TRÊS CINEASTAS A SERVIÇO DO TERCEIRO REICH

agosto 13, 2024

Ao lado de Leni Riefenstahl, Hans Steinhoff, Karl Ritter e Veit Harlan são sempre lembrados como diretores dos filmes de propaganda nazista mais notórios.

Hans Steinhoff

Hans Steinhoff (1882-1945) nasceu em Marienberg, Alemanha. Filho de um caixeiro viajante, cresceu em Leipzig, onde aos quinze anos de idade entrou para uma companhia de teatro local. Subsequentemente trabalhou como ator / diretor em mais de uma dúzia de companhias e em 1902/03 se tornou co-diretor de uma trupe de cabaré sediada em Munich. Um ano depois, excursionou pela Europa com uma produção baseada na famosa encenação de Max Reinhardt da peça Ralé de Gorki. De 1904 em diante, ele se concentrou em operetas, inicialmente como cantor, depois como diretor. Após sua associação com Jean Gilbert, então o compositor principal da Alemanha no gênero, Steinhoff tornou-se diretor-chefe do teatro de revista mais conhecido do país, o Metropol em Berlim. Pouco antes de irromper a Primeira Guerra Mundial, mudou- se para Viena.

Motivado pelo declínio do teatro de variedades tradicional após a guerra, Steinhoff fundou sua própria companhia de cinema em 1921. Apesar do fracasso de público do seu filme de estréia, Kleider machen Leute / 1921, o apoio crítico resultou em um convite pela Gloria Film para dirigir o espetáculo épico Der falsche Dimitry / 1922, baseado em acontecimentos relacionados com o usurpador russo Boris Godunov. Após desentendimentos com o gerente geral da companhia e das dificuldades com a censura de sua adaptação do romance de Norbert Jacques, Mensch gegen Mensch / 1924, Steinhoff foi trabalhar na companhia produtora Terra em 1925, onde se firmou como um diretor eficiente e confiável, cobrindo uma ampla variedade de gêneros para o mercado de massa. Seu profissionalismo e capacidade fazer filmes financeiramente exitosos dispondo de orçamentos moderados fez com que se tornasse um diretor procurado por companhias de pequeno e médio porte.

Cena de Mocidade Heróica

Em 1932, foi contratado para uma unidade B da Ufa onde realizou Mocidade Heróica / Hitlerjunge Quex / 1933, filme que marcou sua reputação como propagandista nazista, contando a história de um jovem assassinado pelos comunistas quando cumpria uma missão para o Partido, que se tornava um mártir da Juventude Hitlerista. Embora fosse um admirador ardente de Hitler, Steinhoff nunca se filiou ao partido. Descrito por pessoas que o conheciam pessoalmente como “totalmente apolítico”, ele era de fato mais um oportunista do que um ativista político. Sua posição como um dos principais diretores do Terceiro Reich baseia-se principalmente nas suas cinebiografias: Der alte und der junge König / 1935, Robert Koch / Robert Koch, der Bekämpfer der Todes / 1939, Ohm Kruger / 1941, todos estrelados por Emil Jannings e Rembrandt / 1942 com Edwin Balser no papel título.

Emil Jannings em Ohm Kruger

Steinhoff dirigiu também Die Geierwally / 1940, drama rural passado nos Alpes tiroleses e Tanz auf dem Vulkan / 1938, no qual Gustaf Grundgens assumia a figura do mímico boêmio-francês Debureau, que entusiasmava as massas no Thêatre des des Funambules e que foi retratado por Jean-Louis Barrault no filme de Marcel Carné O Boulevard do Crime / Les Enfants du Paradis / 1945.

Gustaf Grundgens em Tanz auf dem Vulkan

Steinhoff morreu nos últimos dias da guerra, quando o avião que o conduzia para Praga, onde estava fazendo um filme com Hans Albers, foi alvejado pelo fogo antiaéreo russo.

Karl Ritter

Karl Ritter (1888-1977) nasceu em Würzburg, Alemanha e estava entre os diretores e produtores mais comprometidos ideologicamente com o cinema do “Terceiro Reich”. Membro ativo do partido nazista desde meados dos anos vinte, muitos de seus filmes promoveram explicitamente os valores e as virtudes militares, genericamente embalados como filmes de guerra e de aventura. Filho de uma cantora de ópera e de professor de música, Ritter seguiu uma carreira militar antes de estudar arquitetura em Munique.  Voltando-se para a arte gráfica e pintura, ele se envolveu com a indústria cinematográfica como agente de relações públicas para a Südfim em 1926 e editando um livro sobre os desenhos de Walt Disney. Subsequentemente, trabalhou como gerente de produção e roteirista, dirigindo também um filme curto com o comediante Karl Valentin em 1932.

Devido à sua filiação ao partido Nazista, a carreira cinematográfica de Ritter progrediu rapidamente, depois de ser contratado pela Ufa em 1933. Seu primeiro filme como produtor foi Mocidade Heróica, dirigido por Hans Steinhoff, glorificando abertamente a agremiação hitlerista. O primeiro filme de Ritter como diretor foi uma farsa bucólica Weiberregient / 1936. Embora ele continuasse a dirigir divertimentos leves ocasionais – por exemplo, a comédia musical Capricho / Capriccio / 1938 com Lilian Harvey -, um número considerável de seus filmes era mais determinantemente propagandístico. Foi o caso de uma série de filmes militares que glorificavam o auto-sacrifício inquestionável e outras “virtudes” corajosas como Entre Duas Bandeiras / Patrioten / 1937 e Stukas / 1940

Muitos dos filmes de Ritter eram destinados a incitar ódio aos inimigos do Estado. Honra ao Mérito / Pour le Merite / 1938, contando a ascenção da Força Aérea Alemã (“Luftwaffe”), era anti-democrátco e anti-francês; Kadetten / 1939, narrando o drama de um grupo de cadetes do exército prussiano do século dezoito capturados por soldados russos, era racista e anti-russo; G.P.U. / 1940 envolvendo uma refugiada russa do terror bolchevique que ingressa na polícia secreta soviética (G.P.U.) para descobrir o homem que matou seus pais, era anti-soviético  enquanto Besatzung Dora / 1943, focalizando a tripulação de um avião de reconhecimento (o Dora) e a campanha da África, promovia sentimentos anti-britânicos.

