OS GRANDES WESTERNS DE JOHN FORD II

LEGIÃO INVENCÍVEL / SHE WORE A YELLOW RIBBON / 1949

(Foto: Winton Hoch)

Em  1876, após a morte do General George Armstrong Custer em Little Big Horn, algumas tribos indígenas começam a se reunir e a comprar armas, para lutar contra os brancos. O Capitão Brittles (John Wayne), que está prestes a ser reformado, efetua sua última missão. Ele conduz a mulher Abby (Mildred Natwick) e a sobrinha, Olivia Dandridge (Joanne Dru), do comandante de Fort Starke, Major Allshard (George O’Brien) até Sudros Wells, de onde sai a diligência para o Leste. Por causa da presença das mulheres, Brittles não pode correr o risco de enfrentar os selvagens. Ao chegar em Sudros Wells, ele encontra o posto avançado incendiado, e é obrigado a voltar para Fort Starke, deixando o Tenente Flint Cohill (John Agar) e dois esquadrões naquela região perigosa, Brittles quer retornar ao local para resgatar Cohill e seus homens, mas o Major Allshard manda o Tenente Ross Pennel (Harry Carey, Jr.) “ porque  aquele  jovem  tem que aprender a cruzar o rio sob o fogo”. Vários incidentes acontecem e, nos derradeiros minutos de sua vida militar, Brittles reencontra Cohill e Pennel e efetua um ataque audacioso contra o acampamento dos pele-vermelhas, espantando seus cavalos, e evitando assim uma guerra sangrenta. Quando pensa que vai deixar definitivamente o exército e a cavalaria, o capitão veterano recebe uma carta do Departamento de Guerra, promovendo-o a chefe dos batedores civis, com o posto de coronel.

É uma obra nostálgica sobre um velho militar, Capitão Nathan Britles, que  chegou, no fim de sua carreira, a uma reflexão sobre a aposentadoria e a velhice. Porém Ford também se afeiçoou pela personagem de Olivia Dandridge responsável pela atmosfera romântica do espetáculo. Os jovens tenentes Cohill e Pennel disputam seu coração, desejando saber para qual dos dois é a fita amarela simbólica, que ela traz no cabelo.

Sob o aspecto visual, o filme impressiona pelo colorismo do diretor e do fotógrafo (Winton Hoch ganhou  o Oscar): o azul dos uniformes que se destaca em paisagens grandiosas, o verde da árvores, a luz do sol em uma clareira, a mancha vermelha no manto de um índio, a poeira dourada levantada pelo galope dos cavalos, os ocres do Monument Valley, o amarelo da fita nos cabelos de Olivia…

Um sentimento de ternura se manifesta em uma cena inesquecível: sob um crepúsculo quase irreal, Nathan  fala com a esposa, Mary, diante do seu túmulo e de repente vai aparecendo a sombra de Olivia, que lhe traz um vaso de flores. Quando ela se afasta, Brittles diz para Mary:  “Boa moça, ela me lembra você”.

Outros momentos marcantes do espetáculo são a fuga do Sargento Tyrell (Ben Johnson) perseguido pelos índios, até que consegue pular o abismo; a operação do soldado ferido durante uma tempestade, com o céu escuro iluminado pelos raios; o enterro do soldado Smith (Rudy Bowman) em Sudros Wells; a eliminação dos traficante de armas pelos índios, assistido por Brittles, Pennell e Tyrell; a briga do Sargento Quincannon (Victor MacLaglen) no bar, abatendo vários soldados até que chega a mulher do Major, e o manda no grito para a cadeia; a conversa entre Brittles e o velho cacique Pony That Walks; o ataque noturno ao acampamento de Red Shirt e a debandada do rebanho de pôneis; a despedida de Brittles, diante dos cavaleiros perfilhados, recebendo o relógio de prata e colocando os óculos para ler, comovido, a inscrição carinhosa nele gravada.

CARAVANA DE BRAVOS / WAGON MASTER / 1950

(Foto: Bert Glennon, Archie Stout / 2a unidade).

