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ROBERT FLOREY

Conhecido geralmente como diretor de filmes B, durante quase um século no cinema, de 1916 a 1963, ele dirigiu 65 longas-metragens e 250 filmes de televisão na maioria dos grandes estúdios. Exibindo habilidade em vários gêneros, também ficou conhecido como um artista, ganhando fama primeiramente por seus curtas-metragens experimentais e seus filmes de maior duração se distinguiram por integrar estilos de filmagem europeus no sistema de estúdio de Hollywood.

Robert Florey

Robert Florey (1900 – 1979), cujo nome verdadeiro era Robert Fuchs, nasceu em Paris, França. Seu pai faleceu pouco após o filho nascer. Sua mãe casou-se novamente, mas ela, também, morreu dentro de poucos anos, deixando o menino aos cuidados da família do padrasto. A imaginação do menino foi despertada quando, morando perto do Teatro do mágico Robert Houdin, ele assistiu Georges Mélìes montando suas fantasias cinematográficas primitivas. O padrasto de Florey introduziu o menino no teatro clássico e através dos anos levou-o para viajar através de boa parte da Europa, inclusive Austria, Itália, Suiça e Espanha.

Depois de concluir os estudos secundários, o jovem estava previsto para cursar Engenharia, porém seu estado de saúde exigiu uma mudança de clima e ele foi para a Suiça, matriculando-se em 1915 na École Professionelle de Genebra.  Quando tinha 16 anos de idade, seu padrasto faleceu e o rapaz teve que sair da escola. Em março de 1917, conseguiu seu primeiro emprego estável na indústria de cinema, colocando legendas francesas em filmes estrangeiros para a Select Film Company de Genebra, onde conheceu Max Linder, ao qual prestou assistência brevemente. Posteriormente, Florey se uniu à Companhia de Operetas Kursaal, ajudando o gerente de palco e interpretando pequenos papéis. Permanecendo ativo no teatro e no cinema,  organizou um show itinerante de peças de horror  “Grand Guignol” e logo  o jornalismo passou a ser uma de suas atividades, cobrindo esportes e exercendo depois a crítica teatral. Ele ainda encontrou tempo para interpretar o papel do detetive no filme de um rolo de Alfred Lind, Le Cirque de la Mort.

Em dezembro de 1918, Florey e alguns amigos formaram, com o apoio do produtor-cinegrafista- ator Leon Tombet, uma companhia de cinema e decidiram produzir um filme imitando o estilo de Charles Chaplin. Assim surgiu Isidore a la Deveine, dirigido por Tombet com o acrobata Walter Gfeller, conhecido como o “Chaplin Suiço” no papel principal. Florey forneceu o roteiro e também atuou como ator e operador de câmera. Em maio de 1919, a Tombet Films realizou Une Heureuse Intrervention, provavelmente o primeiro filme suíço de longa-metragem, no qual Florey foi novamente ator e operador de câmera; porém ele teve seu batismo como diretor, dirigindo algumas cenas, embora Tombet tivesse recebido o crédito como diretor. No mês seguinte outro falso Chaplin foi feito, Isidore sur le Lac, e desta vez Florey pôde dirigir seu próprio roteiro.

Ansioso para aprender sua profissão num estúdio importante, no início de 1920, Florey deixou Genebra e retornou à França, e arurmou emprego no estúdio da Gaumont em Nice como assistente do diretor Louis Feuillade. Enquanto trabalhava no cinema, Florey continuou sua carreira de jornalista, juntando-se ao staff da Cinemagazine, a primeira revista de cinema francesa verdadeiramente popular. O conhecimento de cinema impressionou alguns de seus entrevistados como Max Linder, que o incentivou a tentar a sorte nos Estados Unidos. Prometendo aceitar matérias sobre astros de Hollywood seu editor ajudou a financiar sua viagem para a América e, ao chegar a Nova York, rumou imediatamente para Hollywood. Chegando na Terra do Cinema, ele se dirigiu ao estúdio da Fox e, como não havia porteiros, ele simplesmente entrou de mansinho. Parando para assistir a filmagem de Monte Cristo / 1922 (com John Glbert), ele ficou tão alarmado com a imprecisão da atmosfera francesa, que se lançou para frente das duas câmeras e interrompeu a filmagem. Felizmente, o cinegrafista era outro emigrado francês, Lucien Andriot, que conseguiu persuadir o diretor, Emmet J. Flynn, de que Florey não deveria ser expulso do set, mas ser contratado como consultor técnico.  Este trabalho durou algumas semanas. Quando a filmagem de Monte Cristo terminou, Florey tornou-se gag writer para as comédias Sushine de Al St. John e, por causa de sua altura (1,93m), ele era algumas vezes chamado para fazer pontas, tais como em o xerife em Straight from the Farm / 1922.

