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ROBERT DONAT

Ele foi o protagonista romântico mais famoso do cinema britânico nos anos 30 e brilhou também em Hollywood, mas como sofria de asma aguda, sua trajetória artística foi curta. Fez apenas 19 filmes.

Robert Donat

Friederich Robert Donat (1905-1958) nasceu em Withington, Manchester, Reino Unido, filho de um engenheiro civil de origem alemã da Prússia e foi educado na Manchester Central Grammar School for Boys. Para lidar com uma forte gagueira, aos 11 anos de idade, tomou lições de dicção com James Bernard, professor de “interpretação dramática”, do qual foi depois secretário, para financiar a continuidade de suas aulas. A libertação do seu embaraço vocal foi um incentivo para seguir a carreia de ator e assim, aos 16 anos, começou a interpretar papéis de peças de Shakespeare e outros clássicos em algumas companhias teatrais itinerantes ou de repertório por toda a Grã-Bretanha.

Seu trabalho foi notado por Alexander Korda que, em 1933, lhe ofereceu um contrato de três anos na sua recém-formada London Fim Productions. Após participar de três filmes de poucos méritos (Man of Tomorrow, That Night in London e Cash), Donat ganhou o papel do amante da rainha Katherine Howard, Thomas Culpepper em A Vida Privada de Henrique VIII / The Private Life of Henry VIII / 1933, grande sucesso com Charles Laughton obtendo um Oscar pela sua interpretação como o soberano britânico.

Donat em A Vida Privada de Henrique VIII

Em 1934 Donat recebeu uma oferta de Hollywood para estrelar O Conde de Monte Cristo / The Count of Monte Cristo e, seguindo o conselho de Korda, aceitou. Seu papel como o célebre personagem de Alexandre Dumas, Edmond Dantès, neste filme muito bem dirigido por Rowland V. Lee, proporcionou-lhe um reconhecimento internacional.

Donat em Conde de Monte Cristo

Donat retornou para a Inglaterra para aparecer em cinco filmes esplêndidos filmados em sequência. Primeiro, ele foi para a Gaumont British, onde interpretou o papel de Richard Hannay em Os 39 Degraus / The Thirty-Nine Steps / 1935 na versão cinematográfica caprichada do romance de John Buchan dirigida por Alfred Hitchcock. Em seguida, voltou a trabalhar para Korda nos seus dois filmes seguintes: Um Fantasma Camarada / The Ghost Goes West / 1935 e O Amor Nasceu do Ódio / Knight Without Armour / 1937, o primeiro filme dirigido por René Clair e o segundo filme por Jacques Feyder.

Donat em Os 39 Degraus

Depois que assinou contrato com a MGM em 1938, o estúdio colocou-o em dois filmes: A Cidadela / The Citadel e Adeus, Mr. Chips / Goodbye Mr. Chips. O primeiro filme, baseado em um romance de A.J. Cronin e dirigido por King Vidor, rendeu-lhe uma indicação para o Oscar, que ele acabou recebendo por sua atuação no segundo filme, baseado em um romance de James Hilton e dirigido por Sam Wood.

Robert Donat e Greer Garson em Adeus Mr. Chips

Quando irrompeu a Segunda Guerra Mundial, Donat foi rejeitado para o serviço militar por motivo de saúde, e a MGM insistiu para que ele viesse para Hollywood, pois havia planejado para ele um filme sobre a vida de Henri Dunant, fundador da Cruz Vermelha. Porém ele se recusou a deixar a Grã-Bretanha, rejeitou todos os projetos de filmes e retornou para o teatro. Então, em 1942, Donat voltou à tela em O Jovem Mr. Pitt / Young Mr.Pitt, de Carol Reed, no papel do político britânico William Pitt, que ascendeu ao cargo de Primeiro Ministro do Reino Unido com 24 anos de idade e fez uma brilhante careira política que ultrapassou a notoriedade de seu pai, William Pitt, o Velho, que assegurou a transformação de seu país em uma potência imperial.

