Neste artigo, estou considerando como atores britânicos aqueles que nasceram em países do antigo Império Britânico, da Comunidade Britânica ou trabalharam no cinema britânico antes de irem para os Estados Unidos. O primeiro ator britânico a trabalhar no cinema americano foi Donald Crisp. Em 1906 ele já estava em Nova York, atuando como cantor na Grand Opera House de John C. Fisher e depois como gerente de palco para George M. Cohan. Durante esta época ele conheceu e fez amizade com David Wark Griffith, que o colocou em Through the Breakers / 1909 e em outros filmes curtos. Quando Griffith partiu para Hollywood em 1910, Crisp acompanhou-o, tornando-se seu assistente em O Nascimento de uma Nação / The Birth of a Nation / 1915 e aparecendo neste filme como o General Ulysses S. Grant. Como ator, surgiu também em filmes de outros diretores e em 1918 destacou-se como Battling Burrows, o pai brutal de Lillian Gish em Lírio Partido / Broken Blossoms / 1919, dirigido por Griffith. Entre 1914 e 1930 Crisp dirigiu muitos filmes, destacando-se a sua co-direção com Buster Keaton em Marinheiro por Descuido / The Navigator / 1924 e a direção de Don Q, O Filho do Zorro / Don Q, Son of Zorro / 1925, estrelado por Douglas Fairbanks. Sua carreira como ator coadjuvante estendeu-se até o ano de 1963 e ele foi contemplado com um Oscar por seu desempenho em Como Era Verde o Meu Vale / How Green was My Valley / 1942.
Em 1910 Stan Laurel e Charles Chaplin visitaram a América pela primeira vez com a trupe de Fred Karno, porém só em 1914, após uma segunda excursão, Chaplin fez seu primeiro filme, Carlitos Repórter / Making a Living e ficou no país até 1952; Laurel fez seu primeiro filme, Nuts in May, em 1917, formou dupla com Oliver Hardy dez anos depois, e permaneceu na Califórnia até o fim de seus dias.
Em 1917, enquanto filmava na Inglaterra Corações do Mundo / Hearts of the World, Griffith empregou como figurante um rapaz de dezessete anos chamado Noel Coward. Cinco anos depois, Griffith colocou Ivor Novello (que a publicidade batizou de “o Valentino Britânico”), no seu filme A Rosa Branca / The White Rose, rodado não em Hollywood, mas em Miami. Novello fez somente mais um filme americano, Duas Vidas / Once a Lady / 1931, dirigido por Guthrie McClintic.
Outros atores britânicos atuaram no cinema mudo americano apenas uma vez (Sir Herbert Bierbohm Tree, como Macbeth no filme do mesmo nome produzido pela Reliance em 1916 e R. Henderson-Bland como Jesus Cristo em Da Manjedoura à Cruz / From the Manger to the Cross produzido pela Kalem em 1912; mais de uma vez no período silencioso (Alfred Paget, Charles Bryant, Wyndham Standing); uma vez no período silencioso e mais de uma vez no período falado (George Arliss, Philip Merivale, Roland Young, Eric Blore); e mais de uma vez no período silencioso e no período falado (Doris Lloyd, Lupino Lane, Billy Bevan, Marie Dressler, Jimmy Aubrey, Guy Standing, Ernest Cossart, Nigel Barrie, Peggy Hyland, Cyril Maude, Barbara Tenant, Herbert Prior, Percy Marmont, H. B. Warner, Ernest Torrence, George K. Arthur, Beatrice Lillie, Dorothy Mackaill, Constance Collier, Roland Young, C. Aubrey Smith, Clive Brook, Reginald Denny, Boris Karloff, Mary Pickford, Norma Shearer, Basil Rathbone, Douglas Fairbanks Jr., Victor MacLaglen e Ronald Colman). As canadenses Marie Dressler, Mary Pickford e Norma Shearer, Arliss, MacLaglen e Colman foram vencedores do Oscar de Melhor Ator / Atriz: Marie Dressler como a tragicômica Min em Lírio do Lodo / Min and Bill / 1930, Mary Pickford como Norma Besan, a sulista mimada em Coquete / Coquette / 1929, Norma Shearer como Jerry, a mulher envolvida com um casamento desfeito em A Divorciada / The Divorcee / 1930, Arliss como o Primeiro Ministro Disraeli em Disraeli / Disraeli / 1929; MacLaglen como Gypo Nolan em O Delator / The Informer / 1935 e Colman como o ator Anthony John, obsessivo pelos personagens que interpreta, em Fatalidade / A Double Life / 1947.