Rudolph Valentino e Natacha Rambova noa turnê Mineralava

Ao mesmo tempo, fez amizade com muitas celebridades da época como Alla Nazimova, Renée Adorée e Charles Chaplin e foi contratado como diretor de publicidade no estrangeiro para Mary Pickford e Douglas Fairbanks. Nesta posição, cuidou da correspondência dos dois astros e escreveu os intertítulos franceses para Robin Hood / 1922, ficando muito amigo deles, ensinando francês para Fairbanks e aprendendo inglês com Pickford. Pouco depois, Florey cuidou também da publicidade da turnê que Rudolph Valetino e sua esposa Natacha Rambova fizeram para promover um produto de beleza, Mineralava Cold Cream. De volta para Hollywod, Florey formou a companhia Imperial Pictures, com o diretor de fotografia Paul Ivano e um revendedor de carros Pierce-Arrow, Humphrey Birge, e escreveu e dirigiu Fifty-Fifty / 1923, curta-metragem de dois rolos protagonizado pelo comediante francês Maurice de Canonge. Infelizmente eles não conseguiram distribuidor para seu filme e Florey teve que abandonar momentaneamente sua esperança de desse tornar um diretor free lancer. Neste momento, ele já havia escrito Filmland e Deux ans dans les studios américains e logo começou uma série de biografias de tais astros como Charles Chaplin, Pola Negri e Adolphe Menjou, todos escritos em francês e publicados em Paris. Florey então tornou-se assistente de diretor de Louis Gasnier no filme Vinho Capitoso / Wine / 1924, produzido pela Universal com Clara Bow no papel principal.

Após uma estadia no Canadá com o ator dramático francês Charles de Rochefort para produzir pequenas peças e esquetes, entre elas uma pantomima intitulada L´Apache que ele dirigiu, Florey voltou para o cinema como assistente de direção de Alfred Santell em Noites Parisienses / Parisian Nights na F.B. O. Lá ele conheceu outro assistente de direção, Josef von Sternberg e, pouco depois, a pedido de Alla Nazimova, interpretou o papel de um bôemio em Pecado Redentor / The Redeeming Sin / 1925. Por alguns anos seguintes ele serviu como assistente de direção (v.g. de King Vidor em O Grande Desfile / The Big Parade / 1925, La Boheme / La Boheme / 1926 e O Cavaleiro dos Amores / Bardelys the Magnificent / 1926) e consultor técnico, frequentemente combinando ambas as capacidades. Seu cuidado e atenção para o detalhe na criação de ambientes europeus, particularmente na Metro-Goldwyn-Mayer, rendeu-lhe muitos elogios. Entrementes von Sternberg fora contratado pela MGM e pediu Florey para ser seu assistente; ele trabalhou com Sternberg em Amor, Vício e Virtude / The Masked Bride / 1925. Lamentavelmente, o estúdio não gostou da abordagem de Sternberg e Christy Cabanne terminou o filme.

Com sua experiência variada, Florey se sentiu qualificado para dirigir longas-metragens e pediu uma promoção aos executivos da MGM; porém estes lhe sugeriram que começasse em uma produtora independente, garantindo-lhe uma posição na Tiffany. Chegando lá, disseram-lhe que o que eles estavam precisando não era um diretor, mas um roteirista e lhe encarregaram de terminar em curto prazo o argumento e continuidade de O Direito de Viver / That Model from Paris / 1926. Ele cumpriu a tarefa no tempo desejado e, quando o diretor Louis Gasnier caiu doente, Florey substituiu-o, mas sem receber crédito por ambos estes serviços. Bem satisfeita com seu trabalho, a Tiffany entregou-lhe a direção de Conquistado à Força / One Hour of Love/ 1927, um dos filmes principais da temporada.

Depois disto, não desejando voltar a trabalhar mais como assistente, Florey aceitou um emprego na Fox ajudando Frank Borzage a preparar o ambiente de Paris durante a Primeira Guerra Mundial para Sétimo Céu / 7th Heaven / 1927 e na Samuel Goldwyn Company para ser assistente de Henry King em A Chama do Amor /The Magic Flame / 1927. Ele também passou alguns meses na United Artists preparando um argumento para um filme envolvendo personagens históricos que seriam interpretados pelos maiores astros do estúdio: Douglas Fairbanks como D´Artagnan; Mary Pickford (Maria Stuart); Charles Chaplin (Hamlet); John Barrymore (François Villon); Gloria Swanson (Cleopatra); Norma Talmadge (Madame du Barry). Florey até sugeriu que Ernst Lubitsch interpretasse Napoleão. Porém o projeto não vingou.

The Loves of Zero

A Idade Romântica / The Romantic Age / 1927, realizado para a Columbia, marcou o retorno de Florey à direção. Para se manter neste posto, aceitou dirigir em seguida, Face Value / 1927, filme do qual ele mesmo não gostou, produzido pela Sterling Pictures, companhia independente sediada na Universal, onde permaneceu prestando outras colaborações até perceber que, realizar filmes independentes, não levaria a um contrato de diretor nos grandes estúdios. De fato, não seriam estes filmes iniciais que o iniciariam no caminho do reconhecimento, mas sim os quatro shorts experimentais que fez em 1927 e 1929 (The Life and Death of 9413 – A Hollywood Extra; The Loves of Zero, Johann the Coffin Maker; Skyscraper Symphony), influenciados pelo expressionismo e pela vanguarda, os quais marcaram o começo de sua carreira como diretor com um estilo próprio. As novidades técnicas exibidas nos filmes de vanguarda de Florey chamaram a atenção dos executivos da Paramount-Famous-Lasky, que estavam pretendendo produzir seus primeiros filmes falados, reabrindo seu antigo estúdio Astoria em Long Island, Nova York. O diretor Monta Bell assumiu a supervisão do estúdio e Florey foi encarregado de dirigir dezenas de testes a fim encontrar rostos fotogênicos com boas vozes para substituirem os atores dos filmes silenciosos. Entre os que receberam seu batismo diante da câmera de Florey estavam Ethel Barrymore, Walter Huston e Edward G. Robinson. Num próximo passo, Florey filmou alguns dos artistas selecionados em filmes de um ou dois rolos em esquetes humorísticos ou musicais. Alguns desses shorts, inclusive um com Eddie Cantor e outro com Helen Morgan, seriam mais tarde incluídos no filme Glorificação da Beleza / Glorifying the American Girl / 1929. Os três primeiros longas-metragens falados de Florey foram The Hole in the Wall / 1928, Hotel da Fuzarca / The Cocoanuts / 1929 e A Batalha de Paris / The Battle of Paris / 1929, que – pela ordem – lançaram as carreiras cinematográficas, de Claudette Colbert e Edward G. Robison, os Irmãos Marx e Gertrude Lawrence.