Donat em O Jovem Mr.PItt

Durante grande parte da guerra Donat perseguiu seu sonho de se tornar um ator-gerente no teatro e houve várias brigas e eventualmente ações judiciais com a MGM, que exigia que ele cumprisse seu contrato e fizesse os quatro filmes restantes que lhes devia. Ele eventualmente cumpriu este contrato com dois filmes bastante agradáveis, o drama de espionagem As Aventuras de Tartu / The Adventures of Tartu / 1945 (Dir: Harold S. Bucquet) e o drama romântico em tempo de guerra Longe dos Olhos / Perfect Strangers / 1945 (Dir: Alexander Korda).

Donat em Um Caso de Honra

Após o final da guerra, em Capitão Boycott / Captain Boycott / 1947 (Dir: Frank Launder com Stewart Granger no papel-título, Donat fez uma breve aparição personificando o eminente político irlandês Charles Stewart Parnell. Em seguida foi o advogado arrogante Sir Robert Morton em Um Caso de Honra / The Winslow Boy / 1948; (Dir: Anthony Asquith); o sargento Jack Hardrake em Cure for Love / 1949,  filme que ele mesmo dirigiu; o inventor William Friese-Green; um dos primeiros pioneiros do Cinema em A Caixa Mágica / The Magic Box / 1951 (Dir: John Boulting), um reverendo idoso e moribundo de uma pequena aldeia em Lease of Life / 1954 (Dir: Charles Frend) e finalmente um velho mandarim chinês em A Morada da Sexta Felicidade / The Inn of the Sixth Happiness / 1958 (Dir: Mark Robson), papel que ele completou pouco antes de morrer.

Donat em A Caixa Mágica

Sua última cena neste filme pode ser classificada com uma das mais pungentes da história do cinema. Donat já estava fatalmente doente e trabalhando com muita dificuldade quando, naquele instante em que seu personagem está dizendo adeus a Gladys (Ingrid Bergman), enquanto os mais velhos se preparam para deixar a cidade, ele se virou para a câmera e disse: “não nos encontraremos novamente, eu acho”.

Lillian Gish

Chamada de “The First Lady of the Screen”, ela era a heroína típica do filme silencioso. Lillian Diana Gish (1893-1993) nasceu em Springfield, Ohio, filha de Mary Robinson McConnel e James Leigh Gish. O pai de Lillian Lillian, alcoólatra, abandonou a família; sua mãe tornou-se atriz para sustentá-la.

Lillian Gish

Lilian e sua irmã mais nova, Dorothy, estrearam no palco ainda meninas. De 1903 a1904 trabalharam juntas na peça Her False Step e, no ano seguinte, Lillian dançou numa produção da companhia de Sarah Bernhardt em Nova York. Em 1912, Lillian e Dorothy entraram num nickelodeon e reconheceram na tela sua amiga Gladys Smith, que era chamada nos filmes de Little Mary e se tornara a atriz Mary Pickford. Mary apresentou Lillian e Dorothy a David Wark Griffith e ajudou as irmãs Gish a obter um contrato com o Biograph Studios.

David W. Griffith ladeado pelas irmãs Gish

“Lembro-me de um dia no começo do verão em que atravessava o velho e escuro corredor do estúdio Biograph, quando subitamente as trevas desapareceram. Esta mudança na atmosfera foi causada pela presença de duas adolescentes sentadas lado a lado num banco. Elas eram lourinhas e estavam ternamente enlaçadas. Tenho certeza de que jamais vi uma imagem tão bela. Eram Lillian e Dorothy Gish” (cf. The Movies, Mr. Griffith and me, ed. Prentice-Hall, 1969). Griffith havia ensaiado An Unseen Enemy / 1912 com outras atrizes, mas depois de conhecer as irmãs Gish, decidiu que elas é que eram apropriadas para desempenhar os papéis principais.

Lillian e Dorothy em An Unseen Enemy

Lillian atuou em muitos dos filmes mais aplaudidos de Griffith, entre eles The Birth of a Nation / 1915 (jamais exibido comercialmente no Brasil), Intolerância / Intolerance / 1916, Lírio Partido / Broken Blossoms / 1919, Horizonte Sombrio ou Gente do Sertão / Way Down East / 1920, Orfãs da Tempestade / Orphans of the Storm / 1921.

Lillian e Richard Barthelmess em Lírio Partido

Em 1920 ela dirigiu (sob supervisão de Griffith) sua irmã Dorothy em Remodeling her Husband. Em 1923 atuou, sob direção de Henry King, em A Irmã Branca / The White Sister, filme religioso de muito sucesso (com uma bela cerimonia de tomada do véu quando a heroína resolve ser freira) para a pequena Inspirational Pictures, tendo a seu lado Ronald Colman em início de carreira.

