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MARIKA ROKK

Ela estava entre as estrelas mais famosas e queridas do Cinema do Terceiro Reich, compensando sua capacidade interpretativa limitada com uma energia ilimitada e atletismo enquanto seus filmes ofereciam outras atrações como cenários e figurinos luxuosos e fotografia em cores.

Marika Rökk

Marie Karoline Rökk (1913-2004) nasceu em Cairo no Egito, filha de um arquiteto e empreiteiro húngaro. Passou a segunda infância em Budapest, onde teve aulas de dança e, em 1924, sua família mudou-se para Paris. Juntando-se ao conjunto de dança “The Hoffman Girls” quando tinha onze anos de idade, sua primeira apresentação pública foi no Moulin Rouge. Marika passou os anos vinte excursionando por Nova York, Berlim, Monte Carlo, Cannes, Londres e Paris. Em Budapest e Viena ganhou as manchetes atuando em operetas e comédias musicais.

Sua primeira experiência no cinema foi como uma dançarina, aparecendo em duas comédias britânicas sob a direção de Monty Banks, Kiss me Sergeant e Why Sailors Leave Home, ambas de 1930. Subsequentemente estrelou dois filmes húngaros Csókolj meg, édes! / 1931 e Kisértetek vonata /1933, antes de ser contratada pela Ufa em 1935. Seu primeiro filme alemão foi o drama passado num circo dirigido por Werner Hochbaum, Cavalaria LIgeira / Leichte Kavallerie / 1935, seguido pela sua primeira colaboração com o diretor Georg Jacoby na comédia Rapsódia Húngara / Heisses Blut / 1936.

Marika em Gasparone

Marika em Eine Nacht im Mai

Marika em Kora Terry

Marika e Willy Fritsch em Frauen sind doch bessere Diplomaten

Jacoby se tornou o diretor favorito de Marika e também seu primeiro marido. Eles formaram uma parceira criativa até o final dos anos cinquenta. Jacoby dirigiu mais 16 de seus filmes: O Estudante Mendigo / Der Bettelstudent /1936; Ritmo Ardente / Und du mein schatz fährst mit / 1937; Gasparone / Gasparone / 1937; Eine Nacht im Mai / 1938; Kora Terry / 1940; Frauen sind doch bessere Diplomaten / 1941; Tanz mit dem Kaiser / 1941; Die Frau meiner Träume / 1944; Férias no Danúbio / Kinder der Donau / 1950; Sensation in San Remo / 1951; Die Czardasfürstin / 1951; Maske in Blau / 1953; Die geschiedene Frau / 1953; Noites no Papagaio VerdeNachts im grünen Kakadu / 1957; A Rainha do Palco / Bühne frei für Marika / 1958; Adorável Mentirosa / Die Nacht vor der Premiere / 1959. Seus filmes geralmente reciclavam a mesma fórmula básica dos musicais de Hollywood, terminando sempre com um número final espetacular.

Marika em Alô, Janine!

O parceiro mais agradável de Marika foi o ator neerlandês Johannes Heesters, especialmente em O Estudante Mendigo, Gasparone e Alô Janine! / Hallo Janine / 1939, este último dirigido por Carl Boese. Ela interpretou um papel duplo como duas irmãs gêmeas em Kora Terry e contracenou com Willy Fritsch no primeiro filme alemão em cores (Agfacolor) Frauen sind doch bessere Diplomaten. Ocasionalmente Marika foi vista em filmes de outros gêneros ou papéis mais sérios como, por exemplo, no drama de amor totalmente imaginário envolvendo Tchaikovsky, Noite de Baile / Es war eine rauschende Ballnacht / 1939, ao lado de Zarah Leander e Hans Stuwe (Tchaikovsky).

Inicialmente proibida de trabalhar na Alemanha e Austria após a Segunda Guerra Mundial, Marika retomou sua carreira em Viena em 1948. Com Jacoby como diretor e muitas vezes dividindo o estrelato com Heesters, ela fez filmes na Alemanha Ocidental a partir de 1951, revivendo sua personalidade na tela em Die Czardas fürstin e A Rainha do Palco. Jacoby faleceu em 1964 e, em 1968, Marika contraiu matrimômino com o ator austríaco de etnia húngara, Fred Raul (que estava no elenco de trê filmes dela, Noites do Papagaio Verde, A Rainha do Palco e Adorável Mentirosa) e os dois ficaram juntos até a morte dele em 1985.

Marika ainda em forma em Hello, Dolly!

Embora sua carreira tivesse declinado em grande parte no final dos anos 50 e definitivamente encerrada no início dos anos 60, ela continuou mantendo sua presença nos palcos em numerosas operetas e musicais, destacando-se sobretudo o papel principal no musical de Jerry Herman, “Hello, Dolly!”. Nunca abandonando seu forte sotaque húngaro, que era uma marca registrada dela, Marika anunciou cosméticos em comerciais e apareceu em vários programas de televisão.

Parodiando sua imagem alegre de estrela, Marika fez uma última aparição cinematográfica na comédia Schloss Königswald / 1987, ao lado de outras divas veteranas do cinema alemão como Camila Horn, Marianne Hoppe e Carola Höhn.

ALLAN DWAN PIONEIRO DO CINEMA

Joseph Aloysius Dwan (1885-1981) nasceu em Toronto, Ontário no Canadá. Filho de Joseph Michael, irlandês comerciante de tecidos e de Mary Hunt, ele foi com sua família uma primeira vez para Detroit, e depois para Chicago em 1893, onde frequentou a Alcott School e a North Division High School antes de entrar para a Universidade de Notre Dame e se formar em engenharia elétrica em 1907.

