Arquivo diários:novembro 23, 2022

ESTRELAS DO CIEMA FRANCÊS

ESTRELAS DO CINEMA FRANCÊS  ANOS 30-60 – I

Este artigo é uma homenagem – de maneira sucinta, sem mencionar a filmografia completa das atrizes, limitando-se aos seus filmes principais realizados entre 1930 e 1960 – a algumas grandes estrelas do cinema francês.

Annabella

ANNABELLA (1907-1996). Nome verdadeiro: Suzanne Georgette Charpentier. Local de nascimento: La Verenne-Saint Hilaire, França.

Ainda menina e filha de um diretor de revista turística, Annabella leu um dia o poema de Edgar Allan Poe, “Annabel Lee” e foi dele que extrairia seu nome artístico. Apresentada a Abel Gance, quando tinha dezesseis anos, ele a contratou para seu filme Napoléon / 1927, entregando-lhe o pequeno papel de Violine Fleuri, jovem secretamente apaixonada por Bonaparte. Entretanto, sua carreira cinematográfica realmente se iniciou com Maldone (Jean Grémillon / 1928) e se firmaria quando ela chamou mais a atenção em O Milhão / Le Million / 1931 de René Clair e atuou em outros filmes expressivos como Sonnenstrahl / 1933 de Paul Fejos e sua versão francêsa, Gardez le Sourire / 1933; A Batalha / La Bataille de Nicolas Farkas / 1933; Quatorze Juillet /1933 de novo sob o comando de René Clair; e Lenda de Amor / Marie, Légende Hongroise /1933, novamente sob as ordens de Fejos. Com seu lindo rosto e sua meiguice, ela representou a ingênua por excelência no início do cinema falado e foi a atriz francêsa mais solicitada pelos cineastas na década de trinta.

Entre 1934 e 1936, Annabella reforçou seu prestígio em uma série de filmes importantes: Caravane de Erik Charrell, produzido pela Fox Film (não confundir com a versão americana estrelada por Loretta Young e Charles Boyer); Noites   Moscovitas / Les Nuits Moscovites de Alexis Granowsky; A Bandeira / La Bandera de Julien Duvivier; Os 3 Diabos / Variétés de Nicolas Farkas e sua versão alemã, Varieté (com Hans Albers); Tripulantes do Céu / L’Équipage de Anatole Litvak; Véspera de Combate / Veille D’Armes de Marcel l’Herbier, que lhe deu o Prêmio Volpi  de Melhor Atriz no Festival de Veneza de 1936; e  Anne -Marie / Dominadores do Espaço de Raymond Bernard.

Seguindo sua vocação internacional, Annabella participou, com Henry Fonda, do primeiro filme britânico em Technicolor, Idílio Cigano / Wings of the Morning / 1937 de Harold Schuster. Ainda na Inglaterra, esteve com Conrad Veidt no último filme dirigido pelo grande Victor Sjöstrom, O Poder de Richelieu / Under the Red Robe / 1937 e com David Niven em Ceia no Ritz / Dinner at the Ritz / 1937 de Harold Schuster.

Nos anos que antecederam a Segunda Guerra Mundial, a atriz surgiu ainda em dois filmes francêses de peso, A Fortaleza do Silêncio / La Citadelle du Silence / 1937 de Marcel l’Herbier e Hotel do Norte / Hôtel du Nord / 1938 de Marcel Carné (contracenando com Louis Jouvet, Arletty, Jean-Pierre Aumont), e no filme americano Suez / Suez / 1938 de Allan Dwan, em cujo palco de filmagem encontrou o príncipe encantado, Tyrone Power, com quem se casaria após se divorciar do ator  Jean Murat. Annabella e Tyrone Power estiveram no Brasil em novembro de 1938. Eles se casariam em 23 de abril de 1939 e se divorciariam em 1948.

Durante  a guerra, Annabella fez dois filmes interessantes para o esforço de guerra, Esta Noite Bombardearemos Calais / Tonight We Raid Calais / 1943  de John Brahm e Noites Perigosas / Bomber’s Moon / 1943 de Edward Ludwig.  Após o fim do conflito mundial, merecem ser realçados na sua filmografia, Rua Madeleine 13 / 13 Rue Madeleine / 1946 de Henry Hathaway; Eternel Conflit / 1949 de Georges Lampin; e o filme que ela fez na Espanha ao lado de Antonio Vilar, Don Juan / 1950 de José Luis Sáenz de Heredia, encerrando seu percurso no cinema com Quema el Suelo / 1952.

