Desde a década de dez ele trabalhou praticamente em todo grande estúdio de Hollywood como produtor contratado ou independente. Era um intelectual e executivo de cinema socialmente consciente, que produziu filmes de mensagem provocantes, melodramas brilhantes e uma série de clássicos do cinema americano assim como fracassos notáveis. Suas produções compreendiam desde empreendimentos ambiciosos até rotineiros filmes B, totalizando 65 filmes.
Walter Feuchtwanger (1894-1968) nasceu em San Francisco, filho de Stella (Stettheimer) e Sigmund Feuchtwanger, ambos descendente de famílas judias alemãs que emigraram para os EUA no século dezenove. Wanger estudou no Darthmouth College em Hannover, New Hampshire, onde foi um dos fundadores do Darthmouth Laboratory Theatre. Depois de sair da universidade, Wanger tornou-se produtor teatral profissional em Nova York, trabalhando com Harley Granville-Barker, figura importante do teatro britânico e a atriz russa Alla Nazimova.
Foi durante a Primeira Guerra Mundial que Wanger teve seu primeiro contato com a realização de filmes, quando serviu no Committtee on Public Information, onde foram realizados curtas metragens de propaganda com a finalidade de promover a democracia e os objetivos de guerra com a Itália aliada. Depois de ter visto os efeitos decisivos destes shorts sobre a opinião pública, decidiu se tornar produtor de filmes.
Após o fim do conflito mundial, Wanger casou-se em 1919 com a atriz Justine Johnstone e retornou à produção teatral, chamando a atenção de Jesse Lasky, que o convidou para assumir o escritório em Nova York da Famous Players-Lasky (mais tarde denominada Paramount), encarregado de escolher e adquirir livros e peças que pudessem ser usadas como histórias para filmes. Um de seus maiores êxitos nesta função foi sua escolha do romance britânico The Sheik, que serviu de base para um grande sucesso estrelado por Rudolph Valentino.
Em 1921, descontente com os termos de seu contrato, Wanger deixou a Paramount e foi para Inglaterra, onde atuou com produtor de cinema e teatro até 1924, quando Lasky lhe ofereceu o cargo de gerente geral da produção e melhores condições e ele aceitou, passando a trabalhar mais de perto com o Astoria Studios no Queens. Quando surgiu o cinema sonoro, convenceu seus colegas da importância do som, mas face aos efeitos da Grande Depressão de 1929, o Astoria Studios foi fechado e Wanger informado de que seu contrato não seria renovado.
Depois de sair da Paramount, tentou em vão se definir como produtor independente, mas incapaz de conseguir financiamento para seus projetos de filmes, ingressou na Columbia Pictures em 1931, recrutado por um de seus fundadores, Harry Cohn, que desejava produzir filmes mais caros, visando tornar seu estúdio mais importante. Entretanto seus esforços foram ofuscados pelos filmes de maior sucesso realizados por Frank Capra para o estúdio. Depois que saiu da Columbia, trabalhou como produtor associado em dois filmes de sucesso da Metro-Goldwyn-Mayer, Rainha Cristina / Queen Cristina / 1933 de Rouben Mamoulian e O Despertar de uma Nação / Gabriel Over the White House / 1933 de Gregory La Cava.
Já consagrado como um produtor de Hollywood, Wanger lançou-se mais uma vez como produtor independente (na verdade semi-independente, porque dependia da cooperação com os estúdios) com a sua Walter Wanger Productions, realizando filmes como No Tempo das Diligências / Stagecoach / 1939 de John Ford e Correspondente Estrangeiro / Foreign Correspondent / 1940 de Alfred Hitchcock, ambos distribuídos pela United Artists.
