Ele era um contador de histórias clássico, perfeccionista, sempre buscando o realismo e explorando temas envolvendo dramas individualistas de consciência.
Alfred Zinnemann (1907- 1997), nasceu em Viena, Austria-Hungria, filho do Dr. Oskar e Anna (Feiwel) Zinnemann. Quando criança estudou violino, mas logo percebeu que não tinha talento para ser músico. À custa de muito tédio, ele se formou em Direito pela Universidade de Viena e logo voltou sua atenção para o cinema, impressionado por quatro filmes que viu em vez de assistir às aulas, e que mudariam sua vida: Ouro e Maldição / Greed / 1923 de Erich von Stroheim; O Encouraçado Potemkin / Bronenosets Potyomkin / 1925 de Sergei Eisenstein; O Grande Desfile / The Big Parade / 1925 de King Vidor; A Paixão de Joana D´Arc / La Passion de Jeanne D´Arc / 1928 de Carl Dreyer, obras que ilustravam o potencial criativo do novo meio de expressão. Quando seu pai e toda a família perceberam sua obstinação em penetrar no mundo cinematográfico, eles acabaram concordando, porém insistiram que, se era isso que ele queria, deveria ser propriamente treinado.
Em 1927, aos vinte anos de idade, ele acompanhou um amigo de escola, Gunter von Fritsch, à recentemente fundada École National Supérieure Louis-Lumière em Paris, onde aprendeu os fundamentos da sua futura profissão. Incapaz de conseguir trabalho na França, porque não era cidadão francês, ele foi para Berlim, onde participou de três filmes: Ich Kusse Ihre Hand, Madame / 1929 (Dir: Robert Land); Sprengbagger 1010 / 1929 Dir: Karl Ludwig Achaz-Duiberg) e Menschen am Sonntag / 1929 (Dir: Robert Siodmak, assistido por Edgar G. Ulmer). Billy Wilder escreveu o roteiro e Zinnemann desempenhava a função de assistente do fotógrafo Eugene Shufftan. O filme era uma crônica sobre um fim de semana de alguns berlinenses, rodada em esquema amador, mas ajudou a carreira dos envolvidos, que acabaram se transferindo para os Estados Unidos.
Zinnemann chegou em Nova York em outubro de 1929 com 500 dólares no bolso e uma carta de introdução para o chefão da Universal, Carl Laemmle. Este o encaminhou para o seu diretor de elenco, que o colocou como extra em Sem Novidade no Front / All Quiet on the Western Front / 1930 de Lewis Milestone. Zinnemann apareceu como um soldado alemão e como chofer de ambulância francês. Sua participação como figurante terminou quando ele foi despedido por ter se desentendido com um assistente de direção.
Um encontro importante nestes primeiros tempos em Hollywood foi com outro expatriado austríaco, Berthold Viertel, que havia se transferido para a América como roteirista de F. W. Murnau e agora estava fazendo filmes na Fox. Zinnnemann trabalhou como assistente de Viertel entre 1931 e 1934. Foi através de Viertel que ele conheceu o homem que exerceria a maior influência artística em sua carreira, Robert Flaherty. Durante seis meses, em Berlim, Zinnemann serviu como seu colaborador em um projeto que infelizmente não foi avante, mas aprendeu muito com o grande documentarista, principalmente a importância que o mestre dava à veracidade como componente fundamental de um filme e à independência de espírito indispensável para realizá-lo.
