FILMES DE GUERRA BRITÂNICOS DO IMEDIATO PÓS-GUERRA

Na Grã-Bretanha logo após a Segunda Guerra Mundial foram feitos poucos filmes sobre um conflito que a maioria das pessoas desejava esquecer – pelo menos na esfera do entretenimento. Talvez os filmes mais significativos tenham sido os documentários curtos de Humphrey Jennings Um Diário para Timothy / A Diary for Timothy / 1945 (40 min) e A Defeated People / 1946 (18 min). O primeiro filme é uma meditação poética feita durante o período final da guerra sobre a Grã-Bretanha e seu povo escrita por E. M. Foster e endereçada a um bebê, Timothy, nascido em setembro de 1944. A narração explica para Timothy o que sua família, vizinhos e seus concidadãos estão passando enquanto a guerra se aproxima do fim e que problemas podem permanecer para novos ingleses como ele resolver. Narrado por Michael Redgrave, o documentário contém o único registro filmado de John Gieguld interpretando o papel de Hamlet no palco na ocasião em que este documentário foi filmado. O segundo filme, narrado por William Hartnell, descreve o estado despedaçado da Alemanha logo após a Segunda Guerra Mundial. A narração explica o que está sendo feito e o que precisa ser feito pelas forças de ocupação aliadas e pelo próprio povo germânico para construir uma Alemanha melhor das ruinas.

Um Diário para Timothy

Outros filmes documentários do período refletiram os anos de guerra: While Germany Waits / 1946 (Dir: Alan Pickard), short de 52 min filmado em 16mm pela organização Quaker Friend´s Relief Service, examinando a situação da Alemanha e seu povo no fim da Segunda Guerra Mundial; India Strikes / 1946 (Dir: Bishu Sem), registrando a contribuição da Índia para guerra com seu exército de 2,5 milhões de voluntários espalhados em todas as frentes de batalha  do Norte da África a Burma ou servindo na RAF e na Marinha Mercante britânicas; Land of Promise / 1946  (Dir: Paul Rotha) versando sobre os problemas no pós-guerra de habitação e eliminação de favelas; Man- One Family /1946 (Dir: Ivor Montagu), destruindo a lenda nazista  de uma herrenwolk (raça superior), demonstrando que nenhuma nação pode ser considerada inferior ou superior.

Cooperando com o Governo da Holanda, os britânicos capacitaram o ilustre cinegrafista e diretor, John Ferno, para fazer Broken Dykes / 1945 e The Last Shot / 1945-46. O primeiro filme (de 15 min), mostrava em cores a coragem das famílias holandesas na ilha de Walcheren, cujas terras e casas tiveram que ser sacrificadas ao mar quando, em uma tentativa para enfraquecer as posições germânicas, as forças aliadas bombardearam os diques. O segundo filme (14 min), era um registro impressionante de câmera, contrastando dramaticamente a alegria quase-histérica da população de Amsterdã no dia de sua libertação com a terrível devastação de seu país, bem como a ajuda que lhes foi prestada.

Similarmente, Striken Peninsula / 1945 (Dir: Paul Fletchner, 15 min), revelou a situação dos italianos como a guerra os deixou, mostrando cenas do desinfectamento em massa e filas de comida e o trabalho de reconstrução do Exército Britânico no Sul da Itália logo após a Segunda Guerra Mundial.

Um filme de vinte minutos, The Nine-Hundred / 1945, fotografado pelas unidades de câmeras de combate das Forças Aliadas do Mediterrâneo, RAF e Exército Britânico, mostrou como 900 feridos do exército lugoslavo foram removidos para a Itália por transporte aéreo quando ficaram cercados pelas forças germânicas nas montanhas. Star in the Sand / 1945 (Dir: Gilbert Gunn, 20 min) com comentário de Arthur Calder-Marshall) cobriu a história dos acampamentos da UNRRA (United Nations Relief and Rehabilitation Administration) para refugiados iugoslavos jovens, idosos ou enfermos, instalados no Egito em 1944. Um terceiro filme sobre iugoslavos, novamente escrito por Calder-Marshall, foi The Bridge / 1946 (Dir: J. D. Chamers, 39 min), registrou a reconstrução de uma ponte pelos próprios aldeões em uma área remota.

