GRANDES FIGURINISTAS DO CINEMA CLÁSSICO DE HOLLYWOOD IV

O departamento de guarda-roupa da RKO e a carreira de Walter Plunkett (v. Grandes Figurinistas do Cinema Clássico de Hollywood I) como figurinista começaram simultaneamente em 1926, embora a RKO fosse então um pequeno estúdio conhecido como FBO. De início, Plunkett apenas alugava roupas e fazia estimações orçamentárias. A FBO produzia muitas comédias de dois rolos sobre policiais e secretárias e Plunkett percebeu que, no final das contas, comprar uniformes era menos dispendioso do que alugá-los e fazer vestidos saía mais barato do que comprá-los. Assim ele contratou costureiras e montou uma sala de trabalho. A FBO também realizava muitos westerns e, como as indumentárias necessárias não podiam ser compradas, Plunkett teve que começar a confeccioná-las também. Como consequência, ao contrário de muitos figurinistas, ele aprendeu a fazer tanto roupas masculinas quanto femininas. Plunkett não tinha um conhecimento formal e teve que aprender por observação e experiência prática, mas logo seu departamento estava fazendo tudo o que o estúdio precisava.

O cinema falado suscitou uma série de fusões, a FBO passou a se denominar RKO e William LeBaron tornou-se o chefe da produção. LeBaron resolveu produzir filmes como Rio Rita / Rio Rita / 1929, que eram mais luxuosos do que quaisquer outros nos quais Plunkett havia colaborado. Rio Rita introduziu Plunkett no Technicolor de duas cores e ele fêz para Bebe Daniels um vestido no tom rosa forte enfeitado com pedras turquesa, as duas cores que podiam ser reproduzidas.

Cimarron / Cimarron / 1931 foi o primeiro grande filme de época desenhado por Plunkett. A estrela, Irene Dunne e o diretor, Wesley Ruggles ficaram apreensivos quando Plunkett lhes mostrou seu croquis com as mangas ultra bufantes dos anos 1890. Eles sabiam que o público não estava acostumado a ver algo tão extravagante, embora desejassem que o filme fosse correto com relação à época. Eventualmente, as mangas eram mencionadas no diálogo. A certa altura da narrativa, Irene falava: “Eles dizem em Chicago que elas serão ainda maiores no próximo outono”.

Em 1931, a RKO se fundiu com a Pathé e Gwen Wakeling, que havia trabalhado na Pathé, veio para a RKO, a fim de finalizar as roupas para os filmes que havia iniciado; mas não permaneceu na nova companhia depois disso. Ann Harding, que havia sido vestida por Wageling na Pathé, passou a ser vestida por Plunkett na RKO.  Com seu cabelo louro claro natural, que caía sobre sua cintura, Harding era muito bonita. Enquanto que a maioria das atrizes necessitava de pelo menos uma gola branca em torno do pescoço, para refletir a luz para cima e atenuar as linhas de seus rostos, Plunkett costumava pôr uma cor preta ou outras cores escuras em torno do rosto de Harding, para dar uma maior definição às suas feições lindamente delineadas.

Dolores del Rio pediu a Irene para fazer seus vestidos em Voando para o Rio / Flying Down to Rio / 1933, mas Plunkett desenhou as roupas de Fred Astaire e Ginger Rogers. Em 1934, Plunkett vestiu Ginger Rogers de novo em  A Alegre Divorciada / The Gay Divorcee. Ginger queria uma vestimenta mais enfeitada. Fred preferia algo simples que permitisse melhor seus movimentos. O diretor Mark Sandrich,  com o seu olho na câmera, tinha as suas idéias. Plunkett recordou: “Alguns dos croquis, eu tive que refazer cinco ou seis vezes, antes de conseguir obter a aprovação de todos. E Ginger, você tem sempre que dar uma olhada no seu camarim antes da filmagem da primeira cena com um vestido novo, para ter certeza de que ela não colocou uma flor no cabelo ou adicionou  algumas jóias”. Em Voando para o Rio e A Alegre Divorciada, Plunkett estabeleceu o “look” do vestido de dança moderno. A combinação dos cenários art déco, os lindos vestidos de dança e a técnica  então revolucionária de se filmar o par dançando romanticamente através de todo o cenário, causaram sensação.