Os Irmãos Marx em Hotel da Fuzarca

Cena de Os Assassinatos na Rua Morgue

Atendendo a um convite de um jovem produtor independente francês, Pierre Braunberger, Florey foi para a Europa onde dirigiu sucessivamente de La Route est Belle / 1929, L’ Amour Chante / 1930 e Le Blanc et le Noir / 1931; porém acabou se desentendendo com Braunberger e seu sócio Roger Richebé e voltou para Hollywood, ingressando na Universal. Após ter dado uma contribuição valiosa para o roteiro de Frankenstein / Frankenstein /1931, ele realizou Os Assassinatos na Rua Morgue / Murders in the Rue Morgue / 1932, um dos seus filmes mais dominados pelo estilo germânico tanto na sua concepção como no seu tratamento. Florey continuou na Universal durante alguns meses, colaborando em vários scripts de horror com Garrett Fort e, no início de 1932, aceitou convite de Sam Bischoff, o novo chefão da Tiffany (recentemente rebatizada de K.B.S. e depois comprada pela World Wide). Nesta companhia realizou The Man Called Back / 1932 e Those We Love / 1932 e chegou a escrever (de parceria com Reginald Owen) o roteiro de A Study in Scarlet; mas como a K.B.S. estava em péssima situação financeira, ele preferiu se desligar da empresa e atender ao chamado da Warner Bros.com a qual assinou um contrato de longo prazo.  No período 1932-1935, Florey fez  13  filmes para a Warner: A Esposa Desaparecida / Girl Missing / 1933; Amante de seu Marido / Ex-Lady / 1933; Presa do Destino / The House on 56th Street / 1933; O Nome é Tudo / Bedside / 1934; Abnegação / Registered  Nurse / 1934; Smarty / 1934; I Sell Anything / 1935; Ladrões Internacionais / I Am a Thief / 1935; A Mulher de Vermelho / The Woman in Red / 1935; O Punhal dos Bórgias / The Florentine Dagger / 1935; Going Highbrow / 1935; Don´t Bet on Blondes/ 1935; Liquidando Contas / The Pay-Off / 1935. O melhor foi O Punhal dos Bórgias, drama criminal de mistério baseado em romance de Ben Hetch, no qual o herói, descendente dos Bórgias, pensa ter herdado as tendências criminais de seus antepassados.

 

Cena de O Punhal dos Bórgias

Filmagem de Em Pleno Espetáculo.

Insatisfeito com a maioria de seus projetos na Warner, Florey retornou ao seu antigo estúdio, Paramount, onde, no período 1935 – 1940, assumiu a direção de 17 filmes: Café Concerto / Ship Café / 1935; Em Pleno Espetáculo / Preview Murder Mystery / 1936; Amantes Inimigos / Till We Meet Again / 9136; Boulevard de Hollywood / Hollywood Boulevard / 1936; Vencida a Calúnia / Outcast / 1937 (Prod: Major Productions /  DIst: Paramount); O Amor é como o Jogo / King of Gamblers / 1937; Mountain Music / 1937; Amor nos Bastidores / This Way Please / 1937;Tráfico Humano / Daughter of Shanghai / 1937; Verdugo de si Mesmo / Dangerous to Know / 1939; O Tirano de Alcatraz / King of Alcatraz / 1938; Eva no Tribunal / Disbarred / 1939; Hotel Imperial / Hotel Imperial / 1939; Caviar para sua Excelência / The Magnificent Fraud / 1939; Quem Matou o Campeão / Death of a Champion / 1939; Mercadores do Crime / Parole Fixer / 1940; Mulheres sem Nome / Women Without Names / 1940. Os melhores foram Em Pleno Espetáculo (drama criminal de mistério passado num estúdio de cinema, cheio de suspense criado através de composições e iluminação inusitadas) e Vencida a Calúnia (drama social poderoso e convincente, expondo a história de um médico que, perseguido porque um de seus pacientes cometeu suicídio, foge para uma cidade pequena, mas é identificado e se vê ameaçado de linchamento). Quando seu contrato com a Paramount expirou, coincindindo com o irromper da Segunda Guerra Mundial na Europa que iria afetar o faturamento da empresa no exterior, o estúdio só concordou em renovar o contrato de Florey, se ele aceitasse um corte no seu salário. Florey recusou a oferta e deixou a Paramount pela última vez.

