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FILMES DE GUERRA BRITÂNICOS DO IMEDIATO PÓS-GUERRA

Na Grã-Bretanha logo após a Segunda Guerra Mundial foram feitos poucos filmes sobre um conflito que a maioria das pessoas desejava esquecer – pelo menos na esfera do entretenimento. Talvez os filmes mais significativos tenham sido os documentários curtos de Humphrey Jennings Um Diário para Timothy / A Diary for Timothy / 1945 (40 min) e A Defeated People / 1946 (18 min). O primeiro filme é uma meditação poética feita durante o período final da guerra sobre a Grã-Bretanha e seu povo escrita por E. M. Foster e endereçada a um bebê, Timothy, nascido em setembro de 1944. A narração explica para Timothy o que sua família, vizinhos e seus concidadãos estão passando enquanto a guerra se aproxima do fim e que problemas podem permanecer para novos ingleses como ele resolver. Narrado por Michael Redgrave, o documentário contém o único registro filmado de John Gieguld interpretando o papel de Hamlet no palco na ocasião em que este documentário foi filmado. O segundo filme, narrado por William Hartnell, descreve o estado despedaçado da Alemanha logo após a Segunda Guerra Mundial. A narração explica o que está sendo feito e o que precisa ser feito pelas forças de ocupação aliadas e pelo próprio povo germânico para construir uma Alemanha melhor das ruinas.

Um Diário para Timothy

Outros filmes documentários do período refletiram os anos de guerra: While Germany Waits / 1946 (Dir: Alan Pickard), short de 52 min filmado em 16mm pela organização Quaker Friend´s Relief Service, examinando a situação da Alemanha e seu povo no fim da Segunda Guerra Mundial; India Strikes / 1946 (Dir: Bishu Sem), registrando a contribuição da Índia para guerra com seu exército de 2,5 milhões de voluntários espalhados em todas as frentes de batalha  do Norte da África a Burma ou servindo na RAF e na Marinha Mercante britânicas; Land of Promise / 1946  (Dir: Paul Rotha) versando sobre os problemas no pós-guerra de habitação e eliminação de favelas; Man- One Family /1946 (Dir: Ivor Montagu), destruindo a lenda nazista  de uma herrenwolk (raça superior), demonstrando que nenhuma nação pode ser considerada inferior ou superior.

Cooperando com o Governo da Holanda, os britânicos capacitaram o ilustre cinegrafista e diretor, John Ferno, para fazer Broken Dykes / 1945 e The Last Shot / 1945-46. O primeiro filme (de 15 min), mostrava em cores a coragem das famílias holandesas na ilha de Walcheren, cujas terras e casas tiveram que ser sacrificadas ao mar quando, em uma tentativa para enfraquecer as posições germânicas, as forças aliadas bombardearam os diques. O segundo filme (14 min), era um registro impressionante de câmera, contrastando dramaticamente a alegria quase-histérica da população de Amsterdã no dia de sua libertação com a terrível devastação de seu país, bem como a ajuda que lhes foi prestada.

Similarmente, Striken Peninsula / 1945 (Dir: Paul Fletchner, 15 min), revelou a situação dos italianos como a guerra os deixou, mostrando cenas do desinfectamento em massa e filas de comida e o trabalho de reconstrução do Exército Britânico no Sul da Itália logo após a Segunda Guerra Mundial.

Um filme de vinte minutos, The Nine-Hundred / 1945, fotografado pelas unidades de câmeras de combate das Forças Aliadas do Mediterrâneo, RAF e Exército Britânico, mostrou como 900 feridos do exército lugoslavo foram removidos para a Itália por transporte aéreo quando ficaram cercados pelas forças germânicas nas montanhas. Star in the Sand / 1945 (Dir: Gilbert Gunn, 20 min) com comentário de Arthur Calder-Marshall) cobriu a história dos acampamentos da UNRRA (United Nations Relief and Rehabilitation Administration) para refugiados iugoslavos jovens, idosos ou enfermos, instalados no Egito em 1944. Um terceiro filme sobre iugoslavos, novamente escrito por Calder-Marshall, foi The Bridge / 1946 (Dir: J. D. Chamers, 39 min), registrou a reconstrução de uma ponte pelos próprios aldeões em uma área remota.

