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O FILME DE GÂNGSTER NA SUA ÉPOCA ÁUREA

O filme de gângster é, tal como o filme de prisão e o filme noir, um subgênero do drama criminal, ambientado no meio das gangues e do crime organizado.  Existem muitos antecedentes do filme de gângster nos primeiros dramas criminais do cinema tais como A Daring Daylight Burglary / 1903, filme de Frank Mottershaw, produzido pela Sheffield Photo Company, do Reino Unido); The Moonshiners / 1904, filme de Wallace McCucheon, produzido pela American Mutoscope & Biograph, EUA; e Desperate Encounter Between Burglars And Police / 1905, filme de Edwin S. Porter produzido pela Edison Manufacturing Company, EUA).

The Musketeers of Pig Alley / 1912 de David Wark Griffit e Regeneração / The Regeneration / 1915 de Raoul Walsh, estão entre os filmes de gângster primitivos mais conhecidos da década de dez. Nos anos vinte, houve um ciclo de filmes de gângster que incluiu Paixão e Sangue / Underworld / 1927 de Josef von Sternberg; A Lei dos Fortes / The Racket / 1928 de Lewis Milestone ; Os Predestinados / The Way of the Strong / 1928 de Frank Capra;  Amar para Morrer / Dressed to Kill / 1928 de Irving Cummings;  O Peso da Lei / Alibi / 1929 de Roland West; Regeneração / Weary River / 1929 de Frank Lloyd; O Gângster / The Racketeeer / 1929 de Howard Higgin.

George Bancroft em Paixão e Sangue

Thomas Meighan  em A Lei dos Fortes

Paixão e Sangue  proporcionou ao ex-reporter Ben Hetch o Oscar de melhor História Original e anunciou a chegada de um ciclo de filmes de gângster produzidos por Hollywood entre1930 e 1932, do qual fizeram parte Alma no Lodo / Little Caesar / 1930 de Mervyn LeRoy, Inimigo Público / The Public Enemy / 1931 de William Welman e Scarface, A Vergonha de uma Nação / Scarface / 1932 de Howard Hawks, Estes filmes eram populares entre o público e rapidamente estabeleceram uma iconografia distintiva da paisagem urbana (Chicago, Nova York), ruas escuras, pensões sombrias, apartamentos de cobertura, mansões, bares, clubes, delegacias, automóveis rápidos, a garota glamorosa (namorada do gângster), e metralhadoras. Nos anos 30, a Depressão e a contínua expansão do gangsterismo, aliados ao advento do som, deram um novo impulso ao subgênero. A introdução do som sincronizado garantiu que a violência explosiva, simbolizada pelo ritmo staccato das metralhadoras ou o estrondo das bombas espatifando as vitrines das lojas se tornassem suas características centrais.

Alma no Lodo com Edward G. Robinson

Inimigo Público com James Cagney

Scarface com Paul Muni

O comportamento físico, robusto, masculinizado do gângster foi marcado pelos estilos de interpretação de astros como Edward G. Robinson, James Cagney e Paul Muni. Os protagonistas dos filmes do ciclo clássico como Alma no Lodo, Inimigo Público e Scarface – Cesare “Rico” Bandello (Edward G. Robinson em Alma no Lodo), Tom Powers (James Cagney em Inimigo Público) e Tony Camonte (Paul Muni em Scarface) – foram inspirados em homens notórios da época, Rico e Tony por Al Capone e Tom Powers por Earl “Hymie” Weiss, rival de Capone.

James Cagney em Contra o Império do Crime

James Cagney e Pat O´Brien em Anjos de Cara Suja

O ciclo clássico de gângster floresceu por pouco tempo. Com a implementação do Código de Produção (conjunto de diretrizes estipulando o que era permissível no campo da representação da Hollywood clássica, particularmente no que se referia a assuntos sexuais e criminais), a violência dos filmes de gângster foi substancialmente reduzida após1934, v.g.  a transformação do herói gângster no G-Man ou promotor público, pondo toda a energia e dinamismo dos gângsteres do lado da lei. Os estúdios transformaram o gângster em um agente federal, por exemplo colocando James Cagney do lado da lei em Contra o Império do Crime / G-Men / 1935 (Dir: William Keighley) e Edward G. Robinson como um detetive da polícia infiltrado num bando em Balas e Votos / Bullets or Ballots / 1936. A Warner Bros. continuou com o ciclo até o final da década, mas outras majors diminuíram a produção de filmes criminais para um ou dois no máximo por ano. Surgiram assim, até o final do decênio, Beco Sem Saída / Dead End / 1937 (Dir: William Wyler); Anjos de Suja / Angels with Dirty Faces / 1938 (Dir: Michael Curtiz); Heróis Esquecidos / Roaring Twenties / 1939 (Dir: Raoul Walsh); Homens Marcados / Invisible Stripes / 1939 (Dir: Lloyd Bacon); Contra A Lei / King of the Underworld / 1939 (Dir: Lewis Seiler) / 1939, nos quais estava – em papéis secundários – um outro ator relacionado com o filme de gangster: Humphrey Bogart.

