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WALTER WANGER

Desde a década de dez ele trabalhou praticamente em todo grande estúdio de Hollywood como produtor contratado ou independente. Era um intelectual e executivo de cinema socialmente consciente, que produziu filmes de mensagem provocantes, melodramas brilhantes e uma série de clássicos do cinema americano assim como fracassos notáveis. Suas produções compreendiam desde empreendimentos ambiciosos até rotineiros filmes B, totalizando 65 filmes.

Walter Wanger

Walter Feuchtwanger (1894-1968) nasceu em San Francisco, filho de Stella (Stettheimer) e Sigmund Feuchtwanger, ambos descendente de famílas judias alemãs que emigraram para os EUA no século dezenove. Wanger estudou no Darthmouth College em Hannover, New Hampshire, onde foi um dos fundadores do Darthmouth Laboratory Theatre. Depois de sair da universidade, Wanger tornou-se produtor teatral profissional em Nova York, trabalhando com Harley Granville-Barker, figura importante do teatro britânico e a atriz russa Alla Nazimova.

Foi durante a Primeira Guerra Mundial que Wanger teve seu primeiro contato com a realização de filmes, quando serviu no Committtee on Public Information, onde foram realizados curtas metragens de propaganda com a finalidade de promover a democracia e os objetivos de guerra com a Itália aliada. Depois de ter visto os efeitos decisivos destes shorts sobre a opinião pública, decidiu se tornar produtor de filmes.

Após o fim do conflito mundial, Wanger casou-se em 1919 com a atriz Justine Johnstone e retornou à produção teatral, chamando a atenção de Jesse Lasky, que o convidou para assumir o escritório em Nova York da Famous Players-Lasky (mais tarde denominada Paramount), encarregado de escolher e adquirir livros e peças que pudessem ser usadas como histórias para filmes. Um de seus maiores êxitos nesta função foi sua escolha do romance britânico The Sheik, que serviu de base para um grande sucesso estrelado por Rudolph Valentino.

Em 1921, descontente com os termos de seu contrato, Wanger deixou a Paramount e foi para Inglaterra, onde atuou com produtor de cinema e teatro até 1924, quando Lasky lhe ofereceu o cargo de gerente geral da produção e melhores condições e ele aceitou, passando a trabalhar mais de perto com o Astoria Studios no Queens. Quando surgiu o cinema sonoro, convenceu seus colegas da importância do som, mas face aos efeitos da Grande Depressão de 1929, o Astoria Studios foi fechado e Wanger informado de que seu contrato não seria renovado.

Depois de sair da Paramount, tentou em vão se definir como produtor independente, mas incapaz de conseguir financiamento para seus projetos de filmes, ingressou na Columbia Pictures em 1931, recrutado por um de seus fundadores, Harry Cohn, que desejava produzir filmes mais caros, visando tornar seu estúdio mais importante. Entretanto seus esforços foram ofuscados pelos filmes de maior sucesso realizados por Frank Capra para o estúdio. Depois que saiu da Columbia, trabalhou como produtor associado em dois filmes de sucesso da Metro-Goldwyn-Mayer, Rainha Cristina / Queen Cristina / 1933 de Rouben Mamoulian e O Despertar de uma Nação / Gabriel Over the White House / 1933 de Gregory La Cava.

Greta Garbo em Rainha Cristina

Já consagrado como um produtor de Hollywood, Wanger lançou-se mais uma vez como produtor independente (na verdade semi-independente, porque dependia da cooperação com os estúdios) com a sua Walter Wanger Productions, realizando filmes como No Tempo das Diligências / Stagecoach / 1939 de John Ford e Correspondente Estrangeiro / Foreign Correspondent / 1940 de Alfred Hitchcock, ambos distribuídos pela United Artists.

Wanger produziu também vários filmes para a Paramount, inclusive o primeiro filme em Technicolor filmado em exteriores, Amor e Ódio na Floresta / The Trail of the Lonesome Pine / 1936 (Dir: Henry Hathaway) e, para a Universal, introduziu o Technicolor na produção de A Rainha do Nilo / Arabian Nights / 1942 (Dir: John Rawlins), além de produzir outros sucessos como Esquadrão de Águias / Eagle Squadron / 1941 (Dir: Arthur Lubin), filme de combate típico da Segunda Guerra Mundial, que deu um lucro fabuloso. Em 1945 Wanger criou com sua segunda esposa Joan Bennett e o diretor Fritz Lang a Diana Productions e produziu para a Universal Almas Perversas / Scarlet Street / 1945 e O Segredo da Porta Fechada / Secret Beyond the Door / 1947, ambos dirigidos por Fritz Lang e estrelados por Bennett.

Joana D’Arc / Joan of Arc / 1948 (Dir: Victor Fleming) foi o primeiro filme de Wanger totalmente independente, produzido pela Sierra Pictures (formada por Wanger, a atriz Ingrid Bergman e o diretor Victor Fleming) e distribuído pela RKO Radio. Apesar da sincera interpretação de Ingrid Bergman, do eficiente elenco de apoio e dos Oscars pela fotografia e pelos figurinos, o filme foi um desastre de público e de crítica.

Joan Bennett e Walter Wanger

Em 1951 Wanger ganhou as manchetes dos jornais por ter participado de um dos maiores escândalos de Hollywod. No dia 13 de dezembro, uma sexta-feira, às 2.30 hs da tarde, ele avistou o Cadillac de sua esposa Joan num estacionamento em Beverly Hills e resolveu aguardar o retôrno dela. Wanger já desconfiava da fidelidade de Joan e um detetive particular havia confirmado que ela estava tendo um caso com seu agente, Jennings Lang. Quando os dois amantes chegaram, Wanger e Lang tiveram uma discussão violenta e Wanger deu dois tiros em Lang. Um se extraviou contra o carro; o outro atingiu Lang na virilha e ele caiu em agonia no chão. Lang foi operado de emergência num hospital e Wanger levado imediatamente sob custódia policial. Aconselhado por seu advogado, Wanger declarou-se inocente por motivo de insanidade temporária e conseguiu ser condenado apenas a quatro meses de prisão na prisão-fazenda Castaic Honor Farm perto de Los Angeles. O casal Wanger-Bennett continuou junto até o divórcio em 1965.

