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COMÉDIAS CURTAS DO CINEMA MUDO AMERICANO

As comédias curtas silenciosas, devido à sua abundância, são um grande desafio para os pesquisadores da História do Cinema, porém com o auxílio de World of Laughter -The Motion Picture Comedy Short, 1910 -1930 de Kalton C. Lahue, The New Historical Dictionary of The American Film Industry de Anthony Slide, Catalog of Copyright Entries 1912-1939 da Biblioteca do Congresso Americano, The Silent Clowns de Walter Kerr e outras fontes, cada uma complementando a outra ou corrigindo omissões, corro o risco de enfrentá-lo … sem a pretensão de esgotar o assunto.

Flora Finch e John Bunny

Billy Quirk e Josie Sadler

A Vitagraph – com seus cômicos mais populares John Bunny-Flora Finch (em mais de 260 comédias apelidadas de “Bunnyfinches”), Mr. e Mrs. Sidney Drew, Larry Semon, Jimmy Aubrey, Billy Quirk – era a companhia produtora de comédias curtas mais prolífica no programa da General Film, firma formada pela Motion Picture Patents Company (MPPC) para distribuir os produtos dos membros deste truste – Edison, Biograph, Vitagraph, Lublin, Selig, Essanay, Pathé, Kalem, Méliès, Kleine.

Fred Mace (ao centro vestido de guarda)

Hank and Lank

Wallace Beery (vestido de mulher) na série Sweedie

Mishaps of Musty Suffer

Outras companhias associadas do MPPC abriram espaço para as comédias curtas. Na Biograph, as comédias da série “One-Round” O´Brien com Fred Mace. Na Essanay, a série  “Hank and Lank” com Victor Potel e Augustus Carney; a série “Alkali Ike”, somente com Carney  como Alkali Ike coadjuvado por William Todd como o personagem Mustang Pete (personagens depois assíduos nas Snakeville Comedies, assim chamadas porque a ação transcorria na cidade rural mítica do mesmo nome); as comédias “Billy” com Frank  Bushman (futuro Francis X. Bushman, o Messala de Ben-Hur / Ben-Hur / 1925); a série “Sweedie” com Wallace Beery no papel principal quase sempre vestido de mulher; e as comédias com Charles Chaplin. Na Lubin, a série “The Gay Time” com May Hotely e Raymond McKee; a série com o personagem negro Rastus, interpretado por Luke Scott; uma comédia com Marie Dressler (Tillie Wakes Up / 1917) e outras comédias ocasionais com artistas essencialmente dramáticos (v. g. Arthur V. Johnson, Lottie Briscoe, Ethel Clayton, Joe Kaufman). Na Selig, a adaptação da história em quadrinhos The Katzenjammer Kids  (conhecida no Brasil como Os Sobrinhos do Capitão) criada por Rudolph Dirks com Guy Mohler e Emil Nuchberg como Hans e Fritz (personagens inspirados nos garotos Max e Moritz da obra de Wilhelm Busch); Lillian Leighton como Mrs. Katzenjammer e John Lancaster como Tio Heine;  a série “Sweeney”, com John Lancaster personificando um irlandês carregador de materiais de construção om mania de grandeza; comédias da marca Red Seal com Otis Harlan; a série “The Chronicles of Bloom Center” com Irene Wallace, Sidney Smith, Ralph McCormas e outros. Na Kalem, a série “Ham and Bud” com Loyd Hamilton, Bud Duncan, Ruth Roland (substituída depois por Ethel Teare, que depois estrelou sua própria série com Porter Strong, deixando seu lugar para Norma Nicholls); comédias produzidas no estúdio em Jacksonville, Flórida, com Rose Melville repetindo sua personagem Sis Hopkins (espécie de antecedente de Judy Canova), que ela havia interpretado no teatro. Na Edison, as comédias com Arthur Houseman e William Wadsworth reunidos como Waddy e Arty em uma série semanal. Na Kleine, as comédias da série “Mishaps of Musty Suffer” (também produzida pela Essanay) com Harry Watson Jr. A General Film também distribuía as comédias da MinA Films com Murdock McQuarrie, o palhaço de circo Harry La Pearl e George Ovey; as comédias da série “Pokes and Jabbs” produzidas pela Wizard Motion Picture Corporation e depois pela Vim Comedy Company com Bobbie Burns e Walter Stull, coadjuvados por Ethel Burton, “Spook” Hanson e Oliver “Babe” Hardy (posteriormente, Burns deixou a série, sendo substituído por Billy Ruge e os personagens receberam os nomes de “Finn and Haddie” (quando Stull saiu, Oliver Hardy assumiu seu lugar e a série passou a ser chamada de “Plump and Runt); as comédias domésticas com Harry Meyers e Rosemary Theby; as comédias da marca Clover com Bob Duncan, Dot Farley e Kewpie Morgan, realizadas pela National Film Corporation.

Oliver Hardy e Billy Ruge  na série Plump and Runt

Em 1917, as maiores concorrentes da General Film eram a Universal, que distribuía as comédias Nestor, Victor, L-KO e Joker; a Mutual, que distribuía as comédias Cub, Vogue e Strand; a Metro, que distribuía as comédias do casal Mr. e Mrs. Sidney Drew (que haviam deixado a Vitagraph); a Paramount, que distribuía as comédias de Victor Moore; a Essanay, que tinha algumas comédias de Max Linder; a Pathé, que distribuía as comédias Rolin de Hal Roach; e as companhias independentes King Bee e Al Christie.

Os maiores sucessos da Nestor foram as comédias com os personagens Mutt e Jeff dos quadrinhos de Bud Fisher; a série “Desperate Desmond” baseadas nos quadrinhos de Harry Hershfield; e as comédias com Eddie Lyons e Lee Moran. A Victor produziu comédias com atores variados como Guy Haymann, Carter de Haven, George Felix etc.

A L-KO (Lehrman- Knock Out), formada por Henry Lehrman, tinha como artistas mais conhecidos Billie Ritchie, um dos imitadores de Chaplin, e Alice Howell. A Joker tinha   Max Asher e Louise Fazenda na série “Mike and Jake” e as comédias de Patsy McGuire e Lillian Hamilton. Em 1916 Lehrman foi sucedido pelos irmãos Julius e Abe Stern que substituíram A L-KO pela sua Rainbow Comedies. A Cub proporcionava a série “Jerry” com George Ovey. A Vogue produzia as comédias de Ben Turpin e Gypsy Abbott; as comédias de Paddy McGuire, Ben Turpin e Lillian Hamilton; as comédias “Kuku” com Dot Farley e Sammy Burns; e as comédias com Ben Turpin e Lillian Hamilton entre outros. A Strand oferecia as comédias com Elinor Field e Harry Depp dirigidas por William Beaudine (produzidas pela Southern California Producing Company) e as comédias com Billie Rhodes e Jay Belasco (produzidas pela Caulfield Photoplay Company).

Entre outras comédias curtas produzidas na época encontramos as de Billy Quirk da Solax, companhia formada por Alice Guy; as comédias de Pearl White (a célebre Pauline dos seriados), Charles De Forrest (astro da série “Binks”) e Vivian Prescott da Crystal Film Company; as comédias de Ford Sterling, de Augustus Carney e Louise Glaum (na série “Universal Ike”), as comédias de Bobby Ray (na série “Universal Ike Jr.”) e as comédias da série “Mike and Jake” com Max Asher, Harry McCoy, Louise Fazenda e Bobby Vernon da Universal.

Porém não foram só estas. A Mutual distribuiu ainda as doze comédias da Lone Star Film Corporation de Charles Chaplin (antes dele ir para First National); as comédias com Dot (Dorothea) Farley; a série “Calamity Anne” (criada por Allan Dwan) com Louise Lester, ambas produzidas pela American Film Manufacturing Company; as comédias com Fred Mace como o personagem “One-Round O´Brien”, que ele interpretara na Biograph; as comédias da série “Bill” da Komic com Fay Tincher e Tammany Young secundados pelo futuro diretor Tod Browning; e as comédias da Novelty com Edith Thorton.

Charles CHaplin e Henry Lehrman em Making a Living

Bathing Beauties

Keystone Cops

Abro um parêntesis para falar da Keystone (formada em 1912 pelo antigo ator da Biograph, Mack Sennett e pelos proprietários da New York Motion Picture Company, Adam Kessell, Jr. E Charles O. Baumann), cujas comédias também foram distribuídas pela Mutual (e a partir de 1917 pela Paramount). A companhia tinha como figuras principais Mack Sennett, Ford Sterling, Fred Mace e Mabel Normand e os filmes foram primeiramente rodados em Fort Lee, New Jersey e depois no velho estúdio da Bison em Edendale, Califórnia. Charles Chaplin estreou no cinema em uma comédia da Keystone, Carlito Repórter / Making a Living / 1914. Compunham também o elenco da companhia: Roscoe “Fatty” Arbuckle, o estrábico Ben Turpin, o grandalhão Mack Swain, Minta Durfee, Chester Conklyn, Harry Langdon, Charlie Chase, Charlie Murray, Louise Fazenda, Raymond Hitchcock, Gloria Swanson, Slim Summerville, Billy Bevan, Andy Clide, Vernon Dent etc., os Keystone Cops (a força policial mais maluca do mundo) e as Bathing Beauties. Em 1915 a Keystone junto com as companhias de D.W. Griffith e Thomas H. Ince constituíram a Triangle Film Corporation, cujas comédias eram frenéticas de ação e movimento tais como as da sua antecessora. Sydney Chaplin, meio-irmão de Charles, estava na série “Gussle” com Phyllis Allen e em outras comédias como O Pirata Submarino / A Submarine Pirate / 1915.

Phyllis Allen e Syd Chaplin

Outra companhia importante, foi a Rolin de Hal Roach, cuja principal atração era Harold Lloyd com as séries “Phunphilms” e “Lonesome Luke”. Nos quadros da Rolin estavam ainda o palhaço Toto (Arnold Nobello) do Teatro Hippodrome de Nova York e sua parceira Marie Mosquini e Stan Laurel, antes de formar a célebre dupla com Oliver Hardy em deliciosas comédias, coadjuvados pelo escocês James Finlayson.

Prosseguindo nesta audácia de explorar o campo imenso da comédia curta silenciosa produzida nos EUA, faço referência a várias companhias que não distribuíam seus filmes pela General Film, pela Mutual ou pela Universal. Em outubro de 1914, um grupo de exibidores formou a Kriterion Films Exchange para distribuir comédias (e dramas) de sete pequenos produtores independentes, mas a firma logo faliu. Outra empresa de curta-duração, United Film Service, distribuiu três séries de comédias que alcançaram sucesso moderado: as comédias da Cameo com Dan Mason e Harry Kelly; a série “Heinie and Louise” da Starlight com Jimmy Aubrey e Walter Kendig; e as comédias da Luna com Dot Farley. A partir de 1915, comediantes do teatro foram contratados para fazer comédias no cinema: Neal Burns pela Nestor; Weber e Fields, Joe Jackson e Eddie Foy pela Keystone-Triangle; Victor Moore pela Lasky; W.C. Fields pela Gaumont, atuando nas Casino Bar Comedies; Clarence Kolb e Max Dill, pela American Film Manufacturing Company.

Clarence Kolb e Max Dill

A companhia independente King Bee contava com o imitador mais bem sucedido de Chaplin, Billy West, que teve Oliver Hardy como coadjuvante nas suas comédias. Curiosamente West sofreu a concorrência de outro imitador de Chaplin, o cômico do vaudeville Ray Hughes, cujas comédias foram produzidas pela Pyramid (formada por dois executivos da King Bee, que descobriram Hughes no palco) e dirigidas por William A. Seiter.

Em 1916, o canadense Al Christie, que fôra o supervisor da série “Mutt e Jeff” da Nestor, formou (com seu irmão Charles) a Christie Film Company, para produzir as comédias com Billie Rhodes e a Fox Film Company decidiu entrar no campo da comédia curta, organizando uma unidade de produção sob o comando de Charles Parrott (Charlie Chase) com os cômicos Hank Mann e Lee Morris como astros e outra, supervisionada por Henry Lehrman (que havia deixado a L-KO), com Billie Ritchie e Dot Farley. Além de Lehrman, outros dois diretores, Walter C. Reed e Harry Edwards, integraram a equipe de diretores e Charles Arling, “Smiling Billy” Mason, entre outros artistas, compunham o elenco.

Em janeiro de 1917, a Fox lançou a primeira das Foxfilm Comedies, Social Pirates, com Arling no papel principal. Em março, o nome da companhia foi mudado inesperadamente para Sunshine Comedies, mas logo o reverteu para Foxfilms. O programa da Fox muitas vezes criou uma confusão por causa dessas mudanças no primeiro ano de existência. Em junho, o esquema de produção de comédias dividiu-se em dois grupos – Foxfilms e Sunshines. O primeiro grupo compunha-se de unidades sob a direção de Hank Mann, Charles Parrott e Tom Mix, cujos primeiros filmes para a Fox continham elementos cômicos. O grupo Sunshine foi supervisionado por Henry Lehrman, que também dirigia uma unidade. enquanto David Kirkland e Jay Howe cuidavam das outras duas. Entre os atores estava Billie Ritchie, Lloyd Hamilton, Jimmie Adams, além de outros. A Sunshine só entrou em operação em outubro de 1918 e seu primeiro lançamento, Roaring Lions and Wedding Bells (com L. Hamilton, J. Adams) deu-se em novembro. Suponho que as comédias Sunshine tenham sido muito populares no Brasil, pois encontrei anúncios em nossos jornais de 90 títulos destas comédias. Em 1918, William Parsons, fundador da National Film Corporation, passou para a frente das câmeras, adotando o nome de “Smiling Bill” Parsons nas comédias distribuídas no mercado independente como Capitol Comedies.

Buster Keaton Roscoe Arbuckle e Al St. John

A Paramount distribuiu as comédias com Roscoe Arbuckle (coadjuvado por Al St. John, Alice Lake, Buster Keaton) produzidas pela Comique Film Corporation, presidida por Joseph Schenck. A World Film Corporation distribuiu as Poppy Comedies produzidas pela Frohman Amusement Corporation com Mack Swain e seu personagem Ambrose Schnitz. A United States Motion Picture Company produziu as Black Diamond Comedies com Leatrice Joy e sua personagem Susie, distribuídas primeiramente pela Paramount e depois pela Arrow sob o nome de Unique Comedies e as Rainbow Comedies com Lillian Vera e Eddie Boulden, estas distribuídas pela General Film Company.

Nesta pesquisa, que parece ser interminável devido à quantidade de comédias curtas silenciosas bem como de suas companhias produtoras e distribuidoras, sigo adiante, penetrando nos anos vinte, quando a Mutual e a General Film haviam saído de cena e a maioria das firmas pioneiras estavam fora do mercado. Seu lugar havia sido ocupado pela Educational Film Corporation of America, fundada por Earl Hammons em 1919 com a finalidade de produzir filmes educativos para escolas e igrejas. Hammons logo descobriu que havia pouca demanda para sua idéia original e, embora tivesse continuado com ela, entrou na área da distribuição com a Educational Film Exchange, usando-a para distribuir as comédias Mermaid com Lloyd Hamilton ou Jimmy Adams; as comédias Torchy com Johnny Hines e Dorothy Mackaill; as comédias Christie (que deixara de ser independente) com Neal Burns, Bobby Vernon e Fay Tincher.

Nessa época, a Arrow Film Corporation entrou na área da comédia curta com Hank Mann  e Eddie Lyons (da dupla Eddie Lyons – Lee Moran), que também supervisionou a Mirthquake Comedies com Bobby Dunn; a C.B.C Film Sales Corporation distribuiu a série  “Hallroom Boys” (produzida pelos irmãos Cohn, futuros chefões da Columbia) com Sidney Smith e Harry McCoy, a série “Monte Banks “, produzida pela Warner Brothers com Monty Banks (na realidade o ator italiano Mario Bianchi) e comédias com Milburne Moranti e Helen Williams; a Reelcraft produziu comédias com Billy Quirk; Billy West reapareceu em uma série para a Joan Film Sales Company.

Nos anos vinte, Hunt Stromberg, produtor independente, anunciou um contrato com a Metro para produzir uma série de comédias com o atleta Bull Montana. A Fox funcionava   com as comédias de Clyde Cook (o cômico-acrobata australiano que ganhou o apelido de “The Kangaroo Boy”), de Chester Conklin, do inglês Lupino Lane (outro acrobata). A Universal distribuía as produzidas pela Century (dos irmãos Julius e Abe Stern) com Baby Peggy, Harry Sweet e Charles Dorety. A Vitagraph ainda tinha Larry Semon e Jimmy Aubrey, mas Aubrey saiu da empresa em 1924 e foi fazer uma série para a Standard Photoplay Company. A Paramount contava com Carter De Haven e sua esposa Flora Parker, que depois foram sucessivamente para a First National e R. C. Pictures Corporation. A Educational distribuía comédias com Walter Hiers, Lige Conley, Jack McHugh, Jimmy Adams, Neal Burns e as mais populares de todas, que eram as de Al St. John. A Fox apresentava as comédias Sunshine, Imperial (supervisionada por George Marshall) e Van Bibber (com Earle Foxe como Reginald Van Bibber). A Universal estava rodando as comédias Blue Bird com Al Alt, a série “What Happened to Jane” com Thelma Daniels, Max Asher e Charles King (fórmula seguida pela série “The Newlyweds and Their Baby” com Ethlyne Clair e Sunny McKeen), as comédias com Syd Sailor e a série “The Collegians” com George Lewis e Dorothy Gulliver. A Educational recebeu o concurso de Lupino Lane em 1925 para uma série de comédias que durou até 1929; o irmão de Lupino, Wallace Lupino, estava na série Cameo; Al St. John na série Tuxedo; a Paramount adquiriu as comédias Christie em 1927-1928 para distribuí-las. A R-C Pictures e depois a Standard produziram a série “Mickey McGuire” com Joe Yule Jr., que se tornaria mais tarde Mickey Rooney.

A fábrica de comédias de Hal Roach se expandiu constantemente durante os anos vinte. Harry “Snub” Pollard ganhou sua série própria série acompanhado por Marie Mosquini e Eddie Boland e Harold Lloyd, em 1919, apareceu com seu novo personagem de óculos em comédias de dois rolos primeiramente ao lado de Bebe Daniels e depois ao lado de Mildred Davis, com quem se casaria. A partir de 1921 ele começaria a fazer suas comédias de longa-metragem. Gaylord Lloyd, irmão de Harold, trabalhou em vários filmes dele.

Beth Darlington e Charlie Chase

Os Peraltas / Our Gang series

No final de 1921, dois outros cômicos ingressaram na Rolin: James Parrott, que depois de atuar como ator sob o nome de Paul Parrott, ficou mais conhecido pelo seu verdadeiro nome, James Parrott, como diretor das comédias curtas de Laurel e Hardy e Charles Parrott, que se tornou popular como Charlie Chase e foi também diretor. Em 1923, Roach contratou Will Rogers, Glenn Tryon, Edgar Kennedy, Earl Mohan, Billy Engle e Clyde Cook, porém seu maior sucesso na época foram as comédias da série “Os Peraltas / Our Gang” com um grupo de atores infantís primeiramente composto por Mickey Daniels, Jackie Condon, Peggy Cartwright e Ernie “Sunshine Sammy Morrison posteriormente substituídos por “Fat” Joe Cobb, Mary Kornman, Jackie Davis, Allen “Farina” Hoskins e o cachorro Pete. Roach lançou ainda as All Star Comedies e as Hal Roach Comedies, nas quais despontaram separadamente Stan Laurel e Oliver Hardy, que depois formaram a famosa dupla, coadjuvados maravilhosamente pelo escocês-americano James Finlayson.

Em 1918, Charles Chaplin assinou contrato com a First National, onde fez 8 filmes, entre eles apenas três comédias de dois rolos. Em 1920, Buster Keaton recebeu convite de Joseph Schenck estrelar sua própria série de comédias na Buster Keaton Film Company, que foram distribuídas pela Metro e depois pela Associated First National. Em 1922, Edward Everett Horton fez duas comédias de dois rolos para a Vitagraph. Em 1924 Larry Semon deixou a Vitagraph e se transferiu para a Chadwick, que distribuía suas comédias pela Educational.

Em anúncios nos nossos jornais da época alguns cômicos receberam nomes abrasileirados ou apelidos: Mabel Normand era conhecida por Izabel; Chaplin por Carlito; Roscoe Arbuckle por Chico Bóia; Al St. John por Azarão, Alice Lake por Felismina etc.

HENRY HATHAWAY II

Nos anos cinquenta Hathaway demonstrou em mais um conjunto de filmes sua aptidão para contar histórias no estilo do cinema narrativo clássico, exigindo sempre o maior rigor de seus intérpretes e de sua equipe técnica:  1950 – A Rosa Negra / The Black Rose, aventura oriental com Tyrone Power, Orson Welles, Jack Hawkings. 1951 – Agora Estamos na Marinha / You´re in the Navy Now, comédia naval em tempo de guerra com Gary Cooper, Jane Greer; Correio do Inferno / Rawhide; Horas Intermináveis / Fourteen Hours; A Raposa do Deserto / The Desert Fox. 1952 – Missão Perigosa em Trieste / Diplomatic Courier, drama de espionagem durante a Guerra Fria com Tyrone Power, Patricia Neal, Hildegard Neff; Páginas da Vida / O´Henry´s Full House. Ep.  “The Clarion Call” com Charles Laughton, Marilyn Monroe nesta coletânea de histórias do escritor. 1953 – Feitiço Branco / White Witch Doctor, aventura na África com Susan Hayward, Robert Mitchum; Torrentes de Paixão / Niagara; 1954 – O Príncipe Valente / Prince Valiant, aventura histórica baseada nos quadrinhos de Hal Foster; Jardim do Pecado / Garden of Evil. 1955 – Caminhos sem Volta / The Racers, drama esportivo com Kirk Douglas, Bella Darvi, Gilbert Roland. 1956 – Renúncia ao Ódio / The Bottom of the Bottle, drama baseado em romance de Georges Simenon com Van Johnson, Joseph Cotten, Ruth Roman; A 23 Passos da Rua Baker / 23 Paces to Baker Street. 1957 – A Lenda dos Desaparecidos / Legend of the Lost, aventura no Saara com John Wayne, Sophia Loren, Rossano Brazzi. 1958 – Caçada Humana / From Hell to Texas. 1959 – Meu Coração Tem Dois Amores / Woman Obsessed, drama familiar em ambiente rural com Susan Hayward, Stephen Boyd.

Tyrone Power e Susan Hayward em Correio do Inferno

Correio do Inferno. Neste western topograficamente restrito, quatro bandidos, Zimmerman (Hugh Marlowe), Yancy (Dean Jagger), Tevis (Jack Elam) e Gratz (George Tobias, instalam-se em uma estação de diligências, com a intenção de assaltar um carregamento de ouro, que passaria por ali. A estação é chefiada pelo velho Sam (Edgar Buchanan), que é morto. Restam seu auxiliar, Tom (Tyrone Power); uma mulher, Vinnie Holt (Susan Hayward) e sua pequenina sobrinha, mantidos como reféns. Aos poucos nascem as discussões no bando, exploradas por Tom, e tudo termina em um ajuste de contas de uma violência rara: vemos Tevis atirar cada vez mais perto da criancinha, para obrigar Tom a se render. Baseado em um excelente roteiro, o filme mostra como o estilo impessoal de um artesão pode ser eficaz e vigoroso. Hathaway administra magistralmente a unidade de tempo, lugar e ação e, com o amparo de uma boa fotografia (Milton Krasner) e interpretações homogêneas, imprime neste western, que é também um thriller, o máximo de suspense.

Richard Basehart em Horas Intermináveis

Horas Intermináveis. Drama inspirado em um caso real, mas com um epílogo diferente. Preparando-se para saltar do décimo quinto andar de um prédio no coração de Nova York, um jovem deprimido cheio de complexos, Robert Cosick (Richard Basehart,) é avistado pelo policial irlandês e Charlie Dunnigan (Paul Douglas), que tenta em vão convencê-lo a desistir. Trazer seus progenitores disfuncionais (Agnes Moorehead, Robert Keith), sua noiva (Barbara Bel Geddes) e psiquiatras parece que só serve para exacerbar a situação. Enquanto isso o número de populares lá embaixo aumenta à medida em que o espetáculo se desenrola. Após 14 horas de esforços, Cosick decide não saltar quando, ofuscado por um dos holofotes acionado acidentalmente, esgotado, ele cai no vazio. Enfrentando sabiamente as restrições da regra das três unidades, Hathaway narra com habilidade as diversas tentativas da polícia para demover o rapaz da cogitação de suicídio, as reações da multidão diante da perspectiva de tragédia e os casos paralelos como o dos dois namorados que se encontram e dali saem para iniciar uma outra vida ou a mulher que, do edifício fronteiro, decide interromper a ação de seu divórcio.  Sua direção firme e inspirada leva a narrativa a um alto grau de aflição.  Houve indicação ao Oscar de Melhor Direção de Arte (preto e branco (Lyle Wheeler, Leland Fuller) e Decoração de Interiores (Thomas Little, Fred J. Rode).

James Mason e Cedric Hardwick em a Raposa do Deserto

A Raposa do Deserto. Drama de guerra biográfico, com roteiro de Nunnally Johnson baseado no livro do Brigadeiro Desmond Taylor (que aparece no filme como um dos oficiais capturados pelos alemães no Norte da África) focalizando a fase final da carreira do Marechal de Campo Erwin Rommell. É um retrato edificante do famoso comandante do Afrika Korps, mostrando sua oposição aos projetos insanos de Hitler (Luther Adler) e seu contato com Karl Strolin (Cedric Harwicke), prefeito de Stuttgart e membro de um complô contra o Fürher. Apesar de não ter tido nenhuma participação no atentado de 20 de julho – pois estava convalescendo dos ferimentos que recebera quando seu carro foi metralhado por aviões aliados em 17 de julho de 1944 e esperando não somente se recuperar como também assumir outro comando -, sua conversa com conspiradores lhe valeu ser condenado à morte. Se aceitasse se suicidar, sua esposa Lucie (Jessica Tandy) e seu filho Manfred (William Reynolds) não seriam molestados e seu nome permaneceria imaculado. Após a morte de Rommel, Hitler mandou celebrar um enterro com todas as honras militares como se ele tivesse falecido em virtude dos ferimentos recebidos. Hathaway descreve o trágico destino de Rommel com objetividade usando tomadas de arquivo para reconstituir os combates na Libia e na Normandia e apresenta uma inovação: um prólogo antes dos créditos, mostrando a operação noturna dos comandos britânicos em uma tentativa de eliminar a “Raposa do Deserto”, por sinal uma sequência primorosa. Ele mantém a ação em ritmo rápido e vigor dramático enquanto James Mason interpreta Rommel com mestria, incutindo-lhe todo o fascínio que o militar célebre possuía.