Allan Dwan

Dwan iniciou sua carreira no cinema por acaso quando trabalhava para a Peter Cooper-Hewitt Company, uma companhia de iluminação, para a qual desenvolveu os tubos de vapor de mercúrio. Em 1909, quando estava instalando estes tubos nos correios de Chicago, um homem se apresentou como George K. Spoor e lhe perguntou se as luzes seriam adequadas para a fotografia. Ele respondeu que sim e Spoor, um dos donos da Essanay Company, fez um pedido. Durante o período de experimentação Dwan ficou observando o que faziam no estúdio, ficou fascinado pelos filmes bobos que estavam fazendo sob as luzes, perguntou onde arranjavam aquelas histórias, quanto pagavam por elas, e lhes ofereceu as que havia escrito para a revista da sua Universidade.  Spoor gostou de seu trabalho e o contratou para ser supervisor de roteiros. Dwan aceitou o encargo e ainda o acumulou supervisionando também as iluminações.

Duas semanas depois, a maioria dos executivos da Essanay deixaram a empresa para formar a American Film Manufacturing Company (também conhecida como estúdios “Flying A”) e persuadiram Dwan a acompanhá-los, ganhando duas vezes o seu salário. A nova companhia tinha um problema. Em algum lugar da Califórnia – ninguém sabia ao certo – onde estava uma de suas equipes de filmagem. O suprimento de filmes havia cessado e, apesar de telegramas frequentes, também havia sido interrompido o fornecimento de qualquer informação. Dwan, na qualidade gerente de produção, foi designado para descobrir o que aconteceu. Ele localizou a equipe em San Juan Capistrano e verificou que eles estavam sem diretor porque ele (Frank Beal) era alcoólatra e havia partido para Los Angeles depois de uma bebedeira em uma farra. Então Dwan informou: “Sugiro que dissolvam a equipe, pois vocês não têm mais um diretor”. Os patrões responderam: “Você dirige”. Diante desta responsabilidade repentina, Dwan reuniu os atores e anunciou: “Ou em sou um diretor ou vocês estão sem emprego. Resposta dos atores: “Você é o melhor diretor que já vimos”.

Dwan fez seu primeiro filme (de 1 rolo – aproximadamente 10 minutos) em 1911 e continuou atrás das câmeras até 1961, quando terminou seu último longa-metragem, O Mais Perigoso dos Homens / Most Dangerous Man Alive, já que o projeto de Marine! em 1967 sobre a Guerra da Coréia (que ele preparava aos 82 anos de idade) não foi adiante. Assim, sua carreira durou 56 anos, mas ele se considerava orgulhosamente e antes de tudo um cineasta do cinema mudo. Como sua filmografia é muito extensa (cerca de 400 filmes) e a maior parte deles estão perdidos, vou apenas mencionar os mais importantes no cinema mudo e no sonoro.

Douglas Fairbanks em Robin Hod

Gloria Swanson em Este Mundo é um Teatro

Em 1914, Dwan fez seu primeiro longa-metragem, Richelieu, para a Universal -101 Bison Film Company e depois foi para a Famous Players, onde dirigiu Mary Pickford em A Sombra do Passado ou Traições e Bondades / A Girl of Yesterday / 1915 e A Enjeitada / The Foundling / 1915. Estes filmes com Mary e aqueles que fez com Norma Talmadge, Douglas Fairbanks e Gloria Swanson deram-lhe muita projeção no tempo da cena muda. Com Norma Talmadge fez A Via Dolorosa / Fifty-Fifty / 1916 e Pantéia / Panthea / 1917 (com Erich von Stroheim como assistente de direção e ator). Com Douglas Fairbanks fez Um Professor de Alegria / The Habit of Happiness / 1916; O Bom Facínora / The Good Bad Man / 1916; O Índio Amoroso / The Half Breed / 1916; Nova York Misteriosa / Manhattan Madness / 1916; Um Moderno Mosqueteiro / A Modern Musketeeer / 1917; O Protetor / M. Fix-It / 1918; O Homem do Automóvel / Bound in Morocco / 1918; Sempre Sorrindo / He Comes Up Smiling / 1918; Robin Hood / Robin Hood / 1923; O Máscara de Ferro / The Iron Mask / 1929. Com Gloria Swanson fez: Zaza / Zaza / 1923; Escândalo Social / A Society Scandal / 1924; Escravizada / Manhandled / 1924; Sua História de Amor / Her Love Story / 1924; A Bela Pecadora / Wages of Virtue / 1924; Folia / Coast of Foly / 1925; Este Mundo é um Teatro / Stage Struck / 1925.

Loretta Young e Tyrone Power em Suez

Dennis O´Keefe e Helen Walker em Chutando Milhões

John Wayne em Iwo Jima – O Portal da Glória

John Payne e Ronald Reagan em A Audácia é Minha Lei

Seu primeiro filme falado foi Ouro Sedutor / Tide of Empire (MGM) e na sua copiosa filmografia constam bons filmes sonoros, principalmente quando, nos anos 50, teve o apoio do produtor Benedict Bogeaus e do diretor de fotografia John Alton. Posso citar: Heidi / Heidi / 1937 e Sonho de Moça / Rebeca of Sunnybrook Farm / 1938, ambos com Shirley Temple; Suez / Suez / 1938; A Lei da Fronteira / Frontier Marshal / 1939; Chutando Milhões/ Brewster’s Millions / 1945; O Último Milagre / Angel in Exile / 1948; Iwo Jima – O Portal da Glória / Sands of Iwo Jima / 1949;  A Renegada / Woman They Almost Lynched / 1953; Montana, Terra do Ódio / Cattle Queen of Montana / 1954; Homens Indomáveis / Silver Lode / 1954;  A Audácia é a Minha Lei / Tennesse´s  Partner / 1955;  O Poder do Ódio / Slightly Scarlet / 1956; Matar para Viver / The River’s Edge / 1957).