As duas melhores produções de Wanger na década de cinquenta foram os dois filmes B que fez para a Allied Artists, Rebelião no Presídio / Riot in Cell Block 11 / 1954, filme de prisão vigoroso abordando com reaslimo questões sociais e Vampiros de Almas / Invasion of the Body Snatchers / 1956, um clássico do cinema de ficção científica, ambos dirigidos por Don Siegel.

Susan Hayward em Quero Viver!

Em 1958, convidado para trabalhar na Figaro, companhia independente fundada por seu velho conhecido Joseph L. Mankiewicz, para produzir filmes que seriam distribuídos pela United Artists, Wanger contribuiu para o êxito de Quero Viver! / I Want to Live, drama criminal baseado em fatos reais e com uma forte mensagem contra a pena de morte, dirigido por Robert Wise e tendo Susan Hayward como Barbara Graham, criminosa executada na câmera de gás da penitenciária de San Quentin por cumplicidade no assassinato de uma viúva durante uma tentativa de assalto. O filme deixa transparecer que Barbara teria sido inocente e condenada por seu passado no submundo do crime, apesar de dúvidas sobre a sua culpa naquele caso. Hayward ganhou o Oscar de Melhor Atriz.

Elizabeth Taylor em Cleopatra

O último serviço prestado por Wanger, desta vez como produtor contratado da 20thCentury-Fox, foi em Cleopatra / Cleopatra / 1963, superespetáculo que quase levou este estúdio, à falência. Com orçamento previsto para um milhão e duzentos mil dólares, acabou custando pouco mais de 40 milhões. E, mesmo sendo uma das maiores bilheterias do ano, não havia como recuperar o investimento. Sob o aspecto artístico, Cleopatra recebeu vários Oscars (fotografia em cores, direção de arte em cores, figurinos em cores, efeitos especiais). Wanger encerrou sua carreira e veio a falecer em 18 de novembro de 1968, aos 74 anos de idade, vítima de um ataque cardíaco.

RELEMBRANDO A ÉPOCA DE OURO DO TEATRO BRASILEIRO

Como ainda não havia nascido, não pude conhecer o Teatro no tempo em que as companhias se formavam centradas em atores estelares, tais como, principalmente, Raoul Roulien, Leopoldo Fróes, Procópio Ferreira, Jaime Costa e o casal Dulcina-Odilon. Era o chamado Teatro do Ator, chamado de “velho teatro” pelo crítico e historiador teatral Décio de Almeida Prado. A orientação geral do espetáculo, visto que não existia a figura do encenador, era dada pelo ensaiador, que era quem traçava a mecânica cênica, quem fazia a marcação para os atores. Roulien só o ví no cinema pelo dvd em Voando para o Rio / Flying Down to Rio / 1933 comédia romântico-musical estrelada por Ginger Rogers e Fred Astaire. Fróes, só conhecí de nome através de meu pai, que me falava sempre dos seus sucessos como Flores de Sombra de Cláudio de Souza e o Simpático Jeremias de Gastão Tojeiro. Apenas lí a biografia de R. Magalhães Junior, “As Mil e Uma Vidas de Leopoldo Fróes” e notícias sobre o filme Minha Noite de Núpcias / 1931, versão portuguesa de Her Wedding Night / 1930, com Clara Bow e Ralph Forbes, que ele fez ao lado da graciosa atriz portuguesa Beatriz Costa.

Leopoldo Froes

Nunca ví Procópio no palco de um teatro, por exemplo, no seu grande sucesso Deus lhe Pague de Joracy Camargo. Comecei a admirá-lo, graças ao dvd, em filmes como O Comprador de Fazendas / 1951, no qual formou uma dupla impagável com Henriette Morineau, Quem Matou Anabela / 1956 como o Comissário Ramos que investiga o caso do assassinato de uma bela bailarina, e em outras aparições suas na tela.

Henriette Morineau e Procópio Ferreira no filme O Comprador de Fazendas

Jaime Costa em Minha Querida Lady

Já com relação a Jaime Costa, nunca me conformei, pelo fato de ser menor de idade, de ter perdido sua festejada atuação em A Morte do Caixeiro Viajante de Arthur Miller; mas alguns anos depois eu o aplaudí, ao vê-lo cantando no tablado do Teatro Carlos Gomes como Alfred Doolittle, pai de Eliza (Bibi Ferreira) no musical Minha Querida Lady. Pelo dvd eu o ví como o vigarista e mulherengo Nhonhô em Pensão de D. Estela / 1956 e como o corrupto Prefeito Luis Bentes na comédia da Vera Cruz Osso, Amor e Papagaios / 1957, baseado no conto “A Nova Califórnia” de Lima Barreto. Gostaria de ter visto A Ceia dos Cardeais de Julio Dantas, dirigida por Bibi Ferreira em 1955, na qual três cardeais, um francês (Sergio Cardoso), um português (Jaime Costa) e um espanhol (João Villaret) recordam os seus amores de juventude. Eu havia lido a peça e adoraria ouvir Jaime Costa dizendo: “Em como é diferente o amor em Portugal!”

Dulcina em Chuva

Dulcina e Odilon tampouco os assistí num teatro. Que tristeza, não ter podido ver Chuva, adaptação da famosa peça “Rain”, de John Colton e Clemence Randolph, baseada num conto de Somerset Maugham, no qual Dulcina interpretava Sadie Thompson, papel que ficaria para sempre ligado ao seu nome. Apresentada no Teatro Municipal, teve um sucesso estrondoso. Conhecí a peça pelo cinema, nas três versões (Sedução do Pecado / 1928 com Gloria Swanson, O Pecado da Carne / 1932 com Joan Crawford, A Mulher de Satã / 1953 com Rita Hayworth) e o casal de atores brasileiros na comédia romântica da Cinédia, 24 Horas de Sonho / 1941, graças à bendita preservação ordenada por Alice Gonzaga

Não posso me esquecer de Eva Todor e de Bibi Ferreira. Em torno de Eva girava sua companhia, Eva e Seus Artistas, fundada por seu primeiro marido Luiz Iglezias em 1940 e que teve entre seus sucessos a peça Os Gregos eram Assim, de Iglezias, encenada em 1949 no Teatro Serrador. Muito mais tarde Eva ganharia o Prêmio Molière por seu papel em De Olho na Amélia (Occupe-toi d’ Amélie) de Georges Feydeau, que eu vi somente no cinema com Danielle Darrieux sob o título em português de Meu Amigo, Amélia e Eu. Mas Eva no teatro também nunca pude ver.