Plunkett vestiu Katharine Hepburn, Joan Bennett, Frances Dee e Jean Parker em  Quatro Irmãs / Little Women / 1933,  sublinhando a pobreza das personagens de várias maneiras. Ele fêz as irmãs trocarem de roupas entre si e usou tecidos de algodão baratos,  xales de tricô e meias-luvas. Outro problema para ele foi fazer com que uma Joan Bennett de vinte e dois anos de idade parecesse uma menina de dez anos, o que se tornou ainda mais difícil, quando ele soube que ela estava grávida.

Como informou David Chierichetti,  por volta de 1935, a posição de Plunkett na RKO deixava-o insatisfeito. Dizia ele: “Eu não era apenas o figurinista, mas também o gerente do departamento do guarda-roupa. Era responsável pela folha de pagamento, contratação de costureiras, pelo orçamento, além de criar meus esboços e as roupas. Não tinha contrato, metade do tempo não recebia crédito nos letreiros, ganhava 75 dólares por semana e eles estavam entregando os melhores filmes para Bernard Newman”. Assim dizendo, Plunkett rumou para Nova York e se estabeleceu por conta própria no mercado da moda.

Bernard Newman (1903-1966) nasceu  em Joplin, Missouri, estudou em Paris e na Art Student’s League e começou a trabalhar na Bergdorf Goodman como decorador de vitrina, tornando-se o figurinista chefe da loja de departamento chiquérrima de Nova York. Irene Dunne conhecia Newman e o recomendou à RKO, quando o estúdio estava planejando a produção de Roberta / Roberta / 1935, cuja ação se passava no ambiente de moda.

Depois do sucesso de  Roberta, logo os vestidos finos e sensuais estavam sendo usados por Ginger Rogers nos seus novos filmes com Fred Astaire,  O Picolino / Top Hat / 1935, Ritmo Louco / Swing Time / 1936  e  Nas Águas da Esquadra / Follow the Fleet / 1936. Newman adorava trabalhar com material lustroso como lantejoulas, contas de vidro e cetins brilhantes, que davam às roupas o “wet look”, que ele preferia.

Em termos de pura beleza e movimento, o vestido que Ginger usou no número “Let’s Face the Music and Dance” em Nas Águas da Esquadra, era o mais bonito de todos. Ele foi confeccionado em chiffon cinza pálido todo coberto por contas de cristal. Quando Ginger estava imóvel, o peso da saia fazia com que esta ficasse agarrada ao seu corpo, mas quando ela dançava, a saia se abria como uma flor. Uma iluminação hábil tornava-a transparente, mostrando as belas pernas da dançarina. Infelizmente, as mangas, confeccionadas da mesma maneira, atingiam com muita força o rosto de Fred Astaire e a saia pesada batia nas pernas de ambos os dançarinos; porém o resultado no filme foi sublime. Depois que Plunkett foi embora, Newman teve que se encarregar da rotina de tarefas na RKO e não conseguia produzir rapidamente seus esboços nem se contentar com corpos menos perfeitos do que o de Ginger Rogers. Ele finalmente pediu demissão da RKO, recomendando Edward Stevenson para substituí-lo.

Edward Stevenson (Edward Manson Stevenson, 1906-1968) nasceu em Pocatello, Idaho, estudou na sua cidade natal até 1922, quando se mudou para Hollywood, a fim de se curar de uma doença respiratória crônica. Ele terminou seus estudos na Hollywood High School e, quando ainda estava na escola, sua vizinha, Lova Klenowsky, prima da atriz Gloria Swanson, percebeu suas habilidades artísticas e o apresentou ao célebre figurinista Andre-ani da MGM (responsável pelo vestuário de O Diabo e a Carne Flesh and the Devil / 1927, A Turba / The Crowd / 1928). A partir deste momento Stevenson começou sua ascenção na comunidade da moda.

