Filme de exploração é um filme que tenta obter sucesso financeiro explorando tendências atuais, o gôsto de um público específico ou conteúdo chocante. Os filmes refletindo as expectativas e os anseios da juventude (teenpics ou juve movies) eram de três tipos: musicais, filmes sobre delinquentes juvenis e os chamados filmes de praia (beach movies). Quando a indústria do disco lançou o rock (uma frenética combinação da country-music e do boogie-woogie brancos com o rhythm and blues negro) foi tiro e queda: excitados principalmente pela sua batida enfática e potente, os jovens aderiram em massa à nova músicaEm essência o rock proporcionou aos jovens adolescentes da classe média não só uma forma de excitação, mas também a oportunidade de manifestar o seu descontentamento contra alguns princípios da cultura dominante e, adquirindo um senso de identidade grupal, atacar muitas das instituições que ajudavam a controlá-los.
Entretanto, os jovens tinham um problema. Pais, professores e párocos todos diziam que o rock era ruim para eles. A maioria dos adultos, acostumada com a estrutura hierárquica do local de trabalho e do lar e com o clima social conformista, achava que esta música produzia uma reação espontânea e sensual alarmante em seus filhos. O antagonismo dos adultos contra a música de rock também refletia o racismo inerente da época. Tendo percebido que a música de rock era fundamentalmente negra, tanto em sua origem como em sua natureza, a maioria dos pais brancos julgaram-na bestial e subumana. Muitos porta-vozes governamentais, religiosos e educacionais compartilharam desses sentimentos, caracterizando a música como imoral e pecaminosa – e seus adeptos como incapazes e indolentes delinquentes juvenis. Porém os jovens desconfiavam da infalibilidade dos mais velhos e sabiam que, ouvindo a música do rock, se sentiam bem.
O cinema se aproveitou disso e, após ter surgido pela primeira vez na tela como um ingrediente incidental de um filme sério, Sementes de Violência / The Blackboard Jungle / 1955 (Dir: Richard Brooks), onde foi usado para simbolizar a rebelião juvenil contra a autoridade escolar, o rock foi tema do primeiro filme musical de exploração da juventude, Ao Balanço das Horas / Rock Around the Clock / 1956 (Dir: Fred F. Sears), produzido por Sam Katzman para a Columbia. Imediatamente imitado pela AIP por Roger Corman (Rock All Night) e Edward L. Cahn (Shake, Rattle and Roll), o filme da Columbia estimulou a produção de vários outros sobre o assunto (v. g. Curvas e Requebros / Rock, Pretty Baby (Dir: Richard Bartlett), Ritmo Alucinante / Rock, Rock, Rock (Dir: Will Price), Música Alucinante / Don’t Knock the Rock (Dir: Fred F. Sears), todos esses filmes realizados em 1957. Os filmes de rock enlouqueceram a mocidade de todo o mundo. Em várias cidades, a polícia foi obrigada a intervir: na saída das sessões os “fãs” dançavam nas ruas e pareciam tomados de histeria. Os artistas que interpretavam a música alucinante se tornaram os símbolos da juventude. Sua atitude apaixonada e furiosa em cena, o ritmo envolvente de suas músicas e uma sábia propaganda contribuíram para impor a novidade.
Menos de um ano após o aparecimento dos musicais de rock, surgiu um segundo gênero que mostrava uma juventude mais selvagem, envolvida em sexo e drogas: o filme de exploração sobre delinquentes juvenis. Em todos os filmes deste tipo nota-se a influência de O Selvagem / The Wild One / 1954 (Dir: Laslo Benedek), o filme de motocicleta original com Marlon Brando e Lee Marvin, e de Juventude Transviada / Rebel Without a Cause / 1955 (Dir: Nicholas Ray), imortalizado pela interpretação fértil de James Dean; porém não havia tanta preocupação com o conteúdo. Raramente os realizadores procuravam explicar as causas da delinquência – lares desfeitos, pais hipócritas etc. -, pois tal protocolo não era exigido pela AIP (American International Pictures) e pela Allied, as companhias produtoras que mais fizeram esta espécie de filme. Nos filmes B de exploração sobre jovens transviados, o moço mau não vende drogas para crianças na escola ou atropela pessoas idosas com o seu carro porque seu pai não o compreende. Ele faz isto simplesmente porque é mau, e é isso que se espera que os rapazes maus façam.