 

O ataque de loucura no refeitório da prisão

O final apocalíptico de Fúria Sanguinária

Nos anos quarenta surgiram alguns filmes de gângster produzidos por companhias menores (v. g. Dillinger / Dillinger / 1945 ((Dir: Max Nossek) / King Brothers Production; Bandidos do Cais / Gangs of the Waterfront / 1945 (Dir: George Blair) / Republic; Crime S/A / Crime Inc. / 1945 (Dir: Lew Landers) / PRC ou pela unidade B de uma grande companhia (v. g. O Último Gangster / Roger Touhy, Gangster / 1944 (dir: Robert Florey) / Twentieth Century Fox e uma obra-prima produzida pela Warner Bros. e dirigida por Raoul Walsh: Fúria Sanguinária / White Heat / 1949, no qual James Cagney voltou a ser gângster, enérgico como sempre, mas desta vez como um psicopata perverso com uma adoração patológica pela mãe. Sua atuação como Cody Jarret é eletrizante, principalmente na cena do ataque de loucura de Jarret quando fica sabendo no refeitório da prisão que sua mãe foi morta e o final apocalíptico, quando ele atira num tanque cheio de gás explosivo e, enquanto ele explode em chamas, grita para sua mãe morta: “Look Ma, top of the world!”. São momentos cinematográficos inesquecíveis.

A partir dos anos quarenta, ocorreu uma intromissão noir no filme de gangster como, por exemplo, em Último Refúgio / High Sierra / 1941, também dirigido por Raoul Walsh, que proporcionou a Humphrey Bogart um papel de primeiro plano. Seu personagem, Roy Earle, não é um criminoso autoconfiante e impetuoso como aqueles gângsteres dos anos 30. Parece mais um herói noir, alienado e solitário, consumido pelo seu drama emocional. Em vez de um assassino frio, temos um homem de bons sentimentos, cuja esperança de felicidade foi cortada pelo destino. Walsh cria um clima quase insuportável de desilusão e inevitabilidade e Bogart transmite toda a amargura do seu personagem. Nos anos cinquenta, temos os exemplos desta intromissão, por exemplo, em O Segredo das Jóias / The Asphalt Jungle / 1950 (Dir: John Huston); Sindicato do Crime / 711 / Ocean Drive / 1950 (Dir: Joseph N. Newman); O Amanhã Que Não Virá / Kiss Tomorrow Goodbye / 1950 (Dir: Gordon Douglas); O Império do Crime / The Big Combo / 1955 (Dir: Joseph H. Lewis).

 

COELHO PERNALONGA E O HOMEM DAS MIL VOZES

No decorrer das décadas de 30, 40 e 50, a Warner Bros. organizou uma equipe de talentosos artistas, que produziram centenas de excelentes “cartoons”, divididos em dois grupos: os “Looney Tunes” e os “Merry Melodies”, dando-lhes uma feição diferente da que faziam suas concorrentes. Estas duas séries de desenhos animados foram iniciadas por Hugh Harman e Rudolf Ising, sob a supervisão do produtor Leon Schlesinger, aproveitando as fórmulas usuais de Walt Disney com quem havia trabalhado.

Quando saíram da Warner, a maioria dos “Merry Melodies” passou a ser dirigida por Fritz Freleng, que, no entanto, não lhes deu maior expressão do que os antecessores, seguindo a mesma linha artística. Porém os novos principais diretores das “Looney Tunes”, Tex Avery e, depois, Robert Clampett, foram inventivos e não se deixaram influenciar pelo pai do Mickey Mouse. Assim, criaram “gags” mais surrealistas, deram um ritmo rapidíssimo à movimentação dos personagens e usaram de modo sofisticado as distorções, para acentuar o estado de espírito deles, conferindo-lhes uma vivacidade incomum e ampliando os horizontes emocionais da animação cinematogrática.

O coelho Pernalonga (Bugs Bunny) apareceu a partir de 1938 em alguns desenhos realizados por vários diretores, com um aspecto diferente daquele que tomou depois: era um animalzinho meio felpudo, com olhos rasgados e o rabo em forma de floco de algodão. Ele surgiu primeiro com esta forma em três desenhos: Porky´s Hare Hunt / 1938, Presto-O Change-O / 1939 e Hare-Um Scare Um / 1939.

