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EDMUND GOULDING

Ele não somente dirigiu alguns dos melhores dramas dos anos 30-40 (e nos anos 50  duas boas comédias), mas assumiu múltiplas funções na realização de cada um deles, escrevendo ou co-escrevendo roteiros, compondo música incidental, produzindo e até sendo consultado sobre maquilagem, figurinos e penteados. Foi também um grande diretor de intérpretes, porém não deixou nos seus filmes a marca de um estilo pessoal inconfundível, adaptando-se sempre ao molde de cada estúdio no qual trabalhou.

Edmund Goulding

Goulding se concentrou mais na interpretação. Durante os ensaios (aos quais  dedicava um tempo considerável) interpretava ele mesmo cada papel nos seus mínimos detalhes, embora estivesse sempre disposto a ouvir as sugestões dos atores. Por outro lado, não se interessava pela câmera, a não ser na medida em que ela permitia registrar de forma mais completa e fielmente a atuação dos intérpretes. Segundo Lee Garmes “Ele gostava que a câmera seguisse os atores o tempo todo”.

Na sua vida particular o cineasta era um homem complicado e contraditório cujas orgias notórias, bissexualidade, alcolismo e dependência de drogas foram propaladas em Hollywood durante anos. Entretanto, ele fazia uma distinção muito clara entre seu comportamento privado e o que a tela podia e deveria mostrar para o público.

Edmund George (1891-1959) nasceu em Feltham, Middlesex, Inglaterra filho de George Goulding e Florence Ivis Charlotte Hartshorn, que imigraram do campo para Londres em meados do século XIX, onde a promessa de melhores salários e um rendimento regular  eram irresistíveis. Em 1905, George Goulding abriu um açougue no distrito de Chelsea e Edmund ajudou o pai puxando um carrinho com carne para ser entregue aos fregueses. Depois, ele trabalhou como carregador de malas no Savoy Hotel e ali conheceu o empresário teatral Robert Gelardi, que o incentivou a seguir uma carreira no palco. Goulding escreveu e atuou em algumas peças em Londres,  participou de dois filmes silenciosos, Henry VIII (Dir: Will Barker) e The Life of a London Shopgirl (Dir: Charles Raymond) e serviu brevemente (por ter sido ferido) na Primeira Guerra Mundial. Em 1915 partiu para a América.

Chegando em Nova York, graças à sua voz respeitável de barítono, embora destreinada, conseguiu emprego como cantor de pequenos papéis de ópera em uma casa de espetáculos dos irmãos Shubert. Ele retornou brevemente à Londres, onde escreveu nominalmente com Gabrielle Enthoven, frequentador de teatro cheio da grana, a peça “Ellen Young”, cujo enredo serviu como precedente de muitos melodramas, que ele faria em Hollywood. De volta a Nova York, Goulding  decidiu seguir carreira de escritor para o cinema e, sem nenhuma experiência, ingressou na Lewis Selznick Company como aprendiz de montador, com a intenção de conseguir depois a função de roteirista.  Entretanto, sua passagem como montador na Selznick durou pouco meses porque, ao saber que Jesse Lasky estava pagando mil dólares por histórias originais, foi trabalhar para ele no seu quartel general em Astoria, Long Island.

Goulding forneceu argumentos para The Quest for Life  / 1916 – Dir: Ashley Miller) e Crença e Constância / The Silent Partner / 1917 – Dir: Marshall Neilan) mas, quando os EUA entraram na guerra, ele se alistou, e acabou sendo relocado para a Inglaterra, onde realizou um bom trabalho na recepção dos soldados americanos. Nesta ocasião, enviou algumas histórias para os realizadores na América, as quais originaram filmes como Não Há Tal Coisa / The Ordeal of Rosetta / 1917 (Dir: Emile Chautard); The Glorious Lady  / 1919  (Dir: George Irving) e The Perfect Lover / 1919 (Dir: Ralph Ince). Voltando à Terra de Tio Sam, Goulding continuou escrevendo ou co-escrevendo argumentos e roteiros ou fazendo adaptações para 32 filmes de vários estúdios (principalmente  Selznick Pictures), dos quais o mais importante foi Tol’able David / 1921 (Dir: Henry King).

Greta Garbo e John Gilbert em Anna Karenina

Em 1925, Goulding começou a trabalhar na MGM como diretor, roteirista, produtor ou adaptador. Seus filmes na MGM como diretor foram: 1925- O Filho das Selvas / Sun-Up com Pauline Stark, Conrad Nagel; Sally, Irene e Mary/ Sally, Irene and Mary com Constance Bennett, Joan Crawford, Sally O´Neil, William Haines. 1926 – Paris / Paris com Charles Ray, Joan Crawford; Elas Querem Diamantes / Women Love Diamonds com Pauline Starke, Owen Moore. 1927 – Anna Karenina / Love com Greta Garbo, John Gilbert. Em 1929, ele escreveu a história original de Melodia da Broadway / The Broadway Melody (Dir: Harry Beaumont) – filme musical premiado  com o Oscar. Ainda na década de vinte, ele permitiu adaptação de uma peça sua para Loucuras de Mãe / Dancing Mothers / 1926 (Dir: Herbert Brenon – Famous Players-Lasky-Paramount); forneceu o argumento de O Amor é Cego / Happiness Ahead / 1928 (Dir: William A. Seiter – First National); dirigiu, co-produziu, escreveu o roteiro e compôs (com Elise Janis) uma canção para Tudo Pelo Amor / The Trespasser / 1929 com Gloria Swanson, Robert Ames (Gloria Productions-United Artists).

Os cinco primeiros filmes de Goulding nos anos 30 foram: 1930 O Despertar da Vida / The Grand Parade (roteirista, produtor e autor de canções – Pathé); Paramount em Grande Gala / Paramount on Parade  (diretor do segmento com Richard Arlen, Jean Arthur, Mary Brian, Virginia Bruce, Gary Cooper  – Paramount); Noivado de

Phillips Holmes e Nancy Carroll em Noivado de Ambição

Fredric March e Nancy Carrol em O Anjo da Noite

Ambição / The Devil´s Holiday (diretor, roteirista) com Nancy Carroll, Phillips Holmes – Paramount). 1931 – O Príncipe dos Dólares / Reaching for the Moon (diretor, co-argumentista e co-roteirista) com Douglas Fairbanks, Bebe Daniels, Edward Everett Horton – United Artists; O Anjo da Noite / The Night Angel (diretor, roteirista) com Nancy Carroll, Fredric March – Paramount. O drama romântico Noivado de Ambição passou no Brasil dublado em português con Nancy Carroll no papel que ia ser de Jeanne Eagels e ficou vago quando ela morreu. Nancy demonstrou capacidade dramática até então insuspeitada e quase arrebatou o Oscar de Melhor Atriz, afinal outorgado a Norma Shearer.

Em 28 de novembro de 1931, para surpresa de todos, Goulding contraiu matrimônio com Marjorie Violet Moss, que formava com George Fontana um par de dançarinos no vaudeville e estava desempregada e doente, diagnosticada como tuberculosa. Segundo Louise Brooks, Goulding casou-se com Marjorie por compaixão, com a intenção de lhe trazer felicidade no pouco tempo de vida que lhe restava. Ela faleceu em 1935. Mais tarde, ele revelaria para sua amiga e advogada Fanny Holtzmann que nunca amara Marjorie e aceitara se casar com ela durante uma bebedeira.

Greta Garbo e John Barrymore em Grand Hotel

Os astros de Grande Hotel

Goulding na filmagem de Grande Hotel

Em 1932, Goulding fez Grande Hotel / Grand Hotel, adaptação do romance de Vicki Baum, com elenco multiestelar, idéia de Irving Thalberg. Greta Garbo é a bailarina decadente; John Barrymore, o aristocrático ladrão de jóias; Lionel Barrymore, o contador que resolve passar no luxo os últimos dias de vida; Joan Crawford, a ambiciosa estenógrafa a serviço de Wallace Beery, o industrial prussiano prestes a falir; Lewis Stone, o gerente do hotel. Quando a filmagem terminou, os roteiristas apelidaram Goulding de “o domador de leões”. A certa altura, Garbo pronuncia a legendária frase: “I want to be alone”. O filme, dirigido com classe por Goulding, arrebatou o Oscar, deu uma renda bruta e um grande prestígio para seu diretor.

Edmund Goulding, Leslie Hayward e em Ann Harding na filmagem de Corações em Duelo

Em seguida, ele dirigiu, ainda na MGM, Princesa da Broadway / Blonde of the Follies / 1932 com Marion Davies, Robert Montgomery, Billy Dove; Quando Uma Mulher Ama / Riptide / 1934 com Norma Shearer, Robert Montgomery, Herbert Marshall; Corações en Duelo / The Flame Within / 1935 com Ann Harding, Herbert Marshall, Maureen O´Sullivan, Louis Hayward e escreveu histórias para Carne / The Flesh / 1932 (Dir: John Ford – MGM) e Casar por Azar / No Man of Her Own / 1932 (Dir: Wesley Ruggles – Paramount).

Bette Davis e Henry Fonda em Cinzas do Passado.