Quando retornou à América, Zinnemann teve dificuldade de obter trabalho. Em 1932, ajudou Gregg Toland e Busby Berkeley a selecionar ângulos de câmera para as sequências de dança de uma comédia musical com Eddie Cantor, Meu Boi Morreu / The Kid of Spain, dirigida por Leo Mc Carey. Sua estréia na direção deu-se em 1934, indiretamente através de Flaherty. Através dele, ele conheceu outros diretores de documentários, inclusive Henwar Rodakiewicz, que estava previsto para fazer com o grande fotógrafo Paul Strand um documentário encomendado pelo Ministério de Belas Artes do México sobre a revolta de pescadores da região de Alvarado explorados por um negociante inescrupuloso. Como Rodakiewicz tinha outro compromisso, recomendou Zinneman. Embora nos créditos apareça o nome de Gomez Muriel como codiretor, na verdade ele atuou apenas como assistente de direção. Montado por Gunther von Fritsch, o filme revela a influência do cinema de Eisenstein, Pudovkin e Flaherty. De volta a Hollywood, Zinemann escreveu, de parceria com Henwar Roakiewicz, um roteiro intitulado Bonanza sobre um jovem índio mexicano; ele foi vendido para a MGM, mas nunca produzido. Trabalhou ainda durante três dias como “consultor técnico” no filme de William Wyler, Infâmia / These Three / 1936, supervisionando a decoração de um café em Viena e até ousando sugerir um que ângulo de câmera ao diretor.
Em 1937, ao exibir dois rolos de Redes a Jack Chertok, chefe do Departamento de Curtas-Metragens do estúdio, foi aceito e ali trabalhou de 1937 a 1942, participando de 18 curtas: 1938 – Verdadeiro Amigo / A Friend Indeed (Pete Smith Specialty); A História do Dr. Carver / The Story of Dr. Carver (Pete Smith Specialty); Salvando a Vida das Mães / That Mothers May Live (Historical Mysteries); Sono que Mata / Tracking the Sleeping Death (Carey Wilson Miniature); Enquanto a América Dorme / While America Sleeps ( O Crime Não Compensa / Crime Does Not Pay); Agência de Empregados / Help Wanted! (O Crime não Compensa); A Vida lhes Sorri de Novo / They Live Again (Historical Mysteries). 1939 – Profetas do Tempo / Weather Wizards (Pete Smith Specialty); Um Contra o Mundo / One Against the World (John Nesbitt´s Passing Parade); A Flotilha de Lança-Bombas / The Ash-Can Fleet; Vitória Esquecida / Forgotten Victory (John Nesbitt´s Passing Parade). 1940 -O Velho Sul / The Old South (MGM Miniature); Stuffie / Stuffie (Pete Smith Specialty); Um Caminho nas Selvas. / A Way in the Wilderness (John Nesbitt´s Passing Parade); O Grande Intrometido / The Great Medddler (Carey Wilson Miniature). 1941 – Caminho Perdido / Forbidden Passage (O Crime não Compensa); O Último Ato / Your Last Act (John Nesbitt´s Passing Parade). 1942 – Mulher ou Tigre? / The Lady or the Tiger? (Carey Wilson Miniature). Neste período de sua carreira, Zinnemann aprendeu realmente seu ofício. Trabalhando com orçamento reduzido, prazo muito curto e metragem previamente estabelecida (dentro dos limites de um ou dos rolos), tinha de inventar modos cinematográficos de expor o tema rápida e efetivamente. Salvando a Vida das Mães, sobre o Dr. Ignaz Phillip Semmelweiss, pioneiro no uso de antissépticos em obstetrícia, recebeu um Oscar da Academia.
Quando Jack Chertok foi promovido do Departamento de Curtas-Metragens para a produção de filmes de longa-metragem classe B, levou Zinnemann consigo. Dois dramas criminais, modestos em orçamento, mas muito eficientes, inauguraram seu novo contrato de sete anos: Um Assassino de Luvas / Kid Glove Killer e Olhos na Noite / Eyes in the Night, ambos lançados em 1942. O primeiro filme é sobre um político corrupto e assassino. Gerry Ladimer (Lee Bowman), cujo crime e envolvimento com um gângster é eventualmente exposto por um trabalho de laboratório de polícia técnica e científica inteligente, tendo à frente o criminologista Gordon McKay (Van Heflin). No segundo filme, o herói é um detetive cego e de meia-idade, Capitão Duncan Maclain (Edward Arnold, que ajuda uma jovem, Barbara Lawry (Donna Reed) e sua madrasta, Norma (Ann Harding) envolvidas no assassinato de um ator (John Emery), e descobre um bando de espiões nazistas com a ajuda inestimável de seu cão Friday.