Marilyn Monroe em Niagara

Torrentes de Paixão. Drama criminal com alguns temas noir tendo como pano de fundo onipresente as cataratas do Niagara. Em um motel próximo, chegam dois jovens recém-casados Polly e Ray Cutter (Jean Peters, Casey Adams). Lá eles conhecem um outro casal, Rose (Marlyn Monroe) e George Loomis (Joseph Cotten). Rose é uma jovem de sensualidade transbordante e George, mais velho do que ela e veterano da Guerra da Coréia, é ciumento e psicologicamente perturbado. Rosa convence seu amante (Richard Allen) a se desembaraçar de seu marido empurrando-o nas cachoeiras. Porém é George que consegue jogar seu adversário nas águas. Após ter igualmente assassinado sua mulher, George rouba uma lancha, sem saber que Polly estava a bordo. A embarcação fica sem gasolina e flutua em direção às cataratas. George consegue colocar Polly sobre um grande rochedo antes de chegar às cachoeiras, onde morre. Ela é resgatada por um helicóptero. Usando a paisagem bucólica e majestuosa das cataratas (admiravelmente   fotogradas sob todos os ângulos por Joe MacDonald) como pano de fundo para o desencadeamento das paixões e usando a cor de maneira funcional, Hathaway deu uma progressão dramática sólida à intriga, durante o desenrolar da qual surgem cenas admiráveis como George surpreendendo Rose com o amante;  George perseguindo Polly através das pontes  sobre as cataratas; o estrangulamento de Rose na Torre dos Sinos; as transparências excelentes tornando angustiantes as imagens da lancha sendo arrastada pelas águas revoltas.

Susan Hayward, Gary Cooper e Richard Widmark em Jardim do Pecado

Jardim do Pecado. Western cuja trama tem início quando Leah Fuller (Susan Hayward) contrata quatro aventureiros – Hooker (Gary Cooper), Fiske (Richard Widmark), Luke Daly (Cameron Mitchell) e Vincente (Victor Emanuel Mendoza) – para escoltá-la através do território indígena e resgatar seu marido, John (Hugh Marlowe), que está preso entre os escombros de uma mina de ouro. É uma viagem cheia de perigos até “o jardim do pecado”, onde crescem os antagonismos entre os componentes do grupo. Em torno do tema do poder maléfico do ouro, Hathaway constroí um western psicológico. À medida que o filme prossegue, os caracteres dos personagens vão se revelando. Por exemplo:  quais são os motivos exatos que ditaram a conduta de Leah: o ouro ou o amor? Os índios raramente aparecem. Mas estão sempre presentes, e esta sensação de ameaça permanente cria uma terrível apreensão.

Vera Miles, Van Johnson e Cecil Parker em A 23 Passos da Rua Baker

A 23 Passos da Rua Baker. Phillip Hannon (Van Johnson), autor teatral americano vítima da cegueira, foi morar em Londres, sentindo-se um inútil. Ele recebe a visita de sua ex-noiva, Jean (Vera Miles), mas despede-se dela abruptamente e se retira em busca de um lugar quieto para pensar. Em um pub, Hannon escuta uma conversa – embaralhada pelos ruídos de uma juke box -entre um homem chamado Evans e uma mulher sobre o que lhe parece um plano de sequestro de uma criança. A Scotland Yard atribui sua narrativa a um excesso de imaginação do dramaturgo.Convencido de sua interpretação, Hannon passa a investigar por conta própria, contando com a ajuda de seu criado e amigo Bob Mathews (Cecil Parker) e de Jean. Hathaway trata este argumento curioso e bem dosado de mistério, construindo uma atmosfera tensa e envolvente. Uma dimensão psicológica acompanha a trama: Hannon se apega desesperadamente a este caso para se sentir útil novamente preenchendo o vazio de sua vida. Dois momentos de suspense se destacam:  Hannon trancado por um homem no quarto de um prédio em ruínas que ameaça desabar e, no final, aguardando sozinho e desarmado a visita de Evans, usando a escuridão e o ruído de gravações para se defender do criminoso, cuja verdadeira identidade é uma surpresa.

Don Murray em Caçada Humana

Caçada Humana. Por ter matado acidentalmente um homem, o vaqueiro Tod Lohman (Don Murray) é perseguido pelo pai (R.G. Armstrong) e pelos irmãos da vítima. Tod encontra refúgio no rancho de Amos Bradley (Chill Wills), cuja filha, Juanita (Diane Varsi), se apaixona por ele. Um mercador (Jay C. Flippen) também o auxilia na fuga. Depois de muitas mortes, quando Tod impede que o último irmão sobrevivente (Dennis Hopper) seja queimado vivo, o pai põe fim à vendeta. Um caso de consciência renovando o tema da vingança: o herói pacífico vê-se obrigado a matar vários de seus perseguidores. O drama deste western é intenso porque a luta se converte em uma luta de princípios: o Bem contra o Mal, a serenidade contra a violência. Hathaway tem o senso do movimento e da narrativa cinematográfica, realizando um belo espetáculo ao qual não faltam tradicionais ingredientes do gênero como um estouro de manada, um ataque de Comanches e uma bela paisagem.

Na última fase de sua longa carreira Hathaway ainda realizou alguns westerns de inegável mérito cinematográfico. 1960 – Sete Ladrões / Seven Thieves, drama criminal com Edward G. Robinson, Rod Steiger, Joan Collins; Fúria no Alasca / North to Alaska. 1962 – A Conquista do Oeste / How the West Was Won ep.1 (Os Rios / The Rivers), 2 (As Planícies / The Plains e 5 (Os Renegados / The Outlaws), segmentos de um western épico com vários astros e estrelas. 1964 – O Mundo do Circo / Circus World, drama passado em um Wild West Show com John Wayne, Rita Hayworth, Claudia Cardinale. 1965 – Os Filhos de Katie Elder / The Sons of Katie Elder. 1966 – Nevada Smith / Nevada Smith. 1967 – O Último Safari / Last Safari. Aventura na África com Kaz Garas, Stewart Granger. 1968 – Poquer de Sangue / 5 Card Stud, western de mistério com Robert Mitchum, Dean Martin, Roddy McDowall. 1969 – Bravura Indômita / True Grit. 1970 – Os Comandos Atacam Rommel / Raid on Rommel, drama de guerra com Richard Burton. 1971 – O Parceiro do Diabo / Shoot Out, western com Gregory Peck, James Gregory. 1974 – Hangup, drama criminal com William Elliott, Marki Bey.

John Wayne, Stewart Granger e Capucine em Fúria no Alasca

Fúria no Alaska Northernwestern híbrido combinando aventura de faroeste com comédia, cuja ação começa em Nome no Alasca, onde Sam McCord (John Wayner), sócio de George Pratt (Stewart Granger) e seu irmão Billy (Fabian) encontram uma fortuna em pepitas de ouro. Sam vai a Seattle a fim de adquirir novo equipamento de mineração e a incumbência de trazer a francesa da qual George havia se tornado noivo por correspondência; mas a jovem havia se casado com um mordomo. Preocupado com a decepção do amigo, Sam resolve levar outra francesa, uma garota de cabaré, Michelle Bonnet, conhecida como Angel (Capucine). Na viagem, Angel se enamora de Sam e as coisas se complicam, ainda mais quando um trapaceiro, Frankie Cannon (Ernie Kovacs), decide apropriar-se da mina. Hathaway, com a precisão narrativa de sempre, realizou um filme eufórico e dinâmico, animado por lutas homéricas e bem divertidas em vários ambientes, sobressaindo a pancadaria final por toda a cidade.  Destaque para a balada interpretada pelo cantor de música folclórica Johnny Horton durante a apresentação dos créditos de abertura; a direção de arte de Duncan Cramer e Jack Martin Smith; e a fotografia de Leon Shamroy da bela paisagem da locação em Hot Creek, Calif.

Steve McQueen em Nevada Smith

Nevada Smith. Western em cuja trama o jovem mestiço de branco e índia, Max Sand (Steve McQueen), sai à procura de Jesse Coe (Martin Landau), Bill Bowdre (Arthur Kennedy) e Tom Fitch (Karl Malden), os três bandidos que assassinaram cruelmente seus pais. No caminho ele encontra um velho vendedor de armas, Jonas Cord (Brian Keith), que lhe dá lições de pontaria e de vida. Com a experiência adquirida, Max consegue eliminar Coe e depois Bowdre; mas quando se confronta com Fitch, sente um profundo desgosto e parte sem completar seu objetivo. O filme acrescenta ao tema muito explorado da vingança os elementos próprios do romance de folhetim histórico: intermediação de histórias paralelas (o episódio da prisão constitui ele próprio um relato completo); heroínas imediatamente eliminadas; justiceiro simpático, mas implacável, tipo Monte Cristo; esticamento da intriga por novos acontecimentos. Uma das melhores cenas é a fuga de Max da prisão – onde ele deu um jeito de ser internado para pegar um dos bandidos, fingindo-se de seu amigo – a bordo de uma canoa através do pântano na companhia do criminoso e de Pilar (Suzanne Pleshette), jovem cajun operária dos campos de arroz, que morre picada por uma cobra. A bela paisagem fotografada com esmêro por Lucien Ballard e uma trilha musical inspirada de Alfred Newman são outras atrações do espetáculo.

John Wayne em Bravura Indômita

Bravura Indômita. Western com humor, ternura e uma bela fotografia outonal providenciada por Lucien Ballard. A jovem Mattie (Kim Darby) contrata o Delegado veterano Rooster Cogburn (John Wayne) e um Texas Ranger, La Boeuf (Glen Campbell), para capturarem Tom Chaney (Jeff Corey), o assassino de seu pai. Apesar dos conselhos da dupla, a intrépida Mattie os acompanha na perseguição movimentada através do território indígena. O filme é um tributo à lenda de John Wayne, representada por aquela imagem de Rooster cavalgando com as rédeas entre os dentes, uma pistola em uma das mãos e um rifle na outra. Só que o herói clássico do western se tornou um velho rabugento e beberrão, que usa a estrela oficial de delegado, mas é motivado mais pelo dinheiro do que pelo desejo de justiça. Grande parte do divertimento vem das semelhanças óbvias entre Rooster e Mattie. A certa altura, diz Rooster: “Meu Deus, ela me faz lembrar de mim mesmo!”. Wayne conquistou afinal o Oscar de Melhor Ator.

HENRY HATHAWAY I

Profissional de estúdio tecnicamente habilidoso e dotado de invejável capacidade para expor a narrativa de forma espontânea e eficiente, ele dirigiu filmes memoráveis durante uma longa e prolífica carreira, alguns dos quais se tornaram clássicos. Sem deixar um estilo ou temática facilmente identificável, trabalhou em uma variedade de gêneros, alcançando sua melhor forma nos dramas de aventura ou criminais.

Henry Hathaway

Henri Léopold de Fiennes Hathaway (1898-1985) nasceu em Sacramento, Califórnia, filho de um ator e gerente de palco, Rhody Hathaway e de uma aristocrata belga nascida na Hungria, Marquesa Lillie de Fiennes, que ficou conhecida como atriz e escritora com o nome de Jean Hathaway. Ele iniciou sua carreira no cinema como ator infantil em westerns de Allan Dwan produzidos pela American Film Manufacturing Company, também conhecida como Flying “A” Studios. Sua carreira foi interrompida pela Primeira Guerra Mundial.  Após sua dispensa, voltou para Hollywood, onde trabalhou como assistente de direção ou diretor de segunda unidade em filmes de diretores como Josef von Sternberg, Victor Fleming, Fred Niblo, entre outros realizadores.

Randolph Scott em Herança das Estepes

Em 1932, estreou como diretor no western da Paramount, A Herança das Estepes / Heritage of the Desert, baseado em um romance de Zane Grey com Randolph Scott no papel principal, iniciando uma série de programmers (filmes de uma hora e poucos minutos de duração que podiam ocupar tanto a primeira como a segunda parte do programa duplo) com argumentos extraídos da obra do referido escritor, para a qual dirigiu mais seis westerns: 1932 – Audácia Entre Adversários / Wild Horse Mesa. 1933 – Maldade / The Thundering Herd; Simplório Ambicioso / Under the Tonto Rim; Na Pista do Criminoso / Sunset Pass; O Homem da Floresta / Man of the Forest; Rixa Antiga / To the Last Man. 1934 – O Último Assalto / The Last Round Up, todos com Scott a não ser o terceiro, protagonizado por Stuart Erwin.

Em 1934 Hathaway passou a dirigir filmes de maior porte (Fuzileiros da Fuzarca ou Galgos e Ninfas / Come on, Marines!  aventura de guerra nas Filipinas com Richard Arlen e Ida Lupino; Vontade Escrava / The Witching Hour, drama criminal de mistério com Guy Standing, John Halliday, Judith Allen e Agora e Sempre / Now and Forever, drama romântico musical com Gary Cooper, Carole Lombard, Shirley Temple) e em seguida realizou seus primeiros filmes importantes, sobressaindo os assinalados em negrito: 1935 – Lanceiros da Índia / The Lives of a Bengal Lancer; Amor sem Fim / Peter Ibbetson.  1936 – Amor e Ódio ou Amor e Ódio na Floresta / The Trail of a Lonesome Pine; Amores de uma Diva / Go West, Young Men, comédia tendo como foco uma estrela de cinema, um político e um mecânico com Mae West, Warren William e Randolph Scott.1937 – Almas no Mar / Souls at Sea. 1938 – Lobos do Norte / Spawn of the North, drama de aventura sobre a rivalidade entre pescadores de salmão no Alasca com George Raft, Henry Fonda e Dorothy Lamour. 1939 – A Verdadeira Glória / The Real Glory.

Gary Cooper, Franchot Tone e Richard Cromwell em Lanceiros da Índia

Lanceiros da Índia. Grande êxito de bilheteria na linha aventura de exaltação do Império Britânico. O enredo gira em torno de três oficiais (Gary Cooper, Franchot Tone, Richard Cromwell) que combatem no noroeste da Índia as forças do líder rebelde Mohammed Khan (Douglas Dumbrille). Hathaway reune ação e humor na justa medida e não deixa cair o ritmo desta eletrizante aventura militar até as cenas finais mais agitadas. Foram aproveitadas tomadas feitas por Ernest B. Schoedsack na Índia além das rodadas na região de Serra Nevada, ao norte de Los Angeles. O filme proporcionou indicações ao Oscar de Melhor Filme, Diretor, Roteiro, Montagem, Som, Assistente de Direção, saindo vencedores os ocupantes desta categoria, Clem Beauchamp e Paul Wing.

Gary Cooper e Ann Harding emAmor sem Fim

Amor sem Fim. Fantasia romântica e mística sobre um amor impossível baseada no romance de George Du Maurier, exaltada pelos surrealistas como um hino à liberdade de imaginação, à superioridade dos sonhos sobre a lógica e a razão. Dois namorados de infância Peter (Gary Cooper) e Mary (Ann Harding) se reencontram anos depois, mas ela está casada com um duque (John Halliday). A velha chama é reacesa e o duque, com ciúmes, atira em Peter, porém é morto por ele. Peter é condenado à prisão perpétua. Os anos passam, mas o amor continua a ser alimentado através dos sonhos de ambos até que morrem e se encontram no Além. Hathaway soube conduzir a narrativa muito bem e manter a atmosfera onírica enquanto o fotógrafo Charles Lang realçava a estranha beleza dos cenários naturais, que se tornaram fantásticos pelo emprego de filtros e películas especiais.

Amor e Ódio na Floresta. Drama romântico desenrolado em uma região selvagem nas montanhas do Kentucky, onde o engenheiro Jack Hale (Fred MacMurray) chega para construir uma ferrovia e se depara com uma rivalidade de longa duração entre duas famílias, os Tolliver e os Falin. Hale tenta uma conciliação entre as duas facções que lhe permitiria atravessar seus territórios respectivos para colocar os trilhos do futuro caminho de ferro. Após salvar a vida de Dave Tolliver (Henry Fonda), Jack conhece sua prima, June (Sylvia Sidney). June se apaixona por Jack, despertando a ira de Dave, que desejava casar-se com ela. Após alguns incidentes que resultam na morte de Buddie (Spanky McFarland), o irmãozinho de June, de Dave e de um dos Falins, os patriarcas dos dois grupos antagônicos celebram a paz. Hathaway nos mostra com eficiência cinematográfica a irrupção ambígua do mundo exterior em uma sociedade esquecida e isolada das montanhas, realizando não somente seu primeiro filme colorido como também o primeiro filme em exteriores feito com o technicolor de três cores. Em têrmos dramáticos sobressai a morte acidental de Buddie durante a dinamitação de uma ponte. A canção “A Melody From the Sky” de Louis Alter e Sidney Mitchell foi indicada para o Oscar.

 

George Raft, Frances Dee e Gary Cooper em Almas no Mar

Almas no Mar. Drama de aventura marítima que se inicia em 1842 na Inglaterra quando Michael “Nuggin” Taylor (Gary Cooper) está sendo julgado por ter se salvado, deixando para trás outras pessoas, durante o naufrágio do navio William Brown, que seguia rumo a Savanah na América. Ele é condenado, mas eis que surge um representante do governo britânico e revela que Taylor fôra convocado para uma missão que ajudaria a pôr fim ao tráfico de escravos. Com esta finalidade, partiu com seu amigo Powdah (George Raft) naquela embarcação em que viajavam também o tenente Stanley Tarrington (Henry Wilcoxon), cúmplice secreto dos traficantes, sua irmã Margaret (Frances Dee) e uma jovem doméstica, Babsie (Olympe Bradna), que desejava começar nova vida no continente americano. No percurso desenvolveram-se dois romances, Taylor com Margaret, Powdah com Babsie até ocorrer o naufrágio e a explicação da atitude de Taylor forçado a sacrificar algumas vidas diante de um estado de necessidade. Hathaway dirige com muita segurança, destacando-se a sequência emocionante do naufrágio e um lindo lance sentimental quando Powdah coloca o anel de casamento de sua mãe, que trazia na orelha, no dedo de Babsie moribunda. O filme possibilitou três indicações ao Oscar: Melhor Trilha Sonora, Direção de Arte e Assistente de Direção.

Gary Cooper em A Verdadeira Glória

Hathaway e Gary Cooper na filmagem de A Verdadeira Glória

A Verdadeira Glória. Drama de aventura histórica nas Filipinas no começo do século. Em 1906 o cruel Alipang (Tetsu Komai) e seus guerrilheiros Moros aterrorizam a população de Mindanao.  O exército de ocupação americano retira-se da ilha, deixando apenas um grupo de militares, que terão a tarefa de treinar os nativos para enfrentarem os revoltosos. Entre os oficiais escolhidos estão os capitães Hartley (Reginald Owen) e Manning (Russell Hicks), os tenentes McCool (David Niven) e “Sweede” Larsen (Broderick Crawford) e o médico da Marinha, Bill Canavan (Gary Cooper). Alipang envia seus fanáticos para assassinar os oficiais e mantém um de seus homens, o Datu (Vladimir Sokoloff), infiltrado no forte, fingindo-se de amigo dos americanos e com a missão de atraí-los para uma emboscada na floresta. Sucedem-se vários incidentes dramáticos, entre eles uma epidemia de cólera provocada pelos insurgentes  e o combate final com Canavan lançando bastões de dinamite sobre os atacantes enquanto os reforços chegam em balsas de madeira pelo rio. Durante um intenso tiroteio, é justamente um rapaz nativo que trava uma luta mortal contra Alipang, usando sua espingarda para se defender da espada do temível líder rebelde e consegue matá-lo a coronhadas.

Nos anos quarenta, Hathaway realizou uma quantidade de filmes marcantes, principalmente na 20th Century-Fox e na Paramount: 1940 – Johnny Apollo / Johnny Apollo; O Filho dos Deuses / Brigham Young, drama biográfico sobre um líder Mormon com Dean Jagger no papel principal. 1941 – O Morro dos Maus Espíritos / The Shepherd of the Hills; Quando Morre o Dia / Sundown, drama de guerra na Africa durante a Segunda Guerra Mundial com Gene Tierney, Bruce Cabot, George Sanders. 1942 – Dez Cavalheiros de West Point / Ten Gentlemen of West Point, drama histórico a respeito da famosa Academia Militar com George Montgomery e Maureen O´Hara; Paixão Oriental / China Girl, drama de guerra no Oriente durante a Segunda Guerra Mundial com Gene Tierney e George Montgomery. 1943 – Amor Juvenil / Home in Indiana., drama de aventura e romance passado no ambiente de corridas de cavalos com Walter Brennan, Jeanne Crain, Lon McCallister. 1944 – Uma Asa e uma Prece / Wing and a Prayer, drama de guerra focalizando a Aviação Naval durante a Segunda Guerra Mundial com Don Ameche e Dana Andrews; Beijos Roubados / Nob Hill, drama romântico e musical em torno de um dono de uma boate e uma socialite de um bairro nobre de San Francisco; 1945 – A Casa da Rua 92 / The House on 92nd Street; Envôlto nas Sombras / The Dark Corner. 1946 – 13 Rua Madeleine / Rue Madeleine 13. 1947 – O Beijo da Morte / Kiss of Death. 1948 Sublime Devoção / Call Northside 777. 1949 – Capitães do Mar / Down to the Sea in Ships, drama de aventura marítima com Richard Widmark, Lionel Barrymore e Dean Stockwell.

Loretta Young e Tyrone Power em Johnny Apollo

Johnny Apollo. Drama criminal combinado com melodrama começando quando o corretor da Bolsa de Valores Robert Cain (Edward Arnold) é preso por desfalque. Seu filho universitário, Bob (Tyrone Power), recrimina suas ações desonestas e rompe todas as relações com ele.  Cain é condenado a dez anos de prisão. Bob, que tinha uma vida rica e protegida, agora tem que lidar com a vergonha e a falta de dinheiro. Os amigos de seu pai o evitam e ninguém quer lhe dar emprego, porque seu pai está na cadeia. Eventualmente, ele conhece o gângster Mickey Dwyer (Lloyd Nolan) e, sob o nome de Johnny Apollo, entra para o seu bando. Logo, como resultado dos golpes praticados, Dwyer, Johnny e Bates (Marc Lawrence), assistente de Dwyer, são presos e encarcerados na mesma prisão em que está Cain que, a caminho da regeneração, ocupa agora o cargo de supervisor. Dwyer planeja uma fuga porém, avisado por Lucky (Dorothy Lamour), jovem cantora de cabaré por quem Bob se afeiçoou, Cain tenta detê-los. Quando Dwyer dispara sua arma em Cain, Bob tem que escolher entre fugir ou socorrer o pai. Ele escolhe ajudar o pai, luta com Dwyer, mas é derrubado por Bates. Neste instante, os guardas encurralam e matam os dois bandidos. Cain e Bob cumprem suas penas e saem da prisão aguardados por Lucky. História interessante (embora com situações implausíveis), direção sólida de Hathaway e intérpretes conscientes de seus papéis garantem um bom espetáculo, que culmina com as cenas empolgantes da tentativa de evasão.

Harry Carey e John Wayne em O Morro dos Maus Espíritos

O Morro dos Maus Espíritos. Melodrama famíliar em ambiente rural no seio de uma comunidade totalmente supersticiosa onde predominam a ignorância e o rancor. Nas Montanhas Ozark, Jim Lane (Tom Fadden) é alvejado pelas autoridades enquanto vigiava uma destilaria ilegal mantida pela família Matthews. Ele é salvo quando um estranho, Daniel Howitt (Harry Carey), aparece e ajuda a filha de Lane, Sammy (Betty Field), a retirar as balas do corpo de seu pai. Howitt manifesta o desejo de adquirir terras na comunidade e Sammy, que está apaixonada pelo jovem Matt Matthews (John Wayne), sugere que Howitt compre uma propriedade da família Matthews. O tio de Matt, Old Matt (James Barton) e a tia Mollie (Beulah Bondi) ficaram na miséria desde a morte da irmã de Mollie, Sarah, mão do jovem Matt. Este vive amargurado porque a comunidade culpou sua família e o fantasma de sua falecida mãe por todos os males porque está passando e jurou vingança contra seu pai que, anos atrás, abandonou o lar, precipitando a morte de sua progenitora. Contra a vontade do jovem Matt, Howitt adquire a Mooning Meadows, sítio onde Sarah está enterrada, que dizem ser assombrado pelo espectro de Sarah. Sammy convence Matt a fazer amizade com Howitt, que não é outro senão o seu pai, que ele jurara matar. Afinal, Matt fica sabendo da verdadeira identidade de Howiit, os dois se confrontam, e Howitt fere seu filho. Após ter tido a vida salva, Matt fica sabendo que seu pai fôra preso por ter matado um homem e não pôde voltar para casa porque estava preso. Ouvindo seu pai falar o jovem abandona seu desejo de vingança e abre seu coração para o amor e para Sammy. Grande paisagista, Hathaway explora muito bem os esplêndidos cenários naturais, visualizados em soberbo technicolor, e mantém esta história digna de uma tragédia grega em um clima angustiante. Difícil esquecer as imagens da tia Mollie traçando um círculo de fogo em torno de seu filho morto, o incêndio da casa e a cega Granny Becky  (Marjorie Main) recobrando a visão e se lembrando-se  de repente de todos os segredos do passado bem como da pescaria reunindo Matt e seu pai e o plano fixo de Matt chegando no fundo do quadro para cumprir sua vingança e o duelo que se segue no meio da pradaria.

William Eythe e ,Signe Hasso (à direita) e em A Casa da Rua 92

A Casa da Rua 42. Drama de espionagem no qual um jovem universitário de origem alemã, William Dietrich (William Eythe), recentemente instalado nos EUA, em concordância com o FBI, parte para fazer um estágio em uma escola de formação de espiões nazistas em Hamburgo. Ao retornar, torna-se operador de rádio na rêde de um misterioso Mr. Christopher, cujo quartel é uma casa de modas na Rua 92 de Nova York, administrada por Elza Gebhart (Signe Hasso). No decorrer da intriga, trabalhando em ligação com o Inspetor Briggs (Lloyd Nolan), ele desbarata a malha de agentes secretos germânicos que tentava ter acesso aos segredos da bomba atômica e a verdadeira identidade de Mr. Christopher se revela. Abraçando o estilo semidocumentário da série A Marcha do Tempo / The March of Time do produtor Louis de Rochemont, Hathaway usou um narrador (Reed Hadley) em voz over, tomadas de arquivo feitas pelo próprio FBI, atores não profissionais e filmou em locações, conseguindo desta forma dar realismo aos fatos narrados repletos de elementos de suspense e mistério, que acompanhamos com muito prazer.  Charles G. Booth ganhou o Oscar de Melhor História Original.

Lucille Ball e Mark Stevens  em Envolto nas Sombras

Envolto nas Sombras. Drama criminal noir tendo como personagem central o detetive particular Bradford Galt (Mark Stevens). Libertado da prisão após ter sido incriminado falsamente pelo ex-sócio, Tony Jardine (Kurt Kreuger), ele pressente que está sendo seguido por um homem de terno branco (William Bendix). Galt suspeita de que o homem tenha sido contratado por Jardine, mas ele é na realidade empregado do mercador de arte Hardy Cathcart (Clifton Webb). Cathcart espera fazer com que Galt mate Jardine porque este é amante de sua esposa Mari (Cathy Downs). Porém Galt e sua dedicada secretária Kathleen (Lucille Ball) encontram uma pista e descobrem que Cathcart é quem está por trás de todo o esquema. Hathaway e o fotógrafo Joseph MacDonald tiraram efeitos particularmente eficientes da iluminação noire, por exemplo na cena em que o capanga de Cathcart ataca Galt pelas costas, entorpece-o com clorofórmio e depois elimina Jardine e deixa o cadáver deste ao lado do corpo desacordado do detetive para dar a impressão de que os dois lutaram e Galt o matou. Sem saber como isto ocorreu nem o por quê, Galt cai em profunda prostração e lamenta: “Sinto-me completamente morto por dentro. Estou andando para trás em uma esquina escura e não sei quem está me atingindo”, um gemido tipicamente noir.

