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J. A. RANK E SUA CONTRIBUIÇÃO PARA A INDÚSTRIA DE CINEMA BRITÂNICA

Joseph Arthur Rank (1888 – 1972) nasceu em Kingston upon Hull na Inglaterra, filho mais novo de um moleiro rico e bem-sucedido. Educado em colégio particular, começou trabalhando com o pai, depois montou seu próprio moinho de farinha e, quando este empreendimento fracassou, voltou a trabalhar na firma paterna. No início dos anos trinta, diretor do negócio da família, ele era um empresário afluente de meia-idade. Entusiasmado pelo Metodismo, começou a pensar em comprar projetores de cinema para usar os filmes como veículo para a educação religiosa nas escolas e igrejas metodistas.

J. A. Rank

Depois de colaborar com a Religious Film Society, corpo de voluntários formado para a propaganda religiosa, Rank contratou o produtor John Corfield para fazer dois curtas-metragens, St. Francis of Assisi (estrelado pelos então “desconhecidos” Greer Garson e Donald Wolfit) e Let There Be Love. Por intermédio de Corfield, conheceu sua nova parceira nos negócios, Lady Yule, viúva de um barão da juta angloindiano, mulher com as mesmas convicções religiosas que a sua. Ela e Rank juntaram forças e fortunas, para formar a British National em outubro de 1934. A primeira produção da British National, The Turn of the Tide / 1935, dirigida por Norman Walker, montada por Ian Dalrymple e David Lean (não creditado) e incluindo no seu elenco Geraldine Fitzgerald, ganhou o terceiro prêmio no Festival de Veneza; porém, mal promovida pela Gaumont – British, a principal distribuidora da Inglaterra, fracassou na bilheteria.

Depois desta frustração, Rank resolveu fundar sua própria distribuidora e ter seus próprios cinemas. Novamente por meio de Corfield, foi apresentado ao distribuidor C. M. Woolf, que havia sido diretor administrativo adjunto da Gaumont-British, mas havia brigado com outros membros da diretoria e criara sua própria empresa, a General Film Distributors (GFD). Em 1936, J. A. Rank e o magnata da fabricação de papel, Lord Portal, convenceram-no a transformar a GFD em uma filial de sua General Cinema Finance Corporation (GCF), que acabara de adquirir os direitos de distribuição no Reino Unido de todos os filmes da Universal.

Homem cauteloso, acima tudo um vendedor, Woolf tendia sempre a afastar Rank da realização de filmes de prestígio e alto orçamento, concentrando-se em comédias, musicais e thrillers de espionagem, que era o cinema britânico padrão nos anos trinta. Somente após a morte prematura de Woolf em dezembro de 1942, Rank pôde adotar uma política de produção mais cara.

Em 1936, contando com a colaboração com o maioral da construção civil, Sir Charles Boot, e sua antiga parceira na British National, Lady Yule, Rank comprou Heatherden Hall, propriedade campestre em Buckinghamshire e nela construiu o estúdio de Pinewood, bem moderno, nos moldes dos americanos. Em 1937, Rank absorveu o estúdio Denham, fundado por Alexande Korda e completou a verticalização (produção-distribuição-exibição) comprando a cadeia Odeon, que fôra construída por Oscar Deutsch, próspero comerciante húngaro de ferro velho, explicando-se assim parcialmente o acrônimo Odeon: Oscar Deutsch Entertains Our Nation.

Presidente da General Cinema Finance Corporation, presidente da General Film Distributors, presidente dos estúdios Pinewood e Denham, dono da cadeia de cinemas Odeon, a ascenção de Rank para o topo da Indústria de Cinema Britânica foi rápida, embora errática e sua prêeminência foi finalmente confirmada quando, em 1941, adquiriu a grande cadeia de cinemas Gaumont-British, sua filial Gainsborough Pictures com seus estúdios Islington e Lime Grove e outras companhias subsidiárias, inclusive a Baird Television. Como se não bastasse, Rank comprou os Amalgamated Studios em Elstree somente para impedir que caísse nas mãos de um concorrente e o alugou para o governo para fins de armazenamento.