Quando Irving Thalberg morreu, em 14 de setembro de 1936, Louis B. Mayer resolveu fazer uma “limpeza” no estúdio e, depois de provocar uma discussão acirrada com Goulding, ele o expulsou da MGM, ameaçando-o de “nunca mais trabalhar nesta indústria”. Porém Goulding logo foi acolhido pela Warner Bros., onde ocorreu a melhor fase de sua carreira. Jack Warner queria fazer mais filmes com papéis femininos fortes e Goulding se encaixou perfeitamente neste novo esquema . Para ele começar no estúdio, Jack teve a idéia de refilmar The Trespasser, que ele escrevera e dirigira para Gloria Swanson em 1929, e este foi o primeiro encontro do diretor com Bette Davis, cujo parceiro no filme era Henry Fonda. Os atores e os técnicos admiraram o trabalho de Goulding especialmente Bette, que  graças à ajuda do fotógrafo Ernest Haller, nunca esteve tão formosa na tela. “Ele era o que chamamos de “a woman´s director” e um “star maker”, ela declarou. O filme, de 1937, chamava-se That Certain Woman exibido no Brasil como Cinzas do Passado.

No ano seguinte, Gouding dirigiu Novos Horizontes / White Banners com Fay Bainter, Claude Rains, Jackie Cooper, Bonita Granville, seguindo-se quatro de seus melhores filmes na década de trinta: 1938 – A Patrulha da Madrugada / The Dawn Patrol. 1939 – Vitória Amarga / Dark Victory; Eu Soube Amar / The Old Maid; Não Estamos SósWe Are Not Alone.

Basil Rathbone, David Niven e Errol Flynn em A Patrulha da Madrugada

A Patrulha da Madrugada é a segunda filmagem do drama de aviação escrito por John Monk Saunders, agora com uma quase imperceptível mudança de ênfase em relação ao pacifismo, mais de acordo com a época. Foram aproveitadas muitas tomadas aéreas da versão de 1930 e rodados exteriores do campo de aviação no rancho Calabasas, de propriedade da Warner. Errol Fynn tem uma de suas melhores perfomances como o líder de uma esquadrilha que não suporta ver pilotos inexperientes serem mandados para missões perigosas. Basil Rathbone e David Niven dão forte apoio interpretativo ao espetáculo, que não fica nada a dever à versão de 1930, dirigida por Howard Hawks.

Bette Davis e Ronald Reagan em Vitória Amarga

O script de Casey Robinson em Vitória Amarga conta uma história cuja pungência é acentuada pela direção sensível de Goulding e pela música romântica de Max Steiner. Bette Davis fez muita gente chorar como a jovem da sociedade condenada por um tumor no cérebro, que se apaixona pelo médico interpretado por George Brent. A cena final da morte da protagonista, com ela deitada na cama e seu rosto em close até sair de foco é sublime e antológica. Bette, Steiner e o filme foram indicados para o Oscar. Nos créditos percebe-se ainda os nomes de Ronald Reagan e Humphrey Bogart como coadjuvantes.

Bette Davis e Miriam Hopkins em Eu Soube Amar

Foi novamente um roteiro de Casey Robinson, aqui baseado no romance de Edith Wharton, que serviu para Goulding dirigir Bette Davis em outro drama notável, Eu Soube Amar, e o diretor mostrou mais uma vez como sabia lidar com o gênero e com atrizes. Bette é a jovem que tem uma filha ilegítima e a entrega para ser criada por uma prima, vivida por Miriam Hopkins. Esta, apesar de ter se casado com outro, ainda amava o ex-noivo, pai da criança, surgindo daí os vários conflitos. Absorvente do início ao fim, o filme, além das primorosas atuações das duas atrizes, tem ainda bela partitura de Max Steiner e a apurada fotografia de Tony Gaudio.

Flora Robson e Paul Muni em Não Estamos Sós

Ator principal de Não Estamos Sós, Paul Muni considerava seu melhor papel o do médico do interior que, na Inglaterra durante a Primeira Guerra Mundial, é acusado de matar a mulher e ter caso amoroso com uma governanta austríaca. Ele, Jane Bryan (como a amante) e Flora Hobson (como a esposa) têm brilhantes atuações e Goulding reproduz satisfatoriamente o ambiente britânico do romance de James Hilton.

Nos anos 40, Goulding fez mais quatro filmes para a Warner: 1940 – O Último Encontro / Till We Meet Again com Merle Oberon, George Brent, Geraldine Fitzgerald, Pat O´Brien, Binnie Barnes, Frank McHugh, Eric Blore. 1941 – A Grande Mentira / The Great com Bette Davis, Mary Astor, George Brent; De Amor Também Se Morre / The Constant Nymph com Joan Fontaine, Charles Boyer, Alexis Smith, Charles Coburn, Brenda Marshall, Peter Lorre. 1946 – Escravo de uma Paixão / Of Human Bondage com Eleanor Parker, Paul Henreid, Alexis Smith, Edmund Gwenn (obs. filmado em 1944, mas só lançado em 1946).

Merle Oberon e George Brent em O Último Encontro

O primeiro filme é uma refilmagem com acréscimo de personagens e situações de A Única Solução / One Way Passage / 1932  (Dir: Tay Garnett com William Powell e Kay Francis). Brent e Oberon não têm o mesmo charme de Powell e Francis, mas não decepcionam. Os coadjuvantes são todos muito bons, sobressaindo Binnie Barnes, como uma vigarista que tem um passado com o personagem de Brent.

Bette Davis, George Brent e Mary Astor em A Grande Mentira

No segundo filme, Pierre (George Brent,) um piloto, se casa com Sandra (Mary Astor), pianista muito conhecida Ele não tarda a lamentar este matrimônio muito rápido e percebe que ama Maggie (Bette Davis), uma de suas amigas do tempo de estudante. Entrementes, seu advogado descobre que o casamento é nulo, porque Sandra não estava ainda divorciada. Pierre se casa com Maggie e parte em uma expedição, pouco depois considerada como perdida, Sandra espera um bebê. Maggie quer criar o filho de Pierre. Oferece uma boa quantia e a artista aceita. Pierre é encontrado alguns meses depois. Ele pensa que Maggie é a mãe do bebê. Em presença de Sandra, Maggie confessa sua mentira a seu marido, mas Sandra parte, deixando a criança com eles. Ajudado pela grande atriz Bette Davis, Goulding soube conduzir o drama, dando às cenas uma emoção poderosa. Porém foi Mary Astor que ganhou o Oscar.

Charles Boyer e Joan Fontaine em De Amor Também se Morre

O terceiro filme é a terceira versão de um romance de Margaret Kennedy, contando em síntese a história de uma jovem de sáude frágil, Tessa (Joan Fontaine), apaixonada por seu professor Lewis Dodd (Charles Boyer), compositor egocêntrico e mais velho do que ela. Ele se casa com a prima de Tessa, a rica socialite Florence  (Alexis Smith) e a pobre moça morre, escutando no rádio o triunfo do músico. A interpretação tocante de Joan Fontaine como a adolescente apaixonada (que lhe valeu uma indicação para o Oscar) e a música arrebatadora de Erich Wolfgang Korngold ajudaram Goulding a realizar um bom drama romântico.

O quarto filme é a segunda versão do romance de Somerset Maugham (que agora se passa no final do século XIX, tão boa ou melhor do que a primeira  (Escravos do Desejo / 1934 (Dir: John Cromwell com Bette Davis e Leslie Howard), graças aos dois intérpretes centrais, Paul Henreid e Eleanor Parker em perfomances magníficas, à beleza plástica da fotografia de Paverel Marley, à sinfonia inspirada de Erich Wolfgang Korngold e a consciência cinematográfica de Goulding.

Goulding colaborou com o esforço de guerra, participando com outros seis diretores e muitos astros e estrelas de Para Sempre e Um Dia / Forever and a Day / 1943, produzido pela RKO. O filme conta a história de uma casa inglesa, por onde passam várias gerações. O segmento sob responsabilidade de Goulding mostra a dita casa aproveitada como hotel residência de militares durante a Primeira Guerra Mundial e tem como personagens principais um soldado americano (Robert Cummings) e a balconista do hotel (Merle Oberon); porém a cena mais comovente  ocorre entre um casal de idosos (Gladys Cooper, Roland Young), quando recebem a notícia de que seu filho foi morto em ação.

Antes de ingressar definitivamente na Twentieth Century-Fox, Goulding fez para esta companhia, Claudia / Claudia /1943, comédia dramática demasiadamente teatral (baseada na peça de Rose Franken), contando a história de uma jovem (Dorothy McGuire, repetindo seu papel na Broadway e estreando no cinema) casada com um homem maduro e compreensivo (Robert Young) e suas atribulações, a maioria das quais girando em torno de sua imaturidade crônica e seu apêgo à mãe (Ina Claire). A moça acaba aprendendo muito sobre a vida e se tornando adulta.

Devidamente instalado na Twentieth Century-Fox, foi lá que Goudling encerrou sua carreira, após ter realizado oito filmes, começando com dois dramas e duas comédias de bom nível artístico (1946 – O Fio da Navalha / The Razor´s Edge. 1947 – O Beco das Almas Perdidas / Nightmare Alley. 1949 – Cante Noutra Freguesia / Everybody Does It. 1950 – Senhor 880 /Mister 880) e depois fez apenas filmes indignos de seu talento (1952 – Travessuras de Casados / We´re Not Married. 1953 – À Sombra das Palmeiras / Down Among the Sheltering Palms. 1956 – Alma Rebelde / Teenage Rebel).

