WILLIAM WYLER

Ele foi o diretor mais premiado de Hollywood, com doze indicações ao Oscar de Melhor Diretor, tendo arrebatado por três vezes a estatueta nesta categoria. Consumado perfeccionista, fez filmes em variados gêneros por um longo período de tempo (de 1925 a 1970), mas a falta de pretensão de autoria e ausência de um estilo bem definido, contribuíram para sua fama de excelente artesão a serviço de um produto. Era no entanto um verdadeiro artista, que abordou grandes temas com notável consciência cinematográfica, deixando uma obra artisticamente uniforme, raramente igualada por qualquer outro cineasta.

Wiliam Wyler

William Wyler (1902 – 1981) nasceu com o prenome de Willi, em Mulhouse, Alsácia (então parte do Império Germânico), filho de Leopold Wyler e Melanie Auerbach. Seu pai era um vendedor ambulante, que se tornou próspero dono de armarinho. Wyler estudou no Institut Bloch em Lausanne e depois em um internato chamado “The Monastery”, tendo sido expulso de ambos por mau comportamento. Cinco meses após ter se matriculado na École Supérieure de Commerce, deixou a escola sem completar seus estudos. Ele voltou para Mulhouse e, para desfazer sua reputação de rapaz mau comportado, ficou algum tempo trabalhando com o pai. Percebendo que seu filho não era mau vendedor e necessitava de um treinamento em uma loja de departamentos, Leopold levou-o para Paris e o introduziu no circuito do atacado. Após três meses de aprendizado em um estabelecimento de varejo em Charenton-le-Pont e depois em uma rede de lojas denominada “100,000 Shirts” perto de Les Halles, Melanie percebeu que seu filho não estava mesmo interessado no negócio de armarinho e pediu ao primo Carl Laemmle um emprego para ele no estúdio da Universal, do qual era dono.

Wyler iniciou suas atividades no escritório da Universal Film Manufacturing Company em Nova York como encarregado da expedição e, depois de passar pelo departamento  de publicidade, pediu ao tio Laemmle para ser transferido para a Universal City na Califórnia. No estúdio californiano ele começou como moço de recados e, depois de ter segurado um megafone pela primeira vez durante a filmagem de O Corcunda de Notre Dame / The Hunchback of Notre Dame / 1923, ajudando dois assistentes de direção a controlar a multidão de figurantes, foi promovido a segundo assistente de direção. Nesta função, trabalhou para Irving Cummings em Na Senda do Crime / Fool´s Highway / 1924 e Rosa de Paris / The Rose of Paris / 1924 e para King Baggot em Nobreza de Sangue / The Gaiety Girl / 1924.

Depois de servir como auxiliar do ator-diretor William Duncan no seriado Lobos do Norte / Wolves of the North / 1924 e como primeiro assistente de alguns diretores (v. g. William Craft, William Crinley, Arthur Rosson), Wyler tornou-se, aos 23 anos de idade, o diretor mais jovem da Universal ao filmar Crook Buster / 1925, o primeiro western de dois rolos da série Mustang. Depois de dirigir outros seis westerns Mustang em 1926 (The Gunless Badman, Ridin’ for Love, The Fire Barrier, Don´t Shoot, The Pinnacle Rider, Martin of the Mounted) e, em um breve período em que ficou desempregado, ter prestado serviço como um dos sessenta assistentes extras na filmagem de BenHur / Ben-Hur / 1925 na MGM, Willi foi  readmitido, e fez mais 14 Mustang: 1927 – The Two Fister, Kelcy Gets His Man, Tenderfoot Courage, The Silent Partner, Galloping Justice, The Haunted Homestead, The Lone Star, The Ore Raiders, The Home Trail, Gun Justice, The Phantom Outlaw, The Square Shooter, The Horse Trader, Daze of the West. Os westerns Mustang foram estrelados por cowboys como Jack Mower, Edmund Cobb ou Fred Gilman.

