BASIL DEARDEN
setembro 22, 2021Ele não possuía o prestígio de um Alfred Hitchock, David Lean, Carol Reed ou Michael Powell, mas realizou uma quantidade considerável de bons filmes e sucessos de bilheteria, primeiramente como diretor contratado nos estúdios da Ealing, depois com produtor independente de parceria com Michael Relph, participando ainda de produções de Hollywood e da Televisão. Profissional competente, abordou os mais variados gêneros (drama de guerra, romântico, histórico, social e criminal, comédia, fantástico, ficção científica), manifestando sempre senso visual e inventividade fílmica.
Basil Dearden (1911 – 1971) nasceu em Westcliffe-on-Sea com o nome de Basil Clive Dear, filho de James Dear e Florence Tripp. Seu pai faleceu prematuramente e sua mãe assumiu sozinha o sustento da família, que incluía mais quatro filhos e uma filha. Nesse tempo difícil a educação de Basil teve que ser interrompida e ele foi colocado em um orfanato onde ficou por algum tempo até arrumar seu primeiro emprego aos quatorze anos de idade como office boy de uma companhia de seguros de Londres.
Inspirado pelo sucesso de seu irmão mais moço Peter como modelo e ator infantil tanto no teatro como em filmes mudos, Basil ingressou como intérprete na Ben Greet Company, tornando-se depois assistente de gerente de palco no Fulham´s Grand Theatre. Em 1932 foi trabalhar como gerente de produção para o produtor teatral Basil Dean, passando depois a lhe prestar serviço também nos filmes que Dean realizava na Associated Talking Pictures (ATP), primeiramente como assistente junior do estúdio, mas logo sendo promovido a assistente de direção, tendo ainda recebido momentaneamente outras incumbências. Nesta oportunidade Basil mudou seu nome de Dear para Dearden para evitar confusão com o patrão.
Na ATP Dearden, funcionou como assistente de produção de uma comédia de Will Hay (The Ghost of St. Michaels / 1941), assistente de direção de duas comédias de George Formby (It´s in the Air /1938 e Come on George /1939) e produtor associado de três outras (Spare a Copper / 1941, Let George Do It /1941 e Tudo Acabou Bem? / Turned Out Nice Again / 1941), nesta última já quando Michael Balcon assumiu os estúdios da ATP e mudou sua denominação para Ealing. Sua carreira como diretor (compartilhando esta função com o astro Will Hay) teve início em três comédias (Detetive à Força / The Black Sheep of Whitehall / 1941, Professor Astuto / The Goose Steps Out / 1942 e My Learned Friend / 1943). Nos anos quarenta Dearden foi ainda um dos roteiristas de Now You´re Talking (12 min.), dirigiu Did You Ever See a Dream Talking (7 min.) e participou sob a supervisão de Alberto Cavalcanti de Trois Chansons de la Résistance (8 min.), shorts de propaganda de guerra produzidos pela Ealing.
O primeiro trabalho dele como único diretor foi The Bells Go Down / 1943, filme de ficção que prestava tributo ao heroísmo da Auxiliary Fire em tempo de guerra. O diretor de arte era Michael Relph e seu encontro com Dearden marcou o início de uma colaboração notável que iria durar quase trinta anos. Quando a Ealing fechou as portas em 1958 a dupla Dearden-Relph continuou produtivamente até a morte trágica de Dearden em um acidente de carro em 1971.
Depois de sua estréia sózinho atrás das câmeras, Dearden fez mais cinco filmes compartilhando a direção com outros colegas: Na Solidão da Noite / Dead of Night / 1945 (episódios com Alberto Cavalcanti, Charles Crichton e Robert Hamer), Train of Events / 1949 (episódios com Sidney Cole e Charles Crichton), Confio Em Ti / I Believe in You / 1952 e Punhos Traiçoeiros / The Square Ring / 1953 (ambos com Michael Relph).
