HENRY HATHAWAY I

fevereiro 18, 2022

Profissional de estúdio tecnicamente habilidoso e dotado de invejável capacidade para expor a narrativa de forma espontânea e eficiente, ele dirigiu filmes memoráveis durante uma longa e prolífica carreira, alguns dos quais se tornaram clássicos. Sem deixar um estilo ou temática facilmente identificável, trabalhou em uma variedade de gêneros, alcançando sua melhor forma nos dramas de aventura ou criminais.

Henry Hathaway

Henri Léopold de Fiennes Hathaway (1898-1985) nasceu em Sacramento, Califórnia, filho de um ator e gerente de palco, Rhody Hathaway e de uma aristocrata belga nascida na Hungria, Marquesa Lillie de Fiennes, que ficou conhecida como atriz e escritora com o nome de Jean Hathaway. Ele iniciou sua carreira no cinema como ator infantil em westerns de Allan Dwan produzidos pela American Film Manufacturing Company, também conhecida como Flying “A” Studios. Sua carreira foi interrompida pela Primeira Guerra Mundial.  Após sua dispensa, voltou para Hollywood, onde trabalhou como assistente de direção ou diretor de segunda unidade em filmes de diretores como Josef von Sternberg, Victor Fleming, Fred Niblo, entre outros realizadores.

Randolph Scott em Herança das Estepes

Em 1932, estreou como diretor no western da Paramount, A Herança das Estepes / Heritage of the Desert, baseado em um romance de Zane Grey com Randolph Scott no papel principal, iniciando uma série de programmers (filmes de uma hora e poucos minutos de duração que podiam ocupar tanto a primeira como a segunda parte do programa duplo) com argumentos extraídos da obra do referido escritor, para a qual dirigiu mais seis westerns: 1932 – Audácia Entre Adversários / Wild Horse Mesa. 1933 – Maldade / The Thundering Herd; Simplório Ambicioso / Under the Tonto Rim; Na Pista do Criminoso / Sunset Pass; O Homem da Floresta / Man of the Forest; Rixa Antiga / To the Last Man. 1934 – O Último Assalto / The Last Round Up, todos com Scott a não ser o terceiro, protagonizado por Stuart Erwin.

Em 1934 Hathaway passou a dirigir filmes de maior porte (Fuzileiros da Fuzarca ou Galgos e Ninfas / Come on, Marines!  aventura de guerra nas Filipinas com Richard Arlen e Ida Lupino; Vontade Escrava / The Witching Hour, drama criminal de mistério com Guy Standing, John Halliday, Judith Allen e Agora e Sempre / Now and Forever, drama romântico musical com Gary Cooper, Carole Lombard, Shirley Temple) e em seguida realizou seus primeiros filmes importantes, sobressaindo os assinalados em negrito: 1935 – Lanceiros da Índia / The Lives of a Bengal Lancer; Amor sem Fim / Peter Ibbetson.  1936 – Amor e Ódio ou Amor e Ódio na Floresta / The Trail of a Lonesome Pine; Amores de uma Diva / Go West, Young Men, comédia tendo como foco uma estrela de cinema, um político e um mecânico com Mae West, Warren William e Randolph Scott.1937 – Almas no Mar / Souls at Sea. 1938 – Lobos do Norte / Spawn of the North, drama de aventura sobre a rivalidade entre pescadores de salmão no Alasca com George Raft, Henry Fonda e Dorothy Lamour. 1939 – A Verdadeira Glória / The Real Glory.

Gary Cooper, Franchot Tone e Richard Cromwell em Lanceiros da Índia

Lanceiros da Índia. Grande êxito de bilheteria na linha aventura de exaltação do Império Britânico. O enredo gira em torno de três oficiais (Gary Cooper, Franchot Tone, Richard Cromwell) que combatem no noroeste da Índia as forças do líder rebelde Mohammed Khan (Douglas Dumbrille). Hathaway reune ação e humor na justa medida e não deixa cair o ritmo desta eletrizante aventura militar até as cenas finais mais agitadas. Foram aproveitadas tomadas feitas por Ernest B. Schoedsack na Índia além das rodadas na região de Serra Nevada, ao norte de Los Angeles. O filme proporcionou indicações ao Oscar de Melhor Filme, Diretor, Roteiro, Montagem, Som, Assistente de Direção, saindo vencedores os ocupantes desta categoria, Clem Beauchamp e Paul Wing.