Wyler dirigiu ainda 6 westerns de cinco rolos da série Blue Streak: 1926 – Um Preguiçoso de Mérito / Lazy Lightning, A Fazenda Roubada / The Stolen Ranch. 1927 – Lá no Oeste / Blazing Days, O Remido / Hard Fists, Cavalheirismo da Fronteira / The Border Cavalier, Reto como o Dever / Straight Shootin’ e dois outros westerns avulsos: 1927 – Pó do Deserto / Desert Dust. 1928 – A Prova da Coragem / Thunder Riders, estrelados por cowboys como Art Acord, Fred Humes, Ted Wells. Ainda na década de vinte, dirigiu três filmes que não eram westerns: 1928 – À Caça de um Marido / Anybody Here Seen Kelly? (com Bessie Love, Tom Moore). 1929 – O Trapaceiro / The Shakedown (com James Murray, Barbara Kent) Cilada Amorosa / The Love Trap (com Laura La Plante, Neil Hamilton).

Cena de Os Três Padrinhos

Após certa hesitação, mas diante da comprovada capacidade profissional de Wyler, Carl Laemmle Junior designou-o para dirigir Os Três Padrinhos / Hell´s Heroes / 1930, a primeira versão sonora do romance “Three Godfathers” de Peter B. Kyne, tantas vezes levado à tela. No enredo três bandidos, Bob Sangster (Charles Bickford), Barbwire Gibbons (Raymond Hatton) e Wild Bill Kearney (Fred Kohler) encontram uma mulher moribunda no deserto e lhe prometem levar seu bebê para New Jerusalem, onde haviam assaltado um banco. No percurso, Wild Bill morre em virtude dos ferimentos recebidos durante o roubo. Kearney perece de sede e Bob bebe água de uma fonte envenenada, a fim de ganhar força para entregar a criança sã e salva na igreja da cidade. O diretor soube produzir belos efeitos de composição na paisagem desértica e criar uma cena original: um dos bandidos batiza o bebê jogando areia nos seus pezinhos, pois a água de cantil não podia ser desperdiçada. Foi uma boa estréia no cinema falado.

Até meados dos anos 30 Wyler fez mais 7 filmes para a Universal: 1930 – A Invernada / The Storm (drama com Lupe Velez, Paul Cavanagh, Tom Moore). 1931 – A Casa da Discórdia / A House Divided (melodrama com Walter Huston, Douglass Montgomery, Helen Chandler). 1932 – Cadetes de Honra / Tom Brown of Culver (drama com Tom Brown, H. B. Warner, Richard Cromwell). 1933 – O Piloto de Água Doce / Her First Mate (comédia com Slim Summerville, ZaSu Pitts, Una Merkel), O Conselheiro / Counsellor at Law (drama com John Barrymore, Bebe Daniels, Doris Kenyon). 1934 – Fascinação / Glamour (drama com Paul Lukas, Constance Cummings, Philip Reed). 1935A Boa Fada / The Good Fairy (comédia romântica com Margaret Sullavan, Herbert Marshall, Frank Morgan e um para a Twentieth Century-Fox: 1935 – Sua Alteza, o Garçom / The Gay Deception (comédia romântica com Francis Lederer, Frances Dee, Benita Hume). Destaco sempre os melhores em granito, deixando bem claro que isto não quer dizer que os demais filmes sejam ruins.

Bebe Daniels e John Barrymore em O Conselheiro

O Conselheiro é uma adaptação da peça de Elmer Rice sobre George Simon (John Barrymore) um advogado judeu de Nova York, que começa a questionar sua ascensão da pobreza ao sucesso, quando descobre a infidelidade da esposa, Cora (Doris Kenyon), chegando quase ao suicídio, do qual é salvo por sua secretária Regina “Rexie” Gordon (Bebe Daniels), apaixonada por ele. Wyler consegue imprimir um ritmo incessante ao texto teatral e Barrymore faz uma caracterização perfeita do personagem.

