Georg Wilhelm Pabst (1885-1967) nasceu em Raudnitz, Bohemia (hoje Roudnice nad Labem, Repúplica Theca). Filho de um ferroviário, criado em Viena, ingressou em uma escola técnica para se tornar engenheiro. Porém sentiu -se fortemente atraído para as artes e, depois de dois anos de estudo na Academia de Artes Decorativas de Viena, foi para a Suiça em 1906, onde começou uma carreira de ator de teatro. Após ganhar experiência excursionando com várias companhias através da Europa Central, rumou para Nova York com uma trupe de atores de língua alemã. Exceto por uma breve viagem de retorno a Viena em 1912, permaneceu nos Estados Unidos até 1914, atuando como ator e dirigindo peças de língua germânica em Nova York e várias outras cidades. Ele estava passando pela França no seu caminho de volta para a Austria, quando irrompeu a Primeira Guerra Mundial. Detido pelos franceses durante o período da guerra, Pabst aproveitou seu domínio do idioma francês para encenar uma série de peças no campo de prisioneiros.
Retornando a Viena em 1919, tornou-se diretor do teatro de vanguarda Neue Wiener Bühne (Teatro Novo de Viena). Quando visitava um set de filmagem de Im Banne der Krale / 1921 de Carl Froelich, deu sua única performance diante da câmera. Transferindo-se para Berlim, sua estréia na direção foi em Der Schatz / 1923, drama de amor e ambição com alusões visuais e literárias a lendas medievais. O assistente de diretor Marc Sorkin, que se tornou seu associado mais próximo, então encorajou-o para fazer Rua das Lágrimas / Die freudlose Gasse / 1925 com Asta Nielsen, Greta Garbo e a atriz húngara Ágnes Esterházy sobressaindo no elenco (e Marlene Dietrich como figurante). Passado em Viena durante o período de inflação, o filme descrevia uma sociedade dilacerada pela pobreza, tocava no tema da prostituição, e apresentava extremos de status social e emoções humanas. Seu realismo ao retratar este declínio, chocou seus contemporâneos. A Inglaterra proibiu exibições públicas do filme. As versões lançadas na Itália, França, Austria e em outros lugares foram consideradas mutiladas.
Em seguida a um filme pouco relevante, Com O Amor Não se Brinca / Man spielt nicht mit der Liebe / 1926, drama no qual um homem mais velho se envolve com uma jovem mulher, Pabst fez (com a ajuda de dois assistentes de Freud) Segredos de uma Alma / Geheimnisse einer Seele / 1926, relato de um caso psicanalítico no qual um professor de química (Werner Krauss) é atormentado por um desejo irreprimível e irresistível de assassinar sua esposa. O filme ficou famoso por suas sequências de sonho expressas em sobreposições multifacetadas.
A realização importante seguinte de Pabst foi O Amor de Jeanne Ney / Die Liebe der Jeanne Ney / 1927, baseada em um romance melodramático de Ilya Ehremburg sobre imigrantes russos em Paris, na qual um estilo pessoal de montagem suplementou o movimento de câmera para reforçar a ilusão de realidade.
Em outro filme menos significativo, Crise / Abwege / 1928, Brigitte Helm representava uma mulher da classe média alta entediada com a vida rotineira com o marido, que procurava se distrair em uma boate elegante, onde se juntava a um grupo de pessoas que, tal como ela, tentavam afogar sua desilusão em devassidões.
No seu filme subsequente, A Caixa de Pandora / Die Büchse der Pandora / 1929, Pabst contratou a atriz americana Louise Brooks para sua versão cinematográfica da peça “Lulu” de Frank Wedekind, importante predecessor do expressionismo literário. Seu desempenho como a heroína enigmática e amoral levou-a a interpretar um papel semelhante no filme subsequente de Pabst Diário de uma Garota Perdida / Tagebuch einer Verlorenen / 1929. Na transição para a era do cinema sonoro, Pabst trabalhou como codiretor com Arnold Fanck Die weisse Hölle vom Piz Palüe / 1929, filme de montanhas, gênero no qual Fanck havia se especializado.