Gary Cooper e Ann Harding emAmor sem Fim

Amor sem Fim. Fantasia romântica e mística sobre um amor impossível baseada no romance de George Du Maurier, exaltada pelos surrealistas como um hino à liberdade de imaginação, à superioridade dos sonhos sobre a lógica e a razão. Dois namorados de infância Peter (Gary Cooper) e Mary (Ann Harding) se reencontram anos depois, mas ela está casada com um duque (John Halliday). A velha chama é reacesa e o duque, com ciúmes, atira em Peter, porém é morto por ele. Peter é condenado à prisão perpétua. Os anos passam, mas o amor continua a ser alimentado através dos sonhos de ambos até que morrem e se encontram no Além. Hathaway soube conduzir a narrativa muito bem e manter a atmosfera onírica enquanto o fotógrafo Charles Lang realçava a estranha beleza dos cenários naturais, que se tornaram fantásticos pelo emprego de filtros e películas especiais.

Amor e Ódio na Floresta. Drama romântico desenrolado em uma região selvagem nas montanhas do Kentucky, onde o engenheiro Jack Hale (Fred MacMurray) chega para construir uma ferrovia e se depara com uma rivalidade de longa duração entre duas famílias, os Tolliver e os Falin. Hale tenta uma conciliação entre as duas facções que lhe permitiria atravessar seus territórios respectivos para colocar os trilhos do futuro caminho de ferro. Após salvar a vida de Dave Tolliver (Henry Fonda), Jack conhece sua prima, June (Sylvia Sidney). June se apaixona por Jack, despertando a ira de Dave, que desejava casar-se com ela. Após alguns incidentes que resultam na morte de Buddie (Spanky McFarland), o irmãozinho de June, de Dave e de um dos Falins, os patriarcas dos dois grupos antagônicos celebram a paz. Hathaway nos mostra com eficiência cinematográfica a irrupção ambígua do mundo exterior em uma sociedade esquecida e isolada das montanhas, realizando não somente seu primeiro filme colorido como também o primeiro filme em exteriores feito com o technicolor de três cores. Em têrmos dramáticos sobressai a morte acidental de Buddie durante a dinamitação de uma ponte. A canção “A Melody From the Sky” de Louis Alter e Sidney Mitchell foi indicada para o Oscar.

 

George Raft, Frances Dee e Gary Cooper em Almas no Mar

Almas no Mar. Drama de aventura marítima que se inicia em 1842 na Inglaterra quando Michael “Nuggin” Taylor (Gary Cooper) está sendo julgado por ter se salvado, deixando para trás outras pessoas, durante o naufrágio do navio William Brown, que seguia rumo a Savanah na América. Ele é condenado, mas eis que surge um representante do governo britânico e revela que Taylor fôra convocado para uma missão que ajudaria a pôr fim ao tráfico de escravos. Com esta finalidade, partiu com seu amigo Powdah (George Raft) naquela embarcação em que viajavam também o tenente Stanley Tarrington (Henry Wilcoxon), cúmplice secreto dos traficantes, sua irmã Margaret (Frances Dee) e uma jovem doméstica, Babsie (Olympe Bradna), que desejava começar nova vida no continente americano. No percurso desenvolveram-se dois romances, Taylor com Margaret, Powdah com Babsie até ocorrer o naufrágio e a explicação da atitude de Taylor forçado a sacrificar algumas vidas diante de um estado de necessidade. Hathaway dirige com muita segurança, destacando-se a sequência emocionante do naufrágio e um lindo lance sentimental quando Powdah coloca o anel de casamento de sua mãe, que trazia na orelha, no dedo de Babsie moribunda. O filme possibilitou três indicações ao Oscar: Melhor Trilha Sonora, Direção de Arte e Assistente de Direção.

Gary Cooper em A Verdadeira Glória

Hathaway e Gary Cooper na filmagem de A Verdadeira Glória

A Verdadeira Glória. Drama de aventura histórica nas Filipinas no começo do século. Em 1906 o cruel Alipang (Tetsu Komai) e seus guerrilheiros Moros aterrorizam a população de Mindanao.  O exército de ocupação americano retira-se da ilha, deixando apenas um grupo de militares, que terão a tarefa de treinar os nativos para enfrentarem os revoltosos. Entre os oficiais escolhidos estão os capitães Hartley (Reginald Owen) e Manning (Russell Hicks), os tenentes McCool (David Niven) e “Sweede” Larsen (Broderick Crawford) e o médico da Marinha, Bill Canavan (Gary Cooper). Alipang envia seus fanáticos para assassinar os oficiais e mantém um de seus homens, o Datu (Vladimir Sokoloff), infiltrado no forte, fingindo-se de amigo dos americanos e com a missão de atraí-los para uma emboscada na floresta. Sucedem-se vários incidentes dramáticos, entre eles uma epidemia de cólera provocada pelos insurgentes  e o combate final com Canavan lançando bastões de dinamite sobre os atacantes enquanto os reforços chegam em balsas de madeira pelo rio. Durante um intenso tiroteio, é justamente um rapaz nativo que trava uma luta mortal contra Alipang, usando sua espingarda para se defender da espada do temível líder rebelde e consegue matá-lo a coronhadas.