Dois vaqueiros, Travis Blue (Ben Johnson) e Sandy Owens (Harry Carey, Jr.), chegam em Crystal City, para vender cavalos selvagens. Eles são abordados por dois mórmons, Jonathan Wiggs (Ward Bond) e Adam Perkins (Russell Simpson), que se oferecem para comprar todos os animais, se eles quiserem servir como guias da sua caravana de colonos até San Juan Valley, no Utah. No percurso, eles encontram uma pequena trupe de artistas itinerantes, composta pelo Dr. A. Locksley Hall (Alan Mowbray) e seus assistentes Floretty “Florey” Phyffe (Ruth Clifford), Mr. Peachtree (Francis Ford) e a jovem e linda Denver (Joanne Dru). Os artistas tiveram que beber o elixir que vendiam para aguentar  o calor escaldante e por isso estão todos bêbados. Isto desagrada Adams, porém Wiggs simpatiza com os artistas, e convence  seu amigo puritano a aceitá-los no grupo. No deserto, os membros da caravana, depois de saciarem a sede nas águas de um rio, organizam um baile. A festa é interrompida pela chegada da família Clegg, quatro foragidos da lei liderados por Uncle Shiloh (Charles Kemper). Este, que fôra ferido no ombro durante um assalto, diz aos viajantes que ele e seus “meninos” – os irmãos Luke (Hank Worden), Reese  Fred Libby), Jesse (Mickey Simpson) e Floyd (James Arness) são vaqueiros. Travis e Sandy conhecem sua verdadeira identidade mas, para proteger o grupo, decidem – de acordo com Wiggs – permitir que os bandidos viajem com a caravana. Os índios aparecem, porém não atacam, por respeitarem os mórmons, e convidam todos para o seu acampamento. Durante uma dança indígena, uma mulher navajo (Movita Castenada) denuncia Reese por ter tentado violentá-la e Wiggs imediatamente ordena que o bandido seja chicoteado. Shiloh permite que a punição seja executada, para evitar problemas. Logo depois, os artistas se despedem dos mórmons, mas são detidos por Shiloh, que os obrigam a retornar à caravana. Após uma passagem difícil por uma montanha, os bandidos tentam roubar as sementes que os colonos transportam, porém são finalmente mortos por Sandy e Travis; e os mórmons finalmente chegam à Terra Prometida. Sandy beija Prudence (Kathleen O’Malley), a filha de Adams, e Travis se reúne com Denver.


Verdadeiro filme-poema, construído episodicamente, no qual Ford expressa seu amor pelo Oeste e pelos verdadeiros cowboys, usando imagens encantadoras e uma comovente trilha musical de hinos e canções folclóricas, inclusive a obrigatória “Shall We Gather at the River”. Alternando drama e humor em uma coleção de incidentes apresentados de maneira natural, espontânea, singela, Caravana de Bravos é obra-prima de um cineasta agindo como pintor e músico (pelo seu andamento, pelas suas repetições), uma mistura de epopéia lírica com realidade cotidiana, impregnada de valores humanistas e religiosos (a fé, os esforços e a tolerância dos mórmons, a amizade sincera e solidária dos dois vaqueiros, a mulher perdida tocada pela graça, o valor da família, a busca da paz etc.). “O western mais puro e mais simples que já fiz”, declarou o cineasta, referindo-se a um de seus filmes prediletos.

RIO BRAVO / RIO GRANDE / 1950.

(Foto: Bert Glennon, Archie Stout / 2a unidade)