 

Os filmes de ficção britânicos de um modo geral deixaram a guerra de lado até que tivesse decorrido tempo suficiente para tornar o assunto aceitável de novo. Entretanto, em 1946, A Ealing realizou Corações Aflitos / The Captive Heart (Dir: Basil Sidney) e A Manada / The Overlanders (Dir: Harry Watt). O primeiro filme, foi estrelado por Michael Redgrave no papel de um capitão do exército iugoslavo, que escapa de Dachau, e se faz passar por um oficial britânico morto. Porém é preso e levado para um campo de concentração alemão, de onde se corresponde com a esposa do oficial cuja identidade assumiu, e acaba se apaixonando por ela. O segundo filme, estrelado por Chipps Rafferty, reconstrói a história de uma caminhada de duas mil milhas pelo deserto empreendida para salvar mil cabeças de gado, quando a invasão da Austrália do Norte pelos japoneses parecia iminente e uma política de terra arrazada estava sendo adotada.

Outros filmes de guerra no estilo documentário foram They Were Not Divided / 1950, (Dir: Terence Young) celebrando a Guard´s Armoured Division (Divisão Blindada da Guarda) e Theirs Is the Glory / 1946 (Dir: Brian Desmond Hurst), reconstituição da Operação Market Garden de setembro de 1944 envolvendo a 1ª Divisão Aerotransportada Britânica na Batalha de Arnhem, quando 10 mil tropas paraquedistas foram lançadas atrás das linhas inimigas.

Odette Agente 23

 

 

Frieda

Entre os filmes de ficção  surgiram: Odette, Agente 23 / Odette (Dir: Herbert Wilcox), contando o drama de uma mulher francesa, Odette Sansom (Anna Neagle), casada com um capitão inglês, Peter Churchill (Trevor Howard), e suas façanhas como espiã na França, onde é capturada e torturada pela Gestapo; Suplício Eterno / The Years Between / 1946 (Dir: Compton Bennett), no qual um casamento é ameaçado severamente quando um capitão do exército britânico (Michael Redgrave), que era membro do Parlamento na vida civil, retorna de um campo de concentração para encontrar sua esposa (Valerie Hobson), que o tinha como morto, ocupando seu lugar no parlamento e apaixonada por outro homem; Frieda /  Frieda / 1947 (Dir: Basi Dearden) apresentando um problema diferente: Frieda (Mai Zetterling) ajuda Robert (David Farrar), piloto da RAF, que era prisioneiro de guerra, a escapar. Para salvar a vida de Frieda, ele se casa com ela e a leva para a sua aldeia na Inglaterra, onde eles têm que suportar todo tipo de hostilidade pós-guerra, apesar de tudo o que a jovem faz para provar sua boa fé. Esta é posta ainda mais em dúvida quando seu irmão, que é ainda um nazista, visita a Inglaterra vestido com um uniforme polonês. Desmascarado, ele alega que sua irmã é uma nazista tão dedicada quanto ele. Frieda, na sua infelicidade, é impedida a tempo de cometer suicídio; Heróis Anônimos / Against the Wind / 1948 (Dir: Charles Crichton), focalizando a resistência Belga e marcando a primeira aparição de Simone Signoret em um filme britânico.; Coração Amargurado / The Hasty Heart / 1949 (Dir: Vincent Sherman), passado num hospital em Burma, onde um soldado escocês (Richard Todd) seriamente ferido, observa consternado seus camaradas fazendo as malas para voltar para casa; mas uma enfermeira atenciosa (Patricia Neal) e outros pacientes (entre eles Ronald Reagan em um filme britânico) lhe trazem consôlo.

The Small Back Room

Um filme incomum foi The Small Back Room / 1949 (Dir: Michael Powell e Emeric Pressburger), tendo como personagem central um especialista (David Farrar) em desarmar as bombas que os alemães jogaram na Grã-Bretanha em 1943, que luta contra o alcoolismo e as dores de um fermento grave. O episódio prolongado na praia enquanto a bomba é desmontada é um exemplo marcante de como lidar com o suspense num filme.

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