Em The Good Fairy Wyler transmite  com esmero o charme do conto de fadas de Ferenc Molnar, cujos diálogos e personagens Preston Sturges remodelou à sua maneira. Luisa Ginglebush (Margaret Sullivan), criada em um orfanato, torna-se lanterninha de um cinema em Budapest. Nesta função conhece Detlaff (Reginald Owen), garçom simpático, que a leva para conhecer o meio da alta sociedade onde trabalha. Neste ambiente ela é cortejada pelo milionário Konrad (Frank Morgan). Para se esquivar de seu assédio, diz que é casada, e quando Konrad, armando um plano para conquistá-la, quer saber quem ele é, para lhe dar um bom emprego, Louise seleciona em um catálogo de telefone um nome qualquer, para ser seu esposo. O escolhido é o Dr. Max Sporum (Herbert Marshall), advogado pobre, mas honesto. Luisa então vê a oportunidade de, tal como prometera à diretora do orfanato, fazer o Bem para os outros, mantendo sua pureza. O advogado obviamente vai gostar da moça e vice-versa, e tudo acaba bem.

Em 19 de setembro de 1935 Wyler assinou um contrato com Samuel Goldwyn que lhe permitia aceitar projetos de outras companhias. Até o fim da década de 30 realizou 5 filmes para Goldwyn: 1936 – Infâmia / These Three (drama com Merle Oberon, Miriam Hopkins, Joel McCrea, Bonita Granville), Fogo de Outono / Dodsworth (drama com Walter Huston, Ruth Chatterton, Mary Astor). 1937 – Beco Sem Saída / Dead End (drama social com Sylvia Sidney, Humphrey Bogart, Joel McCrea). 1939 O Morro dos Ventos Uivantes / Wuthering Heights (melodrama romântico com Laurence Olivier, Merle Oberon, David Niven, Geraldine Fitzgerald) e 1 filme para a Warner Bros.: 1938 – Jezebel / Jezebel (drama romântico com Bette Davis, Henry Fonda, George Brent). Em 1936 Wyler co-dirigiu Meu Filho é Meu Rival / Come and Get It com Howard Hawks, porém nunca o considerou como um de seus filmes.

Ruth Chatterton e Walter Huston em Fogo de Outono

Fogo de Outono é uma adaptação por Sidney Howard do romance de Sinclair Lewis sobre problemas conjugais na meia-idade, retratando simultaneamente a mentalidade da classe média do interior dos Estados Unidos entre as duas guerras mundiais. Em uma viagem à Europa, o industrial aposentado Sam Dodsworth (Walter Huston) descobre como a esposa Fran (Ruth Chatterton) é fútil e vazia, entendendo-se melhor com outra mulher, Edith Cartwright (Mary Astor), mais preparada para ser uma boa companheira. O filme concorreu ao Oscar em sete categorias (Melhor Filme, Diretor, Ator, Atriz Coadjuvante, Roteiro, Direção de Arte, Som), conquistando o de Melhor Direção de Arte para Richard Day, e é uma verdadeira aula de narração cinematográfica, lecionada por rigoroso perfeccionista.

Merle Oberon e Laurence Olivier em O Morro dos  Ventos Uivantes

Na realização de O Morro dos Ventos Uivantes, os roteiristas Ben Hecht e Charles MacArthur simplificaram o romance gótico e sombrio de Emily Bronte, e Wyler tratou-o com sólido profissionalismo. Heathcliff (Laurence Olivier), órfão cigano criado por um  fidalgo de Yorkshire, cresceu junto com a filha deste, Cathy (Merle Oberon). Eles se amam desde a infância, mas a desigualdade de suas condições sociais os separa e ela se casa com um rico proprietário de terras, Edgar Linton (David Niven). Anos depois, Heathcliff retorna, transformado em gentil-homem, e ainda apaixonado por Cathy, mas é tarde demais. Neste clássico do romantismo vitoriano os elementos da natureza se alternam com o sobrenatural. A voz de fantasma de Cathy se mistura com o vento para chamar Heathcliff. O filme recebeu oito indicações para o Oscar – Melhor Filme, Direção, Ator, Atriz Coadjuvante, Roteiro, Fotografia preto-e-branco, Música Original, Direção de Arte – saindo vitorioso apenas o fotógrafo Gregg Toland.