Os filmes restantes dirigidos somente por Dearden incluem: 1944 – The Halfway House; They Came to a City. 1946 – Corações Aflitos / The Captive Heart; 1947 – Frieda / Frieda. 1948 – Sarabanda / Saraband for Dead Lovers. 1950 – A Lâmpada Azul / The Blue Lamp; Do Amor a Ódio / Cage of Gold. 1951 – Beco do Crime / Pool of London. 1952 – O Ódio Era Mais Forte / The Gentle Gunman. 1954 – The Rainbow Jacket. 1955 – Out of the Clouds; A Morte de um Herói / The Ship That Died of Shame. 1956 – Who Done It. 1957 – The Smallest Show on Earth. 1958 – Seduzidos pela Maldade / Violent Playground. 1959 – Safira, A Mulher sem Alma / Sapphire. 1960 – Os Sete Cavalheiros do Diabo / The League of Gentlemen; Um Homem na Lua / Man in the Moon. 1961 – O Sócio Secreto / The Secret Partner; Meu Passado me Condena / Victim. 1962 – All Night Long; Escravo de uma Obsessão / Life for Ruth. 1963 – The Mind Benders; A Place to Go. 1964 – A Mulher de Palha / Woman of Straw. 1965 – Oriente Contra Ocidente / Masquerade. 1966 – Khartoum / Khartoum. 1968 – No Mundo dos Escroques / Only When I Larf. 1969 – Sindicato do Crime / The Assassination Bureau. 1970 – O Homem Que Não Era (na TV) / The Man Who Haunted Himself.
Entre os que pude ver, eis os dez que mais me agradaram, todos com histórias muito interessantes.
THE HALFWAY HOUSE / 1944
Em junho de 1943 dez pessoas precisando muito de um descanso chegam a uma estalagem, The Halfway House, perdida na região campestre do País de Gales. Eles são recebidos pelo proprietário Rhys (Mervyn Johns) e sua filha Gwyneth (Glynis Johns). Os hóspedes compreendem: um casal de meia idade(Tom Walls, Françoise Rosay) de luto pela morte de seu filho em serviço ativo na guerra; um par mais jovem (Richard Bird, Valerie White) prestes a se divorciar e sua filha (Sally Ann Howes) tentando reconciliá-los; um militar (Guy Middleton) degradado por ter dado um desfalque nos fundos de seu regimento; um traficante do mercado negro (Alfred Drayton); um maestro famoso (Esmond Knight) com poucos meses de vida, um rapaz irlandês (Pat McGrath) e sua noiva (Philippa Hiatt) com pontos de vista conflitantes sobre a guerra. Pouco após sua chegada os hóspedes começam a perceber que algo está errado. Os jornais e o calendário estão um ano desatualizados. Rhys não mostra nenhum reflexo em um espelho e Gwyneth não projeta sombra quando sai de casa. É como se o dono da estalagem e sua filha fossem fantasmas. Depois de ouvirem uma transmissão radiofônica de 1942 os hóspedes ficam surpresos ao perceber que eles foram levados de volta exatamente a um ano no tempo, para a hora exata em que a estalagem foi destruída por um bombardeio aéreo.
Drama com um toque sobrenatural e uma mensagem patriótica no seu desfecho tendo como escopo a unidade nacional em tempo de guerra. Espetáculo continuadamente absorvente graças a uma direção segura e desempenho correto e homogêneo do elenco. Apesar de seu tema sombrio é uma história de fantasmas com elementos de um humor suave, na qual o horror é substituido pela melancolia. A câmera de Wilkie Cooper capta muito bem a paisagem campestre encantadora onde se desenrola a ação.
CORAÇÕES AFLITOS / THE CAPTIVE HEART / 1946.
Em 1940 o Capitão Karel Hasek da Exército Tcheco (Michael Redgrave) escapa do campo de concentração de Dachau e assume a identidade de um oficial britânico morto, Capitão Geoffrey Mitchell. Quando é capturado, ele se junta a milhares de prisioneiros de guerra. Seus companheiros do campo suspeitam que ele seja um espião companheiros porque fala bem o alemão, porém o oficial britânico superior, Major Dalrymple (Basil Radford), acredita na sua história. Procurado pela Gestapo, Hasek mantém a correspondência com a viúva de Mitchell, Celia (Rachel Kempson). Antes da guerra Mitchell tinha abandonado sua mulher e seus dois filhos, mas as cartas reacendem seu amor pelo marido. Ao ser repatriado, Hasek vai visitar Celia. Ele lhe dá a notícia da morte de Mitchell e revela que se apaixonou por ela. Passado um primeiro está gostando dele.