O próximo filme dirigido por Zinnemann, A Sétima Cruz / The Seventh Cross /1944 marcou a entrada do diretor na produção classe A. Baseado em um romance de Anna Seghers, é um drama de guerra contando a fuga de sete homens de um campo de concentração nazista de antes da guerra. O comandante do campo manda erguer sete cruzes e cada fugitivo capturado é torturado e crucificado. Seis homens são presos e mortos. O sétimo prisioneiro, George Heisler (Spencer Tracy), procura ajuda de várias pessoas que, por sua presença, são obrigadas a se expor, algumas aceitando vários riscos pessoais, outras simplesmente lhe virando as costas. O espectador compartilha as angústias e esperanças de Heisler de conseguir embarcar para Holanda, construindo-se um suspense permanente. A atmosfera de constante apreensão deveu-se sobretudo à fotografia de Karl Freund, mentor do expressionismo alemão e à interpretação de Tracy e de bons coadjuvantes como Hume Cronin, Jessica Tandy, Agnes Morehead, Signe Hasso, George Macready, principalmente Cronin, indicado para o Oscar de Melhor Ator Coadjuvante. Cronin é Paul, velho amigo de Heisler, um operário confuso que pensava que Hitler era um grande homem porque “todo mundo está trabalhando” e depois encontra coragem para salvar seu amigo arriscando a vida de sua família e a própria.
Após a experiência empolgante de A Sétima Cruz, Zinneman assumiu a direção de O Ponteiro da Saudade / The Clock / 1945 mas, depois de uma quinzena de filmagem, foi substituído por Vincente Minnelli por insistência da estrela Judy Garland. Em seguida, Zinneman recusou vários roteiros que lhe foram enviados e acabou sendo suspenso por três semanas.
Finda a suspensão, o estúdio mandou-o de volta para a área do filme B e neste período dirigiu O Pequeno Mr. Jim / Little Mr. Jim / 1946 e Meu Irmão Fala com Cavalos / My Brother Talks to Horses / 1947, ambos aproveitando a popularidade na época do ator infantil Jackie “Butch” Jenkins. Provavelmente desinteressado pelos roteiros que lhe impuzeram, Zinneman desistiu de qualquer esforço e assinou essas produções, narradas com correção, mas que nada acrescentam à sua filmografia.
O diretor teve melhor chance de mostrar sua aptidão cinematográfica quando o produtor suíço Lazar Wechsler, propôs à MGM a realização de um filme, nos moldes do neorealismo italiano, sobre crianças orfãs deslocadas da Segunda Guerra Mundial. Perdidos na Tormenta / The Search / 1949, é um drama pungente do pós-guerra, mostrando o esforço da UNRRA (United Nations Relief and Rehabilitation Administration) para reajustar aqueles menores traumatizados e, em particular, a odisséia de uma mãe (Jarmila Novotna) e de um filho (Ivan Jandl) separados pela voragem que atingiu o solo da Tchecoslováquia. Mostra também a dedicação de um soldado americano na Alemanha, Ralph Stevenson (Montgomery Clift), que ajuda o menino a encontrar sua progenitora. Conduzido em um estilo semidocumentário (sobressaindo aquele início comovente da chegada das crianças ao campo da UNRRA em vagões de gado, seus rostos iluminados pela lanterna de Mrs. Murray / Aline MacMahon), é uma visão austera e dura das consequências da guerra. Apesar do artificialismo de certas situações, o espetáculo tocou o coração do público, e garantiu a Zinneman sua primeira indicação ao Oscar, proporcionando também indicação para Montgomery Clift e de Melhor Roteiro para Richard Shweizer e David Wechsler.