Lillian em A Irmã Branca

Entre 1926 e 1928 Lillian tornou-se uma grande estrela da Metro-Goldwyn- Mayer, onde foi a atriz principal de La Bohème / La Bohème / 1926, formando par romântico com John Gilbert sob direção inspirada de King Vidor e de duas obras-primas do diretor sueco Victor Sjostrom no cinema americano: A Letra Escarlate / The Scarlet Letter /1926 e Vento e Areia / The Wind / 1928, ambos com Lars Hanson no papel principal masculino.

Lillian em A Letra Escarlat

Lillian em Vento e Areia

Lillian fez seu primeiro filme sonoro, Noite de Idílio / One Romantic Night / 1930, comédia romântica da Feature Productions baseada na peça de Ferenc Molnar “The Swan” (que seria refilmada em 1956 com Grace Kelly) e depois deixou a tela por algum tempo, retornando para o palco. Ela atuou com grande êxito em peças como A Dama das Camélias (no papel de Marguerite Gauthier); Tio Vanya (no papel de Helena ao lado de Walter Conolly (Vanya) e Osgood Perkings, pai de Anthony Perkins (Astroff); Hamlet (no papel de Ofélia ao lado de John Gielguld como o príncipe da Dinamarca).

Jennifer Jones e Lilian em Duelo ao Sol

Lilian em O Mensageiro do Diabo

Gish ocasionalmente continuou aparecendo em filmes, entre eles, Os Comandos Atacam de Madrugada / The Commandos Attack at Dawn / 1942, Duelo ao Sol / Duel in the Sun / 1946 (indicada ao Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante), O Mensageiro do Diabo / The Night of the Hunter / 1955, O Passado Não Perdoa / The Unforgiven / 1960, Os Farsantes / The Comedians / 1967, As Baleias de Agosto / The Whales of August / 1987, seu último filme. Ela também foi muito vista na televisão mais notavelmente em Arsenic and Old Lace ao lado de Helen Hayes, versão de Este Mundo é um Hospício, a famosa comédia macabra maluca de Frank Capra.

A longevidade artística (75 anos, 1912-1987) e etária (faleceu aos 99 anos de idade) de Lillian Gish é impressionante. Em 1971, recebeu um prêmio honorário da Academia pelo talento e contribuição ao progresso do Cinema.

Em 1894 recebeu o Lifetime Achievement Award do American Film Institute.

MAX STEINER

De todos os nomes associados com a música de filmes ninguém se destaca mais claramente do que ele. Nascido em Viena, Austria, Maximiliam Raoul Walter Steiner (1888-1971) estudou música com Robert Fuchs, Herman Graedner, Felix Weingartner e Mahler, e na Academia Imperial de Música de seu país natal. Filho e neto de produtores teatrais de origem judaica envolvidos com Johan Strauss e outros compositores de opereta, foi um estudante brilhante de música e, aos onze anos de idade, escreveu uma opereta que ele próprio regeu.

Max Steiner

Aos dezoito anos mudou-se para Londres, aceitando a posição de maestro num teatro e lá ficou até o irromper da guerra em 1914, ocasião em que partiu para Nova York. Seu progresso como arranjador e maestro de musicais na Broadway foi lento, mas seguro e, ao longo da década de vinte, firmou uma boa reputação.

Max Steiner regendo a partitura de KIng Kong

Em 1929 a RKO decidiu filmar o musical Rio Rita de Harry Tierney e Tierney sugeriu que Steiner deveria reger também a versão para o cinema. Este trabalho único tornou-se uma nova carreira, quando a RKO ofereceu a Steiner a posição de diretor musical, com a incumbência de compor música para os intertítulos principais e finais bem como ocasionais “música na tela”. O score que ele compôs para King Kong / King Kong / 1933 representou uma mudança de paradigma na composição de músicas para filmes de fantasia e de aventura. Foi um marco na trilha sonora de filmes  e mostrou o poder que a música tem de manipular as emoções da platéia.