Cena de A Máscara de Fogo

Charles Chaplin em Monsieur Verdoux

Cena de Afrontando a Morte

Na década de 1940-1950 ele celebrou uma série de contratos de curto tempo com várias companhias e, após o final da guerra, se tornaria independente. Brian Taves, autor de Robert Florey, The French Expressionist (Bearmanor Media, 2014, livro magnifico do qual colhemos muita informação, expõe a filmografia do diretor na década citada nesta forma: Columbia: A Máscara de Fogo / The Face Behind the Mask / 1941; Rastro nas Trevas / Meet Boston Blackie / 1941; Alugam-se Senhoritas / Two in a Taxi / 1941. Warner Bros.: Alarme no Atlântico / Dangerously They Live / 1941; Mulher Gângster / Lady Gangster / 1942; A Canção do Deserto / The Desert Song / 1943.Twentieth Century-Fox: O Último Gangster /1944. Republic: O Homem Fenomenal / Man from Frisco / 1944. Warner Bros.: A Mão que nos Guia / God is my Co-Pilot / 1945; Sinal de Perigo / Danger Signal / 1945; Os Dedos da Morte / The Beast with Five Fingers / 1946. United Artists: Monsieur Verdoux / Monsieur Verdoux / 1947. RKO Radio: Tarzan e as Sereias / Tarzan and the Mermaids / 1948. Universal- International: Legião Sinistra / Rogue´s Regiment / 1948. United Artists – Morrocan Picture: Posto Avançado em Marrocos / Outpost in Morocco / 1949; Afrontando a Morte / The Crooked Way / 1949; Ladrão com Alma / Johnny One-Eye / 1950. Emerald-Film Classics-Monogram: The Vicious Years / 1950.

Os melhores foram A Máscara de Fogo (drama criminal focalizando um imigrante (Peter Lorre) cujo rosto foi desfigurado num incêndio que, não conseguindo  arrumar emprego, usa uma máscara de borracha reproduzindo mais ou menos sua fisionomia original  e começa uma vida de crime), Monsieur Verdoux , no qual Florey foi diretor associado de Charles Chaplin e Afrontando a Morte, filme noir com o tema do ex-pracinha (John Payne) que retorna da guerra com deficiência de memória e investiga sua verdadeira identidade, valorizado pela fotografia em claro-escuro de John Alton.

Entre 1951 e 1963, o infatigável diretor aderiu à televisão, comandando, como disse no início deste artigo, 250 telefilmes, entre eles episódios das famosas séries Além da Imaginação / Twilight Zone e Alfred Hitchcock Presents.

PRIMÓRDIOS DO DESENVOLVIMENTO DA CULTURA POPULAR AMERICANA E O CINEMA

“Em novembro de 1829, cerca de doze mil pessoas, muitas das quais pagaram para ter uma boa vista, assistiram o famoso saltador de cachoeiras Sam Patch pular de um andaime nas águas turbulentas das cachoeiras do rio Genesee no norte do Estado de Nova York. Foi seu último salto. Bêbado, antes de pular, não sobreviveu. Ele dificilmente poderia ter adivinhado que este salto marcaria um momento simbólico na história da cultura popular americana. Quando Patch pulou no vazio, o entretenimento americano estava entrando em uma nova era turbulenta”.

É com este trecho que o professor de História da Washington State University, LeRoy Ashby, inicia o prólogo do seu livro admirável de 648 páginas, With Amusement for All – A History of American Popular Culture Since 1830 (ed. University Press of Kentucky, 2006), no qual faz uma síntese interpretativa de quase dois séculos do entretenimento de massa nos Estados Unidos. Esta obra magnífica, que recomendo entusiasticamente, inspirou o presente artigo, no qual modestamente, aponto como os diversos tipos de entretenimento abordados na primeira parte do livro foram aproveitados pelo cinema.

 Jim Crow

Em 1832, Thomas Dartmouth Rice, ex-jovem aprendiz de carpinteiro com o rosto pintado de preto, eletrizou um público barulhento de trabalhadores girando seu corpo em um palco do Bowery com um movimento curioso, espasmódico e cantando: “Weel about and turn about, / And dojis so; / Eb´ry time I weel about, I jump Jim Crow”. Um ano depois, o editor de jornal Benjamin Day, de vinte três anos, lançou um jornal – New York Sun – que era cerca de um terço do tamanho dos outros jornais, vendido pelo preço incrivelmente baixo de um centavo (one penny), e destacava assassinatos sensacionais, tragédias e fofocas. E, em meados de 1835, Phineas Taylor Barnum, rapaz de vinte e cinco anos, refugiado do negócio de produtos secos, exibiu Joice Heth, escrava cega, decrépita, parcialmente paralítica, que supostamente tinha 161 anos e havia amamentado e cuidado do “querido Pequeno George” Washington, primeiro presidente da nação.

Assim, no início dos anos 1830, tomou forma o arcabouço para a cultura popular moderna nos Estados Unidos. Os alicerces deste mundo emergente de entretenimentos baratos, acessíveis, e indisciplinados incluíam o blackface minstrelsy (show de menestréis com o rosto pintado de preto contendo estereótipos raciais) que a performance de Rice como Jim Crow elevou a novos níveis de popularidade; a penny press, que anunciou uma revolução na indústria gráfica americana; e “o show business”, como Barnum o apelidou e que ele, mais do que ninguém ajudou a definir.

Os shows de menestréis abriram as portas para Stephen Foster, pioneiro da música popular americana, autor da memorável “Oh! Susannah”, cuja letra foi escrita no dialeto blackface: “I Come from Alabama / With my banjo on my knee / It´s gwine to Lou’siana / My true lub to see”, ou seja, “I come to Alabama with my banjo on my knee / I´m going to Lousiana for my true love to see”. Como consequência da fama de Rice, a partir de 1838, Jim Crow tornou-se um termo pejorativo para o afro-americano e, a partir desta data, as leis de segregação racial ficaram conhecidas como “Jim Crow Laws”.

