Ele foi um dos diretores mais importantes dos primórdios do Cinema Americano. Porém, quando parou de fazer filmes (mais de uma centena deles), parece que ninguém sentiu sua falta (seu nome não consta de muitos dicionários de cinema) e, com tanto de seu trabalho principal desaparecido, ficou difícil de reviver sua reputação. Uma das minhas grandes frustações como cinéfilo foi ter visto apenas três filmes dele em cópias razoáveis que, por sorte, estão entre seus melhores trabalhos como cineasta: Peter Pan / Peter Pan / 1924, Beau Geste / Beau Geste / 1926 e Ridi, Pagliacci / Laugh Clown Laugh / 1928.
Alexander Herbert Reginald St. John Brenon (1880 – 1958) nasceu em Dublin, Irlanda. Em 1882, a família mudou-se para Londres, onde Herbert foi educado na St. Paul’s School e no King’s College. Em 1896, aos dezesseis anos de idade, ele emigrou com seus pais para os Estados Unidos. No final da adolescência, Brenon serviu como office-boy para o agente teatral Joseph Vion e como call boy (rapazinho de recados) no Daly’s Theatre na Broadway. Ainda na casa dos vinte anos, e antes de se tornar diretor de cinema, apresentou-se no vaudeville com sua esposa Helen Oberg, que usava o nome artístico de Helen Downing, e administrou um nickelodeon (nome dado aos primeiros cinemas) em Johnstown, pequena cidade da Pennsylvania.
Aos 29 anos de idade, Brenon começou a escrever roteiros e a montar filmes para a Independent Moving Pictures Company (IMP), que se tornaria depois Universal Studios. Em 1912, dirigiu seu primeiro filme (de um rolo) All For Her, no qual funcionou também como roteirista e ator, e o primeiro filme de três rolos da IMP, Leah the Forsaken, cuja atriz principal era Leah Baird. No final do ano, foi mandado para a Europa, onde realizou filmes importantes como, por exemplo, Ivanhoe / 1914, filmado a Inglaterra com King Baggot no papel título, Leah Baird como Rebecca, Walter Thomas como Robin Hood e o próprio Brenon como o pai de Rebecca, Issac de York. Brenon fez também Absinthe / 1914 na França e vários filmes na Alemanha.
Na sua volta para os Estados Unidos, produziu o épico de sete rolos, A Filha de Netuno / Neptune’s Daughter / 1914, fantasia aquática estrelada por Anette Kellerman, que foi um tremendo sucesso e Noivas de Guerra / War Brides / 1916 com Alla Nazimova. Logo após, Brenon deixou a IMP para criar sua companhia produtora de curta duração, Tiffany Film Corporation. O primeiro filme desta companhia, The Heart of Maryland / 1915, foi um dos primeiros feitos na Califórnia. No mesmo ano, Brenon e Annette Kellerman foram contratados pela Fox. Neste ano e estúdio Brenon dirigiu Theda Bara em As Duas Orfãs / The Two Orphans e A Sonata de Kreuzer / The Kreutzer Sonata e em seguida decidiu superar seu sucesso com um filme de Kellerman, numa espécie de continuação, Uma Filha dos Deuses / A Daughter of the Gods / 1916. Entretanto, suas despesas extravagantes na filmagem levando a um imenso estouro de custos enfureceu William Fox, que resolveu montar o filme ele mesmo e retirar o nome de Brenon dos créditos.
Após seu litígio com Fox, Brenon continuou a dirigir filmes para vários estúdios (entre eles Flor de Paixão / Passion Flower / 1921 com Norma Talmadge) e então foi para a Paramount onde, no auge de seu poder criativo, dirigiu alguns de seus trabalhos mais elogiados no período 1923-1926: A Dançarina Espanhola / The Spanish Dancer / 1923 com Pola Negri, no qual teve início a memorável bem-sucedida colaboração entre Brenan e o diretor de fotografia James Wong Howe; Peter Pan / Peter Pan, com Betty Bronson como Peter, Esther Ralston como Mrs. Darling, Mary Brian como Wendy e Anna May Wong como Tiger Lily; A Francesinha / The Little French Girl / 1925 com Alice Joyce, Mary Brian, Esther Ralston; O Mendigo Elegante / The Streets of Forgotten Men com uma breve aparição de Louise Brooks; Os Mil Beijos de Cinderela / A Kiss for Cinderella / 1925, outra adaptação de uma história de fantasia de James M. Barrie novamente com Betty Bronson e Esther Ralston; Beau Geste ou Um Belo Gesto / Beau Geste / 1926 com Ronald Colman no papel de Michael “Beau” Geste, Noah Beery em atuação marcante como o Sgt. Lejaune, esplêndido trabalho de câmera por J. Roy Hunt; Lágrimas de Homem / Sorrell and Son / 1927 (indicado para o Oscar de Melhor Direção); Ridi, Pagliacci / Laugh, Clown, Laugh / 1928 ostentando uma riqueza cinematográfica por parte da fotografia de James Wong Howe, da direção de arte de Cedric Gibbons e da interpretação de Lon Chaney e seu talento incomparável para transformar um melodrama lacrimoso em tragédia comovente.
Os primeiros filmes sonoros de Brenon nos Estados Unidos não foram particularmente bem-sucedidos e ele assinou contrato com a British International Pictures para fazer filmes na Inglaterra. Em Elstree, onde se localizava o estúdio da B.I.P., Brenon fez Living Dangerously / 1936, Someone at the Door / 1936, The Dominant Sex / 1937, Spring Handicap / 1937, Housemaster / 1938, Yellow Sands / 1938, Virgem Proibida / Black Eyes / 1939, The Flying Squad / 1940. Foram seus últimos filmes. Em 1940, Elstree cessou suas atividades porque o Exército Britânico requisitou suas instalações.
Duante alguns anos, Brenon ficou pensando em fazer mais alguns filmes, mas já estava com 63 anos e percebeu que já havia ultrapassado seu pico, que não lhe restava nada a não ser realizar filmes pouco importantes. Uma das coisas que o deprimia sobre Hollywood era visitar sets de filmagem e ver figuras outrora famosas agora fazendo pontas ou atuando como figurantes. E decidiu se aposentar.