Anthony Quinn, Debra Paget e Ray Milland em Matar para Viver

O incansável pioneiro Allan Dwan não foi um grande cineasta como Ford ou Hitchcock, mas apenas um profissional competente, despretensioso, capaz de lidar habilmente com variados gêneros e de filmar com rapidez, concisão, e simplicidade, procurando sempre eliminar o supérfluo, adaptando-se facilmente ao esquema tradicional dos estúdios no tempo do cinema americano clássico. Quando lhe caia em mãos uma boa história, fazia um bom filme.

RENATE MÜLLER

Ela foi uma das atrizes mais populares do início dos anos trinta, encantando o público com seu charme e vivacidade principalmente em uma sequência de comédias sofisticadas e musicais. Sua morte prematura interrompeu abruptamente uma carreira breve, mas deslumbrante.

Renate Müller

Renate Müller (1906-1937) nasceu em Munique, Baviera, Alemanha, filha de um editor de jornal e de uma pintora. Em 1924, mudou-se com a família para Berlim. Após ter lições de canto, frequentou aulas de arte dramática na Escola de Max Reinhardt, onde o diretor G. W. Pabst foi seu professor. Ela então se apresentou no Harzer Bergtheater em Thale e em Berlim.

Encorajada pelo diretor-ator Reinhold Schünzel, Renata iniciou uma carreira no cinema no final dos anos vinte em Peter, der Matrose / 1929. Schünzel usou-a novamente (após ela ter feito dois filmes com outros diretores) como a noiva do boxeador Max Schmeling em Amor e Box / Liebe Im Ring / 1930, rodado como um filme mudo e depois sincronizado com som. No mesmo ano e no próximo Renate atuou, sob as ordens de outros diretores e dividindo o estrelato com atores importantes: Der Sohn der weissen Berge com o também diretor Luis Trenker; O Favorito dos Deuses / Liebling der Götter com o grande Emil Jannings; Sanssouci / Das Flötenkonzert von Sanssouci com Otto Gebühr; Liebeslied com Gustav Frölich.

Emil Jannings e Renate em O Favorito dos Deuses

Como os primeiros filmes falados geralmente usavam interlúdios musicais, o treino de Renate como cantora logo mostrou ser produtivo. Sua canção “Ich bin ja heut’so glücklich’ (Estou tão feliz hoje) do filme Die Privatsekretärin / 1931 (Dir: Wilhelm Thiele) tornou-se um sucesso. Ela repetiu este papel na versão inglesa, Sunshine Susie.

Nos próximos anos, Renate continuou intimamente associada com Schünzel, atuando sob sua orientação em: Der kleine Seitensprung / 1931; Como Direi a Meu Marido? / Wie sag’ ich’s meinem Mann? / 1932; Quando O Amor Faz a Moda / Wenn die liebe Mode Macht / 1932; Saison in Kairo / 1933, exibida no Brasil a versão francesa Idylle au Cairo com Jorge Rigaud no lugar de Willi Fritsch e o título em português A Sombra da Esfinge; Viktor und Viktoria / 1933; Um Casamento Inglês Die englische Heirat / 1934.

Viktor und Viktoria, um de seus maiores sucessos, no qual ela interpretou o papel daquela cantora que se faz passar por travesti para obter emprego, seria depois refilmado na Inglaterra em 1935 como Mulher Antes de Tudo / Just a Girl com Jessie Mathews e Sonnie Hale e, em 1982, em Hollywood com Julie Andrews e Robert Preston. Curiosamente a versão alemã com Renate e Hermann Thimig só foi exibida no Sul do Brasil. No resto do país, passou a versão francesa George et Georgette, com Meg Lemmonier substituindo Renate e Julien Carette no lugar de Thimig. Em 1933, Renate trabalhou em outro filme com Willi Fritsch, A Guerra das Valsas / Walzerkrieg.

Hermann Thimig e Renate no filme

Outros trabalhos marcantes ocorreram em Liselotte von der Pfal. Frauen um dem Sonnenkönig / 1935, drama histórico contando a história de Elisabeth Charlotte da Baviera e seu casamento com Philippe d’ Orleans, irmão de Louis XIV e Allotria / Allotria / 1936, comédia sofisticada, cheia de alegria e movimento, conduzida magistralmente por Willi Forst, o respeitável diretor de Mascarada / Maskerade / 1934 e Mazurka / Mazurka / 1935.

Adolph Wolbrück e Renate em Allotria

Oficialmente descrita como suicídio, as verdadeiras circunstâncias da morte de Renate aos 31 anos de idade permanecem desconhecidas. Na época de seu falecimento surgiram vários rumores, entre eles o de que ela decidiu tirar sua própria vida, quando seu relacionamento com líderes nazistas se deteriorou depois que a atriz não se mostrou disposta a aparecer em filmes de propaganda e também se recusou a terminar seu relacionamento amoroso com um diplomata judeu. Perseguida pela Gestapo, Renate teria preferido se matar em 7 de outubro de 1937, em vez de tolerar o assédio sádico de Goebbels (cf. Film in the Third Reich de David Stewart Hull, ed. Simon and Schuster, 1973). Anos mais tarde, a cinebiografia Liebling der Götter / 1960, dirigida por Gottfried Reinhardt, com Ruth Lewerik no papel de Renate e Peter van Eyck como seu amante, sustentou a hipótese de suicídio.

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WALTER BRENNAN TRICAMPEÃO DO OSCAR

Ele foi o primeiro ator a ganhar três Oscar da Academia e continua sendo a única pessoa a receber por três vezes a estatueta de Melhor Ator Coadjuvante.

Walter Brennan

Brennan foi também o primeiro ganhador do prêmio nesta categoria (que até então não era premiada) por seu desempenho no filme Meu Filho é Meu Rival / Come and Get it / 1936 como o sueco Swan Bostrom, fiel amigo de Barney Glasgow (Edward Arnold), o magnata da madeira que se apaixona por Lotta (Frances Farmer), filha da mulher, uma artista de cabaré que amara e perdera, e depois perde a filha também para o próprio filho (Joel McCrea). Ele concorreu com Mischa Auer em Irene a Teimosa / My Man Godfrey, Basil Rathbone em Romeu e Julieta / Romeo and Juliet, Stuart Erwin em Loucuras de Estudantes  / Pigskin Parade, Akim Tamiroff em O General Morreu ao Amanhecer / The General Died at Dawn.