Bette Davis e Henry Fonda em Jezebel

Na Warner, Wyler dirigiu magnificamente Jezebel, com uma heroína sulista de caráter semelhante ao de Scarlet O´Hara, e proporcionou a Bette o seu segundo Oscar. Vestida com belos figurinos de Orry-Kelly e fotografada por Ernest Haller, seu cameraman favorito, ela teve um desempenho notável, destacando-se a cena do baile, quando a protagonista, Julie Marsden, surge de vermelho em contraste com os trajes brancos tradicionalmente usados por todas as jovens solteiras da cidade. Houve cinco indicações ao Oscar: Melhor Filme, Atriz, Atriz Coadjuvante, Fotografia, Música Adaptada. Bette Davis e Fay Bainter conquistaram a a estatueta da Academia respectivamente como Melhor Atriz e Melhor Atriz Coadjuvante.

Wyler e Margaret Sullavan

Em 25 de novembro de 1934 Wyler casou-se com a atriz Margaret Sullavan, da qual se divorciou em 1936. Em 23 de outubro de 1938 ele contraiu matrimônio com outra atriz, muito menos famosa que Sullavan, Margaret Tallichet, e permaneceram juntos até o falecimento dele. O papel mais conhecido de Tallichet foi em O Homem de Olhos Esbugalhados / Stranger on the Third Floor / 1941 ao lado de Peter Lorre e John McGuire.

Margaret Tallichet e Wyler

Nos anos 40 Wyler realizou mais 3 filmes para Samuel Goldwyn: 1940 – O Galante Aventureiro / The Westerner (western com Gary Cooper, Walter Brennan, Doris Davenport). 1941 – Pérfida / The Little Foxes. (drama com Bette Davis, Herbert Marshall, James Stephenson, Gale Sondergaard). 1946 – Os Melhores Anos de Nossa Vida / The Best Years of Our Lives; (drama de pós guerra com Fredric March, Myrna Loy, Dana Andrews, Teresa Wright, Virginia Mayo, Cathy O´Donnell, Harold Russell); 1 para a Warner Bros. / First National: 1940 – A Carta / The Letter; (drama criminal com Bette Davis, Herbert Marshall, James Stephenson). 1 para a MGM: 1942 – Rosa de Esperança / Mrs. Miniver (drama de guerra com Greer Garson, Walter Pidgeon); 1 para a Paramount: 1949 Tarde Demais / The Heiress (drama psicológico com Olivia de Havilland, Montgomery Clift, Ralph Richardson, Miriam Hopkins) e dois documentários:  1944 – Por Céus Inimigos / The Memphis Belle, A Story of a Flying Fortress para a 8th Air Force Photographic Section em cooperação com a Army Air Forces First Motion Picture Unit., distribuído pela Paramount 1947 – Thunderbolt para A U.S. Air Force e Carl Krueger Productions, terminado somente após o armstício e distribuído pela Monogram. Foi durante a filmagem deste último documentário (sobre o bombardeiro B-25), que Wyler perdeu parte de sua audição, por causa ao ruído dos motores e o som alto do vento com a janela aberta do aparelho.

Walter Brennan e Gary Cooper em O Galante Aventureiro

Em O Galante Aventureiro, preso por um roubo de cavalo que não cometeu, Cole Hardin (Gary Cooper) é condenado pelo juiz Roy Bean (Walter Brennan), mas consegue escapar do enforcamento, prometendo-lhe trazer uma mecha dos cabelos de sua atriz idolatrada, Lily Langtry. Logo depois, Hardin se alia a um grupo de fazendeiros que estão sendo expulsos de suas terras por ordem do juiz. Após várias complicações – estouro de boiada, incêndio nas plantações e das casas dos colonos e uma briga formidável -, dá-se o confronto final entre o vaqueiro e o excêntrico magistrado, em um clímax que se tornou famoso. Bean, sozinho no teatro, esperando a performance de Lily Langtry e a cortina subindo, para revelar a presença de Hardin de arma em punho no palco. O filme recebeu três indicações ao Oscar: Melhor Ator Coadjuvante, História Original e Direção de Arte. Wyler dirigiu com o empenho fílmico de sempre e Walter Brennan ganhou o Oscar de Melhor Ator Coadjuvante.

