma comédia de costumes de Emile Augier e Jules Sandeau e logo depois Angèle e Joffroi, ambos realizados em 1934, iniciaram uma série de filmes baseados nos contos e novelas de Jean Giono, destacando-se, Regain / 1937 e A Mulher do Padeiro / La Femme du Boulanger / 1938. Servindo-se de atores excepcionais, tendo à frente Raimu e Fernandel, Pagnol mostrava os habitantes do Midi tais como eram, gente simples de espírito franco e bem-humorado com um gosto especial pelas réplicas espirituosas, e os fazia falar a própria língua, com a impetuosidade verbal e o sotaque que era um dos encantos do pequeno mundo provençal, embora em certos trechos desses filmes eles falassem demais. Ninguém descreveu melhor o universo campestre, recriado em cenários naturais com simplicidade e absoluta fidelidade, o que levou De Sica e Rosselini a reconhecê-lo como inventor do neorrealismo italiano.

Outros filmes de Pagnol produzidos nos anos 1930 (Merlusse / 1935; Le Schpountz / 1938) ou nas décadas posteriores (La Fille du Puisatier / 1940; Naïs / 1945; Manon des Sources / 1952) têm algum encanto por seus tipos humanos sobretudo o palerma que acredita ser um artista de Le Schpountz e o corcunda comovente de Naïs, duas admiráveis interpretações de Fernandel; Manon no entanto é cansativo com suas quatro horas de projeção e verbosidade incontida. Quanto aos demais, Cigalon / 1935 é uma fábula provençal muito palavrosa; Topaze / 1936 vale apenas pela interpretação de Fernandel; La Belle Meunière / 1948 é uma experiência frustrada inclusive na aplicação do processo de cor Rouxcolor testado na ocasião; Les Lettres de Mon Moulin / 1954, último filme do cineasta baseado em quatro contos de Alphonse Daudet, peca pela loquacidade e estaticidade.

Em 1957, Pagnol publica suas memórias de infância, “La Gloire de Mon Père” e “Le Chateau de Ma Mère” (transportadas para o cinema anos em 1990 por Yves Robert). Em  1986, Claude Berri filmou “L’Eau des Collines”, epopéia romanesca em duas  partes,  “Jean de Florette“ e “Manon des Sources”, espetáculo esplêndido que reproduz magnificamente o universo do cineasta com atuações notáveis de Gerard Depardieu, Yves Montand e Daniel Auteuil. Pagnol reuniu sob o título “L’Eau des Collines” o roteiro de seu filme Manon des Sources (tema da segunda parte do livro) e Jean de Florette, (tema da primeira parte, a história do corcunda, pai de Manon, sua chegada nas colinas com a mulher e a filha, sua obstinação, seu calvário, sua ruína e sua morte).

No meu livro “Uma Tradição de Qualidade: O Cinema Clássico Francês 1930-1959” (Editora PUC / Contraponto, 2010) incluí três filmes de Marcel Pagnol e dois de Sacha Guitry entre os 150 filmes representativos do cinema clássico francês:

MARIUS

Pierre Fresnay e Orane Demazis em Marius

 

O jogo de cartas

No velho porto de Marselha, o Bar de la Marine é mantido por César (Raimu), que ali vive com seu filho Marius (Pierre Fresnay). Honorine (Alida Rouffe), vizinha e comerciante, tem uma filha, Fanny (Orane Demazis), apaixonada por Marius. Porém o rapaz só sonha com o mar e com os grandes veleiros, que poderão levá-lo para lugares longínquos. Panisse (Fernand Charpin), viúvo e rico, embora bem mais velho que Fanny, quer se casar com ela. Fanny torna-se amante de Marius, mas constata a amargura dele, contrariado nos seus projetos de evasão, e o incita a se engajar como marinheiro em um navio que está partindo. Primeiro exemplar da trilogia Marius-Fanny-Céar, comédias de costume meridionais que revelaram o mundo de Pagnol com sua humanidade simples e calorosa, seu folclore marselhês, imposto na tela pelo texto e por atores maravilhosos. A cena na qual Raimu tenta trapacear no jogo de cartas, dizendo para seu parceiro “tu me partes o coração” é apenas um dos vários momentos antológicos do espetáculo, filmado em exteriores bastante fotogênicos. Pierre Leprohon tinha razão:  o teatro convinha a Pagnol por causa do seu gôsto pelo verbo, pela eloquência, mas o cinema também lhe convinha porque o liberava da cena, do cenário, do pano de fundo. Pagnol precisava do ar livre, do sol, do espaço. O cinema foi para o jovem autor o desejo de evasão que atormentava Marius.

REGAIN

Fernandel e Orane Demazis em Regain

Orane Demazis e Fernandel

Aubignane é uma aldeia perdida na montanha, que está morrendo. Seus últimos habitantes são Panturle (Gabriel Gabrio), o caçador, e La Mamèche (Marguerite Moreno), uma velha italiana meio louca. Esta sugere a Panturle que procure uma mulher, a fim de dar vida às ruínas. Chegam Arsule (Orane Demazis), uma jovem miserável, e Gédémus (Fernandel), um amolador de facas itinerante sórdido e egoísta. Arsule abandona Gédémus e vai morar com Panturle. E enquanto La Maméche morre despedaçada pelas aves de rapina, Panturle e Arsule, unidos pelo amor e ardor pelo trabalho, vão enfim regenerar aquele solo árido.

História de uma aldeia abandonada por seus habitantes que vai reviver graças ao amor, à coragem e à esperança de um casal de deserdados. Os símbolos são simples e diretos. O sulco nos campos, o nascimento de uma criança, o azul do céu, a fecundidade do solo … a vida ganhando da morte. Panturle e Arsule são personagens de coração puro que vivem no ritmo das estações em comunhão com uma Provença bucólica e profundamente verdadeira. Uma cena particularmente comovente e poética ocorre quando os amigos das aldeias vizinhas vêm em ajuda ao casal: uns lhe emprestam o trigo, um outro a relha do arado, que é o seu único bem na terra.

