DANIELLE DARRIEUX (1917-2017). Nome verdadeiro: Danielle Yvonne Marie Antoinette Darrieux. Local de nascimento: Bordeaux, França.
Seu pai era um oftalmologista de origem bordelesa e sua mãe tinha ascendência alsaciana e polonesa (família Witowski). A morte prematura do pai, quando ela tinha sete anos de idade, obrigou sua mãe a dar lições de canto para subsistir. Danielle demonstrou muito cedo o gosto pela música. Era dotada de uma voz miúda, mas afinada e límpida. Estudou piano e fez seus estudos de violoncelo no Conservatório de Música. O marido de uma das alunas de sua mãe, que trabalhava esporadicamente no cinema, sugeriu que ela levasse Danielle à presença dos produtores Charles Delac e Marcel Vandal, porque eles estavam procurando desesperadamente uma mocinha para seu próximo filme. Danielle se apresentou, foi aprovada, e estreou na tela, aos quatorze anos de idade, em Le Bal / 1931 de Wilhelm Thiele, usando o pseudônimo de Lydie Danielle. Em seguida, assinado um contrato, Delac e Vandal a emprestaram para outros produtores.
A primeira fase de sua carreira, foi marcada principalmente por comédias românticas com Albert Préjean (v. g. La Crise est Finie / 1934 de Robert Siodmak; Pequena Sapeca / Quelle Drôle de Gosse / 1935 de Leo Joannon; Cuidado com Ela / Le Controleur des Wagons-Lits / 1935 de Richard Eichberg) e Henri Garat (A Dupla do Barulho / Un Mauvais Garçon / 1936 de Jean Boyer) ou por comédias musicais ao lado do tenor polonês Jan Kiepura (Meu Coração te Chama / Mon Coeur t’appelle / 1934 de Carmine Gallone; Amo Todas as Mulheres / J’aime Toutes les Femmes / 1935 de Carl Lamac). Durante esse período, fez também Volga em Chamas / Volga en Flammes / 1933 de Victor Tourjansky e Semente do Mal / Mauvaise Graine / 1934 realizado por um cenarista austríaco exilado, fugitivo da Alemanha nazista, Billy Wilder.
Em 1935, Danielle casou-se com Henri Decoin e ele conseguiu persuadí-la de que era capaz de interpretar grandes papéis dramáticos. Assim vieram Mulher Mascarada / Le Domino Vert / 1935 de Henri Decoin (versão francêsa); Mayerling / Mayerling de Anatole Litvak; Taras Bouba / Tarass Boulba de Alexis Granowsky; Port Arthur de Nicolas Farkas (versão francêsa); Katia, a Czarina sem Corôa / Katia de Maurice Tourneur; Mulher Mascarada / Le Domino Vert / 1934, versão francesa de um filme alemão de Herbert Selpin dirigida por Henri Decoin, e Abuso de Confiança / Abus de Confiance / 1937 de Henri Decoin. Em seguida ela fez novamente com Decoin, a comédia Senhorita Minha Mãe / Mademoiselle ma Mère / 1937 e, depois de uma experiência na Universal em Sensação de Paris / The Rage of Paris / 1938 de Henry Koster, tendo como parceiro Douglas Fairbanks Jr., submeteu-se novamente ao comando de seu mentor Decoin em Retour à l’aube / 1938; Battement de Coeur / 1939 e Premier Rendez-vous / 1941.
No restante dos anos quarenta, Danielle trabalhou por exemplo com André Cayatte (La Fausse Maîtresse / 1942); Raymond Bernard (Até Logo, Querida! /Adieu Chérie / 1945); Marcel l’Herbier (Ao Petit Bonheur / 1945); Leonide Moguy (História de um Pecado / Bethsabée / 1947); Pierre Billon (Entre o Amor e o Trono / Ruy Blas / 1947); Claude Autant-Lara (Meu Amigo, Amélia, e Eu / Occupe-toi d’Amélie / 1949), tornando-se nesse decenio e no próximo, a encarnação do charme e da feminilidade francêsa .
