Ele construiu uma carreira em torno de fugas sensacionais encenadas. Depois de trabalhar por vários anos nas margens do entretenimento, começou a praticar façanhas muito divulgadas para se libertar de numerosos grilhões, incluindo algemas, camisas de força, e caixas acorrentadas. Erik Weisz – mais tarde Ehrich Weiss – (1874-1926) nasceu em Budapeste e emigrou com sua família para Appleton, Wisconsin, EUA, onde seu pai se tornou rabino em uma pequena congregação judaica.
Os tempos eram difíceis e, em um determinado momento, a família dependia de uma sociedade de ajuda local para passar o inverno. Perseguidos pelos credores, os Weiszes mudaram-se para Nova York, Erik e seu pai trabalharam numa fábrica de gravatas. Pouco tempo depois da morte de seu pai em 1892, Erik entrou para o mundo do entretenimento. Depois de alguns anos atuando em dime museums (museus com preço de entrada barato frequentados pela classe operária que apresentavam aberrações humanas ou de animais, frequentemente falsificadas), teatros de variedade, circos, e shows burlescos, ele estava pronto para abandonar o show business. Entretanto, logo se estabeleceu como um ilusionista incrivelmente popular com o nome de Harry Houdini, demonstrando seu talento como escape artist (escapista). “Algemas não o seguram, anunciava o Kansas City Time depois que ele provou que conseguia se livrar das restrições que policiais profissionais colocaram sobre ele. Em 1906, Houdini se libertou das tumbas à prova de fuga em uma prisão de Boston.
Pendurado no ar em prédios do centro da cidade, Houdini também eletrizou multidões de espectadores em numerosas cidades soltando-se de camisas de força. Preso com algemas, pulou de pontes em águas profundas e emergiu com as mãos livres. Em outro ato ele conseguiu se livrar da “Chinese Water Torture Cell” (Tortura Chinesa com Água), no qual era suspenso pelas pernas de cabeça para baixo dentro de um aquário de vidro cheio de água, preso e imobilizado. Em um determinado momento deixou que um fabricante de correntes para pneus de automóveis algemasse seus pulsos e tornozelos, puzesse seis correntes ao redor de seu corpo e o acorrentasse a uma roda e pneu de um automóvel. Ainda assim ele escapou.
As revistas Palcos e Telas, Selecta e Para Todos, predecessoras de Cinearte e A Scena Muda, contêm muitas reportagens sobre Houdini, mostrando o prestígio que tinha perante o público brasileiro. Nas duas primeiras colhí a informação de que ele teria estado no Brasil (ambas as revistas não dizem a data precisa), contratado pelo empresário Paschoal Segreto para se apresentar no antigo Pavilhão Internacional, situado na Av. Central (depois denominada Av. Rio Branco), uma sala de cinematógrafo que apresentava também artistas internacionais.
No cinema Houdini apareceu cinco filmes: O Homem De Aço / The Master Mystery / 1918 (Dir: Burton L. King, E. Douglas Bingham), O Salto da Morte / The Grim Game / 1919 (Dir: Irwin Willat); A Ilha do Terror / Terror Island / 1920 (Dir: James Cruze), O Imortal / The Man from Beyond / 1922 (Dir: Burton L. King) e Haldane of the Secret Service / 1922 (Dir: Harry Houdini).
O primeiro foi um seriado de 15 episódios da Octagon Films Incorporated, no qual ele interpreta o papel de Quentin Locke, agente do serviço secreto que enfrenta um magnata dos negócios cuja empresa pretendia suprimir toda a concorrência para prosperar. Ele logo se vê lutando contra um monstro de metal, chamado Q, the Automaton (habitado por um humano – o ator Floyd Buckley), que tem o poder de resistir a balas e outras armas ofensivas. Durante todo o desenrolar do seriado os “Emissários do Autômato” tentam matar Quentin sem sucesso e finalmente o herói consegue penetrar no interior do monstro com uma bala explosiva especial inventada por ele. O seriado desapontou as platéias, o filme rendeu pouco ou quase nada, e o mesmo aconteceu com os seus filmes de longa-metragem.
Uma versão romantizada de sua vida foi contada no filme Houdini, o Homem Miraculoso / Houdini / 1953 estrelado por Tony Curtis.
Envolvendo a figura de Houdini ainda foram feitos, numa lista não exaustiva: Houdini: The Untold Story / 1971, short de 4 minutos dirigido por Tim Burton; The Great Houdini / 1976 telefime com Paul Michael Glazer; No Tempo do Ragtime / Ragtime / 1981 com Jeffrey De Munn em breve aparição; Young Harry Houdini / 1987, episódio da telessérie The Magic World of Disney com Wil Wheaton; A Nigth at the Magic Castle / 1988 com Arte Johnson; O Encanto das Fadas / Fairy Tale: A True Story / 1997 com Harvey Keitel em breve aparição; Houdini / 1998, telefilme com Jonathon Schaech; Cremaster 2 / 1999 western gótico com Norman Mailer como Houdini; Atos Que Desafiam a Morte / Death Defying Acts / 2007, produção conjunta entre Austrália e Inglaterra com Guy Pearce; episódio Houdini Whodunit da telessérie Murdoch Mysteries / 2008 com Joe Dinicol como jovem Houdini; Houdini / Houdini / 2014 minissérie do History Channel com Adrian Brody; Houdini: O Pequeno Mágico / Houdini – Le Film / 2014, filme de animação francês com Ulises Otero (voz de Houdini);Houdini and Doyle / 2016, minissérie de TV com Michael Weston; episódio da série de TV Timeless / 2016 com Michael Drayer como Houdini.
Nos seus últimos anos de vida, o famoso ilusionista e mestre na arte de escapar, dedicou-se a desmascarar videntes e médiuns. Seus conhecimentos em ilusionismo permitiram que revelasse fraudes que convenciam até cientistas e acadêmicos de sua época. Seu método de combater o Espiritismo era o de aparecer disfarçado, por exemplo, com bigodes e barbas postiças, e atuava rápido quando percebia o truque por trás deum fenômeno supostamente sobrenatural. E ele então se apresentava: “Eu sou Houdini! E você é uma fraude!” Em meio a esta verdadeira cruzada contra o charlatanismo espírita, passou a promover seu livro, “A Magician Among the Spirits” (Um Mágico entre os Espíritos), publicado em 1923. Houdini desmascarou, entre outros, a famosa médium de Boston, Mina Crandon, conhecida como Margery, muito apreciada por Sir Arthur Conan Doyle, o autor de Sherlock Holmes, ardente defensor e divulgador do espiritismo.
Após apresentar um número de incrível resistência abdominal para uma platéia de estudantes em Montreal, no Canadá, um dos estudantes invadiu os bastidores e lhe perguntou se era verdade que ele suportava pancadas de todo tipo no estômago. Ao responder afirmativamente, o ilusionista foi golpeado três vezes no estômago, antes que pudesse se preparar para tal. Os socos violentos romperam-le o apêndice e quase uma semana depois ele morreu, num hospital de Detroit.