O Pernalonga de McKimson

Foi Robert McKimson, um dos colaboradores de Clampett, quem lhe deu os traços pelos quais o conhecemos hoje: esguio sorridente, sempre petulante de cenoura em punho a atormentar o pobre do Hortelino Trocaletra (Elmer Fudd), seu enfezado vizinho, que costuma ameaçá-lo com uma espingarda de dois canos quando o surpreende no quintal roubando o alimento predileto. Bugs, indiscutivelmente, um tremendo gozador, com aquela voz inconfundível que lhe emprestava o animador Mel Blanc, arrebatou o Oscar de 1958 com o desenho Knighty Knight Bugs, no qual comparece seu outro arqui-inimigo, o bigodudo Yosemite Sam.

Mel Blanc e Robert McKimson

Clampett contou que se inspirara no modo de falar do ator Humphrey Bogart para criar a voz do coelho Pernalonga e que a conhecida frase do Bugs, “What´s up, doc?” é a variação de outra, “What´s up, duke?” com a qual Carole Lombard interpelava William Powell no filme Irene, a Teimosa / My Man Gidfrey / 1936, um dos êxitos de Gregory LaCava. Revelou também que os traços do Piu -Piu (Tweety Bird), aquele passarinho sempre perseguido pelo gato Frajola (Sylvester) em outro desenho animado da Warner, foram tirados de uma foto dele, Clumpett, quando era apenas um bebê e que, a princípio, existiam dois gatos Frajolas, cujas atitudes lembravam muito as da dupla de comediantes Bud Abbott e Lou Costello

Mel Blanc e suas vozes

Val a pena dizer algumas palavras sobre Mel Blanc. Em Hollywood eles o chamavam de The Man of a Thousand Voices (O Homem das Mil Vozes). Nasceu na Califórnia e seu verdadeiro nome é Melvin Jerome Blanc. Iniciou-se na vida artística como músico e maestro: somente a partir de 1937 entrou para a Warner e se dedicou a imitar as vozes das figuras dos cartoons.  Entre suas criações se destacaram, entre outras, a voz do coelho Pernalonga, Gaguinho (Porky Pig), Hortelino Trocaletra (Elmer Fudd), o gato Frajola (Sylvester), Ligeirinho (Speedy González), Patolino (Daffy Duck), Papa-Léguas (Road Runner), Coiote (Wile E. Coyote), Piu Piu (Tweety Bird), o galo antropomórfico Frangolino (Foglorn Leghorn), e do robozinho Twiki na versão original da série de TV Buck Rogers no Século 25 / Buck Rogers in the 25th Century / 1979. Mel chegou a fazer (sem ser creditado) as vozes de Hitler e Stalin no short de animação colorido Historical Reel: Broken Treaties / 1941 da série da Columbia This Changing World, apresentado pelo comentarista do rádio Raymond Gram Swing.

Mel Blanc e Jack Benny

Na televisão, participou como ator coadjuvante em alguns programas como o de Jack Benny, no qual fazia o professor de violino de Jack, emprestou sua voz para o Barney de Os Flintstones e para outras séries televisivas de animação como Os Jetsons, Speed Buggy e Os Monstros (era o Corvo, sem ser creditado). Apareceu ainda como ator de apoio em A Filha de Netuno / Neptune´s Daughter / 1949 (como Pancho) e Beija-me Idiota / Kiss me Stupid / 1964 (como Dr. Sheldrake), mas seu grande talento estava mesmo na laringe.   Uma laringe legendária.

 

FAY WRAY

Ela ficou famosa contracenando com um macaco apaixonado em King Kong / King Kong / 1933. Graças a este papel, assegurou um lugar permanente na História do Cinema., tendo ficado famoso o seu grito de horror nas mãos do tremendo gorila.

Fay Wray

Vina Fay Wray (1907-2004) nasceu na cidade de Cardston em Alberta no Canadá e se mudou com os pais e cinco irmãos para os Estados Unidos quando tinha três anos de idade. Criada em Los Angeles, ainda na adolescência começou a frequentar casting offices (agências de elenco) e, a partir de 1919, começou a participar ocasionalmente como figurante em vários filmes curtos. Depois, foi a protagonista de alguns westerns na Universal com caubóis como Hoot Gibson, Jack Hoxie, Art Accord, Fred Humes. Em 1926, a Western Association of Motion Picture Advertisers selecionou treze jovens estrelinhas consideradas mais prováveis de terem sucesso nas telas. Fay era uma delas juntamente com Janet Gaynor e Mary Astor. As escolhidas eram conhecidas como Wampas Baby Stars.