Seu primeiro emprego na indústria cinematográfica foi como desenhista de moda na Norma Talmadge Productions, onde teve a oportunidade de criar alguns desenhos, que foram incluídos nas produções da companhia, entre eles o vestido usado por Barbara la Marr em A Mariposa Branca / White Moth / 1924.

No ano seguinte,  Stevenson trabalhou como assistente de Andre-ani na MGM, seguindo-se uma estadia de dois anos na Fox, desenhando para Janet Gaynor e Alma Rubens. Finalmente, em 1928, ele assinou contrato como figurinista com a First National, tornando-se logo o chefe do departamento de guarda-roupa. Entretanto, seu reinado foi passageiro, porque o estúdio foi comprado pela Warner em 1930.

Entre 1931 e 1935, Stevenson trabalhou para o Hal Roach Studios e para a Columbia Pictures e abriu seu próprio ateliê, denominado Blakely House. De 1936 a 1950, ele chefiou o departamento de guarda-roupa da RKO, desenhando para filmes como Gunga Din / Gunga Din / 1939,  Duas Vidas / Love Affair / 1939, Cidadão Kane / Citizen Kane / 1941,  Soberba / The Magnificent Ambersons / 1942, Sinbad, o Marujo / Sinbad the Sailor / 1947 etc.

Um dos poucos compromissos luxuosos de Stevenson foi desenhar para Lily Pons em A Parisiense / That Girl from Paris /1936, que foi complicado, porque Lily estava sendo cortejada por Andre Kostalanetz, que lhe mandava uma orquídea por dia e ela queria colocá-las na sua roupa, mesmo que isto fosse quase sempre inapropriado.

Mas, de uma maneira geral, os poucos filmes glamourosos da RKO escaparam das mãos de Stevenson. Katharine Hepburn insistiu para que Walter Plunkett fosse trazido, como free-lancer, de Nova York para Maria Stuart Mary of Scotland / 1936 e usou os serviços de Muriel King(contratada da RKO de 1936 a 1944) para No Teatro da Vida/ Stage Door / 1937 e de Howard Greer para Levada da Breca / Bringing up Baby / 1938.

Ginger Rogers também trabalhou com vários figurinistas. Ela se aproveitou do  talento de Irene para Boa Sorte / Lucky Partners / 1940, Edith Head para  Mulheres de Ninguém / Tender Comrade / 1943, Walter Plunkett para A Vida de Vernon e Irene Castle / The Story of Vernon and Irene Castle / 1939 etc. e, mais frequentemente, Renie (Renie Conley, 1901-1992), que havia sido originariamente contratada em 1937, para cuidar do vestuário dos filmes “B” da RKO. Renie também desenhou o vestido de Ginger Rogers em Kitty Foyle / Kitty Foyle / 1940, o filme que deu o Oscar para a atriz.

As leading ladies menos importantes do estúdio continuaram a ser vestidas por Edward Stevenson (vg. Joan Fontaine em Suspeita / Suspicion / 1941) e Orson Welles pediu a colaboração de Stevenson para Cidadão Kane e Soberba. Cidadão Kane era um projeto excitante e Welles queria trajes de época corretos. Stevenson supunha que todo mundo sabia que o filme era sobre William Randolph Hearst e Marion Davies, principalmente porque Welles lhe entregou uma dezena de fotos de Marion Davies para usar as mesmas como pesquisa ao desenhar as roupas de Dorothy Comingore, e ele sempre achou graça quando Welles negou isso depois.

O último grande compromisso de Stevenson na RKO foi o de metamorfosear a então muito esbelta, Irene Dunne em uma camponesa robusta no filme A Vida de um Sonho / I Remember Mama / 1948. Stevenson recordou: “Foi difícil transformar Irene Dunne, cujos traços fisionômicos são aristocráticas, em uma mãe norueguesa vulgar. Fizemos  testes exaustivos até que os efeitos necessários foram obtidos”.