Arletty

ARLETTY (1898-1992). Nome verdadeiro: Léonie Marie Julia Bathiat. Local de nascimento: Courbevoie, França.

Filha de uma família da classe trabalhadora, ela começou a estudar estenografia. A guerra de 1914 lhe fez perder seu primeiro amor, chamado Ciel, por causa da cor de seus olhos. O drama lhe faria perder todo desejo de se casar. Dois anos depois, seu pai faleceu, e ela, depois de ter sido amante de um jovem banqueiro, resolveu ser modelo, sob o pseudônimo de Arlette, inspirado na heroína do romance “Mont Oriol” de Guy de Maupassant. Seu primeiro diretor no teatro de revista, Armand Berthez, contratou-a como Arletty, para dar uma ressonância mais chique e anglo- saxã ao seu prenome.

Em 1930, Arletty aceitou a proposta de René Hervil de interpretar um papel pequeno no seu filme La Douceur  d’ Aimer ao lado de Victor Boucher. Um ano mais tarde, assumiu um papel principal no filme Un Chien qui Rapporte de Jean Choux, participando de mais sete filmes, antes se encontrar com o diretor Jacques Feyder e sua esposa, a atriz Françoise Rosay, em Pensão Mimosas / Pension Mimosas / 1935, e conhecer o assistente de Feyder, Marcel Carné. Este lhe ofereceria um papel sob medida em Hotel do Norte / Hôtel du Nord / 1938 ao lado de Louis Jouvet, Annabella e Jean-Pierre Aumont, no qual, com sua voz fanhosa e seu sotaque tipicamente parisiense ela seria, como disse Carné,  “a alma do filme”.

Dos meados dos anos 30 ao início dos anos 40, Arletty fez mais oito filmes, merecendo destaque apenas para os que foram dirigidos por Sacha Guitry (Vamos Sonhar / Faisons un Rêve / 1936, Madame e seu Mordomo / Désiré / 1937 e As Pérolas da Corôa / Les Perles de la Couronne / 1937); dois filmes com Michel Simon  (Circonstances Atténuantes / 1939 de Jean Boyer e Fric-Frac / 1939 de Claude Autant-Lara e Maurice Lehmann – neste comparecendo também Fernandel); Tempête / 1940 de Bernard Deschamps, no qual figurava Erich von Stroheim; e Madame Sans –Gêne /1941 de Roger Richebé.

Marcel Carné dirigiu-a em outros grandes filmes além de Hotel do Norte, que foram os melhores de toda a sua carreira artística: Trágico Amanhecer / Le Jour se Lève /1939; Os Visitantes da Noite / Les Visiteurs du Soir / 1942 e O Boulevard do Crime / Les Enfants du Paradis / 1945. Mais forte ainda do que suas personagens dos dois primeiros filmes, Clara, a companheira do adestrador de cães e Dominique, o menestrel (que na realidade era uma mulher) enviado pelo Diabo para um castelo medieval, a sua Garance domina por completo o último filme, amada por quatro homens: Lacenaire, o assassino-poeta (Marcel Herrand); Frédérick Lemâitre, o ator exuberante (Pierre Brasseur); Baptiste Debureau, o mímico (Jean-Louis Barrault); e o conde de Montray (Louis Salou). Na estréia triunfal de O Boulevard do Crime Arletty estava em uma prisão.

Após a Libertação, sua relação amorosa com Hans Jürgen Sohering, um militar alemão, lhe valeu uma pena de prisão de 75 semanas no castelo de La Houssaye-en-Brie. De volta a Paris, percebendo que os papéis que lhe ofereciam não possuiam a amplitude dos de outrora, ela retornou ao teatro em 1947.