Gene Tierney e Tyrone Power em O Fio da Navalha

John Payne, Herbert Marshall, Gene Tierney e Clifton Webb em O Fio da Navalha

O Fio da Navalha é um drama psicológico e filosófico baseado em um romance de Somerset Maugham, interpretado no filme por Herbert Marshall, como um observador imparcial e involuntário dos acontecimentos. O principal protagonista, Larry Darrell (Tyrone Power), jovem aviador americano traumatizado pela morte de um amigo na Primeira Grande Guerra, abandona tudo, inclusive seu noivado com uma jovem da alta sociedade, Isabel (Gene Tierney), em busca de um sentido para a vida. Ele vai para Índia consultar um místico hindu. Ao retornar, Isabel faz de tudo para reconquistá-lo, embora já esteja casada com outro. Apesar de uma cena horrível do Himalaia com montanhas de papelão e uma reconstituição ridícula do ambiente parisiense, Goulding mantém o drama sob controle, auxiliado por boas interpretações de todo o elenco. Anne Baxter ganhou o Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante como Sophie, a jovem que se torna alcoólatra após a morte do marido e do filho em um desastre de automóvel e Clifton Webb foi indicado como Melhor Ator Coadjuvante pela sua divertida composição como Elliott Templeton, tio esnobe de Isabel. O filme também foi indicado para o prêmio da Academia. A música de Alfred Newman e a fotografia de Arthur Miller são outros trunfos do espetáculo.

Tyrone Power e Joan Blondell em O Beco das Almas Perdidas

 

O Beco das Almas Perdidas é um drama com história original e atmosfera corrosiva, tocando em assuntos ousados na época (dipsomania, sexo pré-marital, pseudo religião) e contendo elementos noirs (mulher fatal, protagonista cínico e amoral, degradação, venalidade, fotografia expressionista). Stanton Carlisle (Tyrone Power) aprende com Zeena (Joan BLondell) o código que esta usa no seu espetáculo de telepatia. Depois, abandona-a e seduz Molly (Colleen Gray), uma garota que trabalha no mesmo parque de diversões. Os dois vão para Chicago, onde Stanton faz muito sucesso em uma boate. Ali conhece uma psicóloga, Dra. Lilith Ritter (Helen Walker), que passa a ser sua sócia, fornecendo as gravações das consultas de seus pacientes para que ele , como reputado espiritualista, possa enganar os incautos. Durante uma farsa para tirar dinheiro de um ricaço, o charlatão é desmascarado. Stanton passa a viver como um vagabundo, tornando-se alcoólatra. Ele se degrada tanto, que acaba como uma repugnante atração de feira. Embora sendo um diretor mais especializado no filme “ para mulheres”, Goulding lida bem como o tema em desacordo com seu temperamento, dando força trágica ao protagonista e um bom andamento à narrativa.

Linda Darnell e Paul Douglas em Cante Noutra Freguesia

Paulo Douglas e Celeste Holm em Cante Noutra Freguesia

Cante Noutra Freguesia é uma comédia satírica, baseada em uma história de James M. Cain sobre uma burguesa, Doris Borland (Celeste Holm) que, sem ter a devida vocação, deseja ser uma grande cantora lírica, atormentando seu marido Leonard (Paul Douglas.) Levado pela mania da mulher a conhecer empresários e cantores, Leonard encontra a famosa prima dona Cecil Carver (Linda Darnell), que anda à procura de um barítono. Ela descobre por acaso que Leonard tem uma voz formidável e o converte da noite para o dia na maior sensação dos meios musicais de Nova York. Porém seu contato com o público na Ópera é um desastre, porque ele tem um medo do palco que o impede de mostrar suas aptidões sonoras. Cecil Carver se afasta dele enquanto Doris perdoa sua fuga. E partem os dois… cantando. A direção de Goulding é ágil, mantendo o desenrolar dos acontecimentos em um ritmo rápido. As situações cômicas são bem tratadas com diálogos bastante humorísticos.

Brrt Lancaster, Dorothy McGuire e Edmund Glenn em Senhor 880

 

Senhor 880 é uma comédia dramática, inspirada em um fato policial autêntico, conhecido como o “ caso 880”, adaptado à tela por Robert Riskin. O entrecho gira em torno de um velhinho, ex-capitão da Marinha, Skipper Miller (Edmund Gwenn, depois de cogitado Walter Huston), que “emite” em uma velha prensa, notas mal confeccionadas de um dólar para seu modesto sustento e é precisamente a natureza diminuta dos valores dispersamente lançados que intriga e desnorteia a polícia. Quando sua vizinha, Ann Winslow (Dorothy McGuire,) passa inconscientemente duas dessas cédulas falsas, ela é seguida pelo agente do FBI Steve Buchanan (Burt Lancaster) e acaba descobrindo o ingênuo falsário. Com a ajuda dos numerosos amigos do velhinho, Ann defende Skipper e ele é condenado a uma pena mínima por um juiz indulgente e compreensivo. Este entrecho leve e interessante, habilmente conduzido por Goulding, é muito bem interpretado pelos três atores centrais, principalmente Edmund Gwenn, adorável como o velhinho de uma afabilidade e de uma lógica désarmante.

KAY FRANCIS

Ela foi uma das atrizes mais populares da tela no anos 30, classificada como “a rainha da Warner Bros.“, “a mulher mais bem vestida do Cinema” e, por sua cor de pele morena e cabelos negros, “a americana mais brasileira de Hollywood” (aqui no Brasil houve até rumores de que ela teria nascido em Pernambuco). Entre 1930 e 1937 ninguém, a não ser Shirley Temple, apareceu mais nas capas das revistas de cinema dos Estados Unidos e, em nosso país, basta folhear as nossas Cinearte e A Scena Muda para constatar a constância de suas fotos em quase todos os números destas duas publicações, sempre chique em modelos muito admirados pelas fãs. Apesar de sofrer de uma leve gagueira e pronunciar os “rs” como “ws” (palavras começando por “r” eram cortadas dos roteiros de Francis) ela era uma das estrelas mais glamourosas e bem pagas (em meados da década de trinta seu salário de mais de 5 mil dólares semanais ultrapassava o de várias outras colegas), interpretando, primeiro na Paramount e depois na Warner Bros., mulheres elegantes e mundanas em melodramas românticos e, eventualmente, em algumas comédias.

Kay Francis

Katharine Edwina Gibbs (1905-1968), nasceu em Oklahoma City, filha de Joseph Gibbs, proprietário de terras e criador de cavalos que havia perdido sua fortuna quando ela nasceu e de Katherine Clinton, atriz de teatro. Quando Kay tinha nove meses de idade a família se mudou para a Califórnia e depois foi para Denver e Salt Lake City onde, Mrs. Gibbs, cansada das frequentes mudanças, problemas financeiros e alcoolismo de Joseph, e arrependimento por ter abandonado a carreira teatral, decidiu se separar do marido e voltar para o palco.

A pequena Katharine passou a infância acompanhando a mãe em suas excursões frequentes, estudando em alguns colégios religiosos e finalmente em uma escola de treinamento para secretárias de Nova York até que arrumou emprego como assistente de Juliana Cutting, organizadora de festas para a alta sociedade novaiorquina. Nesta ocasião a carreira de sua mãe teve um impulso, quando ela apareceu em duas peças no Garrick Theater de Nova York, produzidas pelo prestigioso Theatre Guild.

Em 1922 Kay trabalhou brevemente como modelo e como secretária, perdeu sua virgindade e iniciou uma vida de sexualidade desinibida (casou-se aos 17 anos de idade com James Dwight Francis, filho de família rica, teve amantes de ambos os sexos e fez três abortos). Ela se divorciou de James em 1925 e neste mesmo ano estreou no teatro em uma versão moderna do “ Hamlet” de Shakespeare, casou-se com William Gaston, assistente de um promotor público (outro matrimônio frustrado) e fez um teste no estúdio da Famous Players em Astoria para o diretor David Wark Griffith, provavelmente para ser incluída no elenco de Tristezas de Satanás / Sorrow of Satan. Mas não deu em nada.

Deixando de lado a vida pessoal de Kay – seus / suas amantes, mais um aborto, início de sua tendência para o alcoolismo, algumas aparições no teatro, trabalho como modelo, vejamos como ela debutou no cinema. Existem várias versões, mas parece que foi por intermédio de Walter Huston, o ator principal de “Elmer the Great”, peça na qual ela desempenhara um pequeno papel como uma corista. Escolhido para liderar o elenco de Algema Cruel / Gentlemen of the Press / 1929, Huston teria convencido os responsáveis pela Paramount a contratar Kay. Logo em seguida, ela participou de um filme dos Irmãos Marx, Hotel da Fuzarca / The Cocoanuts / 1929, usando em ambos o nome artístico de Katherine Francis. Após Kay ter completado seus dois primeiros filmes em Nova York, a Paramount decidiu transferí-la para Los Angeles a fim de continuar sua carreira no estúdio da Melrose Avenue em Hollywood e, assim que ela chegou, imediatamente iniciou uma campanha de publicidade, lançando Kay como competidora das duas atrizes consideradas as ”mais bem vestidas” da época, Constance Bennett e Lilyan Tashman. Sua presença esbelta e vistosa, figura de modelo (com 1.75 ms de altura), cabelos  bem pretos e capacidade de se vestir com elegância  (com figurinos de Travis Banton e Orry-Kelly) ela conquistou o público, principalmente o feminino.

Kay Francis e Ronald Colman em Raffles

Nos seus filmes iniciais em Hollywood, a maioria deles na Paramount – Curvas Perigosas / Dangerous Curves / 1929 com Clara Bow e Richard Arlen; Ilusão / Illusion / 1929 com Charles “ Buddy” Rogers, Nancy Carroll; Órfãos do Divórcio / The Marriage Playground / 1929 com Mary Brian, Fredric March; Por Traz da Máscara / Behind the Make-Up / 1930 com Hal Skelly, William Powell, Fay Wray; Caminhos da Sorte / Street of Chance / 1930 com William Powell, Jean Arthur; Paramount em Grande Gala / Paramount on Parade / 1930 com um elenco de astros e estrelas; Mulher Desejada / A Notorious Affair / 1930  (First National) com Billie Dove, Basil Rathbone – Kay não teve o papel principal, o que só viria acontecer em Defesa Que Humilha / For the Defense  / 1930 e logo depois em Raffles /  Raffles / 1930 (Samuel Goldwyn), nos quais dividiu o estrelato respectivamente com William Powell e Ronald Colman. Foram os seus dois melhores filmes até então.