Em 1940, Rank havia formado a GHW (Gregory-Hake-Walker, sobrenomes de três amigos de Rank), unidade de produção de filmes religiosos para serem apresentados em paróquias Metodistas e acampamentos do Exército ou da Marinha. De tempos em tempos a GHW tentou atingir um público geral de cinema. O projeto mais ambicioso de Rank foi a cinebiografia The Great Mr. Handel / 1942, dirigido por Norman Walker e filmado em Technicolor com Wilfred Lawson no papel do compositor angustiado de “O Messias”.

Cenas de The Great Mr. Handel

Ainda em 1942, a Organização Rank formou um consórcio, Independent Producers (sob a direção de George Archainbaud) com o objetivo de oferecer às companhias independentes boas condições de trabalho. As unidades de produção que operavam sob a proteção da Independent Producers eram: a Archers, fundada por David Lean, Cineguild (Ronald Neame, Anthony Havellock- Allan), Individual Pictures (Frank Launder e Sidney Gilliat), Wessex Films (Ian Dalrymple) e Aquila (David Ramsley e Frederick Wilson). Em meados dos anos 40, a Two Cities (fundada por Filippo Del Giudice e Mario Zampi) tornou-se parte da Organização Rank. Em 1944, aconteceria o mesmo com o Ealing Studios.

No final de 1942, a missão de Rank se expandiu. Agora seu objetivo era promover o filme britânico através do mundo. Depois de tentar em vão comprar metade das ações da United Artists e criar uma distribuidora anglo-americana, ele resolveu montar  (com a ajuda de Arthur Kelly e Teddy Carr, ex-executivos da UA) sua própria distribuidora, Eagle-Lion Distributors Ltd., registrada em Londres em 1 de fevereiro de 1944. A lista de países que a Eagle Lion alvejava era longa e impressionante, mantendo escritórios em todas as partes do mundo e, à medida em que a nova distribuidora ia ocupando mais espaço, o contador de Rank, John Davis, viajava através do globo comprando cinemas.

Porém, para assegurar um mercado mundial para os filmes britânicos, eles tinham que ser bem-feitos e os seus astros e estrelas tinham que receber uma publicidade adequada antes do seu lançamento. Embora estivesse envolvido na indústria por quase uma década, Rank admitia sua ignorância em matéria de cinema e fez disso uma virtude. Aconselhado por Filippo Del Giudice – grande “administrador de talentos”, como ele próprio se designava -, depositou sua confiança nos produtores, dando-lhes ampla liberdade, resultando grandes obras da cinematografia britânica. Foi a secretária de C. M. Woolf que inventou a marca comercial do homem com o gongo adotada pela Organização Rank. Entre os atletas que interpretaram o homem do gongo na sequência de abertura dos filmes da Rank, estavam o pugilista Billy Wells e o lutador de luta-livre Ken Richmond.

Fora cinedocumentários e filmes de longas-metragens, havia áreas que os britânicos haviam concedido quase que por atacado aos americanos, não tendo recursos para desenvolver estes campos por conta própria. Em tudo, desde fabricação de equipamentos a cinejornais, de desenhos animados a filmes “B”, os britânicos não tinham nada comparado com Disney ou A Marcha do Tempo / The March of Time Quando Rank embarcou em uma cruzada para colocar o cinema britânico no mapa mundial, ele sentiu que era sua “missão” ampliar a base da indústria e assim, sob a supervisão do diretor de arte David Rawnsley, foi criado um esquema – intitulado Independent Frame – para agilizar as operações de produção e também diminuir os gastos, propiciando uma melhor utilização dos efeitos especiais – matte shots (combinação de um cenário pintado com cenas reais), miniaturas, telas divididas,  front projection (projeção frontal) e back projection (retroprojeção ou transparência). Uma inovação prática de Rawnsley foi o Cyclops Eyes, pequena tela de TV fixada a uma câmera, que permitia ao diretor e ao operador de câmera ver como determinada cena foi enquadrada.