A MULHER DO PADEIRO

Raimu e Ginette Leclerc em A Mulher do Padeiro

Cena de A Mulher do Padeiro

Aimable Castanet (Raimu), o novo padeiro da aldeia de Sainte-Cécile, na Provença não tem rival para fazer um bom pão branco. Um dia, sua mulher, Aurélie (Ginette Leclerc), foge com Dominique (Charles Moulin), o pastor de ovelhas do marquês de Monelles (Fernand Charpin). O infortúnio do padeiro a princípio diverte a comunidade, mas Aimable, desesperado, não tem mais ânimo para o trabalho. Ele se embriaga, abandona o forno e quer se enforcar. Os aldeões então se organizam para trazer a infiel Aurélie de volta.

Crônica camponesa tão rica de verdade humana quanto os outros filmes provençais do diretor. É um estudo preciso das reações que a infelicidade provoca em um homem simples do coração. O filme trata também da solidariedade de um grupo, que estava oculta e se manifesta em razão do desespêro pela inação do padeiro. Toda a intriga gravita em torno de Raimu e ele nos proporciona uma de suas melhores composições: vejam a longa cena de embriaguez na qual ele ri, canta em italiano, diz obscenidades, se afoga em lágrimas e adormece, evocando com lirismo o dor dos braços de sua mulher. Fica-se com vontade de chorar quando Aimable, sem ousar se dirigir a Aurélie no retorno de sua fuga, expressa toda a sua dor, dirigindo-se à gata, que também fugira.

SACHA GUITRY

Sacha Guitry

Filho do ator de teatro Lucien Guitry, Alexandre-Pierre Georges “Sacha” Guitry (São Petersburgo, 1885 – Paris,1957) passou a infância entre celebridades artísticas (Claude Monet, Auguste Renoir, Sarah Bernhardt, Anatole France etc.), que figuraram no seu curta-metragem amador Ceux de Chez Nous, realizado em 1915. No ano seguinte, estreou os palcos e depois se tornou um ator aclamado pelo público e um dos dramaturgos mais fecundos e espirituosos do teatro de boulevard parisiense. Apesar de seu ceticismo inicial com relação ao cinema falado, Guitry ingressou nesse meio com Pasteur / Pasteur / 1935, adaptação palavra por palavra de sua peça sobre o ilustre sábio francês. Desde então, continuou escrevendo, dirigindo e interpretando alguns dos filmes mais inventivos e livres das regras sacrossantas da  “gramática” cinematográfica, como Bonne Chance /  1935; O Novo Testamento / Le Nouveau Testament / 1936; O Romance de um Trapaceiro / Le Roman d´um Tricheur / 1936; Mon Père Avait Raison / 1936; Vamos Sonhar / Faisons um Rêve /1936; sua primeira fantasia histórica,  As Pérolas da Corôa / Les Perles de la Couronne / 1937; A Palavra de Cambronne / Le Mot de Cambronne / 1937, Madame e seu Mordomo / Desiré /1937; Remontons les Champs Elysées / 1938; Quadrille / 1938; Eram Nove Solteirões / Ils étaient Neuf Celibataires / 1939.

A liberdade com a qual Guitry lida com as formas cinematográficas é espantosa. Seus créditos vivos, espontâneos nos quais ele apresenta seus atores e cita cada um dos técnicos, por exemplo, são algo de original nos anais da Sétima Arte. O teatro-cinema de Guitry é também interessante pela crítica de costumes corrosiva presente na maioria de seus filmes e pela participação nos seus filmes de intérpretes admiráveis bastando mencionar Fernandel, Raimu e Michel Simon além dele próprio com sua dicção característica. É verdade que ele gostava de se ouvir falando e falava muito, mas sem dúvida com que elegância de espírito!

Dos grandes diretores veteranos que ficaram na França durante a Ocupação, alguns se sentiram à vontade no novo regime. Sacha Guitry, que circulou nesses anos negros como vedete na vida mundana, onde se misturavam celebridades parisienses e os uniformes dos oficiais alemães, realizou três filmes nesta época: Le Destin Fabuleux de Desirée Clary / 1941; Donne-moi tes Yeux / 1943 e La Malibran / 1943. Com a libertação da França foi preso sob a acusação de colaboracionismo, tendo sido posteriormente inocentado. Depois da guerra, ainda na década de quarenta, ele nos ofereceu: Le Comédien / 1948; Le Diable Boiteux / 1948; Aux Deux Colombes / 1949; Toâ / 1949.

Nos anos cinquenta, continuou trabalhando com a sua habitual liberdade de expressão, surgindo então: Le Trésor de Cantenac / 1950; Tu m´as Sauvé la Vie / 1950; Debureau / 1951; Adhémar ou Le Jouet de la Fatalité / 1951; La Poison / 1951; Je l´ai été Trois Fois / 1952; La Vie d´un Honnête Homme / 1953; suas três versões da História da França, Se Versailles Falasse / Si Versailles m ´était Conté / 1954, Napoleão / Napoléon / 1955 e Si Paris nous était Conté / 1956; Amantes e Ladrões / Assassins et Voleurs / 1957; Les Trois font la Paire / 1957; La Vie a Deux / 1958.

La Poison e La Vie d´un Honnête Homme, ambos interpretados por Michel Simon, se destacam. O primeiro filme instala uma situação dramática no centro da qual está um homem que, para se desembaraçar de seu “veneno”, ou seja, sua esposa, consulta um advogado, antes de assassiná-la, para saber qual a melhor maneira de pôr fim aos dias de sua companheira, e obtém efetivamente sua absolvição pelo crime cometido. No segundo filme, Simon interpreta dois irmãos gêmeos que, após duas vidas separadas, se reencontram. O irmão pobre e marginal, mas despreocupado e feliz morre nos braços do irmão rico e mesquinho, mas infeliz, sem o amor até de sua família; daí a idéia, para este, de mudar de vida assumindo a identidade do outro. Excelente oportunidade para verificar a mentira e a superficialidade de sua antiga existência.