Howard Hughes assumiu o controle da RKO  em 1949 e fechou o estúdio. Renie saiu em 1947 e Stevenson ficou apenas mais alguns meses, até que seu contrato  expirasse. Quando a produção foi retomada, Michael Woulfe (1918-2007), foi encarregado de vestir todas as estrelas da companhia, entre elas, Ava Gardner, Janet Leigh, Susan Hayward, Marilyn Monroe e Jane Russel. Oriundo da Cagney Productions, onde vestiu Sylvia Sidney em Sangue sob o Sol / Blood on the Sun / 1945, Woulfe ficou na RKO de 1949 a 1955.

A ordem de Howard Hughes era para Woulfe acentuar sempre os seios de Jane Russell e mantê-los  em exibição o tempo todo. Na filmagem de Macao / Macao / 1952, o diretor Josef von Sternberg teve a intenção de dar à Jane uma nova imagem e pediu a Woulfe para mantê-la coberta. Hughes ficou furioso quando viu os testes e o figurinista teve que desenhar novamente um guarda-roupa inteiro. Apenas o  vestido de malha dourada foi mantido. Woulfe depois desenhou aquele traje de dança controvertido de Jane em Romance em Paris / The French Line / 1954 (os buracos em forma de rasgão eram arrematados com arame coberto com um material que impedia que eles se dobrassem).

Quando Hughes vendeu suas ações da RKO, Woulfe juntou-se a ele na sua Howard Hughes Productions, alí permanecendo até 1978. Os novos donos da RKO (General Tire and Rubber Company) mantiveram a produção por apenas um ano e empregaram figurinistas free-lance, inclusive Edward Stevenson (que retornou à companhia para vestir Ginger Rogers em Mulheres … Sempre Mulheres / The First Travelling Saleslady / 1956) e Renie (que desenhou as roupas para o derradeiro filme da RKO, Aventura em Balboa / The Girl Most Likely / 1958).

Contratar um figurinista nos anos vinte, quando ainda era uma companhia muito pobre, não estava nos planos da Columbia. As atrizes que desempenhavam os papéis mais importantes recebiam dinheiro para comprar suas roupas e Elizabeth Courteney fazia os reparos no estúdio, caso fosse necessário. Quando Frank Capra começou a trazer grandes astros e estrelas para seus filmes, foi preciso um figurinista e Edward Stevenson foi chamado para vestir Jean Harlow e Loretta Young em Loura e Sedutora / Platinum Blonde / 1931 e Barbara Stanwyck e Nils Asther  em O Último Chá do General Yen / The Bitter Tea of General Yen / 1933. O estúdio não tinha uma sala de costura e Stevenson teve que se instalar, com suas costureiras em uma garagem vazia.

Em 1933, Robert Kalloch (Robert Mero Kalloch, 1893-1947) veio para a Columbia como primeiro figurinista contratado. Kalloch havia desenhado roupas para duas artistas excepcionais, a bailarina russa Anna Pavlova e a soprano escocesa Mary Garden, e trabalhado para costureiras famosas como Lady Duff Gordon e Madame Frances, onde repartiu responsabilidades com Travis Banton. Os desenhos de Kalloch  pareciam com os de Banton, mas ele era um pouco menos conservador. “Banton era moda pura, brilhante, Kalloch era mais imaginação”, comentou Edith Head. Como informou Chierichetti, as estrelas mais leais de Banton, Carole Lombard e Claudette Colbert, sempre pediam que ele fosse o figurinista, quando eram emprestadas para outros estúdios e sempre ficavam contentes com os trajes de Kalloch na Columbia (vg. Carole em 20th Century / 1934; Claudette em Aconteceu Naquela Noite / It Happened One Night / 1934). O melhor trabalho de Kalloch na Columbia talvez seja o que ele realizou em Cupido é Moleque Teimoso / The Awful Truth / 1937, no qual vestiu a digna e majestosa Irene Dunne com roupas que eram muito elegantes, mas cada uma tinha um aspecto que era exagerado, a ponto de se tornar engraçado. As calças de seus pijamas longos e soltos arrastavam-se pelo assoalho atrás dela por pelo menos uns trinta centímetros e Irene salientava isso com sua interpretação, dando a impressão de que eles a estavam impedindo de andar.