Nos anos quarenta, Hathaway realizou uma quantidade de filmes marcantes, principalmente na 20th Century-Fox e na Paramount: 1940 – Johnny Apollo / Johnny Apollo; O Filho dos Deuses / Brigham Young, drama biográfico sobre um líder Mormon com Dean Jagger no papel principal. 1941 – O Morro dos Maus Espíritos / The Shepherd of the Hills; Quando Morre o Dia / Sundown, drama de guerra na Africa durante a Segunda Guerra Mundial com Gene Tierney, Bruce Cabot, George Sanders. 1942 – Dez Cavalheiros de West Point / Ten Gentlemen of West Point, drama histórico a respeito da famosa Academia Militar com George Montgomery e Maureen O´Hara; Paixão Oriental / China Girl, drama de guerra no Oriente durante a Segunda Guerra Mundial com Gene Tierney e George Montgomery. 1943 – Amor Juvenil / Home in Indiana., drama de aventura e romance passado no ambiente de corridas de cavalos com Walter Brennan, Jeanne Crain, Lon McCallister. 1944 – Uma Asa e uma Prece / Wing and a Prayer, drama de guerra focalizando a Aviação Naval durante a Segunda Guerra Mundial com Don Ameche e Dana Andrews; Beijos Roubados / Nob Hill, drama romântico e musical em torno de um dono de uma boate e uma socialite de um bairro nobre de San Francisco; 1945 – A Casa da Rua 92 / The House on 92nd Street; Envôlto nas Sombras / The Dark Corner. 1946 – 13 Rua Madeleine / Rue Madeleine 13. 1947 – O Beijo da Morte / Kiss of Death. 1948 Sublime Devoção / Call Northside 777. 1949 – Capitães do Mar / Down to the Sea in Ships, drama de aventura marítima com Richard Widmark, Lionel Barrymore e Dean Stockwell.

Loretta Young e Tyrone Power em Johnny Apollo

Johnny Apollo. Drama criminal combinado com melodrama começando quando o corretor da Bolsa de Valores Robert Cain (Edward Arnold) é preso por desfalque. Seu filho universitário, Bob (Tyrone Power), recrimina suas ações desonestas e rompe todas as relações com ele.  Cain é condenado a dez anos de prisão. Bob, que tinha uma vida rica e protegida, agora tem que lidar com a vergonha e a falta de dinheiro. Os amigos de seu pai o evitam e ninguém quer lhe dar emprego, porque seu pai está na cadeia. Eventualmente, ele conhece o gângster Mickey Dwyer (Lloyd Nolan) e, sob o nome de Johnny Apollo, entra para o seu bando. Logo, como resultado dos golpes praticados, Dwyer, Johnny e Bates (Marc Lawrence), assistente de Dwyer, são presos e encarcerados na mesma prisão em que está Cain que, a caminho da regeneração, ocupa agora o cargo de supervisor. Dwyer planeja uma fuga porém, avisado por Lucky (Dorothy Lamour), jovem cantora de cabaré por quem Bob se afeiçoou, Cain tenta detê-los. Quando Dwyer dispara sua arma em Cain, Bob tem que escolher entre fugir ou socorrer o pai. Ele escolhe ajudar o pai, luta com Dwyer, mas é derrubado por Bates. Neste instante, os guardas encurralam e matam os dois bandidos. Cain e Bob cumprem suas penas e saem da prisão aguardados por Lucky. História interessante (embora com situações implausíveis), direção sólida de Hathaway e intérpretes conscientes de seus papéis garantem um bom espetáculo, que culmina com as cenas empolgantes da tentativa de evasão.