Fay Wray e Erich von. Stoheim em A Marcha Nupcial

Fay alcançou um estrelato prematuro em 1928, quando foi escolhida como a principal atriz feminina no papel de Mitzi em Marcha Nupcial / The Wedding March / 1928 de Erich von Stroheim. Em seguida, trabalhou ao lado de atores como Gary Cooper em A Legião dos Condenados /  Legion of the Condemned / 1928; Emil Jannings em Rua do Pecado / Street of Sin/ 1928; Jardim do Pecado / The Unholy Garden / 1931 com Ronald Colman e em produções de destaque como As Quatro Penas / Four Feathers / 1929 de Merian C. Cooper e Ernest B. Schoedsack (os diretores de King Kong); O Homem de Mármore / Thunderbolt de Joseph von Sternberg); Dirigível / Dirigible /1931 de Frank Capra; O Bamba da Zona / The Bowery / 1933 de Raoul Walsh; Os Crimes do Museu / The Mystery of the Wax Museum / 1933 de Michael Curtiz … no qual ela gritou tão bem quanto em King Kong. No começo da década de trinta esteve à frente no elenco de filmes de horror como Doutor X / Doctor X, O Vampiro / The Vampire Bat e Zaroff, o Caçador de Vidas / The Most Dangerous Game e, em 1934, em Viva Villa! / Viva Villa como a linda Teresa, que o célebre revolucionário mexicano tenta conquistar. Em 1935, Fay fez quatro filmes na Inglaterra, Come Out of the Pantry com Jack Buchanan, Bulldog Jack com Jack Hulbert, When Knights Were Bold novamente com Buchanan e O Clarividente / The Clairvoyant com Claude Rains. Depois disso, seus filmes em Hollywood foram menos significativos.

Fay Wray e Gary Cooper em A Legião dos Condenados

George Raft e Fay Wray em O Bamba da Zona

Fay Wray e Joel McCrea em Zaroff, o a de Vidas

Wallace Beery e Fay Wray em Viva Vila!

Fay foi casada como dois roteiristas proeminentes, John Monk Saunders e Robert Riskin. Seu casamento de 1928 com Monk Saunders acabou em 1939, e ele cometeu suicídio no ano seguinte. Com seu casamento com Riskin em 1942, ela se retirou da tela. Entretanto, quando Riskin ficou seriamente doente e impedido de trabalhar em 1950, Fay foi obrigada a retomar sua carreira, o que ocorreu em1953 em O Tesouro do Condor de Ouro / The Treasure of the Golden Condor…. porém sempre em segundo plano. Após participar de várias séries de TV, ela se aposentou definitivamente em 1980, atuando ao lado de Henry Fonda, José Ferrer e John Houseman no telefilme As Trombetas de Gedeão / Gideon’s Trumpet.

Fay Way em King Kong

Em 10 de agosto de 2004, dois dias após sua morte, as luzes do Empire State Building em Nova York (cena do clímax do seu filme mais popular, King Kong)  foram apagadas durante 15 minutos em sua memória.

O INSPETOR MAIGRET NO CINEMA E NA TV

Jules Maigret é o comissário de polícia criado por Georges Simenon, escritor prolífico, apelidado de “O Balzac do Romance Policial”.  Ao contrário de Hercule Poirot ou Sherlock Holmes, é um funcionário sério e disciplinado, que leva uma vida burguesa em um apartamento modesto da avenida Richard-Lenoir em Paris. Sua esposa lhe prepara pequenas refeições, cujas receitas o crítico gastronômico Robert Courtine transcreveu em um livro, Le Cahiers des Recettes de Madame Maigret publicado em 1974. Porém o comissário gosta também da cozinha das brasseries e sabe se satisfazer com uma cerveja e um sanduiche. É de origem modesta e sua infância nos é revelada em L´Affaire Saint-Fiacre. Desejava ser médico. No Quai des Orfèvres n° 36, ele tem sua equipe, os inspetores Lucas, Janvier, Torrence …  e consulta o Dr. Paul para os problemas que necessitam da polícia científica. Seu método não se baseia nem na dedução nem na violência. Ele gosta de absorver uma atmosfera e penetrar nos segredos das almas – gosta de encontrar o “homem nu” segundo a fórmula de Simenon. Não tem pressa, passeia, aspira o ar, acumula informações; depois, apanhando o culpado num erro, o faz confessar. Fisicamente, é corpulento, imponente, mas em última análise gentil.  Frequentemente fuma um cachimbo de tabaco.

GEORGES SIMENON (1903-1989)

Georges Simenon

Nasceu em Liège, Bélgica num meio pequeno burguês. Quando tinha 15 anos de idade, teve que deixar a escola e procurar trabalho, porque seu pai cai doente. Começou a trabalhar na Gazette de LIège e a frequentar um grupo de jovens artistas e intelectuais anarquistas   ao qual pertencia a pintora Régine Ronchon, com a qual se casou. Em 1920 publicou seu primeiro romance: Au pont des Arches. Em 1922 mudou-se para Paris. Foi então que escreveu centenas de contos e romances sentimentais ou de aventura sob os pseudônimos de Georges Sim e Christian Brulls. Ele criou Maigret (ainda não é bem Maigret) em Train de nuit em 1929. Por ocasião de uma passeio de barco, foi no porto holandês de Delfzijl, e setembro de 1929, que ele escreveu a primeira investigação de Maigret: Pietr le Letton.