Kay Francis e Jack Oakie em Naufrágio Amoroso

Ela fez sucessivamente, – salvo quando mencionados outros estúdios – na Paramount: Naufrágio Amoroso / Let´s Go Native / 1930 (com Jeannette MacDonald encabeçando o elenco); Coragem de Amar / The Virtuous Sin / 1930 com Walter Huston, Kenneth MacKenna); Um Sonho Apenas / Passion Flower / 1930 (MGM) com Kay Johnson, Charles Bickford; Página de Escândalo / Scandal Sheet /1931 com George Bancroft, Clive Brook; O Benzinho de Todas / Ladie´s Man /1931 com William Powell, Carole Lombard. The Vice Squad / 1931 com Paul Lukas; Reconquistada / Transgression / 1931 (RKO) com Paul Cavanagh, Ricardo Cortez; Mãos Culpadas / Guilty Hands/ 1931 (MGM) com Lionel Barrymore, Madge Evans; 24 Horas / 24 Hours / 1931 com Clive Brook, Miriam Hopkins; Prá Que Casar / Girls About Town / 1931 com Joel McCrea, Lilyan Tashman; A Falsa Madona / The False Madonna / 1932 com William “ Stage” Boyd; A Volta do Deserdado / Strangers in Love  / 1932 com Fredric March.

Lionel Barrymore e Kay Francis em Mãos Culpadas

Neste lote destaco em negrito Mãos Culpadas, drama criminal com ótimo enredo: em uma viagem de trem, o ex-promotor público e agora advogado, Richard Grant (Lionel Barrymore), diz para seus companheiros de viagem que, baseado em sua longa experiência, o assassinato algumas vezes pode ser justificado e uma pessoa inteligente deve ser capaz de cometê-lo, sem ser descoberto. É o que ele pretende fazer, a fim de impedir que sua filha (Madge Evans) se case com Gordon Rich (Alan Mowbray) um canalha bem mais velho do que ela. Kay faz o papel da amante despeitada de Rich, que suspeita de que a morte dele não foi suicídio, como Grant fizera a polícia crer. O diretor W. S. Van Dyke dirigiu com boa imaginação cinematográfica um roteiro cheio de reviravoltas e Barrymore brindou o espectador com um de seus melhores desempenhos.

Kay Francis e Ricado Cortez em Capricho Branco

Em 1931, Kay casou-se com o ator Kenneth MacKenna. Pouco depois assinou contrato com a Warner Bros. e, depois de fazer três de seus melhores filmes em 1932 – Ladrão Romântico / Jewel Robbery; A Única Solução / One Way Passage; Ladrão de Alcova / Trouble in Paradise (este na Paramount) – seus papéis foram diminuindo de qualidade em produções de menor merecimento artístico: 1932 – Amante Discreta / Cynara com Ronald Colman. 1933 – Pela Fechadura / The Keyhole com George Brent; Aurora de Duas Vidas / Storm at Daybreak (MGM) com Nils Asther, Walter Huston; Mulher e Médica / Mary Stevens, M.D. com Lyle Talbott, Glenda Farrell; A Mulher Que Eu Amei / I Loved a Woman (First National) com Edward G. Robinson; Presa do Destino / The House on 56th Street com Ricardo Cortez, Gene Raymond. 1934 – Capricho Branco / Mandalay com Ricardo Cortez, Lyle Talbot; Wonder Bar / Wonder Bar (First National) com Al Jolson, Dolores Del Rio, Ricardo Cortez, Dick Powell; Monica / Dr. Monica com Warren William.  Espionagem / British Agent (First National) com Leslie Howard. 1935 – Vivendo em Veludo / Living on Velvet (First National) com Warren William; O Primeiro Beijo / Stranded com George Brent; A Favorita / The Goose and the Gander com George Brent; Amores Trágicos / I Found Stella Parrish com (First National) com Ian Hunter, Paul Lukas. 1936 – Anjo de Piedade / White Angel com Ian Hunter, Donald Woods; Dá-me Teu Coração / Give Me Your Heart com George Brent; 1937 – Ventura Roubada / Stolen Holiday com Claude Rains, Ian Hunter; Outra Aurora / Another Dawn com Errol Flynn, Ian Hunter; Confession; Intrigas da Alta Roda / First Lady com Anita Louise, Preston Foster. 1938 –  Assim São as Mulheres / Women Are Like That com Pat O´Brien , Ralph Forbes; Filhos Sem Lar / My Bill com Dickie Moore, Bonita Granville; Segredos de uma Atriz / Secrets of an Artist com George Brent, Ian Hunter; Promessa CumpridaComet Over Broadway com Ian Hunter. 1939 – Contra a Lei / King of the Underworld com Humphrey Bogart; Mulheres Que O Vento Leva / Women in the Wind com William Gargan.

Kay Francis e Ronald Colman em Amante Discreta

Kay Francis, Walter Huston e NIls Asther em Aurora de Duas Vidas

Ricardo Cortez, Dolores Del Rio,   Al Jolson, Kay Francis e Dick Powell  em Wonder Bar

Kay Francis e Warren William em Monica 

Leslie Howard e Kay Francis em Espionagem

George Brent e Kay Francis em Dá-me Teu Coração

Ladrão Romântico, muito bem dirigido por William Dieterle, é uma comédia romântica excelente, baseada em uma peça de Ladislaus Fodor, sobre uma dama da alta sociedade, Baronesa Teri (Kay Francis), esposa adúltera de um milionário que percebeu o vazio de sua vida e se curou de seu tédio com um ladrão de jóias audacioso, elegante e requintado  (William Powell), – parecido com o Arsène Lupin de Maurice Leblanc. Dotado de uma técnica incomparável para esvaziar as joalherias da Ringstrasse de Viena nas barbas das autoridades, ele ridiculariza os representantes da lei e até o prefeito sucumbe aos cigarros de marijuana oferecidos pelo charmoso larápio. Outra dose parecida de amoralidade – pois trata-se de um filme anterior ao Código Hays – é o decote escandalosamente ousado nas costas de Teri e, no final, o oferecimento de seu marido para uma cura de descanso em Nice, onde a espera o irresistível gatuno.

Kay Francis e William Powell em Ladrão

A Única Solução é um melodrama com história original de Robert Lord premiada com o Oscar. Dan Hardesty (William Powell), condenado  por homicídio e preso em Honk Kong é levado para San Francisco no transtlântico  SS Maloa a bordo do qual se encontra com uma doente incurável, Joan Ames (Kay Francis). Os dois se envolvem em um idílio, cada qual sem saber que a vida do outro está prestes a se extinguir. O diretor Tay Garnett deu pungência ao tema romântico, equlibrando-o com toques de comédia, providenciados por Aline MacMahon e Frank McHugh, um vigarista e uma falsa condessa, espécie de cupidos dos casal com os dias contados.

William Powell e Kay Francis em A Única Solução

Em Ladrão de Alcova, comédia romântica dirigida magnificamente por Ernst Lubitsch, Gaston Monescu (Herbert Marshall) e Lily (Miriam Hopkins) são dois ladrões cosmopolitas que pretendem furtar as jóias de Madame Mariette Colet  (Kay Francis), dona de uma fábrica de perfumes, empregando-se em sua casa. Depois de muitos imprevistos, finura e mordacidade, termina esta farsa mundana, deliciosamente cínica e amoral, um dos filmes prediletos do diretor, que conta ainda com a presença hilariante de Edward Everett Horton e Charles Ruggles como os rivais pela mão de Madame Cole.

Kay, Herbert Marshall e Miriam Hopkins em Ladrão de Alcova

Kay Francis e Herbert Marshall em Ladrão de Alcova

Confession, é a refilmagem – incompreensívelmente inédita no Brasil, pois se tratava de uma produção classe A da Warner – do filme alemão Mazurca / Mazurka / 1935 de Willi Forst com Pola Negri, coincidentemente dirigida por outro alemão, Joe May, então radicado nos EUA. Tal como na produção germânica, a história foi valorizada pela excelência da direção. Kay é Vera Kowalska, cantora de ópera pupila de um grande maestro, Michael Michailow (Basil Rathbone), seu admirador; porém ela se casa com outro e tem uma filha, Lisa (Jane Bryan). Quando o marido vai para a guerra, ela se embriaga em uma festa e se entrega ao maestro. O marido fica sabendo de tudo,  deixa-a e se casa novamente, obtendo a guarda da filha. Vera, para ganhar a vida, vai ser cantora em um cabaré. Basta descrever uma sequência do filme para mostrar a intuição de cinema de Joe May. Vera está cantando no cabaré. De repente ela avista em uma das mesas, o ex-amante beijando sua filha. Vera desmaia. Nervoso, o maestro resolve sair rapidamente com a garota. Quando estão subindo a escada em direção à porta de saída, a câmera se volta para baixo, onde vemos Vera com um revólver na mão. Ela atira e atinge Michailov pelas costas. O corpo dele rola pela escada, indo cair ao lado de algumas serpentinas e da arma assassina.