Harry Carey e John Wayne em O Morro dos Maus Espíritos

O Morro dos Maus Espíritos. Melodrama famíliar em ambiente rural no seio de uma comunidade totalmente supersticiosa onde predominam a ignorância e o rancor. Nas Montanhas Ozark, Jim Lane (Tom Fadden) é alvejado pelas autoridades enquanto vigiava uma destilaria ilegal mantida pela família Matthews. Ele é salvo quando um estranho, Daniel Howitt (Harry Carey), aparece e ajuda a filha de Lane, Sammy (Betty Field), a retirar as balas do corpo de seu pai. Howitt manifesta o desejo de adquirir terras na comunidade e Sammy, que está apaixonada pelo jovem Matt Matthews (John Wayne), sugere que Howitt compre uma propriedade da família Matthews. O tio de Matt, Old Matt (James Barton) e a tia Mollie (Beulah Bondi) ficaram na miséria desde a morte da irmã de Mollie, Sarah, mão do jovem Matt. Este vive amargurado porque a comunidade culpou sua família e o fantasma de sua falecida mãe por todos os males porque está passando e jurou vingança contra seu pai que, anos atrás, abandonou o lar, precipitando a morte de sua progenitora. Contra a vontade do jovem Matt, Howitt adquire a Mooning Meadows, sítio onde Sarah está enterrada, que dizem ser assombrado pelo espectro de Sarah. Sammy convence Matt a fazer amizade com Howitt, que não é outro senão o seu pai, que ele jurara matar. Afinal, Matt fica sabendo da verdadeira identidade de Howiit, os dois se confrontam, e Howitt fere seu filho. Após ter tido a vida salva, Matt fica sabendo que seu pai fôra preso por ter matado um homem e não pôde voltar para casa porque estava preso. Ouvindo seu pai falar o jovem abandona seu desejo de vingança e abre seu coração para o amor e para Sammy. Grande paisagista, Hathaway explora muito bem os esplêndidos cenários naturais, visualizados em soberbo technicolor, e mantém esta história digna de uma tragédia grega em um clima angustiante. Difícil esquecer as imagens da tia Mollie traçando um círculo de fogo em torno de seu filho morto, o incêndio da casa e a cega Granny Becky  (Marjorie Main) recobrando a visão e se lembrando-se  de repente de todos os segredos do passado bem como da pescaria reunindo Matt e seu pai e o plano fixo de Matt chegando no fundo do quadro para cumprir sua vingança e o duelo que se segue no meio da pradaria.

William Eythe e ,Signe Hasso (à direita) e em A Casa da Rua 92

A Casa da Rua 42. Drama de espionagem no qual um jovem universitário de origem alemã, William Dietrich (William Eythe), recentemente instalado nos EUA, em concordância com o FBI, parte para fazer um estágio em uma escola de formação de espiões nazistas em Hamburgo. Ao retornar, torna-se operador de rádio na rêde de um misterioso Mr. Christopher, cujo quartel é uma casa de modas na Rua 92 de Nova York, administrada por Elza Gebhart (Signe Hasso). No decorrer da intriga, trabalhando em ligação com o Inspetor Briggs (Lloyd Nolan), ele desbarata a malha de agentes secretos germânicos que tentava ter acesso aos segredos da bomba atômica e a verdadeira identidade de Mr. Christopher se revela. Abraçando o estilo semidocumentário da série A Marcha do Tempo / The March of Time do produtor Louis de Rochemont, Hathaway usou um narrador (Reed Hadley) em voz over, tomadas de arquivo feitas pelo próprio FBI, atores não profissionais e filmou em locações, conseguindo desta forma dar realismo aos fatos narrados repletos de elementos de suspense e mistério, que acompanhamos com muito prazer.  Charles G. Booth ganhou o Oscar de Melhor História Original.

Lucille Ball e Mark Stevens  em Envolto nas Sombras

Envolto nas Sombras. Drama criminal noir tendo como personagem central o detetive particular Bradford Galt (Mark Stevens). Libertado da prisão após ter sido incriminado falsamente pelo ex-sócio, Tony Jardine (Kurt Kreuger), ele pressente que está sendo seguido por um homem de terno branco (William Bendix). Galt suspeita de que o homem tenha sido contratado por Jardine, mas ele é na realidade empregado do mercador de arte Hardy Cathcart (Clifton Webb). Cathcart espera fazer com que Galt mate Jardine porque este é amante de sua esposa Mari (Cathy Downs). Porém Galt e sua dedicada secretária Kathleen (Lucille Ball) encontram uma pista e descobrem que Cathcart é quem está por trás de todo o esquema. Hathaway e o fotógrafo Joseph MacDonald tiraram efeitos particularmente eficientes da iluminação noire, por exemplo na cena em que o capanga de Cathcart ataca Galt pelas costas, entorpece-o com clorofórmio e depois elimina Jardine e deixa o cadáver deste ao lado do corpo desacordado do detetive para dar a impressão de que os dois lutaram e Galt o matou. Sem saber como isto ocorreu nem o por quê, Galt cai em profunda prostração e lamenta: “Sinto-me completamente morto por dentro. Estou andando para trás em uma esquina escura e não sei quem está me atingindo”, um gemido tipicamente noir.