 

Os filmes de ficção britânicos de um modo geral deixaram a guerra de lado até que tivesse decorrido tempo suficiente para tornar o assunto aceitável de novo. Entretanto, em 1946, A Ealing realizou Corações Aflitos / The Captive Heart (Dir: Basil Sidney) e A Manada / The Overlanders (Dir: Harry Watt). O primeiro filme, foi estrelado por Michael Redgrave no papel de um capitão do exército iugoslavo, que escapa de Dachau, e se faz passar por um oficial britânico morto. Porém é preso e levado para um campo de concentração alemão, de onde se corresponde com a esposa do oficial cuja identidade assumiu, e acaba se apaixonando por ela. O segundo filme, estrelado por Chipps Rafferty, reconstrói a história de uma caminhada de duas mil milhas pelo deserto empreendida para salvar mil cabeças de gado, quando a invasão da Austrália do Norte pelos japoneses parecia iminente e uma política de terra arrazada estava sendo adotada.

Outros filmes de guerra no estilo documentário foram They Were Not Divided / 1950, (Dir: Terence Young) celebrando a Guard´s Armoured Division (Divisão Blindada da Guarda) e Theirs Is the Glory / 1946 (Dir: Brian Desmond Hurst), reconstituição da Operação Market Garden de setembro de 1944 envolvendo a 1ª Divisão Aerotransportada Britânica na Batalha de Arnhem, quando 10 mil tropas paraquedistas foram lançadas atrás das linhas inimigas.

Odette Agente 23

 

 

Frieda

Entre os filmes de ficção  surgiram: Odette, Agente 23 / Odette (Dir: Herbert Wilcox), contando o drama de uma mulher francesa, Odette Sansom (Anna Neagle), casada com um capitão inglês, Peter Churchill (Trevor Howard), e suas façanhas como espiã na França, onde é capturada e torturada pela Gestapo; Suplício Eterno / The Years Between / 1946 (Dir: Compton Bennett), no qual um casamento é ameaçado severamente quando um capitão do exército britânico (Michael Redgrave), que era membro do Parlamento na vida civil, retorna de um campo de concentração para encontrar sua esposa (Valerie Hobson), que o tinha como morto, ocupando seu lugar no parlamento e apaixonada por outro homem; Frieda /  Frieda / 1947 (Dir: Basi Dearden) apresentando um problema diferente: Frieda (Mai Zetterling) ajuda Robert (David Farrar), piloto da RAF, que era prisioneiro de guerra, a escapar. Para salvar a vida de Frieda, ele se casa com ela e a leva para a sua aldeia na Inglaterra, onde eles têm que suportar todo tipo de hostilidade pós-guerra, apesar de tudo o que a jovem faz para provar sua boa fé. Esta é posta ainda mais em dúvida quando seu irmão, que é ainda um nazista, visita a Inglaterra vestido com um uniforme polonês. Desmascarado, ele alega que sua irmã é uma nazista tão dedicada quanto ele. Frieda, na sua infelicidade, é impedida a tempo de cometer suicídio; Heróis Anônimos / Against the Wind / 1948 (Dir: Charles Crichton), focalizando a resistência Belga e marcando a primeira aparição de Simone Signoret em um filme britânico.; Coração Amargurado / The Hasty Heart / 1949 (Dir: Vincent Sherman), passado num hospital em Burma, onde um soldado escocês (Richard Todd) seriamente ferido, observa consternado seus camaradas fazendo as malas para voltar para casa; mas uma enfermeira atenciosa (Patricia Neal) e outros pacientes (entre eles Ronald Reagan em um filme britânico) lhe trazem consôlo.

The Small Back Room

Um filme incomum foi The Small Back Room / 1949 (Dir: Michael Powell e Emeric Pressburger), tendo como personagem central um especialista (David Farrar) em desarmar as bombas que os alemães jogaram na Grã-Bretanha em 1943, que luta contra o alcoolismo e as dores de um fermento grave. O episódio prolongado na praia enquanto a bomba é desmontada é um exemplo marcante de como lidar com o suspense num filme.

FILMES DE GUERRA BRITÂNICOS 1943-1945

A ênfase principal nos filmes de guerra britânicos durante a última fase da Segunda Guerra Mundial foi a abordagem documental, uns filmes utilizando a atores profissionais para a reconstituição de eventos verídicos; outros, recorrendo a atores não-profissionais para mesma finalidade.