Kalloch permaneceu na RKO de 1932 a 1940, trabalhou na MGM de 1941 a 1943 e depois se tornou free-lancer, até falecer relativamente cedo com 54 anos de idade. Quando ele foi para a MGM, Harry Cohn não teve pressa em contratar outro figurinista. A alemã Irene Saltern (que trabalhara para a Republic e Samuel Goldwyn) desenhou as roupas dos poucos filmes classe “A” que foram realizados, pois a maior parte da produção do estúdio ainda eram os filmes “B” para os quais, se compravam ou alugavam o vestuário que fôsse necessário.

Não havia grandes estrelas sob contrato e as free-lancer sempre chegavam com um figurinista. Irene Dunne trouxe Howard Greer para Serenata Prateada / Penny Serenade / 1941, Rosalind Russell usou Travis Banton para Amor a Percentagem / What a Woman! / 1943 e Joan Bennett, Marlene Dietrich e Loretta Young foram para a Bullocks Wilshire, onde Irene (Lentz) confeccionou modelos  exclusivos para seus filmes.  Quando Rita Hayworth começou a atingir o status de super-estrela, ela também foi glamourizada por Irene em vestidos tais como aquele de Bonita Como Nunca / You Were Never Lovelier / 1942 (v. Grandes Figurinistas do Cinema Clássico de Hollywood I).

Então Irene foi contratada pela MGM e a Columbia teve que recorrer a outros planos. Quando o estúdio decidiu fazer Modelos / Cover Girl / 1944, o primeiro filme do estúdio em Technicolor, foram recrutados três figurinistas: Travis Banton para desenhar a maioria das roupas chiques de Rita Hayworth’s, Gwen Wakeling para desenhar as roupas do flashback da virada do século e Muriel King  para desenhar as roupas dos principais atores coadjuvantes e coordenar a utilização de todas as roupas compradas para a parada interminável de mulheres elegantes.

Banton ficou para vestir Merle Oberon no próximo filme da Columbia em Technicolor A Noite Sonhamos / A Song to Remember / 1945, enquanto que Plunkett se encarregava de vestir o resto do elenco. Com sua pele muito branca, cabelos pretos e batom vermelho escuro, Oberon era um motivo formidável para o uso do Technicolor e Banton, sempre que podia, repetia preto, branco e vermelho nos seus trajes.

A Columbia decidiu que precisava contratar um figurinista novamente e ofereceu o cargo para Jean Louis (Jean-Louis Berthault, 1907-1997). Ele nasceu em Paris e estudou na École des Arts Decoratifs. Após a sua formatura, foi trabalhar na Maison Drécol. Quando quebrou o braço em um acidente de taxi, o dinheiro recebido como indenização, permitiu que ele viajasse para Nova York, onde obteve um emprego na Hattie’s Carnegie Boutique. Um de seus desenhos, um vestido de cetim azul, foi comprado por Irene Dunne, que se tornou sua freguêsa. pelo resto da vida. Outra freguesa da Carnegie Boutique foi Joan Cohn, esposa do chefão da Columbia, Harry Cohn, que recomendou Jean Louis ao seu marido e este o contratou como figurinista da Columbia em 1944.

O primeiro compromisso de Jean Louis, Coração de uma Cidade / Tonight and Every Night / 1945, deu início à longa associação dele com a “love goddess” do estúdio, Rita Hayworth. Jean Louis recordou: “Não foi difícil vestí-la. Com suas pernas finas, braços finos e compridos e as mãos lindas, seu corpo era bem maleável”.

Um dos métodos que Jean Louis usava era acentuar a cintura e os ombros da estrela, e o vestido de cetim preto sem alças de Gilda / Gilda / 1946 fêz exatamente isso. “Foi o vestido mais famoso que eu fiz”, ele recordou. “Todo mundo se pergunta como aquele vestido não caía enquanto ela cantava e dançava”.  Ele fez um forro de gorgorão sob o busto de Rita e ela ainda  usava  um espartilho com barbatanas no centro e nas laterais. Depois, Jean Louis moldou tiras de plástico amaciadas em chamas de gás e as ajustou no decote. Ela podia se mexer à vontade, que o vestido não caía.