Guitry não era o cineasta de um dogma, ou de um sistema; ele era, antes de tudo, um experimentador. Sua carreira aborda ou inventa os gêneros: biografias, crônicas subjetivas, fantasias históricas, peças filmadas, melodrama e documentário. Como escreveu Jean Tulard (Dictionnaire du Cinéma: les réalisateurs, 2003), nada resume melhor a obra filmada de Sacha Guitry como a definição que ele dava do cinema: “É uma lanterna mágica. Dela não deveriam ser excluídas a ironia e a graça “.

O ROMANCE DE UM TRAPACEIRO.

Sacha Guitry em O Romance de um Trapaceiro

Jacqueline Delubac e Sacha Guitry em O Romance de um Trapaceiro

Por ter roubado oito centavos do cofre de seus pais, um menino fica probido de comer cogumelos no almoço. Os onze membros de sua família morrem envenenados. Daí ele conclui que deve a vida à sua desonestidade, uma vez adulto (Sacha Guitry), torna-se croupier e depois trapaceiro profissional. O homem que lhe salvou a vida na Primeira Guerra mundial faz dele um jogador, e o nosso herói perde jogando honestamente tudo o que havia ganho trapaceando.

Em vez de decupar seu livro em cenas dialogadas, Sacha Guitry teve a idéia de se servir do texto – inteiramente escrito na primeira pessoa – como um comentário, as imagens vindo simplesmente em apoio às palavras. Somente uma vez o herói, que está escrevendo suas memórias, interrompe a narração para conversar cm uma velha conhecida. O autor, com sua voz nasal e modulada, fala sem parar, mas as idéias que exprime são inteligentes, espirituosas e vêm sempre acompanhadas de achados visuais muito interessantes. No filme só há um ponto de vista: o seu. O cinema de Guitry é um cinema singular, descontraído, que esperou o tempo de uma geração para ser reconhecido.

El: Jacqueline Delubac (a mulher) / Marguerite Moreno (a aventureira) / Rosine Deréna (a ladra) / Pauline Carton (Mme. Moriot,a tia) / Fréhel (a cantora) / Sacha Guitry (o trapaceiro  Serge Grave (ele, garoto)/ Pierre Assy( (ele, rapaz)/ Henri Pfeiffer (M. Charbonnier) / Pierre Labry (M. Moriot, Gaston Dupray (garçom do café).

AS PÉROLAS DA CORÔA

Jacqueline Delubac e Sacha Guitry em As Pérolas da Coroa

Guitry dirige Arletty em As Pérolas da Coroa

Um escritor francês, Jean Martin (Sacha Guitry), um ajudante-de-ordens do rei da Inglaterra, John Russell (Lyn Harding), e um camareiro do papa, Giovanni Riboldi (Enrico Glori), evocam a história de sete pérolas valiosas, que o papa Clemente VII reuniu para dar de presente de casamento à sua sobrinha Catarina de Médicis, das quais quatro figuram na coroa real britânica. Percebendo que ignoram tudo a respeito das outras três pérolas, eles unem seus esforços e descobrem o paradeiro das jóias que estão faltando.

Sacha Guitry revive, do século XV até à época contemporânea, personagens famosos da história, interpretados por renomados atores, alguns vivendo mais de um papel. Com essa obra, ele aborda pela primeira vez e simultaneamente, dois gêneros que lhe valeram seus maiores sucessos comerciais: o filme de grande espetáculo e a fantasia histórica. Dotado de fertilíssima imaginação e fina ironia, Guitry mistura realidade e ficção, comédia e drama, comentários espirituosos e frases célebres (mais ou menos autênticas), ritmo rápido e lento, além de abolir as fronteiras geográficas e de tempo. Mas o que aconteceu com as pérolas? A última caiu no mar e reencontra seu habitat inicial em uma ostra aberta.

El: Jacqueline Delubac (Françoise Martin, Maria Stuart, Josefina de Beauharnais / Yvette Pienne (Elisabeth, Maria Tudor e rainha Vitória idosa) / Arlety (rainha Etíope) / Simone Renant (Madame Du Barry) / Barbara Shaw (Ana Bolena) / Marguerite Moreno (Catarina de Médicis e Imperatriz Eugenia idosa) / Germaine Aussey (Gabrielle d´Estrées) / Raymonde Allain (Imperatriz Eugenia) / Lisette Lanvin (rainha Vitória jovem) /  Cecile Sorel (a Francesa do Grande Século) / Huguette Duflos (rainha Hortensia) / Pauline Carton (uma camareira) / Rosine Dérean (uma jovem e Catarina de Aragão) / Renée Saint-Cyr (Madeleine de la Tour d´Auvergne) /  Lynn Harding (Henrique VIII e ajudante de ordens do rei da Inglaterra) / Sacha Guitry (Jean Martin, Francisco I , Barras, Napoléon III) / Raimu (o meridional) / Jean-Louis Barrault (Bonaparte) / Claude Dauphin (prisioneiro italiano) / Marcel Dalio (abissínio) / Robert Pizani (Talleyrand), etc.

A SÉRIE O CRIME NÃO COMPENSA

Uma série de shorts de dois rolos produzida pela MGM entre 1933 e 1947, O Crime Nâo Compensa / Crime Does Not Pay, recebeu várias indicações ao Oscar, conquistando duas estatuetas da Academia e deu chance para atores e diretores aprenderem seu ofício. A tônica era a denúncia de crimes e desonestidades que afetaram a vida dos cidadãos americanos e a demonstração da eficiência do trabalho dos policiais. Muitas das histórias foram escritas por um policial aposentado, Karl Kamb, e mereceram o aplauso das autoridades, inclusive do próprio chefão do FBI, J. Edgar Hoover.