Annabella e James Cagney em 13 Rua Madeleine 

13 Rua Madeleine. Drama de guerra durante o Segundo Conflito Mundial. Neste contexto, Charles Gibson (Walter Abel) e Robert Emmett Sharkey (James Cagney)         selecionam candidatos para uma unidade secreta de inteligência. O grupo de Sharkey compreende Suzanne de Bouchard (Annabella), Bill O´Connell (Richard Conte) e Jeff Lassiter (Frank Latimore). Gibson informa a Sharkey que O´Connell é um espião nazista chamado Wilhelm Kuncel e, após um período de treinamento, planeja enviar Kuncel para Alemanha levando dados falsos sobre a invasão aliada enquanto Jeff e Suzanne iriam para a França. Kuncel descobre o logro e mata Jeff. Sharkey então cai de paraquedas na França para continuar o trabalho de Jeff. Ele executa bem sua missão, mas é preso e torturado por Kuncel. Gibson não tem alternativa senão ordenar o bombardeio da Rua Madeleine 13 onde Sharkey está preso e quando as bombas começam a cair, Sharkey rí nervosamente em triunfo diante de Kuncel, sabendo que os segredos do Dia-D morrerão com ele. Hathaway imprimiu um ritmo ágil à narrativa deste filme de espionagem, criando boas cenas como as da aprendizagem dos novos espiões e a queda livre de Jeff após Kuncel ter cortado as cordas de seu paraquedas, contando com a esmerada fotografia em preto e branco de Norbert Brodine e atuações marcantes de Cagney e Conte.

Brian Donlevy, Richard Widmark e Victor Mature em O Beijo da Morte

Richard Widmark em O Beijo da Morte

O Beijo da Morte. Drama criminal conjugando o estilo semidocumentarista com elementos noir (herói angustiado, prisioneiro do seu passado, vilão psicopata, cinismo e falsa moral na apologia da delação, narração em voz over, fotografia estilizada). Depois de roubar uma joalheria, Nick Bianco (Victor Mature) é preso. D´Angelo (Brian Donlevy), assistente do Promotor Público, oferece-lhe a redução da pena, se prestar informações sobre outros criminosos. Ao saber do suicídio da esposa, ele testemunha contra Tommy Udo (Richard Widmark), um assassino sádico, mas o facínora é absolvido. Sabendo que Udo vai se vigar, Nick manda as filhas para um lugar seguro e arma uma cilada para o bandido. A história é entremeada de suspense (a cena no elevador após o assalto: o medo de Bianco dentro do quarto escuro; no epílogo, Udo esperando-o dentro do carro na porta do restaurante para matá-lo) e exposta em uma calma sucessão de imagens. Richard Widmark cria admiravelmente o tipo do assassino perverso e sorridente, cujo furor irrompe na morte da velha paralítica amarrada na cadeira de rodas e jogada escadas abaixo, uma cena antológica no gênero criminal.

James Stewart e Richard Conte em Sublime Devoção

Sublime Devoção. Drama criminal em chave de semidocumentário com alguns temas do filme noir. Uma mulher coloca um anúncio classificado em um jornal de Chicago oferecendo cinco mil dólares por uma informação que possa levar à libertação de seu filho, Frank Wiecek (Richard Conte), condenado pelo assassinato de um guarda. O redator-chefe do Chicago Times lê o anúncio e manda o repórter McNeal (James Stewart) investigar. Ele descobre que a mulher vem limpando assoalhos há onze anos, economizando cada centavo, para ter a condição de oferecer aquela quantia. O jornal então se envolve em uma cruzada pela libertação do rapaz. Existe o tema noir do “homem errado”, porém a ênfase do filme não está na paranoia da vítima prejudicada por um erro judicial, mas sim o drama de consciência do repórter que, do sensacionalismo das manchetes, volta-se para a busca da verdade, na sua investigação laboriosa apoiada pela tecnologia. Há um aspecto dark na intransigência burocrática da polícia, nas pressões políticas que o jornal sofre durante a sua campanha e ainda na obstinação da testemunha em manter seu depoimento mesmo confrontada com a verdade. A iluminação raramente é expressionista, todavia a cidade onde transcorre a ação tem uma aparência depressiva, assim como a própria história Hathaway desenvolve a narrativa com uma sobriedade e um distanciamento impressionantes, inclusive no clímax científico, sem dramaticidade.

 

 

 

 

OS FILMES DE MIRIAM HOPKINS

Embora tenha sido aclamada pela crítica e pelo público durante sua longa carreira, ela é lembrada como uma das atrizes mais temperamentais da Idade de Ouro de Hollywood, por causa de seus conflitos com donos de estúdio, pelas intromissões no trabalho de seus diretores e colegas, usando, por exemplo, quanto a estes últimos sua tática para ofuscá-los movimentando-se diante da câmera com a intenção de forçá-los a saírem de cena. Na verdade Miriam ere perfeccionista e quando confiava no seu diretor e colegas, tornava-se uma companheira ideal nas filmagens. Leitora assídua e patrona das artes, suas amizades incluíam escritores e intelectuais como Theodore Dreiser, Dorothy Parker, Gertrude Stein, Tennessee Wiliams. Na sua vida amorosa teve quatro maridos e dezenas de amantes entre eles alguns diretores: King Vidor, Anatole Litvak (com quem se casou) e Fritz Lang (só por uma noite durante uma viagem de trem). Em 1932, quando a adoção monoparental era ilegal na maioria dos estados americanos, ela adotou uma criança entre dois casamentos. Miriam adorava seu filho Michael e sempre o chamava de o homem mais importante de sua vida.

Miriam Hopkins

Ellen Miriam Hopkins (1902-1972) nasceu no seio de uma família rica em Savannah, Georgia, filha de Homer Ayres Hopkins e Ellen Dickinson Cutter, e criada em Bainbridge. Ela foi matriculada nas melhores instituições de ensino inclusive o Seminário Goddard em Plainfield, Vermont e na Universidade de Syracusa no Estado de Nova York. Aos vinte anos de idade de idade, quando estava estudando dança em Nova York, teve seu primeiro contato com o palco como corista em musicais da Broadway e depois fez também papéis dramáticos em peças como An American Tragedy, baseada no livro de Theodore Dreiser, Lysistrata de Aristófanes e tantas outras. Em 1930 resolveu tentar o cinema assinando contrato com a Paramount depois de ter aparecido em um curta-metragem, The Home Girl / 1928, dirigido por Edmond Lawrence e produzido no seu Astoria Studios na Costa Leste.

Miriam Hopkins, Maurice Chevalier e Claudete Colbert em O Tenente Sedutor

Logo em seguida ao seu primeiro longa-metragem na Paramount, Fast and Loose (Dir: Fred Newmeyer) comédia romântica com Carole Lombard, Frank Morgan, Charles Starrett, Harry Wadworth, Ilka Chase, Miriam teve a grande chance de se encontrar sob as ordens de Ernst Lubitsch em O Tenente Sedutor / The Smiling Lieutenant / 1931, excelente opereta, impregnada daquele humor atrevido e malicioso que caracteriza o famoso toque do grande diretor berlinense. A intriga é tipicamente lubitscheana: oficial da guarda palaciana, Tenente Niki (Maurice Chevalier), interrompe o idílio com a bela violinista e chefe de orquestra Franzi (Claudette Colbert), quando recebe ordens de se casar com a Princesa Anna (Miriam Hopkins). A violinista fica com pena de sua desajeitada rival e lhe ensina como proceder para ganhar a afeição do futuro marido. Chevalier, Miriam e Claudette formam o triângulo com muita verve cômica e o espetáculo concorreu ao Oscar de Melhor Filme.

Fredric March e Miriam Hopkins em O Médico e o Monstro

Ainda em 1931, depois de atuar em Vinte Quatro Horas / 24 Hours (Dir: Marion Gering), drama criminal com Clive Brook, Regis Toomey, Kay Francis, Miriam recebeu orientação de outro cineasta importante, Rouben Mamoulian, em O Médico e o Monstro / Dr. Jekyll and Mr. Hyde, a melhor versão da história de Robert Louis Stevenson. Ao lado de Fredrich March no papel duplo de Jekyll e Hyde (que lhe deu o Oscar, empatado com Wallace Beery), ela teve um excelente desempenho como Ivy Pearson, a garota do cabaré aterrorizada por Hyde. Realizado antes de a censura endurecer, o filme pôde mostrar sem subterfúgios o desejo carnal reprimido do médico e as insinuações sexuais da garçonete, sendo memorável a fusão da perna de Miriam, balançando na cama. A inventiva troca de filtros coloridos para revelar diferentes camadas da maquilagem de March na cena de transformação dele diante nossos olhos; o uso funcional das cortinas diagonais, da câmera subjetiva   e da trilha de som; o claro-escuro de Karl Struss, confirmaram o gênio criativo de Mamoulian, em fase cintilante.

Em 1932, após confirmar sua versatilidade e forte personalidade em três filmes irrelevantes – Mulheres Suspeitas / Two Kinds of Women (Dir: Wiliam C. de Mille), drama com Phillips Holmes, Irving Pichel; Dançando no Escuro / Dancers in the Dark (Dir: David Burton) com Jack Oakie, William Collier Jr.; O Tigre do Mar Negro / The World and the Flesh (Dir: John Cromwell) drama histórico com George Bancroft, Alan Mowbray -, Miriam distinguiu-se novamente sob o comando de Ernst Lubitsch em Ladrão de Alcova / Trouble in Paradise, comédia sofisticada de alto nível na qual dividia o estrelato com Herbert Marshall e Kay Francis. Gaston Monescu (Herbert Marshal) e Lily (Miriam Hopkins) são dois ladrões cosmopolitas que pretendem furtar as jóias de Mariette Colet (Kay Francis), empregando-se em sua casa. Depois de muitos imprevistos, finura e mordacidade, termina esta farsa mundana, deliciosamente cínica e amoral, um dos filmes prediletos do diretor em matéria de puro estilo.

Kay Francis, Herbert Marshal e Miriam Hopkins em Ladrão de Alcova

Em 1933, antes da criação do severo Código de Produção, Miriam participou de Levada à Força / The Story of Temple Drake (Dir: Stephen Roberts), drama baseado no romance “Sanctuary” de William Faulkner, obra considerada imoral pelos puritanos (entre outros motivos a descrição do estupro de uma jovem com uma espiga de milho por um gângster impotente chamado Popeye), que protestaram contra a filmagem. A Paramount deu novo título ao filme, assegurou que faria mudanças no enredo, e a produção foi iniciada com Jack LaRue no papel do estuprador (agora não mais um gângster impote nte, mas sim um contrabandista conhecido como Trigger) e Miriam como Temple Drake – neta de um magistrado de uma cidade sulista que gostava de seduzir os rapazes fazendo-os pensar que ia se entregar -, como a moça violentada e depois mantida prisioneira em um prostíbulo pelo vilão, que acaba matando. A cena do estupro (desenhada em esquetes de story board por Jean Neguleso, então consultor técnico do filme) não é mostrada. Quando Trigger se aproxima de Temple a tela escurece e ouve-se apenas um grito de terror. Miriam considerava Temple Drake um dos melhores papéis que interpretou e, de fato, deu-nos uma de suas performances mais vigorosas.

Miriam Hopkins e Jack LaRue em Levada à Força

No mesmo ano, a lourinha dinâmica (como era então chamada pelos fãs brasileiros) participou de outro filme ousado, Sócios no Amor / Design for Living, pois o enredo, utilizando somente a situação básica da peça de Noel Coward, tratava de um ménage-a-trois entre uma desenhista industrial, Gilda Farrell (Miriam Hopkins) e dois artistas promissores, o escritor Tom Chambers (Fredric March) e o pintor George Curtis (Gary Cooper). Para driblar os censores, o diretor Ernst Lubitsch empregou sua figura de retórica favorita, a elipse, de maneira brilhante, expondo com argúcia os novos e audaciosos diálogos do adaptador-roteirista Ben Hecht. Miriam era a atriz predileta de Lubitsch e atribuia o sucesso de sua carreira à influência do grande cineasta germânico.

Lubitsch dirigindo Gary Cooper, Miriam e Fredric March em Sócios no Amor

Em um terceiro filme de 1933 que Miriam fez emprestada para a MGM, Felicidade Proibida / The Stranger´s Return, ela teve oportunidade de trabalhar com outro cineasta altamente conceituado, King Vidor. No enredo, Louise Storr (Miriam Hopkins) deixa a cidade de Nova York para ficar na fazenda de seu avô (Lionel Barrymore) em PIttsville, Iwoa. Lá encontra uma alma gêmea na pessoa de um vizinho casado, Guy Crane (Franchot Tone), rapaz educado na Universidade de Cornell. Guy confessa seu amor por Louise, mas como não deseja abandonar a esposa, aceita um cargo de professor em Cornell e deixa o campo enquanto Louise, que viera da cidade, tendo herdado a propriedade do avô, encontra suas raízes no ambiente rural. Vidor capta muito bem a atmosfera simples da vida campestre, William Daniels incute poesia nos fotogramas e os três intérpretes centrais dão calor humano aos seus personagens neste drama delicado e sentimental.

Franchot Tone e Miriam Hopkins em Felicidade Proibida

Miriam fez mais dois filmes na Paramount (Toda Tua / All of Me / 1934 (Dir: James Flood), drama baseado na peça “Chrysalis” de Rose Albert Porter com Fredric March, George Raft, Helen Mack e Demônio Louro / She Loves me Not / 1934 (Dir: Elliott Nugent), comédia com Bing Crosby, Kitty Carlisle, Edward Nugent); um na RKO, A Pequena Mais Rica do Mundo / Richest Girl in the World / 1934 (Dir: William A. Seiter), comédia com Joel McCrea, Fay Wray; e um para a Pioneer, distribuído pela RKO: Vaidade e Beleza / Becky Sharp / 1935 (Dir: Rouben Mamoulian, após o falecimento de Lowell Sherman), adaptação do romance de “Vanity Fair” de William Thackeray com Frances Dee, William Faversham, Cedrick Hardwicke. Este último merece destaque por ter sido o primeiro filme de longa-metragem realizado integralmente no processo Technicolor de três cores e pelo uso pioneiro da cor com fins dramáticos, notadamente na sequência do baile da Duquesa de Richmond às vésperas de Waterloo, quando os tons azuis, verdes e amarelos vão gradualmente cedendo lugar na tela para o vermelho. Além da beleza pictórica, houve perfeita representação dos personagens descritos na crônica de costumes de Thackeray, mas faltou dramaticidade. Miriam foi indicada para o Oscar e os espectadores puderam ver seus lindos olhos azuis.

Miriam Hopkins e Frances Dee em Becky Sharp

Em 31 de agosto de 1934, Miriam havia assinado contrato com Samuel Goldwyn, mas este permitiu que ela fizesse Vaidade e Beleza para a Pioneer até encontrar um script apropriado para sua nova atriz contratada. Assim foi somente a partir de 1935 que ela começou a trabalhar para Goldwyn em quatro filmes: 1935 – Duas Almas se Encontram / Barbary Coast (Dir: Howard Hawks), drama e aventura com Edward G. Robinson, Joel McCrea, Walter Brennan, Brian Donlevy; Vende-se uma Mulher / Splendor (Dir: Elliott Nugent), comédia romântica com Joel McCrea, Helen Westley, Billie Burke, Paul Cavanagh. 1936 – Infâmia / These Three (Dir: William Wyler), drama com Merle Oberon, Joel McCrea, Bonita Granville, Catherine Doucet. 1937 – Quando Mulher Persegue Homem / Woman Chases Man (Dir: John Blystone), comédia com Joel McCrea, Charles Winninger, Broderick Crawford.  Entre estes sobressai o filme de William Wyler, versão da peça “The Children´s Hour” de Lillian Hellman, com roteiro dela própria, extirpando o lesbianismo, a fim de burlar o Hays Office. O verdadeiro tema, no entanto, como explicou Lillian ao produtor Samuel Goldwyn, é o poder da mentira, dita no filme por uma aluna (Bonita Granville) que acusa falsamente uma professora (Miriam Hopkins) de estar namorando o noivo (Joel McCrea) da outra (Merle Oberon) e com isso arruinando a escola para moças que elas fundaram. Interpretações soberbas  de Hopkins, Oberon e McCrea compondo o triângulo vítima da intrigante e também de Granville, que foi indicada  ao Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante aos quatorze anos de idade.

Na década de trinta Miriam fez ainda: com permissão de Goldwyn, um filme para a London Film, Os Homens Não São Deuses / Men Are Not Gods / 1936 (Dir: Walter Reisch), comédia dramática com Gertrude Lawrence, Rex Harrison, Sebastian Shaw; mais dois para a RKO, Inferno entre Nuvens / The Woman I Love / 1937 (Dir: Anatole Litvak), drama baseado no romance “L´Equipage” de Joseph Kessel, com Paul Muni, Louis Hayward, Colin Clive e Wise Girl / 1937 (Dir: Leigh Jason), comédia com Ray Milland, Margaret Dumont; e seu primeiro filme na Warner Bros., Eu Soube Amar  / The Old Maid /1939 (Dir: Edmund Goulding), melodrama materno com Bette Davis, George Brent, Donald Crisp, Mary Bryan, Louise Fazenda.

Miriam Hopkins e Bette Davis em Eu Soube Amar

 

Absorvente do início ao fim, este último avulta entre os demais pelas primorosas atuações das duas atrizes sob a direção precisa de Goulding e ainda tem a bela partitura de Max Steiner e a apurada fotografia de Tony Gaudio.  Bette é Charlotte Lovell, a jovem que tem uma filha ilegítima e a entrega para ser criada por sua prima Delia, vivida por Miriam. Esta, apesar de ter se casado com outro, ainda amava o ex-noivo (George Brent), pai da criança. Este morre e Charlotte dá a luz em segredo. O marido de Delia por sua vez é morto em um acidente. Charlottte e sua filha Tina (Jane Bryan) vão morar com Delia. Tina está convencida que Delia é sua mãe e Charlotte sua tia. A fim de que Tina, filha natural, possa se casar, Delia propõe adotá-la. Charlotte aceita, com a morte na alma.

Nos anos quarenta, Miriam fez mais três filmes na Warner (Caravana do Ouro / Virginia City / 1940 (Dir: Michael Curtiz), western com Errol Flynn, Randolph Scott, Humphrey Bogart; A Mulher de Cabelos Vermelhos / Lady With Red Hair / 1940 (Dir: Curtis Bernhardt), drama biográfico com Claude Rains, Richard Ainley, Laura Hope Crews; Uma Velha Amizade / Old Acquaintance / 1943 (Dir: Vincent Sherman), comédia sentimental baseada na peça de John Van Druten com Bette Davis, Gig Young, John Loder, Dolores Moran) e um para a Edward Small Productions, Um Cavalheiro da Noite / A Gentleman After Dark / 1942 (Dir: Edwin L. Marin), drama criminal  com Brian Donlevy, Preston Foster.

Bette Davis e Miriam Hopkins em Uma Velha Amizade

Em Uma Velha Amizade, o melhor de todos, Miriam dividiu novamente o estrelato com Bette Davis. Elas são duas amigas de infância: Katherine “Kit” Marlowe (Bette), romancista séria respeitada pelos críticos, mas pouco lida; a outra, MIldred “Millie” Burke (Miriam), autora de romances de amor populares que vendem bem. Apesar de suas rivalidades e temperamentos diferentes elas continuam amigas através dos tempos, mesmo depois que Millie descobriu que seu marido estava secretamente apaixonado por Kit. Anos mais tarde, sozinhas e reconciliadas, ela enfrentam juntas a idade madura e resolvem escrever um romance sobre sua velha amizade.

Miriam Hopkins e Oliva de Havilland em Tarde Demais

Durante cinco anos, Miriam, exceto uma rara oferta de filme que nunca se materializou, Miriam trabalhou nos palcos da Broadway ou viajando pelo país em uma peça ou outra até que, em 1949 foi chamada por William Wyler para fazer na Paramount um papel coadjuvante em Tarde Demais / The Heiress, drama psicológico baseado no romance “Washington Square” de Henry James. O filme conta a história de Catherine Sloper (Olivia de Havilland), jovem tímida e sem atrativos menosprezada pelo pai, Dr. Sloper (Ralph Richardson), um médico próspero e cortejada por um caçador de dotes, Morris Towsend (Montgomery Clift). Ao descobrir os verdadeiros sentimentos de seu progenitor e do noivo, Catherine torna-se dura, intransigente, vingativa. Miriam faz a tia excêntrica de Catherine, Lavinia Penniman, que estimula o namoro entre a sobrinha e o rapaz mal-intencionado. Wyler expõe o drama com esplêndido discernimento cinematográfico, mantendo o ritmo vivo e extraindo dos intérpretes o máximo de expressividade. São inesquecíveis a cena da filha sentada em frente da casa no instante em que o pai está morrendo e o final com o noivo batendo desesperadamente na porta de Olivia. A produção suscitou oito indicações ao Oscar: Melhor Filme, Direção, Atriz (Olivia de Havilland), Ator Coadjuvante (Ralph Richardson), Foto (preto-e-branco), Música de filme não musical, Direção de Arte (preto-e-branco), Figurinos (preto-e-branco). Ganharam: Olivia de Havilland, Aaron Copland, Harry Horner e John Meehan, Edith Head e Gile Steele.

Nos anos cinquenta, Miriam continuou atuando apenas como coadjuvante em O Quarto Mandamento / The Mating Season / 1951 / Paramount (Dir: Mitchell Leisen), comédia dramática com Gene Tierney, John Lund. Thelma Ritter; Párias do Vício / The Outcasts of Poker Flat / 1952 / Twentieth Century Fox (Dir: Joseph M. Newman), western com Anne Baxter, Dale Robertson, Cameron Mitchell; Perdição por Amor / Carrie /1952 / Paramount (Dir: William Wyler), drama romântico com Laurence Olivier, Jennifer Jones, Eddie Albert.

Nos seus quatro  derradeiros filmes na década de sessenta, atuou ainda mais duas vezes como supporting player (Infâmia / The Children´s Hour / 1961 / Mirisch-UA (Dir: William Wyler, refilmagem com Audrey Hepburn, Shirley MacLaine, James Garner, Fay Bainter; Caçada Humana / The Chase / 1966 / Columbia (Dir: Arthur Penn), drama criminal com Marlon Brando, Jane Fonda, Robert Redford, Angie Dickinson) e apareceu nos créditos como atriz principal em dois filmes: como uma cafetina na comédia Fanny Hill: Memoirs of a Woman of Pleasure / 1964 / Central Cinema Company / Pan World (Dir: Russ Meyer) e como uma ex-estrela de Hollywood envelhecida no thriller de horror O Intruso / Savage Intruder / 1969 / Congdon Productions  (Dir: Donald Wolfe).

Miriam faleceu em 9 de outubro de 1972 aos 69  anos de idade, de um ataque do coração. Seu corpo foi cremado e as cinzas enterradas no Oak City Cemetery de Baindbridge na Georgia. O epitáfio que ela escolheu era uma parafraseada citação de Shakespeare do “Hamlet”: “Good night sweet princess, and flights of angels sing thee to thy rest! (Boa-noite, amada príncesa, revoadas de anjos cantando te acompanhem ao teu repouso!”.

O CINEMA DA FRENTE POPULAR E O REALISMO POÉTICO

A Frente Popular foi uma maioria parlamentar – nascida de uma coalizão da esquerda composta por comunistas, socialistas e radicais -, eleita no final da primavera de 1936, que apoiou o primeiro governo de Leon Blum (1936-1937), líder parlamentar da SFIO (Section Française de l’Internationale Ouvrière). Foi também uma corrente profunda que circulou na sociedade francesa, sustentada por jornalistas, escritores, artistas e cineastas, despertando grandes esperanças na classe operária, pois significava a introdução das massas na vida política.

Leon Blum

Os estudiosos de cinema empregam a expressão Cinema da Frente Popular para designar a atividade cinematográfica durante esse período; porém, com exceção dos filmes de Jean Renoir, poucos então produzidos se aproximam daquele fenômeno tão importante, que trouxe o retorno de um gosto pelo trabalho e pela vida, de uma crença no progresso e na fraternidade. Dessarte, a Frente Popular não engendrou um importante movimento cinematográfico, mas se manifestou no cinema de três maneiras: pela agitação cultural, produção militante e impulsão dada ao realismo poético.

Os cineclubes da época, Les Amis de Spartacus, fundado pelo crítico de cinema Léon Moussinac, Les Amis de la Bellevilloise, dirigido, entre outros, pelo roteirista Jean-Paul Dreyfus (que se tornaria o diretor Jean-Paul le Chanois), e sobretudo os clubes da Association France-URRS, desempenharam um papel significativo na ascenção da Frente Popular bem como no aparecimento de novos tipos de associações que iriam aproximar o público e o mundo do cinema. Foi o caso da AEAR – Association des Écrivains et Artistes Révolutionnaires, criada em março de 1932 tendo como secretário-geral o líder comunista Paul Vaillant-Couturier e que publicou, a partir de 1933, a revista cultural Commune, na qual Georges Sadoul faria sua estréia como crítico cinematográfico em 1936. A seção de cinema da AEAR completava a ação dos cineclubes, organizando algumas projeções de filmes proibidos para um círculo de intelectuais e de profissionais de cinema.

Depois de 1936, surgiu uma nova organização, Ciné-Liberté, que se propôs a produzir, em cooperativa, documentários e filmes de ficção, promover filmes populares e travar batalhas profissionais, como a luta contra a censura ou o saneamento econômico do cinema. Os meios de ação eram, essencialmente, as sessões de cinema, conferências seguidas de debates e um jornal. Jean Renoir e Henri Jeanson apareciam como os principais ativistas dessa associação, em que se distinguiam também Jacques Becker, Charles Dullin, Jacques Feyder, Jean-Paul Dreyfus. O Ciné-Liberté desempenharia um papel notável na produção de filmes militantes.

Cinemateca Francesa

Esses anos da Frente Popular foram marcados por uma viva atividade cultural em torno do cinema. Em 1935, Jean Mitry encontrou dois jovens cinéfilos, Henri Langlois e Georges Franju, que desejavam criar um cineclube, Le Cercle du Cinéma. Os três formularam então o projeto da Cinémathèque Française, que foi fundada em 1936 como apoio moral e financeiro da Paul-Auguste Harlé, diretor da revista La Cinématographie Française. Logo Henri Langlois assumiu a direção da Cinémathèque. Ele tinha dinheiro, o que lhe permitiu salvar da destruição um grande número de filmes, e uma qualidade que faltava a Mitry: capacidade para enfrentar todas as dificuldades.