Para a dança dos sete véus em Salomé / Salome / 1953, Jean-Louis teve o cuidado de transmitir a impressão de um corpo juvenil sob os véus semi-transparentes sem o uso de sutiã, cujas alças poderiam ser vistas. Sua solução foi criar um colante inteiriço de plástico, que dava  a ilusão de nudez e ao mesmo tempo retinha as formas da atriz.

Quando Judy Holiday ingressou na Columbia para estrelar Nascida Ontem / Born Yesterday / 1950, Jean Louis enfrentou um de seus maiores desafios, pois ela não era uma jovem com glamour natural e tinha tendência para engordar. No papel de Billie Dawn, a amante de um político corrupto, Judy teve que usar 13 vestidos que demonstravam a evolução da personagem do vulgar para o sofisticado. “Ela chegou para ser vestida para o teste e estava totalmente desinteressada”, disse Jean Louis. “Nós fizemos o melhor que podíamos, mas Judy não parecia glamourosa. Porém, assim que a câmera começou a rodar, aquela mulher transformou-se em glamour. Era uma grande atriz”. Jean Louis trabalhou na maioria dos filmes subsequentes de Judy e ganhou um Oscar por O Cadillac de Ouro / The Solid Gold Cadillac / 1956, entre as suas 15 indicações para o prêmio da Academia.

Quando Judy Garland se mostrou desgostosa com os vestidos desenhados por Mary Ann Nyberg para Nasce uma Estrela / A Star is Born / 1954 (Judy literalmente rasgou um deles com raiva), ela chamou Jean Louis, que criou pelo menos três trajes memoráveis para o filme – o bolero azul-marinho e a saia com uma fenda no qual Garland canta “Gotta Have me Go With You”; o vestido de cetim preto no qual ela aceita o Oscar da Academia e o brocado dourado e casaco de pele de raposa para o final, quando ela anuncia, “This is Mrs. Norman Maine”.

Quando Harry Cohn decidiu que era o momento de achar uma substituta para Rita Hayworth, ele ordenou aos seus departamentos de maquilagem e de guarda-roupa que preparassem a starlet Kim Novak para alguns testes. Jean Louis desenhou um vestuário para ela, acentuando o que ele considerava a parte mais atraente do seu corpo, o busto, porém a jovem atriz recusou seu pedido para que usasse um sutiã alcochoado. Cohn viu os testes e gritou: “Ela não tem busto!”, e Jean Louis retrucou, mostrando o tal sutiã: “Este é  o seu busto!”.  Recebendo um ultimátum do patrão, Novak enfim concordou em usar o referido sutiã e Jean Louis a vestiu em vários filmes subsequentes incluindo Meus Dois Carinhos / Pal Joey /  1957,  co-estrelado por Rita Hayworth.

Em 1958, com os estúdios cortando seu pessoal criativo – mais filmes estavam sendo produzidos com guarda-roupa já pronto, “os compradores” substituindo os figurinistas – Jean Louis transferiu-se da Columbia para a Universal, onde o produtor Ross Hunter estava iniciando uma série de comédias e melodramas  luxuosos. Em Confidências à Meia-Noite / Pillow Talk / 1959, ele criou vestidos requintados para Doris Day, que inaugurou uma nova fase de sua carreira e em Imitação da Vida / Imitation of Life / 1958 e outros filmes, Lana Turner recebeu o mesmo tipo de guarda-roupa glamouroso.

A partir do começo de 1960, o grande figurinista passou a oferecer seus serviços como free lancer. Nesta condição,  ele desenhou um guarda-roupa mais modesto para Marilyn Monroe em Os Desajustados / The Misfits / 1961. Jean Louis contou: “Um dia Marilyn desceu as escadas de roupão e parou na minha frente. Ela disse, “Jean, se você vai fazer roupas para mim, deve ver como eu sou”. Marilyn abriu o roupão e ali estava ela – vestindo absolutamente nada”. Esta cena serviu de inspiração para Jean Louis desenhar para ela um biquíni minúsculo de bolinhas. Ele também foi responsável pelo vestido transparente e cintilante com o qual Monroe cantou “Happy Birthday” para o Presidente John F. Kennedy em Washington.