Os assuntos abordados na série incluíam todos os tipos de delitos e crimes porém, com exceção de um short que expunha a exploração nacional de máquinas de caça-níqueis, nenhuma referência foi feita ao crime organizado.  A partir dos anos 40 a série voltou-se para a propaganda de guerra, alertando contra os contrabandistas estrangeiros, operadores do mercado negro, espiões nazistas e a sabotagem

Jack Chertok recebe seu Oscar das mãos de Walt Disney

Produzida inicialmente por Jack Chertok, O Crime Não Compensa beneficiou-se do uso de cenários e material filmado das produções mais custosas da MGM bem como da possibilidade de utilização de jovens atores contratados (v. g. Robert Taylor, Van Johnson, Laraine Day, Cameron Mitchell) e diretores novatos (v. g. Jacques Tourneur, Fred Zinnemann, David Miller, Joseph Losey) todos no limiar de carreiras de sucesso. A pedido do Departamento de Justiça, um curta de dois rolos dirigido por Jacques Tourneur, foi expandido para sete rolos e se tornou um longa-metragem sobre as prisões federais, intitulado Escravos do Mal / They All Come Out / 1939.

Em muitos episódios da série um ator identificado como “Seu Repórter Criminal da MGM”, apresentava um juiz ou um capitão de polícia ou um agente do FBI, que dava uma palestra diretamente para o público.

No seu apogeu, meados e final dos anos trinta, os shorts foram considerados tão eficientes na contenção do crime, que a Metro pôde se orgulhar não só do endosso de Hoover e do procurador geral, mas também dos dois prêmios da Academia para The Public Pays em 1936 e Torture Money em 1937.

FILMOGRAFIA

1935.

Tesouro Enterrrado

Tesouro Enterrado / Buried Loot. Dir: George B. Seitz. Robert Taylor, Robert Livingston, Richard Tucker, James Ellison, Al Hill. O bancário Al Douglas (Robert Taylor) comete um desfalque, e enterra o produto do furto. Em seguida prossegue com seu plano de confessar o crime, dizer que perdeu todo o dinheiro no jogo, cumprir sua pena e recuperar a quantia enterrada, quando for libertado.

Alibi Infalível / Alibi Racket. Dir: George B. Seitz. Edward Norris, Al Bridge, Granville Bates, Eddie Dunn, Irene Hervey. O gângster Joe Rinelli (Edward Norris), acusado de um assassinato, tem um álibi perfeito: ele estava no cinema na noite do crime e a lanterninha e o gerente são testemunhas a seu favor.

Crime no Deserto / Desert Death. Dir: George B. Seitz. Raymond Hatton, Harvey Stephens, Erville Alderson, Richard Carlson, John Hyams. O velho George Lesh (Raymond Hatton) mata seu primo no deserto, assume sua identidade e tenta receber a indenização do seguro.

Castigos de Thelma / A Thrill for Thelma. Dir: Edward L. Cahn. Irene Hervey, Robert Livingston, Robert Warwick, William Tannen, Alice Moore. Jovem presidiária, Thelma Black (Irene Hervey), conta como foi parar na cadeia. Desejando uma vida de luxo e riqueza, casou-se com Steve Black (Robert Livingston), sem saber que ele era um assaltante. Mas gostou da riqueza fácil associada à emoção de assaltar pessoas.

Covardes do Volante / Hit and Run Driver Dir: Edward L. Cahn. Morgan Wallace, Carl Stockdale, Jonathan Hale, Irene Hervey, William Tannen. Motorista embriagado atropela um casal de jovens em uma estrada deserta e tenta encobrir o incidente.

1936

Plano Perfeito

Plano Perfeito / Perfect Set-Up. Dir: Edward L. Cahn. Allen E. Saunders (William Henry), jovem e brilhante engenheiro, mas frustrado na sua profissão, usa seus conhecimentos técnicos para ajudar um amigo a desmontar alarmes, tornando-se cúmplice de seus roubos.

Foolproof. Dir: Edward L. Cahn. Niles Welch, Alonzo Price, Donrue Leighton, William Tannen, John Marsden. O casal Anderson é encontrado amarrado, anestesiado e roubado em sua residência, porém o marido também havia sido estrangulado. A polícia acaba descobrindo a trama entre a mulher e seu amante para assassinar seu esposo.

The Public Pays

The Public Pays. Dir: Errol Taggart. Richard Alexander, Barbara Bedford, Harry C. Bradley, Russ Clark, John Dilson. Extorcionistas exigem propina de empresas de laticínios de uma pequena cidade.

1937

Torture Money

Torture Money. Dir: Harold S. Bucquet. Edwin Maxwell, George Lynn, Murray Alper, King Baggot, Raymond Hatton. Quadrilha encena acidentes de carro, usando inclusive testemunhas falsas, para receber indenização pelo sinistro.

It May Happen to You. Dir: Harold S. Bucquet. J. Carroll Naish, King Baggot, William Bailey, Barbara Bedford, Frank Dae. Bando sequestra caminhões de firmas de empacotamento de carne e vende o produto roubado para açougues.

Soak the Poor. Dir: Harold S. Bucquet. Leon Ames, Leslie Fenton, Ted Billings, John Butler, Byron Foulger. Gângsteres forçam donos de pequenas mercearias a transferir para eles por uma fração de seu valor, os tíquetes-refeição distribuídos para os famintos ou necessitados durante a Depressão.

Give Till It Hurts. Dir: Felix Feist. Janet Beecher, Clay Clement, Howard Hickman, King Baggot, Virginia Brissac. Embusteiros fingem-se de filantropos, a fim de angariar fundos para uma clínica médica, e ficam com o dinheiro arrecadado.

