Wilhelm Anton Frohs (1903-1980) Viena (Austria-Hungria) foi um produtor, roteirista, cantor, galã elegante muito querido pelo público de língua germânica dos anos 1930 – 1940 e um diretor muito respeitado de filmes de entretenimento bem-feitos, agradáveis e espirituosos no gênero vienense conhecido como Wiener Film (combinação de comédia, romance e melodrama em um cenário histórico, mais assídua e tipicamente a a alta sociedade da Viena do século XIX e começo do século XX).
Forst passou vários anos em palcos provincianos antes de aparecer em operetas e teatros de revistas em Berlim e Viena a partir de 1925. Ele fez sua estréia na tela no filme de Hans Otto Löwenstein, Der Letzte Knopf / 1919, mas empreendeu um trabalho regular no cinema somente depois de 1927. Seu primeiro papel importante foi como um batedor de carteiras ao lado de Marlene Dietrich em Café Elektric / 1927, ela como a filha de um rico industrial que se apaixona por ele.
Entretanto, Forst se destacou particularmente no primeiro filme germânico todo-falado, Atlantic / Atlantik / 1929, realizado por E. A. Dupont. Depois disso, ascendeu ao status de astro com uma série papéis principais em comédias musicais inclusive sete filmes dirigidos por Géza von Bolváry (1930 – Der Herr auf Bestellung; Das Lied ist aus; Ein Tango für Dich; Dois Corações ao Compasso de Valsa / Zwei Herzen im Dreiviertel -Takt; Petit Officier … Adieu! 1931 – Die lustigen Weiber von Wien; O Mistério da Gioconda / Der Raub der Mona Lisa / 1931); Ein Blonder Traum de Paul Martin e Der Prinz Von Arkadien de Karl Hart, ambos de 1932.
Seguiu-se a carreira de Forst como roteirista e diretor com a cinebiografia de Franz Schubert, Sinfonia Inacabada / Leise Flehen Meine Lieder / 1933 (tendo com artistas principais Martha Eggerth e Hans Jaray e usufruíndo da colaboração do grande roteirista Walter Reisch), espetáculo de grande sucesso aqui no Brasil, bastando dizer que no Rio de Janeiro ficou 20 semanas em cartaz, lançado primeiramente no Cinema Alhambra, passando depois para o Cine Glória e outras salas.
O filme subsequente de Forst, a opereta Mascarada / Maskerade / 1934, também com a participação de Walter Reisch na elaboração do roteiro e magnificamente fotografado por Franz Planer, fez de Paula Wessely uma estrela e contou com uma Olga Tschechowa esplêndida enquanto Pola Negri retornava para a Alemanha, após uma década em Hollywood, para atuar no seu outro grande espetáculo, Mazurka / Mazurka / 1935.
Em 1936, ele fundou sua própria companhia, Willi Forst – Film Produktion em Viena e, após a unificação da Austria com o Reich, atuou no Conselho de Administração na Wien Film GmbH de 1938 a 1945. Ainda em 1936, dirigiu e produziu entre outros, Allotria / Allotria e Intriga e Amor / Burgtheater, mas seu maior sucesso durante estes anos como diretor foi Quatro Mulheres é Demais / Bel Ami / 1939, adaptação do romance de Guy de Maupassant, na qual trabalhou também como ator. Nos anos quarenta, sobressaíram Operette / 1940 e Wiener -Blut / 1942.
Em 1950, dirigiu o “sucesso de escândalo”, Die Sünderin, que enfrentou proibições e boicotes por conta de suas ruminações de suicídio e um plano curto de Hildegard Kneff nua. De outro modo, os filmes de Forst do pós-guerra não se distinguiram sob nenhum aspecto e ele se retirou da indústria do cinema em 1957, depois de ter realizado Wien, Du Stadt Meiner Träume. Em 1968, recebeu o “Filmband in Gold” pelo conjunto da obra por sua contribuição marcante para o cinema alemão.
Conheço apenas seis filmes de Willi Forst (inclusive os seus três mais famosos, Sinfonia Inacabada, Mascarada, Mazurka, Bel Ami) e, entre eles, o meu favorito é o segundo, razão pela qual encerro este artigo falando um pouco sobre esta sua obra-prima.
Na Viena da virada-do-século, Anita Keller (Olga Tschechowa), noiva do maestro Paul Harrandt (Walter Jansen), ganha um regalo de chinchila em uma rifa realizada em um baile de carnaval. Ainda apaixonada pelo pintor Ferdinand von Heideneck (Adolph Wohlbrück), ela se encontra com ele na festa, fica irritada pelo fato de não ser correspondida e esquece seu regalo numa mesa. Sua cunhada Gerda (Hilde von Stolz), casada com o cirurgião Dr. Carl Harrandt (Peter Petersen), visita o estúdio de Ferdinand à noite e se deixa retratar por ele vestindo apenas o regalo e uma máscara de carnaval. Acidentalmente, o mencionado retrato acaba entre os desenhos enviados para um jornal e, desde que, precisamente, Gerda é casada, surge o risco de um escândalo. Quando o irmão de Paul, Karl vê o retrato, ele imediatamente suspeita de uma impropriedade por parte de sua futura cunhada e insiste que Paul investigue o assunto. Embora Paul não acredite que Anita seja a modelo do retrato, ele vai à procura de Ferdinand. O artista confirma que Anita não posou para ele, porém se recusa a dizer quem foi sua modelo. Paul acredita em Fritz e pede que ele invente um nome falso para a mulher retratada, com a finalidade de pôr um fim nas suspeitas de Carl. Ferdinand então inventa um nome imaginário para o modelo que posara para ele – Fräulein Dur. Pena que, na realidade, exista uma moça com este nome. Chama-se Leopoldine Dur (Paula Wessely) e é a criada de uma condessa, e todos a chamam de de “Poldy”. A partir daí, as coisas se complicam cada vez mais.
Mascarada é um Wiener Film típico com sua história passada no mundo aristocrático, seu esplendor cenográfico, seus trajes, sua música (no teatro ouvimos a voz de Enrico Caruso cantando o Rigoletto de Verdi) e, desta vez, Reisch e Forst quiseram dar à coisa toda um toque diferente, apontando o dedo para uma sociedade hipócrita e decadente. Reisch fugiria da anexação da Austria pela Alemanha Nazista para se tornar um roteirista ganhador do Oscar em Hollywood (além de três indicações) trabalhando na MGM e na 20thCentury-Fox. Em 1935, a MGM produziu Escapade, refilmagem de Mascarada, sob direção de Robert Z. Leonard com William Powell (Ferdinand), Luise Rainer (“Poldy”), Mady Christians (Anita) e Virginia Bruce (Gerda). Esta versão foi exibida no Brasil com o título em português de Flirt.