No final da guerra, Ritter foi convocado para a Força Aérea. Embora tivesse sido feito prisioneiro pelo exército soviético, conseguiu fugir para a Bavaria. Quando a guerra terminou, no seu processo de desnazificação, ele foi classificado como “seguidor” (Mitläufer) do regime nazista e proibido de fazer filmes na zona da Alemanha ocupada pelos francêses. Em 1949, Ritter emigrou para a Argentina, onde Winifred Wagner ajudou-o fundar uma companhia produtora. Juntamente com outros alemães sediados na Argentina, e com seus filhos, ele fez El Paraiso / 1951, mas o filme foi um fracasso. Ritter retornou para a Alemanha Ocidental, onde dirigiu o melodrama Staatsanwältin Corda sobre uma promotora, Dra. Corda, que se apaixona por um réu e Ball Der Nationen / 1954, comédia musical estrelada por Gustaf Frölich e Zsa Zsa Gabor; porém nenhum dos dois foi bem recebido pelo público.  Apesar de sua intenção de “restaurar a força do cinema alemão”, Ritter não   conseguiu se afirmar na indústria cinematográfica da Alemanha Ocidental e voltou para a Argentina, onde se aposentou.

Veit Harlan

Veit Harlan (1899-1964) tornou-se um dos realizadores propagandistas mais infames do Terceiro Reich, expressando a ideologia Nazista sob o disfarce de melodramas e épicos luxuosos. Depois do fim da guerra, continuou sendo um símbolo controvertido de um artista dividido entre carreira e oportunismo político. Após um treinamento como ourives, o filho do dramaturgo Walter Harlan (1867-1931) estudou com Max Reinhardt e começou a assumir pequenos papéis no palco e como figurante nos filmes de Max Mack. Em 1916, ele se voluntariou para o serviço militar e passou algum tempo lutando na frente ocidental na França. Após a Primeira Guerra Mundial atuou em vários teatros em Berlim e nas províncias. Durante o período até 1933, trabalhou com vários diretores importantes como Erich Engel e Erwin Piscator. Harlan fez sua estréia no cinema como ator em 1926 e apareceu em vários filmes silenciosos até 1929, por exemplo, como o cabelereiro judeu Mandelstam na sátira Die Hose (1927) e depois em diversos filmes sonoros. Em 1933, Harlan, que se casara com a atriz judia Dora Gerson, declarou publicamente seu apoio ao Nacional Socialismo. Com sua carreira de ator estagnada, ele teve sua primeira oportunidade de trabalhar atrás das câmeras como assistente de diretor não creditado em Um Sonho que passou / Die Pompadour / 1935 e se tornou diretor em 1936, assumindo inicialmente comédias como Der Müde Theodor, Maria, die Magd e Krach in Hinterlaus este, estrelado pela veterana Henny Porten, que ele conseguiu filmar em dez dias por um custo ínfimo, obtendo sucesso de audiência.

Emil Jannings em Crepúsculo

Cena de Jud Süss

Adquirindo a reputação de ser um diretor rápido e econômico, Harlan chamou ainda mais atenção com uma adaptação fiel do romance de Tolstoi Sonata de Krautzer / Der Krautzersonate / 1937 um drama sobre um poderoso industrial contendo uma exortação disfarçada de Hitler, Crepúsculo / Derr Herrscher / 1937 e Com O Coração Imortal / Das unsterbliche Herz / 1939, adaptação de uma peça de seu pai, Harlan ganhou reputação por sua encenação habilidosa de grandes cenários envolvendo um grande número de figurantes. Esta habilidade fez dele uma escolha natural para assumir filmes de propaganda de maior prestígio, e ele foi designado para dirigir o antisemítico Jud Süss / 1940, seu filme mais notório.

Cena de A Cidade da Ilusão

Cena de Immensee

Com o seu próprio grupo de produção na Ufa Harlan subsequentemente trabalhou em diversos projetos de filme em Agfacolor, incluindo os melodramas românticos Praga, A Cidade da IIusão / Die goldene Stadt / 1942 (o maior êxito de bilheteria do período de guerra), Immensee /1943, adaptação de uma história de Theodor Storm e Opfergang / 1944 (todos com Kristina), realizando ainda (também  com Kristina) dois filmes de propaganda com ambiente histórico e grande movimentação de massas, que era a sua especialidade: O Grande Rei / Der grosse König / 1942, biografia de Frederico, o Grande da Prússia e Kolberg / 1945, mostrando a resistência de uma cidade da Prússia contra o exército de Napoleão em 1807.

Cena de O Grande Rei

Cena de Kolberg

Harlan foi o único diretor do Terceiro Reich processado por crimes contra a humanidade, principalmente por ter feito Jud Süss.  Depois de dois interrogatórios,  foi absolvido das acusações por falta de provas suficientes e voltou a exercer a sua profissão dirigindo, entre outros, Unsterbliche Geliebte / 1951, Verrat an Deutschland / 1955, Anders als du und ich / 1957, os dois primeiros com Kristina e o terceiro com Paula Wassely.

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