Kay Francis na filmagem de Confession

Na sua vida íntima sempre turbulenta Kay divorciou-se de Kenneth MacKenna, continuou se entregando à bebida, fazendo abortos e colecionando amantes entre eles Maurice Chevalier, Otto Preminger, Delmer Daves, Rouben Mamoulian e Fritz Lang. Sua carreira que parecia tão promissora dez anos atrás, tornou-se um fardo em 1939, por ter a Warner colocado a atriz em um amontoado de filmes com histórias ruins; mas havia se tornado uma milionária. Durante a filmagem de seu último filme neste estúdio, Mulheres Que O Vento Leva, ela concedeu uma entrevista para a revista Photoplay, cujo título e primeira frase era: “I can´t wait to be forgotten”.

Em fevereiro de 1939 a RKO contratou-a para Esposa Só No Nome / In Name Only, bom filme de John Cromwell, no qual ela contracenou com Carole Lombard e Cary Grant e impressionou os críticos, interpretando uma esposa vingativa e amarga. Em janeiro de 1940 trabalhou com Deanna Durbin e Walter Pidgeon na Universal em Rival Sublime / It´s a Date, sob a direção de William Seiter, atuando como mãe de Deanna. Esta, é claro, era a principal atração, porém Kay não ficou embaraçada no papel de uma estrela envelhecida que é obrigada a competir com sua filha.

Jack Benny e Kay Francis em A Tia de Carlitos

 

Cena de Sempre no MeuCoração

Como free lancer Kay fez em seguida: 1940 – A Vingança dos Daltons  / When The Daltons Rode  (Universal) com Randolph Scott, Brian Donlevy; Homenzinho / Little Men (RKO) com Jack Oakie, George Bancroft. 1941 – Mulheres de Luxo / Play Girl (RKO) com James Ellison); O Homem Que Se Perdeu / The Man Who Lost Himself (Universal) com Brian Aherne; A Tia de Carlitos / Charley´s Aunt (Twentieth Century-Fox) com Jack Benny, James Ellison, Anne Baxter; Ciúme Não é Pecado / The Feminine Touch (MGM) com Rosalind Russell, Don Ameche, Van Heflin. 1942 – Sempre no Meu Coração / Always in My Heart (Warner Bros.), com Walter Huston, Gloria Warren; Fruta Cobiçada / Between Us Girls (Universal) com Diana Barrymore, Robert Cummings. 1944 – Quatro Moças Num Jeep/ Four Jills in a Jeep (Twentieth Century-Fox) com Carole Lombard, Martha Raye, Mitzi Mayfair. Neste grupo de filmes, sobressaiu Sempre no Meu Coração, apenas por ter sido grande sucesso de público no Brasil, tendo ficado 22 semanas em cartaz no Rio de Janeiro

Durante a Segunda Guerra Mundial Kay colaborou com o esforço de guerra, ajudando a divertir as tropas em shows domésticos e no exterior, visitando hospitais e servindo mesas em cantinas especiais para soldados. Em abril de 1945  esteve no Brasil, cumprindo missão da U. S. O. Camp Shows, primeiro no Recife e depois no Rio de Janeiro.

Em 1945-1946 Kay produziu com Jeffrey Bernerd seus três filmes derradeiros, todos de baixo orçamento e distribuídos pela Monogram:  1945 – Divórcio / Divorce com Bruce Cabot; Esposas ErrantesAllotment Wives com Paul Kelly. 1946 – Precisa-se de uma Esposa / Wife Wanted com Paul Cavanagh. Em 1946 ela se retirou do cinema e, exceto algum trabalho no palco e aparições na televisão no início dos anos 50, evitou totalmente os refletores. Quando faleceu em 1968, vitimada pelo cancer, deixou a maior parte da sua fortuna de quase 2 milhões de dólares para a Seeing Eyes, Inc., organização que treinava cães para serem guias de cegos.

MATHILDE COMONT

Ela era uma atriz nos filmes de Hollywood dos anos 20-30, que sempre chamava atenção pelo seu físico imponente e suas qualidades interpretativas. Hoje talvez ninguém mais se lembre dela, mas tendo revisto recentemente  suas atuações em O Ladrão de Bagdad / The Thief of Bagdad e O Bamba do Rio Verde / The Hard Hombre e visto pela primeira vez Rosita / Rosita (em uma cópia restaurada exibida no canal franco-alemão Arte, que me foi enviada por Sergio Leemann), achei que ela merecia uma homenagem.

Mathilde Comont

Mathilde Comont (1886-1938) apareceu primeiramente no cinema em oito curtas-metragens franceses : 1908 – Mon Chef Vient Dejeuner (Dir: Maurice de Féraudy / Gaumont); Les Vingt-Huit Jours de Clairette (Dir: Maurice de Féraudy / Gaumont). 1909 – La Dormeuse (Dir: Michel Carré / Pathé-Frères). Ordre du Roi (Dir: Michel Carre´/ Pathé-Frères); Mathurin Fait la Noce (Dir: Michel Carré / Pathé-Frères); Mange ta Soupe (Dir: Georges Monca / Pathé-Frères); Ce que Femme Veut (Dir: Georges Monca (Pathé-Frères). 1910 – L´Inspecteur des Becs-de-Gaz (Dir: René Chavance / Pathé-Frères).

Mathilde e Stan Laurel

Instalada definitivamente nos EUA, participou de alguns filmes curtos: não creditada em Max in a Taxi e Max Wants a Divorce, ambos de 1917 (Dir: Max Linder / Essanay); A Bad Little Good Man / 1917 e Eddie Get the Mop / 1918 (Dir: William Beaudine, argumento King Vidor / Nestor); Romance de um Apache / A Rogue´s Romance / 1919 (Dir: James Young / Vitagraph); não creditada em O Lírio do Reino Florido / A Tale of Two Worlds / 1921 (Dir: Frank Lloyd / Goldwyn); The Handy Man / 1923 (Dir: Robert Kerr / Quality Film) contracenando com Stan Laurel.

Seus dois primeiros papéis importantes ocorreram em duas grandes produções: Rosita / 1923 (Dir: Ernst Lubitsch), interpretando a mãe de Rosita (Mary Pickford) e O Ladrão de Bagdad / 1924 (DIr: Raoul Walsh), filme de aventuras orientais protagonizado por Douglas Fairbanks no qual, sem receber crédito, assumiu a figura masculina do Príncipe Persa, de bigode e turbante.

Mathilde ao lado de Mary Pickford em Rosita

Mathilde em O Ladrão de Bagdad

Ainda na década de trinta, fez mais 27 filmes como coadjuvante, em pequenos papéis ou apenas pontas, algumas vezes sem ser creditada: 1924 – O Espírito da Meia-Noite / Mademoiselle Midnight (Dir: Robert Z. Leonard); Confissão Suprema / His Hour (Dir: King Vidor). 1925 – não creditada em Playing with Souls (Dir: Raph Ince): A Falência do Casamento / If Marriage Fails (Dir: John Ince). 1926 – A Fera do Mar / The Sea Beast (Dir: Millard Webb); A Montanha Encantada / The Enchanted Hill (Dir: Irvin Willat); A Dansarina de Montmartre / The Girl from Montmartre (Dir: Alfred E. Green); Um Grito D´Alma / The Far Cry (Dir: Silvano Balboni); La Bohème / La Bohème (Dir: King Vidor); A Felicidade Depende do Dinheiro / The Gilded Highway /  (Dir: J. Stuart Blackton); não creditada em Kiki / Kiki (Dir:  Clarence Brown); Meia-Noite em Paris / Paris at Midnight (Dir: E. Mason Hopper); Coração Que Hesita / Volcano (Dir: William K. Howard); Amor Napolitano / (Dir: George Archainbaud); não creditada em Sonhos e Realidade / The Passionate Quest (Dir:  J. Stuart Blackton); Sangue por Glória  / What Price Glory (Dir: Raoul Walsh); A Flor dos Cortiços / Rose of the Tenements (Dir: Phil Rosen). 1927 – em cenas extirpadas de Que Escândalo! / The Whole Town´s Talking (Dir: Edward Laemmle); Dois Xarás e uma Xarada / The Wrong Mr. Right  (Dir: Scott Sidney); Os Amores de Carmen / The Loves of Carmen (Dir: Raoul Walsh); Anna Karenina / Love (Dir: Edmund Goulding); Ruas de Shanghai / Streets of Shanghai (Dir: Louis J. Gasnier). 1928 – Noite de Estréia ou O Caminho de uma Mulher / A Woman´s Way (Dir: Edmund Mortimer); Ramona / Ramona (Dir: Edwin Carewe); Una Nueva y Gloriosa Nación / The Beautiful Spy (Co-Prod. Argentino-Americana. Dir: Albert Kelly); You Know What Sailors Are (Prod britânica. Dir: Maurice Elvey); Paris de Contrabando / The Rush Hour.

Mathilde e Lilian Gish  em La Bohème

Mathilde em Meia-Noite em Paris

Mathilde em A Woman´s Way

Às vezes o nome de Mathilde aparecia como Matilde ou Mathilda nos créditos. Entre seus melhores papéis (Madame Benoit em La Bohème, com Lilian Gish e John Gilbert; Camille em Sangue por Glória com Victor MacLaglen, Edmund Lowe, Dolores Del Rio; Emilia em Os Amores de Carmen com Dolores Del Rio, Don Alvarado, Victor MacLaglen; Marda em Ramona com Dolores Del Rio, Warner Baxter) destaca-se o de Madame Vauquer, a dona da pensão do romance famoso de Honoré de Balzac, “Le Père Goriot”, em Meia-Noite em Paris, adaptação cinematográfica (com muita liberdade) da obra do grande escritor, na qual estão presentes também outros conhecidos personagens da Comédia Humana como Vautrin (Lionel Barrymore), Eugene de Rastignac (Edmund Burns) e Pai Goriot (Emile Chautard).