O último e melhor filme de Zinnemann na década de quarenta foi Ato de Violência / Act of Violence / 1949, é um drama criminal com uma boa história. Joe Parkson (Robert Ryan) único sobrevivente de um massacre de fugitivos de um campo de prisioneiros durante a Segunda Guerra Mundial, move uma perseguição implacável contra seu ex-companheiro de exército, Frank Enley (Van Heflin), que informara os alemães do plano de evasão. Aterrorizado, Enley foge e se refugia em um bar. Ali conhece uma prostituta (Mary Astor), que arranja um assassino de aluguel para “cuidar” de Parkson. Entretanto, atormentado pelo remorso, Enley intervém no último momento, sacrificando-se para salvar a vida de seu perseguidor. O filme é narrado por Zinnemann em ritmo nervoso, forjando um clima de permanente tensão. As consequências remotas da guerra sobre a psicologia de ex-combatentes, o defeito físico de Parkson, os sentimentos de culpa e de vingança e a notável fotografia contrastada, tanto nos exteriores – filmados realmente de noite – como nos interiores, são elementos dignos dos melhores filmes noir. O encontro de Parkinson com Enley na festa da Convenção e a fuga de Enley pelas ruas da cidade à noite até entrar no bar, onde está a prostituta; a correria de Enley pelo túnel recordando o passado e o seu grito exasperante; o momento final, quando Enley e Parkson caminham um em direção ao outro sob o barulho do trem e do vento enquanto o assassino no carro aponta a arma para matar Parkson, são exemplos veementes da aptidão cinematográfica do diretor.
Esta foi confirmada nos anos cinquenta, com destaque para os títulos que estão em negrito: 1950 – Espíritos Indômitos / The Men, drama passado em um hospital para paraplégicos com Marlon Brando, Teresa Wright, Everett Sloane, indicado Carl Foreman para o Oscar de Melhor História e Roteiro (Stanley Kramer / UA) 1951 – Teresa / Teresa, drama romântico com Pier Angeli, John Ericson, Patricia Collinge, indicados Stewart Stern e Alfred Hayes para o Oscar de Melhor História Original (MGM). 1952 – Matar ou Morrer / High Noon; Cruel Desengano / The Member of the Wedding, drama familiar com Julie Harris, Ethel Waters, Brandon de Wilde, indicada Julie Harris para o Oscar de Melhor Atriz (Stanley Kramer / Columbia). 1953 – A Um Passo da Eternidade / From Here to Eternity. 1955 – Oklahoma! / Oklahoma! musical baseado na peça da Broadway de Rodgers e Hammerstein com Gordon McRae, Shirley Jones, Gloria Grahame, Gene Nelson, Rod Steiger, premiados Robert Russel Bennett, Adolph Deutsch e Jay Blackton com o Oscar de Melhor Música (de musical) e o Departamento de Som da Tood-AO / Fred Hines com o Oscar de Melhor Som (Arthur Hornblow, Jr. Magna / RKO). 1957 -Cárcere sem Grades / A Hatful of Rain, drama sobre um veterano da Guerra da Coréia viciado em morfina com Eva Marie Saint, Don Murray, Anthony Franciosa, indicado Anthony Franciosa para o Oscar de Melhor Ator (20th Century-Fox. 1959 – Uma Cruz à Beira do Abismo / The Nun´s Story. Em 1951, Zinnemann realizou, com a cooperação da Paramount Pictures, o documentário Benjy, narrado por Henry Fonda e destinado a angariar fundos para o Hospital Ortopédico de Los Angeles.
Matar ou Morrer é uma espécie de reverso do western tradicional, não só por ter uma relação com a realidade da época em que foi feito (constituindo-se em uma alegoria do medo que tomou conta da comunidade de Hollywood durante o Macartismo) como também por apresentar um outro tipo de herói. O xerife Will Kane (Gary Cooper) não é mais aquele homem invencível, seguro de si mesmo e dos valores que representa e defende, mas um indivíduo angustiado, desencantado e traído, que finalmente conquistará a sua própria estima e jogará desdenhosamente o distintivo no chão, antes de deixar a cidade que ele salvou contra a vontade dela e que ele despreza. O rigor trágico da construção dramática (obedecendo escrupulosamente à regra clássica das três unidades) e da direção são igualmente fora do comum. A música lancinante lembra sem cessar o tema do abandono e a montagem, bastante seca, é cada vez mais rápida à medida que a tensão aumenta. Os enquadramentos são muito elaborados e carregados de sentido. Por exemplo, o admirável travelling para trás em câmera alta quando Kane caminha sozinho pela rua. Este plano, por si só, resume todo o filme.