Bibi Ferreira em A Herdeira

Bibi, por sua vez, comandava a Companhia Bibi Ferreira, estreada em 1944 no Teatro Phoenix com a peça Sétimo Céu (Seventh Heaven) de Austin Strong, que eu só fui conhecer pelo cinema nas versões de 1927 e 1937 estreladas respectivamente por Janet Gaynor e Charles Farrell e Simone Simon e James Stewart. Bibi alcançou um grande sucesso com A Herdeira (The Heiress), peça de Ruth e Augustus Goetz, baseada no romance Washington Square de Henry James, que lhe deu o Prêmio de Melhor Atriz de 1952 pela Associação de Críticos de Teatro. Conhecí a peça pelo cinema, no filme de William Wyler, Tarde Demais / 1949 com Olivia de Havilland em magnífica atuação. Mas como gostaria de ter visto Bibi no mesmo papel!

Vestido de Noiva

Estes espetáculos confiados ao brilho dos astros estavam, como já disse, nas mãos de ensaiadores, e eles não dispunham de tempo para fazer longos ensaios. Foi o grupo amador carioca Os Comediantes o responsável pela modificação desse panorama, ao acolher o diretor polonês Ziembinski, foragido da Segunda Grande Guerra. Sua contribuição decisiva deu-se com a estréia do Vestido de Noiva de Nelson Rodrigues, em 1943. Como observou Sábato Magaldi (Depois do Espetáculo, ed. Perspectiva, 2003), “ele enfeixou nas mãos o conjunto do espetáculo, cuidando harmoniosamente de todos os desempenhos, da renovadora cenografia de Santa Rosa e da centena e meia de efeitos de luz. Malgrado a grande qualidade do texto, que se tornaria marco da nossa literatura dramática, a tônica passou a ser a da encenação”. Não pude estar presente na estréia da peça no Teatro Municipal, pois ainda era um menino. Que pena não ter visto também outras encenações de Os Comediantes como, por exemplo, Jardel Filho em Desejo de Eugene O´Neill, que Ziembinski dirigiu em 1946 e Graça Mello em Massacre de Emmanuel Roblés, que o próprio Graça dirigiu em 1951. E também a versão de Vestido de Noiva de 1947 com Maria Della Costa (Alaide), Cacilda Becker (Lúcia) e Olga Navarro, outra grande atriz do nosso teatro, no papel de Madame Clessi.

Paulo Porto e Sonia Oiticica em Romeu e Julieta

Sergio Cardoso em Hamlet

Esta renovação teatral fora iniciada a partir de 1938 com a apresentação de Romeu e Julieta, sob direção de Itália Fausta, à frente do Teatro do Estudante do Brasil, criado por Paschoal Carlos Magno, com Paulo Porto como Romeu e Sonia Oiticica como Julieta. Em 1952, Paschoal inaugurou em sua própria casa em Santa Teresa o Teatro Duse, que revelou grandes atores, diretores, cenógrafos, etc. Um deles foi Sergio Cardoso no seu memorável Hamlet. Todos estes espetáculos eu lamentavelmente por causa de minha menoridade, estava impossibilitado de ver.

Ítalo Rossi em pé em A Casa de Chá do Luar de Agosto

Em 1948, o industrial italiano Franco Zampari fundou em São Paulo o Teatro Brasileiro de Comédia, que consolidou a fase de hegemonia do encenador, reunindo encenadores italianos como Adolfo Celi, Ruggero Jacobi, Luciano Salce, Flaminio Bollini Cerri, Gianni Ratto e Alberto D’Aversa, o polonês Ziembinski e o belga Maurice Vaneau. O TBC organizou definitivamente a estrutura profissional do teatro brasileiro, colocou os espectadores em contato com um nível superior de dramaturgia e formou grande número de intérpretes, que depois saíram de suas fileiras para organizarem companhias nos mesmos moldes. Por lá passaram Cacilda Becker, Sérgio Cardoso, Paulo Autran, Madalena Nicol, Nydia Lícia, Tônia Carrero, Walmor Chagas, Cleyde Yáconis, Margarida Rey, Sérgio Britto, Teresa Rachel, Nathalia Timberg, Jardel Filho, Ítalo Rossi, Fernanda Montenegro, Paulo Autran, Leonardo Vilar, Juca de Oliveira, Fredi Kleemann, Maria Della Costa, Célia Biar, Luis Linhares, Benedito Corsi, Fernando Torres, Mauro Mendonça, Rubens de Falco, Raul Cortez, Francisco Cuoco, Sady Cabral, Waldemar Wey, Mauricio Barroso, Marina Freire, Ruy Afonso, Carlos Vergueiro, Stênio Garcia, Kléber Macedo e muitos outros atores notáveis. Ví apenas duas peças do TBC: A Casa de Chá do Luar de Agosto, de John Patrick dirigida por Maurice Vaneau e Maria Stuart de Friedrich Schiller, traduzida por Manuel Bandeira e dirigida por Ziembinsky. Da primeira peça lembro-me muito da atuação de Ítalo Rossi como o japonês Sakini, um protagonista maravilhoso que depois seria vivido no cinema por Marlon Brando. Da segunda peça guardo na memória o encontro entre Elizabeth da Inglaterra (Cleyde Yaconis) e Mary Stuart (Cacilda Becker) em um parque, quando Maria se humilha, para regozijo de Elizabeth, mas depois recupera a altivez e insulta a prima, chamando-a de bastarda.

Cacilda Becker em Pega-Fogo

Mas como eu gostaria de ter visto Cacilda como Pega-Fogo, o menino de cabelos vermelhos, que na peça de Jules Renard tinha o apelido de Poil de Carotte!  Conheço esta obra pelo filme de Julien Duvivier de 1932, que no Brasil intitulou-se Pinga-Fogo e tinha Robert Lynen como o menino e Harry Baur no papel do pai que, na encenação brasileira, coube a Ziembinski. Ví Cacilda em Luz dos Meus Olhos / 1947 e em Floradas na Serra / 1954, filmes cujas cópias em dvd conservo com carinho. Lastimávelmente deixei de vê-la no palco como a Enteada, Sergio Cardoso como o Pai e Paulo Autran como o diretor em Seis Personagens à Procura de um Autor de Pirandello sob direção de Adolfo Celi.