O Tenente Coronel Kirby Yorke (John Wayne) comanda um forte perto da fronteira mexicana e deve repelir as incursões dos apaches vindos do México. Em um destacamento de novos recrutas, ele tem a surpresa de ver seu filho Jeff (Claude Jarman, Jr.), que foi reprovado em West Point. Pouco depois, recebe a visita de sua esposa, Kathleen (Mauren O’Hara), de quem vive separado desde a Guerra de Secessão quando, como oficial nortista, ele teve que cumprir as ordens do General Sheridan (J. Carroll Naish) e incendiar a plantação da família dela no Sul. Eles se encontram pela primeira vez em quinze anos, no momento em que ela veio ao forte, para comprar o desligamento do filho. Jeff treina para se tornar um bom soldado e, após uma luta, que Kirby observa de longe, conquista o respeito de seus camaradas. No curso de uma aula de equitação “à maneira dos antigos romanos”, surge um delegado (Grant Withers) em busca do soldado Tyree (Ben Johnson), um sulista, que é acusado de assassinato em defesa da honra de sua irmã; mas os outros recrutas o escondem. Durante um levante dos apaches, as mulheres e crianças são enviadas para a segurança de um outro forte, porém  o destacamento que as conduz  é atacado, e as crianças capturadas pelos índios. Jeff, Tyree e Boone (Harry Carey, Jr.) penetram furtivamente na igreja, onde os menores estão retidos e, quando a cavalaria chega, conseguem libertá-las. York é ferido no combate e manda Jeff tirar a flecha do seu peito. No forte, Kathleen aguarda com as outras esposas os destacamento que retorna. Ela avista o marido em uma maca, aperta sua mão, e caminha ao seu lado até a enfermaria. Mais tarde, sob o olhar orgulhoso do pai, Jeff é condecorado por bravura. No meio da cerimônia, Tyree rouba o cavalo do General Sheridan e escapa do delegado, com o encorajamento de York. O regimento então desfila sob os acordes de “Dixie”,  tocada em homenagem a Kathleen.

O entrecho, de estrutura circular, ultrapassa os limites do western clássico e atinge o domínio  dos conflitos cornelianos: Yorke é quase o Cid com sua famosa oposição entre o dever e o amor. Quando ordenado a queimar a fazenda de sua noiva, Kirby não tinha como agir de acordo com seus princípios: teve que obedecer ordens superiores. Porém, no decorrer da história o coronel vai descobrir com sua mulher e seu filho novos sentimentos, uma nova maneira de viver.

Cavalgadas em exteriores grandiosos (Monument Valley e Mexican Hat no Utah); a vida cotidiana em um forte isolado; intervalos cômicos a cargo do Sargento Quincannon (Victor MacLaglen);  belas canções (executadas pelos Sons of the Pioneers), que exaltam o espírito da corporação e a abnegação dos militares e outras que emocionam (vg. “I’ll Take You Home Again, Kathleen”); cenas de ação excitante como o resgate das crianças na igreja da aldeia mexicana com uma das meninas tocando o sino,  o ataque da tropa, e Quincannon, segurando pelo braço uma das fugitivas e se ajoelhando diante do altar antes de sair; alguns momentos sentimentais que nos comovem, como o passeio noturno de Yorke pelas margens do Rio Grande, refletindo sobre o que perdeu enquanto ao fundo se ouve “My Gal is Purple”, cantada por alguns membros do regimento à luz de uma fogueira – a tudo isso a gente assiste com prazer.

RASTROS DE ÓDIO / THE SEARCHERS / 1956.

(Foto: Winton Hoch)

O Texas em 1868. Ethan Edwards (John Wayne) ex-confederado, chega à fazenda  de seu irmão Aaron (Walter Coy). No dia seguinte, Sam Clayton (Ward Bond), que é ao mesmo tempo pastor e capitão dos Rangers, convoca-o para irem atrás de ladrões de gado. Porém o roubo de gado era uma armadilha, para afastar os Rangers. No seu retorno, Ethan depara-se com a casa incendiada, o irmão, a cunhada Martha (Dorothy Jordan) mortos e as duas sobrinhas Lucy (Pippa Scott) e Debbie (Lana Wood) sequestradas pelos índios. Na companhia de Brad Jorgensen (Harry Carey, Jr.), noivo de Lucy e Martin Pauley (Jeffrey Hunter), um jovem mestiço adotado pelos Edwards, Ethan segue a pista dos assassinos. Após alguns meses, os três homens descobrem o cadáver de Lucy. Brad, louco de dor, ataca o acampamento indígena e morre. Anos depois, Martin e Ethan voltam para a fazenda dos Jorgensen (John Qualen, Olive Carey), vizinhos de Aaron, e ficam sabendo que Debbie (Natalie Wood), já adulta, está vivendo entre os comanches. Passados mais alguns meses, em New Mexico, eles encontram Debbie como mulher do chefe “Scar” (Henry Brandon); mas ela se recusa a seguí-los, pois se considera uma verdadeira índia. Furioso, Ethan quer matá-la, porém Martin não deixa. Os dois voltam novamente para a fazenda dos Jorgensen, onde Martin impede que a filha destes, Laurie (Vera Miles), sua antiga namorada, se case com outro. Mais tarde, o chefe “Scar” é visto na região. Durante um ataque de surpresa  dos Rangers ao acampamento comanche, Martin consegue libertar Debbie. Ethan a princípio não desiste da idéia de matá-la, mas afinal reconhece a moça como sua sobrinha, erguendo-a amorosamente nos braços. Todos retornam para o lar dos Jorgensen. Tudo em ordem, Ethan parte para o agreste.