Brennan com Edward Arnold e Frances Farmer em Meu Filho é Meu Rival

Walter Andrew Brennan (1894-1974) nasceu em Lynn, perto da casa de sua família em Swampscott, Massachusets. Descendente de irlandeses, filho de um engenheiro e inventor, estudou engenharia na Rindge Technical High School em Cambridge. Trabalhou posteriormente como lenhador, bancário e ator de vaudeville, antes de se alistar nas Forças Armadas dos EUA, para lutar na Primeira Guerra Mundial. Após o fim do conflito, foi para a Guatemala, onde se dedicou ao cultivo de abacaxi, indo depois para Los Angeles onde, durante os anos vinte, trabalhou no mercado imobiliário, ganhando e perdendo muito dinheiro.

Encontrando-se sem um tostão no bolso, estreou no cinema em 1925 como figurante, ganhando depois pequenos papéis em comédias curtas (v.g. dos Três Patetas), westerns (de Tim McCoy e outros grandes cowboys), shorts, seriados e filmes de longa-metragem, obtendo aos poucos funções interpretativas mais importantes diante das câmeras.  Brennan obteve um papel mais significativo como o velho Old Atrocity em Quando as Almas se Encontram / Barbary Coast / 1935 e fez seu primeiro papel principal no filme da Republic, Affairs of Cappy Ricks / 1937, como o capitão do mar rabugento que retorna para casa para descobrir que sua família e seu negócio estão num caos – a filha está prestes a se casar com um idiota que ele não suporta e a futura sogra da moça tinha assumido o comando de tudo.

Brennan em Romance do Sul

Em 1938, Brennan ganhou seu segundo Oscar em Romance do Sul / Kentucky como Peter Goodwin, o tio da heroína Loretta Young, numa história tipo Romeu e Julieta sobre o amor entre Sally Goodwin, a personagem de Loretta, e Jack Dillon, interpretado por Richard Greene. A rixa entre as famílias começara quando os chefes dos clãs ficaram em lados opostos durante a Guerra de Secessão. No final, Sally consegue pagar as dívidas de sua fazenda ganhando uma famosa corrida conhecida como o Derby de Kentucky, e o amor de Jack. Desta vez Brennan disputou o troféu com John Garfield em Quatro Filhas / Four Daughters, Gene Lockhart em Argélia / Algiers, Robert Morley em Maria Antonieta / Marie Antoinette, Basil Rathbone em Se Eu Fora Rei / If I Were King.

Brennan e Gary Cooper em O Galante Aventureiro

O terceiro Oscar veio em 1940 em O Galante Aventureiro / The Westerner, fazendo o papel do pitoresco e lendário Roy Bean, Juiz de Paz em Val Verde County, no sudoeste do Texas, dono de um saloon em Langtry, onde mantinha seu tribunal e se apelidava de “The Law West of Pecos” (A Lei a Oeste de Pecos). No enredo, Gary Cooper é Cole Hardin, um vaqueiro que é preso pelo roubo de um cavalo que, na realidade, ganhou no pôquer do verdadeiro ladrão. Ele é condenado pelo júri, mas tem a sentença suspensa por duas semanas por Roy Bean, quando este é levado a acreditar que Cole é amigo da atriz Lily Langtry (Lilian Bond), por quem o juiz é apaixonado. O vaqueiro inventa casos sobre ela para que o juiz acredite em sua história. Diz, inclusive, que tem um cacho de cabelos da atriz. Seguem-se vários incidentes até o desfecho famoso quando Bean vai assistir ao show de Lily e Cole, que fora nomeado delegado de Fort Davis, lhe dá voz de prisão. Eles trocam tiros e Bean é gravemente ferido. Cole o leva para ver a atriz de perto. Ele satisfaz sua fantasia e morre logo depois. As outras indicações para o Oscar foram: Jack Oakie em O Grande Ditador / The Great Dictator; Albert Basserman em Correspondente Estrangeiro / Foreign Correspondent, James Stephenson em A Carta / The Letter, Wiliam Gargan em Não Cobiçarás a Mulher Alheia / The Knew What They Wanted.

Em 1941, Brennan  recebeu mais uma indicação para o Oscar por sua atuação como o Pastor Rosier em Sargento York / Sergeant Yor.  A meu ver, ele poderia ter sdo indicado ainda por seu desempenho exuberante  como o velho Clanton em Paixão dos Fortes / My Darling Clementine / 1946, simplesmente eletrizante chicoteando o filho por ter puxado a arma sem ter conseguido matar; como Nadine Groot, o fiel companheiro  do criador de gado Tom Dunson (John Wayne) em Rio Vermelho / Red River / 1948; ou como o velho coxo Stumpy, ajudante do xerife John T. Chance (John Wayne) em Onde Começa o Inferno / Rio Bravo / 1959.

Brennan e Henry Fonda em Paixão dos Fortes

Brennan e John Wayne em Rio Vermelho

Brennan com John Wayne em Rio Bravo

Na sua carreira prolífera, Brennan participou de muitas dezenas de filmes,  várias séries de TV, telefilmes, teleteatros e shows, gravou canções, emprestou sua voz para desenho animado, trabalhou com Walt Disney e encerrou sua longa trajetória nas telas em 1975 no filme Smoke in the Wind sob as ordens do veterano diretor de westerns Joe Kane.

LILIAN HARVEY E WILLY FRITSCH

Eles eram “o casal dos sonhos” que dominou o filme germânico nos anos trinta e encantou platéias do mundo inteiro, inclusive no Brasil.