Paul Autran, Cacilda Becker e Sergio Cardoso em Seis Personagens à Procura de um Autor

Como assinalou Magaldi, a estética do Teatro Brasileiro de Comédia prevaleceu nos diversos grupos que se desdobraram dele: a Cia. Nydia Licia-Sergio Cardoso, a Cia. Tonia-Celi- Autran, o Teatro Cacilda Becker, o Teatro dos Sete, e o Teatro Maria Della Costa que depois se denominou Teatro Popular de Arte (TPA), onde ocorreu a primeira montagem profissional de um texto de Berthold Brecht no Brasil com A Alma Boa de Se-Tsuan.

Mas lembro que, com idêntica proposta surgira anteriormente a Companhia dos Artistas Unidos, fundada por Carlos Brant em parceria com Henriette Morineau e que trouxe grandes espetáculos como por exemplo, O Pecado Original (Les Parents Terribles) de Jean Cocteau, apresentado no Teatro Fenix em 1946 e que pude ver muito mais tarde pelo dvd do filme com Jean Marais e Yvonne De Bray.

Oscar Felipe e Henriette Morineau em Pecado Original

Em 1953 Paulo Goulart e Nicette Bruno fundaram a Companhia Teatro Íntimo Nicette Bruno, mas só vi Nicette no palco na peça Pedro Mico de Antonio Callado ao lado de Milton Moraes no Teatro Nacional de Comédia em 1957. Em 1958 foi inaugurado o Teatro Mesbla com a peça Calúnia de Lilian Hellman com Tonia Carrero, Margarida Rey e Helena Xavier, que só conheci pelo cinema nas versões These Three / 1936 e The Children´s Hour / 1961, dirigidas por William Wyler, recebendo ambas o mesmo título em português de Infâmia.

Abdias do Nascimento e Cacilda Becker em Otelo

Abdias do Nascimento e Ruth de Souza em Otelo

Assistí inúmeras peças do Teatro de Arena, fundado em 1953 em São Paulo, tendo à frente José Renato, o ator/diretor Geraldo Mateus, atrizes como Eva Wilma e Monah Delacy, dramaturgos como Gianfrancesco Guarnieri e Oduvaldo Viana Filho, novos talentos como Flávio Migliaccio e Milton Gonçalves; porém nunca pude ver uma encenação do Teatro Oficina de São Paulo sob a responsabilidade de José Celso Martinez Corrêa nem qualquer manifestação do Teatro do Oprimido de Augusto Boal ou do Grupo Opinião. Também não vi nada do Teatro Experimental do Negro (TEN), fundado por Abdias do Nascimento em 1944, cuja estréia se deu com a montagem de O Imperador Jones de Eugene O’Neill. Gostaria de ter visto Othelo com Cacilda Becker como Desdêmona e Abdias como o Mouro de Veneza na encenação de uma cena da peça em 1946 na comemoração do 2º aniversário do TEN  e também Ruth de Souza com ele, fazendo outra cena no Festival Shakespeare, organizado por Pachoal Carlos Magno em 1949.

Pluft, o Fantasminha

Não posso deixar de citar o excelente trabalho de Maria Clara Machado (minha vizinha em Ipanema) fundadora e diretora artística do Tablado, autora de peças infantís deliciosas como Pluft, o Fantasminha, responsável também pela produção de espetáculos, publicação dos Cadernos de Teatro e formação de várias gerações de atores. Outra escola de teatro importante foi a Escola de Arte Dramática de São Paulo (EAD), criada por Alfredo Mesquita em 1948.

Procópio Ferreira em Esta Noite Choveu Prata

Recordo-me de que nos anos quarenta Silveira Sampaio inaugurou em Ipanema o Teatrinho de Bolso e, nos anos sessenta, Aurimar Rocha abriu outro no Leblon, os quais eu frequentei; de que não fiz questão de ver o monólogo de Pedro Bloch, As Mãos de Eurídice, grande sucesso de Rodolfo Mayer, mas sentí muito não ter visto o monólogo Esta Noite Choveu Prata, na qual três personagens (um português, um italiano, um velho ator), eram interpretados pelo mesmo ator: Procópio Ferreira; de que pude assistir  Édipo Rei de Sófocles com Paulo Autran e Cleyde Yáconis sob direção de Flavio Rangel

Lembro-me das peças que vi do Teatro Nacional de Comédia, companhia criada pelo Serviço Nacional de Teatro como As Guerras do Alecrim e da Manjerona de Antonio José da Silva, o judeu sob direção de Gianni Ratto e com cenários de Millôr Fernandes; o já citado Pedro Mico sob direção de Paulo Francis e com cenários de Oscar Niemeyer; as Três Irmãs de Anton Tchecov sob direção de Ziembinski e as atrizes Glauce Rocha, Vanda Lacerda e Elisabeth Galotti.

Sergio Britto, Claudio Corrêa e Castro, , Fernanda Montenegro e Ítalo Rossi em Beijo no Asfalto

Guardo ainda um livro com o texto de Beijo no Asfalto de Nelson Rodrigues (apresentado pelo Teatro dos Sete no Teatro Ginástico em 1961), valorizado pelos autógrafos de Fernanda Montenegro, Sergio Brito e Nelson Rodrigues e me recordo sempre da primeira produção do grupo no Municipal em 1959, O Mambembe, a burleta de Arthur Azevedo e José Piza, com direção e cenários de Gianni Ratto e figurinos de Napoleão Muniz Freire, que assistí da última fila da galeria. Fiquei emocionado com o arrrebatamento do público, que aplaudia cada final de cena, cada final de ato e, depois dos numerosos agradecimentos, não ia embora do teatro.

 

Fernanda Montenegro e Sergio Britto em O Mambembe

Othon Bastos em O Jardim das Cerejeiras

Outra peça inesquecível para mim foi O Jardim das Cerejeiras  de Anton Tchecov, encenada no Teatro dos 4 de Sergio Britto, Paulo Mamede e Mimina Roveda. Assistí esta peça (dirigida por Mamede) na primeira fila deste teatro e fiquei frente a frente com Othon Bastos quando ele, interpretando o comerciante Lopakhin, exulta-se com aquela sua voz potente, com a aquisição da propriedade onde seu pai havia sido servo. Recordo-me perfeitamente daquele final com Firs (José Lewgoy), o velho criado esquecido pelos antigos patrões, dizendo: “Foram-se embora … Esqueceram-me aqui. Não faz mal… A Vida passou … como seu eu nem tivesse vivido”. Entretanto nunca me perdoei por ter perdido O Rei Lear de William Shakespeare, sob direção de Celso Nunes e com um elenco soberbo do qual faziam parte Sergio Britto, Yara Amaral, Ariclé Perez, Fernanda Torres, Paulo Goulart, Ary Fontoura, José Mayer e Ney Latorraca. Obtive apenas um exemplar do programa que Sergio Britto, meu vizinho no Leblon com quem trocava dvs de filmes raros, valorizou com uma linda dedicatória.