O principal filme militante, La Vie est à Nous (1936), foi financiado e utilizado pelo PCF para preparar a campanha eleitoral que levou, em maio de 1936, à vitória da Frente Popular. Os mais proeminentes intelectuais de esquerda da época, reunidos e dirigidos por Jean Renoir, exprimiam suas esperanças e sua fé na mais pura tradição do cinema engajado. A demonstração pedagógica começa por uma sequência na qual um professor explica a seus alunos que a França é um país rico e que, se fosse administrado de outra forma, o povo seria feliz. Depois, na redação do jornal L’Humanité, seu editor, Marcel Cachin, lê três cartas mostrando a vitalidade e a ubiquidade da resposta comunista: (1) um operário injustamente despedido é reintegrado pela solidariedade de seus companheiros; (2) na França rural um oficial de justiça penhora os animais e as ferramentas de um lavrador endividado e seus vizinhos arrematam os bens no leilão e os devolvem ao dono; (3) um jovem mecânico desempregado perde a única vaga que conseguira em uma garagem e o Partido Comunista lhe oferece ajuda.

Jean Renoir na filmagem de A Marselhesa

Cena de  A Marselhesa

Pierre Renoir em A Marselhesa

Renoir foi convocado, logo em seguida a La Vie est a Nous, para a realização do projeto mais grandioso do cinema militante: A Marselhesa / La Marsellaise / 1937. O dinheiro para a produção desse filme –-“concebido pelo povo e para o povo” – foi recolhido graças a uma subscrição junto aos futuros espectadores, entre os quais estavam os trabalhadores que viviam ainda no entusiasmo da Frente Popular.

A expressão realismo poético pertenceu inicialmente à crítica literária, usada por Jean Paulham, editor da prestigiosa La Nouvelle Revue Française, ao comentar La Rue Sans Nom, romance de Marcel Aymé de 1929, sobre um grupo de seres esquecidos que definhava nas ruas escuras dos subúrbios de Paris. Quando o cineasta Pierre Chenal levou o livro para as telas em 1932, Michel Gorel, crítico da revista Cinémonde, declarou: “Este filme, a meu ver, inaugura um gênero inteiramente novo no cinema francês: o realismo poético”. A partir de então o termo foi usado para caracterizar um grupo de filmes franceses, realizados entre 1934 e 1939, que criavam um mundo maravilhosamente poético, mas com impressão de realidade.

O realismo poético, na sua expressão fílmica, nasceu de uma rede de influências literárias, com as variações em torno do naturalismo, do populismo e do fantástico social de Pierre Mac Orlan e Marcel Aymé; influências cinematográficas, com o expressionismo realista, frequentemente chamado de Kammerspielfilm (filme de interiores), do qual tomou emprestado a temática (personagens que representavam a escória da sociedade, abatidos pela fatalidade), a atmosfera (a famosa Stimmung, prezada pelos alemães), a iluminação (utilização expressionista da luz devido a grandes cinegrafistas alemães emigrados na França, como Eugen Schuftan) e a representação cênica estilizada (que privilegiava a filmagem em estúdio).

As principais obras do realismo póetico tentavam, de uma maneira ou de outra, encontrar uma dimensão trágica nas vidas dos marginais, do excluídos, que não tinham outra escolha senão o exílio ou a morte. Transitando por portos banhados de sombras, bares sórdidos, hotéis de terceira categoria ou desertos distantes, esses seres procuravam se evadir para um outro destino pela aventura e pelo sonho. Alguns comentaristas preferem usar o termo “tragédia populista” ou “populismo trágico “ para denominar essa corrente do cinema francês.

 O clima sombrio e melancólico dos filmes e o sentimento de amargura e fatalismo de que estão impregnados têm sido frequentemente interpretados como uma expressão do desapontamento da esquerda após o colapso da Frente Popular e, mais geralmente, dos anos angustiosos que antecederam a Segunda Guerra Mundial. Com efeito, após a derrota da França em 1940, o novo regime colaboracionista do marechal Pétain acusou os dramas realistas poéticos de expressarem uma atitude derrotista de uma nação decadente, e, consequentemente, muitos deles foram banidos das telas francesas durante a Ocupação.

Os historiadores do cinema usam a expressão realismo poético em conexão com certos filmes realizados principalmente por Marcel Carné, Julien Duvivier, Jacques Feyder, Jean Grémillon, Pierre Chenal e Jean Renoit, porém cada qual apresenta uma relação diferente de obras básicas. A maioria dos estudiosos cita especialmente Cais das Sombras / Quais des Brumes / 1938, Hotel do Norte / Hotel du Nord / 1938, Trágico Amanhecer / Le Jour se Léve / 1939 de Marcel Carné; A Bandeira / La Bandera / 1935, Camaradas / La Belle Équipe / 1936, O Demônio da Algéria / Pepe le Moko / 1937 de Julien Duvivier; A Última Cartada / Le Grande Jeu / 1934, Pension Mimosas / 1935, Povo Errante / Les Gens du Voyage / 1937 de Jacques Feyder; Gula de Amor / Gueule d’Amour / 1937, Águas Tempestuosas / Remorques / 1941 de Jean Grémillon; L’ Alibi / 1937, Paixão Criminosa / Le Dernier Tournant / 1939 de Pierre Chenal;  A Grande Ilusão / La Grande Illusion / 1937,  A Besta Humana / La Bête Humaine / 1938  de Jean Renoir. Outros vislumbram um realismo poético “sobrevivente” em Lumière d’ Été / 1942 de Grémillom, Viagem sem Esperança / Voyage sans Espoir / 1943 de Christian-Jaque; ou O Boulevard du Crime. / Les Enfants du Paradis / 1945 de Carné, etc. E há quem perceba traços desse fenômeno no cinema mudo em filmes de precursores como Coração Fiel / Coeur Fidèle / 1923 de Jean Epstein, Em Rade / 1927 de Alberto Cavalcanti e, sobretudo, Mènilmontant / 1926 de Dimitri Kirsanoff.

Marcel Carné

O lugar de Marcel Carné (Paris,1909 – 1996) na história do cinema está assegurado como o principal expoente do realismo poético, particularmente na sua colaboração com o poeta roteirista Jacques Prévert. Carné foi aprendiz de marceneiro, depois empregado de uma companhia de seguros. Apaixonado pelo cinema, frequentou cursos de fotografia e exerceu a crítica de filmes. O encontro com a atriz Françoise Rosay, esposa do cineasta Jacques Feyder, ajudou-o a começar sua carreira como assistente de câmera em Les Nouveaux Messieurs / 1929 (Dir: Jacques Feyder), e Cagliostro / 1929 (Dir: Richard Odswald).No mesmo ano, Carné dirigiu um documentário de curta-metragem, Nogent, Eldorado du Dimanche, e depois se tornou assistente de René Clair (Sob os Tetos de Paris / Sous les Toits de Paris) e de Feyder (A Última Cartada, Pensão Mimosas, A Quermesse Heróica / La Kermesse Héroique / 1935).

Jean Gabin e Michèle Morgan em Cais das Sombras

Trabalhando intimamente com Prévert, Carné ascendeu para uma grande proeminência no cinema francês dos anos 30. De sua cumplicidade nasceram sete filmes, dotados de um equilíbrio exemplar entre o lirismo eloquente do dialoguista e a visão moderadada do cineasta. Sua colaboração produziu filmes memoráveis como Jenny / Jenny / 1936, Família exótica / Drôle de Drame / 1937, Cais das Sombras, o filme mais representativo do universo negro de Carné-Prévert; e Trágico Amanhecer. Essas duas últimas obras foram o ápice do realismo poético, juntamente como Hotel do Norte, no qual Carné não contou com a participação de Prévert, substituído por Henri Jeanson.

Celebrando Prévert, os críticos talvez tenham subestimado atributos distintivos de Carné: seu senso refinado de composição e iluminação, sua capacidade para dar vida ao artifício do estúdio, sua articulação do estado psicológico de sues heróis. Certamente seus filmes do período em questão também devem muito ao decorador Alexandre Trauner, ao compositor Joseph Kosma e a uma grande quantidade de atores notáveis, Carné era o catalisador, o condutor e o centro de tudo.

Julien Duvivier

Julien Duvivier (Lille, 1896 – Paris, 1967) costuma ser apontado como o cineasta que soube captar o espírito da Frente Popular e cuja obra abundante nunca teria ultrapassado as convenções do cinema popular. Para muitos críticos ele seria um técnico muito versátil e competente, mas sem personalidade. Porém, a realidade é mais complexa, mesmo se a sua filmografia contém um bom número de filmes de encomenda.

Educado em um colégio jesuíta de sua cidade natal, Duvivier foi para Paris e arranjou emprego no Thêatre de l’Odeon nas funções de ator e encenador. Interessado pelo cinema, ingressou na Societé Cinématographique des Auteurs et Gens des Lettres (SCAG), na qual colaborou com André Antoine, o fundador do Thêatre Libre. Em 1919, depois de ter sido assistente de Louis Feuillade e Marcel l’Herbier, e outros cineastas, dirigiu seu primeiro filme, Haceldama ou Le prix du sang. Após uma carreira bastante produtiva na cena muda, marcada por dois sucessos artísticos, Poil de Carotte / 1925(que refilmaria em 1932) e Au Bonheur des Dames / 1930 (parcialmente sonorizado), Duvivier tornou-se , nos anos 30, um dos grandes diretores do cinema francês –-ao lado de René Clair, Marcel Carné e Jacques Feyder -, e realizou entre 1930 e 1940, alguns dos melhores filmes da época, por meio dos quais expressava um pessimismo amargo: Tragédia de um Homem Rico / David Golder;  Poil de Carotte / 1932, Maria Chapdelaine / Marie Chapdelaine / 1934,  Camaradas, O Demônio da Argélia, Um Carnet de Baile / Um Carnet de Bal / 1937; La Fin du Jour / 1939.

Charles Dorat, Jean Gabin, Rafael Medina, Aimos e Charles Vanel em  Camaradas  

Em toda a sua obra esse profissional eclético e muito produtivo demonstrou sempre um extremo rigor no plano da construção dramática, uma concepção de arte dinâmica e uma técnica extraordinária. A fotografia sempre bem cuidada e seus movimentos de câmera virtuosos combinados com planos longos contribuíram para a mise-en-scène atmosférica das histórias, por cujos roteiros – convém lembrar – muitas vezes ele mesmo se responsabilizou.

Jacques Feyder

Outro cineasta que ocupou uma posição importante nesse período tão fértil do cinema francês, Jacques Feyder (Ixelles, Bégica, 1885 – Genebra, 1948), teve uma participação ainda mais expressiva do que Julie Duvivier no cinema mudo. Contrariando o desejo do pai, que esperava ver o filho em uma escola militar, o jovem Feyder preferiu ser ator. Em 1911, chegou a Paris e logo começou a trabalhar no teatro, desempenhando pequenos papéis; porém, verificou que seu verdadeiro interesse era o cinema. Depois de algum tempo de treinamento como assistente do diretor Gaston Ravel e de ter se casado com a atriz Françoise Rosay, Feyder foi convocado para o exército ao irromper a Primeira Guerra Mundial, durante a qual prestou serviço em uma companhia teatral montada pelas Forças Armadas. Ao retornar à França em 1919, iniciou a trajetória que iria projetá-lo no meio cinematográfico.

Seu primeiro filme importante, Atlantide / L’Atlantide / 1921, filmado parcialmente no deserto do Saara, foi a produção francesa mais cara até então e, juntamente com os subsequentes Crainquebille / 1923 e Visages d’enfants / 1925, Carmen / Carmen / 1927 e Thèrése Raquin / 1928, elevou-o à categoria de grande cineasta. Após a proibição de sua sátira Les Nouveaux Messieurs, “por ter ofendido a dignidade do Parlamento e de seus ministros”, Feyder aceitou o convite da MGM e partiu para a América, onde dirigiu O Beijo / The Kiss / 1929, último filme mudo de Greta Garbo, versões estrangeiras de filmes americanos e dois dramas românticos estrelados por Ramon Novarro.

Pierre Richard-Willm e Françoise Rosay em A Última Cartada

Sentindo que o ambiente de Hollywood era incompatível com o seu temperamento, o diretor belga retornou à França e solidificou sua reputação com três filmes interpretados por sua mulher: A Última Cartada / Le Grand Jeu,  Pension MImosas e A Quermesse Heróica / La Kermesse Heróique, nos quais demonstrou a sua ligação sólida com a arte clássica, a arte de exprimir o máximo dizendo o mínimo – “uma arte de pudor e de modéstia”, como a definiu André Gide. Voluntariamente sóbrio e metódico, o cineasta sabia como poucos analisar o estado de espírito de seus personagens, descrever admiravelmente um determinado ambiente social e dar vida, com a maior força, a uma ação dramática. Ajudando a estabelecer as normas de um novo classicismo, ele lançou as bases da “tradição de qualidade”.

Nos seus primeiros três filmes sonoros, Feyder atingiu o auge dos seus feitos como diretor, mas é preciso lembrar quem quando continuou trabalhando sem a colaboração do roteirista Charles Spaak, suas realizações perderam um pouco da consistência e sutileza (Feyder e seu conterrâneo Spaak formaram a primeira dupla de diretor-roteirista que marcou sua presença na indústria). Antes da Segunda Guerra Mundial, já sem o concurso de Spaak, Feyder ainda fez Povo Errante (com sua versão alemã, Fahrendes-Volk) e O Amor Nasceu do Odio / Knight Without Armour / 1937, realizado na Inglaterra. Em 1942, pode-se dizer que ele encerrou seu percurso artístico com A Lei do Norte / La Loi du Nord, seu último filme com alguma envergadura.

Jean Grémillon

Atraído pela música, Jean Grémillon (Bayeux, 1901 – Paris, 1959) finalmente venceu a oposição paterna e foi estudar na Schola Cantorum em Paris, onde chegou em 1920. Para ganhar avida, tocava violão na orquestra de um cinema, cujo projecionista era seu futuro cinegrafista Georges Périnal. O encontro com Périnal despertou seu interesse pela sétima arte. Quando veio o som, Grémillon havia filmado 19 curtas-metragens, um média-metragem e dois longas-metragnes aclamados pelos intelectuais: Maldone / 1928, e Gardiens de Phare / 1929, com a ajuda de Charles Dullin para o primeiro e de Jacques Feyder para o segundo. Nesses dois trabalhos formigados de pesquisas estilísticas audaciosas para a época, já se podiam perceber o seu senso pungente do “trágico cotidiano” e a sua aptidão para fazer brotar o lirismo das situações mais convencionais.

Contratado pela Pathé-Nathan, ele realizou La Petite Lise / 1930, que continha prematuramente o realismo poético e inovava na utilização do som, porém foi um fracasso comercial. Daí em diante, Grémillon sofreu nas mãos dos comerciantes do cinema de seu país e acabou se exilando na Espanha para filmar La Dolorosa / 1934, cujo sucesso, no entanto, não ultrapassou os Pireneus.

MIchèle Morgan e Jean Gabin em Águas Tempestuosas

A salvação veio de Berlim, onde Raoul Ploquin, diretor do departamento francês da UFA, teve confiança em Grémillon; após alguns filmes corriqueiros, ele dirigiu um atrás do outro, Gula de Amor / Gueule d’Amour e O Homem que vivia duas Vidas / L’ Etrange Monsieur Victor / 1938. Graças a esses dois filmes, o diretor obteve o reconhecimento do público e da crítica e passou a ocupar o lugar que merecia no cinema do seu tempo. Entretanto, suas obras-primas, entre elas Águas Tempestuosas / Remorques, só surgiram nos anos 1940.

Pierre Chenal

Pierre Chenal (Bruxelas, 1904 – Paris, 1990) pode não ter atingido a mesma estatura artística de seus renomados colegas do cinema francês clássico, mas chegou bem perto deles. Incialmente jornalista e desenhista especializado em pôsteres, Chenal começou sua carreira cinematográfica realizando documentários curtos de cunho didático (Une Cité du Cinéma / 1930), surrealista (Un Coup des Dés / 1930), urbanístido (Architecte  d’aujourd’hui / 1931 ou romântico social (Les Petits Métiers de Paris / 1932).

A estréia no longa-metragem deu-se com Le Martyre de l’Obese / 1933, segundo-se La Rue sans Nom, no qual procurou recriar o ambiente carregado e mórbido dos filmes alemães, sempre presente na sua obra. Seus trabalhos subsequentes, alguns baseados em obras literárias famosas, projetaram-no como diretor de primeira classe do cinema francês, destacando-se: Assassino sem Culpa / Crime et Châtiment / 1935; O Homem que voltou do outro mundo / / L’Homme de Nulle Part. / 1937; L’ Alibi / 1937; L’ Affair l’Afage / 1938; Pecadoras de Túnis / La Maison du Maltais / 1939; Paixão Criminosa / Le Dernier Tournant / 1939.

 

Michel Simon, Corinne Luchaire e Fernand Gravey em Paixão Criminosa

Após a Primeira Guerra Mundial, na qual foi ferido na perna, Jean Renoir (Paris, 1894 -Califórnia, 1979), filho do pintor impressionista Auguste Renoir, dedicou-se à cerâmica, mas se tornou cada vez mais apaixonado pelo cinema. Com o dinheiro que herdou do pai, pôde fundar sua própria produtora, com o propósito principal de construir uma carreira cinematográfica para uma ex-modelo de seu progenitor, Catherine Hessling (Andrée Heuchling), com quem se casou. Dos filmes que ele dirigiu nesse processo os mais conhecidos são: Nana / 1926 e La Petite Marchande d’Allumettes / 1928.

Nos primeiros anos do cinema falado, Renoir realizou filmes respeitáveis La Chienne / 1931; La Nuit du Carrefour / 1932; Boudu sauvé des eaux / 1932; Madame Bovary / Madame Bovary / 1934) e, a partir da segunda metade do decênio, ao lado de outros bons filmes (Bas-Fonds / Les bas-fond / 1936; La Marseillaise / 1938), uma série de seis obras-primas  nas quais se percebe mais do que nuca a sua sinceridade humana, seu realismo espontâneo e sua apurada sensibilidade pictural: Toni / 1935;  Le Crime de Monsieur Lange / 1936; Um Dia no Campo / Une Partie de Campagne / 1936; A Grande Ilusão / La Grande Illusion / 1937; A Besta Humana / La Bête Humaine / 1938 e A Regra do Jôgo / La Régle du Jeu / 1939.

Na observação do crítico Claude-Jean Philippe, “toda a arte de Renoir consiste em eliminar os artifícios, aproximar-se dos seres e das coisas da maneira mais direta possível e contemplá-las com um olhar límpido”. Com um estilo discreto, mantendo uma ligação sólida com o impressionismo na pintura e o naturalismo na literatura, o cineasta capta e transmite de uma maneira simples e calorosa o real. É essa a sua contribuição extraordinária para o cinema – o que faz dele um grande cineasta.

SÉRIES DO CINEMA AMERICANO CLÁSSICO II

JEEVES

Mordomo erudito (Arthur Treacher) e seu frívolo patrão, Bertie Wooster (David Niven), personagens criados por P.G. Woodehouse; porém o roteiro não tem semelhança com nenhum romance do referido autor. Uma continuação foi lançada em 1937 com Treacher no papel de Jeeves mas sem o personagem de Bertie, porque David Niven era contratado de Samuel Goldwyn, que o havia emprestado para a 20thCentury-Fox apenas para um filme. 1936 – Thank You, Jeeves! Dir: Arthur Greville Collins.  1937 – Step Lively Jeeves Dir: Eugene Forde.

JIGGS AND MAGGIE

Baseada na história em quadrinhos de George Mc Manus cujo tema era simples: Jiggs, ex-carpinteiro, e sua esposa Maggie, ex-lavadeira, tornavam-se subitamente milionários graças a um prêmio da loteria; enquanto Maggie procurava esquecer suas origens sociais, Jiggs só pensava em se encontrar com seus velhos amigos dos tempos difíceis em um botequim, para jogar cartas. Joe Yale (pai do ator Mickey Rooney na vida real) e Renie Riano personificam os dois personagens de McManus, que no Brasil tiveram os nomes de Pafúncio e Marocas. Monogram. 1946 – Bringing Up Father (Vida Apertada) Dir: Edward F. Cline. 1948 – Jiggs and Maggie in Court (Pafúncio e Marocas em Apuros) Dir: William Beaudine; Jiggs and Maggie in Society (Marcas, a Gostosona) Dir: Edward F. Cline. 1949 – Jiggs and Maggie in Jackpot Jitters (Pafúncio e Marocas na Televisão) Dir: William Beaudine. 1950 – Jiggs and Maggie Out West (A Voz do Espírito) Dir: William Beaudine.

JOE PALOOKA

Baseada no pugilista das histórias em quadrinhos, criado em 1928 por Ham Fisher. O personagem esteve antes no rádio (1932), no filme Palooka / Palooka (1934, interpretado por Stuart Erwin, e em nove curtas-metragens da Vitaphone (1936-37) sob os traços de Robert Norton.  Joe Palooka (Joe Kirkwood Jr.) era não só campeão de boxe como também um rapaz ingênuo de bons sentimentos e talvez este lado humano do lutador tenha sido a causa de sua popularidade. O outro personagem fixo chamava-se Knobby Walsh, o treinador manhoso de Joe, vivido por Leon Errol e depois por William Frawley em Ou Tudo ou Nada e James Gleason nos dois últimos filmes da série. Monogram. 1946 – Joe Palooka, Champ (Joe Sopapo Campeão) Dir: Reginald LeBorg; Gentleman Joe Palooka (Joe Sopapo. Granfino) Dir: Cyril Endfield. 1947 – Joe Palooka in the Knockout (Joe Sopapo não é de briga) Dir: Reginald LeBorg. 1948 – Fighting Mad ou Joe Palooka in Fighting Mad (Comprando Briga) Dir: Reginald LeBorg; Winner Take All (Ou Tudo ou Nada) Dir: Reginald LeBorg. 1949 – Joe Palooka in the Big Fight (Pistoleiros do Ringue) Dir: Cyril Endfield; Joe Palooka in the Counterpunch Dir: Reginald LeBorg. 1950 – Joe Palooka Meets Humphrey (Lua de Mel a Socos) Dir: Jean Yarbrough; Joe Palooka in Humphrey Takes a Chance Dir: Jean Yarbrough; Joe Palooka in the Squared Circle (Murros de Ouro) Dir: Reginald LeBorg. 1951 – Joe Palooka in Triple Cross (Joe Sopapo, Detetive) Dir: Reginald Le Borg.

JONES FAMILY

Em 1936, a 2Oth Century-Fox lançou uma pequena comédia doméstica, Every Saturday Night, sobre as atribulações de uma famíia do interior chamada Evers. Os mesmos personagens, Papai Evers (Jed Prouty), Mrs. Evers (Spring Byington) e Granny (Florence Roberts) foram usados novamente em Educating Father, que inaugurou a série, mas com os sobrenomes mudados para Jones. O casal Jones tinha três filhos, vividos por Kenneth Howell, George Ernest e Bill Mahan em ordem decrescente; uma filha adolescente (June Carlson); e uma filha adulta, encarnada alternadamente por June Lang, Shirley Deane e Joan Valerie. No filme Vamos ao Prado, surgiu um namorado (Russell Gleason) para a filha mais velha. 1936 – Educating Father Dir: James Tinling; Back to Nature (Ciganos à Moderna) Dir: James Tinling. 1937 – Off to the Races (Vamos ao Prado) Dir: Frank Strayer; Borrowing Trouble Dir: Frank Strayer; Hot Water Dir: Frank Strayer. 1937 – Big Business Dir: Frank Strayer. 1938 – Love on a Budget Dir: Herbert I. Leeds; A Trip to Paris (Uma Viagem a Paris) Dir: Malcolm St. Clair; Safety in Numbers (Sururu em Família) Dir: Malcolm St. Clair; Down on the Farm Dir: Malcolm St. Clair; Everybody´s Baby Dir: Mal St. Clair. 1939 – Quick Millions (A Família Jones em Novas Aventuras) Dir: Malcolm St. Clair; The Jones Family in Hollywood (A Família Jones em Hollywood) Dir: Malcolm St. Clair; Too Busy to Work Dir: Otto Brower. 1940 -Young as You Feel (Risonhos e felizes) Dir: Malcolm St. Clair; On Their Own Dir: Otto Brower.

JUNGLE JIM

Sabendo que Johhnny Weissmuller deixara os filmes de Tarzan, o produtor Sam Katzman convidou-o para estrelar esta série, baseada nas histórias em quadrinhos de Alex Raymond sobre o intrépido caçador branco na África. Nas suas aventuras, ele estava sempre cercado por animais de estimação: o corvo Caw caw, o cachorro Skipper e a chimpanzé Tamba. Nos três últimos filmes da série o nome Jim das Selvas foi retirado e Weissmuller interpretou a si mesmo. Columbia. 1948 – Jungle Jim (Jim das Selvas) Dir: William Berke. 1949 – The Lost Tribe (Tribo Perdida) Dir: William Berke. 1950 – Captive Girl (A Lagoa dos Mortos) Dir: William Berke; Mark of the Gorilla (A Marca do Gorila) Dir: William Berke; Pygmy Island (A Ilha dos Pigmeus) Dir: William Berke. 1951 – Fury of the Congo (Fúria no Congo) Dir: William Berke; Jungle Manhunt (Cacique Branco) Dir: Lew Landers.1952 – Jungle Jim in the Forbidden Land (Terra Proibida) Dir: Lew Landers; Voodoo Tiger (O Tigre Sagrado) Dir: Spencer G. Bennet. 1953 – Savage Mutiny (Tulonga, a Ilha Condenada) Dir: Spencer G. Benne; Valley of the Headhunters (Vale dos Canibais) Dir: William Berke; Killer Ape (O Gorila Assassino) Dir: Spencer G. Bennet. 1954 – Jungle Man-Eaters (Caçadores de Cabeças) Dir: Lee Sholem; Cannibal Attack (O Homem Crocodilo) Dir: Lee Sholem. 1955 – Jungle Moon Men (Deusa da Lua) Dir: Charles S. Gould; Devil Goddess (A Deusa Pagã) Dir: Spencer G. Bennet.

LASSIE

Em 1943, a MGM produziu o filme Lassie Come Home (A Força do Coração). No filme, um cão chamado Pal aparecia com o Lassie; Roddy MacDowall era Joe Carracglough, cujo pai desempregado (Donald Crisp teve que vender o animal de estimação da família para o Duque de Rudling (Nigel Bruce); e Elizabeth fazia o papel da neta do duque, Priscilla, que percebe que o animal sente a falta de seus donos e o ajuda fugir. O filme, indicado para o Oscar de Melhor Fotografia em cores, deu origem à série. 1945 – Son of Lassie (O Filho de Lassie) Dir: S. Sylvan Simon. 1946 – Courage of Lassie (A Coragem de Lassie) Dir: Fred M. Wilcox. 1948 – Hills of Home (O Mundo de Lassie) Dir: Fred M. Wilcox. 1949 – The Sun Comes Up (Sol da Manhã) Dir: Richard Thorpe; Challenge of Lassie (O Desafio de Lassie) Dir: Richard Thorpe.