Promovida pela Ufa como a “moça mais doce do mundo”, loura, nascida na Inglaterra, Lilian Helen Muriel Pape Harvey (1906-1968) mudou-se com a família da Inglaterra para Berlim em 1914 e passou a Primeira Guerra Mundial na Suiça. Frequentou a escola de balé Berlin State Opera em 1923 e, no ano seguinte, atuou em um espetáculo do teatro de revista em Viena. Nesta ocasião, fez sua estréia no cinema em Der Fluch / 1924. Retornando a Berlim, o produtor e diretor Richard Eichberg empregou-a como dublê de sua esposa Lee Parry nas cenas de montanha de Motorbraut / 1924. Depois disto, ele a incluiu ao lado de Otto Gebühr no melodrama Leidenschaft, seguindo-se o filme que a lançou no estrelato: Amor e Toque de Corneta / Liebe und Trompetenblasen / 1925. Em Casta Suzanna / Die keusche Susanne / 1926, Eichberg emparelhou-a com Willy Fritsch.

Lilian Harvey

Favorito do público nas comédias românticas e outros gêneros alegres nos anos 30 a 50, o galã romântico Wilhelm Egon Fritz Fritsch (1901-1973), nascido em Kattowitz, Alemanha hoje Katowice, Polonia e educado em Berlim a partir de 1912, teve uma série de empregos antes de subir no palco do Grosses Schauspielhaus (Grande Teatro) em 1919. Ele fez sua estréia no cinema em Miss Venus / 1921, opereta dirigida por Ludwig Czeny e seu primeiro papel principal, como um artista que ficou cego durante a guerra, aconteceu em seguida no filme de Benjamin Christensen, Lábios Selados / Seine Frau, die Unbekannte / 1923. Subsequentemente, o produtor Erich Pommer contratou-o para a Ufa quando ele atuou ao lado de Henny Porten e Ossi Oswalda e então Fritsch ascendeu ao status de astro com sua interpretação de um suposto filho de aristocrata em O Fazendeiro do Texas / Der Farmer Aus Texas / 1925 de Joe May e como um conde impetuoso em Sonho de Valsa / Ein Walzertraum / 1925 de Ludwig Berger. Ele teve oportunidade de interpretar papéis diferentes em A Noiva do Boxeur / Die Boxerbraut / 1926 de Johannes Guters e, sob a direção de Fritz Lang, um agente especial decidido em Os Espiões / Spione / 28 um engenheiro de foguetes em A Mulher na Lua / Frau im Mond / 1929. Ainda em 1929, ele fez seu primeiro filme todo falado, a opereta da Ufa dirigida por Hans Schwarz Melodie des Herzens / 1929.

Willy e Lillian em O Congresso Dança

O primeiro filme falado da dupla Fritsch-Harvey foi a opereta A Valsa do Amor / Liebeswalzer / 1930 de Wilhelm Thiele, após o qual eles encabeçaram o elenco de comédias musicais como A Caminho do Paraíso (Para o Brasil veio  também a versão francesa, Le Chemin du Paradis com Henri Garat e o mesmo título em português) / Die Drei von der Tankstelle / 1930; O Congresso Dança, (No Brasil passou também a versão francesa Le Congrès S’ Amuse, também com Henri Garat sob o título de O Congresso se Diverte) / Der Kongress tantz) / 1931; Flagrante Delito / Einbrecher / 1930; Tudo por Ti / Hokuspokus / 1930 (obs. a versão inglesa chamou-se The Temporary Widow e foi com Laurence Olivier); Não há mais Amor / Nie wieder Liebe! / 1931; Ein blonder Traum / 1932 (No Brasil passou apenas a versão francesa, Um Sonho Dourado / Un Rêve Blond), mais uma vez com Henri Garat.

Em 1929, Lilian fez Adeus, Mascotte / Adieu Mascotte e depois integrou o elenco de três filmes realizados em versões múltiplas (No Brasil foram exibidas as versões francesas: Princesa às suas Ordens / Princesse a vos Ordres / 1931, Um Casal Alegre / La Fille et le Garçon / 1931, Eu E A Imperatriz / Moi et L’Imperatrice / 1932) e contracenou com Hans Albers em Adorável Sedução / Quick / 1932.

Atendendo a um convite da Fox, a atriz participou de três filmes de Hollywood:  Eu Sou Suzanne / I Am Suzanne / 1933 (Dir: Rowland V. Lee), Meu Beguin / My Weakness / 1934 (Dir: David Butler) e Vivamos Esta Noite! / Let’s Live Tonight / 1935 (Dir: Victor Schertzinger). Ela retornou à Europa em 1935, onde trabalhou em filmes na Inglaterra e na Itália e, em 1936, atuou novamente como Willy Fritsch na comédia maluca da Ufa Alegres Boêmios / Glückskinder e em Frau am Steuer / 1939 e fez, entre outros, Rosas Negras / Schwarze Rosen / 1935, Morrer De Amor / Fanny Eissler / 1937 e Capricho / Capriccio / 1938.

Willy e Lilian em Alegres Boêmios

Vigiada pela Gestapo, por ter ajudado colegas judeus e homossexuais, Lilian deixou a Alemanha, para contracenar com Vittorio de Sica em Castelli in aria / 1939, antes de emigrar para a França, onde apareceu ao lado de Louis Jouvet em Os Amores de Schubert / Sérénade / 1940 e em seu derradeiro filme, Miquette / 1940. Após a ocupação alemã de Paris, Lilian foi para os Estados Unidos, onde trabalhou para a Cruz Vermelha em Hollywood e rejeitou todas as propostas para voltar ao cinema.

