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MÚSICA DE FILME

Hoje vista como um importante complemento artístico do cinema, a idéia de ter uma música de fundo surgiu em primeiro lugar da necessidade prática de cobrir o ruído dos primeiros projetores. Na era do cinema silencioso pianistas eram contratados para fornecer um acompanhamento contínuo, mais ou menos sem relação com a história. Logo, pianistas mais imaginativos começaram a improvisar música que combinava com a ação e ajudava a construir a atmosfera de uma cena. Então se tornou um costume fornecer uma partitura de piano especialmente composta junto com o filme e mais tarde, quando orquestras começaram a substituir pianistas, partituras completas foram escritas e divulgadas. A primeira música composta especificamente para um filme é geralmente considerada aquela feita para O Assassinato do Duque de Guise / L´Assassinat du Duc de Guise / 1908, escrita pelo compositor clássico Camille Saint-Saëns. As primeiras partituras completas escritas para filmes de Hollywood foram as de Victor Schertzinger para Civilização / Civilization e as de Victor Herbert para The Fall of a Nation, ambas em 1916.

Victor Herbert

Com a chegada do som, as orquestras foram dispensadas, mas o hábito da música de fundo estava enraizado e se tornou parte integral da trilha sonora.  Surgiu assim uma nova geração de compositores especializados com uma compreensão de como uma música adequada podia dar apoio artístico à história. Alguns dos primeiros compositores como Erich Wolfgang Korngold e Max Steiner foram treinados na tradição clássica vienense. Alguns, como Alfred Newman, vieram dos teatros da Broadway ou do Tin Pan Alley.

Erich Wolfgang Korngoid

Max Steiner

Alfred Newman

Nos anos 30 a música de cinema foi reconhecida como um ramo importante da produção musical. Uma das primeiras partituras para cinema aclamada por critérios puramente musicais foi escrita para King Kong / King Kong / 1933 por Max Steiner, que mais tarde ganhou o Oscar da Academia pela partitura de O Delator / The Informer / 1935 e … E O Vento Levou / Gone With the Wind / 1939. O status da música de filme cresceu nas mãos de compositores-maestros como Victor Young, Franz Waxman, Miklos Rozsa e Bronislaw Kaper, e seus nomes nas listas dos créditos foram logo considerados uma atração importante.

Victor Young

Franz Waxman

Miklos Rozsa

A indústria cinematográfica britânica seguiu o exemplo com o score escrito por Arthur Bliss para a produção de Alexander Korda, Daqui a Cem Anos / Things to Come / 1936, música admirável que foi ainda tocada separadamente e gravada. Houve outro precedente para o envolvimento de compositores acadêmicos quando Sergei Prokofiev escreveu os scores completos para os filmes russos Poruchik Kizhe / 1934 e Alexander Nevsky / Alexandr Nevsky / 1938. O exemplo de Bliss e Prokofiev, encorajou outros compositores importantes a emprestar seus talentos para o cinema, muitas vezes com resultados memoráveis. William Walton começou com Major Barbara / Major Barbara / 1941 e Querer e Vencer / The Foreman Went to France / 1942, antes de escrever os scores para os filmes de Laurence Olivier Henrique V / Henry V / 1945 e Hamlet / Hamlet / 1948. Ralph Vaughan Williams escreveu música para Invasão de Bárbaros / 49th Parallel / 1941 e seu score para Epopéia Trágica / Scott of the Antartic / 1948 formou a base para a sua Sinfonia Antartica. William Alwyn e Malcolm Arnold entraram entusiasticamente no mundo da música de filme juntando-se a outros compositores como Richard Addinsell, Charles Williams, Hans May e Mischa Spoliansky.

William Walton

Nos Estados Unidos compositores eminentes como Aaran Copland (v. g. com The City / 1939; Carícia Fatal / Of Mice and Man / 1939, Nossa Cidade / Our Town / 1940, Estrela do Norte / The North Star / 1943, Tarde Demais / The Heiress / 1948) e Virgil Thomson (v. g. com The Plow that Broke the Plains / 1936, A História de Louisiana / Louisiana Story / 1948) estavam entre aqueles que contribuíram com scores importantes que ajudaram a elevar o nível da música de filme. Algumas vezes um grande tema orquestral podia ser extraído de um score para uma performance individual como no filme Luar Perigoso / Dangerous Moonlight / 1942 o concerto executado por Anton Walbrook (o pianista húngaro Louis Kentner na verdade é quem estava tocando).  No cinema americano, houve algo equivalente:  uma peça musical estilo-concerto que funciona dentro do contexto do filme como foi o caso do concerto que Miklos Rozsa forneceu para Quando Fala o Coração / Spellbound / 1945. O uso de um tema breve, mas persistente, como um leit motif (motivo condutor) durante todo o desenrolar do filme recebeu destaque notável, por exemplo, em O Terceiro Homem / The Third Man / 1949 de Carol Reed sob a forma do tema “Harry Lime”, composto e tocado em uma cítara por Anton Karas, que marca a presença do personagem vivido por Orson Welles.

Aaron Copland

Elmer Bernstein

Henri Mancini

Nos meados dos anos cinquenta o “big band motif” estava em alta, iniciado por Elmer Bernstein em O Homem do Braço de Ouro / The Man With the Golden Arm / 1955, moda seguida por Henry Manicini com sua música para o teledrama Peter Gunn (1958-1961) e numerosos filmes. No início da década de setenta scores influenciados pelo jazz por compositores como Quincy Jones e Lalo Schiffrin tornaram-se um pano de fundo normal para filmes com temas modernos. Quando os filmes se tornaram mais internacionais, nomes como Michel Legrand, Ennio Morricone e Francis Lai emergiram da Europa. No final dos anos sessenta e início dos anos setenta houve uma grande onda de uso dos chamados temas “clássicos”, notadamente a impressionante abertura Also sprach Zarathusta da ópera de Richard Strauss para 2001: Uma Odisséia no Espaço / 2001, a Space Odyssey / 1968 e a música de Gustav Mahler para A Morte em Veneza / Death in Venice / 1971.