Fernanda Torres e Sergio Britto em Rei Lear

Outro espetáculo teatral que muito me impressionou foi Marat/Sade (A Perseguição e Assassinato de Jean-Paul Marat encenado pelos internos do Hospício de Charenton sob direção do Senhor de Sade), peça que vi durante minha lua-de-mel no Teatro Bela Vista, São Paulo, maravilhosamente dirigida em 1967 por Ademar Guerra e com um elenco encabeçado por Armando Bogus (Marat) e Rubens Corrêa (Sade). Quando os espectadores estavam ainda entrando na sala e procurando seus lugares, os loucos do hospício já estavam em cena, provocando um grande impacto visual, principalmente quando pulavam furiosos atrás das grades.  E o desempenho de Rubens Corrêa mantendo o tempo todo aquele chiado de asmático era algo formidável em termos de composição do personagem.

Programa de Marat-Sade

Infelizmente não presenciei os trabalhos do Teatro Ipanema (Rubens Corrêa e Ivan de Albuquerque); do Centro de Pesquisa Teatral (CPT) de Antunes Filho; do Teatro Ruth Escobar; do Teatro Thereza Raquel, e de outros grupos ou nomes consagrados nos nossos palcos. Lamentei não ter assistido Maria Fernanda como Blanche Dubois em Um Bonde Chamado Desejo de Tennessee Williams, dirigida por Flávio Rangel. Teria sido muito interessante comparar seu desempenho com o de Vivian Leigh no cinema.

Othon Bastos e Maria Fernanda em Um Bonde Chamado Desejo

Encerro aqui meu saudosismo. Os leitores mais familiarizados com o estudo do Teatro vão certamente notar que alguns grupos, atores e diretores ficaram de fora deste artigo, bem como o teatro de revista, mas é preciso explicar que ele não teve um propósito exaustivo, mas simplesmente nostálgico. Escreví somente sobre algumas peças da Época de Ouro do Teatro Brasileiro que eu vi e sobre as que eu não vi, confiando na minha memória e confirmando as datas de apresentação das peças em várias fontes.

JOANA D´ARC NO CINEMA E NA TV

Aos 17 anos de idade esta jovem camponesa nascida em Donrémy no nordeste da França, comandou um exército e levantou o cerco de Orléans durante a Guerra dos Cem Anos. Em seis meses, sua campanha culmina com a coroação de Carlos VII em Reims, o qual a abandonou mais tarde nas mãos dos ingleses, que a compraram por dez mil escudos, por intermédio do bispo Cauchon, que presidiu o julgamento. Após o processo iníquo em Ruão, foi condenada à fogueira e suas cinzas jogadas ao rio. Muito mais tarde foi canonizada.

Este destino fulgurante e trágico de uma pastora (1412-1431) inspirou canções, poetas, pintores, escultores, dramaturgos e cineastas. Nos primórdios do cinema tivemos as versões de Georges Hatot (Jeanne D’Arc / 1898); George Méliès (Jeanne D’Arc /1899); Albert Capellani (La Vie de Jeanne D’Arc / 1908) com Léontine Massart (Joana); Mario Caserini (Giovana d’Arco / 1908) com Maria Caserini (Joana); e Nino Oxilia (Giovana d’Arco / 1913) com Maria Jacobini (Joana).

Joan the Woman

Em 1917, Joana D’Arc, a Donzela de Orleans / Joan the Woman de Cecil B. DeMille, com a cantora de ópera Geraldine Farrar, alternava cenas da guerra de 14 com a história das vitórias e do martírio da Joana. Apesar do evidente propósito de propaganda a favor dos aliados e dos elementos fantasistas no roteiro elaborado por Jeanie Macpherson, o filme tinha exaltação espiritual e belas cenas coloridas à mão. Além disso, trazia contribuições importantes para a evolução da técnica cinematográfica como, por exemplo, a utilização da profundidade de campo. Uma das produções mais ambiciosas da Famous Players-Lasky nos seus primeiros anos de existência, Joan the Woman foi o primeiro dos superespetáculos que tornaram o nome de DeMille legendário na história do cinema e alguns jornalistas cognominaram-no na ocasião “o Miguel Angelo da tela”. Nas sequências de ação Geraldine Farrar teve que ser substituída por uma excelente cavaleira, Pansy Perry, e a seu lado, como galã, estava Wallace Reid.

O Martírio de Joana D’Arc

Nos anos vinte tivemos inicialmente em 1927 um short britânico de 11 minutos sob direção de Widgey R. Newman, reproduzindo a famosa cena da catedral da peça de Bernard Shaw com a atriz Sybil Thorndyke como Joana. No ano seguinte o dinamarquês Carl Dreyer fez O Martírio de Jona D’Arc / La Passion de Jeanne D’Arc com Falconetti, genuíno poema litúrgico que figura sempre nas listas dos dez melhores filmes de todos os tempos. Causou uma revolução estética com a utilização sistemática e eloquente dos grandes planos, desvendando a alma da heroína e dos seus algozes (foto de Rudolph Maté), a brancura e a abstração dos cenários, os enquadramentos imprevistos e a montagem minuciosa, e até hoje provoca impacto com sua perfeição estilística a serviço da verdade interior. Não se pode dissociar da obra sua intérprete, Renée Falconetti, atriz de teatro que ficou famosa por este seu único filme. Supervisionada com muito rigor Por Dreyer e, tal como os demais componentes do elenco – Silvain, Maurice Schutz, Antonin Artaud, Michel Simon, Jean d’Yd – renunciando à maquilagem, ela viveu intensamente o papel de Joana como se estivesse em estado de transe e em permanente tensão dolorosa.