O Navio Mártir

É particularmente interessante contrastar O Navio Mártir / San Demetrio, London / 1943 dirigido por Charles Frend (e Robert Hammmer, não creditado) quase que totalmente no estúdio da Ealing, que reconstitui com atores profissionais a história verídica do resgate do petroleiro MV San Demetrio por alguns membros de sua própria tripulação, após ter sido torpedeado por um cruzador pesado alemão e depois abandonado temporariamente, durante a Batalha do Atlântico e Western Approaches / 1944, realizado em uma abordagem totalmente documentarista por Pat Jackson, utilizando verdadeiros marinheiros para recriar o afundamento de um navio mercante e seus 22 homens que abandonaram o navio e aguardam o resgate – um incidente com o qual eles estavam todos familiarizados.

Western Approaches

Ambos os filmes são muito bons, mas considero Western Approaches – que vi em magnífica cópia comprada no Imperial War Museum,  uma obra-prima. Nenhum filme de guerra me impressionou tanto. Um bote salva vidas à deriva no Atlântico. Um navio mercante capta seu sinal de socorro e vai ao resgate. Um submarino inimigo avista o navio e percebe que, se aguardar, terá a chance de afundar o navio que respondeu ao sinal de socorro. Assim que o navio, o Leander, aparece no horizonte, os homens no bote percebem o periscópio do submarino. Eles tentam avisar o Leander mas a mensagem passa apenas a tempo dele evitar um dos dois torpedos que o submarino disparou.  tripulação abandona o navio e o submarino emerge para acabar com o navio atingido. Porém dois membros da tripulação que ficaram para trás conseguem fazer a arma do navio funcionar e afundam o submarino quando ele emerge. Apesar dos danos sofridos, o Leander permanece flutuando e sua tripulação e os sobreviventes no bote são recolhidos por outro navio do comboio. Com exceção de uma única cena, o filme foi rodado, não em um estúdio, mas no mar. O Technicolor, que geralmente sinalizava um faz-de-conta espalhafatoso, foi utilizado para captar a realidade. Algumas tomadas são vertiginosas. A gente tem a sensação de estar alí no meio das ondas. O excelente trabalho de câmera de Jack Cardiff é ainda mais notável pelo fato de ter sido realizado sob condições perigosas, semelhantes às retratadas no filme.

Além das Nuvens

Outros filmes feitos neste estilo e tradição foram: Mergulhamos ao Amanhecer / We Dive At Dawn / 1943; (Dir: Anthony Asquith), relato de um ataque realizado por um submarino britânico contra um novo navio de guerra alemão; For Those in Peril / 1944 (Dir: Charles Crichton),  a história de um piloto que não consegue ingressar na RAF e então se junta ao Air Sea Rescue Service, recolhendo pilotos cujos aviões foram abatidos e levando-os para um local seguro; Têmpera de Aço / The Way Ahead / 1944 (Dir: Carl Reed), o treinamento rigoroso de um grupo heterogêneo e principalmente relutante de civís convocado para o exército britânico e finalmente o seu envio para o Norte da África; Além das Nuvens /  The Way to the Stars / 1945 (Dir: Anthony Asquith), a rotina diária em tempo de guerra em uma base britânica de bombardeiros, revelada através dos olhos de um recém-chegado oficial-aviador; Journey Together / 1945 (Dir: John Boulting), os problemas emocionais de jovens que ambicionam ser pilotos, mas devem aprender as disciplinas envolvidas nos vôos operacionais.

Nine Men

Próximo de Western Approaches na sua recriação documental de um incidente de guerra, foi Nine Men / 1943 de Harry Watt. Rodado quase totalmente em locação em uma praia no Sul do País de Gales, o filme reconstrói as aventuras de uma patrulha   britânica perdida no deserto norte-africano em uma área mantida pelos italianos e sua eficácia dependeu da interpretação dos personagens por um grupo de atores profissionais em grande parte desconhecidos, cuidadosamente escolhidos por Watt.

Leslie Howard dirigiu (com Maurice Elvey) The Gentle Sex / 1943, o primeiro de uma série de filmes dedicados ao papel que as mulheres estavam desempenhando na Grã-Bretanha no tempo de guerra, focalizando sete moças de origem social variadas que ingressam no Auxiliary Territorial Service, um ramo feminino do Exército Britânico. Frank Launder e Sidney Giliat continuaram a série com Milhões Como Nós / Million Like Us / 1943, uma abordagem sobre o trabalho das mulheres na indústria de guerra. Maurice Elvey (e Leslie Howard), por sua vez fizeram The Lamp Still Burns / 1943 sobre uma arquiteta bemsucedida que se dedica à enfermagem durante a guerra.