Behind the Criminal. Dir: Harold S. Bucquet. Edward Emerson, Walter Kingsford, Joe Sawyer, Anna Q. Nilsson, John Butler. Advogado inescrupuloso suborna testemunhas, para cometerem perjúrio, com a finalidade de forjar um álibi para seus clientes criminosos.

1938

O Preço da Segurança / What Price Safety. Dir: Harold S. Bucquet. John Wray, George Huston, Lionel Royce, John Butler, Harvey Clark. Gângsteres se intrometem no negócio de construção civil, utilizando material de qualidade inferior, a fim de obterem maior lucro, pondo em perigo a segurança pública.

Miracle Money. Dir: Leslie Fenton. John Miljan, Claire DuBray, Frederick Vogeding, Robert Middlemass, Boyd Crawford. Médico charlatão convence as pessoas de que seu  Raio Volta cura o câncer.

Come Across. Dir: Harold S. Bucquet. Bernard Nedell, Donald Douglas, Bernardene Hayes, Rita LeRoy, Barbara Bedford. Ladrão de banco gasta quase todo o produto do assalto, para se esconder da polícia com a ajuda de “amigos” do mundo do crime, porém  estes o abandonam quando o dinheiro acaba. 

Nasce um Criminoso / A Criminal is Born. Dir: Leslie Fenton. George Breakston, David Durand, Norman Phillips, Warren McCollum, Joseph Crehan. Quatro adolescentes da classe média, negligenciados por seus pais, cometem uma série de contravenções, chegando finalmente ao crime.

Tudo se Descobre / They´re Always Caught. Dir: Harold S. Bucquet. Stanley Ridges, John Eldredge, Charles Waldron, Louis Jean Heydt, May Beatty. A importância da polícia científica para prender criminosos e como um detalhe mínimo pode levar a uma captura. Este short foi indicado ao Oscar.

They´re Always Caught

Pense Primeiro / Think It Over. Dir: Jacques Tourneur. Lester Mathews, Dwight Frye, Donald Barry, Robert Emmet Kane, Frank Orth. Uma gangue incendeia lojas que estão à beira da falência e cobram dos proprietários uma percentagem sobre a indenização pelo seguro.

Desatinos da Juventude / The Wrong Way Out. Dir: Gustav Machaty. Linda Terry, Kenneth Howell, William Bailey, George Meeker, Esther Muit. Desprezando os conselhos de seus respectivos pais, dois jovens se casam e fogem, porém logo percebem como é difícil ganhar a vida. Quando surge uma oportunidade, eles enveredam pelo caminho do crime.

1939

Dinheiro de Empréstimo / Money to Loan. Dir: Joseph M. Newman. Alan Dinehart, Paul Guilfoyle, Truman Bradley, Tom Collins, Warren McCollum.  As atividades de um agiota corrupto que cobra juros exorbitantes e usa a extorsão e a fraude, para obter o máximo de lucro nos seus empréstimos.

Enquanto a América Dorme / While America Sleeps. Dir: Fred Zinnemann. Dick Purcell, Roland Varno, Frederick Vogeding, Egon Brecher, Lenita Lane. Como os espiões operam dentro dos Estados Unidos.

Agência de Empregados / Help Wanted. Dir: Fred Zinneman. Tom Neal, Jo Ann Sayers, Arthur Hohl, Truman Bradey, Clem Bevans. Trabalhador temporário (Tom Neal) ajuda o promotor público a pôr um fim nas atividades de uma agência de emprego, criada por uma quadrilha, para explorar a mão de obra não qualificada.

É Melhor Refletir / Think First. Dir: Roy Rowland. Laraine Day, Ann Morris, Jo Ann Sayers, Marc Lawrence, Sara Haden. Margie Smith (Laraine Day) trabalha como garçonete em um restaurante drive in. Um amigo mostra como é fácil roubar e ela envereda pelo caminho do crime, porém acaba sendo presa e processada.

Drunk Driving. Dir: David Miller. Dick Purcell, Jo Ann Sayers, Richard Lane, King Baggot, Granville Bates. A tragédia que pode ocorrer quando alguém dirige um carro após ter ingerido bedida alcoólica. Este short foi indicado ao Oscar.

1940

Pound Foolish. Dir: Felix Feist. Neil Hamilton, Lynne Carver, Victor Varconi, Gertrude Michael, John Hamilton. As tentativas de pessoas ricas para evitar o pagamento de impostos aduaneiros.

Know Your Money. Dir: Joseph M. Newman. Dennis Moore, Noel Madison, Adrian Moriss, John Wray, William Edmunds. Esforços do Serviço Secreto para descobrir dinheiro falsificado e processor os responsáveis por este crime.

Jack Pot. Dir: Roy Rowland. Tom Neal, Ann Morris, Jean Rouverol, Edwin Maxwell, Joe Downing. Como a exploração ilegal de caça-níqueis feita por gângsteres alimenta o crime organizado.

Women in Hiding

Women in Hiding. Dir: Joseph M. Newman. Marsha Hunt, C. Henry Gordon, Jane Drummond, Mary Bovart, Granville Bates. Perigos que mulheres grávidas correm procurando clínicas de maternidade inseguras.

Buyer Beware. Dir: Joseph M. Newman. Charles Arnt, Hugh Beaumont, Margaret Bert, Egon Brecher, Charles D. Brown. Comerciantes de varejo negociam com mercadorias roubadas.

Soak the Oak. Dir: Sammy Lee. Ralph Morgan, Cathy Lewis, George Lessey, George Cleveland, Hugh Beaumont. Estelionatários assumem um movimento honesto de arrecadação de fundos de pensão para idosos. 

You the People. Dir: Roy Rowland. C. Henry Gordon, Byron Shore, Paul Everton, Matt McHugh, Raymond Bailey. Chefão do crime organizado de uma grande cidade usa práticas ilegais para garantir a reeleição de um prefeito corrupto.