Durante a Ocupação, contratada da Continental, sociedade produtora alemã instalada em Paris, Danielle foi vista em recepções e sessões de gala sob a sombra da cruz gamada e participou daquela famosa viagem a Berlim em 1942 que a cobriria de opróbio bem como a outros atores que a fizeram como Albert Préjean, Suzy Delair e Viviane Romance. A atriz explicou depois sua atitude: estava casada com oembaixador da República Dominicana na França, Porfirio Rubirosa, que fôra suspeito de espionagem, detido e internado na Alemanha. A viagem, disse ela, foi para vê-lo, e sofrendo acusações de colaboracionista, Danielle afastou-se da Continental, saindo de cena por três anos.
Na década de cinquenta, a atriz atingiu o auge de sua vida artística e fama internacional com uma série de filmes memoráveis: Conflitos de Amor / La Ronde / 1950 (como a mulher casada) (como Madame Rosa no segmento “La Maison Tellier”); O Prazer / Le Plaisir / 1951 e Desejos Proibidos / Madame de … / 1953 a trilogia de Max Ophuls; Amor Traído / La Verité sur Bébé Donge / 1951 de Henri Decoin; 5 Dedos / Five Fingers / 1951 de Joseph L. Mankiewicz; O Vermelho e o Negro / Le Rouge et le Noir / 1954 de Claude Autant-Lara, As Mulheres dos Outros / Pot Bouille / 1956 e Marie Octobre / Marie Octobre / 1959 de Julien Duvivier; O Amante de Lady Chatterley / L’Amant de Lady Chatterley / 1955 de Marc Allegret; As Pecadoras de Paris / L’Affaire des Poisons / 1955 de Henri Decoin; Alexandre Magno / Alexander the Great / 1956 de Robert Rossen; Vício Maldito / Le Désordre et la Nuit / 1958 de Gilles Grangier, além de integrar os elencos estelares dos filmes de Sacha Guitry Napoleão / Napoleon / 1954 e Si Paris nous était Conté / 1955.
Para mim, o melhor papel de Danielle foi Elizabeth d’Onneville, chamada de Bébé, a mulher sentimentalmente decepcionada que envenenou o marido (Jean Gabin) após dez anos de matrimônio, sendo inesquecível a cena final de Amor Traído, quando Bébé, como um autômato, acompanha o juiz de instrução que veio para prendê-la. Esse filme sombrio e desesperado, com uma construção dramática rigorosa e fiel ao universo dos romances de Georges Simenon, não teria sido tão bom sem o concurso interpretativo da grande atriz.
Dos anos sessenta em diante Danielle continuou trabalhando no cinema e seu último filme, aos 93 anos de idade, foi Pièce Monté / 2010 de Denys Granier Deferre, uma longevidade cinematográfica realmente espantosa … sem falar na sua atividade intensa no teatro e em telefilmes e minisséries.
MARIE DÉA (1912-1992). Nome verdadeiro: Odette Alice Marie Deupès. Local de nascimento: Nanterre (Hauts-de-Seine), França.
Estudou direito e seguiu paralelamente o curso de arte dramática com Georges Le Roy e René Simon até que Gaston Baty colocou-a em algumas peças de sua trupe teatral no Théâtre Montparnasse. Ela acabara de trabalhar como figurante em La Vierge Folle / 1938 de Henri Diamant-Berger quando Maurice Cloche lhe ofereceu o papel feminino mais importante de Nord-Atlantique / 1939. No mesmo ano, Marie foi escolhida por Robert Siodmak para ser, em Ciladas / Pièges, Adrienne Charpentier, amiga das dançarinas vítimas de um maníaco sexual, transformada em isca para a captura do criminoso. Neste filme, Marie teve oportunidade de contracenar como Maurice Chevalier, Pierre Renoir e Erich von Stroheim, saindo-se muito bem diante de tão eminentes artistas. Porém foram os anos quarenta que consagraram a glória efêmera de Marie Dea, sobressaindo os três filmes que lhe garantiram um lugar de prestígio no cinema francês: Premier Bal / 1941 de Christian-Jaque, no qual ela era Nicole Noblet uma das irmãs (a outra era Danielle, interpretada por Gaby Sylvia) apaixonadas por um jovem médico (Raymond Rouleau); Os Visitantes da Noite / Les Visiteurs du Soir / 1942 (mas lançado em 1945) no qual marcava sua presença como Anne, a filha do castelão por quem o menestrel Gilles (Alain Cuny), enviado pelo Diabo, se apaixona; e Orfeu / Orphée / 1949 de Jean Cocteau, desempenhando o papel de Eurídice nesta transposição do mito célebre para a Saint-Germain-des-Prés do imediato pós-guerra.