Rastros de Ódio aborda os grandes temas do western: o racismo, os problemas dos prisioneiros brancos, as guerras com os índios com seu cortejo de massacres de ambas as partes etc. Entretanto, Ford se apega ao seu herói, este “homem só”, irremediavelmente perdido e afastado da civilização, do calor do lar e da vida, enigmático e taciturno, movido pelo ódio que, em busca da sobrinha, empreende uma imensa odisséia, que se desenrola sob a neve e no deserto, em uma impressionante variedade de paisagens.

O aspecto selvagem, antissocial do personagem Ethan é representado por sua afinidade com os índios, especialmente “Scar”. Quando seus homens encontram o índio enterrado, ele demonstra sua intimidade com os seus costumes, atirando nos olhos do morto para que, segundo a religião indígena, ele possa “perambular para sempre entre os ventos”. Ethan conhece os índios, sabe o que seus sinais significam e quais serão os seus planos. Ele fala a língua deles assim como “Scar” fala a sua. E quando eles finalmente se encontram face a face, é como se fosse um homem olhando no espelho. Cada qual sabe o que o outro é, porque está ali, e o que devem fazer. Na tenda, “Scar” diz a Ethan que seus filhos estão mortos e para vingar cada um deles, ele executa muitos escalpos. Do mesmo modo, Ethan quer se vingar dos índios, porque Martha e Aaron estão mortos.

A célebre porta que se fecha no final do filme, mostra que o protagonista, tal como o cadáver do índio, cujos olhos ele alvejara, terá que andar errante eternamente “entre os ventos”, sem encontrar um lar permanente. Continuará sendo um intruso na sociedade assim como era quando chegou ao rancho de seu irmão.


Os exteriores do filme foram rodados principalmente no Monument Valley – que desde No Tempo das Dilgências serviu para muitos westerns do diretor. Todo o filme “respira” estas vastas extensões onde a areia, o vento quente, a distância, os enormes blocos rochosos esculpidos pela erosão, a falta de água, o sol tórrido, criam um clima pesado, desolador, desértico, e desumano. Visualmente, o filme representa a arte de John Ford no seu ápice. Seu grande amor pela humanidade e pela natureza se espalha em imagens majestosas, tocantes, e por vezes brutais, que se organizam para formar um grande e belo poema lírico.

O HOMEM QUE MATOU O FACÍNORA / THE MAN WHO SHOT LIBERTY VALANCE / 1962.

(Foto: Willian H. Clothier)

