MADELEINE RENAUD (1900-1994). Nome verdadeiro: Lucie Madeleine Renaud. Local de nascimento: Paris, França.
Madeleine Renaud
Ainda mocinha leu uma fábula por ocasião de uma festa de caridade. Por acaso, o ator Maurice de Féraudy estava lá e aconselhou sua mãe a encaminhar Madeleine para o teatro. Mamãe aceitou o conselho com a condição de que a filha cursasse o Conservatório e entrasse para a Comédie Française. A jovem saiu do Conservatório com seu primeiro prêmio (no papel de Agnès de “L’École des Femmes” de Molière – empatada com Marie Bell) e entrou para a prestigiosa companhia teatral fundada por Richelieu.
Em 1922, aos dezoito anos de idade, casou-se com o ator Charles Granval, perto de vinte anos mais velho do que ela. “Sem Granval, ela seria uma boa comediante. Sob sua influência, ela se tornou artista” (diria Jean-Louis Barrault). Membro permanente da Comédie desde 1928, Madeleine interpretou as jovens das peças de Molière (Henriette, Angélique, Marianne) e depois as coquetes de Marivaux e de Beaumarchais.
Madeleine iniciou sua carreira na cena muda em Vent Debout / 1923 de René Leprince, seguindo-se algum tempo depois La Terre qui Meurt / 1927 de Jean Choux. No início do cinema falado, distinguiu-se em Jean de La Lune, também de Jean Choux, como Marceline, ao lado de René Levèfre (Jean de la Lune) e Michel Simon (Clo Clo), e logo em seguida fez três filmes dirigidos pelo americano Harry Lachman (Mistigri / 1931; A Costureirinha da Província / La Couturière de Luneville /1932 e La Belle Marinière / 1932) inusitados, porque embora rodados na Paramount de Joinville, não eram versões de filmes hollywoodianos.
Madeleine ganhou mais notoriedade na tela em La Maternelle / La Maternelle / 1933 de Jean Benoît-Levy e Marie Epstein, no qual era Rose, jovem de origem burguêsa que trabalha em uma escola pobre e adota uma menina abandonada. Rose é pedida em casamento por um médico e a criança, não podendo suportar o que ela ressente como uma traição, tenta se suicidar.
Ainda nesse período, Túnel Submarino / Le Tunnel / 1933 (versão francêsa) de Kurt Bernhardt e Primerose / 1934 de René Guissart deram-lhe uma visibilidade ainda maior, reforçada graças a sua intervenção em um dos grandes filmes de Julien Duvivier, Maria Chapdelaine / 1934. No Canadá, Maria Chapdelaine é cortejada por três homens: um caçador (François / Jean Gabin), um lenhador (Eutrope / Alexandre Rignault) e um citadino que vem regularmente comerciar na região (Lorenzo / Jean-Pierre Aumont). Ela prefere François, mas este morre de frio, ao enfrentar imprudentemente uma tempestade. A expressão no rosto de Madeleine Renaud, quando Maria avista o corpo inerte do seu amado, enrolado no cobertor, ninguém jamais esquece.
Após participar de mais alguns filmes, a atriz antigiu o auge de sua capacidade interpretativa em quatro filmes notáveis realizados por Jean Grémillon: O Homem que Viveu Duas Vidas / L’Étrange Monsieur Victor / 1938; Águas Tempestuosas / Remorques / 1941; Lumière d’Été / 1943 e O Céu lhe Pertence (TV) / Le Ciel est à Vous / 1944. No primeiro, ela é a encantadora Madeleine, esposa do gordo e próspero Victor Agardanne (Raimu), que vive uma vida dupla de um comerciante honesto e respeitado durante o dia, que à noite se torna chefe de uma quadrilha de ladrões; no segundo, ela é Yvonne, que sofre de uma doença cardíaca enquanto seu marido, o capitão de um rebocador (Jean Gabin) se deixa seduzir por outra mulher (Michèle Morgan); no terceiro, ela é Cri-Cri, proprietária de um hotel nos Alpes e antiga amante de um aristocrata perverso (Paul Bernard), implicado em um assassinato; no quarto, ela é Thérèse, cônjuge de Pierre Gauthier (Charles Vanel), proprietários de uma pequena garagem, que se apaixonam pela aviação, e Thérèse acaba batendo o recorde feminino de distância em linha reta.