Exibindo um gênio absoluto para a publicidade, Barnum traçou diversas estratégias para divulgar a exibição de Joice Heth e se defender dos críticos. Trabalhando com Levi Lyman, que havia contratado como assistente, programou encontros de religiosos com Heth, mostrando-lhe certidões de batismo que ele e Lyman haviam falsificado. Ao mesmo tempo, aproveitou as acusações de que Heth era, de fato, uma fraude. Publicou histórias nos jornais e encenou incidentes sugerindo que ela era na verdade feita de osso de baleia e borracha e que a voz de sua engenhoca vinha de um ventríloco. Como Barnum disse, sorrindo: “Muitas pessoas que a tinham visto estavam igualmente desejosos de uma segunda visão, a fim de determinar se haviam sido ou não enganados”. Se eles pagaram uma ou duas vezes, o empresário espertalhão colheu os dividendos.

Em 1841, Barnum comprou um museu no centro de Manhattan onde exibiu “curiosidades humanas”, ou “aberrações”, tais como mulheres barbadas, indivíduos sem pernas, albinos, gigantes e anões. Uma exibição muito popular foi um jogador de xadrez mecanizado que os espectadores poderiam se perguntar se era realmente uma máquina pensante ou um glorioso embuste. Até que um jornal de Fidadélfia expôs o truque. Porém o astucioso empreendedor percebeu que, mesmo depois que o segredo foi revelado, ainda podia ser uma fonte de lucro. “De vez em quando”, ele lembrava, “alguém gritava ‘farsante’ e ‘charlatão’, porém tanto melhor para mim.  Isto ajudava a me promover”. Com esta lição em mente, Barnum cultivou sua crescente reputação como “o príncipe dos charlatões”, termo que ele orgulhosamente aplicou a si mesmo.

Barnum e Stratton

A emergência de uma classe média com um extenso conjunto de valores e crenças influenciou profundamente a cultura popular e, para cortejá-la e adquirir mais respeitabilidade, Barnum apresentou como nova atração um anão, Charles S. Stratton, lançando-o como General Tom Thumb (General Pequeno Polegar). Sob cuidadosa tutela de Barnum, Tom tornou-se muito popular, cantando, dançando e imitando uma variedade de personagens como Cupido, Hércules e Napoleão. Depois, Barnum contratou outro anão, George Washington Morrison Nutt, que ele apelidou de “Prince of the Lilliputs” (Príncipe dos Liliputianos) e uma cantora suiça Jenny Lind, anunciando-a como “The Swedish Nightingale “(A Rouxinol Suiça). No início dos anos 1880, Barnum, e seu novo sócio, James A. Bailey, ofereceram ao público “The Greatest Show on Earth” – o famoso circo itinerante de três picadeiros, que se uniria mais tarde com seu rival, o Ringling Brothers – cuja principal atração era um elefante africano chamado Jumbo, símbolo da tendência de Barnum à extravagância.

Em 1883, William F. “Buffalo Bill” Cody inaugurou o seu Buffalo Bill´s Wild West Show, trazendo uma excitante e romantizada adaptação do Oeste Americano para um público que muitas vezes conhecia pouco a região. O circo de Cody logo se tornou fenômeno nacional – e depois internacional – combinando competições de rodeio com produções teatrais dramáticas que celebravam a “conquista do Oeste”, incluindo nativos americanos autênticos, reconstituições de batalhas nas fronteiras, e exibições de búfalos, cavalos selvagens, e até leões das montanhas.

Mickey Rooney e Judy Garland em Sangue de Artista

No cinema de Hollywod houve três abordagens da vida e obra de Stephen Foster: Melodias Inolvidáveis / Harmony Lane / 1935; O Coração de um Trovador / Swanee River / 1939 (com Al Jolson cantando “Oh! Susannah”) e Minha Vida te Pertence / I Dream of Jeanie / 1921. Em Sangue de Artista / Babes in Arms / 1939, Mickey Rooney e Judy Garland arrazaram cantando “Oh! Susannah” com o rosto pintado de preto. Podemos lembrar ainda O Seresteiro / Oh! Susannah / 1936, western de Gene Autry, no qual a canção de Foster é ouvida como parte de uma coletânea durante a apresentação dos créditos e no final do filme, tocada no acordeão de Smiley Burnette. Al Jolson em O Cantor de Jazz / The Jazz Singer / 1927; Eddie Cantor em Whoopee! / Whoopee / 1930; a pequenina Shirley Temple em A Pequena Rebelde / The Littlest Rebel / 1935); Judy Garland em Diabinho de Saias / Everybody Sing / 1938; Bing Crosby em Duas Semanas de Prazer / Holiday Inn / 1942; Joe E. Brown em Um Rapaz Delicado / The Daring Young Man /1942; Os Três Patetas na comédia curta Uncivil Warbirds / 1946 e até Bugs Bunny (Coelho Pernalonga) e Elmer Fudd (Hortelino Troca-Letra) surgiram telas com o rosto pintado de preto. Em Dias Felizes / Happy Days / 1929, o campeão de boxe Jim Corbett atuou como interlocutor em um show de menestréis e, em 1941, foi realizado um short, Minstrel Days, da série Broadway Brevities da Warner, utilizando tomadas de arquivo com cenas de filmes com Al Jolson e Eddie CantorYes Sir, Mr. Bones / 1951 mostra um menino que se encontra em um retiro de velhos artistas menestréis e procura saber sobre seu passado, sucedendo-se retrospectos dos velhos tempos.

Wallace Beery e Adolphe Menjou em O Rei do Blefe

O cinema se lembrou de Barnum em O Rei do Blefe / The Mighty Barnum / 1934 com Wallace Beery no papel título, sendo que Beery já havia personificado Barnum em Dama Virtuosa / A Ladie´s Morals / 1930, filme sobre Jenny Lind, interpretada por Grace Moore, renomada cantora lírica do Metropolitan Opera House, que se tornou também atriz. E não há dúvida de que Cecil B. DeMille se inspirou nele e no seu circo para realizar O Maior Espetáculo da Terra / The Greatest Show on Earth / 1952.