A Um Passo da Eternidade é um drama sobre a vida em uma base militar americana no Havaí pouco antes do ataque japonês a Pearl Harbor, lugar onde se cruzam os destinos de alguns homens e duas mulheres. O soldado Robert E. Lee Prewitt (Montgomery Clift), por ter jurado nunca mais calçar luvas desde que provocara a cegueira de um amigo durante um treinamento no ringue, não cede às pressões do Capitão Dana Holmes (Philip Ober), sendo submetido a uma punição física disfarçada de serviço extra. Karen (Deborah Kerr), esposa promíscua do Capitão, tem um caso com o Sargento Milton Warden (Burt Lancaster). O amigo de Prewitt, Angelo Maggio (Frank Sinatra) torna-se desertor, é preso, sádicamente torturado, e depois morto pelo sargento “Fatso” Judson (Ernest Borgnine). Prewitt apaixona-se pela prostituta Lorene (Donna Reed), que o ama, mas não está disposta a se juntar a um simples soldado. Zinnemann dirigiu com firmeza e sensibilidade esta obra audaciosa na sua crítica incisiva ao exército e profundamente humana na descrição dos problemas pessoais dos personagens, que culmina com a tragédia do bombardeio imprevisível da guarnição. A virtuosidade técnica e artística da produção foi devidamente recompensada com o Oscar Melhor Filme, Diretor, Ator Coadjuvante (Frank Sinatra), Atriz Coadjuvante (Donna Reed), Roteiro (Daniel Taradash), Fotografia preto e branco (Burnett Guffey), Montagem (William Lyon), Som (Departamento de som da Columbia / John P. Livadary) e indicações para Melhor Ator (Burt Lancaster), Atriz (Deborah Kerr), Música de filme não musical (George Dunning) e Figurino preto e branco (Jean Louis).
Uma Cruz à Beira do Abismo é uma descrição pungente da vocação religiosa de uma jovem belga, Gabrielle Van der Mal (Audrey Hepburn), desenvolvida com amplitude e profundidade, evoluindo de um convento na Bélgica a um hospital no Congo para finalmente voltar à Bélgica no momento da ocupação alemã durante a Segunda Guerra Mundial. O filme expõe suas dúvidas, seus erros, seu individualismo, sua resistência à obediência absoluta e cega que se exige dela. A câmera penetra na intimidade de uma comunidade religiosa enclausurada com suas cerimônias, suas práticas, suas regras, seus sacrifícios. Zinneman trata magistralmente este tema delicado e complexo e não deixa cair o interesse um só instante durante o longo desenrolar da narrativa. O espetáculo suscitou Indicações ao Oscar de Melhor Filme, Atriz (Audrey Hepburn), Som (George Groves Montagem (Walter Thompson), Música de filme não musical (Franz Waxman).
Nos anos 60 e 70, Zinnemann continuou fazendo bons filmes, sobressaindo os dois cujo títulos estão escritos com traços mais grossos: 1960 – Peregrino da Esperança / The Sundowners, drama com Robert Mitchum, Deborah Kerr, Peter Ustinov, Glynis Johns e indicações ao Oscar de Melhor Filme, Diretor, Roteiro (Isobel Lennart), Atriz (Deborah Kerr) Atriz Coadjuvante (Glynis Johns). 1964 – A Voz do Sangue / Behold a Pale Horse, drama com Gregory Peck, Anthony Quinn, Omar Shariff, Raymond Pellegrin. 1966 – O Homem Que Não Vendeu Sua Alma / A Man For All Seasons. 1973 – O Dia do Chacal / The Day of the Jackal. 1977 – Julia / Julia. 1982 – Cinco Dias de um Verão / Five Days One Summer, drama com Sean Connery, Betsy Brantley, Lambert Wilson, Jennifer Hilary.