LITTLE TOUGH GUYS

Rapazes dos cortiços de Nova York. Universal. 1938 – Little Tough Guys (Vidas Mal Traçadas) Dir: Harold Young; Little Tough Guys in Society (Os Bambas na Alta Sociedade) Dir: Erle C. Kenton. 1939 – Newsboys Home (A Casa do Jornaleiro) Dir: Harold Young; Code of the Streets (Código das Ruas) Dir: Harold Young; Call a Messenger (Chame um Mensageiro) Dir: Arthur Lubin). 1940 – You’re Not So Tough (Valentes de Ocasião) Dir: Joe May; Give Us Wings (Deem-nos Asas) Dir: Charles Lamont. 1941 – Mob Town (Os Bambas) Dir: William Nigh; Hit the Rooad Dir: Joe May. 1942 – Tough as They Come (Ardil Perigoso) Dir: William Nigh. 1943 – Mug Town Dir: Ray Taylor; Keep´em Slugging Dir: Christy Cabanne.

LUM AND ABNER

Oriunda do rádio com Chester Laucke e Norris Goff retomando seus personagens   Columbus “Lum” Edwards e Abner Peabody, dois jovens com aparência de velhos, donos do armazém geral de Pine Ridge, Arkansas que é o centro da vida da cidade. RKO.

1940 – Dreaming Out Loud Dir: Harold Young. 1942 – Bashful Bachelor Dir: Malcolm St. Clair. 1943 – Two Weeks to Live Dir: Malcolm St. Clair; So This is Washington Dir: Raymond McCarey. 1945 – Partners in Time Dir: William Nigh.

MA AND PA KETTLE

Quando o romance de Betty MacDonald foi transformado no filme O Ovo e Eu / The Egg and I /1947, estrelado por Claudette Colbert e Fred MacMurray, este teve um êxito inesperado e originou esta série sertaneja muito popular. O filme girava em torno de um casal da cidade que decidiu criar galinhas, mas verificou que a vida na fazenda não era o que eles esperavam. Os coadjuvantes Marjorie Main e Percy Kilbridge conquistaram o público como dois roceiros de meia-idade e se tornaram os astros de sua própria série. Marjorie interpretava uma fazendeira gabola com uma voz estridente, que mantinha o senso de humor apesar da pobreza, de treze filhos, e de um marido indolente, vivido por Kilbridge. Este foi substituído por Parker Fenelly no último filme da série. Por seu trabalho no filme Marjorie recebeu uma indicação para o Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante.1949 – Ma and Pa Kettle (Nem Tudo Que Reluz é Ouro) Dir: Charles Lamont. 1950 – Ma and Pa Kettle Go to Town (Nas Altas Rodas) Dir: Charles Lamont. 1951 – Ma and Pa Kettle Back on the Farm (Chega de Encrencas) Dir: Edward Segdwick. 1952 – Ma and Pa Kettle at the Fair (Caindo na Farra) Dir: Charles Barton. 1953 – Ma and Pa Kettle on Vacation Dir: Charles Barton. 1954 – Ma and Pa Kettle at Home Dir: Charles Barton. 1955 – Ma and Pa Kettle at Waikiki (Sassaricando de Sarong) Dir: Lee Sholem. 1956 – The Kettles in the Ozarks (Sarilho do Barulho) Dir: Charles Lamont.1957 – The Kettles on Old Macdonald´s Farm Dir: Virgil Vogel.

MAISIE

Maisie Ravier, corista do Brooklyn, mulher independente que sabia se defender em qualquer parte do mundo que os roteiristas escolhessem como ambiente para as suas aventuras. Como se tratava de produções modestas, utilizando as retroprojeções e os cenários de interiores para determinar os variados locais onde as histórias se passavam, os filmes contavam quase que exclusivamente com a vivacidade e simpatia de Ann Sothern para sustentá-los. Além de exibir o talento da atriz, a série oferecia um estudo interessante sobre a emancipação da mulher americana durante a Segunda Guerra Mundial, simbolizada pela destemida e dinâmica show girl. MGM. 1939 – Maisie (Teimosa e Bonita) Dir: Edwin L. Marin. 1940 – Congo Maisie (Mademnoiselle Maisie) Dir: H. C. Potter; Gold Rush Maisie (Peripécias de Maisie) Dir: Edwin L. Marin. 1941 – Maisie Was a Lady (Maisie na Alta Roda) Dir: Edwin L. Marin; Ringside Maisie (Perigo Louro) Dir: Edwin L. Marin. 1942 – Maisie Gets Her Man (Amor à Segunda Vista) Dir: Roy Del Ruth. 1943 – Swing Shift Maisie (Sabotadora Romântica) Dir: Norman McLeod. 1944 – Maisie Goes to Reno (Por Conta de Cupido) Dir: Harry Beaumont. 1946 – Up Goes Maisie (or Fim, Muher) Dir: Harry Beaumont. 1947 – Undercover Maisie (A Loura Detetive) Dir: Harry Beaumont.

MEXICAN SPITFIRE

A RKO escolheu Lupe Velez para estrelar esta série em tom de farsa sobre a vulcânica mexicana e ela se saiu muito bem no papel, transferindo toda a sua verve e energia para a personagem temperamental. A seu lado o estúdio colocou Leon Errol, o veterano cômico de “pernas de borracha” do Ziegfeld Follies, que interpetou simultaneamente o Tio Matt e Lord Epping, o falso aristocrata inglês sempre distraído e fraco das pernas. 1939 – The Girl from Mexico (De Cabelinho nas Ventas) Dir: Leslie Goodwins; Mexican Spitfire (Quando a Mulher Vira Bicho) Dir: Leslie Goodwins. 1940 – Mexican Spitfire Out West (Quando Macacos se Encontram) Dir: Leslie Goodwins. 1941 – Mexcan Spitfire´s Baby (O Bebê da Carmelita) Dir: Leslie Goodwins. 1942 – Mexican Spitfire at Sea (Forrobodó em Alto Mar) Dir: Leslie Goodwins; Mexican Spirtfire´s Elephant (O Elefante de Carmelita) Dir: Leslie Goodwins; Mexcan Spitfire Sees a Ghost (Aquele Careca Voltou) Dir: Leslie Goodwins. 1943 – Mexican Spitfire´s Blessed Event (O Bebê da Discórdia) Dir: Leslie Goodwins.

MR.BELVEDERE

O arrogante autointitulado gênio Lynn Belvedere, criado pela romancista Gwen Davenport, chegou ao cinema no filme da 20thCentury-Fox Ama Seca por Acaso / Sitting Pretty / 1948. O personagem fez muito sucesso (proporcionando inclusive uma indicação ao Oscar para Clifton Webb), sucedendo-se duas continuações.1949 – Mr. Belvedere Goes to College (O Gênio no Colégio) Dir: Elliott Nugent. 1951 – Mr. Belvedere Rings the Bell (O Gênio no Asilo) Dir: Henry Koster.

PENROD

O personagem Penrod, saiu do livro de Booth Tarkington para a tela, onde foi interpretado por Billie Mauch, um dos gêmeos Mauch. Seu irmão Bobby aparece nos dois outros filmes da série. Ambos ficaram muito conhecidos pela sua participação em O Príncipe e o Mendigo / The Prince and the Pauper / 1937, produzido pela Warner Bos., também responsável pela realização da série.  1937 – Penrod and Sam (Pequenos Mosqueteiros) Dir: William McGann. 1938 – Penrod and His Twin Brother (Detetives do Barulho) Dir: William McGann; Penrod´s Double Trouble (Duplo Apuro de Penrod) Dir: Lewis Seiler.

ROAD TO

Bob Hope, Bing Crosby e Dorothy Lamour são os astros desta série de comédias musicais, cuja ação se passa em vários lugares do mundo, cheias de referências a outros atores de Hollywood e graçolas sobre a Paramount, o estúdio responsável por todos os filmes com exceção de Dois Errados no Espaço /The Road to Hong Kong/ 1962, produzido por Melvin Frank na Inglaterra, no qual Dorothy Lamour faz apenas uma rápida aparição. Ocorrem também momentos frequentes em que Hope quebra a quarta parede e se dirige diretamente ao público e a sátira de alguns gêneros cinematográficos populares da época. 1940 – Road to Singapore (A Sereia das Ilhas) Dir: Victor Schertzinger. 1941 – Road to Zanzibar (Tentação de Zanzibar) Dir: Victor Schertzinger. 1942 – Road to Morocco (A Sedulção de Marrocos) Dir: David Butler. 1946 – Road to Utopia (Dois Malandros e uma Garota) Dir: Hal Walker.1947 – Road to Rio (A Caminho do Rio) Dir: Norman Z. McLeod. 1952 – Road to Bali (De Tanga e de Sarong) Dir: Hal Walker. 1962 – Road to Hong Kong (Dois Errados no Espaço) Dir: Norman Panama.

RUSTY

O cão pastor alemão Rusty apareceu na tela pela primeira vez em Adventures of Rusty (Rusty) Dir: Paul Burnford, produzido pela Columbia em 1945. Neste filme o cão que atuou como Rusty foi Ace the Wonder Dog conhecido por sua participação no seriado O Fantasma Voador / The Phantom / 1943 como Devil (chamado de Capeto nos quadrinhos publicados no Brasil), fiel companheiro do famoso herói mascarado. Um ano depois, o estúdio deu início à série, desta vez tendo o  cão Flame como Rusty e mantendo Ted Donaldson como o seu proprietário, o menino Danny Mitchell. Donaldson e Flame estiveram também em uma série de curta metragem intitulada My Pal. 1946 – The Return of Rusty (Fidelidade) Dir: William Castle.1947 – The Son of Rusty (O Filho de Rusty) Dir: William Castle; For the Love of Rusty (Aventuras de Rusty) Dir: John Sturges. 1948 – My Dog Rusty (O Coração de Rusty) Dir: Lew Landers; Rusty Leads the Way (Rusty e a Ceguinha) Dir: Will Jason. 1949 – Rusty Saves a Life (Rusty Salva uma Vida) Dir: Seymour Friedman; Rusty´s Birthday (Aniversário de Rusty) Dir: Seymour Friedman.

SCATTERGOOD BAINES

Personagem criado por Clarence Budington e oriundo do rádio, Scattergood (Guy Kibbee), dono de uma loja de ferragens na pequena cidade de Cold River é um homem bondoso e altruista, que usa a psicologia e os poderes de persuasão para fazer com que as pessoas façam o que é melhor para elas. RKO. 1941 – Scattergood Baines (O Velho Conselheiro) Dir: Christy Cabanne; Scattergood Pulls the Strings (Sábio de Rio Frio) Dir: Christy Cabanne; Scattergood Baines Meets Broadway (O Rústico e a Tentadora) Dir: Christy Cabanne. 1942 – Scattergood Rides High (O Filósofo da Roça); Scattergood Survives a Murder (O Mistério da Gata Preta) Dir: Christy C-banne. 1943 – Cinderella Swings It (O Canto da Vitória) Dir: Christy Cabanne.

SNUFFY SMITH

Em 1919 o cartunista Billy DeBeck criou o personagem Barney Google, homenzinho simplório e irritadiço de nariz bulboso e bigode espesso que passava a maior parte do seu tempo em ambientes esportivos e sempre com problemas financeiros. Em 1934, Barney encontra nas montanhas do Kentucky a figura de Snuffy Smith, outro baixinho, alcoólatra inveterado. Quando DeBeck morreu, seu assistente Frank Lasswell assumiu a tira e reduziu a participação de Barney nas histórias. Em 1928, Barney Hellum (ator sueco cujo verdadeiro nome era Bjarne Fredrik Hellum) interpretou Barney Google em uma série de 12 curtas-metragens produzida pela FBO. Em 1942, a Monogram lançou dois longas-metragens baseados nos quadrinhos: Private Snuffy Smith ou Snuffy Smith Yardbird Dir: Edward Cline; Hillbilly Blitzgrieg Dir: Roy Mack.Bob Duncan interpretou Snuffy em ambos os filmes e Cliff Nazarro apareceu como Barney no segundo filme.

TARZAN

Desde 1918 foram feitos vários filmes com o personagem criado por Edgar Rice Burroughs, mas foi a série classe A da MGM (1932-1942), reunindo a dupla Johnny Weissmuller – Maureen O´Sullivan que teve maior prestígio. Em 1943, Weissmuller transferiu-se para RKO, onde fez seis filmes B como Homem-Macaco até ser substituído por Lex Barker em 1949. MGM: 1932 – Tarzan, The Ape Man (Tarzan, o Filho das Selvas) Dir: W. S. Van Dyke. 1933 – Tarzan and His Mate (A Companheira de Tarzan) Dir: Cedric Gibbons. 1936 – Tarzan Escapes (A Fuga de Tarzan) Dir: Richard Thorpe. 1939 – Tarzan Finds a Son (O Filho de Tarzan) Dir: Richard Thorpe. Tarzan´s Secret Treasure (O Tesouro de Tarzan) Dir: Richard Thorpe. 1942 – Tarzan´s New York Adventure (Tarzan contra o Mundo) Dir: Richard Thorpe (MGM). RKO: 1943 – Tarzan Triumphs (Tarzan, o Vingador) Dir: William Thiele; Tarzan´s Desert Mystery (Tarzan e o Terror do Deserto) Dir: William Thiele. 1945 – Tarzan and the Amazons (Tarzan e as Amazonas) Dir: Kurt Neumann. 1946 – Tarzan and the Leopard Woman (Tarzan e a Mulher Leopardo) Dir: Kurt Neumann; 1947 – Tarzan and the Huntress (Tarzan e a Caçadora) Dir: Kurt Neuman. 1948 -Tarzan and the Mermaids (Tarzan e as Sereias) Dir: Robert Florey. 1949 – Tarzan´s Magic Fountain (Tarzan e a Montanha Secreta) Dir: Lee Sholem. 1950 – Tarzann and the Slave Girl (Tarzan e a Escrava) Dir: Lee Sholem. 1951 – Tarzan´s Peril (Tarzan na Terra Selvagem) Dir: Byron Haskin.v 1952 – Tarzan´s Savage Fury (Tarzan e a Fúria Selvagem) Dir: Cyril Endfield. 1953 – Tarzan and the She-Devil (Tarzan e a Mulher-Diaba) Dir: Kurt Neumann.

TAILSPIN TOMMY

As aventuras de “Tailspin” Tommy, o intrépido aviador das histórias em quadrinhos de Hal Forrest, publicadas a partir de 1928, já havia inspirado dois seriados da Universal (O Rei das Nuvenes / Tailspin Tommy / 1934 e O Grande Mistério Aéreo / Tailspin Tommy in the Great Air Mystery, protagonizados respectivamente por Maurice Murphy e Clark Williams. Quatro anos depois, a Monogram produziu esta série com o mesmo personagem, agora interpretado por John Trent, jovem ator que havia sido piloto de verdade. Os outros personagens fixos eram o mecânico Skeeter (Milburn Stone) e Betty Lou Barnes (Marjorie Reynolds), também aviadora, companheiros de Tommy na Three Point Airlines. 1939 – Mystery Plane (O Avião Misterioso) Dir: George Waggner; Stunt Pilot (O Piloto Temerário) Dir: GeorgeWaggner; Sky Patrol (Patrulha Noturna) Dir:Hoeard Bretherton; Danger Flight (Escoteiros do Ar) Dir: Howard Bretherton.

TOPPER

Criado no romance de Thorne Smith, o personagem apareceu pela primeira vez no filme Topper / A Dupla do Outro Mundo /1937, dirigido por Norman Z. McLeod, produzido por Hal Roach e distribuído pela MGM. Cosmo Topper (Roland Young) era um banqueiro tímido vítima das diabruras de um casal de fantasmas, Marion Kerby (Constance Bennett) e George Kerby (Cary Grant,) que morreu em um acidente de carro. Esta comédia fantástica teve duas continuações distribuídas pela United Artists com o mesmo Roland Young no papel principal, mas sem a presença de George Kerby no primeiro e com outro espírito feminino interpretado por Joan Blondell no segundo filme. Billie Burke era Mrs. Topper e Alan Mowbray, o mordomo Wilikins (ausente no terceiro filme). Roland Young foi indicado para o Oscar de Melhor Ator Coadjuvante. 1939 – Topper Takes a Trip (Marido Mal-Assombrado (Dir: Norman Z. McLeod. 1941 – Topper Returns (A Volta do Fantasa) Dir: Roy Del Ruth.

VAN DINE MYSTERY

Série de curta-mertragem (aproximadamente 20 mins.) da Warner Bros., escrita por S. S. Van Dine, com Donald Meek como o criminologista Dr. Crabtree e John Hamilton como o Inspetor Carr. Meek só não aparece em The Campus Mystery. 1931 – The Clyde Mystery Dir: Arthur Hurley; The Wall Street Mystery Dir: Arthur Hurley; The Week-End Mystery Dir: Arthur Hurley; 1932 – The Cole Case Dir: Joseph Henabery; The Crane Poison Case Dir: Joseph Henabery; The Side Show Mystery Dir: Joseph Henabery; The Studio Murder Mystery Dir: Joseph Henabery; The Campus Mystery Dir: Joseph Henabery; Murder in the Pullman Dir: Joseph Henabery; The Trans-Atlantic Mystery Dir: Joseph Henabery; The Symphony Murder Mystery Dir: Joseph Henabery; The Skull Murder Mystery Dir: Joseph Henabery.

WEAVER BROTHERS AND ELVIRY

Os Weavers começaram sua carreira em espetáculos de variedades itinerantes, indo depois para o vaudeville e se apresentando finalmente no rádio, onde alcançaram fama nacional como “The Arkansas Travellers”. O Grupo havia feito um filme na Warner Bros., Tudo Dança / Swing Your Lady / 1938, mas foi mais bem aproveitado na Republic. A série transmitia um humor bucólico que passava sutilmente a mensagem de que uma família rústica, honesta e dedicada podia superar as maquinações de pessoas sofisticadas, gananciosas e sem escrúpulos. No esquema usado pela Republic, Leon “Abner” Weaver, filósofo da roça, era apoiado pelo irmão, Frank “Cicero”, patomimo mudo e por June “Elviry”, moça com talento musical. Todos tinham inclinação para a música, de modo que cada filme continha interlúdios de música sertaneja romântica. 1938 – Dawn in “Arkansaw” (Forasteiros da Comarca) Dir: Nick Grinde. 1939 – Jeepers Creepers (Onde o Ouro Não é Lei) Dir: Frank McDonald. 1940 -In Old Missouri (No Velho Missouri) Dir:Frank McDonald; Gand Old Opry (Música, Maestro) Dir: Frank McDonald; Friendly Neighbours (Amigos de Verdade) Dir: Nick Grinde.  1941 – Arkansas Judge (O Juiz de Arkansas) Dir: Frank McDonald; Mountain Moonlight (Herança Inesperada) Dir: Nick Grinde; Tuxedo Junction (Erros de Adolescência) Dir: Frank McDonald. 1942 – Shepherd of the Ozarks (O Tenente e a Enfermeira) Dir: Frank McDonald; The Old Homestead Dir: Frank McDonald; Mountain Rhythm (Colégio do Bom Tom) Dir: Frank McDonald.

WHISTLING

O apresentador e ator de um programa de rádio policial Wally “The Fox” Benton (Red Skelton) e sua noiva Carol Lambert (Ann Rutherford), como detetives amadores, envolvem-se em complicações com criminosos. 1941 – Whistling in the Dark (Herdeiro em Apuros) Dir: S. Sylvan Simon. 1942 – Whistling in Dixie (O Sherloque no Ar) Dir: S. Sylvan Simon. 1943 – Whistling in Brooklyn (Sherloque Assustado) Dir: S. Sylvan Simon.

SÉRIES DO CINEMA AMERICANO CLÁSSICO I

Muitas vezes os filmes B constituiam-se em séries, ou seja, um grupo de filmes, cada qual contando uma história diferente, porém conservando sempre os mesmos personagens centrais e a ambientação geral. As séries (series) distinguiam-se dos seriados (serials), das continuações (sequels) e dos filmes de curta-metragem (shorts). Elas às vezes eram mais continuações do que series e abrangiam os mais variados gêneros cinematográficos. Algumas séries eram tipicamente classe A e outras não tiveram continuidade, encerrando-se no segundo filme. As séries foram usadas como um terreno de prova para muitos talentos jovens.

Em 5 de fevereiro de 2010 publiquei neste blogue Curtas-Metragens na Hollywood dos Anos 30 / 40 mencionando algumas séries famosas neste formato como OS PERALTAS / OUR GANG, OS CHOFERES DE PRAÇA / TAXI BOYS e THE BOY FRIENDS.

Em 16 de novembro de 2010 publiquei As Séries Policiais Americanas dos anos 30-40 (BIG TOWN, BOSTON BLACKIE, BULLDOG DRUMMOND, CHARLIE CHAN, CRIME CLUB, DEAD END KIDS, DICK TRACY, ELLERY QUEEN, THE FALCON, HILDEGARD WITHERS, HOOVER, I LOVE A MYSTERY, JOEL AND GERDA SLOANE, JOHN J. MALONE, KITTY O ´DAY, LONE WOLF, MICHAEL SHAYNE, MR. DISTRICT ATTORNEY, MR. MOTO, MR. WONG, NANCY DREW, NERO WOLFE, NICK CARTER, NOVELAS DE MIGNON EBERHARDT, PERRY MASON. ROVING REPORTERS, THE SAINT, THE SHADOW, SHERLOCK HOLMES, SOPHIE LANG, THE THIN MAN, TORCHY BLANE, THE WHISTLER, WHISTLING) deixando para uma outra oportunidade as pertencentes a outros gêneros. Neste artigo apresento estas séries, com exceção das séries no gênero western, ficando novamente excluídas também as séries do cinema mudo e de animação.

ANDY HARDY

Adolescente típico do interior (Mickey Rooney), filho do juiz James Hardy (Lionel Barrymore) em Uma Questão de Família / A Family Affair / 1937, filme que deu origem à série na qual Lewis Stone ficou com o papel do juiz. Entre os outros atores fixos do elenco: Fay Holden como a mãe de Andy, Cecilia Parker como Marian, sua irmã mais velha, Ann Rutherford como Polly Benedict, a namorada de Andy e a tia Milly (Sara Haden). As histórias giravam em torno dos problemas comuns em uma família de pequena comunidade idealizada (Carver) do interior dos EUA. MGM. 1937 – A Family Affair (Uma Questão de Família) Dir: George B. Seitz; You´re Only Young Once (Aproveite a Mocidade) Dir: George B. Seitz. 1938 – Judge Hardy´s Children (Amor de Criançola) Dir: George B. Seitz; Love Finds Andy Hardy (O Amor Encontra Andy Hardy). Dir: George B. Seitz; Out West with the Hardys (Andy Hardy Cowboy) Dir: George B. Seitz. 1939. The Hardys Ride High (Andy Hardy Milionário) Dir: George B. Seitz; Andy Hardy Gets Spring Fever (Andy Hardy é o Tal) Dir: W. S. Van Dyke; Judge Hardy and Son (Andy Hardy Banca o Sherlock) Dir: George B. Seitz. 1940 – Andy Hardy meets Debutante (Andy Hardy e a Granfina) Dir: George B. Seitz. 1941 – Andy Hardy´s Private Secretary (A Secretária de Andy Hardy) Dir: George B. Seitz; Life Begins for Andy Hardy (Andy Hardy Cava a Vida) Dir: George B. Seitz. 1942 – The Courtship of Andy Hardy (O Idílio de Andy Hardy). Dir: George B. Seitz; Andy Hardy´s Double Life (A Dupla Vida de Andy Hardy) Dir: George B. Seitz. 1944 – Andy Hardy´s Blonde Trouble (Andy Hardy Prefere as Louras. Dir: George B. Seitz. 1946 – Love Laughs at Andy Hardy (A Paixão de Andy Hardy) Dir: Willis Goldbeck. 1958 – Andy Hardy Comes Home (A Volta de Andy Hardy) Dir: Howard W. Koch.

ANNABEL

Atriz temperamental em decadência, Annabel Allison (Lucille Ball), envolve-se em confusões armadas pelo seu superentusiástico agente de publicidade Lanny Morgan (Jack Oakie). RKO. 1938 – The Affairs of Annabel (Apuros de Annabel) Dir: Ben Stolof; Annabel Takes a Tour (Tournée de Annabel) Dir: Lew Landers.

BABY SANDY.

Bebê precoce em confusões familiares. Sandy, interpretada por Sandra Lea Henville, era a Shirley Temple da Universal. 1939 – East Side of Heaven (Caído do Céu) Dir: David Butler; Unexpected Father (Pai Inexperiente) Dir: Charles Lamont; Little Accident (Pequeno Acidente) Dir: Charles Lamont). 1940 – Sandy is a Lady (Senhorita Sandy) Dir: Charles Lamont); Sandy Gets Her Man (Prêmio de Cupido) Dir: Otis Garrett. 1941 – Bachelor Daddy (Papaizinho Solteirão) Dir: Harold Young; Melody Lane (Estrada da Alegria) Dir: Charles Lamont. 1942 – Johnny Doughboy (Ela Quer Ser Mulher) Dir:  John H. Auer.

BIG TOWN GIRLS

Peripécias de uma dupla de garotas desempregadas Terry Wilson e Judy Davis (Lynn Bari e June Lang). No segundo filme entrou June Gale no lugar de June Lang. 20th Century-Fox. 1938 – Meet the Girls. Dir: Eugene Forde; Pardon Our Nerve (Desculpe Nossa Ousadia) Dir: Bruce Humberstone.

BILL AND SALLY REARDON

Detetive Bill Rearden (Melvyn Douglas) cuja esposa, Sally (Joan Blondell) se mete também a investigar crimes. No segundo filme entrou Virginia Bruce no lugar de Joan Blondell. Columbia. 1938 – There´s Always a Woman (Sempre a Mulher) Dir: Alexander Hall; There´s That Woman Again (Segura esta Mulher) Dir: Alexander Hall.

BLONDIE.

Aventuras e desventuras de um casal da classe média suburbana, Blondie (Penny Singleton) e Dagwood Bumstead (Arthur Lake)., conhecidos no Brasil como Florisbela e Pancrácio. Outros personagens fixos eram: Baby Dumping (Larry Simms / Jujuba), J. C. Dithers (Jonathan Hale), o irascível patrão de Dagwood, e a cadela Daisy. Oriunda dos quadrinhos de Murat “Chic” Young.  Columbia. 1938 – Blondie (Florisbela) Dir: Frank R. Strayer. 1939 -Blondie Meets the Boss (Florisbela Secretária) Dir: Frank R. Strayer; Blondie Takes a Vacation (Florisbela em Férias) Dir: Frank R. Strayer; Blondie Brings Up Baby (Florisbela Domestica o Baby) Dir: Frank R. Strayer. 1940 – Blondie on a Budget (Florisbela quer o Divórcio) Dir: Frank R. Strayer; Blondie Has Servant Trouble (Florisbela Boa Vida) Dir: Frank R. Strayer; Blondie Plays Cupid (Cupido Perigoso) Dir: Frank R. Strayer. 1941 – Blondie Goes Latin (Familia do Barulho) Dir: Frank R. Strayer; Blondie in Society (Bancando a Granfina) Dir: Frank R. Strayer. 1942 – Blondie Goes to College Dir: Frank R. Strayer; Blondie´s Blessed Event (Um Papai em Apuros) Dir: Frank R. Strayer; Blondie for Victory (Esposas em Pé de Guerra) Dir: Frank R. Strayer.1943 – It´s a Great Life Dir: Frank R. Strayer; Footlight Glamour. 1945 – Leave it to Blondie (Donativo Desastroso) Dir: Frank R. Strayer; Life with Blondie Dir: Abby Berlin. 1946 – Blondie Knows Best Dir: Abby Berlin. 1947 – Blondie´s Big Moment Dir: Abby Berlin; Blondie´s Holiday Dir: Abby Berlin; Blondie in the Dough Dir: Abby Berlin. Blondie´s Anniversary Dir: Abby Berlin. 1948 – Blondie´s Secret Dir: Edward Bernds; Blondie´s Reward Dir: Abby Berlin. 1949 – Blondie´s Big Deal Dir: Edward Bernds; Blondie Hits the Jackpot Dir: Edward Bernds. 1950 – Blondie´s Hero Dirt: Edward Bernds; Beware of Blondie Dir: Edward Bernds.