James Ellison (à esquerda ao lado de Gary Cooper) em Jornadas Heróicas

Buffalo Bill Cody apareceu, ainda moço (James Ellison) em Jornadas Heróicas / The Plainsman / 1936 e já mais velho (Louis Calhern) em Bonita e Valente / Annie Get Your Gun / 1950; mas o filme que traçou sua biografia completa foi Buffalo Bill / Buffalo Bill / 1944, interpretado por Joel McCrea. Neste artigo não pretendo oferecer filmografias completas, citando apenas alguns filmes – todos do período áureo de Hollywood – sobre cada assunto; de modo que, sobre Buffalo Bill, vou apenas acrescentar: o seriado As Aventuras de Bufffalo Bill / Battling with Buffalo Bill / 1931 (com Tom Tyler), o western B O Jovem Buffalo Bill / 1940 (com Roy Rogers) e As Aventuras de Buffalo Bill / Pony Express / 1953 (com Charlton Heston).

Prosseguindo na primeira parte do seu estudo, o professor Ashby aponta o surgimento de outros entretenimentos de massa como a comercialização da celebração do Natal e do Dia dos Namorados, as lutas de boxe (incrementadas pela popularidade de John L. Sullivan, o grande campeão de peso-pesados até ser derrotado pelo “Gentleman Jim” Corbett); o basebol; o rugby (futebol americano) universitário, o teatro burlesco, o vaudeville e os parques de diversão.

Thomas Mitchell, Donna Reed e James Stewart em A Felicidade Não se Compra 

O filme mais famoso sobre o Natal é, sem dúvida, A Felicidade não se Compra / It´s a Wonderful Life / 1946, emocionante drama sobrenatural dirigido por Frank Capra, que se passa numa véspera de Natal e foi baseado em um conto de Philip Van Doren Stern, The Greatest Gift, por sua vez remotamente inspirado em A Christmas Carol de Charles Dickens. Em segundo lugar, podemos citar os também notáveis Noite de Natal / Christmas Carol / 1938 (este uma versão direta da novela de Dickens) e De Ilusão Também se Vive / Miracle on 34th Street / 1947. Sobre o Dia dos Namorados só encontrei O Massacre de Chicago / St. Valentine´s Days Massacre / 1967, drama criminal de Roger Corman sobre o massacre da quadrilha de Bugs Moran pelo bando de Al Capone que ocorreu em Chicago no ano de 1929 naquele feriado comemorado nos EUA em 14 de fevereiro.

Errol Flynn em O Ídolo do Público

Filmes sobre o ambiente de lutas de boxe no cinema houve vários, destacando-se: O Ídolo do Público / Gentleman Jim / 1942 (no qual estão os já citados John L. Sullivan e “Gentleman Jim” Corbett, interpretados respectivamente por Ward Bond e Errol Flynn); Corpo e Alma / Body and Soul / 1947; Punhos de Campeão / The Set-Up / 1948; O Invencível / Champion / 1949; Marcado pela Sarjeta / Somebody Up There Likes Me / 1956 (cinebiografia do grande nocauteador Rocky Marciano, interpretado por Paul Newman); A Trágica Farsa / The Harder They Fall / 1956 (com a participação de Max Baer e Jersey Joe Walcott); Requiem para um Lutador / Requiem for a Heavyweight / 1962 (com a presença no elenco de Jack Dempsey e Cassius Clay / Muhammad Ali).

Max Baer, Jack Dempsey e Primo Carnera emO Pugilista e a Favorita

Por curiosidade, três pugilistas campeões mundiais de peso-pesados, Max Baer, Primo Carnera e Jack Dempsey, trabalharam no filme O Pugilista e a Favorita / The Prizefighter and the Lady / 1933. Uma raridade foi o empate na conquista do Oscar de 1931-32 entre Fredrich March e Wallace Beery, este indicado por sua atuação em O Campeão / The Champ / 1932 (Dir: King Vidor), dramalhão sobre um ex-campeão de boxe decadente e beberão adorado pelo filho (Jackie Cooper). Outro filme passado em ambiente de boxe foi Talhado para Campeão / Kid Galahad / 1937, refilmado em 1962 como o mesmo título, tanto em inglês como em português, com Elvis Presley no papel anteriormente ocupado por Wayne Morris.

Gary Cooper em Ídolo, Amante e Herói

Talvez o melhor filme sobre basebol tenha sido Ídolo, Amante e Herói / The Pride of the Yankees / 1942 com Gary Cooper como o jogador “Lou” Gehrig que, vitimado por uma esclerose lateral miotrófica, teve que deixar prematuramente o esporte, falecendo aos 37 anos de idade. Vale lembrar o comovente discurso de despedida de Gehrig no Yankee Stadium e a presença de Babe Ruth e outros verdadeiros craques no elenco. Outro filme importante versando sobre o mesmo assunto, foi Sangue de Campeão / The Stratton Story / 1949, com James Stewart como o conhecido lançador Monty Stratton, cuja carreira chegou ao fim, quando teve a perna amputada. Podemos lembrar ainda, entre outros: Um Portento no Esporte / Casey at the Bat / 1927 com Wallace Beery; Vencendo o Medo / Fear Strikes Out / 1959, contando o drama de Jim Piersall, jogador que sofria de transtorno bipolar; Combinação Invencível / The Winning Team / 1952 com Ronald Reagan como Grover Cleveland Alexander; O Homem do Dia / The Pride of St. Louis / 1952 com Dan Dailey como Dizzy Dean. Vale a pena citar também um musical (Parceiro de Satanás / Damn Yankees / 1958) e uma comédia do “Boca Larga” Joe E. Brown (Esfarrapando Desculpas / Alibi Ike / 1935), ambos passados em ambiente de beisebol. E, sem dúvida, O Grande Babe Ruth / The Babe Ruth Story / 1948 com William Bendix no papel do imortal beisebolista. Recordo-me ainda de um musical dirigido por Busby Berkeley, A Bela Ditadora / Take Me Out to the Ball Game / 1949, sobre jogadores de basebol  (Frank Sinatra, Gene Kelly) que, fora da temporada esportiva, trabalham no vaudeville.