Drama de guerra com uma história de amor expondo com realismo, vigor emocional e riqueza cinematográfica, a vida em um campo de prisioneiros alemão. Nomentos marcantes são a chegada dos soldados britânicos ao campo de Marlag; a leitura da carta de um prisioneiro relatando sua vida no campo e a câmera mostrando as imagens dela; a visita noturna ao arquivo para a substituição dos nomes; o retorno dos soldados ingleses para as suas casas; os close-ups de Celia e Hasek falando-se pelo telefone no meio de uma Paris em festa.
FRIEDA / FRIEDA / 1947.
Quando a Segunda Guerra Mundial se aproxima do fim, uma jovem enfermeira alemã, Frieda (Mai Zetterling), ajuda um aviador da R.A.F., Robert (David Farrar), a escapar de um campo de prisioneiros alemão. Para impedir que ela seja punida por sua deslealdade ao Reich, casa-se com ela e eventualmente chegam na casa da família dele em Oxfordshire. Frieda conhece sua mãe (Barbara Everest), sua cunhada Judy (Glynis Johns), seu meio-irmão Tony (Ray Jackson), a empregada Edith (Gladys Henson) e tia Eleanor (Flora Robson), figura de destaque na política local e veementemente anti-germânica.
Judy é mais tolerante com Frieda embora sendo viúva do irmão de Robert, morto em um combate aéreo. A mãe de Robert permanece sem julgamento, mas Tony e a criada sentem-se ambos incomodados com a presença de uma estranha. A princípio a população da cidade hostiliza Frieda e Robert é obrigado a desistir de seu emprego como professor. Mas aos poucos a jovem ganha a confiança de todos – com exceção de Eleanor – até que aparece seu irmão Richard (Albert Lieven), ex-soldado alemão vestido com um uniforme polonês. Inicialmente, pensando que ele morrera, Frieda fica muito feliz, mas logo verifica que Richard continua fiel à ideologia nazista. Entrementes Richard é denunciado em um bar como um dos guardas de um campo de concentração e, para Robert em particular, admite a verdade desta acusação acrescentando que Frieda aprova seu plano neonazista. Sentindo-se comprometida, Frieda joga-se de uma ponte em um rio caudaloso, mas Robert chega a tempo de salvá-la, levando-a de volta para casa, onde Eleanor admite que seu preconceito anti-germânico é errôneo.
Drama social sobre o problema das atitudes no pós-guerra em relação aos alemães e a difícil passagem de uma família da classe média e de uma comunidade – lidando com seu preconceito raivoso e seus temores – para a aceitação de uma jovem alemã doce e inocente. Dearden mantém a atmosfera tensa, conduzindo a ação com sobriedade, armando algumas cenas agitadas mais para o desfecho melodramático.
SARABANDA / SARABAND FOR DEAD LOVERS / 1948.
Em 1862 na Alemanha a jovem Sophie-Dorothea (Joan Greenwood) se vê obrigada a desposar o Príncipe George Louis de Hanover (Peter Bull). Enquanto George se ocupa com suas amantes, Sophie fica sozinha com sua sogra a Eleitora Sophia (Françoise Rosay), que tem pouca afeição por ela. Solitária e deprimida, Sophie se consola com o soldado mercenário sueco Conde Philip Christoph von Königsmark (Stewart Granger). Os dois pretendem fugir do país, mas a Condessa Platen (Flora Robson), a nova amante de George, tendo sido rejeitada pelo conde, descobre o plano dos dois e conta tudo ao rei. Descoberta a infidelidade de Sophia, Kögnismarck é assassinado e a princesa encarcerada no Castelo de Ahlden onde permaneceu trinta e dois anos até sua morte. E George se torna George I, Rei da Inglaterra.
Drama romântico baseado vagamente em acontecimentos históricos, realizado com apreciável senso plástico, notadamente na sequência da festa carnavalesca na qual vemos a princesa perdida e em pânico no meio da multidão que se diverte histericamente. É uma sucessão de cortes interrompidos, panorâmicas rápidas e esplêndidos close-ups de máscaras sucedendo-se em uma montagem rápida ao ritmo de uma partitura palpitante. Dearden deixou o fotógrafo Douglas Slocombe utilizar o technicolor à sua maneira, ou seja, com contraste, por exemplo, naquele claro-escuro ameaçador da luta de espadas no final.