Em 1945, Sidney Gilliat escreveu e dirigiu Waterloo Road, drama romântico de guerra versando sobre um jovem soldado, que deserta em busca de sua esposa, desconfiando que ela está tendo um caso com um mulherengo civil na área onde moram na Waterloo Road em Londres. Segue-se uma reconciliação depois que ele dá uma surra no seu rival e então se rende para as autoridades militares.

1943 foi um ano fértil em documentários patrocinados oficialmente: Vitória no Deserto / Desert Victory  (Dir: Roy Boulting) sobre a guerra no Norte da África; Fires Were Started   e The Silent Village ambos dirigidos por Humphrey Jennings, o primeiro sobre o Corpo de Bombeiros durante a Blitz e o segundo rodado em uma vila mineira galesa como um tributo aos mártires de Lidice na Checoslováquia, massacrados pelos alemães em retaliação pelo assassinato do SS General Heydrich, plenipotenciário de Hitler em Praga; Close Quarters  (Dir: Jack Lee) acerca de um submarino britânico em uma patrulha pelo Mar do Norte; e possivelmente o melhor filme de Paul Rotha, The World of Plenty, uma investigação sobre a fome no mundo. Posso citar também um curta-metragem de ficção, The Volunteer, dirigido por Michael Powell e Emeric Pressburger sobre a Fleet Air Arm e em particular Pat McGrath, o camareiro teatral de Ralph Richardson em tempo de paz que se tornou um hábil engenheiro na dita Aviação Naval Britânica, na qual Richardson, que narra o filme, serviu como piloto.

Em 1944, veio A Conquista da Tunisia / Tunisian Victory, fruto de uma operação combinada das Service Film Units britânica e americana, codirigido por Roy Boulting e Frank Capra, cobrindo a campanha do Norte da África desde a intervenção americana em 1942 à capitulação final dos exércitos alemães neste teatro de guerra, sendo que o comentário fez uso das vozes alternadamente britânicas e americanas de Bernard Mies e Burgess Meredith. Em 1945, chegaram Burma Victory, dirigido por Roy Boulting, cobrindo a Campanha de Burma, interligada à Campanha da China e Verdadeira Glória / The True Glory, dirigido por Garson Kanin e Carol Reed, resumo emocional e factual da guerra na Europa a partir do desembarque do Dia-D.

A Verdadeira Glória

Diante dos padrões de autenticidade estabelecidos pelos documentários ou pelos filmes de ficção em estilo documentário, o restante dos filmes de guerra, salvo poucas exceções, parecem insípidos. Entre os melhores: The Silver Fleet / 1943 (Dir: Campbell Vernon Sewell e Gordon Wellesley),, a respeito de um construtor naval holandês que se apresenta como colaboracionista para provocar uma  grande sabotagem, em última análise ao custo de sua própria vida; The Bells Go Down / 1943 (Dir: Basil Dearden), um tributo ao Corpo de Bombeiro Auxiliar de East End em Londres, que prestou enorme serviço durante a Blitz; Undercover / 1943 (Dir: Sergei Nobandov), passado na Iugoslávia ocupada com outro herói da resistência fingindo-se de colaboracionista; Viagem Perigosa / Escape to Danger / 1943 (Victor Hanbury, Lance Comfort), cuja ação transcorre na Dinamarca ocupada, onde um professora inglesa atua como agente duplo; 2.000 Muheres / 2.000 Women / 1944 (Di: Frank Launder) mostra mulheres em um campo de detenção, que escondem aviadores britânicos dos soldados alemães e tentam ajudá-los a escapar; Johnny Frenchman / 1945 (Dir: Charles Frend), comédia romântica na qual a guerra une antigos “inimigos”, os pescadores da Bretanha e da Cornualha.