Harold Lloyd em O Calouro

O rugby (ou seu similar o futebol americano) foi representado no cinema americano clássico principalmente na comédia muda, O Calouro / The Freshman / 1925 com Harold Lloyd e em O Homem de Bronze / Jim Thorpe, All American / 1951 cinebiografia do famoso atleta descendente de índios (campeão de várias modalidades esportivas além do rugby), revivido na tela por Burt Lancaster. Cito também , sem a preocupação de fornecer uma lista completa:  Gênios da Pelota / Horse Feathers / 1932 com os Irmãos Marx; Agarrem essa Normalista/ Hold that Co-ed / 1938; Criador de Campeões / Knute Rockne All American / 1940, cinebiografia do famoso treinador da Universidade de Notre Dame, vivido por Pat O´Brien, que também deu vida a outro treinador (e herói da Primeira Guerra Mundial) Frank Cavanaugh em Forjador de Homens / The Iron Major / 1943; Papai foi um Craque / Father was a Fullback / 1949; Tormento de uma Glória / Easy Living / 1949; Ídolo Dourado / Saturday´s Hero / 1951; O Filhinho do Papai / That´s My Boy / 1951; Atalhos do Destino / Trouble Along the Way / 1953; Alma Invencível / All American / 1953;

Anna Held

Eva Tanguay

O teatro burlesco foi introduzido nos EUA em 1868 por uma trupe de coristas chamada Lydia Thompson´s British Blondes. Era um show de variedades, reunindo vários elementos como caricatura, paródia, sátira, erotismo e strip-tease. Outra forma, mais respeitável de exibicionismo feminino encontrou expressão no final do século dezenove, em grande parte devido aos esforços iniciais de Florenz Ziegfeld Jr.: o vaudeville, forma de entretenimento popular que misturava números curtos de variedades, música e comédia, mágicas, canto, dança, acrobacias, performances de animais treinados e estereótipos étnicos). Umas de suas grandes atrações foram o musculoso Sandow; a formosa cantora Anna Held; a comediante um tanto robusta, Eva Tanguay, cujas canções picantes e trajes escassos encantavam o público;  e, principalmente, suas show girls, lindas coristas que desfilavam sensualmente diante de cenários suntuosos. Segundo apurei, a verdadeira Anna Held foi protagonista de Madame la Presidente / 1916, dirigido por Frank Lloyd.

Luise Rainer como Anna Held

No cinema destaca-se a cinebiografia Ziegfeld, o Criador de Estrelas / The Great Ziegfeld / 1936, na qual o empresário foi interpretado por William Powell e Luise Rainer era Anna Held. O filme conquistou o Oscar e Rainer recebeu a estatueta como Melhor Atriz. Powell repetiu seu papel em Ziegfeld Follies / Ziegfeld Folies / 1946, revista musical com um elenco all-star (Judy Garland, Lucille Ball, Fanny Brice, Fred Astaire e Gene Kelly dançando juntos, Red Skelton, Lena Horne, Cyd Charisse, Esther Williams e direção geral de Vincente Minnelli. A figura de Ziegfeld apareceu ainda em: Sonharei com Você / I´ll See You in My Dreams / 1951 com William Forrest como Ziegfeld; A História de Will Rogers / A The Story of Will Rogers / 1952 com Forrest novamente como Ziegfeld; Bem no Meu Coração / Deep in my Heart / 1954 com Paul Henreid como Ziegfeld. O Meu Amado / Rose of Washington Square / 1939 foi remotamente inspirado na vida de Fanny Brice, uma das estrelas do Ziegfeld Follies. Ziegfeld não aparece em um O Mundo é um Teatro / Ziegfeld Girl / 1941, que gira em torno de três garotas (Lana Turner, Hedy Lamarr, Judy Garland) escolhidas para participar de seus espetáculos.

O vaudeville ou o burlesco estiveram ainda presentes nas telas por exemplo em: Sangue de Artista / Babes in Arms / 1939; A Bela Lillian Russell / Lillian Russell / 1940; Idílio em Do-Re-MI / For Me and My Gal / 1942; A Canção da Vitória / Yankee Doodle Dandy / 1942; Melodia do Amor / Shine on Harvest Moon / 1944; Sonhos Dourados / The Jolson Story / 1946; Mentira Salvadora / Ladies of the Chorus / 1948; Malabaristas da Vida / Give my Regards to Broadway / 1948; Esquece Teus Pesares / April Showers / 1948; Crepúsculo de uma Glória / Look for the Silver Lining / 1949; Um Coringa e Sete Ases / The Seven Little Foys / 1955; Em Busca de um Sonho / Gypsy / 1962 , cinebiografia da dançarina Gypsy Rose Lee com Rosalind Russell no papel-título; Quando o Strip Tease Começou / The Night They Raided Minsky´s / 1968.