Nos anos cinquenta e sessenta, Madeleine fez mais alguns filmes (sendo os mais importantes O Prazer / Le Plaisir / 1952 de Max Ophuls, como Julia Tellier no segmento “La Maison Tellier” e Assim Deus Mandou / Les Dialogues des Carmélites / 1960, como a primeira Madre Superiora), e vários telefilmes, tendo sido o derradeiro deles, Oh! Les Beaux Jours, baseado na peça de Samuel Beckett, no qual ela atuou ao lado de seu segundo marido, Jean-Louis Barrault. Seu último filme foi La Lumière du Lac / 1988 de Francesca Comencini.
Madeleine Renaud e Jean-Louis Barrault estiveram duas vêzes no Brasil, estreando com sua companhia teatral no Teatro Municipal do Rio de Janeiro, em 17 de maio de 1950 com as peças “La Seconde Surprise de L ‘Amour” de Marivaux e “Les Fourberies” de Scapin de Molière em 7 de maio de 1954 com as peças “Oedipe” de André Gide e “Amphitryon” de Molière. No repertório que trouxeram, constava também, entre outras, “Hamlet” de William Shakespeare, em uma tradução de André Gide.
VIVIANE ROMANCE (1912-1991). Nome verdadeiro: Pauline Ronacher Ortmans. Local de nascimento: Roubaix, Nord , França.
Viviane Romance
Estréia no mundo do espetáculo aos treze anos de idade como dançarina no Teatro Sarah Bernhardt. Aos quatorze anos, junta-se à trupe do Moulin Rouge, onde chamou atenção quando esbofeteou a grande Mistinguett, que havia cometido a infelicidade de lhe falar de uma maneira um pouco rude. Ela parte então para dançar o can-can no Bal Tabarin e, aos dezesseis anos, passa para a opereta e o teatro de boulevard. Eleita Miss Paris aos dezoito anos, Viviane provoca um novo escândalo, quando se descobre que ela está grávida. Destituída de seu título, ganha em compensação uma certa notoriedade.
Viviane apareceu no cinema em 1929, trabalhando como figurante e depois fazendo
pequenos papéis (v. g. em Liliom / Liliom / 1934 de Fritz Lang; A Bandeira / La Bandera / 1935 de Julien Duvivier; Princesa Tam Tam / Princesse Tam Tam / 1935 de Edmond T. Gréville), até conquistar um lugar mais importante no elenco de Camaradas / La Belle Équipe / 1934. Neste filme exemplar de Julien Duvivier, Viviane é Gina, a jovem que provoca uma rivalidade amorosa entre Charles (Charles Vanel), seu ex-marido, e Jean (Jean Gabin), dois operários desempregados que ganharam o prêmio da loteria juntamente com outros três colegas, e resolveram se associar, para construir um restaurante.
A partir daí, Viviane encontrou mais oportunidades de demonstrar seu talento como Molly em O Puritano / Le Puritain / 1937 de Jeff Musso; Lolita em O Ídolo das Mulheres / Naples au Baiser de Feu / 1937 de Augusto Genina; como Hilda em Traidora / L ‘Homme à Abattre / 1937 de Léon Mathot; como Adrienne Robineau em O Homem que Vivia Duas Vidas / L’Étrange Monsieur Victor / 1937 de Jean Grémillon; Gaby em Mademoiselle Docteur / Salonique, nid d’espions / 1937 de G.W. Pabst; Blanche du Placet em O Jogador / Le Joueur de Louis Daquin (versão francêsa de Der Spieler de Gerard Lamprecht); Safia em Pecadoras de Tunis / La Maison du Maltais / 1938 de Pierre Chenal; Régine em Prisão de Mulheres / Prison des Femmes / 1938 de Roger Richebé; Mercedes em Gibraltar / Gibraltar / 1938 de Fedor Ozep; Angélica em Angélica / La Rose du Sang / 1939 de Jean Choux; Mireille em A Escrava Branca / L’Esclave Blanche / 1939 de Marc Sorkin; Clara Véry em À Uma da Madrugada / La Tradition de Minuit / 1939 de Roger Richebé.
