Não havia nada de incomum na existência de diretoras na indústria de cinema americana desde os seus primórdios. A primeira mulher diretora do mundo foi Alice Guy. Ela fez seu primeiro filme para a Gaumont nos anos 1890 e, com seu marido Herbert Blaché, foi para os Estados Unidos em 1907, fundando juntamente com George A. Magie, a Solax Company em 7 de setembro de 1910. Trabalhou como diretora até 1920. Seu primeiro filme, lançado em outubro de 1910, intitulava-se A Child’s Sacrifice, a história de uma menina de oito anos filha de um operário que está de greve. Os primeiros estúdios Solax estavam localizados em Flushing, Nova York, mas, em 1912, a companhia construiu um novo complexo de estúdios em Fort Lee, New Jersey. Alice Guy Blaché dirigiu as produções mais importantes da companhia, inclusive o seu primeiro filme de 3 rolos, Fra Diavolo / 1912, sobre o chefe de bando que resistiu à ocupação francesa de Nápoles. Antes ela dirigiu também The Pit and the Pendulum / 1911, baseada na obra de Edgar Alan Poe, muito elogiada pelos comentaristas da época, apesar de certas liberdades tomadas na adaptação do conto de horror imaginado pelo autor.
Roteiristas como Frances Marion, Anita Loos, June Mathis, Beulah Marie Dix, Bess Meredith and Lenore Coffee dominaram a indústria do filme silencioso. Frances Marion dirigiu três filmes – The Love Light (com Mary Pickford), Just Around the Corner (com Margaret Seddon), The Song of Love (com Norma Talmadge) – entre 1921 e 1923, e outras roteiristas como Marguerite Bertsch, Mrs. George Randolph Chester, Julia Crawford Ivers, Marion Fairfax, Jane Murfin, e Elizabeth Pickett também tentaram a sorte na direção.
A mulher diretora de cinema mais importante na América foi Lois Weber, ex-evangelista de rua cuja carreira se estendeu dos anos dez até o início dos anos trinta. Realizadora intransigente, suas produções lidavam com problemas sociais, tais como aborto, alcoolismo, controle de natalidade, pena de morte, prostituição e antissemitismo. Ela estreou atrás das câmeras em Heroine of ’76 / 1911, que codirigiu com o ator Phillips Smalley, seu marido na época, e o diretor pioneiro Edwin S. Porter. Em 1914, ano em que fez 27 filmes, Weber codirigiu com Smalley, The Merchant of Venice, baseado na peça de William Shakespeare, tornando-se a primeira mulher diretora a realizar um filme de longa-metragem nos EUA. Ela e Smalley atuaram também como intérpretes, ele no papel de Shylock e ela no papel de Portia.
Margery Wilson, uma das protagonistas de D. W. Griffith em Intolerância / Intolerance / 1916 (ela fazia o papel de Brown Eyes) esteve em atividade como diretora (além de atriz) no início dos anos vinte em That Something / 1920, Insinuation / 1922, The Offenders /1924. Também estrela de Griffith, Lillian Gish, dirigiu um filme, Remodeling Her Husband / 1920. Outras atrizes que tentaram a direção foram Gene Gauntier, Kathlyn Wiliams e Mabel Normand. Mabel dirigiu dez filmes, entre eles Caught in a Cabaret / 1914, atuando também como atriz ao lado de Charles Chaplin. Em um momento ou outro, nove mulheres diretoras estavam em atividade na Universal, entre elas, Ida May Park, Ruth Annn Baldwyn, Grace Cunard, Cleo Madison, e Ruth Stonehouse. Com a morte de seu marido Wallace Reid em 1923, Dorothy Davenport (mais conhecida como Mrs. Wallace Reid) tornou-se produtora e diretora e se manteve em atividade até os anos cinquenta.