A LÂMPADA AZUL / THE BLUE LAMP / 1950.
Na área de Paddington, George Dixon (Jack Warner), guarda veterano da Polícia Metropolitana de Londres, prestes a se aposentar, supervisiona um novo recruta, Andy Mitchell (Jimmy Hanley). Apesar da relutância inicial de sua esposa, ele oferece hospedagem a Andy, que tem a mesma idade do filho que perderam na guerra e acabam formando uma família feliz. Em uma ronda, Dixon se vê face a face com o jovem delinquente Tom Riley (Dirk Bogarde) roubando a bilheteria de um cinema. Dixon tenta convencer Riley a se render, mas ele atira e foge. Dixon morre no hospital algumas horas depois e a Scotland Yard inicia a busca do criminoso. Após vários incidentes Riley é localizado quando tenta se esconder entre a multidão em um hipódromo de corrida de galgos, mas com a ajuda da administração do estádio, o criminoso é cercado pelos policiais e é Andy quem vai prendê-lo.
Drama criminal com rigor documentário sobre o cotidiano de uma delegacia da Guarda Metropolitana de Londres (simbolizada pela lâmpada azul) e a colaboração que lhe é prestada pela Scotland Yard, colocando em foco o caso de um assassinato cometido por jovem delinquente desesperado e perigoso porque imprevisível. Após uma exposição meticulosa do aspecto trabalhoso e metódico das investigações, Dearden constrói uma última parte bastante nervosa que termina com uma perseguição frenética do criminoso pelas ruelas londrinas até o final ofegante no lugar onde ele é capturado.
DO AMOR AO ÓDIO / CAGE OF GOLD / 1950.
A jovem pintora Judith Moray (Jean Simmons) desfaz seu noivado com o Dr. Alan Kearn (James Donald) e se casa com um antigo namorado, o ex-piloto militar Bill Glennon (David Farrar), aventureiro sem escrúpulos. Decepcionado porque seu plano incluía a presuntiva herança da esposa e esta herança não existe mais, ele a abandona, levando suas jóias e dinheiro, e volta para a amante, Marie Jouvet (Madeleine Lebeau) cantora do cabaré “A Gaiola de Ouro” em Paris. Em Londres, Judy pede auxílio a Alan, mas ele recusa seu pedido para fazer um aborto. Depois que a criança nasce, sai uma notícia no jornal listando Bill entre os mortos em um acidente aéreo. Alain e Judith se casam até que Bill reaparece e exige uma enorme quantia para não acusar o casal de bigamia, o que importaria na perda da guarda da criança. Armada de um revólver, Judith confronta-o no seu apartamento. Alan descobre onde ela foi e corre para lá cruzando com Judith correndo agitada no meio do nevoeiro. Ele segue para o apartamento e descobre Bill morto, sendo surpreendido com a arma na mão por um policial. Para proteger Judith, Alan admite ter matado Bill. Porém o Inspetor Grey (Bernard Lee) recebe a confissão do verdadeiro assassino, a amante parisiense de Bill, que na viagem de volta para Paris comete suicídio.
Drama criminal com todos os ingredientes típicos de um melodrama, exposto por Dearden com muita habilidade e valorizado pela soberba iluminação dramática de Douglas Slocombe. No desenrolar da narrativa encontram-se lances cinematográficos como, por exemplo, o grito de Judith chamando pelo marido que a abandonou e este grito e o seu rosto fundindo-se como apito da locomotiva avançando velozmente em direção à câmera. Nota-se o contraste entre a gaiola do cabaré em cujo centro vemos Madeleine, encarnação do desejo feminino e a casa dos Kearn, na verdade outra gaiola, onde Judith expia seu erro inicial de ter sido seduzida por Robert, tornando-se enfermeira de seu sogro inválido, mãe de seu filho, esposa conformada com a serenidade da vida familiar.
A MORTE DE UM HERÓI / THE SHIP THAT DIED OF SHAME / 1955.