David Hand

A tentativa de Rank de instalar um departamento de animação para rivalizar com Disney não conseguiu gerar um Mickey Mouse, um Pato Donald ou mesmo um Pluto; Corny the Crow, Ginger Nutt e Dusty the Mole, sem falar em Ferdy, the Fox, foram os melhores personagens de desenhos animados que seus cartunistas conseguiram criar e eles nunca foram abraçados pelo público da maneira com que seus colegas foram. Em 1944, Rank contratou David Hand – um dos grandes nomes da animação americana que fora empregado dos irmãos Fleischer e de Walt Disney – e lhe deu plena e completa autoridade. Hand trouxe como assistentes Roy Paterson, animador veterano dos desenhos de Tom e Jerry da MGM e Ralph Wright, roteirista da Disney, “criador” do Pluto. Eles formaram uma turma de aprendizes e, no final de 1948, seus cartoons começaram a aparecer nos cinemas de Londres. As duas séries principais de desenhos que o Gaumont-British Animated Department (como a equipe de Hand era chamada) conseguiu completar foram Musical Paintbox e Animaland. Porém quando exibidos nos cinemas, os filmes de Hander mereceram uma recepção morna, pois não tinham a inventividade e a energia louca dos da Warner Brothers, da Disney ou da MGM. Eles eram pálidas cópias de seus equivalentes de Hollywood.

De todas as aventuras de Rank na indústria de cinema, nenhuma lhe trouxe mais crédito do que sua tentativa de superar o cinejornal americano A Marcha do Tempo com o seu This Modern Age (TMA). Ele aparecia uma vez por mês e durava sempre 21 minutos. Os comentários eram geralmente lidos por Robert Harris (cuja voz não tinha a voz estrondosa do comentarista de A Marcha do Tempo) e a música providenciada por Muir Mathieson. Cada episódio da TMA finalizava com este apelo corajoso: “The Challenge Be Met in This Modern Age” (O Desafio Deve Ser Enfrentado nesta Era Moderna). Um dos episódios mais ambiciosos da série foi o de n°31, India and Pakistan, para o qual a esquipe viajou mais de doze mil quilômetros e filmou mais de quinze mil metros de filme.

Compreendendo que os astros são uma “necessidade econômica” e um “valor de produção” e que a falta de nomes reconhecíveis intantâneamente na marquise dos cinemas sempre foi apontada pelos produtores de espetáculos americanos como a razão do fracasso dos filmes britânicos para firmar uma posição nos Estados Unidos, Rank fundou a Company of Youth, comumente conhecida como Charm School, escola para jovens atores contratados pela Organização Rank que estavam sendo preparados para o estrelato. O produtor Sydney Box originalmente formou uma Company of You no Riverside Studios em dezembro de 1945, que depois a transferiu para a Gainsborough em 1946, quando foi recrutado pela Organização Rank. Entre os alunos estavam os depois famosos Christopher Lee e Diana Dors.

Diana Dors na Charm School

Uma área da produção de filmes que os britânicos abandonaram para os americanos depois da abolição dos “quota quickies” (produções de baixo orçamento que os distribuidores americanos eram obrigados a fazer para cumprir a exigência do Cinematographic Act de 1927) foi a do filme “B”. Em 1947, Rank reviveu este tipo de filme feito para preencher a “outra metade” de uma sessão, no minúsculo Highbury Studios no Norte de Londres.  Foi uma operação de vida curta, durando somente dois anos até 1949. Contudo, em sua breve vida, foi certamente bem-sucedida dentro de seus próprios termos, proporcionado vitrines iniciais para atrizes como Susan Shaw e diretores como Terence Fisher (que mais trade supervisionaria a maioria dos filmes da Hammer) e produzindo seus filmes no prazo e no orçamento previstos, graças aos esforços do supervisor do estúdio John Croydn, ex-produtor associado na Ealing.