Sua presença no melodrama romântico e exótico Pecadoras de Tunis é inesquecível. Como Safia, uma prostituta européia que espera um filho de Matteo (Marcel Dalio), um vagabundo, poeta e contador de histórias e depois, pensando que ele está morto, casa-se com um arqueólogo rico (Pierre Renoir), vindo a ser chantageada por um escroque (Louis Jouvet), Viviane celebra toda a sua beleza e o seu poder de sedução.
Nos anos quarenta, ela prosseguiu sua carreira, participando de quatro filmes, tendo como parceiro seu então marido, Georges Flamant (Vénus Aveugle / 1941, um dramalhão de Abel Gance; Cartacalla, reine des gitans / 1942 de Léon Mathot; Feu Sacré / 1942 de Maurice Cloche; Une Femme dans la Nuit / 1943 de Edmond T. Gréville), seguindo-se algumas realizações mais apreciáveis: Os Amores de Carmen / Carmen / 1945 de Christian-Jacque; Manon, a 326 / La Route du Bagne de Léon Mathot; A Tentadora / La Boîte aux Rêves / 1945 de Yves Allégret; O Colar da Rainha / L’Affaire du Collier de la Reine / 1946, no qual ela interpreta o papel de Jeanne de la Motte, personagem central de um caso histórico célebre; Pânico / Panique / 1946 de Julien Duvivier; e Maya, a Desejável / Maya de Raymond Bernard.
O melhor foi Pânico, baseado em um romance de Georges Simenon, cujo protagonista é um fotógrafo amador e misantropo, Monsieur Hire (Michel Simon), tido como suspeito de um crime. Viviane é Alice, amante do verdadeiro asssassino (Paul Bernard), que faz caírem as supeitas sobre Hire, secretamente apaixonado por ela.
Nas décadas subsequentes, Viviane fez mais dezesseis flmes, alguns na Itália; atuou como co-roteirista e / ou produtora em alguns deles; e encerrou suas atividades na tela em Nada / 1974 de Claude Chabrol. Seus dois melhores filmes nesse período foram As Pecadoras de Paris / L’Affaire des Poisons / 1955 de Henri Decoin, no qual interpretou a envenenadora La Voisin e Gangsters de Casaca / Mélodie en Sous-Sol / 1962 de Henri Verneuil, no qual interpretou a esposa de um gângster sexagenário (Jean Gabin), recém saído da prisão, que planeja assaltar o Cassino de Cannes.
SIMONE SIGNORET (1921-1985). Nome verdadeiro: Simone Henriette Charlotte Kaminker. Local de nascimento: Wiesdaden, Alemanha.
Simone Signoret
Seu pai, André Kaminker, era um oficial do exército, judeu de descendência polonesa nascido na França e sua mãe, Georgette (Signoret) Kaminker, francesa católica originária da Provença. Simone nasceu na Alemanha renana então ocupada pelos francêses após a Primeira Guerra Mundial mas cresceu em Paris onde, depois de concluir seus estudos secundários, a fim de ajudar no sustento de sua familia, trabalhou como secretária para um jornal colaboracionista francês, dirigido por Jean Luchaire. Durante a Ocupação, ela frequentava o Café de Fiore em Saint-Germain-des-Prés, onde se reunia um grupo de artistas e escritores. A essa altura, Simone desenvolveu um interesse pela arte de interpretar e foi encorajada por seus amigos, a seguir a profissão de atriz.