1941

Respect the Law. Dir: Joseph M. Newman. Moroni Olsen, Richard Lane, Frank Orth, William Forrest, Hugh Beaumont. Infratores menores podem causar mais danos do que grandes criminosos. Em uma cidade costeira o dono de um cais suborna um inspetor sanitário, para que ignore uma infestação de ratos, ocasionando um surto de praga.

 Caminho Proibido / Forbidden Passage. Dir: Fred Zinnemann. Addison Richards, Wolfgang Zilzer, Hugh Beaumont, George Lessey, George Cleveland. Contrabandistas convencem imigrantes desesperados aguardando a entrada no país, de que têm influência sobre o Serviço de Imigração, e poderão ajudá-los, desde que paguem uma determinada taxa. Este short foi indicado ao Oscar.

Coffins on Wheels. Dir: Joseph M. Newman. Darryl Hickman, Tommy Baker, Allan Lane, Cy Kendall, Raymond Bailey. Revendedores de carros sem escrúpulos negociam com automóveis defeituosos e perigosos, enganando os compradores e causando tragédias. 

Sucker List. Dir: Roy Rowland. Lynne Carver, John Archer, Noel Madison, George Cleveland, Norman Willis.  Espertalhões vendem para pessoas endividadas indicações falsas sobre um vencedor certo em determinado páreo de uma corrida de cavalos, tirando o pouco dinheiro que ainda lhes resta.

1942

Unidos na Defesa / For the Common Defense. Dir: Allan Kenward. Van Johnson, Horace McNally, Steven Geray, John Litell, Johnny Arthur. Agente do governo americano viaja para o Chile e a Colombia e, com a ajuda das autoridades locais, frustra um plano do Eixo, para transportar munição roubada.

 Avante Navios da Vitória / Keep´em Sailing. Dir: Basil Wrangell. Jim Davis, Ian Keith, George Travell, Frederick Worlock, Hugh Beaumont. Agente do FBI infiltra-se em uma rede de sabotagem, para investigar a destruição de navios cargueiros americanos.

1943

Plano de Destruição / Plan for Destruction. Dir: Edward L. Cahn. Lewis Stone (narrador), Frank Reicher, George Lynn, George Hoagland, Frederick Giermann.  Os conceitos geopolíticos do Professor Karl Haushofer (Frank Reicher) e sua influência sobre Rudolf Hess (George Lynn).

1944

Patrulhando o Espaço

Patrulhando o Espaço / Patrolling the Ether. Dir: Paul Burnford. Emmett Vogan, Hazel Brooks, Marc Crammer, Richard Crane, Donald Curtis. Radio amadores ajudam a Federal Communications Commission a monitorar as transmissões de radio dos espiões nazistas.

Easy Life. Dir: Walter Hart. Bernard Thomas, Steven Geray, Willie “Bill” Phillips, William Challee, Willian Tannen. Aluno que abandonou o curso secundário descobre que seguir uma vida de crime não era o que ele pensava.

Dark Shadows. Dir: Walter Hart, Paul Burnford. Henry O´Neill, Morris Ankrum, Paul Guilfoyle, Arthur Space, William Tannen. Psiquiatra é convocado para ajudar a polícia a capturar um assassino.

1945

Fall Guy

Fall Guy. Dir: Paul Burnford. Leon Ames, Marjorie Davies, Morris Ankrum, Paul Langton, Will Wright. Caixa de banco dá um desfalque, mata um fiscal, e incrimina pessoa inocente.

The Last Installment. Dir: Walter Hart. Cameron Mitchell, Walter Sande, George Lynn, Herbert Lytton, William “Bill” Phillips. Jovem criminoso fica fascinado pela história da vida de um gângster dos anos vinte publicada por uma revista, ignorando que seu herói teve um fim trágico

Phantoms, Inc. Dir: Harold Young. Frank Reicher, Ann Shoemaker, Arthur Shields, Dorothy Adams, Ralph Dunn.  Mãe ansiosa por informações sobre seu filho desaparecido no campo de batalha, entrega todas suas economias a um charlatão, que se faz passar por espiritualista.

A Gun in his Hand

A Gun in His Hand. Dir: Joseph Losey. Anthony Caruso, Tom Trout, Richard Gaines, Hugh Beaumon, William Challee. Homem entra para a força policial, pensando que agora tem um álibi perfeito para uma vida de crimes. Este short foi indicado ao Oscar.

Purity Squad. Dir: Harold F. Kress. Morris Ankrum, William Bailey, Paul E. Burns, Edward Earle, Dick Elliott. O esforço da U.S. Food and Drug Administration para garantir que medicamentos sejam plenamente testados antes de serem vendidos aos consumidores.

1947

Luckiest Guy in the World. Dir: Joseph M. Newman. Barry Nelson, Eloise Hardt, Milton Kibbee, Harry Cheshire, George Travell.  O destino dita a vida de um corretor de seguros viciado em corridas de cavalo, que comete vários crimes. Por sorte tem sempre um álibi perfeito, ficando sempre livre e intocável pela lei, mas acaba morrendo, atingido por uma bala perdida, destinada a outra pessoa por um crime, que nada teve a ver com ele. Este short foi indicado ao Oscar.

OS WESTERNS DE RANDOLPH SCOTT

Nenhum outro ator fez mais westerns no cinema sonoro do que Randolph Scott. Entre Herança das Estepes / Heritage of the Desert / 1932 e Pistoleiros do Entardecer / Ride the High Country / 1962, ele participou de 60 filmes deste gênero, além de transitar por vários outros, incluindo comédia, drama, guerra, musical, horror e fantasia. A partir de 1946, passou praticamente a fazer somente o “cinema americano por excelência”, porque se sentia mais à vontade personificando os heróis do Oeste, e fazia isto muito bem.

Randolph Scott

Alto (1,89 cm), forte e boa pinta, passando uma imagem de integridade e coragem, ele se tornou, um dos astros-cowboys mais populares de Hollywood, principalmente nos anos cinquenta, quando se firmou como uma das grandes atrações de bilheteria.