O primeiro exemplar do gênero, Escola do Vício / High School Confidential / 1958 (Dir: Jack Arnold), tratando dos estragos causados pela marijuana (e pelo rock) em uma universidade americana, no entanto não foi feito pelas produtoras mencionadas, mas sim pelo produtor Albert Zugsmith para a MGM, e era um pouquinho melhor do que os congêneres, apesar de certos aspectos irreais da história. A AIP fez, por exemplo, Hot Rod Girl / 1956 e Reform School Girl / 1957 e a Allied, também por exemplo, Hot Rod Rumble / 1956 e Sangue na Estrada / Hot Car Girl / 1957.
Em 1963, a AIP encontrou um novo filão com A Praia dos Amores / Beach Party, inaugurado o ciclo dos chamados filmes de praia, verdadeiras minas de ouro quando exibidos nos drive-ins durante o verão. Quando perguntaram a William Asher, diretor do primeiro e de vários outros filmes de praia (A Praia dos Biquínis / Bikini Beach / 1964, Quanto Mais Músculos Melhor / Muscle Beach Party / 1964, Folias na Praia / Beach Blanket Bingo / 1965, Como Rechear um Biquíni / How to Stuff a Wild Bikini / 1965), porque a companhia trocou as guerras de bandos de transviados pelas arruaças menos selvagens na praia, ele respondeu: “O nosso público está cansado da delinquência juvenil. Ninguém quer ver desordem e confusão nos guetos da cidade se pode ver a mesma coisa na praia de Malibu”.
Os grandes estúdios já haviam demonstrado que os chamados clean teenpics como Primavera do Amor / April Love / 1957 (Dir: Henry Levin) ou Maldosamente Ingênua / Gidget / 1959 (Dir: Paul Wendkos), proporcionando um divertimento mais ingênuo debaixo do so, eram indubitáveis campeões de bilheteria, e não levou muito tempo para a AIP entrar nesta jogada.
Em uma entrevista, Arkoff explicou: “Nos velhos tempos, até o final dos anos 50, não havia filmes de juventude, como nós o entendemos. Fundamentalmente eram filmes do tipo Disney para crianças e havia também os filmes para a família. Um filme de juventude típico teria sido um filme de Andy Hardy. Veja só. O pai de Andy (Mickey Rooney) era interpretado por Lewis Stone, uma figura paterna impressionante que, por acaso, também era um juiz. Pense nisso. Andy diz para o pai: ‘Vou fazer tal e tal coisa’. O pai aconselha: ‘É melhor você não fazer, vai se meter em uma encrenca’. Andy e seus amigos partem, metem-se em uma encrenca e agora Andy volta à presença do pai e fala: ‘Papai você disse para não fazermos isso. Agora estamos em apuros e eu espero que você nos ajude’. E então o juiz diz, em um tom severo, mas simpático: ‘Está certo, vou livrá-lo dessa encrenca’, o que ele faz.’Papai, diz Andy, olhando para os olhos de seu progenitor, ‘nunca mais vou fazer isso’. E toda a platéia adulta exulava.
Conclusão de Arkoff: “Isto é o que era um filme de juventude essencialmente – uma lição de moral, uma preleção. Mas no final da década de 1950, os garotos estavam além das preleções … Quando fizemos os filmes de praia, tais filmes não eram basicamente sobre a praia. Eles se passavam na praia, mas basicamente eram sobre os garotos que não tinham pais. Por quê? Porque eram filmes de juventude feitos para a juventude. Não a juventude de Disney, não a juventude para a qual todos esses moralistas, estas solteironas queriam que fossem os filmes “família”. Fundamentalmente o que estávamos fazendo eram filmes para adolescentes que não queriam ter uma lição de moral enfiada em suas gargantas. Isto era verdade não apenas com relação aos nossos filmes, mas na própria vida, porque foi nos anos 60 que a juventude começou a agir por conta própria”.