Willy Fritsch em Anfitrião

Willy Fritsch fez ainda muito filmes até 1964, sobressaindo: Amphitryon / Amphitryon / 1935, sátira gostosa dos costumes da antiga Grécia dirigida por Reinhold Schünzel, no qual interpretou com muita graça ambos um velho deus grego libidinoso e um jovem centurião viril e o já citado Alegres Boêmios com Lilian Harvey. Após a guerra, Fritsch parodiou sua imagem de amante da tela no filme de Rudolf Jugert, Film ohne Titel / 1948 e depois disso apareceu principalmente em filmes leves de entretenimento e Heimatfilms (Filmes de Pátria), rodados em ambientes rurais, muito populares na Alemanha, Suiça e Austria do final dos anos 40 ao início dos anos 60. O filho de Willy, Thomas, também se tornou um ator e os dois trabalharam juntos no último filme de Fritsch, Das hab ich von Papa gelernt / 1964.

ANTONIO VILAR

Ele foi o mais internacional dos atores portugueses das décadas de 40/50. Recorrí ao magnífico Dicionário do Cinema Português de Jorge Leitão de Barros (ed. Caminho, 2011), fonte indispensável para traçar sua trajetória artística.

Antonio Vilar

Antonio Vilar Justiniano dos Santos (1912-1995) nasceu em Lisboa e, depois de seus estudos secundários e de frequentar o Instituto Comercial, instituição de estudo pós-secundário politécnico na área da contabilidade e comércio, volta-se decisivamente para o meio artístico e boêmio lisboeta. Canta na rádio, é repórter do jornal O Século, faz figuração no cinema em A Severa / 1931 de Leitão de Barros, inicia-se como técnico, ao lado de Antonio Lopes Ribeiro em Gado Bravo / 1934.

Continua a trabalhar como técnico durante vários anos até que, em 1940, consegue um pequeno papel em Feitiço do Império de A.Lopes Ribeiro. Dois anos depois ele é o Carlos Bonito de O Pátio das Cantigas (com argumento e diálogos de A. Lopes Ribeiro e direção de seu irmão, Francisco Ribeiro) e, em 1934, assume o protagonismo em Amor de Perdição, também dirigido por A.Lopes Ribeiro, segunda versão cinematográfica do romance de Camilo Castelo Branco, como Simão Botelho, o estudante de Coimbra desajuizado que se apaixona perdidamente por Teresa de Albuquerque. Os pais de ambos se odeiam e se opõem a esta união, sucedendo -se os momentos de sofrimento e paixão. A partir daí sua carreira está firmada.

Em poucos anos, Vilar protagonizou um núcleo de filmes históricos de perfil nacionalista, que fez dele o ator por excelência do regime. No final da década de quarenta, vai para Madrid e, com base na capital espanhola, enceta uma atividade internacional, filmando na Espanha, Itália, França, Argentina. Em 1959, volta para Portugal para ser o Basilio de O Primo Basilio / 1959, adaptação do romance de Eça de Queiroz e derradeiro longa-metragem de A.Lopes Ribeiro, com a presença no elenco da atriz francesa Danik Patisson como Luisa, a burguesinha seduzida por Basilio e chantageada pela empregada.

Vilar e Annabella em Don Juan

Martine Carol e Vilar emLe Desir et l’Amour

Vilar e Brigitte Bardot em A Mulher e o Fantoche

Ana Karina e Vilar em O Califa de Bagdá

Vilar contracenou também com Annabella em Don Juan / 1950; com  Martine Carol e Françoise Arnoul em Le Désir et L’Amour / 1952; com Brigitte Bardot em A Mulher e o Fantoche / La Feme et le Pantin / 1959; e com Ana Karina em O Califa de Bagdá / Shéhérazade / 1963. Em Camões / 1946, encarnou o grande poeta lusitano e em Alba de America / 1951, o grande navegador genovês Cristovão Colombo. Em Inês de Castro / 1944 ele é o infante D. Pedro, que caça os assassinos de sua amada Inês (Alicia Palacios), “aquela que despois de ser morta foi Rainha” como nos conta Camões naquele episódio lírico-trágico do Canto Terceiro de  Os Lusíadas.

Em abril de 1963, Vilar esteve no Rio de Janeiro (então Estado da Guanabara), procedente de Buenos Aires e São Paulo, de onde embarcou para Paris. O galã português informou à imprensa que seus entendimentos em Buenos Aires para a rodagem de alguns filmes chegaram a um bom termo, o mesmo não ocorrendo no Brasil, onde pretendia comprar os direitos autorais de filmagem do romance “O Tempo e o Vento” de Erico Verissimo.