Herbert Marshall e Bette Davis em Pérfida

Baseado na peça de Lillian Hellman, Pérfida, passado em uma pequena cidade da Louisiana em 1900 – gira em torno dos Hubbard, uma família voraz. Necessitando de 75 mil dólares para construir uma fábrica de tecidos de algodão, Ben (Charles Dingle) e Oscar (Carl Benton Reid) Hubbard planejam, com sua irmã Regina (Bette Davis), fazer com que o marido dela, o banqueiro Horace Giddens (Herbert Marshall), se disponha a investir no empreendimento. Quando Horace recusa o pedido de dinheiro, Regina é tomada por uma raiva violenta e revela a Horace que nunca o amou. A direção de Wyler é impecável. Na sequência mais famosa, diante de uma câmera absolutamente  imóvel, Regina, sentada  em primeiro plano de frente para a objetiva, percebe que no fundo do quadro Horace está sofrendo um ataque cardíaco, e se recusa deliberadamente a socorrê-lo,  aguardando friamente sua morte. O filme proporcionou oito indicações ao Oscar: Melhor Filme, Diretor, Atriz, Atriz Coadjuvante, Roteiro Adaptado, Direção de Arte preto-e-branco, Música de filme dramático, Montagem.

Harold Russell, Dana Andrews e Fredric March em Os Melhores Anos de Nossa Vida

Gregg Toland e Wyler na filmagem de Os Melhores Anos de Nossa Vida

Os Melhores Anos de Nossa Vida sobressai pela humanidade e realismo de seu tema e pela quantidade de prêmios da Academia que proporcionou. Em 1945 três soldados americanos desmobilizados após o fim da 2ª Guerra Mundial – Al (Fredric March), sargento da infantaria, Fred (Dana Andrews), capitão da aviação e Homer (Harold Russell), um marujo mutilado  -, se conhecem na viagem de volta para a sua cidade natal. Como vai se passar o retorno à vida pessoal e social? Wyler narra com delicadeza e Inteligência os acontecimentos, utilizando – com a ajuda de Gregg Toland – primorosamente a profundidade de campo e e coordena com autoridade uma equipe de atores e técnicos bem afinados. Os prêmios da Academia foram sete: Melhor Filme, Direção, Ator (Fredric March), Ator Coadjuvante (Harold Russell), Roteiro Adaptado (Robert E. Sherwood), Música de filme não musical (Hugo Friedhofer), Montagem (Daniel Mandell).

Bette Davis em A Carta

Dirigido solidamente por Wyler, A Carta, baseada em uma peça de Somerset Maugham, tem uma trama de adultério, assassinato e vingança, que prende a atenção do espectador do início ao fim do filme. Leslie Crosbie (Bette Davis), esposa de Robert Crosbie (Herbert Marshall), administrador de um seringal na Malásia, mata a sangue frio seu amante e alega legítima defesa da honra. Graças a uma manobra de seu advogado (James Stephenson) é absolvida, mas não consegue esquecer o homem que assassinou, e vai ao encontro da morte, que lhe reserva a viúva eurasiana (Gale Sondergaard) do morto. A sequência inicial sem uma única palavra ou um único corte introduz o clima, o cenário e a personagem principal, tornando-se digna de uma antologia. A produção foi honrada com sete indicações ao Oscar: Melhor Filme, Direção, Atriz, Ator Coadjuvante, Fotografia preto-e-branco, Montagem, Música (partitura original).