Mathilde com Ramon Novarro em Seviha de Meus Amores

Nos anos 30 foram mais 30 longas-metragens e 1 curta: 1930 – O Monstro Marinho / The Sea Beast (Dir:  Lionel Barrymore, Wesley Ruggles); Sevilha de Meus Amores / Call of the Flesh (Dir: Charles Brabin); Romance / Romance (Dir: Clarence Brown); Just Like Heaven (Dir:  Roy William Neill); não creditada em O Chicote / The Lash(Dir: Frank Lloyd); não creditada em Along Came Youth (Dir: Lloyd Corrigan, Norman Z. McLeod); Le Chanteur de Séville (Dir: Ramon Novarro, versão de Sevilha de Meus Amores / Call of the Flesh); não creditada em The Lady Who Dared (Dir: William Baudine); O Bamba do Rio Verde / The Hard Hombre  (Dir: Otto Brower); Melodia Cubana / The Cuban Love Song ( Dir: W. S. Van Dyke); não creditada em Monstros / Freaks (Dir: Tod Browning); não creditada em Coquetel de Amores / Lady With a Past (Dir: Edward H. Griffith); não creditada em Mulheres e Aparências / Careless Lady / 1932 (Dir: Kenneth MacKenna); L´Athlète Incomplet (Dir: Claude Autant Lara, versão de Sêde de Escândalo / Local Boy Makes Good). 1933 – Rindo-se da Vida / Laughing at Life (Dir: Ford Beebe); não creditada em Vidas sem Rumo / The Devil´s in Love (Dir: William Dieterle); não creditada em Sócios no Amor / Design for Living (Dir: Ernst Lubitsch). 1934 – não creditada em Paixão de Zíngaro / Caravan (Dir: Erik Charell); A Torch Tango (curta-metragem musical com Ruth Etting); Idílio Interrompido / All Men Are Enemies (Dir: George Fitzmaurice); não creditada em Promessa de Mãe / A Wicked Woman (Dir: Charles Brabin). 1935 – Flirt / Escapade (Dir: Robert Z. Leonard); Um Brinde ao Amor / Here´s to Romance (Dir: Alfred E. Green); Waterfront Lady (Dir: Joseph Santley). 1936 – não creditada em Heróis do Ar / Ceiling Zero (Dir: Howard Hawks); não creditada em O Bandoleiro de El Dorado / Robin Hood of Eldorado (Dir: William Wellman); Pobre Menina Rica / Poor Little Rich Girl (Dir: Irving Cummings); Adversidade / Anthony Adverse (Dir: Mervyn LeRoy); não creditada em Noite sem Fim / The Longest Night (Dir: Errol Taggart); Along Came Love (Dir: Bert Lytell). 1937 – Porque o Diabo Quis / God´s Country and the Woman (Dir: William Keighley); não creditada em Moça de Expediente / Wise Girl (Dir: Leigh Jason).

Hoot Gibson, Lina Basquette e Mathilde em O Bamba do Rio Verde

Gostei muito de Mathilde, ou Matilde, como saiu o nome dela como o terceiro nome nos créditos logo depois de Hoot Gibson e Lina Basquette em O Bamba do Rio Verde, um dos melhores westerns cômicos do cowboy menos convencional da História do Western.  No filme, Hoot é William Penn “ Peaceful” Patton, rancheiro simplório  queridinho de sua mamãe, que pede emprego de capataz na fazenda de uma linda viúva, Isabel Martinez (Lina Basquette). Confundido com um bandido perigosíssimo, conhecido como The Hard Hombre, ele consegue defender os interesses de sua patroa, pois todos estremecem de medo diante dele, inclusive Maria Romero, vizinha de Isabel, o personagem interpretado por Matilde. Quando o verdadeiro Hard Hombre aparece e ameaça a mãe de  “ Peaceful”, ele fica furioso, acaba com o fora-da-lei e conquista Isabel.

Grande Mathilde

Vi Mathilde também em outros filmes (v. g. Sevilha de Meus Amores, no qual ela é La Rumbarita, que aluga o quarto onde Juan de Dios (Ramon Novarro), Maria Consuelo (Dorothy Jordan) e Esteban (Ernest Torrence) se hospedam em Madrid; Pobre Menina Rica como a esposa de Tony (Henry Armetta), tocador de realejo italiano em cuja casa Barbara (Shirley Temple) se abriga depois de ter ficado sozinha na rua quando a empregada que a conduzia para uma nova escola foi atropelada por um carro) sempre com o maior prazer, por mais breve que tivesse sido as suas aparições na tela (v. g. como a cozinheira de Norma Talmadge em Kiki ou como uma cigana dançando com Eugene Pallette em Paixão de Zíngaro).

Mathilde Comont morreu prematuramente aos 51 anos de idade, vitimada por um ataque cardíaco pouco depois do lançamento de seu último filme.

WILLIAM WITNEY

William Nuelsen Witney (1915-2002) nasceu em Lawton, Oklahoma. Sua família mudou-se para a Califórnia e seu pai polaco-americano morreu quando ele tinha quatro anos de idade. Em 1933, seu cunhado, Colbert Clark, diretor de seriados na Mascot, utilizou-o como figurante no seriado Os Cavaleiros Mascarados ou Sacrifício Glorioso / Fighting With Kit Carson e depois lhe arrumou um emprego como ajudante de escritório neste estúdio da Poverty Row. Após algum tempo, Witney serviu como segundo assistente de direção na filmagem do seriado O Dominador das Selvas / Law of the Wild / 1934 (Dir: Armand Schaefer e B. Reeves Eason), estrelado por Rex, o Rei dos Cavalos Selvagens e Rin-Tin-Tin. Em 1935, quando a Mascot se fundiu com a récem formada Republic Pictures ele foi promovido a assistente da montadora Helene Turner, em uma equipe supervisionada por Joseph H. Lewis que, logo depois passou a ser diretor, sendo substituído por Murray Seldene. O próximo passo de Witney no estúdio foi como continuista e sua primeira atuação neste cargo foi na filmagem de A Deusa de Joba / Darkest Africa (Dir: B. Reeves Eason, Joseph Kane), o primeiro seriado da Republic.

William Witney

Em 1937, Witney assumiu a direção do seriado O Aliado Misterioso / The Painted Stalllion. Alan James dirigiu no primeiro dia de filmagem e Ray Taylor no segundo dia. Esta era uma prática comum na realização de seriados: o revezamento de dois diretores, pois seria demais esperar que apenas um homem pudesse filmar centenas de cenas dia após dia. Quando um se ocupava da direção, o outro aproveitava sua folga, preparando-se para o próximo dia de filmagem. A certa altura, Ray Taylor teve que ser afastado por causa de seu problema com o alcoolismo e então o supervisor da produção, Larry Wickland, pediu a Witney para substituí-lo momentaneamente com a promessa de que iria logo convocar outro diretor para o lugar de Taylor. Ouvindo com atenção os conselhos do primeiro cameraman William Nobles, Witney  deu conta do recado, e acabou permanecendo no novo pôsto até o final da filmagem.

Julia Thayer em O Aliado Misterioso

No enredo do seriado, Clark Stuart (Ray Corrigan), a caminho de Santa Fe para negociar um tratado entre os Estados Unidos e o governador de New Mexico, junta-se a um comboio de carroças liderado por Walter Jamison (Hoot Gibson), Neste seguem também Jim Bowie (Hal Taliaferro) e um jovem Kit Carson (Sammy McKim)  e mais tarde David Crockettt (Jack Perrin) se torna um aliado do grupo contra Alfredo Dupray (LeRoy Mason), que controla o território de Santa Fe enquanto o novo governador não chega e, com a ajuda de Zamorra (Dunca Renaldo) e seus capangas, planeja sabotar o tratado e substituir Stuart por um de seus homens.

Cena de O Aliado Misterioso

Os roteiristas inventaram um personagem original: uma jovem branca montada em um cavalo malhado e vestida com um cocar emplumado, única sobrevivente de um massacre, que fôra criada pelos índios, ajudava o comboio a chegar ao seu destino, desfechando uma flecha sibilante para avisá-los do perigo. Para o papel da bela amazona escolheram uma jovem atriz que havia sido uma Wampas Baby Star. Seu nome era Jean Carmea, mas foi creditada no filme como Julia Thayer.

Witney compartilhou com Alan James a direção de um segundo seriado, Guarda-Costa Alerta! / SOS Coast Guard (com Ralph Byrd, Bela Lugosi e Maxine Doyle), e quando terminou seu trabalho, realizou um western, O Trio do Gatilho / The Trigger Trio, para a série The Three Mesquiteers com Ray Corrigan, Max Terhune e Ralph Byrd (substituindo Bob Livingstone, que sofrera um acidente enquanto nadava em um rio).

