Ele mereceu a atenção dos cineastas várias vezes desde o cinema mudo. Na cena silenciosa, em San Francesco il poverello d’Assisi / 1918 de Enrico Guazzoni, Frate Sole / 1918 de Mario Corsi e Frate Francesco / 1926 de Giulio Antamoro, sendo este último o mais lembrado com Alberto Pasquali como Francesco. Neste filme, os fatos históricos são escrupulosamente respeitados e reconstituídos de acordo com a biografia de Johannes Jorgensen, um dos maiores especialistas no assunto.
Depois veio o filme mexicano São Franciso de Assis / San Francisco de Assis / 1943 com José Luis Jiménez (Francisco) e Carmen Molina (Clara), dirigido por Alberto (Tito) Gout, diretor rotineiro, geralmente dedicado aos dramalhões de Ninón Sevilla.
Bem mais importante é o clássico Francisco, Arauto de Deus / Francesco, Giullare di Dio / 1950 de Robert0 Rosselini com atores não profissionais e Aldo Fabrizzi como o tirano Nicolas. Rosselini apresenta, sob a forma de antologia, fragmentos dos Fioretti com proposital indigência da encenação, e trata os personagens de um modo que pareceu insólito para quem achava que a santidade só podia ser austera.O diretor quer mostrar o Poverello e seus companheiros tal como eram na vida cotidiana: jovens monges com uma alegria e inocência próximas às das crianças, com uma simplicidade de coração que se assemelhava, como disse Henri Agel, “a uma doce demência”.
Já São Francisco de Assis / 1960, de Michael Curtiz, deveria ter sido um épico religioso à maneira de Hollywood, mas saiu um filme referente e modesto.O enredo conta a vida do “Poeta dos pássaros” , o milagre da estigmatização e sua morte. Curtiz, sempre correto na direção, conjuga incidentes movimentados com os instantes sérios, a fim de manter o interesse da intriga. O trecho final é mais impregnado de caráter místico , embora o veterano cineasta não consiga refletir a poesia da realidade. Bradford Dillman põe muito sentimento na composição do “Jogral de Deus” e nos dá um Francisco verdadeiro e humano, passando habilmente da frivolidade de um jovem embriagado pelo prazer para a elevação de espírito de um santo. Dolores Hart vive santa Clara, incluindo-se ainda entre os coadjuvantes: Stuart Whitman, Pedro Armendariz, Cecil Kellaway, Finlay Curie e Eduard Franz. A foto é de Pietro Portalupi, técnico com brilhante passagem pelo neorealismo (Gente del Po / 1943; Páscoa de Sangue / Non C’é Pace Tra Gli Ulivi / 1949; Belissima / Belissima / 1951) e com um trabalho impecável na 2a unidade de Ben-Hur / Ben-Hur / 1959.
La Tragica Notte di Assisi / 1961 de Raffaelo Pacini, trata mais de santa Clara, interpretada por Leda Negroni e Carlo Giustini é Francisco e Francesco di Assisi / 1966, premiado no Festival de Valladolid, que Liliana Cavani filmou em 16mm com simplicidade de estilo para a televisão italiana, apresenta Lou Castel como um Francisco rebelde e iconoclasta.
Festa floral e estética sobre São Francisco, segundo a visão encantada de Franco Zefirelli, Irmão Sol, Irmã Lua / Fratello Sole, Sorela Luna / 1972 tem imprecisões históricas e místicas, compensadas pelo capricho visual – foto de Ennio Guarnieri (A Grande Burguesia / Fatti di Gente Perbene / 1974, Esposamante / Mogliamante / 1977) em panavision, technicolor. O roteiro de Suso Cecchi d’Amico, Kenneth Ross, Lina Wertmuller e Zeffirelli traça o percurso de Franciso desde a despedida do lar abastado para a vida comunitária na natureza e a pregação do princípio da pobreza e da caridade, inserida a certa altura dos acontecimentos uma cena com Alec Guiness como o papa Inocêncio II, talvez para prestigiar o setor interpretativo liderado por dois novatos, Graham Faulkner e Judi Bowker. A dimensão hippie que o diretor conferiu a Francisco, ele mesmo a define assim: “Não se trata de um filme biográfico, mas de uma demonstração paralela sobre a juventude idealista e séria de hoje e a vida de são Francisco … Este adolescente, nascido há mais de 750 anos, conheceu os mesmos problemas dos jovens de hoje … e se esforçou para transformar o mundo não com bombas, não com drogas, não com exibicionismo, mas com a negação de si mesmo, cm o sacrifício e, acima de tudo, com esperança”.
Posteriormente surgiram: A História de São Francisco de Assis / Francesco / 1989 com Mickey Rourke (Francisco) e Helena Bomham Carter (Clara) e o telefilme Francesco / 2014 com Mateusz Kosciukiewicz (Francesco) e Sara Serraioco (Clara), ambos dirigidos por Liliana Cavani; a minissérie italiana Francesco / 2002 de Michele Soavi com Raul Bova (Francesco) e Amélie Daure (Clara); o telefilme Clara e Francisco / Chiara e Francesco / 2007 de Fabrizio Costa com Ettore Bassi (Francisco) e Mary Petruolo (Clara); O Sonho de Francisco / L’Ami – François d’Assise et ses frères / 2016 de Renaud Fely e Arnaud Loubet, sobre Elia da Cortona (Jérémie Renier), um dos seguidores mais fieís de São Francisco, interpretado por Elio Germano.