Até os anos sessenta, dos filmes que Marie fez, merecem ser mencionados Le Journal tombe à cinq heures de Georges Lacombe, descrição viva do ambiente do jornalismo; Secrets / 1943 de Pierre Blanchar, filme sensível inspirado em “Un mois à la Campagne” de Tourgueniev; os dois filmes sobre Rouletabille (Rouletabille joue et Gagne / 1947 e Rouletabille contre la Dame de Pique / 1948), por causa da fama do jornalista-detetive criado por Gaston Leroux; e Dois São Culpados / 56 Rue Pigalle / 1949 de Willy Rozier, drama criminal envolvendo adultério, chantagem e assassinato. Dos anos sessenta até 1979, continuou trabalhando no cinema, encerrando sua carreira com Subversion de Stanislas Stanojevic. Em 29 de fevereiro de 1992, Marie visitava uns amigos, quando irrompeu um incêndio na casa deles. Hospitalizada, ela veio a falecer no dia seguinte em virtude de um ataque cardíaco.
SUZY DELAIR (1917- 2020). Nome verdadeiro: Suzanne Pierrette Delaire. Local de nascimento: Paris, França.
Filha de um fabricante de selas e de uma costureira, foi primeiramente aprendiz de modista no ateliê de Suzanne Talbot e, aos 16 anos de idade começou a trabalhar como figurante no cinema, mas foi no music-hall que ela conheceu o sucesso, apresentando-se nos teatros Bouffes Parisiens, Bobino, Casino Montparnasse, Européen, Étoile, Folies-Bellevile, no cabaré de Suzy Solidor e nas revistas de Mistinguette ou de Marie Dubas.
Foi seu encontro com Henri-Georges Clouzot, então roteirista (e seu companheiro na vida real), que impulsionou sua carreira cinematográfica. Clouzot havia adaptado em 1941, um romance policial do belga Stanislas André Steeman que resultou no filme Les Dernier des Six, dirigido por Georges Lacombe, no qual Pierre Fresnay fazia o papel do comissário Wens e Suzy o da cantora Mila Malou, a amante do policial.
O espetáculo fez tanto sucesso que Arnold Greven, o manda-chuva da Continental (que havia ele próprio escolhido Suzy ente outras candidatas), ordenou uma continuação, O Assassino Mora no 21 / L’Assassin Habite au 21 / 1942, desta vez com Clouzot na direção. Neste filme criminal com toques de humor, semeado de tipos pitorescos e de mortes, Pierre Fresnay interpretava o comissário Wens com o fleuma de um policial britânico e Suzy Delair divertia a platéia como a sua turbulenta companheira, que também gostava de brincar de detetive, formando uma dupla parecida com aqueles casais das comédias românticas americanas dos anos trinta.
No mesmo ano, Suzy havia igualmente encantado o público no seu primeiro papel principal, cantando os refrões de Maurice Yvain, filmados por Richard Pottier em Défense d ‘aimer. Marcel l’Herbier esperava divulgar melhor as qualidades vocais de Suzy em Vie de Bohème, rodado pouco depois, porém o filme só foi lançado em 1945 e passou despercebido.
Um pouco ofuscada por Louis Jouvet no papel duplo do ladrão Isnard e do homem honesto Dupon em Estranha Coincidência / Copie Conforme / 1946 de Jean Dréville, Suzy interpretou duas sósias, Fernande e Yvette, em Par la Fenêtre / 1947 de Gilles Grangier; mas tudo isto significou pouco diante de Crime em Paris / Quai des Orfévres, que Clouzot lhe ofereceu em 1947, sem sombra de dúvida a obra-prima em comum dos dois artistas. Novamente ao lado de Louis Jouvet (como o inspetor Antoine), Suzy compôs maravilhosamente a personagem de Jenny Lamour, a cantora do music-hall suspeita de ter matado um velho produtor libidinoso, que lhe prometera emprego no mundo do cinema enquanto Clouzot inspecionava com sua câmera virtuosa o ambiente do espetáculo e os tipos humanos que nele circulam.