George Randolph Scott (1898-1987) nasceu em Orange, Virginia, filho de George Grant e Lucy Crane Scott. Seu pai trabalhava como engenheiro administrativo em uma firma de tecidos e sua mãe descendia de uma família rica da North Carolina. Graças à boa situação financeira de seus progenitores, Scott estudou em escolas particulares inclusive a Woodberry Forest School, onde ele se destacou no basebol, futebol americano e matemática.

Aos dezenove anos de idade, alistou-se no Exército, e serviu como observador de artilharia na França durante o Primeiro Conflito Mundial. Neste período de guerra, aprendeu a cavalgar a todo galope e a usar armas, habilidades que utilizaria na sua futura carreira cinematográfica. De volta a América, matriculou-se na University of North Carolina para estudar engenharia têxtil, mas não terminou o curso, e foi trabalhar como contador na firma onde seu pai era empregado.

Randolph Scott em um de seus primeiros westerns

Por volta de 1927, Scott decidiu partir para Los Angeles na companhia de seu amigo de infância, Jack Heath, não se sabe bem se para simplesmente desfrutarem do passeio ou se um ou outro esperava entrar para a indústria cinematográfica. Certo dia, eles estavam jogando golfe a poucos metros de distância de Howard Hughes, quando eles se aproximaram do milionário e lhe perguntaram sobre a possibilidade de eles visitarem um palco de filmagem. Hughes sugeriu que eles trabalhassem como figurantes em um filme que George O’Brien estava fazendo na Fox, O filme chamava-se Rumo ao Amor / Sharp Shooters e, nos próximos dois anos, Scott trabalhou como extra em pelo menos cinco filmes, inclusive o primeiro filme falado de Cecil B. DeMille, Dinamite / Dynamite. Scott contaria mais tarde que fez um teste para o papel de Hagon Derk (que foi interpretado por Charles Bickford), mas DeMille rejeitou-o, dizendo que ele não tinha experiência suficiente, e recomendou que fosse adquirí-la na Pasadena Playhouse. Assim, Scott passou boa parte dos anos de 1929 e 1930 nos palcos dos teatros de Los Angeles até que, finalmente, estreou como ator principal em Esposas Alegres / Women Men Marry / 1931, filme da Headline Pictures, uma das companhias muito modestas que surgiram no início da era sonora e que faliu logo após o lançamento desta produção.

No final de 1931, Scott assinou contrato de sete anos com a Paramount onde, no período 1932-1935, fez seus primeiros westerns como astro de uma série típica de programmers (filmes que podiam preencher tanto a primeira como a segunda parte do programa duplo) baseada nas histórias de Zane Grey. Foram ao todo onze filmes: Herança das Estepes / Heritage of the Desert / 1932 (Dir: Henry Hathaway), Audácia entre Adversários / Wild Horse Mesa / 1932 (Dir: Henry Hathaway), Maldade / The Thundering Herd / 1933 (Dir: Henry Hathaway) Na Pista do Criminoso / Sunset Pass / 1933, (Dir: Henry Hathaway) O Homem da Floresta / Man of the Forest / 1933 (Dir: Henry Hathaway), Rixa Antiga / To The Last Man / 1933 (Dir: Henry Hathaway), O Último Assalto / The Last Round-Up / 1934 (Dir: Henry Hathaway); Amor em Trânsito / Wagon Wheels / 1934 (Dir: Charles Barton), Vencer ou Morrer / Home on the Range / 1934 (Dir: Arthur Jacobson), O Inválido Poderoso / Rocky Mountain Mystery ou The Fighting Westerner / 1935 (Dir: Charles Barton). Alguns desses filmes eram refilmagens de produções realizadas nos anos vinte a saber: Ódios e Afeições / To The Last Man / 1923 (Dir: Victor Fleming com Richard Dix, Lois Wilson); A Herança do Deserto / Heritage of the Desert / 1924 (Dir: Irvin Willat com Lloyd Hughes, Bebe Daniels); Almas Bravias / The Thundering Herd / 1925 (Dir: William K. Howard com Jack Holt, Lois Wilson) e O Homem da Floresta / Man of the Forest / 1926 (Dir: John Waters com Jackie Holt e Georgia Hale), À Margem do Rio Tonto / Under the Tonto Rim / 1928 (Dir: Herman C. Raymaker com Richard Arlen e Mary Bryan). Por serem remakes, muitas tomadas de arquivo dos filmes mudos foram utilizadas por medida de economia. Quando Scott atuou na refilmagem de Man of the Forest, que havia sido estrelado por Jack Holt, ele teve que usar um bigode fino tal qual Holt, para haver um perfeito entrosamento com as cenas nas quais este aparecia.

Os filmes dessa série eram todos de qualidade satisfatória (levando-se em conta as condições técnicas da época), sobressaindo os dirigidos por Henry Hathaway, que deu mais importância a interação humana entre os personagens principais do que ao espetáculo, e pelo tratamento que deu às heroínas, mostrando sua inocência, sua coragem e também sua sensualidade vibrante, mas sem ser vulgar. Nos seus primeiros westerns Scott era um rapaz bonito, afável e cortês (embora sugerindo a força necessária para enfrentar seus opositores) e este charme de cavalheiro sulista o ajudava a disfarçar suas limitações como ator.

Antes de se desligar da Paramount em 1938, Scott fez mais um western neste estúdio, A Heroína do Texas / The Texans (Dir: James Hogan) e, no período 1939 -1945, como free lancer, continuou dividindo filmes de outros gêneros com mais 10 westerns, nos quais atuou às vezes como coadjuvante: Jesse James / Jesse James / 1939 (Dir: Henry King); Suzana / Suzanna of the Mounties / 1939 (Dir: William A. Seiter); A Lei da Fronteira / Frontier Marshal / 1939 (Allan Dwan); Caravana do Ouro / Virginia City (Dir: Michael Curtiz); A Vingança dos Dalton / When the Daltons Rode (Dir: George Marshall); Os Conquistadores / Western Union (Dir: Fritz Lang) A Formosa Bandida / Belle Starr (Dir: Irving Cummings); A Indomável / The Spoilers (Dir: Ray Enright); Império da Desordem / The Desperadoes  (Dir: Charles Vidor); A Bela do Yukon / Belle of the Yukon (Dir: William A. Seiter).