BOMBA

A mesmo tempo em que a Columbia iniciava a sua série Jim das Selvas com o ex-Tarzan Johnny Weissmuller, o produtor Walter Mirisch resolveu levar para as telas as aventuras criadas por Roy Rockwood nos anos vinte sobre um garoto das selvas. Mirisch contratou o jovem Johnny Sheffield, então com 18 anos, que havia interpretado o papel de Boy nos filmes de Tarzan.  Entre os animais que acompanhavam Bomba, o chimpanzé Kimba era o que mais divertia a criançada.

Monogram. 1949 – Bomba, the Jungle Boy (Bomba, o Filho das Selvas) Dir: Ford Beebe; Bomba on Panther Island (Bomba e a Pantera Negra) Dir: Ford Beebe. 1950 – The Lost Volcano (O Tesouro do Vulcão) Dir: Ford Beebe; Bomba and the Hidden City (Bomba e a Escrava) Dir: Ford Beebe. 1951 – The Lion Hunters (Bomba, Caçador de Leões) Dir: Ford Beebe; Bomba and the Elephant Stampede (A Vingança dos Elefantes) Dir: Ford Beebe. 1952 – African Treasure (Bomba e o Tesouro Africano) Dir: Ford Beebe; Bomba and the Jungle Girl (A Selva do Terror) Dir: Ford Beebe. 1953 – Safari Drums (Tambores Selvagens) Dir: Ford Beebe. 1954 – The Golden Idol (O Ídolo de Ouro) Dir: Ford Beebe; Killer Leopard (Leopardo Assassino) Dir: Ford Beebe. 1955 – Lord of the Jungle (O Soberano das Selvas) Dir: Ford Beebe.

BOWERY BOYS

Rapazes dos cortiços de Nova York. O grupo (Billy Halop, Leo Gorcey, Huntz Hall, Bobby Jordan, Gabriel Dell, Billy Benedict, David Gorcey, Bernard Punsley, Bernard Gorcey) apareceu originariamente no filme Beco sem Saída / Dead End / 1937 e depois nesta série e nas séries Dead End Kids, East Side Kids e Little Tough Guys, acompanhados por outros atores como Hally Chester, Jackie Searl, Frankie Thomas, Harris Berger, ou “Sunshine Sammy” Morrison).  Monogram. 1946 – In Fast Company (Chauffeurs e Gângsteres) Dir: Del Lord; Bowery Bombshell (Um Invento Engenhoso) Dir: Phil Karlson; Live Wires (Cadáver Esperto) Dir: Phil Karlson. Spook Busters (Cientistas da Fuzarca) Dir: William Beaudine; Mr. Hex (Macumba) Dir: Cyril Endfield. 1947 – Bowery Bookaroos (O Tesouro Maldito) Dir: Willaim Beaudine; Hard Boiled Mahoney (Os Anjos e a Necromante) Dir: William Beaudine; New Hounds (Aposta de Má Fé) Dir: William Beaudine; Angel´s Alley (Os Anjos do Beco) Dir: William Beaudine. 1948 – Jinx Money (Guarda Chuva Fatal) Dir: William Beaudine; Smugglers Cove (Herança Atrapalhada) Dir: William Beaudine; Trouble Makers (Mexeriqueiros) Dir: Reginald Le Borg. 1949 – Angels in Disguise (Anjos Disfarçados) Dir: Jean Yarbrough; Blonde Dynamite (Loura de 18 Quilates) Dir: William Beaudine; Fighting Fools (Demônios Turbulentos) Dir: Reginald Le Borg; Hold That Baby (Garoto da Fortuna) Dir: Reginald Le Borg; Master Minds (O Profeta da Terra) Dir: Jean Yarbrough. 1950 – Blues Busters (Os Anjos no Cabaré) Dir: William Beaudine; Lucky Losers (Felizardos no Azar) Dir: William Beaudine; Triple Trouble (Na Pele do Lobo) Dir: Jean Yarbrough. 1951 – Bowery Battalion (Os Anjos e os Espiões) Dir: William Beaudine; Crazy Over Horses (Veio, Viu e Venceu) Dir: William Beaudine; Ghost Chasers (Caçadores de Fantasmas) Dir: William Beaudine; Let´s Go Navy (Somos da Marinha) Dir: William Beaudine. 1952 – Feudin´Fools (Fazendeiros Fracassados) Dir: William Beaudine; Here Come the Marines (Fuzileiros da Fuzarca) Dir: William Beaudine; Hold That Line (Aguenta a Mão) Dir: William Beaudine; No Holds Barred (Vale Tudo) Dir: William Beaudine // Allied Artists. 1953 – Clipped Wings (Anjos Aéreos) Dir: Edward Bernds; Jalopy (Corrida às Avessas) Dir: William Beaudine; Loose in London (O Fidalgo da Favela) Dir: Edward Bernds; Private Eyes (Sherlock de Meia Tigela) Dir: Edward Bernds. 1954 – Bowery Boys Meet the Monsters (Os Anjos e os Monstros) Dir: Edward Bernds; jungle Gents (Cavaleiros das Selvas) Dir: Edward Bernds; Paris Playboys (Farristas de Paris) Dir: William Beaudine. 1955 – Bowery to Bagdad (Bobos em Bagdad) Dir: Edward Bernds; High Society (Anjos Granfinos) Dir: William Beaudine; Jail Busters (Escola de Vigaristas) Dir: William Beaudine; Spy Chasers (Espiando Espiões) Dir: Edward Bernds. 1956 – Dig That Uranium (Cômicos Atômicos) Dir: Edward Bernds; Crashing Las Vegas (Dsbancando a Roleta) Dir: Jean Yarbrough; Fighting Trouble (Meliantes de Ocasião) Dir: George Blair; Hot Shots (Os Reis da Bagunça) Dir: Jean Yarbrough. 1957 – Spook Chasers (Perseguindo Fantasmas) Dir: George Blair; Hold That Hipnotist (Os Macumbeiros) Dir: Austen Jewell; Looking for Danger Dir: Austen Jewell. 1958 – Up in Smoke Dir: William Beaudine; In the Money Dir: William Beaudine.

“BRASS” BANCROFT

Agente Secreto do FBI (Ronald Reagan) e seu parceiro Gabby Waters (Eddie Foy Jr.). Warner Bros. 1939 – Secret Service of the Air (Serviço Secreto Aéreo) Dir: Noel Smith. 1939 – Code of the Secret Service (Código do Serviço Secreto) Dir: Noel Smith; Smashing the Money Ring (Dinheiro Falso) Dir: Terry Morse. 1940 – Murder in the Air (Desmascarados) Dir: Lewis Seiler.

CAMERA DAREDEVILS

Cinegrafista de cinejornais Steve Mitchell (interpretado sucessivamente por Brian Donlevy e Preston Foster) e seu auxiliar Waldo Winkler (Wally Vernon). 20thCentury-Fox. 1938 – Sharpshooters (Salvando um Reino) Dir: James Tinling. 1939 – Chasing Danger (Cortejando a Morte) Dir: Ricardo Cortez.

CAPPY RICKS

Velho industrial irascível, personagem criado pelo romancista Peter B. Kyne interpretado sucessivamente por Robert McWade, Walter Brennan e Charles Winninger). Republic. 1935 – Cappy Rickes Returns (A Volta do Capitão Ricks) Dir: Mack V. Wright. 1937 – Affairs of Cappy Ricks Dir: Ralph Staub; The Go Getter (Querer é Poder) Dir: Busby Berkeley.

COHENS AND KELLYS

Rivalidades entre um casal de judeus (George Sidney – Vera Gordon) e um casal de irlandeses (Charles Murray – Kate Price) em um bairro pobre de Nova York. Universal. 1926 – The Cohens and Kellys (Ai, que Vizinhos) Dir: Harry Pollard. 1928 -The Cohens and Kellys in Paris (Dois Forasteiros em Paris) Dir: William Beaudine. 1929 – The Cohens and Kellys in Atlantic City (Cohens e Kellys em Apuros) Dir: William James Craft. 1930 – The Cohens and Kellys in Scotland (Forasteiros na Escócia) Dir: William James Craft; The Cohens and Kellys in Africa (Forasteiros na África) Dir: Vin Moore. 1932 – The Cohen and Kellys in Hollywood (Forasteiros em Hollywood) Dir: John Francis Dillon. 1933 – Cohens and Kellys in Trouble (Abraços Traiçoeiros) Dir: George Stevnes.

DEAD END KIDS

Rapazes dos cortiços de Nova York. Warner Bros. 1938 – Crime School (No Limiar do Crime) Dir: Lewis Seiler; Angels with Dirty Faces (Anjos de Cara Suja) Dir: Michael Curtiz. 1939 – They Made Me a Criminal (Tornaram-me um Criminoso) Dir: Busby Berkeley; Hell´s Kitchen (Sucursal do Inferno) Dir: Lewis Seiler e E.A. Dupont.; Angels Wash Their Faces (Os Anjos de Cara Limpa); The Dead End Kids on Dress Parade (Os Anjos Acertam o Passo) Dir: William Clements.

DR. CHRISTIAN

Médico do Interior, Dr. Paul Christian (Jean Hersholt), e seus vizinhos na cidade mítica de River´s End, no Minnesota. Outros personagens fixos: Mrs. Hastings (Maude Eburne), a governanta do Dr. Christian; a enfermeira Judy Pierce (Dorothy Lovett) e Roy Davis (Robert Baldwyn), farmacêutico namorado de Judy. Personagem oriundo de um programa de rádio estreado na CBS em 1937. RKO. 1939 Meet Dr. Christian (Consciência de Médico) Dir: Bernard Vorhaus. 1940 – The Courageous Dr. Christian (Corajoso Dr. Christian) Dir: Bernard Vorhaus; Dr. Christian Meets the Women (Médico contra Charlatão) Dir: William McGann; Remedy for Riches (Remédio para a Riqueza) Dir: Erle C. Kentyon. 1941 – Melody for Three (Melodia para Três) Dir: Erle C. Kenton; They Meet Again Dir: Erle C. Kenton.

DR.DAFOE

Baseada em um personagem real, o obstreta canadense Allan Roy Dafoe, responsável pelo parto das cinco gêmeas Dione. Jean Hersholt faz o papel do Dr. John Luke e as quíntuplas fazem o papel de si mesmas. 20thCentury-Fox. 1936 – The Country Doctor (O Médico da Aldeia) Dir: Henry King; Reunion (Cinco Gêmeas da Fortuna) Dir: Norman Taurog. 1938 – Five of a Kind (Cinco do Mesmo Naipe) Dir: Herbert I. Leeds.

DR. GILLESPIE

Continuação da série Dr. Kildare focalizando seu mentor, Dr. Gillespie (Lionel Barrymore). MGM. 1942 – Calling Dr. Gillespie (Dr. Gillespie em Perigo) Dir: Harold S. Bucquet. 1943 – Dr. Gillespie´s New Assistant (O Assistente do Dr. Gillespie) Dir: Willis Goldbeck; Dr. Gillespie Criminal Case (A Volta da Noiva) Dir: Willis Goldbeck. 1944 – Three Men in White (Os Três Homens de Branco) Dir: Willis Golbeck; Between Two Women (Beije-me Doutor) Dir: Willis Goldbeck. 1947 – Dark Delusion (O Segredo de Cynthia) Dir: Willis Goldbeck.

DR.KILDARE

O herói é um jovem interno no Hospital Blair. O personagem do jovem médico criado por Max Brand apareceu originariamente no filme Escravos do Dever / Interns Can´t Take Money / 1937 da Paramount com Joel McCrea como James Kildare. Na série, Lew Ayres assumiu o lugar de McCrea e Lionel Barrymore era seu mentor,  o Dr. Gillespie. Outros personagens fixos: Mary Lamont, enfermeira e namorada do Dr. Kildare (Laraine Day); Joe Wayman, o chofer da ambulância (Nat Pendleton); Dr. Stephen KIldare (Samuel S. Hins) e Mrs. Martha Kildare (Emma Dunn), progenitores do Dr. Kildare. 1938 – Young Dr. Kildare (O Jovem Dr. Kildare) Dir: Harold S. Bucquet. 1939 – Calling Dr. Kildare (Chamem o Dr. Kildare) Dir: Harold S. Bucquet; The Secret of Dr. Kildare (O Segredo do Dr. Kildare) Dir: Harold S. Bucquet. 1940 – Dr. Kildare Strangest Case (O Estranho Caso do Dr. Kildare) Dir: Harold S. Bucquet; Dr. Kildare Goes Home (O Dilema do Dr. Kildare) Dir: Harold S. Bucquet; Dr. Kildare ´s Crisis (A Vitória do Dr. Kildare) Dir: Harold S. Bucquet. 1941 – The People vs. Dr. Kildare (Minha Vida é Tua) Dir: Harold S. Bucquet; Dr. Kildare´s Wedding Day (Sonhos Dissipados) Dir: Harold S. Bucquet. 1942 – Dr. Kildare´s Victory (Seu Grande Triunfo) Dir: Harold S. Bucquet.

EAST SIDE KIDS

Rapazes dos cortiços de Nova York. Monogram. 1940 – East Side Kids Dir: Robert Hill; Boys of the City (Os Anjos no Castelo Misterioso) Dir: Joseph H. Lewis; That Gang of Mine Dir: Joseph H. Lewis. 1941 – Pride of the Bowery (Os Anjos Pintam o Sete) Dir: Joseph H. Lewis; Flying High (Voando Alto) Dir: William West; Bowery Blitzgrieg Dir: Wallace Fox; Spooks Run Wild (Drácula e os Anjos) Dir: Phil Rosen. 1942 – Mr. Wise Guy (Os Anjos e os Gangsters) Dir: William Nigh; Let´s Get Tough (Os Anjos contra o Dragão) Dir: Wallace Fox; Smart Alecks Dir: Wallace Fox; Neath Brooklyn Bridge (Os Anjos Abafam a Banca) Dir: Wallace Fox. 1943 – Clancy Street Boys Dir: William Beaudine; Ghosts on the Loose (Fantasmas às Soltas) Dir: William Beaudine; Kid Dynamite (Anjos Endiabrados) Dir: Wallace Fox; Mr. Muggs Steps Out Dir: William Beaudine. 1944 – Block Busters Dir: Wallace Fox; Bowery Champs (Campeões de Arrabalde) Dir: William Beaudine; Follow the Leader Dir: William Beaudine; Million Dollar Kid (Tesouro Maldito) Dir: Wallace Fox. 1945 – Million Dollar Kid (Tesouro Maldito) Dir: Wallace Fox; Come Out Fighting (O Rei do Ring) Dir: William Beaudine; Docks of New York (Docas de Nova York) Dir: Wallace Fox; Mr. Muggs Rides Again (O Grande Prêmio) Dir: Wallace Fox.

FIVE LITTLE PEPPERS

Baseada nas histórias de Margaret Sidney (pseudônimo de Harriet Mulford Stone Lothrop). Edith Fellow encabeçava o elenco como Polly, a irmã mais velha que cuidava das outras crianças (Tommy Bod, Charles Peck, Jimmy Leake e Dorothy Ann Sease), enquanto a mãe viúva, Mrs. Pepper (Dorothy Peterson, se esforçava para sustentar a família como costureira. Columbia. 1939 – Five Little Peppers and How They Grew (As Cinco Pimentinhas) Dir: Charles Barton. 1940 – Five Little Peppers at Home (Cinco Pimentinhas e Cia.) Dir: Charles Barton; Out West with the Peppers (As Cinco Pimentinhas no Oeste) Dir: Charles Barton; Five Little Peppers in Trouble (A Rebelião das Pimentinhas) Dir: Charles Barton.

FRANCIS

A amizade do Segundo Tenente do Exército Peter Stirling (Donald O´Connor) e seu mulo falante. O ator Chill Wills emprestou a voz para Francis, dando-lhe um sotaque bem apropriado. A premissa maior, e o encanto de Francis, era o de que ele podia não só falar articuladamente como possuir uma boa quantidade de bom senso e de sabedoria, fazendo com que seu companheiro Peter parecesse um idiota. No último exemplar da série Wills foi substituído por Paul Fress e O’Connor por Mickey Rooney. Universal. 1949 – Francis (… E o mulo falou). Dir: Arthur Lubin. 1951 – Francis Goes to the Races (Francis nas Corridas) Dir: Arthur Lubin. 1952 – Francis Goes to West Point (Francis na Academia) Dir: Arthur Lubin.1953 – Francis Covers the Big Town (Francis, o Detetive) Dir: Arthur Lubin. 1954 – Francis Joins the Wacs (Francis entre as Boas) Dir: Arthur Lubin. 1955 – Francis in the Navy (Francis na Marinha) Dir: Arthur Lubin.1956 – Francis in the Haunted House (Francis entre os Fantasmas) Dir: Charles Lamont.

FU MANCHU

Mestre do crime oriental (Warner Oland). Criação de Sax Rohmer. No último exemplar da série Olan foi substituído por Boris Karloff. Tornou-se uma série radiofônica na CBS em 1932.Paramount. 1929 – The Mysterious Dr. Fu Manchu (O Misterioso Dr. Fu Manchu) Dir: Rowland V. Lee. 1930 – The Return of Dr. Fu Manchu (O Ressuscitado) Dir: Rowland V. Lee. 1931 – Daughter of the Dragon (A Filha do Dragão) Dir: Lloyd Corrigan. 1932 – The Mask of Fu Manchu (A Máscara de Fu Manchu) Dir: Charles Vidor, Charles Brabin.

GAMBINI SPORTS FILMS

Pai de família numerosa, Papa Luigi Gambini (Henry Armetta), esposa (Inez Palange) e filhos, Tony (Johnnie Pirrone Jr.) e Rosa (Eleanor Virzie), em histórias passadas no meio esportivo. 20thCeNtury-Fox. 1938 – Speed to Burn (O Relâmpago da Pista) Dir: Otto Brower; Road Demon (Pista da Morte) Dir: Otto Brower.1939 – Winner Take All (O Cowboy Lutador) Dir: Otto Brower.

GAS HOUSE KIDS

Grupo de meninos rebeldes do bairro Gas House em Nova York com destaque para Carl “Alfafa” Switzer da série Os Peraltas / Our Gang. PRC. 1946 – Gas House Kids Dir: Sam Newfield. 1947 – Gas House Kids Goes West Dir: William Beaudine; Gas House Kids in Hollywood Dir: Edward Cahn.

GASOLINE ALLEY

Baseada nos quadrinhos de Frank D. King focalizando uma família residente na cidade de Gasoline Alley: Walt Wallet (Don Beddoe), sua esposa Phyllis (Madelon Baker), seu filho natural Corky (Jimmy Lydon), o adotado Skeezix (Scotty Becket), e a filha Judy (Patty Brady). 1951 – Gasoline Alley Dir: Edward Bernds; Corky of Gasoline Alley (O Primo Malandro) Dir: Edward Bernds.

GILDERSLEEVE

Personagem de dois programas de rádio (secundário em Fibber McGee and Molly e principal em The Great Gildersleeve) Throckmorton P. Gildersleeve (Harold Peary) passou para a tela em quatro filmes da RKO. Ele era solteirão e tinha dois sobrinhos, o pestinha Leroy e a adolescente Marjorie (interpretados no cinema pela ordem por Freddie Mercer e Nancy Gates) e morava em “Summerfield”. 1942 The Great Gildersleeve (Então Casa ou Não casa?) Dir: Gordon Douglas. 1943 – Gildersleeve´s Bad day (Gildersleeve Está Com Azar) Dir: Gordon Douglas; Gildersleeve on Broadway Dir: Gordon Douglas. 1944 – Gildersleeve´s Ghost Dir: Gordon Douglas.

HENRY ALDRICH

Personagem oriundo de uma peça teatral de Clifford Smitth e conhecido também pelo rádio. Rapazinho da classe média do interior, foi interpretado no cinema por Jackie Cooper nos dois primeiros filmes da série e substituído por Jimmy Lindon nos restantes. Paramount. 1939 – What a Life (A Vida Começa ao Quatorze) Dir: Ted Reed. 1941 – Life with Henry (Henry está na Berlinda) Dir: Ted Reed; Henry for President (Candidato Gaiato) Dir: Hugh Bennett. 1942 – Henry and Dizzy Dir: Hugh Bennett. 1943 – Henry Aldrich, Editor Dir: Hugh Bennett; Henry Aldrich Gets Glamour (A Tentação das Garotas) Dir: Hugh Bennett; Henry Aldrich Swings Ir Dir: Hugh Bennett. 1944 – Henry Aldrich, Boy Scout Dir: Hugh Bennett; Henry Aldrich Plays Cupid (Bancando o Cupido) Dir: Hugh Bennett; Henry Aldrich ´s Little Secret Dir: Hugh Bennett.

HIGGINS FAMILY, THE

Família do Interior nos moldes das apresentadas na série Andy Hardy da MGM e da Jones Family da 20thCentury-Fox, com James Gleason, sua esposa Lucille e seu filho Russel como Joe, Lillian e Sydney Higgins nos sete primeiros filmes. Nos dois últimos eles foram substituídos respectivamente por Roscoe Karns, Ruth Donnelly e Harry Davenport, que interpretava o avô, cedeu lugar para Spencer Charters.  A fórmula era bem simples: o pai se envolvia em uma situação impossívelpor causa da estupidez da esposa e da sua própria ignorância, orgulho ou falta de precaução; depois, a família se reuniae vencia as dificuldades, quase sempre em um desfecho contendo um elemento de pastelão. Republic. 1938 – The Higgins Family (A Família de Minha Mulher) Dir: Gus Meins. 1939 – My Wife Relatives Dir: Gus Meins; Should Husbands Work? (Deixem os Maridos Trabalhar) Dir: Gus Meins. 1939 -The Covered Trailer Dir: Gus Meins. 1940 – Money to Burn (Pobres Milionários) Dir: Gus Meins; Grandpa Goes to Town (Grande Jornada) Dir: Gus Meins; Earl of Puddlestone (O Segredo do Conde) Dir: Gus Meins; Meet the Missus (Mulher Ciumenta) Dir: Gus Meins. 1941 – Petticoat Politics (Política de Saias) Dir: Erle C. Kenton.

 

OS FILMES DE BERNARD BLIER

Ele atravessou mais de meio século trabalhando como coadjuvante ou em papéis principais em quase duzentos filmes de longa-metragem, escolhido muitas vezes por grandes cineastas que reconheceram seu talento e o ajudaram a se distinguir como um dos grandes atores do cinema francês.

Bernard Blier

Bernard Blier (1916 -1989) nasceu em Buenos Aires na Argentina, filho de Suzanne e Jules Blier. Seu pai era veterinário e estava neste país a serviço do exército francês durante a Primeira Guerra Mundial com a missão de reagrupar cavalos semi-selvagens e enviá-los de navio para Europa. De volta à França, a família se instalou em Paris, onde Bernard estudou no liceu Condorcet, e apaixonou pela literatura, devorando os romances de Alexandre Dumas, Gustave Flaubert, Victor Hugo e sobretudo “Le Petit Chose” de Alphonse Daudet, romance semi-autobiográfico do escritor no qual são transpostas suas recordações como professor em Alès.

Aos doze anos de idade quando Bernard viu pela primeira vez Pierre Fresnay na Comédie-Française, ficou impressionando com a força de sua composição e com a ovação ininterrupta que ele recebeu do público, e decidiu que iria ser ator. Sua vocação foi impulsionada pelos seus pais, pois Jules e Suzanne levavam regularmente seus filhos para ver grandes atores do palco como Louis Jouvet ou Charles Dullin. Ele, por sua vez, encontrava sempre uma maneira de penetrar nos bastidores do L´Éuropéen e ver desfilar, gratuitamente, todas as vedetes do music hall, que se apresentavam nesta casa de espetáculos de Paris.

Ao terminar os estudos secundários, sempre sonhando em entrar para o Conservatório, Bernard começou seu aprendizado de ator atuando em companhias de pequeno porte e frequentando cursos de arte dramática entre eles a Escola de Teatro fundada por Raymond Rouleau, Julien Bertheau e Jean-Louis Barrault. Raymond Rouleau foi o primeiro mentor de Bernard Blier e foi sob sua direção, como figurante, que ele estreou no cinema no filme Trois…Six…Neuf / 1936, conseguindo ao mesmo tempo ser admitido no Conservatório como ouvinte do curso de Louis Jouvet. Ele continuou como acteur de complément nos cinco filmes seguintes dos quais participou (Mulher Fatal / Gribouille de Marc Allégret; Atração da Carne / Le Messager (dir: R. Rouleau); O Segredo da Linha Maginot / Double Crime sur la ligne Maginot (Dir: Félix Gandera); A Dama de Malacca / / La Dame de Malacca (Dir: Marc Allégret), L ´Habit Vert (Dir: Roger Richebé), todos de 1937) e finalmente, em 17 de novembro de1937, Bernard Blier foi admitido como aluno regular na classe de Louis Jouvet.

Louis Jouvet e Bernard Blier em Entrée des Artistes

Ao se aproximar o final da década de trinta Blier começou fazer pequenos papéis inclusive em filmes muito importantes como os assinalados em negrito: 1938 – Grisou / Les hommes sans soleil (Dir: Maurice de Canonge); Altitude 3200 (Dir: Jean Benoît Lévy); Entrée des Artistes (Dir: Marc Allégret); Le Ruisseau (Dir: Maurice Lehmann, Claude Autant-Lara); Place de la Concorde (Dir: Carl Lamac); Hotel do Norte / Hôtel du Nord (Dir Marcel Carné); Accord Final (Dir: I.R. Bay (Ignacy Rosenkranz). 1939 – Quartier Latin (Dir: Pierre Colombier); Trágico Amanhecer / Le Jour se lève (Dir: Marcel Carné). No filme de Allégret ele era Pesconi, um dos alunos do professor Lambertin (Louis Jouvet) no Conservatório e nos filmes de Carné, marcava sua presença respectivamente como o operador de eclusa Prosper e o operário Gaston. Em 1938 Jean Renoir pensou em Blier para interpretar Pecqueux, o mecânico da locomotiva companheiro de Jacques Lantier (Jean Gabin) em A Bêsta Humana / La Bête Humaine; porém depois mudou de idéia achando que Blier era muito jovem para o papel, que acabou sendo de Julien Carette.