A atriz nunca mais fez algo melhor na tela embora tivesse participado ainda de outro filme notável, – Mulher Cobiçada / Pattes Blanches / 1948 de Jean Grémillon, como Odette, a noiva prestes a se casar, que despertava violenta paixão no aristocrata Keriadek (Paul Bernard), apelidado de Patas Brancas, e acabava sendo assassinada por ele.
Como coadjuvante, Suzy esteve ao lado da dupla Stan Laurel e Oliver Hardy no seu último filme, Utopia / Atol; K / 1950 dirigido por Leo Joannon; de Fernandel em Costureiro de Senhoras / Le Couturier de ces Dames / 1956; e se submeteu ao comando de dois grandes diretores, integrando o elenco de Gervaise – a Flor do Lôdo / Gervaise / 1955 de René Clement – como Virginie Poisson, a pérfida inimiga da protagonista (Maria Schell), que lhe dava uma surra memorável em determinada situação da trama – e de Rocco e seus Irmãos / Rocco e i suoi Fratelli / 1960 de Luchino Visconti no papel de Luisa. Seu filme derradeiro foi Oublie-moi, Mandoline / 1976 de Michel Wyn.
DANIELE DELORME (1926- 2015). Nome verdadeiro: Gabrielle Danièle Marguerite Andrée Girard. Local de nascimento: Levallois- Perret, França.
Filha do pintor André Girard, estudou piano para se tornar concertista, mas a guerra obrigou-a a interromper suas aulas. Durante a Ocupação, sua mãe foi deportada e seu pai partiu para o Reino Unido. Ela se refugiou em Cannes, onde frequentou o curso de teatro de Jean Wall, e depois estreou na companhia teatral de Claude Dauphin. Marc Allégret contratou-a, colocando-a em três filmes sucessivos: La Belle Aventure / 1942, Félicie Nanteuil / 1942, mas lançado em 1945 e Les Petites du Quai aux Fleurs / 1944.
Após a guerra, Daniele aperfeiçoou seus conhecimentos dramáticos com Tania Balachova e René Simon, desempenhou papeís pequenos em mais sete filmes (entre eles Les Jeux sont Faits / 1947 de Jean Delannoy e Impasse des Deux-Anges / 1948 de Maurice Tourneur) e, finalmente, em 1949, ganhou renome como Miquette, a mocinha apaixonada pelo teatro em Miquette de Miquette et sa Mère, a adaptação da peça de Flers et Cavaillet por Henri-Georges Clouzot e Gigi, a personagem imaginada por Colette, em O Brotinho e as Respeitosas / Gigi de Jacqueline Audry, que a dirigiria também em outros dois filmes baseados na célebre escritora, A Ingênua Libertina / Minne l’ingenue Libertine / 1950 e Mitsou / 1956.
Outros filmes relevantes de Daniele nos anos cinquenta foram O Último Endereço / Sans Laisser d’Adresse / 1951 de Jean-Paul le Chanois; La Jeune Folle / 1952 de Yves Allègret; O Curandeiro / Le Guérisseur / 1953 de Yves Ciampi; O Processo Negro / Le Dossier Noire / 1955 de André Cayatte; Os Miseráveis / Les Misérables / 1958 (no papel de Fantine) e aquele que marcou o auge de sua arte: o admirável Sedução Fatal / Voici les Temps des Assassins / 1956 de Julien Duvivier. Com seu rosto de anjo, sua personagem, Catherine, seduz, engana, explora, mata com consciência e frieza e acaba sendo trucidada pelo cão de uma de suas vítimas. Indubitavelmente a melhor criação dessa atriz.
Daniele foi casada com Daniel Gélin de 1945 a 1955 e em 1956 contraiu matrimônio com Yves Robert. Com ele fundou a companhia produtora La Guéville, cujo primeiro sucesso foi A Guerra dos Botões / La Guerre des Boutons / 1961. Nos anos 60 e 70 ela fez mais alguns filmes (com destaque para O 7º Jurado / Le Setième Juré / 1961 de Georges Lautner) e dividiu seu tempo entre o teatro, a atividade de produtora e o exercício de uma função pública, nomeada em 1984 pelo presidente François Mitterand, membro do Conselho Econômico, Social e Meio Ambiente, função que ela exerceu até 1994. Seu derradeiro filme como atriz foi Sortez des Rangs / 1996 de Jean-Denis Robert.