Greer Garson e Walter Pidgeon em Rosa de Esperança

Mrs. Miniver mostra uma família inglêsa da classe média, que enfrenta estoicamente o ataque alemão durante a Segunda Guerra Mundial. A certa altura da narrativa, Kay Miniver (Greer Garson), na ausência de seu marido Clem (Walter Pidgeon), que está em seu pequeno bote participando da evacuação de Dunquerque, lida calmamente com um nazista fanático, piloto de um avião da Luftwaffe, que ela encontra no seu jardim. Após um bombardeio, no qual várias pessoas – inclusive Carol (Teresa Wright) a nora de – são mortas, a congregação se reúne na sua igreja danificada e ouve o vigário proferir um sermão, afirmando que a guerra é agora “a guerra do povo”. Wyler coordenou com sensibilidade esta produção, proporcionando-lhe doze indicações ao Oscar, conquistando seis estatuetas da Academia: Melhor Filme, Direção, Atriz (Greer Garson), Atriz Coadjuvante (Teresa Wright), Fotografia preto-e-branco (Joseph Ruttenberg), Roteiro (Arthur Wimperis, George Froeschel, James Hilton, Claudine West).

Montgomery Clift, Olivia de Havilland e Ralph Richardson em Tarde Demais

Inspirado em uma peça sugerida pela novela “Washington Square” de Henry James, Tarde Demais conta a história de Catherine (Olivia de Havilland), jovem tímida e feia, menosprezada pelo pai, Dr. Sloper (Ralph Richardson, e cortejada por um caça-dotes, Morris Townsend (Montgomery Clift) que, ao descobrir os verdadeiros sentimentos de seu progenitor e do noivo, se torna dura, intransigente, vingativa. Wyler expõe o drama com esplêndido discernimento cinematográfico, mantendo o ritmo vivo e extraindo dos intérpretes o máximo de expressividade. São inesquecíveis a cena de Olivia sentada em frente de sua casa no momento em que o pai está morrendo e o final com o noivo batendo desesperadamente na porta de Olivia. A produção suscitou oito indicações ao Oscar: Melhor Filme, Direção, Atriz, Ator Coadjuvante, Fotografia preto e branco, Música de filme não musical, Direção de Arte preto-e-branco, Figurinos preto-e-branco. Ganharam: Olivia de Havilland (Atriz), Aaron Copland (Música), Harry Horner – John Meehan (DIreção de Arte), Edith Head – Gile Steele (Figurinos).

Na década de 50 Wyler realizou quatro filmes na Paramount: 1951- Chaga de Fogo / Detective Story (drama com Kirk Douglas, Eleanor Parker, George Mcready). 1952 – Perdição por Amor / Carrie (melodrama com Laurence Olivier, Jennifer Jones, Miriam Hopkins). 1953 – A Princesa e o Plebeu / Roman Holiday (comédia romântica com Audrey Hepburn, Gregory Peck, Eddie Albert). 1955 – Horas de Desespero / The Desperate Hours (drama criminal com Fredric March, Humphrey Bogart, Arthur Kennedy, Martha Scott ); um para a Allied Artists: 1956 – Sublime Tentação / Friendly Persuasion (drama histórico com Gary Cooper, Dorothy McGuire, Anthony Perkins); um para a Anthony-Worldwide Productions: 1958 – Da Terra Nascem os Homens / The Big Country (western com  Gregory Peck, Jean Simmons, Carroll Baker, Charlton Heston, Burl Ives, Charles BIckford);  e um para a MGM: 1959 – Ben-Hur / Ben-Hur (drama histórico  com Charlton Heston,  Stephen Boyd, Jack Hawkins, Haya Harareet, Hugh Griffith, Martha Scott).

Kirk Douglas e Eleonor Parker em

Chaga de Fogo conta o drama psicológico e moral de Jim McLeod (Kirk Douglas), detetive recalcado pela experiência de um pai criminoso, que se torna vítima de um ódio irracional contra todos os delinquentes, inclusive um médico sem escrúpulos (George Mcready), até que vem a saber que sua própria esposa (Eleanor Parker) recorrera justamente a ele para fazer um aborto. Quase todo o filme é passado em uma delegacia, onde tramitam os tipos habituais, salientando-se entre eles uma cleptomaníaca (Lee Grant), um facínora degenerado e histérico (Joseph Wiseman), e seu companheiro débil mental (Michael Strong). Apesar da limitação do ambiente Wyler consegue dissimular a origem teatral do filme e colher uma interpretação corretíssima de todos os atores. A produção possibilitou quatro indicações ao Oscar: Melhor Diretor, Atriz, Atriz Coadjuvante, Roteiro.