Entre 1931 e 1934, ele é o autor de destaque da Fayard. Os melhores Maigret aparecem então. Simenon viaja muito como repórter (África, América). Como escritor, ele vai depois de 1934 para a Gallimard. Denunciado durante a Ocupação por supostas origens judaicas, torna-se novamente após a Libertação como suspeito de simpatias vichysistas. Simenon decide emigar para os Estados Unidos. Sua fecundidade não sofre. Agora é publicado pela Presses de la Cité. É na América que ele se casa com Denyse Ouimet e é com ela que se instala na Suiça em 1955, na região de Lausannne. Sua produção se reduz em 1966 e para em 1972 após Maigret et Monsieur Charles.

ATORES QUE PERSONIFICARAM MAIGRET NO CINEMA. 

Pierre Renoir em A Noite da Encruzilhada / La Nuit du Carrefour / 1932 (Dir: Jean Renoir).

Pierre Renoir

Abel Tarride em Le Chien Jaune / 1932 (Dir: Jean Tarride).

Harry Baur em A Cabeça de um Homem / La Tête d’ um Homme / 1932 (Dir: Julien Duvivier).

Albert Préjean

Albert Préjean em Picpus / 1934 (Dir: Richard Pottier), Cécile est Morte / 1944 (Dir: Maurice Tourneur) e Les Caves du Majestic / 1945 (Dir: Richard Pottier).

Charles Laughton

Charles Laughton em Fugitivo da Guilhotina / The Man on the Eiffel Tower / 1949 (Dir: Burgess Meredith; Charles Laughton dirigiu as cenas em que Meredith aparece como ator.

Michel Simon em um dos episódios de Brelan d’as / 1952 (Dir: Henri Verneuil).

Maurice Manson em Maigret dirige l’ênquête / 1956 (Dir: Stany Cordier).

Jean Gabin

Jean Gabin em Assassino de Mulheres / Maigret Tend um Piège (Dir: Jean Delannoy), O Castelo do Medo / Maigret et l’ Affaire Saint-Fiacre / 1959 (Dir: Jean Delannoy) e Inspetor Maigret Acerta / Maigret Voit Rouge / 1963 (Dir: Gilles Grangier).

Gino Cervi

Gino Cervi em Maigret em Pigalle / Maigret a Pigalle / 1966 (Dir: Mario Ladi).

Gérard Depardieu em Maigret e a Jovem Morta / Maigret / 2022 (Dir: Patrice Leoconte).

ATORES QUE PERSONIFICARAM MAIGRET NA TELEVISÃO. 

 Basil Sidney na série britânica BBC Sunday-Night Theatre / 1951-1959.

Rupert Davies na série Maigret / 1960-1963 e como anfitrião da série Detective / 1964-1969, ambas da TV britânica.

 Henri Norbert no telefilme Maigret et la grande perche / 1964 da TV canadense.

 Jan Teulings na série de TV belgo-holandesa Maigret / 1964-1968.

 Kees Brusse na série de TV holandesa Maigret / 1964-1965 e no telefilme Maigret – De Kruideniers / 1964.

Jean Richard

Jean Richard na série de TV francesa Les Enquêtes du Comissaire Maigret / 1967- 1990 e uma aparição como Maigret no filme Signé Furax / 1981.

Richard Harris no telefilme britânico Maigret /1988.

Bruno Cremer

Bruno Cremer na série de TV franco-belga-suiça- checoslovaca Maigret / 1991-2005.

Michael Gambon

Michael Gambon na série de TV britânica Maigret / 1992-1993.

Sergio Castellitto na minissérie ítalo-espanhola Maigret / 2004.

Rowan Atkinson

Rowan Atkinson na série de Tv britânica Maigret / 2016-2017.

OS TRIOS DO WESTERN B

Durante os anos 30 e 40, houve um aumento espantoso de westerns B. Estes eram produzidos em grupos de seis ou mais filmes e comercializados de acordo com o aluguel por pacote. Isto é, os exibidores alugavam não somente um filme de Ken Maynard ou Hoot Gibson, mas todos os seus filmes produzidos em uma temporada.