2.000 Mulheres

Entre os filmes mais românticos com um pano de fundo de guerra destacam-se: O Coração Não Tem Fronteiras / The Demi-Paradise / 1943 (Dir: Anthony Asquith), Longe dos Olhos / Perfect Strangers / 1945 (Dir: Alexander Korda) e I Live in Grosvenor Square (Dir: Herbert Wilcox). No primeiro filme, um inventor russo (Laurence Olivier) viaja para a Inglaterra com o propósito de ver sua revolucionária lâmina de hélice fabricada e se apaixona por uma jovem da alta sociedade (Penelope Dudley-Ward). No segundo filme (premiado com o Oscar de Melhor História Original), Robert Donat e Deborah Kerr formam um casal que se separa durante a Segunda Guerra Mundial – ele na Marinha, ela contribuindo para o esforço de guerra – e tem que se readaptar ao casamento, depois que cada um mudou muito, inclusive vivendo romances extraconjugais. No terceiro filme, a filha de um duque (Anna Neagle), noiva de um major aviador inglês (Rex Harrison), se apaixona por um sargento americano paraquedista (Dean Jagger), alojado na residência do duque em Grosvenor Square na Grande Londres.

FILMES DE GUERRA BRITÂNICOS 1942

O ano de 1942 foi um dos períodos mais ricos do filme de guerra na Grã-Bretanha. A “história de guerra” com cunho patriótico passou a dar lugar para o “documentário de guerra”, que fazia a ação derivar de eventos reais e pessoas reais. Não que as histórias de guerra estilo-estúdio tivessem cessado completamente: elas continuaram, por exemplo, em Paris Era Assim / This Was Paris (Dir: John Harlow), Secret Mission, Unpublished Story, Surgirá a Aurora / The Day Will Dawn (Dir: Harold French), Fortalezas Voadoras / Flying Fortress (Dir: Walter Forde), Às da Morte / Squadron-Leader X (Dir: Lance Comfort), Morrerremos ao Amanhecer / Tomorrow We Live (Dir: George King) e O Grito de Rebelião / Uncensored (Dir: Anthony Asquith). E uma abordagem mais leve para a situação de guerra apareceu em Professor Astuto / The Goose Steps Out (Dir: Basil Dearden, Will Hay), na qual um professor (Hay) é sósia de um general alemão e usa esta semelhança para ter acesso ao segredo de uma nova bomba.

Ainda no ano de 1942, o Ealing Studios lançou O Grande Bloqueio / The Big Blockade e Querer e Vencer / The Foreman Went to France (ambos produzidos pelo brasileiro Alberto Cavalcanti e dirigidos por Charles Frend); Alguém Falou / The Next of Kin (Dir: Thorold Dickinson); 48 Horas! / Went the Day Well? (Dir: Alberto Cavalcanti).

48 Horas

O Grande Bloqueio tem apenas 1 h 13 min de duração e foi feito com a ajuda do Ministry of Economic Warfare, The War Office, The Royal Navy e da RAF. O assunto é o bloqueio econômico da Alemanha e da Europa ocupada pelos nazistas. Querer e Vencer conta como um capataz de uma fábrica de aviões em Birmingham, por iniciativa própria, tenta recuperar uma peça importante de maquinaria de guerra que fora emprestada para a França, antes que ela caia nas mãos dos invasores nazistas. Alguém Falou, originalmente concebido como filme de treinamento militar pelo War Office para alertar sobre ao segurança nas forças armadas, notadamente o perigo de conversas descuidadas, o filme foi expandido para longa-metragem, visando encorajar um senso maior de discrição também entre os civís. Em 48 Horas, uma vila inglesa pacata, distante da guerra, é tomada por pára-quedistas alemães disfarçados de engenheiros do Real Corpo de Engenharia do Exército Britânico. O líder da comunidade é um traidor. Os aldeões levam algum tempo para perceber a presença do inimigo entre eles. Mas quando isto acontece, eles respondem com determinação, desenvoltura e, quando necessário, com uma surpreendente crueldade.