A única mulher diretora americana que fez uma transição bem-sucedida dos filmes mudos para os falados foi Dorothy Arzner, que começou sua carreira diretorial em 1927 com A Mulher e a Moda / Fashions for Women e realizou seu último filme, Crepúsculo Sangrento / First Comes Courage em 1943. Em 1919, Arzner foi contratada por William DeMille como estenógrafa no departamento de roteiros da Famous Players e depois promovida a montadora. Sua montagem das cenas de tourada em Sangue e Areia / Blood and Sand / 1922, estrelado por Rudolf Valentino, foi tão imaginativa que o diretor James Cruze a encarregou de montar seu famoso Os Bandeirantes / The Covered Wagon / 1923. Além de Arzner, apenas uma outra mulher dirigiu um filme americano nos anos trinta, e ela foi Wanda Tuchock, que codirigiu (com George Nicholls Jr.) Escola de Elegância / Finishing School em 1934.
As mulheres não se destacaram como diretoras novamente até Ida Lupino codirigir (com Elmer Clifton) Mãe Solteira / Not Wanted / 1949. Nascida em Londres, descendente de uma família de atores, apareceu pela primeira vez na tela em The Love Race / 1931, dirigido por seu primo Lupino Lane. No ano seguinte, aos 14 anos de idade, trabalhou sob as ordens do diretor Allan Dwan em Her First Affaire / 1932. Em 1933, protagonizou cinco filmes britânicos nos estúdios Teddington, comprados pela Warner Bros. e, mais tarde, foi uma das grandes estrelas desta companhia. Até que, em 1949, ela e seu marido Collier Young abriram uma empresa independente, The Filmakers, para produzir filmes de baixo orçamento. Ida dirigiu seis filmes: Mãe Solteira / Not Wanted /1949; Quem Ama Não Teme / Never Fear / 1950; O Mundo é o Culpado / Outrage / 1950; Laços de Sangue / Hard, Fast and Beautiful / 1951; O Mundo Odeia-me / The Hitchhiker / 1953; O Bígamo / The Bigamist / 1953. Em 1966, dirigiu Anjos Rebeldes / The Trouble with Angels e seu último filme como atriz foi My Boys Are Good Boys / 1979. Esteve também ativa na televisão como atriz ou diretora em várias séries, inclusive na famosa Além da Imaginação / The Twilight Zone) no episódio The Sixteen Millimeter Shrine / 1959, dirigido por Mitchel Leisen.
A partir dos anos 50, foram surgindo novas diretoras como Shirley Clarke; Stephanie Rothman (especializada em exploitation films como O Mundo dos Biquinis / It´s a Wild Bikini / 1967); Ruth Orkin, que dirigiu dois filmes com seu marido Morris Engel (O Pequeno Fugitivo / The Little Fugitive / 1953 e Lovers and Lollipops / 1956); Elaine May, responsável por dois filmes, O Caçador de Dotes / A New Leaf / 1971 e Corações em Alta / Heartbreak Kid / 1972; e muitas outras, entre elas, Mary Ellen Bute, Penny Marshall, Susan Seidelman, Nora Ephron, Joan Micklin Silver, Barbara Loden, Joan Rivers, Francine Parker, Faith Hubley, Kathleen Dowdey, Mary Lambert, Julia Dash, Mira Nair, Lizzie Borden, Bette Gordon, Joyce Chopra, Claudia Weill, Diane Keaton, Barbra Streisand etc., inclusive duas que ganharam o Oscar: Barbara Kopple, Oscar de Melhor Documentário por Harlan County: Tragédia Americana / Harlan County U.S.A. / 1976 (sobre uma greve de trabalhadores. em minas, no Kentuycky) e por American Dream / 1990 (sobre uma greve contra a Hormel Foods Corporation em Minnesota) e Kathryn Bigelow, Oscar de Melhor Direção por Guerra ao Terror / The Hurt Locker / 2008 (sobre um esquadrão anti-bombas do exército americano em ação na Guerra do Iraque).
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Caríssimo mestre.
Fiquei em dúvida: na primeira foto, que diz Alice Guy, não é Mary Pickford junto à câmera? Agradeço seu esclarecimento. Este comentário não é para ser publicado. Abraços.
Olá Newton. Que bom receber sua visita.De fato Alice na foto se parece muito com Mary Pickford.