Em 1942, graças à filha de seu patrão, a atriz Corinne Luchaire, ela começou a aparecer como figurante (v. g. Os Visitantes da Noite / Les Visiteurs du Soir / 1942 de Marcel Carné) ou em pequenos papéis (v. g. Lily, uma taberneira em Les Démons de l’Aube /1945 de Yves Allégret), adotando o sobrenome de solteira de sua mãe, para esconder suas raízes judaicas. De modo que sua carreira cinematográfica iniciou-se verdadeiramente em 1946 com Hotel Clandestino / Macadam / 1946 de Marcel Blistène (supervisionado por Jacques Feyder), que lhe proporcionou o prêmio Suzanne-Bianchetti de atriz revelação.
Seguiram-se duas participações importantes em Fantômas / Fantômas / 1947 de Jean Sacha (como Hélène ao lado de Marcel Herrand / Fantômas) e no filme inglês de espionagem Heróis Anônimos / Against the Wind / 1947 de Charles Crichton; porém foi Yves Allégret (com quem vivia desde 1943 e se casou em 1948 depois do nascimento de uma filha, Cathérine Allégret), que ofereceu a Simone seus primeiros grandes papéis em Escravas do Amor / Dédée d’Anvers / 1947 e A Cínica / Manèges / 1950.
No primeiro, ela é Dédée, prostituta em um bar de propriedade de um ex-gângster simpático, M. René (Bernard Blier) e “protegida” de um rufião, Marco (Marcel Dalio). Ela se apaixona por Francesco (Marcel Pagliero), capitão de um cargueiro especializado em contrabando de armas. Marco não quer perder o seu ganha-pão e mata Francisco. Dédée e René executam Marco, ela retoma seu lugar ao lado do patrão, e a vida continua. No segundo, ela é Dora, que sofreu um acidente de automóvel e está gravemente ferida e inconsciente em uma clínica. À sua cabeceira encontram-se seu marido, Robert (Bernard Blier), e sua mãe, uma mulher, gorda e vulgar (Jane Marken). Robert, dono de uma escola de equitação, sacrificou tudo pela felicidade de Dora. A mãe revela a Robert que a filha não se casou com ele por amor, mas pelo seu dinheiro. Enquanto ela fala, Robert revê certos momentos de sua vida com Dora. Ela enganou-o várias vezes, e quando foi se encontrar com seu último amante, é que se acidentou. Robertse afasta, abandonando definitivamente Dora, que ficará paralítica.
Em 1949, Simone deixa Allégret por um jovem cantor descoberto por Edith Piaf, Yves Montand; eles se casam em dezembro de 1951. Na década de cinquenta, a bela sensual e talentosa Simone tornou-se uma estrela, incorporando em sua filmografia trabalhos de alto teor artístico como Conflitos de Amor / La Ronde / 1950 de Max Ophuls (como Léocadie, a prostituta); Amores de Apache / Casque d’Or / 1951 de Jacques Becker; O Último Endereço / Sans Laisser d ‘Addresse / 1951 de Jean-Paul le Chanois; Teresa Raquin / Thérèse Raquin / 1953 de Marcel Carné; As Diabólicas / Les Diaboliques / 1954 de Henri-Georges Clouzot; A Morte no Jardim / La Mort en ce Jardin / 1956 de Luis Buñuel; As Virgens de Salem / Les Sorcières de Salem / 1957 de Raymond Rouleau; Almas em Leilão / Room at the Top / 1959 de Jack Clayton.
O desempenho de Simone em todos esses filmes foi admirável, mas creio que sua atuação mais marcante foi em Teresa Raquin. Casada com seu primo Camille Raquin (Jacques Duby), de saúde frágil, Thérèse não é feliz, e se torna amante de Laurent, um caminhoneiro italiano (Raf Vallone). No curso de uma viagem de trem, após uma violenta discussão, Camille é morto por Laurent. O inquérito policial conclui que a morte de Camille foi um acidente, mas o destino intervém na pesoa de Riton (Roland Lesaffre), um marinheiro que testemunhara o crime, e começa a chantagear o casal de amantes. Simone consegue passar da frustação resignada ao êxtase do amor, depois à tristeza, ao ódio e ao medo. Uma criação excepcional da renomada atriz.