Após trabalhar sete anos na RKO, foi contratado pela Warner Bros. para compor a partitura de A Carga da Brigada Ligeira / The Charge of the Light Brigade / 1936. Seu contrato de longo-termo foi renovado repetidamente e, no decorrer dos próximos trinta anos, Steiner escreveu partituras para mais de cem dos principais filmes do estúdio – as aventuras de Errol Flynn, os dramas de amor de Bette Davis e filmes de gangster povoados por pessoas como James Cagney e Humphrey Bogart. Foi Bette Davis quem disse: “Max sabe mais sobre drama do que qualquer um de nós”. Felizmente ele também possuía o dom de compor lindas melodias de modo que suas partituras eram tão musicalmente atraentes quanto dramaticamente eficazes. Três delas lhe deram o Oscar: O Delator / The Informer / 1935, A Estranha Passageira / Now Voyageur / 1942 e Desde Que Partiste / Since You Went Away / 1944. E houve várias outras indicações: A Alegre Divorciada / The Gay Divorcee / 1934; A Patrulha Perdida / The Lost Patrol / 1934; O Jardim de Allah / The Garden of Allah / 1936; A Carga da Brigada Ligeira / The Charge of the Light Brigade / 1936; A Vida de Emile Zola / The Life of Emile Zola / 1937; Jezebel / Jezebel / 1938; Vitória Amarga / Dark Victory / 1939; … E O Vento Levou / Gone With the Wind / 1939; A Carta / The Letter / 1940; Sargento York / Sergeant York / 1941; Casablanca / Casablanca / 1942; As Aventuras de Mark Twain / The Adventures of Mark Twain / 1944; Rapsódia Azul / Rhapsody in Blue / 1945; Canção Inesquecível / Night and Day / 1946; Nossa Vida com Papai / Life With Father / 1947; Minha Rosa Silvestre / My Wild Irish Rose /1947; Belinda / Johnny Belinda / 1948; A Filha de Satanás / Beyond the Forest / 1949; O Gavião e a Flecha / The Flame and the Arrow / 1950; A Virgem de Fátima / The Miracle of Our Lady of Fatima / 1952; A Nave da Revolta / The Caine Mutiny / 1954; Qual Será Nosso Amanhã? / Battle Cry / 1955.

Steiner ganhou um prêmio internacional no Festival de Veneza de 1948 por sua partitura para O Tesouro de Sierra Madre / The Treasure of Sierra Madre e foi o responsável pela música da obra-prima de John Ford, Rastros de Ódio / The Searchers / 1956. Seus últimos scores foram para Somente os Fracos se Rendem / Those Calloways da Walt Disney Productions e para o filme de horror psicológico 7 Dias de Agonia / Two on the Guillotine da William Conrad Productions, ambos realizados em 1965. A falta de trabalho nos últimos anos de sua vida foi devido ao surgimento de um novo gôsto em matéria de música de filmes. Outra contribuição para a sua carreira em declínio foi a visão deficiente e estado de saúde deteriorado, que o obrigaram a se aposentar.

A contribuição de Max Steiner para a indústria cinematográfica é incomensurável. Ele foi um dos pioneiros da música de filmes e seu trabalho ajudou a moldar a forma pela qual a música é usada nos filmes hoje. Steiner foi o primeiro compositor a usar uma orquestra sinfônica completa em uma partitura e também o primeiro a usar o leit motif ou motivo condutor, espécie de “marca sonora” do personagem ou melhor, um tema musical que se repete frequentemente ao longo de uma obra, associado a um determinado personagem.

Em1937 Steiner compôs aquela fanfarra triunfante que se ouvia, acompanhando o logotipo da Warner Bros, no início da maioria dos filmes deste estúdio. Ela foi usada pela primeira na abertura do filme Nobres sem Fortuna / Tovarich, deliciosa comédia sofisticada com Claudette Colbert e Charles Boyer, dirigida por Anatole Litvak.

Steiner, o Pai da Música de Filme

A filmografia de Max Steiner é descomunal. Deixei de mencioná-la na sua totalidade, para não cansar os leitores. Porém não posso deixar de citar mais alguns filmes como Alma em Suplício / Mildred Pierce / 1945, As Aventuras de Don Juan / The Adventures of Don Juan / 1948 e Vontade Indômita / The Foutainhead / 1949. Sua influência sobre a arte da composição cinematográfica é enorme. Ele é frequentemente referido como “O Pai da Música de Filme”.