Alguns atores britânicos trabalharam somente no cinema americano (Arthur Treacher, Alan Mowbray, Henry Travers, Bob Hope) e algumas atrizes ou atores britânicos tiveram apenas uma participação em filmes americanos clássicos (Cicely Courtneidge em The Perfect Gentleman / 1935; Elisabeth Bergner em Paris Está Chamando / Paris Calling / 1941; Jesse Mathews e Anna Neagle em Para Sempre e um Dia / Forever and a Day /1943; Ann Todd em Agonia de Amor / The Paradine Case / 1947; Tom Courtenay e John Standing em Rei de um Inferno / King Rat / 1965, Juliet Mills em Raça Brava / The Rare Breed / 1966, Michael York em Justine / Justine / 1969.
O advento do som favoreceu os atores britânicos em Hollywood pois, além de falarem a mesma língua que os atores americanos eles, na sua maioria, possuiam uma voz perfeitamente inteligível e treinada para o palco. Foram muitos (além dos já citados, que atuaram também no cinema silencioso) os que trabalharam no cinema sonoro americano clássico: Heather Angel, Elizabeth Allan, Claude Allister, Judith Anderson, Felix Aylmer, Sara Algood, Jack Buchanan, Anthony Bushell, Freddie Bartholomew, George Brent, Claire Bloom, Nigel Bruce, Peter Bull, Dirk Bogarde, Richard Burton, Jacqueline Bisset, Colin Clive, Gladys Cooper, Violet Kemble-Cooper, Madeleine Carroll, Leo G. Carroll, Phyllis Calvert, Robert Coote, Mrs. Patrick Campbell, Roland Culver, Melville Cooper, Peggy Cummings, Peter Cushing, Julie Christie, Michael Caine, Joan Collins, Sean Connery, Robert Donat, June Duprez, Robert Douglas, Edith Evans, Jill Esmond, Barry Fitzgerald, Alec B. Francis, James Fox, Gracie Fields, Bryan Forbes, Cary Grant, Greer Garson, Edmund Gwenn, Reginald Gardiner, Alec Guiness, John Gieguld, Hugh Griffith, Leslie Howard, Cedric Hardwicke, Richard Haydn, Trevor Howard, Benita Hume, Martita Hunt, Lilian Harvey, Laurence Harvey, Miriam Jordan, Glynnis Johns, Cecil Kellaway, Gertrude Lawrence, Ida Lupino, Frank Lawton, Evelyn Laye, Elsa Lanchester, Charles Laughton, Wilfrid Lawson, Angela Lansbury, Herbert Lom, David Manners, Herbert Marshall, Miles Mander, John Mills, Roddy McDowall, James Mason, Ray Milland, Roger Moore, David Niven, Alan Napier, Robert Newton, Laurence Olivier, Merle Oberon, Una O’Connor, Reginald Owen, Edmund Purdom, Donald Pleasence, Anthony Quayle, Claude Rains, Flora Robson, Harold Russell, Herbert Rawlinson, Michael Rennie, George Sanders, Hugh Sinclair, Paul Scofield, Peter Sellers, Maggie Smith, Jessica Tandy, Terry Thomas, Elizabeth Taylor, May Whitty, Diana Wyniard, Henry Wilcoxon, Michael Wilding, Alan Webb, Alan Young.