Em O Homem Que Matou o Facínora, o senador Ransom Stoddard (James Stewart) e sua esposa Hallie (Vera Miles), chegam a Shinbone, pequena cidade do Colorado. Os repórteres querem saber o motivo de sua viagem. Stoddard responde que veio assistir ao enterro de seu amigo Tom Doniphon (John Wayne). Quem é Tom Doniphon? O senador conta a sua história. Anos atrás, a cidade de Shinbone estava sob a dominação de um malfeitor, Liberty Valance (Lee Marvin). Eis que chega Ransom Stoddard, jovem advogado idealista, desejoso de fazer respeitar a lei. Sua concepção de legalidade e de justiça se opõe à de Tom Doniphon, um outro durão da localidade, mas simpático e sentimental. Segundo Doniphon, para se livrar de Liberty Valance, é preciso matá-lo. Ele aconselha Stoddard a aprender o manejo das armas. Stoddard se enfurece: ”Que país é este, onde se é obrigado a fazer justiça pelas próprias mãos?” O advogado faz amizade com Dutton Peabody (Edmond O’Brien), o grandiloquente diretor e redator do jornal A Estrela de Shinbone. Peabody denuncia a supremacia dos grandes criadores de gado (para quem Valance trabalha), que ameaçam os humildes fazendeiros. Stoddard alfabetiza crianças e adultos, entre eles Hallie, empregada de um casal de imigrantes suecos donos de uma cantina e Pompey (Woody Strode), o fiel servidor negro de Tom Doniphon. Preparam-se as eleições para designar dois representantes à Convenção Estadual. Liberty Valance se apresenta, mas é derrotado por Stoddard e Peabody. Furioso, Valance desafia Stoddard. Os amigos do advogado aconselham-no a fugir. Valance destrói a redação do jornal e tortura Peabody impiedosamente. Stoddard então decide ficar e enfrentar Valance. Contra toda a expectativa, o bandido cai morto. Hallie aperta Stoddard nos seus braços. Doniphon os vê e compreende que perdeu sua noiva. Ele se embriaga e põe fogo na casa que acabara de construir para Hallie. Na Convenção, Peabody lança a candidatura de Stoddard, porém os adversários políticos o acusam de ter fundado sua reputação sobre a morte de Liberty Valance. Stoddard pensa em voltar para o Leste, porém encontra Doniphon e este lhe revela as circunstãncias verdadeiras do duelo. No momento fatídico, foi ele Doniphon quem atirou  e matou Valance. Stoddard é eleito senador. Ao terminar sua narrativa, um jornalista rasga suas anotações e diz: “No Oeste, quando a realidade se converte em lenda, publicamos a lenda”.

Rodado quase que inteiramente em estúdio, com a ação transcorrendo em um ambiente relativamente confinado, e com dois astros já envelhecidos interpretando personagens bem mais moços do que eles, o filme aborda vários temas que se entrelaçam: a civilização do Oeste e a morte de seus mitos e heróis; as relações entre a força e o direito; uma reflexão sobre a realidade e a lenda; os fundamentos da democracia americana (Peabody, o jornalista e Stoddard, o tribuno, são as duas figuras de proa de uma democracia em marcha).

Ford parece mais preocupado com o que se perdeu do que com o que se ganhou, quando uma cidade do Oeste selvagem entrou na era moderna. Ele reconhece a bravura e o idealismo de um jovem jurista que desperta a responsabilidade cívica contra a ilegalidade e depois, como político, ajuda a apagar os últimos vestígios do barbarismo; porém lamenta claramente o declínio do arquetípico individualista da fronteira. Duas cenas magistrais mostram a “perdição” espiritual de Tom Doniphon: a primeira, quando vemos as lágrimas de Hallie e a sua mão afagando o rosto de Stoddard e Doniphon na soleira da porta, com o coração partido; a segunda cena, quando Doniphon põe fogo na casa, na qual pretendia morar com Hallie, em um acesso de cólera digno de Aquiles.

Quando Stoddard chega em Shinbone, seus livros de direito são tão impotentes quanto ele. Liberty rasga várias páginas e diz,” Vou lhe ensinar lei – a lei do Oeste” e bate nele com o seu chicote. A antítese de Stoddard é Tom Doniphon, um herói violento do sertão cuja posição de respeito na comunidade está sendo minada pela sociedade moderna. Entretanto, Doniphon reconhece a inevitabilidade da mudança e a apóia. Ele parece ter aceito estoicamente o seu desaparecimento, mergulhando no anonimato, quando sonega o fato de que foi ele, e não Stoddard, que realmente matou Liberty Valance.

Já Stoddard sabe quem matou o facínora, e assim, nunca poderá ficar inteiramente à vontade, ao ser aclamado na sua carreira política como o homem que trouxe o progresso para o Oeste. Na cena final, depois de ter colocado a flor de cactus no túmulo de Doniphon, Hallie e Stoddard, a caminho de Washington, refletem sobre esta verdade inquietante, e enquanto o trem cruza os campos gramados, o filme termina com uma nota de melancolia.

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