Este personagem de criminoso deveria se chamar Fantômus e se tornou Fantômas devido a um erro. Inspirado pelo bando Bonnot, organização anarquista que atuou entre os anos de 1911e 1912 em uma série de ações criminosas na França, ele apareceu em 1911 nos cartazes em todos os muros de Paris, silhueta negra e inquietante, lançado pelo editor Arthème Fayard e depois pelos filmes da Gaumont. Dois jornalistas, Pierre Souvestre e seu colaborador Marcel Allain, contaram durante três anos, em 32 volumes, as façanhas sinistras de Fantômas, prodígio do mal, caçado pelo inspetor Juve e pelo jornalista Fandor.
O cinema popularizou Fantômas. Feuillade filmou cinco episódios entre 1913 e 1914 com René Navarre como o gênio do crime. Neste seriado francês os espectadores foram irresistivelmente atraídos de volta semana após semana, para ver quais eventos imprevisíveis ocorreriam e se o inspetor Juve conseguiria capturá-lo. O inspetor Juve era interpretado pelo ator Edmund Bréon, Fandor por Georges Melchior e René Carl era Lady Beltham, a amante de Fantômas. O seriado foi exibido com muito sucesso, inclusive no Brasil. De fato, este arquicriminoso foi tão popular, que Appolinaire e seu círculo de literatos até formaram um clube especial em sua homenagem, “Societé des Amis de Fantômas”.
No início de 1913, tanto Pathé como Gaumont, se aproximaram dos escritores Allain e Souvestre a fim de obter permissão para adaptar Fantômas para a tela e Gaumont ganhou por uma quantia considerável. Então foram Louis Feuillade e seu cinegrafista Georges Guérin que tiveram a chance de fazer o primeiro episódio do seriado sobre Fantômas, lançado em 1913, e os quatro episódios que se seguiram: Juve contre Fantômas, Le mort qui tue, Fantômas contre Fantômas e Le faux magistrat.
Em 1921, Fantomas (assim mesmo, sem o acento circunflexo) voltou em outro seriado, desta vez produzido pela Fox, dirigido por Edward Sedgwick e com vinte episódios de dois rolos cada. No entrecho, Fantomas (Edward Roseman) é um supercriminoso especialista em disfarces. Quando sua oferta à polícia de desistir de sua carreira criminosa em troca de anistia é rejeitada, jura vingança e dá início a uma nova onda de crimes. Ele rapta o professor Harrington (Lionel Adams) para consternação da filha dele, Ruth (Edna Murphy), do noivo dela, Jack (Johnnie Walker), e do inimigo número um do bandido, o detetive Frank Dixon (John Willard). O seriado foi exibido no Brasil com o título de Fantomas.
Em 1932 o personagem ressurgiu no filme Fantômas, dirigido por Paul Féjos, com Jean Galland no papel do criminoso, Thomy Bourdelle como Juve e Tania Fédor como Lady Beltham. No enredo, a marquesa de Langrune (Marie-Laure) recebe seus convidados no seu castelo. Entre eles está Lord Beltham (Jean Worms), que lhe traz uma quantidade de dinheiro significativa. A marquesa é assassinada. O inspetor Juve está certo de que o crime foi cometido por Fantômas. Duas testemunhas são mortas, mas mesmo assim Juve desmascara o personagem misterioso. Porém, ajudado por uma mulher, Fantômas escapa mais uma vez ao castigo.
Marcel Herrand foi o melhor Fantomas na versão de Jean Sacha, Fantomas / Fantomas / 1946. Desta vez as núpcias perturbadas do jornalista Fandor (André Le Gall) e de Héléne (Simone Signoret), filha de Fantômas, causam a ação do policial Juve (Alexandre Rignault) e as reações do bandido invencível. Perseguições, emboscadas, brigas, capturas se sucedem até um fim em ponto de interrogação. Marcel Herrand compõe um Fantomas sarcástico e sinistro como tinha que ser e André Le Gall interpreta o jornalista impetuoso e esportivo com facilidade.
Em Fantomas contre Fantomas / 1948 (Dir: Robert Vernay) Maurice Teynac fez o papel de Fantomas, Yves Furet é Fandor, Alexandre Rignault é Juve e, mais uma vez, Juve e Fandor tentam descobrir quem é Fantomas, cujos crimes aterrorizam novamente Paris. O suspeito é um tal de Bréval (Aimé Clariond), médico dado como morto há muito tempo, mas ele apenas se faz passar pelo criminoso.
Nos anos sessenta foi a vez de André Hunebelle fazer três filmes, estes já em tom de paródia, todos interpretados pela trinca Jean Marais (Fantomas), Louis de Funès (Juve) e Mylene Démongeot (Héléne).
No primeiro filme, Fantomas / Fantomas / 1964, o comissário Juve e o jornalista Fandor não acreditam na existência do personagem que se autodenomina Fantômas e que conseguiu a espalhar o pânico no meio da sociedade. Mas vão mudar de idéia rapidamente quando se encontrarem em face da realidade: Fantômas, com seu rosto azulado, comete seus delitos sob diferentes identidades graças a máscaras de látex fabricadas no seu laboratório; é assim que se fará passar pelo jornalista Fandor e pelo comissário Juve, que serão sucessivamente presos.
No segundo filme, A Volta de Fantomas / Fantômas se Déchaine / 1965, enquanto o comissário Juve acaba de ser condecorado com a Legion d’honneur como recompensa de sua luta eficaz contra Fantômas, descobrímos no mesmo instante que este acabou de sequestrar um inventor de uma arma aterrorizante. Desta vez o comissário Juve vai revisar seus métodos e utilizar “artefatos” de sua invenção tentar prender Fantômas. Porém o vilão desaparecerá de novo no seu “carro voador”.
No terceiro filme, O Fantasma contra a Scotland Yard / Fantômas Contre Scotland Yard / 1966, Fantômas decide cobrar um imposto sobre o direito de viver. Aqueles sujeitos a esta taxa serão os ricos e os bandidos. O comissário Juve, Fandor e sua noiva se encontram desta vez na Escócia no castelo em que reside uma das próximas vítimas. Desde sua chegada, o comissário Juve é ridicularizado por Fantômas que coloca enforcados e cadáveres no seu quarto. Porém Juve mantém seu objetivo: capturar Fantômas. Desmascarado por Fandor, o criminoso consegue se evadir mais uma vez no seu foguete, aproveitando-se de um erro de Juve.
Em 1980, Claude Chabrol, um dos fundadores da nouvelle vague e Juan-Luis Buñuel, filho do grande cineasta espanhol, resolveram ressuscitar numa minissérie de televisão, o gênio do crime. Fantômas é interpretado pelo ator alemão Helmut Berger, o inspetor Juve por Jacques Dufilho, o jornalista Fandor por Pierre Malet, Lady Beltham tem os traços da bela Gayle Hunnicut e parece que há fidelidade aos romances originais e capricho na reconstituição de época. Chabrol resumiu assim a figura de Fantômas: “Ele é a encarnação do mal e, no fundo, um personagem metafísico”. Sobretudo tremendamente popular, diria eu.