FILMOGRAFIA COMO ATOR

1931 – A Severa (Dir: Leitão de Barros) figurante não creditado.1940 – Feitiço do Império (Dir: Antonio Lopes Ribeiro); Pão Nosso … (Dir: Armando de Miranda). 1941 – O Pátio das Cantigas (Dir: Francisco Ribeiro). 1943 – Amor de Perdição (Dir: Antonio Lopes Ribeiro); 1944 – Inês de Castro (Dir: Leitão de Barros) co-prod: Portugal-Espanha. 1945 – A Vizinha do Lado (Dir: Antonio Lopes Ribeiro). 1946 – Camões – Erros meus, má fortuna, amor ardente (Dir: Leitão de Barros); A Mantiha de Beatriz (Dir: Eduardo Garcia Maroto); Rainha Santa (Dir: Rafael Gil) co-prod: Espanha-Portugal. 1948 – El Duende y el Rey (Dir: Alejandro Perla) prod: Espanha; La Vida Encadenada (Dir: Antonio Roman) prod: Espanha; La Calle sin Sol (Dir: Rafael Gil) prod: Espanha; Guarany (Dir: Ricardo Freda) prod: Itália; Mare Nostrum (Dir: Rafael Gil) prod: Espanha. 1949 – Santo Disonore (Dir: Guido Brignone) prod: Itália; Uma Mujer Qualquiera (Dir: Rafael Gil) prod: Espanha; Alas de Juventud (Dir: Antonio del Amo) prod: Espanha. 1950 – Don Juan (Dir: José Luis Saenz de Heredia) prod: Espanha; Bel Amour (Dir: François Campaux) prod: França. 1951 – Le Désir et l’(Dir: Henri Decoin, Luis Delgado) co-prod: França-Espanha; Alba de America (Dir: Juan de Orduña) prod: Espanha. 1952 – El Judas (Dir: Ignacio F. Iquino) prod: Espanha. 1953 – Fuego en laSangre (Dir: Ignacio F. Iquino) prod: Espanha; Tres Citas com el Destino (Dir: Florian Rey) co-prod: Espanha-México-Argentina. 1954 – Los Hermanos Corsos (Dir: Leo Fleider) prod: Argentina. 1955 – La Quintrala (Dir: Hugo del Carril) prod: Argentina; El Festin de Satanás (Dir: Ralph Pappier) prod: Argentina. 1956 – Miedo (Dir: Leon Kimowsky) prod: Espanha; Embajadores en el Infierno (Dir: José Maria Forqué) prod: Espanha. 1957 – Los Misterios del Rosario (Dir: Joseph Breen, Fernando Palacios) co-prod: Espanha-EUA.1958 Historiasde la Feria (Dir: Francisco Rovira Beleta) prod: Espanha. La Noche y el Alba (Dir: José Maria Forqué) prod: Espanha; Il Padrone delle Ferriere (Dir: Anton Giulio Majano) co-Prod: Itália- Espanha. 1959 – Muerte al Amanecer (Dir: Josep Maria Forn) prod: Espanha; A Mulher e o Fantoche / La Femme et le Pantin (Dir: Julien Duvivier) co-prod: França-Itália).  O Primo Basilio (Dir: Antonio Lopes Ribeiro. 1960 – El Principe Encadenado (Dir: Luis Lucia) co-prod: Espanha-Itália. 1961 – Alerta en el Cielo (Dir: Luis Cesar Amadori) prod: Espanha; Cuidado com las Personas Formales (Dir: Augustin Navaro) prod: Espanha. 1963 – O Califa de Bagdá / Shéhérazade (Dir: Pierre Gaspard-Huit) co-prod: França-Itália-Espanha. 1964 – Proceso de Conciencia (Dir: Augustin Navarro) prod: Espanha. 1966 – Fim de Semana com a Morte (Dir: Julio Coll) co-prod: Portugal-Espanha-RFA. 1970 – Buon Funerale, Amigos!…Paga Sartana (Dir: Giuliano Carnimeo) co-prod: Itália- Espanha. 1973 – Sinal Vermelho (Dir: Rafael Romero Marchent) co-prod: Portugal-Espanha. 1976 – Fulanita y Sus Menganos (Dir: Pedro Lazaga) prod: Espanha. 1978 – Estimado Sr. Juez … (Dir: Pedro Lazaga) prod: Espanha.1980 – Asalto al Casino (Dir: Max H.Boulois) co-prod: Espanha-Reino Unido.

TRIBUTO A G. W. PABST

Georg Wilhelm Pabst (1885-1967) nasceu em Raudnitz, Bohemia (hoje Roudnice nad Labem, Repúplica Theca). Filho de um ferroviário, criado em Viena, ingressou em uma escola técnica para se tornar engenheiro. Porém sentiu -se fortemente atraído para as artes e, depois de dois anos de estudo na Academia de Artes Decorativas de Viena, foi para a Suiça em 1906, onde começou uma carreira de ator de teatro. Após ganhar experiência excursionando com várias companhias através da Europa Central, rumou para Nova York com uma trupe de atores de língua alemã. Exceto por uma breve viagem de retorno a Viena em 1912, permaneceu nos Estados Unidos até 1914, atuando como ator e dirigindo peças de língua germânica em Nova York e várias outras cidades. Ele estava passando pela França no seu caminho de volta para a Austria, quando irrompeu a Primeira Guerra Mundial. Detido pelos franceses durante o período da guerra, Pabst aproveitou seu domínio do idioma francês para encenar uma série de peças no campo de prisioneiros.

G.W. Pabst

Retornando a Viena em 1919, tornou-se diretor do teatro de vanguarda Neue Wiener Bühne (Teatro Novo de Viena). Quando visitava um set de filmagem de Im Banne der Krale / 1921 de Carl Froelich, deu sua única performance diante da câmera. Transferindo-se para Berlim, sua estréia na direção foi em Der Schatz / 1923, drama de amor e ambição com alusões visuais e literárias a lendas medievais. O assistente de diretor Marc Sorkin, que se tornou seu associado mais próximo, então encorajou-o para fazer Rua das Lágrimas / Die freudlose Gasse / 1925 com Asta Nielsen, Greta Garbo e a atriz húngara Ágnes Esterházy sobressaindo no elenco (e Marlene Dietrich como figurante). Passado em Viena durante o período de inflação, o filme descrevia uma sociedade dilacerada pela pobreza, tocava no tema da prostituição, e apresentava extremos de status social e emoções humanas. Seu realismo ao retratar este declínio, chocou seus contemporâneos. A Inglaterra proibiu exibições públicas do filme. As versões lançadas na Itália, França, Austria e em outros lugares foram consideradas mutiladas.

Rua das Lágrimas

Em seguida a um filme pouco relevante, Com O Amor Não se Brinca / Man spielt nicht mit der Liebe / 1926, drama no qual um homem mais velho se envolve com uma jovem mulher, Pabst fez (com a ajuda de dois assistentes de Freud) Segredos de uma Alma / Geheimnisse einer Seele / 1926, relato de um caso psicanalítico no qual um professor de química (Werner Krauss) é atormentado por um desejo irreprimível e irresistível de assassinar sua esposa. O filme ficou famoso por suas sequências de sonho expressas em sobreposições multifacetadas.