Gregory Peck, Eddie Albert e Audrey Hepburn em A Princesa e o Plebeu

Em A Princesa e o Plebeu a princesa Ann (Audrey Hepburn), durante uma viagem oficial, procura escapar da pompa e cerimônia dos protocolos diplomáticos, passeando incógnita pelas ruas de Roma. Ela trava conhecimento com um jornalista americano, Joe Bradley (Gregory Peck). Ambos escondem suas identidades ela, por motivos compreensíveis, ele, porque sente que terá um “furo” jornalístico sensacional, ajudado pelo seu fotógrafo Irving Radovich (Eddie Abert). Após passarem por divertidas aventuras, se enamoram. Porém acabam renunciando ao amor: a princesa, obedecendo aos seus deveres, retorna ao palácio e Joe, desiste de sua reportagem, e entrega gentilmente a Anne em uma conferência de imprensa, as fotos tiradas durante sua fuga. Realizado inteiramente em Roma, o filme recebe por causa disso um selo de autenticidade e se enriquece com as vistas dos monumentos mais belos da Cidade Eterna, sem deixar de mostrar a vida fervilhante do povo simples da capital italiana. Com uma direção alerta Wyler deu alegria e animação ao espetáculo. A produção mereceu dez indicações ao Oscar: Melhor Filme, Direção, Atriz, Ator Coadjuvante, Fotografia preto e branco, História Original, Roteiro, Montagem, Direção de Arte preto e branco, Figurino preto -e-branco. Os vencedores foram Audrey Hepburn, Ian McLellan Hunter, que era o  testa de ferro de Dalton Trumbo (História Original) e Edith Head (Figurino).

Dorothy McGuire, Anthony Perkins e Gary Cooper em Sublime Tentação

Baseado no romance de Jessamyn West, o relato de Sublime Tentação desenrola-se durante a Guerra Civil americana e conta a história de uma família de Quakers, cuja vida quieta e tranquila é abalada pelas notícias do conflito, que criam para estes apóstolos da não violência um problema de consciência. Como todos os quakers, Jess (Gary Cooper, sua esposa Eliza Birdwell (Dorothy McGuire) e o filho mais velho deles, Josh (Anthony Perkins), se recusam a participar da luta que separa o Norte do Sul, porém diante de tanta violência cometida pelos sulistas, Josh decide ingressar nas fileiras nortistas. Ele toma parte em uma batalha sangrenta e não retorna.  Seu pai então pega uma arma e vai à sua procura. Wyler conjuga com argúcia e sentimento o tema dramático com registros pitorescos ou cômicos (v. g. os incidentes com o ganso de estimação da famíia, o lance da compra do órgão e a reação de Eliza, o episódio com a  viúva Hudspeth (Marjorie Main) e suas três filhas, as corridas de charrette com o vizinho (Robert Middleton), que Dimitri Tiomkin  entafiza com inspirada partitura. A produção gerou seis indicações ao Oscar: Melhor Filme, Direção, Ator Coadjuvante, Roteiro Adaptado, Canção, Som e arrebatou a Palma de Ouro em Cannes.

Jennifer Jones e Laurence Olivier em Perdição por Amor

Perdição por Amor é uma adaptação do romance “Sister Carrie” de Theodore Dreiser, contando a história de um amor desesperado. Nos anos 1890, Carrie Meeber (Jennifer Jones), viaja de uma pequena cidade do Missouri para Chicago e conhece o caixeiro-viajante Charles Drouet (Eddie Albert) no trem. Quando perde seu emprego em uma fábrica de calçados, Carrie passa a viver com Drouet. Mas eis que ela se apaixona por George Hurstwood (Laurence Olivier), gerente de um grande restaurante e ele corresponde a este sentimento. Para esposar Carrie, ele se afasta de sua esposa Julia (Miriam Hopkins). Um dia, Hurstwood dá um desfalque na caixa do restaurante, é descoberto, e perde seu emprego. Quando Julia informa Carrie que seu marido não se divorciou dela, Carrie, grávida, acaba deixando seu amante. Este vai aos poucos se degradando e, enquanto Carrie progride como corista do teatro de variedades, ele morre na mais sórdida miséria. Wyler conduz habilmente o melodrama com seu estilo discreto, sobressaindo alguns lances de excelência técnica (v. g. a longa panorâmica no restaurante; a parada do trem em Englewood) e a notável interpretação de Olivier. Hal Pereira, Roland Anderson (Direção de Arte), Emil Kuti (Decoração de Interiores) e Edith Head (Figurinos) receberam o Oscar