Entre outros trabalhos como free lancer, Jean Louis fêz os vestidos de Marlene Dietrich para Julgamento em Nuremberg / Judgement at Nuremberg / 1961, abriu um negócio de moda prêt a porter em Beverly Hills, voltou à Columbia para Adivinhe Quem Vem Para Jantar / Guess Who’s Coming to Dinner /1967 e, no mesmo ano, desenhou os vestidos de cintura baixa e os chapéus apertados dos anos vinte para Positivamente Millie / Thoroughly Modern Millie / 1967.

Em 1993, quatro meses após o falecimento de sua primeira esposa, Maggy Fisher, ele contraiu matrimônio com Loretta Young, para quem desenhara os vestidos com os quais ela fazia as suas entradas gloriosas nas aberturas de seu programa de televisão, “Loretta Young Show”.

Vera West (1900-1947) assumiu o cargo de figurinista-chefe da Universal em 1927, substituindo a pioneira Lucia Coulter, que foi para a MGM e alí ficou até 1931, tendo desenhado para filmes como O Cavaleiro dos Amores / Bardelys the Magnificent / 1926 (com Andre-ani), O Monstro do Circo / The Unknown /1927, Ouro / The Trail of 98 / 1928 etc. Vera nasceu em Nova York, estudou no Philadelphia Institute of Design e depois desenhou vestidos para um ateliê na Quinta Avenida até chegar a Hollywood.

Seu primeiro trabalho na Universal foi para O Homem que Rí / The Man Who Laughs / 1928 e, pouco depois, para Dracula / Dracula / 1931 (juntamente com Ed Ware, sem serem creditados). Vera fêz vestidos para vários filmes de horror do estúdio (inclusive aquele vestido de tecido leve com mangas curtas franzidas e decote quadrado que Elsa Lanchester usa no prólogo de A Noiva de Frankenstein / The Bride of Frankenstein / 1935), para  filmes da série Sherlock Holmes com Basil Rathbone e Nigel Bruce, confeccionou os trajes de Maria Montez nos filmes de aventura orientais com Jon Hall, os de Marlene Dietrich em Atire a Primeira Pedra / Destry Rides Again / 1939, os de Mae West em Minha Dengosa / My Little Chickadee / 1940 e os de Ava Gardner em Assassinos / The Killers /  1946, destacando-se aquele vestido longo de cetim preto, quando ela canta “The More I Know of Love” apoiada no piano, seus ombros cobertos por sua cabeleira negra, as luvas pretas cobrindo seus antebraços – a própria imagem da sedução.


Embora Vera desenhasse roupas muito atraentes, assim que as suas atrizes se tornavam suficientemente importantes, elas passavam a requerer os serviços de outros figurinistas. Por exemplo, Irene Dunne, para quem ela havia desenhado belos vestidos em A Esquina do Pecado / Back Street / 1932,  não a escolheu depois de Magnólia, o Barco das Ilusões / Show Boat / 1936, recorrendo a Howard Greer. Vera desenhou para todos os filmes de Deanna Durbin de 1937 a 1941, mas após esse período, o estúdio deu a Durbin os figurinistas mais bem pagos, incluindo Irene, Howard Greer, Adrian e Walter Plunkett. Vera lembrou: “O estúdio a adorava, eles nunca se esqueceram de que seus filmes os havia tirado da falência e qualquer guarda-roupa que Deanna quizesse, ela  obtinha”.

Vera West deixou a Universal em 1947 e foi trabalhar por conta própria, criando uma coleção para um desfile de moda no Beverly Wilshire Hotel. No dia 29 de junho do mesmo ano, a polícia encontrou seu corpo boiando na piscina da sua residência. Ao lado do cadáver, havia um bilhete de suicídio, dizendo: “Estou cansada de ser chantageada!”. Quem a estava chantageando? Por quê estava sendo chantageada? Essas perguntas nunca foram respondidas.

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