Após terminar a filmagem de Guarda-Costa Alerta, John English substituiu Alan James como o outro diretor no próximo seriado A Volta do Zorro  / Zorro Rides Again com John Carroll, Helen Christian, Reed Howes. John English era canadense e havia trabalhado na MGM como montador em alguns filmes de Irving Thalberg. Eles formaram um dupla muito eficiente proporcionando 17 seriados inesquecíveis. 1938 – O Guarda Vingador / The Lone Ranger¡ Demônios em Luta / Fighting Devil Dogs¡ A Volta de Dick Tracy / Dick Tracy Returns¡ O Falcão da Floresta / Hawk of the Wilderness. 1939 – A Volta do Cavaleiro Solitàrio / The Lone Ranger Rides Again¡ Os Demônios do Círculo Vermelho / Daredevils of the Red Circle¡ Novas Aventuras de Dick Tracy / Dick Tracy´s G-Men¡ A Legião do Zorro / Zorro´s Fighting Legion. 1940 – Os Tambores de Fu Manchu / Drums of Fu Manchu¡ Aventuras de Red Ryder/ Adventures of Red Ryder¡ O Rei da Polícia Montada  / King of The Royal Mounted¡O Misterioso Dr. Satan / Mysterious Dr. Satan. 1941 – O Homem de Aço / Adventures of Captain Marvel¡ A Filha das Selvas / Jungle Girl¡ Contra a Quinta Coluna / King of the Texas Rangers¡ Dick Tracy Contra o Crime/ Dick Tracy´s vs Crime. Destaco em negrito os melhores.

Cena de O Guarda Vingador

Em O Guarda Vingador, após a Guerra Civil, cinco Texas Rangers  – Allen King (Lee Powell), Bert Rogers (Herman Brix), Dick Forrest (Lane Chandler), Bob Stewart (Hal Taliaferro) e Jim Clark (George Lentz) – combatem um bando de fora-da-lei liderado pelo indivíduo chamado Jeffries (Stanley Andrews). Eles são auxiliados por um cavaleiro mascarado (montado no seu esperto cavalo Silver) e seu fiel companheiro, o índio Tonto (Chief Thundercloud). Aproveitando o personagem criado por Fran Strayer para um programa de rádio, o seriado distingue-se principalmente pelo elemento de mistério original, pois ficamos sem saber a identidade, não do vilão, mas sim do herói, até o último episódio. De resto, o espetáculo segue a fórmula costumeira dos seriados de western com muitas explosões, diligências  desgovernadas, quedas no abismo, brigas etc.

Em Demônios em Luta, Tom Grayson (Lee Powell) e Frank Corby (Herman Brix), tenentes do Corpo de Fuzileiros Navais, cumprem a missão de encontrar o criminoso conhecido apenas como ¨The Lightning¨, que usa um raio artificial para conseguir seus objetivos.  Os dois militares são apoiados por um grupo que inclui o coronel Grayson (Sam Flint), pai de Tom¡ Warfield (Hugh Sothern), rico fabricante de maquinária elétrica¡ Janet (Eleanor Stewart), sua assistente¡ e Crenshaw (Perry Ivins, famoso inventor. Aos poucos, torna-se óbvio que um destes é o vilão. O seriado tem diversos cenários  (selva asiática, ilha dos Mares do Sul, San Francisco), um vilão carismático (cuja indumentária lembra a do Darth Vader) e uma variedade de cenas de ação  (debaixo do mar, em lanchas, aviões, zeppelins, submarinos, cavernas etc.). Enfim, material suficiente para agradar o público.

 

Herman Brix em O Falcão da Floresta

Em O Falcão da Floresta, em uma ilha vulcânica, o Dr. Munro (Tom Chatterton), sua filha Beth (Jill Martin) e o namorado desta, Allen Kendall (George Eldridge), confrontam-se com um grupo de contrabandistas, liderados por Solerno (William Royle) e com índios hostís, tendo à frente o feticeiro Yellow Weasel (Monte Blue). Kioga (Herman Brix), um homem branco, filho de um cientista amigo de Munro, que fora salvo de um naufrágio ainda bebê e criado pelo índio Mokuyi (Noble Johnson), aparece para proteger os membros da expedição. Em um cenário suntuoso de montanhas e florestas virgens, Kioga anda pelas árvores, usando seu laço como cipó e pratica toda sorte de esforços para ajudar o Dr.Munro e seus amigos, demonstrando um fôlego inesgotável. Além da bela paisagem e de um ator em plena forma física, o seriado tem a seu crédito uma intriga com muita aventura, parecido com aquela dos livros de James Fenimore Cooper e Robert Louis Stevenson.

 

Em Demônios do Círculo Vermelho, o prisioneiro 39013 (Charles Middleton) escapa da penitenciária e começa a se vingar de Granville (Miles Mander), seu ex-patrão, praticando atos de sabotagem nas fábricas deste. Três amigos atletas de circo, Gene (Charles Quigley), Tiny (Herman Brix) e Burt (David Sharpe), que se apresentam como Os Demônios do Círculo Vermelho, ficam indignados quando um irmão deles morre em consequência de um atentado planejado pelo 39013 e resolvem levar o criminoso à Justiça. O espetáculo tem alguns componentes originais (três heróis em vez de um¡ o vilão que se disfarça com uma máscara reproduzindo o rosto de sua vítima) e boas cenas de ação, destacando-se aquela em que Gene percorre o túnel submarino de motocicleta, tentando escapar da inundação, e todas as lutas tendo como cenário as instalações fotogênicas das fábricas.

 

Cena de Os Tambores de Fu Manchu

Em Os Tambores de Fu Manchu, Fu Manch (Henry Brandon) lidera uma organização secreta cujo propósito é fomentar a guerra na Ásia Central. Ajudado por sua filha, Fah Lo Suee (Gloria Franklin), ele procura o cetro perdido de Gengis Khan, que lhe dará autenticidade como um novo conquistador do mundo. Sir Nayland Smith (William Royle), representante do British Foreign Office e o jovem Alan Parker (Robert Kellard), filho de um arqueólogo assassinado por Fu Manchu, impedem que as intenções maléficas deste se concretizem. Inspirado no personagem de Sax Rohmer, o seriado é um dos melhores da Republic, distinguindo-se pela ênfase dada aos elementos de mistério e pelos imaginativos momentos de perigo arquitetados pelo diabólico oriental (v. g. Allan caindo em uma armadilha onde um polvo o esperava com seus ansiosos tentáculos, o lagarto envennenado na cama de Sir Nayland etc.). Em suma, algo mais do que a fórmula habitual de socos e explosões.

Tommy Cook e Donald Barry em As Aventuras de Red Ryder

Em Aventuras de Red Ryder, quando Calvin Drake (Harry Worth), o banqueiro de Mesquita, fica sabendo que uma ferrovia vai ser construída naquela região, ele e seus capangas Ace Hanlon (Noah Beery) e One-Eye Chapin (Bob Kortman) intimidam os rancheiros para ficar com suas terras. Red Ryder (Donald Barry) e seu pai, o Coronel Tom Ryder (William Farnum), enfrentam os pistoleiros.. Com a ajuda do indiozinho Little Beaver / Filhote de Castor (Tommy Cook) e Cherokee (Hal Taliaferro), Red põe fim às atividades dos bandidos. O herói, criado nos quadrinhos por Fred Harman em 1934, chamava-se inicialmente Bronc Peeler (Bronco Piler no Brasil)¡ a partir de 1938 o nome do vaqueiro mudou para Red Ryder. Dos seriados no gênero western é um dos mais movimentados, destacando-se, além do mocinho esquentado e bom de briga, o indiozinho Navajo, sempre atento e prestativo, com o qual todo garoto se identifica.

Allan Lane em O Rei da Polícia Montada

Em O Rei da Polícia Montada, o Sargento King da Polícia Montada do Canadá (Allan Lane) impede que espiões comandados por Juan Kettler (Robertr Strange) e seu capanga Wade Garson (Harry Cording) usem uma substância denominada Complexo X para fins destrutivos. Inspirado no personagem das histórias em quadrinhos, criado por Zane Grey, o seriado é um excelente northwestern com elementos modernos. A cavalo, em automóvel, lancha, trem e avião, o sargento King continua a luta contra os agentes inimigos, escapando de desastres em todos estes veículos, sem mencionar os momentos em que se safa de um incêndio ou de ser retalhado por uma serra elétrica etc. A melhor cena de ação, no entanto, acontece quando King dá um salto espetacular de uma ponte para cima de um bandido que está fugindo, e os dois, ainda brigando, são arrastados pelas águas de uma represa em direção a uma cachoeira.

Cena de O Misterioso Dr. Satã

 

Em O Misterioso Dr. Satan, o Dr. Satã (Eduardo Ciannelli), misterioso mestre do crime, inventou um robô, mas necessita do controle remoto desenvolvido por um eminente cientista, Dr. Scott (C. Montague Shaw). Suas tentativas para obtê-lo são frustradas pela aparicão do Copperhead (um homem com uma máscara sugerindo a cabeça de uma cobra venenosa) que, na realidade, é Bob Wayne (Robert Wilcox), um rapaz que deseja proteger a sociedade das maquinações do Dr. Satã. O seriado está entre os melhores da Republic e, além de um vilão diferente (porque elegante), apresenta cenas espetaculares com os dublês, salientado-se aquele salto que o  Copperhead dá de uma varanda do segundo andar de uma casa, indo cair sobre o bandido lá embaixo – um pulo realmente sensacional.

Tom Tyler em O Homem de Aço

Em O Homem de Aço, Billy Batson (Frank Coghlan Jr.), assistente do operador de rádio de uma expedição científica no Sião, é o único do grupo que não penetra na câmara proibida de uma tumba sagrada e, por isso, recebe do velho guardião do templo, Shazam, o poder mágico de se transformar no indestrutível Capitão Marvel (Tom Tyler). Assim, ele vai enfrentar o Escorpião  (na realidade um dos membros da expedição), para impedir que este se apodere de uma arma perigosíssima  encontrada na tumba. Trazer um herói  sobre-humano dos quadrinhos para as telas , de um modo que a platéia o aceitasse, não era uma tarefa fácil, mas a Republic desempenhou-a com louvor. O que mais chama a atenção no seriado  são as cenas de vôo do Capitão Marvel, que parecem absolutamente reais graças aos efeitos especiais de Howard Lydecker e das acrobacias do excelente dublê David Sharpe.