EDWIGE FEUILLÈRE (1907-1998). Nome verdadeiro: Edwige Louise Caroline Cunati Local de nascimento: Vesoul, França.
Filha do engenheiro Guy Cunati, de nacionalidade italiana e de Berthe Koenig, de origem lorena, após ter cursado o Conservatório de Arte Dramática – já casada com um colega de classe, Pierre Feuillère – estreou profissionalmente (sob pseudônimo de Cora Lynn porque como aluna do Conservatório era proibida de atuar na cena parisiense) em “L’Attaché” de Yves Mirande no Thêatre du Palais Royal, seguindo-se outros compromissos na revista de Rip, “Par le temps qui Court” no Teatro Danou, “Les Aventures du Roi Pausole” de Arthur Honneger no teatro Buffes-Parisiens etc.
Laureada pelo Conservatório com o primeiro prêmio de comédia, ela foi convocada imediatamente pelo administrador, Émile Fabre, da Comédie Française, quea convenceu de adotar o nome de Edwige Feuillère. Pierre aceitou com orgulho, sem saber que o casal se separaria, porque o marido não suportou mais a notoriedade de sua mulher. Em 1945, ele se suicidou, levando consigo sua segunda esposa, e tendo o cuidado na véspera de ir dizer adeus “à sua Edwige”.
Edwige iniciou sua carreira cinematográfica em Le Cordon Bleu / 1931 do tcheco Karl Anton (rodado na Paramount de Joinville) e, após ter participado de treze filmes, entre os quais sobressaíram Topaze / 1932 de Louis Gasnier, estrelado por Louis Jouvet e duas versões francesas de filmes alemães, Stradivarius / 1935 de Géza von Bolváry e Barcarolle / 1935 de Gerhard Lamprecht, dirigidas respectivamente por Albert Valentin e Roger Le Bon, (exibidas no Brasil apenas as versões originais), Julien Duvivier deu-lhe um papel decorativo em Gólgota3/ Golgotha / 1935 como Claudia Procula, a mulher de Poncio Pilatos.
Muito mais interessante foi sua composição de Lucrécia Borgia no filme Lucrécia Borgia / Lucrèce Borgia / 1935, assinado por Abel Gance, tornando plausíveis os tormentos da personagem, vítima de sua estranha família, e tendo a coragem de sair de uma piscina nuazinha, como Vênus saindo da ondas do mar. Edwige ficou célebre e consolidou sua fama, guiada por bons diretores (v. g. Robert Siodmak (Mister Flow / 1936); Marc Allègret (A Dama de Malaca / La Dame de Malaca / 1937); Raymond Bernard (Marthe Richard, au service de la France / 1937 e J’Étais une Aventurière / 1938); Max Ophuls (Sans Lendemain / 1939 e De Mayerling a Sarajevo / De Mayerling a Sarajevo / 1940); Maurice Tourneur (Coração em Duelo /Mam’zelle Bonaparte / 1941); Jacques de Baroncelli (A Duquesa de Langeais / La Duchesse de Langeais / 1942); Marcel l’Herbier (L’Honorable Catherine / 1942); Jean Delannoy (La Part de l’Ombre / 1945).
Ela fechou a década de quarenta, interpretando dois grandes papéis: a Nastasia Philipovna, cortesã disputada pelo Príncipe Muichkine (Gérard Philipe) e Rogogine (Lucien Coedel) na excelente adaptação do romance de Dostoievski, O Idiota / L’Idiot / 1946 (Dir: Georges Lampin) e a rainha reclusa Natascha, visitada inesperadamente pelo poeta anarquista Stanislas (Jean Marais) em Águia de Duas Cabeças / L ‘Aigle a Deux Têtes / 1947 (Dir: Jean Cocteau).