Talvez possamos considerar como atrizes britânicas Olivia de Havilland e Joan Fontaine, porque, embora tivessem nascido no Japão, eram filhas de pais ingleses. Ambas conquistaram o prêmio da Academia: Joan como a tpimida e milionária Lina McLaidlaw que aos poucos começa a suspeitar que seu marido pretende assassiná-la em Suspeita / Suspicion / 1941 e Olivia como a solteirona aparentemente ingênua que dá uma lição a um caça dotes em Tarde Demais / The Heiress / 1949.
Os atores britânicos sempre fizeram bonito na noite de entrega do Oscar. Receberam estatueta da Academia, além dos já mencionados linhas atrás: Charles Laughton como o rei Henrique VIII em Os Amores de VIII / The Private Life of Henry VIII / 1933, Robert Donat como o professor em Adeus Mr. Chips / Goodbye Mr. Chips / 1939, Vivien Leigh como Scarlet O´Hara em … E O Vento Levou / Gone With the Wind / 1939, Greer Garson como Mrs. Miniver em Rosa de Esperança / Mrs. Miniver / 1942, Barry Fitzgerald como o Padre Fitzgibbon em O Bom Pastor / Going my Way / 1944, Ray Milland como o escritor alcoólatra em Farrapo Humano / The Lost Weekend / 1945, o canadense Harold Russell como o soldado que perdeu as mãos em Os Melhores Anos de Nossas Vidas / The Best Years of Our Lives / 1946, Edmund Gwenn como o velhinho contratado como Papai Noel numa loja de departamentos em De Ilusão Também se Vive / Miracle on 34th Street / 1947, Laurence Olivier como o Príncipe da Dinamarca em Hamlet / Hamlet / 1948,
o canadense Walter Huston como velho garimpeiro em O Tesouro de Sierra Madre / The Treasure of Sierra Madre / 1948, George Sanders como o crítico de teatro em A Malvada / All About Eve / 1950, Audrey Hepburn como a Princesa Anne em A Princesa e o Plebeu / Roman Holiday / 1953, Alec Guiness como o Coronel Nicholson em A Ponte do Rio Kwai / The Bridge on the River Kwai / 1957, David Niven como o impostor Pollock que se faz passar por um ex-major em Vidas Separadas / Separate Tabes /1958 , Wendy Hiller como a proprietária do hotelzinho onde se passa a história em Vidas Separadas, Hugh Griffith como o Xeque Ilderim em Ben-Hur / Ben-Hur / 1959, Elizabeth Taylor como a prostituta Gloria Wandrous em Disque Butterfield 8 / Butterfield 8 / 1960 e como Martha, a fiiha do reitor da Universidade em Quem Tem Medo de Virginia Woolf? / Who´s Afraid of Virginia Woolf / 1966 , Peter Ustinov como diretor da escola de gladiadores Lentulus Batiatus em Spartacus / Spartacus / 1960 e como o vigarista envolvido com ladrões de jóias em Topkapi / Topkapi / 1964 , Margareth Rutherford como a Duquesa de Brighton em Gente Muito Importante / The V.I.P.S. / 1963, Rex Harrison como o Professor Higgins em Minha Bela Dama / My Fair Lady / 1964 , Julie Andrews no papel título de Mary Poppins / Mary Poppins / 1964, Julie Christie como a modelo de publicidade Diana Scott em Darling, A Que Amou Demais / Darling / 1965, Paul Scofield como Sir Thomas More em O Homem Que Não Vendeu Sua Alma / A Man For All Seasons / 1966, Maggie Smith como a professora Joan Brodie em Primavera de uma Solteirona / The Prime of Miss Jean Brodie / 1969.
Em 1961 Stan Laurel recebeu um Oscar Honorário da Academia de Ciências e Artes Cinematográficas “por sua criatividade pioneira no campo da comedia cinematográfica” e em 1972 foi a vez de Charles Chaplin receber a mesma estatueta da Academia “pela incalculável influência que teve na transformação do Cinema como a Arte deste século”.