A partir de 1930, tornou-se uma prática comum identificar um ator como um personagem e construir uma série em torno dele. Assim William Boyd começou aparecendo como Hopalong Cassidy em 1935 e nunca mais interpretou outro papel. Semelhantemente a série de Charles Starrett como Durango Kid, iniciada em 1945, continuou com seis ou mais filmes por ano até 1952. Outros atores identificados com seus personagens: Buster Crabbe / Billy Carson; Eddie Dew e depois Robert Livingston / John Paul Revere; Buster Crabbe e depois Bob Steele / Billy the Kid; George Houston e depois Robert Livingston / The Lone Rider; James Newill / Renfrew of the Mounted; Bill Elliott e depois Allan Lane e Jim Bannon / Red Ryder etc.

Três sobre a Pista

Em 1935, o primeiro trio de cowboys, constituído por William Boyd, Jimmy Ellison e George Hayes, cavalgou na tela no filme Vida e Aventura / Hop-a-Long Cassidy. O quinto filme da série, Três sobre a Pista / Three on a Trail / 1936, foi o primeiro a estabelecê-los com um trio: William Boyd como Hopalong Cassidy, George Hayes como Windy Haliday e James Ellison como Johnny Nelson. James Ellison ficou na série até 1936 e, em 1937, Russell Hayden ocupou seu lugar assumindo o papel de Lucky Jenkins em A Sombra da Lei / Hills of Old Wyoming. Este trio ficaria junto até 1940 quando, em The Man from Texas, no lugar de Lucky Jenkins apareceu um novo personagem, California Carlson, interpretado por Andy Clide. Em 1948, o trio chegaria ao fim em Galope Selvagem / Strange Gamble, o último dos 66 filmes da série, lembrando que outros atores (Brad King, Jay Kirby, Jimmy Rogers, Britt Woods e Rand Brooks) também assumiram papéis no trio. Os filmes da série foram distribuídos pela Paramount Pictures e depois pela United Artists.

Outro grande trio foi The Texas Rangers, estrelado por quatro cowboys diferentes em momentos diversos. A série começou com Dave O´Brien, James Newill e Guy Wilkerson. Mais tarde, Tex Ritter substituiu James Newill e os outros dois permaneceram. Dave interpretou o papel de Dave Wyatt e Wilkerson atuou como Panhandle Perkins. Newill assumiu os traços de Jim Steele e Ritter o de Tex Haines. De 1943 a 1945 foram 22 filmes nesta série da PRC Pictures.

Os Três Mosqueteiros

Os 53 westerns da série Os Três Mosqueteiros ou Os Três Sertanejos / The Three Mesquiteers produzida pela Republic, exibidos entre 1936 e 1943, tinha como personagens principais, Stony Broke, Tucson Smith e Lullaby Joslin, que foram interpretados por vários atores: Stony Broke (Bob Livingston em 29 filmes, John Wayne em 8 filmes e Tom Tyler em 13 filmes); Tucson Smith (Ray Corrigan em 24 filmes e Bob Steele em 20 filmes); Lullaby Joslin (Syd Saylor em 1 filme, Max Tehrune em 21 filmes, Rufe Daves em 14 filmes e Jimmie Dodd em 6 filmes). Em alguns filmes da série, Raymond Hatton interpretou o personagem Rusty Joslin e Duncan Renaldo o de Rico. Antes da série houve um filme da RKO, Duelo de Valentes / Powdersmoke Range / 1935 com Harry Carey como Tucson Smith, Hoot Gibson como Stony Broke e Guinn “Big Boy” Williams como Lullaby Joslin.

Os Três Valentes ou Três Destemidos

Nos 24 filmes da série Os Três Valentes ou Os Três Destemidos / The Range Busters, produzida entre 1940-1943 e distribuída pela Monogram, trabalharam Ray Corrigan e Max Terhune, que haviam interpretado personagens da série Os Três Mosqueteiros. Desta vez eles eram Crash e Alibi, compondo o trio com Dusty, vivido por John King. Corrigan deixou temporariamente a série e foi substituído pelo excelente stuntman David Sharpe. Depois, Sharpe e King alistaram-se no exército, Corrigan voltou, e entrou Rex Lease, que depois cedeu lugar para Dennis Moore.

The Frontier Marshals

Em 1941-1942, a PRC reuniu Lee Powell com os cantores Bill “Cowboy” Rambler Boyd e Art Davis, para formar a série The Frontier Marshals composta por seis filmes Powell havia sido o primeiro Lone Ranger no seriado O Guarda Vingador / 1938 da Republic. Durante a Segunda Guerra Mundial, alistou-se Corpo de Fuzileiros Navais dos EUA e morreu em combate no Pacífico.

A série The Trail Blazers da Monogram, formada por 8 filmes, tinha como astros três grandes cowboys: Hoot Gibson, Ken Maynard e Bob Steele. No início dos filmes os três vinham andando pela trilha a galope. Ken Maynard montado no seu cavalo Tarzan, Hoot Gibson no seu Midnight, e Bob Steele no seu Zane. Posteriormente, Ken Maynard foi substituído por Chief Thundercloud.