Durante a Segunda Guerra Mundial, a lancha torpedeira 1087 – cuja tripulação comandada pelo Capitão Bill Randall (George Baker) incluía mais dois homens, George Hoskins (Richard Attenborough) e Coxwain Birdie (Bill Owen) – realizou com êxito várias missões perigosas ao longo da costa da França ocupada pelos nazistas. Após o fim do conflito, Hoskins convence Randall e Birdie a comprar e restaurar a lancha e usá-la para contrabandear mercadorias de luxo como uísque, meias de sêda e chocolate através do Canal da Mancha. Porém quando Hoskins se associa a uma organização criminosa liderada pelo Major Fordyce (Roland Culver), eles passam a transportar dinheiro falsificado e armas. A partir daí a embarcação começa a apresentar defeitos como se estivesse com vergonha desta carga. Em uma viagem, Hoskins aceita levar um passageiro misterioso e quando a lancha se aproxima do porto, para se livrar dos guardas alfandegários, ele joga o passageiro no mar, deixando-o morrer afogado. Depois os três parceiros ficam sabendo pelos jornais que o tal passageiro era um assassino de criança fugitivo da justiça, surgindo discordância entre eles e incidentes violentos, que culminam na autodestruição da lancha chocando-se contra os rochedos e ocasionando a morte de Hoskins enquanto Randall e Birdie conseguem se salvar.
Misturando três gêneros – drama de guerra, criminal e fantástico – o filme aborda a questão da sobrevivência no pós-guerra, retratando especificamente a frustração de ex-combatentes que não conseguem se adaptar ao tempo de paz e se afundam cada vez mais no mundo do crime. As qualidades antropomórficas da lancha ajudam a tornar a história mais excitante que Dearden conduz exemplarmente ajudado pela esplêndida fotografia atmosférica de Gordon Dines, servindo como exemplo a sequência em que o criminoso fugitivo, no meio de intenso nevoeiro, fica rondando o convés da lancha apavorado, ouvindo cegamente as vozes do alto falante e o apito do barco da polícia que se aproxima até ser empurrado para a morte por Hoskins.
SAFIRA, A MULHER SEM ALMA / SAPPHIRE / 1959.
O superintendente da polícia londrina, Robert Hazard (Nigel Patrick) e o inspetor Phil Learoyd (Michael Craig) – que tem preconceito contra negros -, investigam o assassinato de uma jovem estudante de música, Sapphire Robbins (Yvonne Buckingham). Um médico de Birmingham, Dr. Robbins (Earl Cameron), revela que ele e Sapphire eram filhos de pai branco e mãe negra, mas como ela tinha a pele clara, fazia-se passar por branca. Os investigadores descobrem que Sapphire levava uma vida dupla, estudando de dia e frequentando boates suspeitas nas áreas habitadas por negros. Os investigadores interrogam David Harris (Paul Massie), estudante de arquitetura namorado de Sapphire, seus pais (Bernard Miles, Olga Lindo), sua irmã Mildred (Yvonne Mitchell) e inspecionam as boates que a moça frequentava. Em um desses locais eles questionam um amiguinho de Sapphire, Johnny Fiddle (Harry Baird), sobre um lençol e uma faca com manchas de sangue encontradas no seu quarto e que ele alega ter sido o resultado de uma briga com outro sujeito, fato depois confirmado. Hazard reúne toda a família e convida o Dr. Robbins para comparecer. Duante o encontro, o Dr. Robbins brinca inadvertidamente com uma boneca encontrada e o ódio racista de Mildred vem à tona. Arrancando a boneca das mãos de Robbins, ela confessa que matou Sapphire enfurecida por ela se gabar de sua gravidez e pensando como a raça de seu bebê iria afetar a família. Mildred é presa e Hazard e um arrependido Learoyd desejam ao Dr Robbins uma boa viagem de volta a Birmingham.
Drama criminal sociológico com um libelo discreto mas vigoroso contra o preconceito racial ao descrever detalhadamente as tensões étnicas na Londres dos anos cinquenta. Articulando sabiamente as suspeitas sobre diferentes personagens, Dearden mantém o interesse do espectador o tempo todo, auxiliado por uma boa fotografia de cores neutras em perfeita harmonia com a história.