No período 1946-1955 Scott fez apenas dois filmes de outros gêneros e mais 28 westerns: Rua dos Conflitos / Abilene Town (Dir: Edwin L. Marin); Terra dos Homens Maus / Badman´s Territory (Dir: Tim Whelan); O Passo do Ódio / Trail Street (Dir: Ray Enright); Terra de Paixões / Gunfighters (Dir:  George Waggner); O Romântico Defensor / Albuquerque (Dir: Ray Enright); Águas Sangrentas / Coroner Creek (Dir: Ray Enright); A Volta dos Homens Maus / Return. of the Bad Men (Dir: Ray Enright);  Devastando Caminho / Canadian Pacific (Dir: Edwin L. Marin) ; O Lutador / Fighting Man of the Plains (Dir: Edwin L. Marin) ; A Lei é Implacável / The Doolins of Oklahoma (Dir: Gordon Douglas); O Tesouro dos Bandoleiros / The Nevadan (Dir: Gordon Douglas); Colt 45 / Colt 45 (Dir: Edwin L. Marin); Terra Virgem / The Cariboo Trail (Dir: Edwin L. Marin); Talhado em Granito / Sugarfoot (Dir: Edwin L. Marin); Santa Fé / Santa Fe (Dir: Irving Pichel); Domador de Motins / Forth Worth (Dir: Edwin L. Marin); Terra do Inferno / Man in the Saddle (Dir: Andre De Toth); Ouro da Discórdia / Carson City (Dir: Andre De Toth); O Laço do Carrasco / Hangman´s Knot (Dir: Roy Huggins); De Arma em Punho / Man Behind the Gun (Dir: Felix Feist);  O Pistoleiro / The Stranger Wore a Gun (Dir: Andre De Toth); Torrentes de Vingança / Thunder Over the Plains (Dir: Andre De Toth); Alma de Renegado / Riding Shotgun (Dir: Andre De Toth); Feras Humanas / The Bounty Hunter (Dir: Andre De Toth); Arizona Violenta / Ten Wanted Men  (Dir; Bruce Humberstone); Homens Que São Feras / Rage at Dawn (Dir: Tim Whelan); Nas Garras do Homem Alto / Tall Man Riding (Dir: Lesley Selander); Obrigado a Matar / A Lawless Street (Dir: Joseph H. Lewis). Nesta fase da carreira de Randolph Scott foram fatos marcantes a sua associação com o produtor Harry Joe Brown de parceria com a Columbia e os seis filmes que fez sob a direção de Andre De Toth. De Toth tinha uma noção precisa de economia narrativa e posicionamento de câmera e um cuidado especial com o detalhe, tendo sido um dos cineastas importantes no gênero western nos anos 50.

Entre 1956-1962 Scott fez: 7 Homens Sem Destino / Seven Men From Now (Dir: Budd Boetticher); O Fantasma do General Custer / 7th Cavalry (Dir: Joseph H. Lewis); O Resgate dos Bandoleiros / The Tall T (Dir: Budd Boetticher); Entardecer Sangrento / Decision at Sundown (Dir: Budd Boetticher); Fibra de Herói / Buchanan Rides Alone (Dir: Budd Boetticher); O Homem Que Luta Só / Ride Lonesome (Dir: Budd Boetticher); Um Homem de Coragem / Westbound (Dir: Budd Boetticher); Cavalgada Trágica / Comanche Station (Dir: Budd Boetticher); Pistoleiros do Entardecer / Ride the High Country (Dir: Sam Peckinpah). Dos sete westerns maravilhosos dirigidos por Budd Boetticher com seu estilo sóbrio e conciso, cinco (O Resgate do Bandoleiro, Entardecer Sangrento, Fibra de Herói, O Homem Que Luta Só e Cavalgada Trágica) foram produzidos por Scott e Harry Joe Brown e distribuídos pela Columbia. O primeiro filme da série, Sete Homens e um Destino, foi produzido por John Wayne para a sua companhia Batjac e Um Homem de Coragem, por Henry Blanke para a Warner que, tal como havia feito com Sete Homens sem Destino, se encarregou da distribuição. Entretanto, costuma-se denominar o ciclo pelo nome da companhia de Scott e Brown, a Ranown, alusão ao nome do ator (Ran) e ao de Harry Joe Brown (Own), porque existem múltiplos elementos repetitivos ou semelhantes nos sete filmes.

Randolph Scott e Joel McCrea

Na medida em que Scott foi envelhecendo, sua capacidade interpretativa foi melhorando, seus traços fisionômicos foram ficando mais rígidos (como se tivessem sido talhados em granito tal qual William S. Hart) e seus papéis mudaram: ele se tornou um herói silencioso e estoico que sofreu dores, perdas e provações. Aos 63 anos de idade o ator fechou sua carreira com chave de ouro, dividindo as honras do estrelato com Joel McCrea em Pistoleiros do Entardecer, grande western nostálgico e crepuscular no qual dois antigos guardiães da lei que sobreviveram à invasão do Oeste pela civilização, encontram juntos a oportunidade de viver sua última aventura, seu último duelo, e de readquirir o respeito próprio. O tom triste e nostálgico e as cores outonais da paisagem celebram a agonia de uma época e dão ao filme não somente grandeza, mas também poesia.

Nos meus artigos Os Westerns de Budd Boetticher (4 de setembro de 2014) e Os Westerns de André de Toth (18 de janeiro de 2021) encontram-se comentários sobre os filmes que Randolph Scott fez com estes diretores.