La Merveuilleuse Vie de Jeanne D’Arc, de Marco de Gastyne, com Simone Genevois, também de1928, tinha sequências dignas de Eisenstein, o excepcional cineasta russo; mas, embora fosse eficiente como espetáculo e contasse a história de Joana desde a infância até à fogueira de Ruão, o filme, rodado quase simultaneamente com o clássico de Dreyer, perdia na comparação.

Durante o período hitlerista, Gutsav Ucicky filmou na UFA, Santa Joana D’ Arc / Das Madchen Johanna / 1934, apresentando a Donzela de Orleans como uma perfeita patriota, servindo de títere ao rei Carlos VII. A revista Cinearte comentou: “Em matéria de atmosfera, de ambiente de época, é toda a Europa medieval que revive através de imagens de maravilhosa beleza. O que nos surpreende, entretanto, é ver um filme europeu transigindo com a história.  A interpretação que dão a esta admirável figura que foi a camponesa de Domrémy é bastante discutível”. Reunindo um punhado de atores consagrados nos palcos germânicos – Gustaf Gründgens, Heinrich George, René Deltgen, Erich Ponto, Willy Birgel, Theodor Loos, Aribert Wascher, Veit Harlan, Paul Bildt, Albert Florath e Angela Salloker (como Joana) – o filme foi exportado internacionalmente para mostrar a qualidade da produção alemã e a mensagem política passou despercebida por muitos espectadores.

Em 1944, num documentário de 58 min De Jeanne D’Arc a Philippe Pétain, Sacha Guitry, sentado na sua mesa de trabalho, nos dá uma palestra sobre a História da França de Joana D’Arc à Ocupação com algum foco em vários de seus grandes escritores e músicos, ouvindo-se entre os recitadores as vozes de Jean Cocteau e Madeleine Renaud.

Ingrid Bergman como Joana D’Arc

Hollywood voltou a abordar o tema em 1948, quando o produtor Walter Wanger, o diretor Victor Fleming e Ingrid Bergman fundaram a Sierra Pictures com o objetivo exclusivo de  levar à tela a peça “Joan of Lorraine”, de Maxwell Anderson, que a estrela havia interpretado no palco com grande triunfo. O texto de Anderson focalizava uma atriz, Mary Grey, às voltas com a composição da personagem de Joana; no cinema, os roteiristas (o próprio autor e Andrew Solt) resolveram eliminar o esquema ontem-e-hoje da história, preferindo um tratamento histórico direto de sua vida. Houve muitos recursos (5 milhões de dólares, 4 mil figurantes) e cuidados com a autenticidade; mas o resultado não correspondeu às intenções; O filme Joana D’Arc / Joan of Arc tem sequência deslumbrantes em technicolor (Oscar para a foto de Joe Valentine, Winton Hoch e William V. Skall), entre elas a magnífica recriação da catedral de Reims (direção de arte, Richard Day), porém, estáticas e sem substância espiritual. A encenação é medíocre, substituindo o sublime pelo pitoresco. Do desastre, salvam-se ainda os desempenhs esforçados de Ingrid Bergman e de José Ferrer, este marcando sua estréia diante das câmeras como o indeciso Delfim.

O filme francês Destino de uma Mulher / Destinées / 1954, constitui-se de três esquetes que estudam o comportamento da mulher diante da guerra. No segundo esquete, Jeanne, dirigido por Jean Delannoy, os argumentistas Jean Aurenche e Pierre Bost contam um episódio na trajetória de Joana (Michèle Morgan), durante a qual ela realiza um milagre, reanimando o corpo de uma criança morta, e batizando-a, antes que expirasse definitivamente.

No mesmo ano Roberto Rosselini, em Giovanna d’Arco ao Rogo filmou, em gevacolor, o oratório de Paul Claudel e Arthur Honneger, numa mise-en-scène de ópera, estilizada, na qual a cor e os gestos deveriam exprimir o essencial do poema musical. Rosselini disse que tentou “reencontrar o estilo, o modo de expressão dos primeiros tempos do cinema”. Para uns o filme é um ato de pura contemplação; outros, aborreceram-se com sua monotonia.

Jean Seberg cono Joana D’Arc

Três anos mais tarde, Otto Preminger dirigiu Santa Joana / Saint Joan, baseado na peça de Bernard Shaw, com roteiro de Graham Greene. Na ótica impertinente de Shaw, Joana encarna as duas forças que romperam o universo medieval: o nacionalismo, na ordem temporal, e o livre exame, na ordem espiritual. Preminger não compreendeu bem o texto e Jean Seberg, escolhida aos 17 anos entre 18 mil candidatas para o papel de Joana, por sua inexperiência, não pode salvar o filme, que tinha além de um excelente fotógrafo, George Perinal, competente elenco de apoio: John Gieguld, Richard Widmark (Delfim), Richard Todd, Anton Walbrook, Felyx Aylmer, Harry Andrews.

Ainda em 1957 Joana apareceu sob os traços de Hedy Lamarr em um episódio de A História da Humanidade / The Story of Mankind, em cujo enredo o Diabo (Vincent Price) e o Espírito do Homem (Ronald Colman) discutem se a humanidade é ou não, em última análise, boa ou má. A produção reunir um cast enorme de artistas conhecidos em papéis de figuras históricas, alguns  absurdamente   como, por exemplo, Virginia Mayo como Cleopatra, Peter Lorre como Nero, Harpo Marx como Isaac Newton, etc.

Florenz Carrez como Joana D’Arc

Em 1963, Procès de Jeanne D’Arc, de Robert Bresson, com Florence Carrez, segue rigorosamente os autos do processo do século XV, e é tratado no tom intimista e ascético do cineasta, muito parecido com o de Carl Dreyer. Numa entrevista, o diretor declaro que, para ele, o julgamento é um duelo entre o bispo Cauchon e Joana, confronto narrado no filme com extrema economia de meios, a fim de se manter a realidade nua do drama.