Em 1959, ela parte para os Estados Unidos com Yves Montand, que fôra convidado para atuar ao lado de Marilyn Monroe em Adorável Pecadora / Let’s Make Love / 1960 de George Cukor. Depois de ter ganho o Oscar de Melhor Atriz por sua interpretação em Almas em Leilão, retornou à França enquanto uma relação – conhecida por todos – se estabeleceu entre Montand e Marilyn durante alguns meses; entretanto, o ator francês reuniu-se com sua esposa após a promoção do filme. Na sua autobiografia, “La Nostalgie n’est plus ce qu’elle était”, Simone referiu-se ao episódio Marilyn com muita elegância e inteligência.
Ela voltou a Hollywood para fazer A Nau dos Insensatos / Ship of Fools / 1965 com Stanley Kramer e A Gaivota / The Sea Gull / 1968 com Sidney Lumet e, no decorrer das décadas de sessenta e setenta, continuou trabalhando muito (sobressaindo O Dia e a Hora / Le Jour et l’Heure / 1962 de René Clement; Chamada para um Morto / The Deadly Affair / 1966, de novo sob as ordens de Lumet; O Exército das Sombras / L’Armée des Ombres / 1969 de Jean-Pierre Melville; A Confissão / L ‘Aveu / 1970 de Costa-Gravas) e iluminou três filmes de Pierre Granier-Deferre com suas confrontações com Jean Gabin ( O Gato / Le Chat / 1971); Alain Delon ( A Viúva / La Veuve Couderc / 1971) e Philipe Noiret (L’Étoile du Nord / 1982).
No palco, suas intervenções como Regina Giddens na versão teatral francêsa de “The Little Foxes” de Lillian Hellman e como Lady Macbeth, contracenando com Alec Guiness, no Royal Court Theatre em Londres, não foram bem recebidas por alguns críticos.
Seu último papel no cinema foi em Guy de Maupassant / 1982 de Michel Drach, como a progenitora do célebre escritor, encarnado por Claude Brasseur.
SIMONE SIMON (1910-2005). Nome verdadeiro: Simone Thérèse Fernande Simon. Local de nascimento: Béthune, Marseille, França.
Simone Simon
Filha de Henri Louis Firmin Champmoynat, engenheiro francês judeu que durante a Segunda Guerra Mundial serviu como piloto, foi capturado, e faleceu em um campo de concentração e de Emma Maria Domenica Giorcelli, dona-de-casa italiana, Simone passou a infância na Provença e em Madagascar. A princípio pensou em ser desenhista de moda porém, aos vinte anos de idade, chamou a atenção do diretor Viktor Tourjansky em um restaurante, e este providenciou sua estréia na tela em Le Chanteur Inconnu / 1931.
Seguiram-se pequenos papeís em alguns filmes, entre os quais se destacam um de Marc Allégret (La Petite Chocolatière / 1932), dois de Carmine Gallone (Un Fils d’Amérique / 1932 e Le Roi des Palaces / 1932), e um de Maurice Tourneur (Le Voleur / 1933) até o reencontro de Simone com Allégret em Lac aux Dames / 1934, quando iniciou para valer sua carreira cinematográfica. No papel de uma mocinha um pouco feérica justamente batizada de Puck, Simone Simon, com aquele rosto de gata e uma doce sensualidade ofuscou a atriz principal, Rosine Dérean. As cenas de amor foram abordadas pudicamente, mas a cena da granja (com Jean-Pierre Aumont) fez vibrar mais de um coração palpitante.