Nos anos cinquenta, fez mais um filme com Carné, L’ Air de Paris / 1954 e outros filmes pouco importantes com exceção de Mercado de Amor / Gibier de Potence / 1951 de Roger Richebé e A Grande Paixão / Le Grand Jeu / 1954 de Robert Siodmak, interpretando o papel que fôra de Françoise  Rosay na primeira versão, A Última Cartada / 1934, de Jacques Feyder. No final dos anos cinquenta, Arletty ficou ameaçada de cegueira e em 1962 atuou no seu último filme, Le Voyage a Biarritz de Gilles Grangier.

Françoise Arnoul

FRANÇOISE ARNOUL (1931-  ). Nome verdadeiro: Françoise Annette Marie Mathilde Gautsch. Local de nascimento: Constantina, Franca (hoje Argélia).

Filha de uma atriz de teatro, Janine Henry e de um general de artilharia, Charles Gautsch. Em 1945, quando seu pai continuou seu serviço militar em Marrocos, o restante da família transferiu-se para Paris.

Após estudar arte dramática na “Cidade-Luz”, Françoise chamou a atenção do diretor Willy Rozier, que lhe ofereceu um papel no filme Tormentos do Desejo / Épave / 1949, no qual deveria aparecer despida. Esta aparição fez dela uma estrela aos 18 anos de idade embora tivesse sido dublada na cena em que deveria mostrar a nudez de sua personagem. Sua carinha bonita e felina, sua feminilidade provocante ocultavam ainda as qualidades intrínsecas de atriz.

Ralph Habib deu-lhe papéis de moça perdida (Companheiras da Noite /  Compagnes de la Nuit  / 1953) e ninfomaníaca (Fúria de Amor / La Rage au Corps / 1954), mas ela teve melhores chances com Henri Verneuil (Fruto Proibido / Le Fruit Défendu / 1952 e O Carneiro de Cinco Patas / Le Mouton a Cinq Pates /1954, contracenando em ambos com Fernandel; Os Amantes do Tejo / Les Amants du Tage / 1955 ao lado de Daniel Gélin).

Entretanto, seus melhores filmes devem-se a Jean Renoir (que a chamou para o elenco de French Can Can / French  Can Can / 1955 , no  qual interpretava o papel de Nini, a pequena lavadeira que Danglar / Jean Gabin, o dono do Moulin Rouge,  transformava em uma estrela do cancan) e Henri Decoin (que a dirigiu ao lado novamente de Gabin em Vítimas do Destino / Des Gens Sans Importance / 1956 e a orientou na composição de Suzanne Ménersier, codinome Cora, a jovem que, durante a Ocupação, assume o lugar do marido morto pela Gestado em uma rêde de Resistência em A Gata / La  Chatte / 1958 e sua continuação, A Gata Mostra as Unhas / La Chatte Sort Ses Griffes / 1960). Com esses dois filmes, vestindo uma capa impermeável preta (confecionada por Guy Laroche), que lhe moldava o corpo perfeito, Françoise ascendeu ao topo da bilheteria.

A partir dos anos 60, Françoise apareceu menos nas telas, tendo sido seu último filme até o momento, Beau Rivage / 2011 de Julien Donada.

MIreille Balin

MIREILLE BALIN (1909-1968). Nome verdadeiro: Blanche Mireille Césarine Balin. Local de nascimento: Monte-Carlo, Mônaco.

Ela era a encarnação ideal da mulher fatal sofisticada dos anos trinta. Infelizmente, seu sucesso e sua popularidade duraram pouco, cerca de dez anos apenas. Quando a família mudou-se para Paris, Mireille tornou-se quase que naturalmente manequim da alta costura. Sua iniciação no cinema se efetivou sob o comando de G. W. Pabst, que lhe confiou um papel pequeno na versão francêsa de seu Don Quixote / 1932. Pouco depois, Robert Siodmak escolheu-a para outra intervenção modesta em Le Sexe Faible / 1933. Finalmente, na comédia Si j’étais le Patron / 1934 de Richard Pottier, ela figurou em primeiro plano.

Pouco depois, revelou-se para milhões de espectadores, formando um casal mítico com Jean Gabin em dois clássicos do cinema francês de antes da guerra: O Demônio da Algéria / Pépé le Moko / 1936 de Julien Duvivier e Gula de Amor / Gueule d’Amour / 1937 de Jean Grémillon Mireille foi chamada por Hollywood, aceitou a proposta da MGM, mas não lhe propuzeram nenhum filme, e ela voltou para seu país.