Outro projeto de Rank foi seu envolvimento com os filmes e clubes de cinema para crianças. De um lado, ele queria divertir os jovens, atraí-los para o cinema em uma tenra idade, para que o hábito pegasse e eles continuassem vindo quando crescessem, ajudando assim a reforçar suas receitas de bilheteria. Por outro lado, Rank era genuinamente apaixonado pelo zelo evangélico, e estava ansioso por inculcar na juventude “os bons valores Cristãos”. Afinal, tinha sido sua busca por projetores de filmes para animar as aulas da escola nos domingos que o atraiu primeiramente para a indústria.

Os Odeon Children´s Cinema Clubs foram inaugurados oficialmente em abril de 1943, com mais de 150 cinemas todos realizando a mesma cerimônia, e com mais de 150 mil crianças fazendo a sua “adesão ao clube”. Na inauguração, o comediante Arthur Askey cantou uma ou duas canções e depois anunciou uma competição pela melhor redação sobre higiene pessoal. O prêmio para o vencedor seria o chapéu do caubói Gene Autry. Inicialmente o programa era composto por filmes de comédia, aventuras ou westerns, principalmente americanos. Posteriormente, Rank começou a produzir ele mesmo filmes para crianças. O trabalho dos Children´s Entertainment Films (CEF) era chefiado pela professora e historiadora Mary Field, conhecida diretora da série Secrets of Nature, iniciada em 1920. Por ironia, a CEF, criada para educar e divertir as crianças foi acusada de explorá-las. De acordo com as leis trabalhistas, era ilegal empregar uma criança menor de 12 anos de idade. Assim, Mary Field teve que procurar nas agências de emprego adolescentes de baixa estatura, que não parecessem a idade que tinham. Alguns jovens artistas em ascensão como Anthony Newley, que logo interpretaria o personagem de Arthur Dodger em Oliver Twist / Oliver Twist de David Lean e Jean Simmons, que mais tarde teria a sua chance em Grandes Esperanças / Great Expectations do mesmo diretor, foram descobertos nestes filmes para crianças.

No término da Segunda Guerra Mundial, a Organização Rank possuía estúdios, companhias de produção e distribuição (fazendo de tudo desde filmes de um milhão de dólares a cinejornais, de desenhos animados a curtas educacionais) e 650 cinemas. Ela financiou muitos filmes britânicos hoje reconhecidos como clássicos: as adaptações de Charles Dickens de David Lean, as comédias da Ealing, os melodramas da Gainsborough, Os Sapatinhos Vermelhos / The Red Shoes de Michael Powell e Emeric Pressbuger, Um Estranho na Escuridão / I See a Dark Stranger de Frank Launder e Sidney Gilliat.

No final dos anos quarenta a Organização Rank entrou em crise quando o tesouro britânico passou a cobrar um imposto de 75% sobre o lucro estimado dos filmes americanos no Reino Unido. Os americanos ficaram indignados com esta taxação e pararam de mandar seus filmes para a Grã-Bretanha. Rank precisava exibí-los a fim de obter dinheiro para produzir os filmes britânicos e teve que suportar um longo e doloroso processo e contenção de despesas. Ao se encerrar o ano de 1949, a Organização Rank estava em declínio, cambaleando sob o peso de perdas terríveis pois, infelizmente, muitos dos filmes que produziu não possuíam a qualidade necessária para garantir retornos financeiros razoáveis.

