Nesta obra-prima da literatura francesa e mundial, Gustave Flaubert, através do estudo psicológico de uma mulher intoxicada pelo romantismo que busca na infidelidade e nas compras um substituto para a felicidade, investe contra as convenções burguesas do seu tempo, zombando de sua tolice, sua futilidade, e sobretudo seu falso moralismo, buscando com obsessão “a palavra precisa”, a única adequada para levar cada frase ao ponto mais próximo da perfeição.
Observando um caso individual, o escritor fez de sua heroína um tipo universal. Durante o desenrolar da narrativa acompanhamos as emoções e frustrações de Emma Bovary, seu desejo por um mundo diferente daquele que destroça seu sonho e sua formidável faculdade de ilusão, que recebeu o nome doravante tradicional de Bovarismo. Houve várias versões do romance para o cinema. Os filmes que pude ver estão marcados em negrito e no final escolho o meu predileto.
FILMOGRAFIA
Excluídas adaptações remotas do original literário ou produzidas diretamente para a televisão.
Madame Bovary / 1934 (Dir: Jean Renoir) com Valentine Tessier (Emma) e Pierre Renoir (Charles). França.
A Mulher Que Amou Demais / Madame Bovary / 1937 (DIr: Gerard Lamprecht) com Pola Negri (Emma) e Aribert Wäches (Charles). Alemanha.
Madame Bovary / 1947 (Dir: Carlos Schlieper) com Mecha Ortiz (Ema) e Alberto Bello (Carlos). Argentina.
A Sedutora Madame Bovary / Madame Bovary / 1949 (Dir: Vincente Minnelli) com Jennifer Jones (Emma) e Van Heflin (Charles). Estados Unidos.
Os Pecados de Madame Bovary / De Nackte Bovary / 1969 (Dir: Hans Schott-Schöbinger) com Edwige Fenech (Emma) e Gerhard Riedman (Charles). Alemanha Oriental- Itália.
Salvai e Protejei / Spasi i sokhran / 1989 (Dir: Alesandr Sokurov) com Cécile Zervudacki (Emma) e Robert Vaap (Charles). União Soviética – Alemanha Oriental.
Madame Bovary / Madame Bovary / 1991 (Dir: Claude Chabrol) com Isabelle Hupert (Emma) e Jean-François Baumer (Charles). França.
Madame Bovary / 2014 (Dir: Sophie Barthes) com Mia Wasikowska (Emma) e Henry Lloyd-Hughes (Charles).
MINHA VERSÃO PREDILETA É A DE VINCENTE MINNELLI
A primeira atriz escolhida para interpretar a personagem de Flaubert em A Sedutora Madame Bovary foi Lana Turner, porém o Código de Autocensura julgou-a “demasiado sexy”. Minnelli então sugeriu Jennifer Jones e, com ela expressou, à maneira de Hollywood naturalmente, a alma sonhadora da heroína e os falsos valores da burguesia.
Contracenando com Jennifer estavam Van Heflin (Charles Bovary), Louis Jourdain (Rodolphe), o ator sueco Alf Kjellin creditado como Christopher Kent (Léon) e Gene Lockhart (Homais) enquanto James Mason encarnava Flaubert, servindo como narrador da intriga pois, para driblar a censura do Código Hays, o roteirista Robert Ardrey inventou um prólogo, mostrando em rápidas cenas o processo aberto contra o escritor, acusando-o de imoralismo por causa de seu livro. O filme traduz muito bem toda a essência do livro de Flaubert, ilustrada pelo estilo brilhante de Minnelli, que se manifesta esplendorosamente na vertiginosa sequência no baile sob o som da valsa “neurótica” de Miklos Rozsa, com Emma excitada rodopiando pelo salão e o espelho mostrando-a deslumbrante vestida de branco e rodeada de admiradores elegantes, imagem perfeita da realização de seus desejos romanescos.
Além da música de Rozsa, os cenários grandiosos (Cedric Gibbons – Jack Martin Smith,) figurinos (Walter Plunkett), fotografia (Robert Plank), distingue-se prioritariamente o desempenho de Jennifer Jones, comunicando perfeitamente o tédio e o temperamento sonhador da personagem e o seu desejo insaciável de satisfazer suas fantasias, que a leva à degradação moral e ao suicídio.