A atriz não conseguiu atingir mais o mesmo pico artístico de seus dois grandes sucessos, que ela acabara de alcançar aos vinte e cinco anos de idade. Incluída em aventuras militares (Alta Espionagem / Le Capitaine Benoît / 1938 de Maurice de Canonge; Coups de Feu / 1939 de René Barberis) e melodramas estrelados por cantores como Tino Rossi (O Ídolo das Mulheres ou O Anjo e a Pecadora / Naples, au Baiser de Feu / 1937 de Augusto Genina, no qual se encontrava também Viviane Romance) ou Tito Schipa (Terra de Fogo / Terre de Feu / 1938 de Marcel l’Herbier) surgiu duas vêzes em 1939 ao lado de Erich von Stroheim em Ménaces de Edmond T. de Gréville e Macao, o Inferno do Jôgo / Macao, l’Enfer du Jeu de Jean Delannoy.

Mireille teve um relacionamento amoroso com Tino Rossi, que terminou em setembro em1941. Após cinco filmes em 1942, entre os quais se destacaram L’Assassin a Peur la Nuit de Jean Delannoy e Dernier Atout de Jacques Becker, ela fez em 1946 sua última aparição no cinema, integrando o elenco de La Dernière Chevauchée de Léon Mathot.

Em setembro de 1944, Mireille foi presa em Beausoleil  com seu amante alemão, Birl Desbok, pelos membros da FFI (Fôrças Francêsas do Interior), quando o casal tentava ultrapassar a fronteira com a Itália. Ela foi espancada e estuprada pelos resistentes embriagados e Desbok provavelmente assassinado ao ser preso, pois ninguém mais ouviu falar dele. No tribunal, acusaram-na de ter atuado no filme fascista Alcazar / L’Assedio dell Alcazar / 1940 de Augusto Genina e nos festivais artísticos da embaixada da Alemanha em Paris. MIreille  foi libertada em janeiro de 1945.

Marie Bell

MARIE BELL  (1900 – 1985). Nome verdadeiro: Marie-Jeanne Bellon Downey. Local de nascimento: Bègles, França.

Passou sua infância na Inglaterra, onde vivia seu pai, de origem irlandesa. Aprendeu dança clássica e estreou na cena londrina aos treze anos de idade. Retornando à França, orientou-se para a arte dramática, primeiramente no Conservatório de Bordeaux e depois em Paris. Em 1921, o primeiro prêmio do Conservatório abriu-lhe as portas da Comédie Française.

Marie Bell seria membro permanente da Comédie de 1928 a 1946 e alí faria uma carreira magistral: Fernand Ledoux dirigiu-a em 1937 em “Les Affaires sont les Affaires” de Octave Mirbeau; para Pierre Dux, em 1938, ele foi a rainha de “Ruy Blas” e depois Roxane em “Cyrano de Bergerac”. As heroínas de Racine ou Corneille lhe convinham particularmente, fôsse Esther ou Chimène.  Em 1942, ela encontrou seu papel predileto: Jean-Louis Barrault dirigiu-a em “Phèdre”. André Malraux disse: “Ver Marie Bell em “Phèdre” é uma chance única de saber o que é o gênio francês”.

Sua trajetória cinematográfica também suscita entusiasmo, tendo atuado como estrela ao lado de Jean Murat em L’Homme à l’Hispano / 1933 de Jean Epstein; Amor e Lágrimas / Poliche / 1934 de Abel Gance; Véspera de Combate / Veille d’Armes / 1935 de Marcel l’Herbier; Pierre Fresnay em  A Vida de um Moço Pobre / Le Roman d’un Jeune Homme Pauvre / 1935 de Abel Gance e La Charrete Fantôme; Vagas Estrelas da Ursa / Vaghe Stelle dell’Orsa / 1939 de Julien Duvivier; Arletty em A Emancipada / La Garçonne / 1936 de Jean de Limur; Raimu e Michel Simon em Noite de Farra / Noix de Coco / 1939 de Jean Boyer.