Annabella e James Cagney em 13 Rua Madeleine 

13 Rua Madeleine. Drama de guerra durante o Segundo Conflito Mundial. Neste contexto, Charles Gibson (Walter Abel) e Robert Emmett Sharkey (James Cagney)         selecionam candidatos para uma unidade secreta de inteligência. O grupo de Sharkey compreende Suzanne de Bouchard (Annabella), Bill O´Connell (Richard Conte) e Jeff Lassiter (Frank Latimore). Gibson informa a Sharkey que O´Connell é um espião nazista chamado Wilhelm Kuncel e, após um período de treinamento, planeja enviar Kuncel para Alemanha levando dados falsos sobre a invasão aliada enquanto Jeff e Suzanne iriam para a França. Kuncel descobre o logro e mata Jeff. Sharkey então cai de paraquedas na França para continuar o trabalho de Jeff. Ele executa bem sua missão, mas é preso e torturado por Kuncel. Gibson não tem alternativa senão ordenar o bombardeio da Rua Madeleine 13 onde Sharkey está preso e quando as bombas começam a cair, Sharkey rí nervosamente em triunfo diante de Kuncel, sabendo que os segredos do Dia-D morrerão com ele. Hathaway imprimiu um ritmo ágil à narrativa deste filme de espionagem, criando boas cenas como as da aprendizagem dos novos espiões e a queda livre de Jeff após Kuncel ter cortado as cordas de seu paraquedas, contando com a esmerada fotografia em preto e branco de Norbert Brodine e atuações marcantes de Cagney e Conte.

Brian Donlevy, Richard Widmark e Victor Mature em O Beijo da Morte

Richard Widmark em O Beijo da Morte

O Beijo da Morte. Drama criminal conjugando o estilo semidocumentarista com elementos noir (herói angustiado, prisioneiro do seu passado, vilão psicopata, cinismo e falsa moral na apologia da delação, narração em voz over, fotografia estilizada). Depois de roubar uma joalheria, Nick Bianco (Victor Mature) é preso. D´Angelo (Brian Donlevy), assistente do Promotor Público, oferece-lhe a redução da pena, se prestar informações sobre outros criminosos. Ao saber do suicídio da esposa, ele testemunha contra Tommy Udo (Richard Widmark), um assassino sádico, mas o facínora é absolvido. Sabendo que Udo vai se vigar, Nick manda as filhas para um lugar seguro e arma uma cilada para o bandido. A história é entremeada de suspense (a cena no elevador após o assalto: o medo de Bianco dentro do quarto escuro; no epílogo, Udo esperando-o dentro do carro na porta do restaurante para matá-lo) e exposta em uma calma sucessão de imagens. Richard Widmark cria admiravelmente o tipo do assassino perverso e sorridente, cujo furor irrompe na morte da velha paralítica amarrada na cadeira de rodas e jogada escadas abaixo, uma cena antológica no gênero criminal.

James Stewart e Richard Conte em Sublime Devoção

Sublime Devoção. Drama criminal em chave de semidocumentário com alguns temas do filme noir. Uma mulher coloca um anúncio classificado em um jornal de Chicago oferecendo cinco mil dólares por uma informação que possa levar à libertação de seu filho, Frank Wiecek (Richard Conte), condenado pelo assassinato de um guarda. O redator-chefe do Chicago Times lê o anúncio e manda o repórter McNeal (James Stewart) investigar. Ele descobre que a mulher vem limpando assoalhos há onze anos, economizando cada centavo, para ter a condição de oferecer aquela quantia. O jornal então se envolve em uma cruzada pela libertação do rapaz. Existe o tema noir do “homem errado”, porém a ênfase do filme não está na paranoia da vítima prejudicada por um erro judicial, mas sim o drama de consciência do repórter que, do sensacionalismo das manchetes, volta-se para a busca da verdade, na sua investigação laboriosa apoiada pela tecnologia. Há um aspecto dark na intransigência burocrática da polícia, nas pressões políticas que o jornal sofre durante a sua campanha e ainda na obstinação da testemunha em manter seu depoimento mesmo confrontada com a verdade. A iluminação raramente é expressionista, todavia a cidade onde transcorre a ação tem uma aparência depressiva, assim como a própria história Hathaway desenvolve a narrativa com uma sobriedade e um distanciamento impressionantes, inclusive no clímax científico, sem dramaticidade.

 

 

 

 

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