 A realização importante seguinte de Pabst foi O Amor de Jeanne Ney / Die Liebe der Jeanne Ney / 1927, baseada em um romance melodramático de Ilya Ehremburg sobre imigrantes russos em Paris, na qual um estilo pessoal de montagem suplementou o movimento de câmera para reforçar a ilusão de realidade.

Em outro filme menos significativo, Crise / Abwege / 1928, Brigitte Helm representava uma mulher da classe média alta entediada com a vida rotineira com o marido, que procurava se distrair em uma boate elegante, onde se juntava a um grupo de pessoas que, tal como ela, tentavam afogar sua desilusão em devassidões.

A Caixa de Pandora

No seu filme subsequente, A Caixa de Pandora / Die Büchse der Pandora / 1929, Pabst contratou a atriz americana Louise Brooks para sua versão cinematográfica da peça “Lulu” de Frank Wedekind, importante predecessor do expressionismo literário. Seu desempenho como a heroína enigmática e amoral levou-a a interpretar um papel semelhante no filme subsequente de Pabst Diário de uma Garota Perdida / Tagebuch einer Verlorenen / 1929. Na transição para a era do cinema sonoro, Pabst trabalhou como codiretor com Arnold Fanck Die weisse Hölle vom Piz Palüe / 1929, filme de montanhas, gênero no qual Fanck havia se especializado.

 

Guerra, Flagelo de Deus !

Os primeiros filmes sonoros de Pabst estão entre as realizações mais importantes de sua carreira. Seu primeiro filme falado, Guerra! Flagelo de Deus / Westfront 1918: Vier von den Infanterie / 1930, figura entre os mais sinceros e implacáveis filmes contra a guerra na História do Cinema. Na sua análise do espetáculo a London Film Society mencionou as semelhanças impressionantes do filme com a doutrina da Nova Objetividade (Neue Sachlichkeit, movimento artístico surgido nos anos 20 como reação ao expressionismo). Ao longo do filme a guerra parece ser vivida em vez de encenada.

A Ópera dos Pobres

Após uma comédia provincial, Skandal um Eva / 1930, Pabst fez A Ópera dos Pobres (título da versão francesa L’ Opera de Quat’ Sous exibida entre nós) / Die Dreigroschenoper / 1931, adaptação da peça musical de Berthold Brecht – Kurt Weill. A versão filmada, se diferenciava muito da peça, porém no conjunto preservava a sua sátira social. Como a trama essencialmente teatral não poderia se tornar um filme realista, Pabst inverteu seu método de abordagem: em vez de penetrar no nosso mundo existente, ele construiu um universo irreal. Todo o filme é banhado por uma atmosfera estranha e fantástica, intensificada pela direção de arte de Andrej Andrejew.

Ainda em 1931 Pabst gerou polêmica política com o seu chamado para a solidariedade entre os trabalhadores de todas as nações na sua coprodução Germano-Francêsa A Tragédia da Mina / Kameradschaft. A mensagem foi simbolizada por um desastre ocorrido em uma mina na fronteira Franco-Germânica, durante o qual trabalhadores alemães vêm em socorro dos camaradas franceses.

A Tragédia da Mina

Em 1932, ele fez Atlântida / Die Herrin von Atlantis com Briggite Helm e, depois de completar Don Quichote (título em português da versão francesa que, assim como a versão inglesa foi exibida no Brasil, esta última com o título de D. Quixote) / Don Quichotte), com o grande cantor de ópera russo Feodor Chaliapin e Du Haut em Bas (com um Jean Gabin ainda em início de carreira), foi para Hollywood, onde dirigiu Herói Moderno / A Modern Hero / 1934 com Richard Barthelmess

Exceto por este breve período em Hollywood, Pabst ficou até o final da década trabalhando na França, dirigindo Mademoiselle Docteur, Espiã da Grande Guerra / Mademoiselle Docteur / 1937, O Drama de Shanghai / Le Drame de Shangai / 1938 e Garotas em Perigo / Jeunes Filles en Détresse / 1939 e supervisionando um filme de Marc Sorkin, A Escrava Branca / L’ Esclave Blanche.

Embora tivesse recusado ofertas para retornar à Alemanha Nazista durante a maior parte dos anos trinta, ao ser impedido de sair de lá quando estourou a Segunda Guerra Mundial durante uma visita que fez para mãe na Austria anexada, realizou dois dramas históricos para o regime nazista, Komodianten 1941 e Paracelsus / 1943. O primeiro filme é uma homenagem a um grupo teatral fundado por um grupo de atores na cidade Weimar no século dezoito, destacando-se uma orgia fantástica von Sternbergniana no subsolo do palácio real russo. O segundo filme é a história do médico suiço, alquimista, teólogo leigo e astrólogo da era da Renascença (retratado por Werner Krauss), avultando uma sequência totalmente mímica na qual a Morte aparece.

Komodianten

Paracelsus

Em 1944, ele começou a filmar em Praga Der Fall Molander, melodrama sobre um falso Stradivarius; porém o filme ficou inacabado. Pouco depois do fim da guerra, Pabst tentou se reabilitar com um estudo histórico sobre o anti-semitismo, Der Prozess / 1948 e subsequentemente fez filmes na Austria, Itália e Alemanha Ocidental (Geheimnisole Tiefe / 1949; A Voz do Silêncio / La Voce del Silenzo / 1952; Cose da Passi / 1953; As Confissões de Ina kahr / Das Bekenntnis der Inna Karr). Dois de seus últimos filmes abordaram o passado nazista: O Último Ato / Der letzte Akt / 1955, dramatizando com vigor os derradeiros dias de Hitler no bunker e  Aconteceu em 20 de Julho / Es geschah am 20. Juli / 1955, expondo a tentativa fracassada do assassinato de Hitler em 1944.

 

Em 1956, Pabst encerrou sua carreira com Durch die Walder durch die Auen e Rosen für Bettina, mas estes filmes não igualaram o sucesso crítico ou comercial de suas obras anteriores, e ele se aposentou por motivo de saúde.