Cena de Solidão

O parque de diversões mais conhecido de Nova York é o Luna Park, situado em Coney Island, bairro situado a sudoeste do Brooklyn. Ele é famoso pela sua roda gigante (Wonder Wheel) e sua montanha russa (Cyclone) e foi inaugurado por um empresário do entretenimento brilhantemente inovador, Frederic W. hompson, em 16 de maio de 1903. No cinema, vários filmes têm cenas passadas em Coney Island, entre os quais destacamos os admiráveis Solidão / Lonesome /1928 de Paul Fejos e O Pequeno Fugitivo / Little Fugitive / 1953 de Morris Engel. que conta a história de uma criança sozinha no parque.

MADAME BOVARY DE GUSTAVE FLAUBERT NO CINEMA

Nesta obra-prima da literatura francesa e mundial, Gustave Flaubert, através do estudo psicológico de uma mulher intoxicada pelo romantismo que busca na infidelidade e nas compras um substituto para a felicidade, investe contra   as convenções burguesas do seu tempo, zombando de sua tolice, sua futilidade, e sobretudo seu falso moralismo, buscando com obsessão “a palavra precisa”, a única adequada para levar cada frase ao ponto mais próximo da perfeição.

Gustave Flaubert

Observando um caso individual, o escritor fez de sua heroína um tipo universal. Durante o desenrolar da narrativa acompanhamos as emoções e frustrações de Emma Bovary, seu desejo por um mundo diferente daquele que destroça seu sonho e sua formidável faculdade de ilusão, que recebeu o nome doravante tradicional de Bovarismo. Houve várias versões do romance para o cinema. Os filmes que pude ver estão marcados em negrito e no final escolho o meu predileto.

FILMOGRAFIA

Excluídas adaptações remotas do original literário ou produzidas diretamente para a televisão.

Madame Bovary 1934 com Valentine Tessier

Madame Bovary / 1934 (Dir: Jean Renoir) com Valentine Tessier (Emma) e Pierre Renoir (Charles). França.

Madame Bovary 1937 com Pola Negri

A Mulher Que Amou Demais / Madame Bovary / 1937 (DIr: Gerard Lamprecht) com Pola Negri (Emma) e Aribert Wäches (Charles). Alemanha.

Madame Bovary 1947 com Mecha Ortiz

Madame Bovary / 1947 (Dir: Carlos Schlieper) com Mecha Ortiz (Ema) e Alberto Bello (Carlos). Argentina.

Madame Bovary 1949 com Jennifer Jones

A Sedutora Madame Bovary / Madame Bovary / 1949 (Dir: Vincente Minnelli) com Jennifer Jones (Emma) e Van Heflin (Charles). Estados Unidos.

Os Pecados de Madame Bovary / De Nackte Bovary / 1969 (Dir: Hans Schott-Schöbinger) com Edwige Fenech (Emma) e Gerhard Riedman (Charles). Alemanha Oriental- Itália.

Salvai e Protejei / Spasi i sokhran / 1989 (Dir: Alesandr Sokurov) com Cécile Zervudacki (Emma) e Robert Vaap (Charles). União Soviética – Alemanha Oriental.

Madame Bovary 1991 com Isabelle Hupert

Madame Bovary / Madame Bovary / 1991 (Dir: Claude Chabrol) com Isabelle Hupert (Emma) e Jean-François Baumer (Charles). França.

Madame Bovary / 2014 (Dir: Sophie Barthes) com Mia Wasikowska (Emma) e Henry Lloyd-Hughes (Charles).

MINHA VERSÃO PREDILETA É A DE VINCENTE MINNELLI

A primeira atriz escolhida para interpretar a personagem de Flaubert em A Sedutora Madame Bovary foi Lana Turner, porém o Código de Autocensura julgou-a “demasiado sexy”. Minnelli então sugeriu Jennifer Jones e, com ela expressou, à maneira de Hollywood naturalmente, a alma sonhadora da heroína e os falsos valores da burguesia.

James Mason como Flaubert

Jennifer Jones (Emma) e Van Heflin (Charles Bovary)

Jennifer Jones  (Emma) e Louis Jourdain (Rodolphe)

Jennifer Jones (Emma) e Gene Lockhart (Mr.Homais)

Contracenando com Jennifer estavam Van Heflin (Charles Bovary), Louis Jourdain (Rodolphe), o ator sueco Alf Kjellin creditado como Christopher Kent (Léon) e Gene Lockhart (Homais) enquanto James Mason encarnava Flaubert, servindo como narrador da intriga pois, para driblar a censura do Código Hays, o roteirista Robert Ardrey inventou um prólogo, mostrando em rápidas cenas o processo aberto contra o escritor, acusando-o de imoralismo por causa de seu livro. O filme traduz muito bem toda a essência do livro de Flaubert, ilustrada pelo estilo brilhante de Minnelli, que se manifesta esplendorosamente na vertiginosa sequência no baile sob o som da valsa “neurótica” de Miklos Rozsa, com Emma excitada rodopiando pelo salão e o espelho mostrando-a deslumbrante vestida de branco e rodeada de admiradores elegantes, imagem perfeita da realização de seus desejos romanescos.

Cenas no baile

Além da música de Rozsa, os cenários grandiosos (Cedric Gibbons – Jack Martin Smith,) figurinos (Walter Plunkett), fotografia (Robert Plank), distingue-se prioritariamente o desempenho  de Jennifer Jones, comunicando perfeitamente o tédio e o temperamento sonhador da personagem e o seu desejo insaciável de satisfazer suas fantasias, que a leva à degradação moral e ao suicídio.