Nos anos cinquenta, seus filmes marcantes foram: Olivia / Olivia / 1950 de Jacqueline Audry; Amor de Outono / Le Blé en Herbe / 1954 e Amar é Minha Profissão / En Cas de Malheur / 1958 ao lado de Jean Gabin e Brigitte Bardot, ambos dirigidos por Claude Autant-Lara. Ela deixou o cinema (La Chair de l’orchidée de Patrice Chéreau) e a televisão (telefilme La Duchesse de Langeais) em 1975, mas continuou no teatro, onde o público a aplaudiu em peças inolvidáveis como “La Dame aux Camélias” de Alexandre Dumas filho, “Le Partage de Midi” de Paul Claudel e “La Folle de Chaillot” de Jean Giraudoux. Em 1998, a morte de Jean Marais, seu amigo muito querido, afetou-a a tal ponto, que seu coração parou no dia do enterro do ator.
ODETTE JOYEUX (1914-2000). Nome verdadeiro: Odette Joyeux. Local de nascimento: Paris, França.
Seus pais, que não eram casados, se separaram antes do seu nascimento, e sua mãe cuidou sózinha de sua educação. Odette aprendeu a tocar violão antes de se dedicar ao estudo da dança em uma classe de balé na escola do Ballet de l’Opéra; mas foi despedida por indisciplina.
Então, voltou-se para o teatro, e deu seus primeiros passos como atriz aos 16 anos na peça “Intermezzo” de Jean Giraudoux, sob a direção de Louis Jouvet. Em 1935, ela atuou na peça “Grisou”, escrita por Pierre Brasseur, com quem se casou, nascendo dessa união, sempre tempestuosa, o futuro ator Claude Brasseur.
Odette encontrou o mundo do cinema em dois filmes de Charles de Rochefort, Une Femme a Menti / 1930 e Le Secret du Docteur / 1930. Em 1934, ela contracenou com Jean-Pierre Aumont em Lac aux Dames de Marc Allégret e filmou no mesmo ano com seu marido Valse Éternelle de Max Neufeld e Une Femme qui se Partage de Maurice Canonge. Porém somente em 1938 ascendeu à notoriedade graças a Entrée des Artistes de Marc Allégret, no qual ela era Cécile, aluna do professor Lambertin (Louis Jouvet) no Conservatório de Arte Dramática. Ao saber que o rapaz (Claude Dauphin) por quem está apaixonada, ama outra aluna (Janine Darcey), Cécile elabora sua vingança de modo melodramático: no dia da prova, ela se envenena no palco, acusando-o.
Nos anos quarenta, ela se tornou a intérprete predileta de Claude Autant-Lara, que lhe deu seus melhores papéis em Casamento de Chiffon / Le Marriage de Chiffon / 1941; Lettres d’Amour / 1942; Dulce, Paixão de uma Noite / Douce / 1943 e Silvia e o Fantasma / Sylvie et le Fantôme / 1946. No primeiro filme, Odette foi Corysande – chamada de Chiffon – a jovem que aceita desposar um duque quinquagenário, a fim de dispor de seu dote, para ajudar o rapaz que ama em segredo, e a atriz dominou muito bem esse papel complexo com o qual, segundo ela mesma disse, se identificou profundamente. Nos demais filmes, como Zélie Fontaine, a viúva de vinte anos de idade que aceita receber as cartas de amor endereçadas à mulher do prefeito; como Douce, a adolescente romântica que se apaixona pelo secretário de seu pai e sonha em partir com ele, sem saber que o próprio tem uma amante; e como Sylvie, a moça fantasiosamente apaixonada por um fantasma, Odette demonstrou repetidamente suas qualidades interpretativas.
Na década de cinquenta, Odette integrou o elenco repleto de astros de Conflitos de Amor / La Ronde / 1950 de Max Ophuls e Si Paris nous était Conté / 1955 de Sacha Guitry. Ela participou em 1957 de Le Naïf au Quarante Enfants sob a direção de seu novo marido, Philippe Agostini, e encerrou seu percurso cinematográfico. Paralelamente, seguindo os conselhos de Jean Giraudoux, levou adiante uma carreira literária, publicando vários romances, duas peças de teatro, um ensaio sobre a dança, uma biografia de Nicéphore Niepce, dois livros de memórias, exercendo ainda as funções de dialoguista e/ou adaptadora (v.g. La Mariée est trop Belle / 1956 de Pierre Gaspard-Huit; Sois Belle et Tais-Toi / 1958 de Marc Allégret), cuidando da adaptação de suas obras para a televisão (v. g. série L’Âge Heureux / 1996), e se apresentando nos palcos até 1987.