Em 1952, após o falecimento de seu irmão mais velho Jimmy, J. Arthur Rank voltou para o negócio de sua família. Ele se manteve como presidente da Organização Rank até 1962, porém deixou o Dia-a-Dia da empresa para seu ex-contador, John Davis. Este dirigiu a Organização com muito rigor e, no fim dos anos 50, reduziu o compromisso dela com os filmes e o diversificou em outras atividades como fabricação e venda de equipamentos para máquinas de xerox e atividades de lazer: pistas de boliche, salões de dança, estações de serviço nas auto-estradas, e até uma gravadora de curta duração

Em retrospectiva, parece meio cômico-meio trágico, que todos os esforços de Rank para colocar de pé a indústria de cinema britânica terminaram desta forma.

WILLI FORST

Wilhelm Anton Frohs (1903-1980) Viena (Austria-Hungria) foi um produtor, roteirista, cantor, galã elegante muito querido pelo público de língua germânica dos anos 1930 – 1940 e um diretor muito respeitado de filmes de entretenimento bem-feitos, agradáveis e espirituosos no gênero vienense conhecido como Wiener Film (combinação de comédia, romance e melodrama em um cenário histórico, mais assídua e tipicamente a a alta sociedade da Viena do século XIX e começo do século XX).

Willi Forst

Forst passou vários anos em palcos provincianos antes de aparecer em operetas e teatros de revistas em Berlim e Viena a partir de 1925. Ele fez sua estréia na tela no filme de Hans Otto Löwenstein, Der Letzte Knopf / 1919, mas empreendeu um trabalho regular no cinema somente depois de 1927. Seu primeiro papel importante foi como um batedor de carteiras ao lado de Marlene Dietrich em Café Elektric / 1927, ela como a filha de um rico industrial que se apaixona por ele.

Marlene Dietrich e Willi Forst em Cafe Elektric

Entretanto, Forst se destacou particularmente no primeiro filme germânico todo-falado, Atlantic / Atlantik / 1929, realizado por E. A. Dupont. Depois disso, ascendeu ao status de astro com uma série papéis principais em comédias musicais inclusive sete filmes dirigidos por Géza von Bolváry (1930 – Der Herr auf Bestellung; Das Lied ist aus; Ein Tango für Dich; Dois Corações ao Compasso de Valsa / Zwei Herzen im Dreiviertel -Takt; Petit Officier … Adieu! 1931 – Die lustigen Weiber von Wien; O Mistério da Gioconda / Der Raub der Mona Lisa / 1931); Ein Blonder Traum de Paul Martin e Der Prinz Von Arkadien de Karl Hart, ambos de 1932.

Hans Jaray e Martha Eggerth em Sinfonia Inacabada

Seguiu-se a carreira de Forst como roteirista e diretor com a cinebiografia de Franz Schubert, Sinfonia Inacabada / Leise Flehen Meine Lieder / 1933 (tendo com artistas principais Martha Eggerth e Hans Jaray e usufruíndo da colaboração do grande roteirista Walter Reisch), espetáculo de grande sucesso aqui no Brasil, bastando dizer que no Rio de Janeiro ficou 20 semanas em cartaz, lançado primeiramente no Cinema Alhambra, passando depois para o Cine Glória e outras salas.

Paula Wessely e Adolph Wolbrück em Mascarada

O filme subsequente de Forst, a opereta Mascarada / Maskerade / 1934, também com a participação de Walter Reisch na elaboração do roteiro e magnificamente fotografado por Franz Planer, fez de Paula Wessely uma estrela e contou com uma Olga Tschechowa esplêndida enquanto Pola Negri retornava para a Alemanha, após uma década em Hollywood, para atuar no seu outro grande espetáculo, Mazurka / Mazurka / 1935.

Pola Negri em Mazurka

Em 1936, ele fundou sua própria companhia, Willi Forst – Film Produktion em Viena e, após a unificação da Austria com o Reich, atuou no Conselho de Administração na Wien Film GmbH de 1938 a 1945. Ainda em 1936, dirigiu e produziu entre outros, Allotria / Allotria e Intriga e Amor / Burgtheater, mas seu maior sucesso durante estes anos como diretor foi Quatro Mulheres é Demais / Bel Ami / 1939, adaptação do romance de Guy de Maupassant, na qual trabalhou também como ator. Nos anos quarenta, sobressaíram Operette / 1940 e Wiener -Blut / 1942.