O Homem Que Não Vendeu Sua Alma é um drama histórico-biográfico realçando a personalidade de um homem, coerente e íntegro, fiel a seus princípios e à sua fé. Thomas More (Paul Scofield) se opõe a Henrique VIII (Robert Shaw), que quer se divorciar de Catarina de Aragão para se casar com sua amante Ana Bolena (Vanessa Redgrave). Quando o Cardeal Wolsey (Orson Welles) e depois o terrível ministro Cromwell (Leo McKern) lhe pedem para interceder junto ao Papa para anular o primeiro casamento, Thomas, então nomeado Chanceler do Reino, recusa e passa a correr grande perigo. Zinnemann consegue tornar atraente o que poderia ter sido apenas uma tediosa reconstituição histórica, retratando e analizando com inteligência e moderação o conflito ao mesmo tempo moral, filosófico e político que opõe o rei ao humanista católico, de vida piedosa e tranquila, deixando de lado a vida amorosa tumultuada do soberano. À virtuosidade técnica do diretor somam-se a interpretação de um elenco de grandes atores e um primoroso trabalho fotográfico, cenográfico. A produção ensejou
Oscar de Melhor Filme, Diretor, Ator (Paul Scofield), Roteiro Adaptado (Robert Bolt), Fotografia em cores (Ted Moore) e Figurino em cores (Elizabeth Haffenden, Joan Bridge) além de indicações para Ator Coadjuvante (Robert Shaw) e Atriz Coadjuvante (Wendy Hiller).
O Dia do Chacal é um thriller de espionagem excelente, baseado no livro best seller de Frederick Forsythe sobre uma tentativa de assassinato do presidente De Gaule por um misterioso matador de aluguel, conhecido como Chacal (Edward Fox). Para vencer o desafio de manter o interesse do espectador por uma história cujo fim ele já sabia (DeGaulle obviamente não foi assassinado) Zinneman usa sua reconhecida virtuosidade técnica com uma precisão matemática. Filmando em estilo de cinejornal, ele mostra os meticulosos preparativos do assassino profissional em paralelo com a investigação do serviço secreto francês, particularmente o Comissário de Polícia Claude Lebel (Michael Lonsdale), sem que o menor detalhe destas duas ações nos escape, mantendo sempre o nível de suspense e o interesse do espectador por uma trama recheada de detalhes, construída com um relógio suíço, com milhões de minúsculas peças que Zinnemann juntou com uma habilidade incrível, propiciando ao montador Ralph Kemplen uma indicação ao Oscar.
Julia é um drama baseado em um capítulo de “Pentimento: A Book of Portraits”, livro de memórias da renomada dramaturga Lillian Hellman, no qual ela descreve um episódio marcante de sua vida, envolvendo Júlia, nome fictício de uma amiga de infância de família rica que se transformou em uma ativista contra o nazismo. No filme, a certa altura da trama, Lillian (Jane Fonda) reencontra Julia (Vanessa Redgrave) na Rússia e é recrutada por esta para uma missão perigosa: transportar dinheiro clandestinamente para a resistência a Hitler na Alemanha. O roteiro de Alvin Sergeant pula para frente e para trás no tempo à medida em que a história da amizade de Lillian com Julia é contada e, paralelamente, mostra a ligação da dramaturga como escritor Dashiell Hammett (Jason Robards). Zinnemann manipula com esmero estilístico esta estrutura narrativa complexa e cria uma sensação de melancolia que se sustenta ao longo de toda a narrativa. O requinte visual é fortalecido pela fotografia de Douglas Slocombe e o sonoro pela música de Georges Delerue enquanto um conjunto de ótimos atores transmite perfeitamente as emoções de cada personagem. Resultaram Oscar para Jason Robards (Ator Coadjuvante, Vanessa Redgrave (Atriz Coadjuvante), Alvin Sargent (Roteiro Adaptado) e indicações para Melhor Filme, Atriz (Jane Fonda), Ator Coadjuvante (Maximilian Shell), Diretor, Fotografia (Douglas Slocombe), Montagem (Walter Murch, Marcel Durham), Música (Georges Delerue) e Figurino (Anthea Sylbert).