Uma série da Universal reuniu Johnny Mack Brown, Tex Ritter e Fuzzy Knight em 7 filmes: Homens Heróicos / Deep in the Heart of Texas, Corações Palpitantes / Little Joe the Wrangel, Vingança Sangrenta / The Old Chisholm Trail, A Senda da Morte / Tenting Tonight The Old Camp Ground, O Preço da Perfídia / Cheyenne Round Up, Cavaleiros Foragidos / Raiders of San Joaquin, Trilha Solitária / The Lone Star Trail.

Buck Jones, Tim McCoy e Raymond Hatton

A série The Rough Riders da Monogram era composta por 8 filmes estrelados por um trio de astros famosos do western B: Buck Jones, Tim McCoy e Raymond Hatton. Buck Jones era Buck Roberts, Tim Mc Coy interpretava Tim McCall e o personagem de Hatton chamava-se Sandy Hopkins. A série terminou em À Margem da Lei / West of the Law / 1942, quando Tim McCoy se alistou nas forças armadas. Buck Jones continuou com Raymond Hatton em Amanhecer na Fronteira / Dawn on the Great Divide / 1942, no qual entrou o personagem Jack Carson interpretado por Rex Bell.

Antes do filme estrear, Buck morreu tragicamente no incêndio da boate Cocoanut Grove em Boston.

 

PRIMEIRAS MULHERES CINEASTAS NO CINEMA AMERICANO

Não havia nada de incomum na existência de diretoras na indústria de cinema americana desde os seus primórdios.  A primeira mulher diretora do mundo foi Alice Guy. Ela fez seu primeiro filme para a Gaumont nos anos 1890 e, com seu marido Herbert Blaché, foi para os Estados Unidos em 1907, fundando juntamente com George A. Magie, a Solax Company em 7 de setembro de 1910. Trabalhou como diretora até 1920. Seu primeiro filme, lançado em outubro de 1910, intitulava-se A Child’s Sacrifice, a história de uma menina de oito anos filha de um operário que está de greve. Os primeiros estúdios Solax estavam localizados em Flushing, Nova York, mas, em 1912, a companhia construiu um novo complexo de estúdios em Fort Lee, New Jersey. Alice Guy Blaché dirigiu as produções mais importantes da companhia, inclusive o seu primeiro filme de 3 rolos, Fra Diavolo / 1912, sobre o chefe de bando que resistiu à ocupação francesa de Nápoles. Antes ela dirigiu também The Pit and the Pendulum / 1911, baseada na obra de Edgar Alan Poe, muito elogiada pelos comentaristas da época, apesar de certas liberdades tomadas na adaptação do conto de horror imaginado pelo autor.

Alice Guy

Roteiristas como Frances Marion, Anita Loos, June Mathis, Beulah Marie Dix, Bess Meredith and Lenore Coffee dominaram a indústria do filme silencioso. Frances Marion dirigiu três filmes – The Love Light (com Mary Pickford), Just Around the Corner (com Margaret Seddon), The Song of Love (com Norma Talmadge) – entre 1921 e 1923, e outras roteiristas como Marguerite Bertsch, Mrs. George Randolph Chester, Julia Crawford Ivers, Marion Fairfax, Jane Murfin, e Elizabeth Pickett também tentaram a sorte na direção.

Lois Weber

A mulher diretora de cinema mais importante na América foi Lois Weber, ex-evangelista de rua cuja carreira se estendeu dos anos dez até o início dos anos trinta. Realizadora intransigente, suas produções lidavam com problemas sociais, tais como aborto, alcoolismo, controle de natalidade, pena de morte, prostituição e antissemitismo. Ela estreou atrás das câmeras em Heroine of ’76 / 1911, que codirigiu com o ator Phillips Smalley, seu marido na época, e o diretor pioneiro Edwin S. Porter. Em 1914, ano em que fez 27 filmes, Weber codirigiu com Smalley, The Merchant of Venice, baseado na peça de William Shakespeare, tornando-se a primeira mulher diretora a realizar um filme de longa-metragem nos EUA. Ela e Smalley atuaram também como intérpretes, ele no papel de Shylock e ela no papel de Portia.