Depois de atuar em mais um filme de Tourjansky, Olhos Negros / Les Yeux Noirs / 1935 e de Allégret, Les Beaux Jours / 1935, Simone foi para Hollywood contratada pela Fox onde trabalhou em cinco filmes: como Marie Claudel, aluna de uma escola particular para moças da sociedade em Dormitório de Moças / Girl’s Dormitory / 1936 de Irving Cummings; como Marie Armand um pequeno papel em Mulheres Enamoradas / Ladies in Love / 1936 de Edward H. Griffith, estrelado por Janet Gaynor, Loretta Young e Constance Bennett; como Diane em Sétimo Céu / Seventh Heaven / 1937 de Henry King, refilmagem do clássico de 1927 dirigido por Frank Borzage, tendo a seu lado James Stewart no papel de Chico, que antes fôra de Charles Farrell; como Yvette Guerin, cantora envolvida em uma rivalidade entre um chefe de orquestra e um colunista em Não Me Queiras Tanto / Love and Hisses / 1937 de Sidney Lanfield; e como Reneé Le Blanc, cantora de boate confundida com uma “cavadora de ouro” chamada Josette, na deliciosa comédia Josette / Josette / 1938 de Allan Dwan.
Simone retornou à França para ser em uma das obras-primas de Jean Renoir, A Besta Humana / La Bête Humaine / 1938, Séverine, jovem mulher adúltera que instiga Lantier (Jean Gabin), um maquinista apaixonado por ela, a eliminar seu marido. Porém, Lantier, sem poder controlar seus impulsos mórbidos, apunhala Séverine e depois, desesperado, ele se joga de uma locomotiva em movimento.
Retornando à “Terra do Cinema” durante a guerra, contratada pela RKO, Simone ficou devendo a William Dieterle, um de seus melhores filmes americanos, O Homem que Vendeu a Alma / All That Money Can Buy / 1941, adaptação cinematográfica do romance de Stephen Vincent Benet, “The Devil and Daniel Webster”, na qual ela era Belle, a enviada de Mr. Scratch (Walter Huston), na realidade o Diabo, para tentar um fazendeiro pobre (James Craig) que fizera um pacto com Lucifer, para obter sete anos de prosperidade.
Logo em seguida, o produtor Val Lewton escolheu Simone para ser Irena Dubrovna, uma garota da Sérvia, desenhista de moda que vive na cidade de Nova York, obcecada pela idéia de que é descendente de uma antiga raça de mulheres felinas, as quais, quando excitadas, transformam-se em panteras. Ela foi uma escolha perfeita para esse papel neste filme de horror superlativo de Lewton-Turner e depois apareceu brevemente como o fantasma de Irina na continuação, A Maldição do Sangue de Pantera / The Curse of the Cat People / 1944 de Robert Wise.
Um terceiro filme de valor feito por Simone na RKO, produzido por Lewton, foi Mademoiselle Fifi / 1944 de Robert Wise como Elizabeth Rousset, uma lavadeira francêsa que, durante a Guerra Franco-Prussiana de 1870, embarca em uma carruagem, e quando esta para em uma estalagem no meio do caminho, um oficial prussiano, apelidado de Mademoiselle Fifi, convida-a para jantar, e ela recusa. Na manhã seguinte, os demais passageiros são informados de que ficarão detidos até que Elizabeth mude de idéia. A princípio, seus companheiros de viagem a apoiam; mas depois, eles a pressionam para que sacrifique seus princípios para o bem do grupo.
No final dos anos quarenta, Simone fez Pétrus / 1946 de Marc Allérgret com Fernandel; O Porto da Tentação / Temptation Harbor / 1947 de Lance Comfort, na Inglaterra, com Robert Newton e, entre mais uns outros de pouca importância, integrou o elenco estelar de Conflitos de Amor / La Ronde / 1950 (como Marie, a criada) e O Prazer / Le Plaisir / 1952 (como Josephine no segmento “Le Modèle”), ambos dirigidos por Max Ophuls e se confrontou com Edwige Feuilère em Olivia / Olivia / 1951 de Jacqueline Audry. Seu derradeiro filme foi La Femme en Bleu / 1957 de Michel Dréville.
Simone nunca se casou. Segundo consta, ela teve um relacionamento amoroso com George Gershwin e parece que o compositor escreveu “Love Walked In” com Simone no seu pensamento.
Entretanto, seu “love affair” mais notório foi com o agente duplo e espião, o iugoslavo Dusko Popov. Durante a produção de Sangue de Pantera, Simone estava sob vigilância do FBI por causa de sua associação com Popov.