Superespetáculo baseado no romance de Lewis Wallace, Ben-Hur descreve a amizade rompida e a rivalidade terrível entre dois amigos de infância, Judah Ben-Hur (Charlton Heston), príncipe judeu e Messala (Stephen Boyd), jovem tribuno romano bem como outros acontecimentos ocorridos no tempo do Império Romano. Wyler realizou um filme comercial artisticamente digno, conseguindo um entrosamento perfeito entre o drama íntimo e as cenas de ação, das quais a mais sensacional é a corrida de quadrigas, que contou com a inestimável colaboração de Andrew Marton, Mario Soldati e Yakima Canutt). A música é grandiosa e acompanha cada cena magistralmente. Cenários magníficos, centenas de figurantes, fotografia e nível técnico geral corretíssimo completam o quadro. A produção arrebatou onze prêmios da Academia:  Melhor Filme, Direção, Ator (Charlton Heston), Ator Coadjuvante (Hugh Griffith), Fotografia em cores (Robert Surtees), Música de filme não musical (MIklos Rosza), Direção de Arte (William A. Horning, Edward Carfagno), Hugh Hunt (Decoração de interiores), Efeitos Especiais (Arnold Gillespie, Robert MacDonald, Milo Ory), Montagem (Ralph E. Winters, John D. Dunning), Figurinos em Cores (Elizabeth Haffenden), Som (Departamento de som da MGM, Diretor de Som Franklin Milton).

Na fase final da carreira de Wyler suas obras – 1961 – Infâmia / The Children´s Hour / Mirisch-World Wide (drama com Audrey Hepburn, Shirley MacLaine, James Garner, Miriam Hopkins). 1965 – O Colecionador / The Collector / Columbia (drama psicológico com Terence Stamp e Samantha Egar). 1966 – Como Roubar Um Milhão de Dólares / How To Steal a Million / Twentieth Century-Fox (comédia com Audrey Hepburn, Peter O´Toole, Eli Wallach). 1968 – Funny Girl – A Garota Genial / Funny Girl / Rastar, Columbia (cinebiografia com Barbra Streisand, Omar Shariff). 1970 – A Libertação de L. B. Jones / The Liberation of L. B. Jones / Columbia (drama com Lee J. Cobb, Roscoe Lee Brown, Anthony Zerbe, Lola Falana) -, embora realizadas com eficiência técnica, não tiveram a mesma envergadura artística de seus melhores filmes anteriores.

Terence Stamp e Samantha Egar em O Colecionador

O melhor de seus últimos filmes foi O Colecionador, baseado em um romance de John Fowles. Freddie Clegg (Terence Stamp), bancário insignificante e reprimido que coleciona  borboletas, ganha na loteria esportiva e compra uma casa  isolada em um subúrbio londrino com um porão espaçoso. Em seguida sequestra uma estudante de arte, Miranda Grey (Samantha Egar), por quem tem uma paixão doentia, na esperança de que ela o conheça melhor e acabe por amá-lo. Enfrentando um desafio inédito em sua carreira, dirigir um filme com ação concentrada em dois personagens e em um espaço cenográfico reduzido, Wyler saiu vitorioso, mostrando com vigor dramático a aventura amorosa mórbida e angustiante do casal aprisionado, concluída de forma imprevisível. A produção ocasionou três indicações ao Oscar (Melhor Atriz, Direção. Roteiro Adaptado). Terence Stamp e Samantha Egar ganharam o prêmio de Melhor Interpretação no Festival de Cannes.

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