Mabel Normand

Margery Wilson, uma das protagonistas de D. W. Griffith em Intolerância / Intolerance / 1916 (ela fazia o papel de Brown Eyes) esteve em atividade como diretora (além de atriz) no início dos anos vinte em That Something / 1920, Insinuation / 1922, The Offenders /1924. Também estrela de Griffith, Lillian Gish, dirigiu um filme, Remodeling Her Husband / 1920. Outras atrizes que tentaram a direção foram Gene Gauntier, Kathlyn Wiliams e Mabel Normand. Mabel dirigiu dez filmes, entre eles Caught in a Cabaret / 1914, atuando também como atriz ao lado de Charles Chaplin. Em um momento ou outro, nove mulheres diretoras estavam em atividade na Universal, entre elas, Ida May Park, Ruth Annn Baldwyn, Grace Cunard, Cleo Madison, e Ruth Stonehouse. Com a morte de seu marido Wallace Reid em 1923, Dorothy Davenport (mais conhecida como Mrs. Wallace Reid) tornou-se produtora e diretora e se manteve em atividade até os anos cinquenta.

Dorothy Azner

A única mulher diretora americana que fez uma transição bem-sucedida dos filmes mudos para os falados foi Dorothy Arzner, que começou sua carreira diretorial em 1927 com A Mulher e a Moda / Fashions for Women e realizou seu último filme, Crepúsculo Sangrento / First Comes Courage em 1943. Em 1919, Arzner foi contratada por William DeMille como estenógrafa no departamento de roteiros da Famous Players e depois promovida a montadora. Sua montagem das cenas de tourada em Sangue e Areia / Blood and Sand / 1922, estrelado por Rudolf Valentino, foi tão imaginativa que o diretor James Cruze a encarregou de montar seu famoso Os Bandeirantes / The Covered Wagon / 1923.  Além de Arzner, apenas uma outra mulher dirigiu um filme americano nos anos trinta, e ela foi Wanda Tuchock, que codirigiu (com George Nicholls Jr.) Escola de Elegância / Finishing School em 1934.

Ida Lupino

As mulheres não se destacaram como diretoras novamente até Ida Lupino codirigir (com Elmer Clifton) Mãe Solteira / Not Wanted / 1949.  Nascida em Londres, descendente de uma família de atores, apareceu pela primeira vez na tela em The Love Race / 1931, dirigido por seu primo Lupino Lane. No ano seguinte, aos 14 anos de idade, trabalhou sob as ordens do diretor Allan Dwan em Her First Affaire / 1932. Em 1933, protagonizou cinco filmes britânicos nos estúdios Teddington, comprados pela Warner Bros. e, mais tarde, foi uma das grandes estrelas desta companhia. Até que, em 1949, ela e seu marido Collier Young abriram uma empresa independente, The Filmakers, para produzir filmes de baixo orçamento. Ida dirigiu seis filmes: Mãe Solteira / Not Wanted /1949; Quem Ama Não Teme / Never Fear / 1950; O Mundo é o Culpado / Outrage / 1950; Laços de Sangue / Hard, Fast and Beautiful / 1951; O Mundo Odeia-me / The Hitchhiker / 1953; O Bígamo / The Bigamist / 1953. Em 1966, dirigiu Anjos Rebeldes / The Trouble with Angels e seu último filme como atriz foi My Boys Are Good Boys / 1979. Esteve também ativa na televisão como atriz ou diretora em várias séries, inclusive na famosa Além da Imaginação / The Twilight Zone) no episódio The Sixteen Millimeter Shrine / 1959, dirigido por Mitchel Leisen.

Shirley Clarke

Susan Seidelman

Barbara Kopple

Kathryn Bigelow e seus dois Oscar

A partir dos anos 50, foram surgindo novas diretoras como Shirley Clarke; Stephanie Rothman (especializada em exploitation films como O Mundo dos Biquinis / It´s a Wild Bikini / 1967); Ruth Orkin, que dirigiu dois filmes com seu marido Morris Engel (O Pequeno Fugitivo / The Little Fugitive / 1953 e Lovers and Lollipops / 1956); Elaine May, responsável por dois filmes, O Caçador de Dotes / A New Leaf / 1971 e Corações em Alta / Heartbreak Kid / 1972;  e muitas outras, entre elas, Mary Ellen Bute, Penny Marshall, Susan Seidelman, Nora Ephron, Joan Micklin Silver, Barbara Loden, Joan Rivers,  Francine Parker, Faith Hubley, Kathleen Dowdey, Mary Lambert, Julia Dash, Mira Nair, Lizzie Borden, Bette Gordon, Joyce Chopra, Claudia Weill, Diane Keaton, Barbra Streisand etc., inclusive duas que ganharam o Oscar: Barbara Kopple, Oscar de Melhor Documentário por Harlan County:  Tragédia Americana / Harlan County U.S.A. / 1976  (sobre uma greve de trabalhadores. em minas, no Kentuycky) e por American Dream / 1990 (sobre uma greve contra a Hormel Foods Corporation em Minnesota) e Kathryn Bigelow, Oscar de Melhor Direção por Guerra ao Terror / The Hurt Locker / 2008 (sobre um esquadrão anti-bombas do exército americano em ação na Guerra do Iraque).