Bernard Blier (à direita) em Hotel do Norte

Marcel Pérès, Jacqueline Laurent e Bernard Blier em Trágico Amanhecer

Justamente quando a carreira de Blier no cinema estava decolando, ele foi convocado para servir o exército. Mobilizado em 1939, serviu em um regimento de infantaria. Capturado pelos alemães, foi enviado para o Stalag XVIIA. Após duas tentativas de fuga frustradas, graças à cumplicidade de um oficial austríaco benevolente, conseguiu ser transferido para o Stalag XVIIB, de onde foi libertado em virtude de um programa de repatriação médica de conveniência, convencendo as autoridades locais de que era médico veterinário e seria mais útil livre do que preso. Ele conseguiu isso colocando seu nome em um papel timbrado em branco que seu pai lhe enviou dissimulado em uma caixa de biscoitos, no qual constava sua condição de veterinário.

Nos anos quarenta Blier apareceu em cenas breves, mas também em papéis de coadjuvante mais destacados e papéis principais, sobressaindo nos filmes em negrito: 1940 – Les Musiciens du ciel (Dir: Georges Lacombe). 1941 – A Noite de Dezembro / La Nuit de décembre (Dir: Kurt Bernhardt); L ´Enfer des anges (Dir: Christian-Jaque); O Assassinato de Papai Noel (na TV) / L´Assassinat du Père Noël (Dir: Christian-Jaque); Premier Bal (Dir: Christian-Jaque); Le pavillon brûle (Dir: Jacques de Baroncelli). 1942 – Caprices (Dir: Léo Joannon); O Casamento de Chiffon / Le Mariage de Chiffon (Dir: Claude Autant-Lara); La Symphonie fantastique (Dir: Christian-Jaque); A Noite Fantástica (na TV) / La Nuit fantastique (Dir: Marcel L´Herbier); La Femme que j´ai plus aimé (Dir: Robert Vernay); Le journal tombe à cinq heures (Dir: Georges Lacombe); Romance à trois (Dir: Roger Richebe); Os Amores de Carmen / Carmen (Dir: Christian Jaque). 1943 – Marie-Martine / Marie Martine (Dir: Albert Valentin); Domino (Dir: Roger Richebé); Les Petites du quai aux Fleurs (Dir: Marc Allégret); Je suis avec toi (Dir: Henri Decoin). 1944 – Farandole (Dir: André Zwoboda). 1945 – Seul dans la nuit (Dir: Christian Stengel); Monsieur Grégoire s ´evade (Dir: Jacques Daniel-Normand). 1946 – Messieurs Ludovic (Dir: Jean-Paul le Chanois); Le Café du Cadran (Dir: Jean Gehret). 1947 Crime em Paris / Quai des Orfèvres (Dir: Henri-Georges Clouzot); Escravas do Amor / Dédée d´Anvers (Dir: Yves Allégret). 1948 – Les Casse-pieds (Dir: Jean Dréville); D´homme à hommes (Christian-Jaque); Retour à la vie (esquete Le retour de tante Emma (Dir: André Cayatte); L´École buissonnère (Dir: Jean-Paul Le Chanois); A Cínica / Manèges (Dir: Yves Allégret); Monseigneur (Dir: Roger Richebé); La Souricière (Dir: Henri Calef).

Bernard Blier e Suzy Delair em Crime em Paris

Bernard Blier e Marcel Dalio em Escravas do Amor

Bernard Blier em L´École Bouissonière

Jane Marken, Simone Signoret e Bernard Blier em A Cínica

Bernard Blier em Monseigneur

No filme de Clouzot Blier era Maurice Martineau, o pianista casado com a cantora de music-hall Jenny Lamour (Suzy Delair) que, movido pelo ciúme, acaba sendo suspeito de ter assassinado um velho produtor libidinoso (Charles Dullin) com o qual sua esposa tivera um encontro. Nos filmes de Allégret, Blier interpretava respectivamente M. René, dono de um bar, que ajuda a prostituta Dédée (Simone Signoret) a eliminar seu rufião (Marcel Dalio), responsável pela morte do homem por quem ela se apaixonara e Robert, dono de uma escola de equitação enganado várias vezes por sua mulher Dora (Simone Signoret), que se acidentou quando ia se encontrar com seu último amante e corre o risco de ficar paralítica. Em L´École buissonière Blier era M.  Pascal, o novo professor de uma pequena cidade do interior da Provença no princípio dos anos vinte, cuja concepção liberal da educação perturba o conservadorismo de seu predecessor, do prefeito e dos vereadores, que vão tentar afugentá-lo; porém a conspiração organizada contra ele fracassa diante do sucesso de seus alunos. Em Monseigneur Blier era o serralheiro Louis Mennechain acolhido por um grupo de aristocratas convencidos por um historiador trapaceiro (Fernand Ledoux) de que era o único descendente autêntico de Luis XVI. Nesta excelente comédia com enredo original, inspirado no famoso enigma da evasão de Louis XVII da prisão do Templo e o aparecimento de falsos delfins, Blier teve certamente a melhor de interpretação de toda a sua carreira. Ele soube expressar com espantosa habilidade as diferentes facetas de sua personagem que, após um período de estupefação e ceticismo, vai tomando gosto pelo papel de rei, com um desembaraço e uma naturalidade saborosos.

Nos anos cinquenta, Blier continuou trabalhando muito, com destaque para os personagens que interpretou nos filmes em negrito: 1950 – L´Invité du mardi (Dir: Jacques Deval); Les Anciens de Saint Loup (Dir: Georges Lampin); Lembranças do Pecado / Souvenirs perdus, esquete Le violon (Dir: Christian-Jaque); O Último Endereço / … Sans laisser d´addresse (Dir: Jean-Paul Le Chanois). 1951 – La Maison Bonnadieu (Dir: Carlo Rim); Agence matrimoniale (Dir: Jean-Paul Le Chanois). 1952 – Je l ái été trois fois! (Dir: Sacha Guitry); Suivez cet homme! (Dir: Georges Lampin). 1953 – Antes do Dilúvio / Avant le déluge (Dir: André Cayatte); Segredos de Alcova / Secrets d ´alcove, esquete Le lit de la Pompadour (Dir: Jean Delannoy). 1954 – Scènes de ménage (Dir: André Berthomieu). 1955 – O Processo Negro / Le Dossier noir (Dir: André Cayatte); Les Hussards (Dir: Alex Joffé); Prigioneri del male (Dir: Mario Costa). 1956 – Crime e Castigo / Crime et Châtiment (Dir: Georges Lampin); Minha Mulher vem aí / L ´Homme à l´impermeable (Dir: Julien Duvivier). 1957 – Os Covardes também amam / Retour de manivelle (Dir: Denys de La Patellière); Os Miseráveis / Les Misérables (Dir: Jean-Paul Le Chanois); Uma tal Condessa (na TV) / Quand la femme s´en mêle (Dir: Yves Allégret); Tudo aconteceu numa Noite / La Bonne Tisane (Dir: Hervé Bromberger); Sans famille (Dir: André Michel); Escola de Mundanas / L´École des cocotes (Dir: Jacqueline Audry). 1958 – En légitime défense (Dir: André Bertomieu); A Gata / La Chatte (Dir: Henri Decoin); Le Joueur (Dir: Claude Autant-Lara); A Volúpia do Poder / Les Grandes Familles (Dir: Denys de La Patellère); Arquimedes o vagabundo / Archimède le clochard (Dir: Gilles Grangier; Marie-Octobre (na TV) / Marie Octobre (Dir: Julien Duvivier). 1959 – Le Secret du Chevalier d ´Éon (Dir: Jacqueline Audry); A Grande Guerra / La grande guerra (Dir: Mario Monicelli); Os Olhos do Amor / Les Yeux de l´amour (Dir: Denys de La Patellère); Marche ou crève (Dir: Georges Lautner).

Danièle Delorme e Bernard Blier em Endereço Desconhecido

Bernard Blier e Jean Gabin em Os Miseráveis

Jean Desailly, Jean Gabin e Bernard Blier em A Volúpia do Poder

Em O Último Endereço Blier era o chofer de taxi Émile Gauthier que ajudava uma jovem provinciana (Danièle Delorme) a encontrar o pai de seu filho em Paris. Em Os Miseráveis assumiu os traços do inflexível Inspetor Javert, perseguidor implacável de Jean Valjean (Jean Gabin) e em A Volúpia do Poder aparecia como Simon Lachaume, assistente desonesto de Noel Schoudler (Jean Gabin), chefe autocrático de empresas familiares diversificadas que incluiam um banco, um jornal e uma refinaria de açúcar.

Bernard Blier e Renée Faure em O Presidente

Bernard Blier e Jean Gabin em Le cave se Rebiffe

Bernard Blier, Danièle Delorme, Henri Cremieux em O Sétimo Jurado

Lino Ventura, Bernard Blier e Francis Blanche  em O Testamento de um Gângster

Nos anos sessenta, o incansável ator esteve ainda mais vezes diante das câmeras inclusive sob as ordens de diretores italianos e pela primeira vez do seu filho Bertrand Blier: 1960 – L´Ennemi dans l´ombre (Dir: Charles Gérard); O Corcunda de Roma / Il Gobbo (Dir: Carlo Lizzani); Mais forte que o Amor / Arrêtez les tambours (Dir: Georges Lautner); Crime em Monte Carlo / Crimen (Dir: Mario Camerini); O Presidente / Le Président (Dir: Henri Vernueil); La Famile Fenouillard (Dir: Yves Robert (não creditado). 1961 – Os Amores de um rei / Vive Henry IV … vive l ´amour (Dir: Claude Autant-Lara); O Rei dos Falsários / Le cave se rebiffe (Dir: Gilles Grangier); Monocle, o Agente Secreto / Le Monocle noir (Dir:Georges Lautner); Legenda Heróica / I brigante italiani (Dir: Mario Camerini); Operação Barra de Ouro / En plein cirage (Dir: Georges Lautner); Mulher na Estrada / Les Petits Matins (Dir: Jacqueline Audry); O Sétimo Jurado / Le Septième Juré (Dir: George Lautner). 1962 – Marco Polo (Dir: Christian-Jaque); Mathias Sandorf (Dir: Georges Lautner); Pourquoi Paris? (Dir: Denys de La Patellìere); Les Saintes – Nitouches (Dir: Pierre Montazel); Germinal (Dir: Yves Allégret). 1963 – Os Companheiros / I compagni (Dir: Mario Monicelli); O Magnífico Aventureiro / Il magnifico avventuriero (Dir: Riccardo Freda); O Testamento de um Gângster / Les Tontons flingueurs (Dir: Georges Lautner); Amor à francesa / La Bonne Soupe (Robert Tomas); Alta Infidelidade / Alta infedeltà (Dir: esquete Gente Morderna (Dir: Mario Monicelli); 100000 dólares ao sol / Cent mille dollars au soleil (Dir: Henri Verneuil). 1964 – A Caça ao Homem / La Chasse à l ´homme (Dir: Édouard Molinaro); La Chance et l´Amour esquete Une chance explosive (Dir: Bertrand Tavernier); O Magnífico Traído / Il magnifico cornuto (Dir: Antonio Pietrangeli); Os Supersecretas / Les Barbouzes (Dir: Georges Lautner). 1965 – Quand passent les faisons (Dir: Édouard Molinaro); Os Gozadores / Les Bons Vivants / Un grand seigneur esquetes La fermeture e Le procès (Dir: Gilles Grangier); Casanova 70 / Casanova 70. (Dir: Mario Monicelli); Traído …Por uma Questão de Honra / Una questione d´onore (Dir: Luigi Zampa); Crime Quase Perfeito / Delitto quase perfetto (Dir: Mario Camerini); Duello nel mondo (Dir: Georges Combet e Luigi Scattini. 1966 – 100 ragazze per um play boy (Dir: Michael Pfleghar); Le Grand Restaurant (Dir: Jacques Besnard); Du mou dans la gâchette (Dir: Louis Grospierre); A Ordem é Matar / Peau d´espion (Dir: Édouard Molinaro); Un idiot à Paris (Dir: Serge Korber); Si j ´étais um espion (Dir: Bertrand Blier). 1967 – O Estrangeiro / Lo straniero (Dir: Luchino Visconti); Le Fou du labo 4 (Jacques Besnard); O assassino tem as horas contadas / Coplan sauve as peau (Dir: Yves Boisset); Os Amantes de Carolina / Caroline chérie (Dir: Denys de La Patellière). 1968 – As Doces Assaltantes / Faux pas prendre les canards du Bon Dieu pour des canards sauvages (Dir: Michel Audiard); Conseguirão nossos heróis encontrar o amigo misteriosamente desaparecido na África? / Riusciranno i nostri eroi a ritrovare  l´amico misteriosamente scomparso in Africa? (Dir: Ettore Scola; Quarta parete (Dir: Adriano Bolzoni). 1969 – Appelez-moi Mathilde (Dir: Pierre Mondy); Meu tio Benjamim / Mon oncle Benjamin (Dir: Édouard Molinaro); Ela não bebe, não fuma, não paquera, mas… / Elle boit pas, elle fume pas, elle drague pas … mais ele cause! (Dir:  Michel Audiard). Distinguiram-se suas atuações em dois filmes excelentes, O Presidente como Philippe Chalamont, chefe de gabinete sem escrúpulos do presidente do Conselho da República, Emile Beaufort (Jean Gabin), e seu opositor político e O Sétimo Jurado, como o farmacêutico Grégoire Duval escolhido como jurado no julgamento de um jovem que foi acusado do crime que ele cometeu. Vale mencionar também sua contribuição para o sucesso comercial de O Testamento de um Gangster como o mafioso Volfoni.

Bernard Blier em Loiro Alto do Sapato Preto

Bernard Blier e Patrick Dewaere. em Série Noire

Bernard Blier, Gérard Depardieu e Jean Carmet em Buffet Froid

Bernard Blier em Tomara que seja Mulher

Na fase final de sua carreira, abrangendo os anos setenta e parte dos oitenta, Blier demonstrou seu grande talento principalmente nos filmes que estão em negrito: 1970 – Il furto è l´anima del commercio …!? (Dir: Bruno Corbucci); Le Distrait (Dir: Pierre Richard); Le Cri du cormoran, le soir au-dessus des jonques (Dir: Michel Audiard); Laisse aller … c´est une valse (Dir: Georges Lautner). 1971 – Jo, o Diabólico / Jo (Dir: Jean GIrault); O Super Macho / Homo eroticus (Dir: Marco Vicario); Como Agarrar um Espião / Catch Me a Spy (Dir: Dick Clement); Boccacio (Dir: Bruno Coerbucci); Le Tueur (Dir: Denys de La Patellìere. 1972 – Tout le monde il est beau, tout le monde il est gentil (Dir: Jean Yanne; Ela não fala …  Atira! / Elle cause plus, elle flingue (Dir: Michel Audiard); Loiro Alto do Sapato Preto / Le Gran Blond avec une chaussure noire (Dir: Yves Robert); Moi y´en a vouloir des sous (Dir: Jean Yanne). 1973 – Je sais rien, mais je dirai tout (Dir: Pierre Richard); Quando o Sangue não é nosso (na TV) / Par le sang des autres (Dir: Marc Simenon); Os Chineses em Paris (na TV) / Les Chinois à Paris (Dir: Jean Yanne); A Mão Amputada (na TV) / La Main à couper (Dir: Étienne Pèrier). 1974 – Processo per direttissima (Dir: Lucio de Caro); Il piatto piange (Dir: Paolo Nuzzi); Bons baisers … à lundi (Dir: Michel Audiard); C ´est pas parce qu ´on a rien à dire qu´il faut ferner sa gueule … (Dir: Jacques Besnard); Ce cher Victor (Dir: Robin Davis). 1975 – Meus Caros Amigos / Amici miei (Dir: Mario Monicelli); C ´est dur pour tou le monde (Dir: Christian Gion); Le Faux-cul (Dir: Roger Hanin); Calmos (Dir: Bertrand Blier). 1976 – Nuit d ´or (Dir: Serge Moati); Ânsia de VIngança / Le Corps de mon ennemi (Dir: Henri Verneuil). 1977 – La Fuite en avant / Le Compromis (Dir: Christian Zerbib). 1978 Série noire, exibido somente no Cine Clube da Maison de France na Semana do Cinema e da TV Francesa (Dir: Alain Corneau). 1979 – Il Malato immaginario (Dir: Tonino Cervi); Coquetel de Assassinos / Buffet froid (Dir: Bertrand Blier); Voltati Eugenio (Dir: Luigi Comencini). 1981 – Il turno (Dir: Tonino Cervi); Passione d´amore (Dir: Ettore Scala); Pétrole! Pétrole! (Christian Gion). 1983 – Cuore – Lembranças do Coração / Cuore (Dir: Luigi Comencini). 1984 – As duas vidas de Matttia Pascal / Le due vite di Mattia Pascal (Dir: Mario Monicelli); Ça  n´arrive qu´a moi (Dir: Francis Perrin); Scemo di guerra (Dir: Dino Risi). 1985 – Amici miei atto 3 (Dir: Nanni Loy); Tomara que seja mulher / Speriamo che sia femmina (Dir: Mario Monicelli). 1986 – Je hais les acteurs (Dir: Gérard Krawczyk); Twist again à Moscou (Dir: Jean-Marie Poiré); Sotto il ristorante cinese (Dir: Bruno Bozzetto). 1987 – Os Possessos / Les Possédés (Dir: Andrzej Wajda); I picari (Dir: Mario Monicelli); Kinski Pagannini (Dir: Klaus Kinski; Migrations / La guerre la plus glorieuse (Dir: Aleksandar Petrovic). 1988 – Ada dans la jungle (Dir: Gérard Zingg); Mangeclous (Dir: Moshé Mizrahi); Una botta di vita (Dir: Enrico Oldoini).

Em Loiro Alto de Sapato Preto, Blier faz o papel de Milan, auxiliar imediato do chefe de um serviço secreto, que cobiça o posto de seu superior hierárquico (Jean Rochefort); porém este lhe prepara uma armadilha, usando um tímido violinista (Pierre Richard), o tal Loiro Alto. Em Série Noire, Blier foi indicado para o César por sua intepretação como Staplin, patrão chantagista do vendedor ambulante que se transformara em assassino (Patrick Dewaere). Em Coquetel de Assassinos, Blier é o Inspetor de polícia Morvandiaux, empenhado em uma investigação envolvendo um rapaz desempregado que acredita ter cometido um crime (Gérard Depardieu) e o assassino paranóico (Jean Carmet) da esposa deste. Em 1986, Blier ganhou o prêmio David di Donatello (Oscar do Cinema Italiano) como melhor ator não protagonista por sua atuação como Gugo, octogenário totalmente caduco, tio do personagem interpretado por Phillippe Noiret em Tomara que seja mulher. No ano seguinte, festejou seu meio século de cinema, longevidade profissional somente superada por Charles Vanel entre os atores franceses que ainda estavam em atividade.

Bernard Blier recebendo seu César pelas mãos de Michel Serrault

Em 1 de janeiro de 1989, ele foi promovido ao grau de oficial da Legion d´Honneur. Dois meses mais tarde recebeu um Cesar honorário (Oscar do Cinema Francês) e durante a cerimônia de entrega do prêmio pelas mãos de seu ex-aluno Michel Serrault, recebeu uma ovação da plateia em pé por mais de cinco minutos. Muito enfraquecido e magro,  trocou umas palavras engraçadas com um Serrault que mal continha sua emoção e suas lágrimas e depois se foi. Faleceu três semanas mais tarde, em 29 de março de 1989, em consequência de um câncer na Clinique du Val d´Or em Saint Cloud.

OTTO PREMINGER II

Em 1953 Otto Preminger fez sua estréia como produtor-diretor independente com Ingênua Até certo Ponto / The Moon is Blue, adaptação cinematográfica da peça de Hugh Herbert que havia dirigido na Broadway. Nos mesmos cenários Preminger filmou também uma versão alemã intitulada Die Jungfrau auf dem Dach com Johanna Matz, Hardy Krüger e Johannes Heesters nos papéis de Maggie McNamara, William Holden e David Niven. O filme foi desaprovado pelo Código Hays, órgão responsável pela autocensura de Hollywood e pela Legião Católica da Decência, mas Preminger decidiu lançá-lo assim mesmo. Sua rebeldia representou o início do fim do Código e ajudou Hollywood a se livrar dos seus valores antiquados.

Desde que assinou seu novo contrato com a Fox, Preminger evitou assumir algum novo compromisso, mas quando Zanuck chamou-o para dirigir O Rio das Almas Perdidas / River of No Return / 1954, ele gostou da história, aprovou a escolha dos dois atores principais (Robert Mitchum, Marilyn Monroe) e achou quer seria uma oportunidade de filmar em CinemaScope, formato no qual se tornaria um mestre. Após O Rio das Almas Perdidas, Preminger decidiu que nunca mais trabalharia como empregado de um estúdio e, de fato, até o final de sua carreira cinematográfica, ele só faria dois filmes para outro produtor.

 Sua trajetória fílmica a partir de então se dividiria em duas fases: a primeira, mais fértil artisticamente, vai de 1954 a 1965, incluindo os seguintes filmes, dentre os quais destaco como melhores aqueles que estão assinalados em negrito: 1954 – Carmen Jones / Carmen Jones. 1955 O Homem do Braço de Ouro / The Man with the Golden Arm; Seu Último Comando / The Court Martial of Billy Mitchell, drama biográfico sobre o julgamento do militar (Gary Cooper) que em 1925 denunciou o estado precário da Força Aérea americana e previu o ataque japonês de 1941 (Prod: Milton Sperling). 1957 – Santa Joana / Saint Joan, drama histórico baseado na peça de Bernard Shaw com Jean Seberg, como Joana D´Arc e Richard Widmark como Carlos VII). 1958 – Bom Dia Tristeza / Bonjour Tristesse. 1959 – Anatomia de um Crime / Anatomy of a Crime; Porgy e Bess / Porgy and Bess, drama musical baseado na ópera de George Gerswhin com Sidney Poitier e Dorothy Dandridge (Prod: Samuel Goldwyn). 1960 Exodus / Exodus, drama histórico sobre a fundação do Estado de Israel com roteiro abertamente creditado de Dalton Trumbo em um desafio à Lista Negra de Hollywood. 1962Tempestade sobre Washington / Advise and Consent. 1963 O Cardeal / The Cardinal, drama (indicado para o Oscar de melhor Filme) sobre a ascenção de um irlandês católico (Tom Tryon) do sacerdócio para o Colégio de Cardeais.  1965 – Primeira Vitória / In Harm´s Way, drama de guerra com John Wayne, Kirk Douglas, Patricia Neal, Tom Tryon, Jill Haworth, Paula Prentiss, Brandon de Wilde e participação de Dana Andres, Burgess Meredith, Franchot Tone, Henry Fonda, focalizando a Marinha e seus oficiais do ataque japonês a Pearl Harbor ao primeiro ano do envolvimento dos EUA no Segundo Conflito Mundial; Bunny Lake Desapareceu / Bunny Lake is Missing.

Dorothy Dandridge e Harry Belafonte em Carmen Jones

Carmen Jones. Drama baseado em um espetáculo musical da Broadway de Oscar Hammerstein II e não diretamente da ópera de Georges Bizet e as interpretações das melodias são mais jazzísticas do que líricas, muito embora os atores tivessem sido dublados por cantores líricos. A ação foi transposta do ambiente antigo de Sevilha para os EUA nos dias da Segunda Guerra Mundial, onde a intriga se desenrola não mais em uma fábrica de tabaco, mas em uma fábrica de paraquedas do Exército integrada somente por operárias negras e guarnecida por uma unidade militar também composta inteiramente por negros. Carmen ainda se chama Carmen e continua impetuosa e sensual, mas em vez de cigana vadia é uma operária relapsa; Don José (Harry Belafonte) é ainda um cabo do exército, porém com o nome de Joe; e o toureiro Escamillo torna-se um campeão de boxe chamado Husky Miller (Joe Adams).  Preminger mantém o espírito da ópera trágica e ardente de Bizet, aproveita com discernimento a música maravilhosa do compositor francês e as letras e canções de Hammerstein, e faz uma utilização audaciosa do CinemaScope contando com uma fotografia em cores soberba de Sam Leavitt / Albert Myers, devendo ser mencionada ainda a atuação de Dorothy Dandridge (indicada para o Oscar de Melhor Atriz) e a abertura bem moderna de Saul Bass.

KIm Novak e Frank Sinatra em O Homem do Braço de Ouro

O Homem do Braço de Ouro. Drama baseado em um romance de Nelson Algren, contando a história dolorosa de Frankie Machine (Frank Sinatra), croupier de um cassino clandestino de Chicago, que luta com todas as suas forças para renunciar ao vício da heroína. Após uma estadia de seis meses em um centro de desintoxicação, ele decide mudar de vida, tornando-se baterista em um grupo de jazz. Sua esposa Zosh (Eleanor Parker) foi vitimada em um acidente de carro ocasionado por Frankie e não pode caminhar. Tomado por um sentimento de culpa, ele não ousa abandoná-la, embora se sinta atraído por Molly (Kim Novak), uma dançarina de boate que lhe dá apoio moral. Aborrecimentos com a polícia e com os traficantes reconduzem-no ao antigo vício. Zosh, que se finge de paralítica para manter o marido sob seu controle, mata acidentalmente o fornecedor de entorpecente Louie (Darrin McGavin) e Frankie é suspeito do crime. Ele se refugia no apartamento de Molly, que o tranca em um quarto e consegue desintoxicá-lo. Zosh, interrogada pela polícia, sentindo-se desmascarada, se atira do alto de um prédio. Frankie poderá então refazer sua vida com Molly. Preminger conduz a narrativa em um ritmo vivo, forjando cenas excitantes como aquele em que ele estende o braço para que lhe seja aplicada a droga ou as cenas no quarto de Molly onde ele se isola na sua tentativa de vencer sua dependência. O caráter trágico do enredo é acentuado pelos cenários tristes e miseráveis de Joseph C. Wright, pela fotografia fortemente contrastada de Sam Leavitt, pelo tema musical de Elmer Bernstein e pela abertura criativa de Saul Bass. Sinatra é um intérprete espantoso nas suas crises de delírio, seus sofrimentos e seus gritos quando é privado do entorpecente. Sinatra, Joe Wright e Bernstein foram indicados para o Oscar.

Jean Seberg, David Niven e Deborah Kerr em Bom Dia, Tristeza

Bom Dia, Tristeza. Adaptação do best seller de Françoise Sagan relatando em flashbacks o drama de Cécile (Jean Seberg), jovem mimada que vive uma vida livre e dissoluta na companhia do pai viúvo, Raymond (David Niven), e de uma das namoradas dele, Elsa (Mylène Demongeot), na “Côte d´Azur”. Suas existências superficiais em busca de prazer são ameaçadas até que a chegada de Anne (Deborah Kerr), amiga da ex-mulher de Raymond reaparece. Quando Raymond propõe casamento a Anne, Cécile percebe que sua vida vai mudar por completo e, para se libertar da futura madrasta, arma uma intriga, usando seu namorado Philippe (Geoffey Horne) e Elsa, ocasionando uma tragédia. Preminger teve a idéia inteligente de usar a fotografia em preto e branco para mostrar o tempo presente triste em Paris, passado quase todo nos bistrôs e nas caves, e o technicolor para exprimir o passado alegre na Riviera Francesa. Também arguta foi a utilização da música de Georges Auric e a aparição discreta de Juliette Greco em uma boate cantando “Bonjour Tristesse” e suscitando as memórias de Cécile.  Estas se encerram com as lágrimas escorrendo pelo seu rosto enquanto ela o cobre de creme após mais uma noitada de vida falsa, mas agora angustiada pelo remorso e com um sentimento de tristeza que não a deixará jamais. Notável a abertura de Saul Bass, onde as pétalas de uma flor se transformam em lágrimas.