Outros estúdios britânicos adotaram o “novo realismo” e foi este espírito que determinou a natureza de filmes como E Um De Nossos Aviões Não Regressou / One of Our Aircraft is Missing, produzido pela British National Films -The Archers e realizado por Michael Powell e Emeric Pressburger e Por Um Ideal / The First of the Few, produzido pela British Aviation Film e realizado por Leslie Howard. O primeiro filme reconstrói, da maneira mais autêntica possível, a história verídica da tentativa da tripulação de um bombardeiro britânico, que estava em missão de ataque na Alemanha, para retornar à Inglaterra, quando sua aeronave foi abatida na Holanda ocupada pelos alemães. Eles procuram apoio de civis que arriscam suas vidas para salvá-los. O segundo filme conta a verdadeira história de como o projetista de aeronaves R.J. Mitchell (Leslie Howard), alarmado pelo crescente militarismo germânico, desenvolveu com a ajuda do piloto de provas Geoffrey Crisp (David Niven) um avião aerodinâmico e em forma de um pássaro, cuja superioridade tecnológica ajudou seu país a ganhar a Batalha da Grã-Bretanha, superando os Messerschmidts alemães. Ao custo da própria saúde, Mitchell sacrificou sua vida para concretizar seu projeto. Sua obstinação criativa e sacrifício físico tornam esta cinebiografia cativante do início ao fim.

Um filme que olhou para a guerra exclusivamente de um ponto de vista civil foi Salute John Citizen / 1942 (Dir: Maurice Elvey), mostrando a vida de uma família comum durante o bombardeio alemão de Londres. Mr. Bunting (Edward Rigby), é o chefe de uma família feliz, com sua esposa, filha e dois filhos. Quando chega a Blitz, observamos seus efeitos sobre a família e como eles lidam com a crise.

Dois filmes de 1942 foram de excepcional interesse: Thunder Rock, dirigido por Roy Boulting e Nosso Barco, Nossa Alma / In Which We Serve, sob direção de Noel Coward e David Lean. Gosto muito de ambos.

Thunder Rock, baseado em uma peça de Robert Ardrey atacando o isolacionismo americano, adota uma abordagem alegórica da guerra através da figura de um repórter britânico, Dave Charleston (Michael Redgrave), que tenta alertar o público para a agitação política que ele acredita que vai levar a outra guerra contra Alemanha; mas seus avisos passam despercebidos. Desesperado, ele então vai morar em um farol no lago Michigan nos Estados Unidos, e ali é visitado pelos fantasmas de um grupo de imigrantes da Europa que morreram há noventa anos, quando o navio que os conduzia para uma nova vida na América naufragou na costa devido a uma tempestade violenta. O capitão do navio, que parece ser o único que tem consciência de que está morto, age como mediador entre Charleston e os outros espíritos enquanto eles contam seus dramas, perseguidos que foram por suas idéias progressistas.  No final, os fantasmas convencem Charleston de que ele deve voltar para a Europa e continuar sua luta pela verdade  contra o mal que ameaça o continente.

David Lean e Noel Coward na filmagem de Nosso Barco, Nossa Alma

Cena de Nosso Barco, Nossa Alma

Nosso Barco, Nossa Alma, foi estrelado, escrito e codirigido (com David Lean fazendo sua estréia como diretor) por Noel Coward (autor também da trilha sonora), inspirado nas façanhas de Lord Mountbatten no comando do destroyer HMS Kelly, quando ele foi afundado na Batalha de Creta. É uma imagem patriótica de unidade nacional e coesão social no contexto da guerra e teve um valor de propaganda incalculável. Coward e Lean estudaram a estrutura de Cidadão Kane / Citizen Kane / 1941 de Orson Welles, daí ser a história contada em retrospectos rápidos e de forma não-linear, ligando a frente doméstica e a zona de combate. A maior parte do espetáculo envolve o afundamento do HMS Torrin. Enquanto os homens flutuam na baleeira aguardando o resgate, os sobreviventes relembram suas vidas em casa e os acontecimentos anteriores ao ataque que destruiu o navio. Coward interpreta magnificamente  Kinross, o capitão do HMS Torrin, como um oficial modelo, impecável, preocupado com seus homens, muito exigente, mas não um tirano, que pede uma tripulação feliz e eficiente. O marinheiro Shorty Blake (John Mills) é o representante de todos os jovens cujas vidas são mudadas pela guerra. Ele conhece e se casa com Frieda (Kay Walsh), relacionada ao terceiro personagem proeminente, o Subchefe Oficial Hardy (Bernard Miles), que supera os golpes da perda da esposa e da sogra em um bombardeiro e se esforça para ajudar os outros. A cena no final em que o Capitão Kinross se despede de seus homens fazendo questão de apertar as mãos de cada um deles ficou na minha memória como uma das mais belas do cinema. Noel Coward ganhou um Certificado Especial da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas pela produção de Nosso Barco, Nossa Alma.