Entretanto, foram seus dois filmes mais célebres A Última Cartada / Le Grand Jeu / 1933 de Jacques Feyder e Um Carnet de Baile / Un Carnet de Bal / 1937 de Julien Duvivier que a consagraram na História do Cinema Francês. No primeiro, Jacques Feyder confiou-lhe um papel duplo – Florence e Irma, os dois amores de Pierre (Pierre Richard-Willm) – porém Marie nos tocou mais quando, com os cabelos tingidos de preto (como Irma), falou com a voz de sua dubladora, Claude Marcy. No segundo, ela está em todos os esquetes porém, se gostamos de rever sempre esta obra admirável, é mais por causa de seus colegas, Sylvie e Pierre Blanchard, Raimu e Françoise Rosay, Fernandel e Raimu e sobretudo Louis Jouvet como o gângster Pierre Verdier, vulgo Jo, amor de juventude da bela Christine Surgère (Marie Bell), recitando melancolicamente o “Colloque Sentimental” de Verlaine.

Em 1943, no filme de René Le Hénaff, Coronel Chabert  – A Grande Perfídia / Le Colonel Chabert, ao lado de Raimu, Marie impressionou a todos por sua composição perfeita da odiosa condessa Rosine Ferraud, que se recusa a acreditar no retorno de seu marido, veterano sem braço das guerras napoleônicas. No resto de sua filmografia sobressai somente sua participação em Vagas Estrelas da Ursa / Vaghe Stelle dell’Orsa … / 1965 de Luchino Visconti como a mãe de Sandra (Claudia Cardinale) e Gianni (Jean Sorel). Seu último filme foi Les Volets Clos / 1973 de Jean-Claude Brialy.

Em junho de 1947, Marie Bell chegou ao Brasil com sua Companhia Francêsa de Comédias, estreando no Teatro Municipal do Rio de Janeiro no dia 23 com as peças “On Ne Badine Pas Avec L’Amour” de Alfred de Musset e “L’Impromtu de Versailles” de Molière.

Martine Carol

MARTINE CAROL (1920 – 1967). Nome verdadeiro: Marie-Louise Jeanne Nicolle Mourer. Local de nascimento: Saint-Mandé, Val-de-Marne, Île-de-France, França.

Estudou arte dramática com René Simon e começou a fazer testes para o teatro usando o nome de Maryse Arley. Ela obteve alguns papéis no palco inclusive, curiosamente, na peça “Phedre”. Seu amigo e colega de curso, François Périer lhe indicou uma pequena participação no filme La Ferme aux Loups / 1943 e decidiu que ela passaria a se chamar Martine Carol.

Durante a Segunda Guerra Mundial, Martine apareceu em dois filmes bem recebidos pelos críticos: Le Dernier des Six / 1941 de Georges Lacombe  e Les Inconnus dans la Maison / 1942 de Henri Decoin: ela dizia apenas uma palavra ou duas, mas estava no mesmo elenco que Pierre Fresnay e Raimu!  Após uma pequena intervenção em outro filme importante, Os Amantes de Verona / Les Amants de Vérone / 1949 de André Cayatte, ela obteve seu primeiro papel principal em Cuidado com as Louras / Méfiez-vous des Blondes / 1950 de André Hunebelle.

Martine finalmente, ficou famosa com Os Amores de Carolina / Caroline Chérie / 1951, realização de Richard Pottier baseada em um romance de Cécil Saint-Laurent, no qual oferecia algumas cenas despidas (em uma das quais foi dublada por Nadine Tallier) em um ambiente pseudo-revolucionário. O filme originou uma continuação, Caprichos de uma Mulher / Un Caprice de Caroline Chérie / 1952 dirigido por Jean-Devaivre, também de enorme sucesso comercial.

Em 1953, dá-se o encontro de Martine com Christian-Jaque, seu futuro marido e mentor. Sob a direção dele, Martine foi sucessivamente Lucrécia Borgia em Os Amores de Lucrécia Bórgia / Lucrèce Borgia / 1953, Madame du Barry em Madame du Barry / Madame du Barry / 1954, Nana em Naná / Nana / 1955, Lysistrata em um dos segmentos de Destino de Mulher / Destinées / 1954, que contava com a colaboração de vários diretores.