James Stewart e Ben Gazarra em Anatomia de um Crime

Anatomia de um Crime. Drama de tribunal passado em uma pequena cidade do Michigan, onde o advogado Paul Biegler (James Stewart), ex-promotor público que perdeu sua reeleição, assessorado por seu colega alcoólatra Parnell McCarthy (Arthur O´Connell) e sua secretária sarcástica Maida (Eve Arden), aceita a defesa do tenente Frederick Manion (Ben Gazarra), soldado arrogante acusado da morte de um homem que, segundo ele alega, violentara sua mulher, Laura (Lee Remick). Depois de uma verdadeira batalha judicial, Biegler obtém sua absolvição usando o argumento do “impulso irresistível”. Embora longo e muito dialogado o espetáculo mantém a atenção do princípio ao fim graças ao interesse do assunto versando sobre tema sexual, ao valor dos intérpretes, à boa fotografia de Sam Leavitt, à música maravilhosa de Duke Ellington e principalmente à habilidade diretorial de Preminger, valendo mencionar ainda a abertura como sempre soberba de Saul Bass com aquele corpo quebrado. O filme, indicado ao Oscar, faz uma autópsia do sistema judiciário americano, suscitando questão importante como a fragilidade de uma justiça para a qual não existe uma verdade objetiva. E contém ainda um tema secundário: a vitória pessoal do trio do escritório: Biegler retoma seu gôsto pela advocacia, McCarth para de beber e Maida fica feliz em ter ajudado os dois. Houve indicações ao Oscar também para James Stewart (Melhor Ator), Arthur O´Connell e George C. Scott, que faz o papel do promotor público (Melhor Ator Coadjuvante), Sam Leavitt (Melhor Fotografia em preto e branco), Wendell Mayes (Melhor Roteiro Adaptado) e Louis R. Loeffler (Melhor Montagem).

Cena de Exodus

Exodus. Drama histórico grandiloquente (e com evidente parti pris), baseado no livro de Leon Uris sobre a criação de Israel, com roteiro de Dalton Trumbo, ousadamente creditado em um desafio à Lista Negra de Hollywod.  O filme acompanha a aventura do navio Exodus que conduz refugiados para a nova pátria, a oposição entre dois movimentos judeus, um pacifista (o Hagana), outro terrorista (o Irgun), a luta contra os ingleses e o início do conflito com os árabes. Preminger conduz o espetáculo com muita segurança, abordando com inteligência cinematográfica tanto as cenas de ação política ou de violência quanto as cenas românticas (entre Ari Ben Canaan / Paul Newman e Kitty Fremont / Eva Marie Saint). Ele como sempre emprega a tela larga de maneira admirável, notadamente nas cenas com muitos figurantes e mantém o espetáculo em constante excitação. Ernest Gold ganhou o Oscar de Melhor Música e Sal Mineo e Sam Leavitt foram indicados respectivamente para o prêmio de Melhor Ator Coadjuvante e Melhor Fotografia em cores.

Charles Laughton e Walter Pidgeon em Tempestade sobre Washington

Tempestade sobre Washington. Drama político baseado em um romance de Allen Drury, ganhador do Pulitzer Prize, descreve com lucidez e sob forma de reportagem o desenrolar da nomeação de um Secretário de Estado, Robert Leffingwell (Henry Fonda), que deve ser sabatinado pelo Senado.  Os inimigos do candidato, tendo à frente um velho senador reacionário da Carolina do Sul, Seabright Cooley (Charles Laughton), tentam desacreditá-lo, acusando-o de ter pertencido a uma célula comunista. Preminger apresenta uma reflexão amarga e desiludida sobre a mecânica do poder e a manipulação política nos Estados Unidos, penetrando no interior do Capitólio para  mostrar com força dramática as maquinações que são tramadas nos seus corredores – incluindo campanha de difamação, falsos testemunhos, barganhas e chantagem – que podem levar até à morte. O cineasta mantém o filme permanentemente tenso até o final surpreendente apoiado por uma equipe técnica competente e pelo elenco de grandes atores veteranos (além de Fonda e Laughton, Walter Pidgeon, Peter Lawford, Gene Tierney, Franchot Tone, Lew Ayres, Burgess Meredith).

 

Tom Tryon e John Huston em O Cardeal

O Cardeal. Drama de dimensão épica baseado no romance de Henry Morton Robinson acompanhando o caminho espiritual de Stephen Fermoyle (Tom Tryon) que, no momento de sua nomeação como Cardeal em 1939, lembra-se das etapas principais de sua vida, passando por problemas dentro e fora da Igreja desde sua ordenação como padre em 1917. Este itinerário engloba uma vasta quantidade de espaços, de experiências, de conflitos históricos e particulares  – v. g. além de Roma, episódios em Boston, com o problema familiar de sua irmã ( Carol Lynley) querendo casar-se com um rapaz  judeu e se tornando mãe solteira;  no Canadá, com o padre Halley em estado terminal; em Viena, com o quase romance – quando provisoriamente secularizado – com uma moça austríaca sua aluna, Annemarie (Romy Schneider); na Georgia, com a defesa do padre negro  (Ossie Davis) e a Ku-Klux-Khan; novamente em Viena com o Cardeal Innitzer (Josef Meinrad) e os nazistas – , sem que esta constante deslocação no espaço e no tempo prejudique a unidade narrativa. Preminger expõe os fatos objetivamente, mostrando virtudes e defeitos da Igreja, em um estilo visual composto por belas composições pictóricas e seus famosos planos longos enquanto uma música linda de Jerome Moross fornece um clima solene à narrativa. Em papéis coadjuvantes vemos o diretor John Huston e dois ex-galãs de épocas distintas, Tullio Carminatti e Raf Vallone. Preminger recebeu sua segunda indicação ao Oscar de Melhor Direção e John Huston, Leon Shamroy, Lyle Wheeler, Louis R. Loeffler e Donald Brooks também foram indicados respectivamente para Melhor Ator Coadjuvante, Fotografia, Direção de Arte, Montagem e Figurinos.

Carol Lynley em Bunny Lake Desapareceu

Bunny Lake Desapareceu. Drama psicológico e de mistério tendo como ponto de partida o desaparecimento de uma menina, Bunny Lake, filha de uma mãe solteira, Ann Lake (Carol Lynley), que vive sob o domínio afetivo de seu irmão Stephen (Keir Dullea). A Polícia inicia uma investigação, mas o tenente Newhouse (Laurence Olivier) não encontra nenhum traço da criança. O policial segue várias pistas falsas encontrando tipos excêntricos (interpretados pelos atores veteranos britânicos Noel Coward, Martita Hunt, Finlay Currie) e acaba se perguntando se a menina realmente existe. Progressivamente começamos a duvidar dos personagens. Anna Lake é louca? E o irmão? Qual é a dele? O suspense vai crescendo até um final inesperado evocando de modo sutil um assunto tabu. Um dos pontos altos do filme é a fotografia em preto e branco (Denys Coop) das locações e interiores de Londres, sobressaíndo a sequência do hospital de bonecas no porão com Ann segurando uma lamparina de óleo. Outros  trunfos da realização são a partitura de Paul Glass, apresentada de um modo inventivo pelo diretor e a participação de Laurence Olivier, compondo com incomparável destreza o papel do inspetor gentil  e metódico que conduz a apuração dos fatos.

A segunda e derradeira fase da trajetória fílmica de Otto Preminger a partir de 1954 é um período de declínio criativo e comercial e vai 1967 a 1979, incluindo os seguintes filmes: 1967 – O Incerto Amanhã / Harry Sundow. 1968 – Skidoo Se Faz A Dois / Skidoo. 1970 – Dize-me Que Me Amas / Tell Me That You Love Me, Junie Moon. 1971 – Amigo É Pra Essas Coisas / Such Good Frends. 1975 – Setembro Negro / Rosebud.1979 – O Fator Humano / The Human Factor.

Este final de carreira melancólico e seu comportamento intimidativo em relação às suas equipes especialmente atores com menos experiência foram os pontos fracos do percurso cinematográfico de Otto Preminger porém, pelo conjunto de seu legado artístico como diretor e seu pioneirismo como produtor independente e corajoso merece ser sempre lembrado como um grande cineasta.

OTTO PREMINGER I

Sua importância na História do Cinema como produtor que desafiou o Código de Produção e a Lista Negra de Hollywood e como diretor de uma quantidade expressiva de bons filmes sobre uma ampla variedade de assuntos, é inegável. Além disso, ele quebrou outras barreiras realizando dois filmes somente com atores negros e abordando temas controvertidos ou proibidos.

Otto Preminger

Otto Ludwig Preminger (1905-1986), filho de Markus Preminger e Josefa Fraenkel, nasceu em Wiznitz na Polonia, mas sempre se apresentou como natural de Viena, a capital do Império Austro-Húngaro, do qual a Polonia fazia parte na época. Após ter exercido o cargo de promotor público em sua cidade natal, Czernovic, Galicia e em Graz, Esfíria, Markus ocupou o cargo eminente de procurador geral em Viena, para onde se mudou com sua família. Com a dissolução da monarquia depois da Primeira Guerra Mundial o Dr. Preminger abriu um escritório de advocacia e ganhou muito dinheiro defendendo clientes prósperos da elite.

Desde seus primeiros dias em Viena Otto ficou obcecado pelo teatro lendo e assistindo peças de famosos dramaturgos.  Sua ambição era se tornar um ator. Enquanto seu pai continuava a prosperar na Viena do pós-guerra, ele decidiu seriamente fazer uma carreira no palco. Sua grande chance surgiu em 1923, quando o vienense Max Reinhardt, que havia instalado sua base de operação em Berlim – onde firmou uma reputação de renome mundial como diretor e empresário teatral -, resolveu formar uma companhia em Viena no velho teatro Josefstadt. Otto escreveu uma carta para Reinhardt pedindo para fazer um teste, no qual foi aprovado. O Dr. Markus aceitou a decisão de Otto pedindo-lhe apenas que se formasse em Direito, o que ele conseguiu, embora faltando muito às aulas.

Quando o teatro, depois de uma reforma, foi reinaugurado em 1 de abril de 1924, Preminger fez uma breve aparição na peça Arlecchino Servitore di due patroni de Carlo Goldoni. Depois interpretou Stephano, um dos criados de Portia em The Merchant of Venice. Reinhardt pode ter tido reservas sobre a atuação de Otto, mas percebeu logo sua capacidade como administrador e o nomeou seu assistente. Porém o rapaz queria atuar e depois de passar um ano com o mestre, observando e aprendendo, achou que sua carreira iria avançar melhor se ele se juntasse a uma companhia onde tivesse a oportunidade de interpretar melhores papéis.

Com este objetivo Otto trabalhou em teatros de língua alemã de Praga, Zurich e Aussig e em 1928 voltou para Viena onde fundou uma companhia de teatro de câmara, Die Komödie, da qual se desligou no ano seguinte por divergência com seus associados. Com novos parceiros Otto organizou um teatro de repertório com o nome pomposo de Neues Wiener Schauspielhaus (Nova Casa de Teatro de Viena). Em junho de 1930, insatisfeito com o resultado artístico da companhia, demitiu-se. No mesmo ano, voltou para o teatro Josefstadt, desta vez como executivo solucionador de todos os problemas (inclusive o egocentrismo ou a irascibilidade de astros como Peter Lorre, Lili Darvas, Elisabeth Bergner, Oscar Karlweis e Alexander Moissi).  Apesar de ter sido contratado como executivo, Otto estava de olho na direção e não demorou muito para dirigir um drama de tribunal, Voruntersuchung (Investigação Preliminar), escrito por um advogado de Berlim, Max Alsberg em colaboração com o dramaturgo Otto Ernst Hesse. Na noite de estréia ele foi chamado vinte e uma vezes ao palco com seu elenco e os coautores exultantes.

Logo após este êxito, um industrial rico de Graz, Heinrich Haas, propôs ao jovem diretor de teatro que ele dirigisse um filme intitulado Die Grosse Liebe (o Grande Amor). Otto não sabia nada sobre técnica cinematográfica e, além disso, não tinha a mesma paixão pelo cinema como tinha pelo teatro, mas aceitou porque gostou da história sobre um soldado austríaco (Attila Hörbiger) que retornava da Rússia dez anos depois do final da Primeira Grande Guerra e encontrava uma senhora viúva (Hansi Niese) que pensava que ele é seu filho. Otto rejeitou o filme como uma loucura juvenil e preferiu esquecê-lo.

Desde a encenação de Voruntersuchung em janeiro de 1931 até sua última produção no Josefstad em outubro de 1935, Otto Preminger dirigiu 26 espetáculos até que Joseph Schenck (aconselhado por Julius Steger, um austríaco que havia sido parceiro de William Fox, ganhara uma fortuna na América e retornara a Viena onde se tornou cliente do Dr. Markus Preminger) o convidou para trabalhar na recém-formada Twentieth Century-Fox em Los Angeles. Preminger chegou em Nova York em 21 de outubro de 1935 e, antes de partir para Los Angeles, cumpriu um compromisso que havia assumido com o produtor teatral Gilbert Miller de reencenar Sensationsprozess, um de seus maiores sucessos em Viena, agora com o título americano de Libel!

Preminger foi contratado por Schenck, mas seria o parceiro dele, Darryl F. Zanuck, que determinaria seu destino na Twentieth Century-Fox. Depois de um aprendizado observando a filmagem de Novos Ecos da Broadway / Sing, Baby, Sing, musical de rotina dirigido por Sidney Lanfield, foi designado por Zanuck para a unidade de Sol Wurtzel (responsável por todos os filmes B do estúdio), ocupando-se da direção de duas comédias, Canção Facinadora / Under Your Spell / 1936 (com o cantor de ópera Lawrence Tibbett) e Quando o Amor Trabalha / Danger – Love at Work / 1937 (com Ann Sothern). Satisfeito com o trabalho de Preminger, Zanuck escolheu-o para dirigir um filme classe A, Kidnapped, adaptação do romance de Robert Louis Stevenson, cujo roteiro ele próprio escreveu; porém, após uma discussão séria entre eles, o diretor foi despedido. O filme seria realizado por Alfred Werker e exibido no Brasil com o título de Raptado.

Otto Preminger em Abandonados

 

Otto Preminger em Um Pequeno Erro

Com dificuldade de arranjar emprego em algum outro estúdio, Preminger retornou ao teatro, dirigindo as peças Outward Bound, Margin for Error, My Dear Children, Beverly Hills, Cue for Passion, The More the Merrier, In Time to Come, funcionando também como ator em Margin for Error e somente como ator em The Man Who Came to Dinner. Impressionado com a performance de Preminger no palco como o consul nazista Karl Baumen na peça Margin for Error, Nunnally Johnson convidou -o para interpretar o papel de outro nazista, Major Diessen, no filme Abandonados / The Pied Piper / 1942, que ele estava escrevendo e produzindo na Twentieth Century-Fox, de onde ele havia sido banido. A Fox requisitou-o novamente para repetir o papel de Karl Baumen na versão cinematográfica de Margin for Error e então Otto conseguiu convencer William Goetz (que estava administrando a Fox na ausência de Zanuck, então servindo no Army Signal Corps) a lhe conceder também a direção do filme. Depois de terminar Um Pequeno Erro / Margin for Error / 1943 e antes de conseguir outra incumbência como diretor na Fox, Preminger foi contratado por Samuel Goldwyn para aparecer como um nazista em uma comédia de Bob Hope, Correspondente Fenômeno / They Got Me Covered / 1943, e ele aceitou, porque uma aliança com Goldwyn seria útil no dia em que Zanuck retornasse do serviço militar.

Entretanto, quando Zanuck reassumiu seu posto na Fox, deu permissão para que Preminger continuasse desenvolvendo seus dois projetos, Army Wives (depois renomeado Por Enquanto, Querida / In the Meantime Darling / 1944) e Laura / Laura / 1944, ambos destinados para a unidade B; porém Preminger só poderia dirigir o primeiro. A direção de Laura, depois elevado à classe A, foi entregue a Rouben Mamoulian, mas Zanuck não gostou das primeiras cenas que ele rodou e acabou colocando Preminger no seu lugar. O filme obteve êxito e proporcionou indicações ao Oscar para Melhor Direção, Ator Coadjuvante (Clifton Webb), Roteiro, Direção de Arte e Joseph La Shelle arrebatou a estatueta por sua esplêndida fotografia em preto e branco.

Começava assim a fase na qual Preminger, continuando como diretor contratado da Fox, realizou alguns de seus melhores filmes, adiante assinalados em negrito: 1944 Laura. 1945 – Czarina / A Royal Scandal, comédia romântica histórica com Tallulah Bankhead como Catarina da Rússia no papel que fôra de Pola Negri na versão silenciosa, Paraíso Proibido / Forbidden Paradise / 1924 (Dir: Ernst Lubitsch). Anjo ou Demônio? / Fallen Angel. 1946 – Noites de Verão / Centennial Summer, musical romântico histórico passado durante a Exposição de Filadélfia em 1876 com Jeanne Crain, Cornel Wilde, Linda Darnell. 1947 – Entre o Amor e o Pecado / Forever Amber, drama romântico histórico com Linda Darnell, Cornel Wilde, George Sanders, tendo como pano de fundo a côrte de Carlos II na Inglaterra do século XVII; Êxtase de Amor / Daisy Kenyon. 1948 – A Condessa se Rende / That Lady in Ermine (Preminger apenas terminou a filmagem após a morte de Lubitsch). 1949 O Leque / The Fan; A Ladra / Whirlpool. 1950 – Passos na Noite / Where the Sidewalk Ends; Cartas Venenosas / The Thirteenth Letter, drama criminal de mistério com Linda Darnell, Charles Boyer, Michael Rennie. 1952 – Alma em Pânico / Angel Face.

Gene Tierney e Dana Andrews em Laura

Gene Tierney e Clifton Web em Laura

Laura é o mais estilizado de todos os filmes noirs. Investigando o assassinato de Laura Hunt (Gene Tierney) diretora de uma agência de propaganda, o detetive Mark McPherson (Dana Andrews) interroga seu mentor, um influente jornalista quinquagenário, Waldo Lydecker (Clifton Webb) que considerava Laura não apenas como sua maior “criação”, mas também propriedade pessoal. No decorrer da investigação McPherson começa a ficar fascinado pela falecida e quando vai ao apartamento dela em busca de provas, senta-se em uma poltrona e, contemplando seu retrato pendurado na parede, adormece. De repente, a porta se abre e entra a Laura de carne e osso. “Nunca me esquecerei do fim de semana em que Laura morreu”. É com este monólogo interior de Lydecker que começa o filme. Antes do aparecimento de Laura, é ele – já no outro mundo – quem recorda uma série de flagrantes evocando a ascensão profissional da jovem. Depois que Laura surge viva, a trama passa a ser conduzida por McPherson, objetivamente. O estilo conciso e sereno do diretor é notado desde os primeiros instantes, quando a câmera desliza da esquerda para a direita pelas prateleiras e depois pela sala cheia de objetos de arte do apartamento de Lydecker. Este deslocamento de câmera fluido e delicado casa-se perfeitamente com o leit-motiv musical e com os diálogos sofisticados enquanto a iluminação dramatizada de Joseph La Shelle – premiada com o Oscar – fornece o clima noir adequado.

Dana Andrews em Anjo ou Demônio

Alice Faye e Dana Andrews em Anjo ou Demônio

Anjo ou Demônio? Tem início quando Eric Stanton (Dana Andrews) chega a Walton, pequena cidade da Califórnia, e logo se interessa por Stella (Linda Darnell), uma linda e sensual garçonete. A jovem desperta também o desejo de outros homens como o velho Pop (Percy Kilbidge) proprietário da lanchonete na qual trabalha, e Dave Atkins (Bruce Cabot), um sujeito que explora máquinas de caça níqueis. Para conquistar Stella, Eric casa-se com June (Alice Faye), uma solteirona rica, pretendendo deposá-la de sua fortuna e se divorciar em seguida. Porém Stella aparece morta. Erica acaba descobrindo que o policial Judd (Charles Bickford) adorava Stella e a matou, quando esta lhe disse que ia se casar com Dave. Um aspecto interessante da trama é justamente a paixão que Stella desperta em quatro homens, cada qual reagindo de uma maneira diferente. A reação mais estranha é a de Judd que, no final da narrativa, revela para Eric: “Durante anos eu vim tomar café aqui, somente para vê-la. Todos os dias, durante dois anos”. Uma loucura que o levou ao crime. Além de um close-up original em silhueta de Eric e Stella no   baile, chamam a atenção a cena do interrogatório na qual o assassino veste uma luva de borracha para extorquir brutalmente a confissão de um inocente e a do final, quando, antes de ser levado preso, aciona a vitrola da lanchonete e emerge a melodia favorita da vítima, restituindo por alguns instantes a sua invisível presença.

 

Madeleine Carroll, Richard Greene e Jeanne Crain em O Leque

Richard Greene, George Sanders e John Sutton em O Leque

O Leque é uma adaptação da peça de Oscar Wilde que Ernst Lubitsch já havia ilustrado no tempo da cena muda. Preminger se concentrou mais no melodrama do que sobre a sátira brilhante da alta sociedade londrina vitoriana, mas conservou os diálogos deliciosos oriundos da pena do grande escritor, dramaturgo e poeta irlandês.  Desta vez, em uma Londres devastada pelos bombardeios após a Segunda Guerra Mundial, uma velha senhora, Mrs. Erlynne (Madeleine Carroll) assiste à venda em um leilão de um leque que lhe pertence. Ela gostaria de recuperá-lo. O leiloeiro lhe dá um prazo de vinte quatro horas para provar suas alegações. Mrs. Erlynne então vai ao domicílio de um de seus antigos relacionamentos, Lord Darlington (George Sanders). Com a ajuda de retrospectos, eles revivem o passado quando Lord Darlington contou para Lady Windermere (Jeanne Crain), de quem estava apaixonado, que seu marido (Richard Greene) a traíra com Mrs. Erlynne. Magoada, Lady Windermere parte para a residência de seu admirador Lord Darlington, que lhe havia declarado seu amor. Mrs. Erlyne vai atrás dela e lhe diz qque seu marido lhe é fiel. Quando Lord Darlington chega em casa na companhia de Lord Windermere, Lord Lorton e um outro amigo, as duas mulheres se escondem. Os homens encontram o leque de Mrs. Windermere e Lord Windermere acusa Lord Darlington de ser amante de sua esposa.  Lady Windermere foge e Mrs. Erlynne, que não é outra senão a mãe que ela nunca conheceu, sacrifica sua própria felicidade que o casamento com Lord Lorton (Hugh Dempster) lhe proporcionaria, assumindo que o leque era seu. A encenação elegante e fluente de Preminger e a atuação primorosa dos quatro intérpretes principais tornam o filme muito agradável.

Dana Andrews em Passos na Noite

Dana Andrews e Gene Tierney em Passos na Noite

Passos na Noite retrata ao mesmo tempo uma cidade noturna e um homem da lei que se corrompeu. O pai de Mark Dixon (Dana Andrews) era um ladrão, e isto o tornou o que é: um policial perigoso que quer fazer justiça pelas próprias mãos. Depois de ser repreendido por seu superior por excesso de violência, Dixon investigas a morte de um sujeito que morreu no cassino clandestino do gângster Scalise (Gary Merrill). O principal suspeito é Paine (Craig Stevens) que havia atraído Morrison para o jogo, usando a jovem Morgan Taylor (Gene Tierney). Ao interrogá-lo, Dixon entre em luta corporal com ele, matando-o acidentalmente. O chofer de taxi, Jiggs Taylor (Tom Tully), pai de Morgan, é incriminado, pois fôra procurar Paine no dia em que foi morto para tentar afastá-lo da filha. Dixon interessa-se por Morgan e faz tudo para incriminar Scalise. É com um estilo visual calmo e preciso que Preminger descreve a passagem de seu herói para a ilegalidade, sua inquietude, seu trauma de infância (“Fiz tudo para ser diferente dele”) e sua visão dark do mundo (“Um passo em falso e você pode se meter em uma enrascada”). Dixon torna-se um personagem noir típico, desorientado existencialmente e vítima das circunstâncias; porém o amor o encaminhará para a redenção. Exteriores filmados em locação e a acurada fotografia em preto e branco de La Shelle criam uma atmosfera adequada ao drama e os momentos de suspense (v. g. quando Dixon deixa o local do crime disfarçado de Paine e depois carrega seu corpo até o carro; a cena em que o tenente manda-o fingir que é Paine, reconstituindo sua saída apartamento do morto) são muito bem construídos.

Robert Mitchum e Jean Simmons em Alma em Pânico

Jean Simmons e Robert Mitchum em Alma em Pânico

Alma em Pânico tem início quando o chofer de ambulância, Frank Jessup (Robert Mitchum) salva uma senhora rica, Mrs. Tremayne (Barbra O´Neil) de morrer asfixiada por gás e é contratado como motorista particular da família. Frank apaixona-se por Diane, (Jean Simmons), a enteada de Mrs. Tremayne, que odeia a madrasta. A jovem planeja um acidente, ocasionando não só a morte da madrasta, mas também a de seu pai (Herbert Marshall), que estava no carro sem que ela soubesse. Frank prepara-se para deixar Diane, porém ocorre um desenlace trágico. A personagem central tem traços que a relacionam com o arquétipo da mulher fatal. Ela manipula, e eventualmente mata, para obter o que deseja; porém o que motiva seu comportamento não é a ambição pelo dinheiro, mas uma obsessiva fixação pelo pai e o ódio patológico da madrasta. A cena final é uma das mais chocantes do cinema, não só pela maneira horrível como os personagens morrem como também pela sua absoluta imprevisibilidade. Diane se oferece para levar Frank até o ponto de ônibus, pensando que vai conseguir convencê-lo a ficar. De repente, põe a mudança do carro em marcha a ré, fazendo-o recuar para um penhasco, matando Frank e a si própria.

Após a filmagem de Cartas Venenosas e antes de filmar Alma em Pânico, aproveitando a cláusula de seu contrato com a Fox que lhe permitia permanecer em Nova York por seis meses durante o auge da temporada teatral, Preminger encenou três peças (Four Twelves Are 48, The Moon is Blue, Modern Primitive) e participou como o comandante de um campo de prisioneiros nazista em Inferno nº 17 / Stalag 17 de Billy Wilder.  Depois deste intervalo teatral, Preminger preparou a adaptação cinematográfica de Ingênua Até Certo Ponto / The Moon is Blue, sua estréia como como produtor-diretor independente.