Adolph Wohlbrück e Jenny Jugo em Allotria

Willi Forst e Maria Holst em Operette

Willy Fritsch e Maria Holst em Wiener Blut

Em 1950, dirigiu o “sucesso de escândalo”, Die Sünderin, que enfrentou proibições e boicotes por conta de suas ruminações de suicídio e um plano curto de Hildegard Kneff nua. De outro modo, os filmes de Forst do pós-guerra não se distinguiram sob nenhum aspecto e ele se retirou da indústria do cinema em 1957, depois de ter realizado Wien, Du Stadt Meiner Träume. Em 1968, recebeu o “Filmband in Gold” pelo conjunto da obra por sua contribuição marcante para o cinema alemão.

Conheço apenas seis filmes de Willi Forst (inclusive os seus três mais famosos, Sinfonia Inacabada, Mascarada, Mazurka, Bel Ami) e, entre eles, o meu favorito é o segundo, razão pela qual encerro este artigo falando um pouco sobre esta sua obra-prima.

Na Viena da virada-do-século, Anita Keller (Olga Tschechowa), noiva do maestro Paul Harrandt (Walter Jansen), ganha um regalo de chinchila em uma rifa realizada em um baile de carnaval. Ainda apaixonada pelo pintor Ferdinand von Heideneck (Adolph Wohlbrück), ela se encontra com ele na festa, fica irritada pelo fato de não ser correspondida e esquece seu regalo numa mesa. Sua cunhada Gerda (Hilde von Stolz), casada com o cirurgião Dr. Carl Harrandt (Peter Petersen), visita o estúdio de Ferdinand à noite e se deixa retratar por ele vestindo apenas o regalo e uma máscara de carnaval. Acidentalmente, o mencionado retrato acaba entre os desenhos enviados para um jornal e, desde que, precisamente, Gerda é casada, surge o risco de um escândalo. Quando o irmão de Paul, Karl vê o retrato, ele imediatamente suspeita de uma impropriedade por parte de sua futura cunhada e insiste que Paul investigue o assunto. Embora Paul não acredite que Anita seja a modelo do retrato, ele vai à procura de Ferdinand. O artista confirma que Anita não posou para ele, porém se recusa a dizer quem foi sua modelo. Paul acredita em Fritz e pede que ele invente um nome falso para a mulher retratada, com a finalidade de pôr um fim nas suspeitas de Carl. Ferdinand então inventa um nome imaginário para o modelo que posara para ele – Fräulein Dur. Pena que, na realidade, exista uma moça com este nome. Chama-se Leopoldine Dur (Paula Wessely) e é a criada de uma condessa, e todos a chamam de de “Poldy”. A partir daí, as coisas se complicam cada vez mais.

William Powell e LUise Rainier em Flirt

Mascarada é um Wiener Film típico com sua história passada no mundo aristocrático, seu esplendor cenográfico, seus trajes, sua música (no teatro ouvimos a voz de Enrico Caruso cantando o Rigoletto de Verdi) e, desta vez, Reisch e Forst quiseram dar à coisa toda um toque diferente, apontando o dedo para uma sociedade hipócrita e decadente. Reisch fugiria da anexação da Austria pela Alemanha Nazista para se tornar um roteirista ganhador do Oscar em Hollywood (além de três indicações) trabalhando na MGM e na 20thCentury-Fox. Em 1935, a MGM produziu Escapade, refilmagem de Mascarada, sob direção de Robert Z. Leonard com William Powell (Ferdinand), Luise Rainer (“Poldy”), Mady Christians (Anita) e Virginia Bruce (Gerda). Esta versão foi exibida no Brasil com o título em português de Flirt.