 

Frances Gifford em A Filha das Selvas

A Filha das Selvas, baseado em um romance de Edgar Rice Burroughs, tem como heroína uma jovem criada nas selvas da África chamada Nyoka (Frances Gifford). Auxiliada por dois aviadores, Jack Stanton (Tom Neal) e Curly Rogers (Eddie Acuff), Nyoka enfrenta os vilões que mataram seu pai e estão à procura de diamantes. A grande atração do espetáculo, além das lindíssimas pernas da srta. Gifford são as acrobacias de Nyoka nos cipós, muito mais sensacionais do que aquelas executadas por Johnny Weissmuller nos filmes de Tarzan. A melhor delas ocorre quando Nyoka vê o menino atacado pelo crocodilo, dá um salto mortal ao passar de um cipó para outro e depois, com a faca entre os lábios, mergulha no rio, para lutar contra a fera.

Em Contra a Quinta Coluna, a ação transcorre nos tempos modernos, envolvendo sabotadores que operam no Texas, usando como base um gigantesco Zeppelin. Para o papel do Texas Ranger Tom King, a Republic contratou o craque do futebol American Sammy Baugh, e ele se comportou como um verdadeiro astro de seriado. A cena mais emocionante ocorre quando os sabotadores dinamitam uma montanha para soterrar um trem. O mocinho aguarda no alto de uma colina e cai sobre o teto do trem quando este passa velozmente. A locomotiva entra em um túnel cavado na montanha. King penetra na cabine de comando e a explosão ocorre. No episódio seguinte, ele grita para o maquinista “Acelere!”, e a locomotiva dispara que nem um torpedo para fora da montanha, livrando-se do desmoronamento.

Witney dirigiu mais 4 seriados sozinho (O Terror dos Espiões / Spy Smasher, Os Perigos de Nyoka / Perils of Nyoka, Polícia  Montada Contra a Sabotagem / King of the Mounties, O Dragão Negro  / G-Man vs The Black Dragon) e um co-dirigido com Fred Brannon.  O Espirito Escarlate / The Crimson Ghost.

Cena de O Terror dos Espiões

Em O Terror dos Espiões, com a ajuda de seu irmão gêmeo Jack, o Spy Smasher, na realidade Allan Armstrong (Kane Richmond em papel duplo), combate o Máscara, líder de uma rede de espionagem alemã na América. Eles protegem o almirante Corby (Sam Flint), pai da noiva de Jack, Eve (Marguerite Chapman), e contam com a colaboração de Pierre Durand (Frank Corsaro), um combatente da França Livre. Baseada nas histórias em quadrinhos criadas em 1941 por Bill Parker, o seriado é excelente, não só pelos efeitos especiais e pela acão dos dublês, mas tambvém porque tem uma trama bem construída, boas caracterizações e uma fotografia até, em certos momentos, artística. A seqûencia  mais espetacular é aquela em que Spy Smasher e Jack perseguem o carro dos bandidos em uma motocicleta. Eles cortam caminho subindo uma colina, mas a motocicleta derrapa. O Spy Smasher então corre para o alto da colina e salta sobre o carro dos bandidos, que passa lá embaixo em alta velocidade.

Lorna Gray e Kay Aldridge em Os Perigos de Nyoka

Como foi a Republic que criou o nome de Nyoka no seriado A Filha das Selvas, o estúdio ficou com o direito de filmar uma continuação usando aquele nome, sem se basear em um romance de Edgar Rice Burroughs. O novo seriado tinha uma nova atriz (Kay Aldridge), um novo mocinho, Dr. Larry Grayson (Clayton Moore), em momentos eletrizantes (v. g. Nyoka escapando de uma carroça em chamas que despenca em um desfiladeiro, de ser retalhada por uma lâmina em movimento pendular, de cair em um poço de lava derretida, de ser esmagada por pregos em forma de estalactite etc.)¡ porém  a heroína não dava mais os maravilhosos saltos mortais no cipó como fazia sua predecessora. O vilão desta vez é uma mulher, Vultura (Lorna Gray), com quem Nyoka trava uma luta corpo a corpo no final.

A ação de O Dragão Negro trancorre durante a Segunda Guerra Mundial. A agente britânica Vivian Mash (Constance Worth), une-se ao investigador especial americano Rex Bennett (Rod Cameron) e a Chang (Roland Got) do Serviço Secreto Chinês, para destruir a Sociedade do Dragão Negro, liderada pelo satânico Haruchi (Nino Pipitone). Quando Haruchi e seus capangas provocam vários afundamentos , colocando um ingrediente incendiário na pintura dos navios, os agentes percebem o poder  e a engenhosidade de seu oponente. O seriado é bem animado e tem boas cenas de briga. No último episódio, ocorre um dos momentos mais excitantes quando, perseguido por Rex, Haruchi foge em uma lancha carregada de explosivos. Rex pula para a lancha de Haruchi, luta com ele e o deixa desacordado, pouco antes do submarino japonês submergir. Rex salta, a lancha bate no submarino, e ambos explodem.

Witney e Roy Rogers

Além de O Trio do Gatilho, Witney dirigiu outro exemplar da série The Three Mesquiteers, Heróis do Sertão / Heroes of the Saddle / 1940¡ um western com Don Barry, O Seis de Paus / Outlaws of Pine Ridge, 27 westerns de Roy Rogers (1946 – Luar do Sertão Texano / Roll On Texas Moon¡ Nas Terras de Oklahoma / Home in Oklahoma¡ Delegado de Saias / Heldorado. 1947 – A Barca do Jogo / Apache Rose¡ Sinos de San Angelo / Bells of San Angelo¡ Primavera nas Ser / Springtime in the Sierras¡ Na Velha Senda / The Old Spanish Trail. 1948  – Aconteceu no Sertão / The Gay Ranchero¡ Balas Traidoras / Under California Stars¡ Amigo Fiel / Eyes of Texas¡  Sob o Luar de Nevada / Night Time in Nevada¡ A Sineta de Prata / Grand Canyon Trail¡ Carga Humana / The Far Frontier. 1949 – O Mistério do Lago / Susanna Pass¡ Trilha do Perigo / Down Dakota Way¡ Cavalgada do Ouro / The Golden Stallion. 1950 – Médico da Roça / Bells of Coronado¡ Crepúsculo na Serra / Twilight in the Sierras¡ Vida de Circo / Trigger Jr.; Comoção na Fronteira / Sunset in  the West¡   Barragem Maldita / North of the Great Divide¡ Cowboys em Desfile / Trail of Robin Hood. 1951 – Foguete Misterioso / Spoilers of the Plains¡ Acusação Injusta / Heart of the Rockies¡ O Paladino da Lei / In Old  Amarillo¡ Ao Sul de Caliente / South of Caliente¡ Reduto de Assassinos / Pals of the Golden West), 9 westerns de Rex Allen (1952 – Cavaleiro do Colorado / Colorado Sundown¡ O Último Mosqueteiro / The Last Musketeer¡ Raposas  da Fronteira / Border Saddlemates¡ O Caminho do Terror / Iron Mountain Trail¡ Golpe Traiçoeiro / Old Oklahoma Plains¡ Emboscada Sangrenta / South  Pacific Trail. 1953 –  Flecha Ligeira / Old Overland Trail¡ O Salto da Morte / Down Laredo Way¡ O Vale do Medo / Shadows of Tombstone), 28 filmes de diversos gêneros para vários estúdios (1952 – Garota Infernal / The WAC From Walla Walla. 1954 – Tropel de Vingadores /  of Shadows¡ Assassinos Desalmados / Headline Hunters¡ Ambição Desenfreada / The Fighting Chance.1955 – Massacre Traiçoeiro / Santa Fe Passage;  Homens Perversos / City of Shadows. 1956 – A Lei do Revólver / Stranger at My Door¡ Quadrilha Sanguinária / A Strange Adventure. 1957 – Destinos Cruzados / Panama Sal. 1958 – The Cool and the Crazy¡ Entre o Crime e a Lei / Juvenile Jungle¡ Jovens e Selvagens / Young and Wild¡ Gângsteres em Fúria / The Bonnie Parker Story¡ Paratroop Command. 1960 – O Vale da Traição / Valley of the Redwoods¡O Segredo dosArrecifes / The Secret of the Purple Reef. 1961 – O Laço Ameaçador / The Long Rope¡ Robur, o Conquistador do Mundo / Master of the World¡ The Cat Burglar. 1964 – Rifles Apaches / Apache Rifles (com Audie Murphy) 1965 – Brotinhos de Biquini / The Girls On the Beach¡ Bandoleiros do Arizona / Arizona Raiders (com Audie Murphy). 1967 – Os Rifles da Desforra / 40 Guns To Apache Pass (com Audie Murphy). 1970 –O Rebelde da Selva / Tarzan´s Jungle Rebellion (piloto da série de TV ¨Tarzan” , exibido nos cinemas)¡A Pedra Azul / The Blue Stone of Heaven. 1973 –Fuga da Ilha do Diabo / I Escaped From Devil’s´sIsland. 1975 – Darktown Strutters. 1982 – Showdown at Eagle Gap).

Entre 1954 e 1974 o incansável Witney dirigiu dezenas de episódios de várias séries de televisão.