Wanger produziu também vários filmes para a Paramount, inclusive o primeiro filme em Technicolor filmado em exteriores, Amor e Ódio na Floresta / The Trail of the Lonesome Pine / 1936 (Dir: Henry Hathaway) e, para a Universal, introduziu o Technicolor na produção de A Rainha do Nilo / Arabian Nights / 1942 (Dir: John Rawlins), além de produzir outros sucessos como Esquadrão de Águias / Eagle Squadron / 1941 (Dir: Arthur Lubin), filme de combate típico da Segunda Guerra Mundial, que deu um lucro fabuloso. Em 1945 Wanger criou com sua segunda esposa Joan Bennett e o diretor Fritz Lang a Diana Productions e produziu para a Universal Almas Perversas / Scarlet Street / 1945 e O Segredo da Porta Fechada / Secret Beyond the Door / 1947, ambos dirigidos por Fritz Lang e estrelados por Bennett.
Joana D’Arc / Joan of Arc / 1948 (Dir: Victor Fleming) foi o primeiro filme de Wanger totalmente independente, produzido pela Sierra Pictures (formada por Wanger, a atriz Ingrid Bergman e o diretor Victor Fleming) e distribuído pela RKO Radio. Apesar da sincera interpretação de Ingrid Bergman, do eficiente elenco de apoio e dos Oscars pela fotografia e pelos figurinos, o filme foi um desastre de público e de crítica.
Em 1951 Wanger ganhou as manchetes dos jornais por ter participado de um dos maiores escândalos de Hollywod. No dia 13 de dezembro, uma sexta-feira, às 2.30 hs da tarde, ele avistou o Cadillac de sua esposa Joan num estacionamento em Beverly Hills e resolveu aguardar o retôrno dela. Wanger já desconfiava da fidelidade de Joan e um detetive particular havia confirmado que ela estava tendo um caso com seu agente, Jennings Lang. Quando os dois amantes chegaram, Wanger e Lang tiveram uma discussão violenta e Wanger deu dois tiros em Lang. Um se extraviou contra o carro; o outro atingiu Lang na virilha e ele caiu em agonia no chão. Lang foi operado de emergência num hospital e Wanger levado imediatamente sob custódia policial. Aconselhado por seu advogado, Wanger declarou-se inocente por motivo de insanidade temporária e conseguiu ser condenado apenas a quatro meses de prisão na prisão-fazenda Castaic Honor Farm perto de Los Angeles. O casal Wanger-Bennett continuou junto até o divórcio em 1965.
As duas melhores produções de Wanger na década de cinquenta foram os dois filmes B que fez para a Allied Artists, Rebelião no Presídio / Riot in Cell Block 11 / 1954, filme de prisão vigoroso abordando com reaslimo questões sociais e Vampiros de Almas / Invasion of the Body Snatchers / 1956, um clássico do cinema de ficção científica, ambos dirigidos por Don Siegel.
Em 1958, convidado para trabalhar na Figaro, companhia independente fundada por seu velho conhecido Joseph L. Mankiewicz, para produzir filmes que seriam distribuídos pela United Artists, Wanger contribuiu para o êxito de Quero Viver! / I Want to Live, drama criminal baseado em fatos reais e com uma forte mensagem contra a pena de morte, dirigido por Robert Wise e tendo Susan Hayward como Barbara Graham, criminosa executada na câmera de gás da penitenciária de San Quentin por cumplicidade no assassinato de uma viúva durante uma tentativa de assalto. O filme deixa transparecer que Barbara teria sido inocente e condenada por seu passado no submundo do crime, apesar de dúvidas sobre a sua culpa naquele caso. Hayward ganhou o Oscar de Melhor Atriz.
O último serviço prestado por Wanger, desta vez como produtor contratado da 20thCentury-Fox, foi em Cleopatra / Cleopatra / 1963, superespetáculo que quase levou este estúdio, à falência. Com orçamento previsto para um milhão e duzentos mil dólares, acabou custando pouco mais de 40 milhões. E, mesmo sendo uma das maiores bilheterias do ano, não havia como recuperar o investimento. Sob o aspecto artístico, Cleopatra recebeu vários Oscars (fotografia em cores, direção de arte em cores, figurinos em cores, efeitos especiais). Wanger encerrou sua carreira e veio a falecer em 18 de novembro de 1968, aos 74 anos de idade, vítima de um ataque cardíaco.