A filmografia de Joana d’Arc é muito extensa. Encontrei ainda: Jehanne / 1956 de Robert Enrico, curta-metragem composto de miniaturas do século XV, período em que Joana viveu, narrado por Alain Cuny; Sainte Jeanne / 1956, teleteatro dirigido por Claude Loursais; The Lark / 1957, adaptação no programa de teleteatro Hallmark Hall of Fame, da versão que Lillian Hellman fez de “L’Alouette” de Jean Anouilh, protagonizada por Julie Harris (Joana) e com Boris Karloff no papel do bispo Cauchon; Saint Joan / 1958 telefilme britânico da Granada Teevision, adaptação da peça de Bernard Shaw com Siobhan McKenna; Le Vrai Procès de Jeanne D’Arc / 1959telefilme de Stellio Lorenzi; Jeanne et les Juges / 1959, telefilme de Thierry Maulnier; Jeanne D’arc auf dem Scheiterhaufen / 1960 de Gustav Rudolf Sellner com Margot Trooger (Joana); Jeanne au Vitrail / 1961, curta-metragem de Claude Antoine; L’Histoire de Jeanne / 1962, documentário de Francis Lacassin expondo o itinerário de Joana respectivamente através das miniaturas dos manuscritos, vitrais das igrejas e das gravuras; Der Fold Jeanne d’Arc / 1966. Telefilme germânico de Paul Verhoevem com Kathrin Schmid; Saint Joan /1967, telefilme, baseado na peça de Bernard Shaw, dirigido com Genevieve Bujold (Joana) e Roddy McDowall (Delfim); Jeanne en France / 1967 de Jean Lehérissey; St. Joan / 1968, episódio do programa BBC Play of the Month, adaptação da peça de Bernard Shaw, dirigido por Waris Hussein com Janet Suzman como Joana;  Nachalo /  1970, filme russo de Gleb Panfilov sobre uma atriz amadora (Inna Churikova) que sonha em interpretar Joana D’Arc; Le Mystére de la Charité de Jeanne D’Arc / 1971, telefilme com Catherine Morlay, espécie de meditação sobre a vocação de Joana, esse “mistério” como aqueles da Idade Média, é dedicado … “a todos os que serão mortos por procurarem levar um remédio ao mal universal”;  Jeanne d’Arc / 1981, episódio da série de TV Les Voyageurs de l´histoire, dirigido por Gerard Gozlan com Marie Dauphin (Joana D’ Arc); Bill and Ted’s Excellent Adventure / 1989 de Stephen Herek  gira em torno de dois adolescentes do rock and roll que encontram uma máquina no tempo e, em uma de suas viagens ,encontram Joana D’arc (Jane Wiedlin);  Giovanna d’Arco / 1989, ópera de Verdi filmada por Werner Herzog com Susan Dann como Joana; Joana D’Arc da Mongólia / Johanna D’Arc of Mongolia / 1989, co-produção Alemanha Ocidental-França, dirigido por Ulrike Ottinger, com Inés Sastre como Joana; Jeanne d’Ark – visjon gjennon eld / 1990, telefilme norueguês de Morten Thomte com Juni Dahr como Joana; Jeanne d’Arc produção au bucher / 1993, telefilme japonês dirigida por Akio Jissôji com Marthe Keller como Joana, baseada no oratório de Paulo Claudel; Jeanne la Pucelle / produção francesa, dirigida por Jacques Rivette, com Sandrine Bonnaire como Joana; The Messenger: The Story of Joan of Arc / 1999 ,minissérie canadense dirigida por Luc Besson, com Milla Janovich  (Joana); Wired Angel / 1999, filme experimental estadunidense dirigido por Sam Wells com Caroline Ruttle (Joana); Jeanne d’Arc / 2004, telefilme francês dirigido por Laurent Preyale – balé visionário sobre a vida e morte de Joana d’Arc;  Vrai Jeanne, fausse Jeanne / 2008, telefilme documentário dirigido por Martin Meissonier; Jeanne Captive / 2011, dirigido por Philippe Ramos com Clémence Poésy (Joana);  Jeanne, l’enfance de Jeanne d’Arc / 2017, filme musical dirigido por Bruno Dumont, com Lise Leplat Prudhomme (Joana menina) e Jeanne Voison (Joana adulta).

DOIS IRMÃOS TALENTOSOS: MARIA E MAXIMILIAN SCHELL

Conhecida por seus desempenhos intensamente emocionais em melodramas da década de cinquenta, ela foi uma das maiores atrizes da Alemanha do pós-guerra.

Maria Schell

Após a anexação da Austria pela Alemanha Nazista, a família de Maria Schell (1926-2005) emigrou para a Suiça.  Nascida em Viena, depois de receber uma educação em Zurich e em um convento na Alsácia, a jovem frequentou um curso de treinamento comercial ao mesmo tempo em que recebia lições de arte dramática e de voz. Subsequentemente Maria apresentou-se em teatros de Viena e Berna. Fazendo o papel de Gretchen (Margarida) na peça “Fausto” de Goethe, participou de uma turnê com Albert Bassermann em 1950 e proporcionou ao público ótimas performances em vários países.

Maria em Steinbruch

Sua estréia no cinema foi em Steibruch / 1942, melodrama passado em uma aldeia suíça e seu primeiro avanço como atriz cinematográfica deu-se na saga familiar austríaca Der Engel mit der Posaune / 1948, percurso histórico de uma família de fabricantes de piano em Viena, dirigido por Karl Hartl e com Paula Wessely no elenco.

Durante a próxima década, Maria fez par frequentemente com astros masculinos como Dieter Borsche e O. W. Fisher em uma série de filmes românticos lacrimejantes tais como Minutos Decisivos / Dr. Hall / 1951, Tua Para Sempre / Bis wir uns wiederseh’n / 1952, Solange Du da Bist / 1953 e obteve reconhecimento internacional com seu papel como uma enfermeira no filme antiguerra de Helmut Kautner, A Ponte da Esperança / Die letze Brücke / 1954, que recebeu um prêmio no Festival de Cannes.

Maria e Curd Jurgens em Quando o Amor é Pecado

Maria e François Périer em Gervaise

Na adaptação de Robert Siodmak do drama naturalista de Gerhart Hauptmann Quando o Amor é Pecado / Die Ratten / 1955, Maria interpretou uma jovem mãe desesperada. Dois anos depois, no Festival de Veneza, ganhou um prêmio pelo seu papel-título na produção francesa Gervaise, a Flor do Lodo / Gervaise / 1956, baseado no romance clássico realista de Emile Zola, dirigida por René Clement.