OS SETE CAVALHEIROS DO DIABO / THE LEAGUE OF GENTLEMEN / 1960.
Tenente coronel reformado após vinte e cinco anos de serviço, John George Norman Hyde (Jack Hawkins), decide se vingar. Utilizando informações que possui sobre eles, Hyde reune um grupo de sete oficiais, todos expulsos do exército – Major Peter Graham Race (Nigel Patrick), Mycroft (Roger Livesey), Edward Lexy (Richard Attenborough) Martin Porthill (Bryan Forbes), Stevens (Kieron Moore), Rupert Rutland-Smith (Terence Alexander), Frank Weaver (Norman Bird) – e os treina para a “Operação Tosão de Ouro”, cada qual seguindo sua especialidade militar. Por uma manobra inteligente, eles saqueiam um depósito de armas e munições desviando as suspeitas sobre os revolucionários irlandeses. Sob a cobertura de uma empresa de mudanças, Hyde e seus comparsas dispõem seu material em pleno centro de Londres nas proximidades de um banco. Na hora certa uma nuvem de fumaça inunda os arredores, os telefones são cortados, as emissões de rádio da polícia embaralhadas. Protegidos por máscaras contra gás eles penetram no banco e se apoderam de um milhão de libras. Eles se retiram estrategicamente e se reencontram mais tarde na casa de campo de Hyde para dividir o saque. A polícia consegue rastreá-los graças um erro ínfimo em um plano aliás, impecável. Eles serão todos presos.
Drama criminal combinando com incontestável originalidade assalto e estratégia militar. Após a apresentação dos diferentes personagens o filme ganha intensidade, acumulando surpresas e reviravoltas, sempre com uma nota de humor, mas em tom voluntariamente sério, culminando com um roubo espetacular com duração de vinte minutos, filmado com rigor e eficácia. Todos os atores que personificam os oito assaltantes atuam com muita convicção, contribuindo enormemente para o êxito do espetáculo.
MEU PASSADO ME CONDENA / VICTIM / 1961.
O eminente advogado Melville Farr (Dirk Bogarde), em vias de se tornar Conselheiro da Rainha, é procurado por Jack “Boy” Barrett (Peter McEnery), com o qual teve um relacionamento amoroso. Farr se recusa a falar com ele, pensando que Barrett está tentando chantageá-lo, porém o rapaz está ele próprio sendo vítima de chantagistas, que possuem uma foto dele com Farr abraçados dentro de um carro. A fim de pagar a chantagem, Barrett deu um desfalque na firma onde trabalha, está fugindo da polícia e necessita do auxílio financeiro de Farr para sair do país. Barrett finalmente é preso e, para não ser forçado a revelar os detalhes da chantagem e o papel de Farr nesse esquema, ele se enforca em sua cela; porém a polícia descobre sua relação com o advogado. Laura fica sabendo do suicídio de Barrett e, achando que seu marido não cumpriu a promessa que fizera quando se casaram de que ele não seria mais indulgente com sua atração homossexual, decide deixá-lo. Ajudado por um amigo de Barrett, Farr consegue identificar outras vítimas de chantagem e resolve ajudar a polícia a prender os chantagistas, comprometendo-se a prestar testemunho perante a côrte mesmo sabendo que isto poderá destruir sua carreira. Os criminosos são presos e Farr pede que Laura parta antes do julgamento, com a intenção de poupá-la deste constrangimento, mas que espera que ela retorne depois. Laura responde que acredita que já encontrou força para voltar para ele.
Drama criminal com vocação social tendente a denunciar a legislação inglesa da época, que tipificava o homossexualismo como crime. Dearden aborda o assunto abertamente e com seriedade, mostrando os danos causados por chantagistas às vítimas de várias profissões – um operário fabril, um dono de livraria, um barbeiro, um vendedor de automóveis, um fotógrafo, um lorde, um ator de teatro famoso -, que tentam viver sua diferença nas suas respectivas profissões. Uma das muitas virtudes do filme de Dearden está em não apresentar personagens “gays” como estereótipos efeminados, mas sim como indistinguíveis de personagens “éteros”, apresentando a homosexualidade com honestidade e sem sensacionalismo.
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