Michel Legrand

Ennio Morricone

Quando a moda mudou e a pop music prevaleceu na produção musical corrente, o rock e suas ramificações passaram a ser fortemente usados na trilha sonora como em A Primeira Noite de um Homem / The Graduate / 1967, Sem Destino / Easy Rider / 1969 ou Perdidos na Noite / Midnight Cowboy / 1969. O rock emergira primeiramente como um ingrediente incidental do filme Sementes de Violência / The Blackboard Jungle /1954, seguindo-se Ao Balanço das Horas / Rock Around the Clock / 1955, Música Alucinante / Don´t Knock the Rock / 1956 e o filmes com Elvis Presley como Ama-me com Ternura / Love Me Tender / 1956 e Prisioneiro do Rock and Roll / Jailhouse Rock / 1957.

Foi nos anos cinquenta que as canções tema começaram a ficar quase tão importantes quanto os filmes. A idéia veio dos tempos do cinema mudo. As primeiras grandes canções foram “Charmaine” de Erno Rapee e Lew Pollack e “Diane” usadas em Sangue por Glória / What Price Glory / 1926 e Sétimo Céu / Seventh Heaven / 1927. A canção título de Ramona / Ramona / 1928 tornou-se um grande êxito em turnês promocionais através dos EUA cantada por sua atriz Dolores del Rio. O primeiro grande êxito em um filme falado foi “Pagan Love Song”, cantada por Ramon Novarro em O Pagão / The Pagan / 1929 e escrita por Nacio Herb Brown e Arthur Freed.  Dois exemplos notáveis de velhas canções que ganharam um novo sopro de vida em filmes de sucesso foram “As Time Goes By”, composta por Herman Hupfield em 1931 quando foi ouvida em Casablanca / Casablanca / 1942 e “Moonglow”, composta por Will Hudson e Irving Mills em 1934 quando revivida em Férias de Amor / Picnic / 1963. Nos anos cinquenta a canção tema do filme era mais do que obrigatória, geralmente ouvida primeiramente durante a apresentação dos créditos por um cantor popular que não aparecia no filme como foi o caso de Frank Sinatra em A Fonte dos Desejos / Three Coins in the Fountain / 1954.

Dimitri Tiomkin

Maurice Jarre

John Williams

Não podemos esquecer Dimitri Tiomkin ganhador de 3 Oscar pelas partituras de Matar ou Morrer / High Noon/ 1952, Um Fio de Esperança / The High and the Mighty  / 1954  e O Velho e o Mar / The Old Man and the Sea / 1958 e de melhor canção original por The Ballad of High Noon; Maurice Jarre, vencedor do Oscar de Melhor Música pelas partituras de Lawrence da Arábia  / Lawrence of Arabia / 1962  e Doutor Jivago / Doctor Zhivago / 1965;  de John Williams, mais conhecido pela sua colaboração com Steven Spielberg e George Lucas. Ele foi indicado 52 vezes para o Oscar de Melhor Música e saiu vencedor 5 vezes, só perdendo para Alfred Newman, indicado 45 vezes, mas  saindo vencedor 9 vezes.

AC

View Comments

  • Boa tarde, professor. Sou apreciador incondicional da música desses impressionantes compositores e regentes. A música no cinema é indissociável, é carne e osso. Grato por seu excelente e oportuno artigo, mas – e sempre há um mas – senti falta de John Barry e de Leonard Bernstein. Continue o belo serviço e receba um forte abraço deste fã.

    • Bem lembrado Newton. Bernstein e Barry são ótimos compositores (basta citar West Side Story e Goldfinger). Porém não tive intenção de esgotar o assunto

  • Afinal chegou apenas para mim! Thanks to the Cloud.
    Como sempre, excelente trabalho e muito importante. Sou uma grande apreciadora de musica em geral e quando se trata do cinema sempre busco na música significados revelados pela narrativa. O cinema contemporâneo tem mostrado preocupação relevante com esta conexão maravilhando o espectador atento a
    música.
    Abraço amigo.
    Ps : amigão vai enviar ária da ópera de Korngold, tema de um filme musicado por este importante compositor.

  • Oi amigão. Bom dia! Pelo email de Nelida consigo acessar suas excelentes matérias..
    Apreciei bastante esse artigo sobre a música no cinema,Voce bem sabe a respeito da plêiade de compositores europeus que emigraram para os EUA.
    Entre eles gostei de ver mencionado o compositor Erich Korngold, autor de óperas , entre as quais destaco "Die tote stadt", A cidade morta. Nesta ópera há uma ária para soprano belíssima. Vale a pena ouvir no You tube. Todas as sopranos que se destacam hoje em dia são performers dessa ária: "Glück das mihr verblieb.
    Quanto a Vaughan Williams, consagrado compositor contemporâneo inglês, assistimos uma missa composta por ele na Catedral de São Paulo, no dia de nossas bodas de 40 anos, em 2008, Para mimi foi algo de teatral, como se estivesse numa sala de concertos. Entrou uma procissão com um coral maravilhoso, inesquecível. Maravilha! Tudo de graça, sem pagar nada!.
    Não vou mais encher o teu saco. Bom fim de semana!
    Mauricio

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