Maria e Yul Brynner em Os Irmãos Karamazov

Contratada pela MGM, tornou-se estrela em Hollywood juntamente com Yul Brynner no filme Os Irmãos Karamazov / The Brothers Karamazov / 1957 (DIr: Richard Brooks). Ela contracenou também com Gary Cooper em A Árvore dos Enforcados / The Hanging Tree / 1959 (Dir: Delmer Daves) e com Glenn Ford em Cimarron / Cimarron / 1960 (Dir: Anthony Man, Charles Walters).

Maria e Gary Cooper em A Árvore dos Enforcados

Nos anos cinquenta Marie filmou na Grã-Bretanha, na França e na Itália e vou citar apenas os filmes mais importantes que ela fez nestes países: A Caixa Mágica / The Magic Box / 1951, interpretando a esposa do pioneiro do cinema William Freese-Greene (Robert Donat) e O Preço de uma Aventura / The Heart of the Matter / 1953, ao lado de Trevor Howard nesta adaptação do romance de Graham Greene. Na França, fez Napoleão / Napoléon / 1955 de Sacha Guitry (como a imperatriz Maria Luíza de Austria) e Uma Vida / Une Vie / 1958 de Alexandre Astruc, baseado no romance de Guy de Maupassant; A Desejada / Rose Bernd / 1957 de Wolfgang Staudte na Alemanha. Na Itália, atuou ao lado de Marcello Mastroianni e Jean Marais em Um Rosto na Noite / Le Notti Bianchi / 1957, de Luchino Visconti, versão para o cinema de um a novela de Dostoievski.

Maria e Mastroiani em Um Rosto na Noite

 Além de seus compromissos no cinema, Maria continuou sua carreira teatral e, a partir dos anos setenta, apareceu frequentemente em séries de televisão americanas e germânicas. No cinema fez ainda, entre outros, O Dossiê de Odessa / The Odessa File / 1974; A Viagem dos Condenados / Voyage of  the Damned / 1976,  Superman: o Filme / Superman / 1978.

Maximilian Schell

Desde o início dos anos sessenta, Maximilian Schell (1930-2014) equilibrou uma carreira dupla de sucesso como ator e diretor. Nascido em Viena, foi educado na Basileia, Suiça e estudou História da Arte em Zurich. Em 1953, apresentou -se como ator e diretor em Londres, Nova York e no Festival de Salzburg assim como em diversos teatros na Alemanha, incluindo um período com Gustaf Gründgens no Deutsches Schauspielhaus em Hamburgo, recebendo um elogio especial pelo seu “Hamlet”. O primeiro papel de Maximilian no cinema foi como um desertor no filme de Laszlo Benedk, Kinder, Mütter Und Ein General / 1954 e durante a próxima década ele frequentemente interpretava indivíduos intensos e assombrados. Maximilian ganhou reconhecimento internacional no drama da Primeira Grande Guerra de Helmut Kautner Ein Mädchen Aus Flandern / 1956 e logo em seguida como um oficial nazista ao lado de Marlon Brando e Montgomery Clift na sua primeira produção de Hollywood Os Deuses Vencidos / The Young Lions / 1958. Pelo seu desempenho como o ardente advogado de defesa dos quatro juízes nazistas em Julgamento em Nurenberg / Judgement at Nuremberg / 1961 ele ganhou o Oscar de Melhor Ator.

Maximilian em Kinder Mutter Und Ein General

Maximilian em O Julgamento de Nurenberg

Sua estréia diretorial foi em O Primeiro Amor / Erste Liebe / 1970, baseado numa novela de Ivan Turgueniev, seguindo-se, O Castelo / Das Schloss / 1968, baseado no livro de Kafka (exibido no Brasil numa sessão promovida pela Cinemateca do MAM) e O Pedestre / Der Fussgänger / 1973, ambos os filmes aclamados internacionalmente. O drama criminal Aposta Fatal / Der Richter und sein Henker / 1975, baseado em um romance de Friedrich Dürrenmatt e Contos dos Bosques de Viena / Geschichten aus dem Wienerwald / 1979, baseado na peça teatral de Ödön von Horváth confirmaram a reputação de Maximilian como diretor de boas adaptações literárias.Maximilian continuou a atuar em filmes de Hollywood e outras produções internacionais, especializando-se em personagens infames ou enigmáticos como, por exemplo, em O Dossiê de Odessa / The Odessa File / 1974 no qual trabalhou também sua irmã Maria e no drama de guerra Uma Ponte Longe Demais / A Bridge Too Far / 1977. Por sua interpretação como um criminoso de guerra nazista disfarçado de homem de negócios judeu em O Homem na Caixa de Vidro (na TV) / The Man In The Glass Booth / 1975 recebeu uma indicação para o Oscar de Melhor Ator. Ele foi indicado novamente pelo seu papel coadjuvante como um ativista anti-Nazi no filme Julia / Julia / 1977 de Fred Zinnemann.

Maximilian e Jane Fonda em Julia

Após passar anos tentando persuadir uma reclusa Marlene Dietrich a participar de Marlene / 1984, seu documentário biográfico sobre a estrela, Maximilian obteve seu consentimento; porém durante todo o filme parcialmente rodado no apartamento de Marlene em Paris, ela é ouvida, mas nunca vista exceto nas tomadas de arquivo.

A filmografia de Maximilian, tal como a de sua irmã, é muito extensa, de modo que vou continuar citando apenas mais alguns filmes importantes da carreira do ator:

Maximilian em Cruz de Ferro

James Mason, Harriett Andersson e Maximilian em Chamada para um Morto

O Santo Relutante / The Reluctant Saint / 1962; O Condenado de Altona / Sequestrati di Altona / 1962; Topkapi / Topkapi / 1964; De Volta das Cinzas / Return from the Ashers / 1964; Chamada para um Morto / The Deadly Affair / 1967; Simon Bolivar / Simón Bolívar / 1965; Cruz de Ferro / Cross of Iron / 1977; Atentado no Alabama / Morgen in Alabama /1984, seu primeiro trabalho como ator em um filme alemão em mais de vinte anos; a minissérie Pedro, o Grande / Peter the Great / 1986, na qual interpretou o grande czar da Rússia; Stalin / Stalin / 1992, ganhando o Golden Globe por seu papel como Lenin neste telefilme; Justiça / Justiz / 1993, assumindo os traços de  um funcionário público assassino ; Zwischen Rosen / 1997 como um sobrevivente de Auschwitz. Em 2002, ele voltou a dirigir, oferecendo para as telas Meine Schwester Maria, retrato terno de sua irmã idosa, em forma de documentário.