Os primeiros filmes sonoros de Pabst estão entre as realizações mais importantes de sua carreira. Seu primeiro filme falado, Guerra! Flagelo de Deus / Westfront 1918: Vier von den Infanterie / 1930, figura entre os mais sinceros e implacáveis filmes contra a guerra na História do Cinema. Na sua análise do espetáculo a London Film Society mencionou as semelhanças impressionantes do filme com a doutrina da Nova Objetividade (Neue Sachlichkeit, movimento artístico surgido nos anos 20 como reação ao expressionismo). Ao longo do filme a guerra parece ser vivida em vez de encenada.
Após uma comédia provincial, Skandal um Eva / 1930, Pabst fez A Ópera dos Pobres (título da versão francesa L’ Opera de Quat’ Sous exibida entre nós) / Die Dreigroschenoper / 1931, adaptação da peça musical de Berthold Brecht – Kurt Weill. A versão filmada, se diferenciava muito da peça, porém no conjunto preservava a sua sátira social. Como a trama essencialmente teatral não poderia se tornar um filme realista, Pabst inverteu seu método de abordagem: em vez de penetrar no nosso mundo existente, ele construiu um universo irreal. Todo o filme é banhado por uma atmosfera estranha e fantástica, intensificada pela direção de arte de Andrej Andrejew.
Ainda em 1931 Pabst gerou polêmica política com o seu chamado para a solidariedade entre os trabalhadores de todas as nações na sua coprodução Germano-Francêsa A Tragédia da Mina / Kameradschaft. A mensagem foi simbolizada por um desastre ocorrido em uma mina na fronteira Franco-Germânica, durante o qual trabalhadores alemães vêm em socorro dos camaradas franceses.
Em 1932, ele fez Atlântida / Die Herrin von Atlantis com Briggite Helm e, depois de completar Don Quichote (título em português da versão francesa que, assim como a versão inglesa foi exibida no Brasil, esta última com o título de D. Quixote) / Don Quichotte), com o grande cantor de ópera russo Feodor Chaliapin e Du Haut em Bas (com um Jean Gabin ainda em início de carreira), foi para Hollywood, onde dirigiu Herói Moderno / A Modern Hero / 1934 com Richard Barthelmess
Exceto por este breve período em Hollywood, Pabst ficou até o final da década trabalhando na França, dirigindo Mademoiselle Docteur, Espiã da Grande Guerra / Mademoiselle Docteur / 1937, O Drama de Shanghai / Le Drame de Shangai / 1938 e Garotas em Perigo / Jeunes Filles en Détresse / 1939 e supervisionando um filme de Marc Sorkin, A Escrava Branca / L’ Esclave Blanche.
Embora tivesse recusado ofertas para retornar à Alemanha Nazista durante a maior parte dos anos trinta, ao ser impedido de sair de lá quando estourou a Segunda Guerra Mundial durante uma visita que fez para mãe na Austria anexada, realizou dois dramas históricos para o regime nazista, Komodianten 1941 e Paracelsus / 1943. O primeiro filme é uma homenagem a um grupo teatral fundado por um grupo de atores na cidade Weimar no século dezoito, destacando-se uma orgia fantástica von Sternbergniana no subsolo do palácio real russo. O segundo filme é a história do médico suiço, alquimista, teólogo leigo e astrólogo da era da Renascença (retratado por Werner Krauss), avultando uma sequência totalmente mímica na qual a Morte aparece.
Em 1944, ele começou a filmar em Praga Der Fall Molander, melodrama sobre um falso Stradivarius; porém o filme ficou inacabado. Pouco depois do fim da guerra, Pabst tentou se reabilitar com um estudo histórico sobre o anti-semitismo, Der Prozess / 1948 e subsequentemente fez filmes na Austria, Itália e Alemanha Ocidental (Geheimnisole Tiefe / 1949; A Voz do Silêncio / La Voce del Silenzo / 1952; Cose da Passi / 1953; As Confissões de Ina kahr / Das Bekenntnis der Inna Karr). Dois de seus últimos filmes abordaram o passado nazista: O Último Ato / Der letzte Akt / 1955, dramatizando com vigor os derradeiros dias de Hitler no bunker e Aconteceu em 20 de Julho / Es geschah am 20. Juli / 1955, expondo a tentativa fracassada do assassinato de Hitler em 1944.
Em 1956, Pabst encerrou sua carreira com Durch die Walder durch die Auen e Rosen für Bettina, mas estes filmes não igualaram o sucesso crítico ou comercial de suas obras anteriores, e ele se aposentou por motivo de saúde.
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