Em 1952 um grande diretor, René Clair, solicitou a presença de Martine no seu Esta Noite é Minha / Les Belles de Nuit e, em 1955, outro cineasta emérito, Preston Sturges, colocou-a em As Memórias do Major Thompson / Les Carnets du Major Thompson. No mesmo ano, foi a vez de Max Ophuls convocá-la para Lola Montès / Lola Montès, e ela demonstrou ser uma atriz de talento, e não apenas um símbolo sexual.

No final dos anos cinquenta e início dos anos sessenta, Martine ainda fez muitos filmes, inclusive em lingua inglêsa (vg. A Brutal Aventura / Action of the Tiger / 1957 de Terence Young; A Dez Segundos do Inferno / Ten Seconds to Hell / 1959 de Robert Aldrich) e Jean Gabin lhe estendeu a mão, arranjando-lhe uma participação em O Rei dos Falsários / Le Cave se Rebiffe / 1961, excelente policial de Gilles Grangier; porém a loura formosa e sensual foi ofuscada pela jovem Brigitte Bardot e pela Nouvelle Vague. Em 1967, aos 47 anos de idade, após crises de depressão e excesso de medicamentos, Martine Carol foi encontrada morta no seu quarto de hotel em Monte-Carlo. Seu último filme foi Hell is Empty / 1967 de John Ainsworth e Bernard Knowles.

Maria Casarès

MARIA CASARÈS (1922-1996). Nome verdadeiro: Maria Victoria Casares Pérez. Local de nascimento: Corunha, Galícia, Espanha.

Filha de Gloria Pérez e Santiago Casares Quiroga, Primeiro Ministro da Espanha Republicana. Em 1931, a família vai para Madrid, onde Maria inicia sua vida teatral. Ao irromper a Guerra Civil Espanhola em 1936 e com a ascenção de Franco, a família é obrigada a deixar o país, instalando-se em Paris. Maria se matricula no liceu Victor-Duruy e aprende o idioma francês. Trava conhecimento através de amigos com o ator Pierre Alcover e sua esposa Colonna Romano, membro permanente  da Comédie Française.

De origem espanhola, o casal estimula Maria a continuar fazendo teatro. Ela tenta entrar para o Conservatório, mas é reprovada por causa do sotaque. Para tentar de novo, Maria frequenta o curso de René Simon, estuda com Béatrix Dussane e finalmente consegue ser admitida no Théâtre des Mathurins, cujos patrões, Marcel Herrand e Jean Marchat montam para ela entre 1942 e 1944, peças de  Synge, Georges Neveu,  Ibsen e Camus. Em 1946, ela interpreta “Roméo et Juliette” de Jean Anouilh pela primeira vez com Jean Villar no Théâtre de l’Atelier. De 1952 a 1954, Maria é contratada  da Comédie Française e, de 1954 a 1959, passa a integrar o TNP de Jean Villar e suas atuações, notadamente como Lady Macbeth, contribuiram muito para a reputação  do Festival de Avignon.

Quatro grandes filmes marcam a carreira cinematográfica de Maria Casarès: O Boulevard do Crime / Les Enfants du Paradis / 1945) de Marcel Carné; As Damas do Bois de Boulogne / Les Dames du Bois de Boulogne / 1945 de Robert Bresson; Amores Eternos ou A Sombra do Patíbulo / La Chartreuse de Parme  / 1947 de Christian-Jaque e Orfeu / Orphée / 1950 de Jean Cocteau. Neles, Maria viveu personagens inesquecíveis pela ordem: a doce Nathalie que disputa com Garance (Arletty) o coração do mímico Baptiste Debureau (Jean-Louis Barrault); a ciumenta e vingativa Hélène que faz seu amante (Paul Bernard) se casar com uma mulher perdida; a Duquesa Gina de San Severina que nutre um amor secreto pelo sobrinho Fabricio del Dongo (Gérard Philipe) e a Princesa da Morte que se  apaixona por Orfeu (Jean Marais) e faz com sua esposa, Eurídice (Marie Déa), morra.

Dos outros filmes que fêz merecem destaque: Desonra / Roger la Honte / 1946 de André Cayatte e Bagarres / 1948 de Henri Calef. Maria continuou trabalhando na televisão até 1989 (na minissérie Les Nuits Revolutionnaires) e no cinema até 1995 (no filme Someone Else’s America de Goran Pashaljevic).