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THELMA TODD-ZASU PITTS-PATSY DRAKE

Hal Roach, o produtor que formou a dupla Stan Laurel e Oliver Hardy, mais conhecidos no Brasil como O Gordo e o Magro, imaginou Thelma Todd e Zasu Pitts como o equivalente feminino de seus dois grandes comediantes. Entre 1931 e 1933, elas fizeram 16 comédias curtas. Quando ZaSu se desligou da parceria com Thelma, foi substituída por Patsy Kelly em mais 21 shorts produzidos entre 1934 e 1935.

Thelma Todd

Thelma Alice Todd (1905-1935) nasceu em Lawrence, Massachusetts, filha de um imigrante irlandês, John Shaw Todd e de uma imigrante do Canadá, Alice Elizabeth Edwards. Ex-professora e modelo em regime de tempo parcial, ela foi levada para a Paramount por um descobridor de talentos, quando ganhou o título de Miss Massachusets em 1925. O primeiro filme no qual apareceu foi Desafio à Mocidade / Fascinating Youth / 1926 e seu primeiro filme parcialmente falado, produzido pela First National, intitulou-se Nos Domínios de Satã / Seven Footprints to Satan / 1929.

Thelma Todd e Charley Chase em pose para a publicidade

Grouch Marx e Thelma Todd

Thelma e John Barrymore em O Conselheiro

Thelma Todd em O Falcão Maltês

Sua popularidade cresceu no início dos anos trinta, quando atuou em várias comédias curtas ao lado de Harry Langdon, Charley Chase, Laurel e Hardy; como leading lady em um longa metragem com estes últimos (Fra Diavolo / The Devil´s Brother) e em dois outros com os Irmãos Marx (Os Quatro Batutas /  Monkey Business / 1931 e Os Gênios da Pelota / Horse Feathers / 1932); contracenando com astros do porte de Clara Bow (Sangue Vermelho / Call Her Savage / 1932 e John Barrymore em O Conselheiro / Counsellor at Law / 1933); interpretando o papel da traiçoeira esposa de Miles Archer, o parceiro de Sam Spade (Ricardo Cortez) em O Falcão Maltês / The Maltese Falcon, primeira versão do romance de Dashiel Hammett; e nas comédias curtas com Zasu Pitts e depois Patsy Kelly, além de trabalhar em filmes de outros comediantes como Buster Keaton, Joe E. Brown e da dupla Wheeler e Wolsey. No seu filme derradeiro, A Princesa Boêmia / The Bohemian Girl, Thelma ocupava nos créditos o papel principal feminino ao lado do Gordo e do Magro. Thelma trabalhou sob o nome artístico de Alison Loyd em um filme do diretor Roland West, O Corsário / The Corsair / 1931.

Em agosto de 1934 ela abriu o Thelma Todd´s Sidewalk Café, que atraiu uma clientela diversificada de celebridades e também muitos turistas. Em 14 de dezembro de 1935, após participar de uma festa, Thelma foi encontrada morta caída sobre o volante de seu carro. Ela faleceu envenenada por monóxido de carbono; não ficou satisfatoriamente determinado se ela cometeu suicídio, foi assassinada por gângsteres que haviam tentado extrair dinheiro dela, ou se morreu acidentalmente. A infortunada atriz tinha apenas 29 anos de idade. Em vida recebeu um apelido carinhoso dos fãs: “The Ice Cream Blonde”.

ZaSu Pitts e Thelma Todd

Zasu Pitts (1894-1963), cujo verdadeiro nome era Eliza Susan Pitts, nasceu em Parsons, Kansas, filha de Rulandus Pitts e Nelly Shay. Os nomes das irmãs de seu pai, Eliza and Susan, serviram de base para seu apelido de ZaSu. Ela depois adotou o apelido profissional e legalmente. Em 1903, quando ZaSu tinha nove anos de idade, sua família mudou-se para Santa Cruz, Califórnia, onde ela estudou na Santa Cruz High School. Depois de ter feito sua estréia no palco em representações escolares e no teatro comunitário da cidade, ZaSu foi para Los Angeles. Depois de trabalhar em alguns filmes como figurante ou como parceira de Billy Franey em comédias de um rolo da Universal, obteve, por intermédio da roteirista Frances Marion, uma participação no fime A Princesinha / A Little Princess / 1917, estrelado por Mary Pickford.

ZaSu com Mary Pickford em A Princesinha

Zasu em Ouro e Maldição

ZaSu, Gus Meins e Thelma Todd

ZaSu obteve seu primeiro papel principal em A Estalagem do Tio Libório / Better Times / 1919 (Dir: King Vidor). No ano seguinte casou-se com Tom Gallery, com o qual formou dupla em alguns filmes. Em 1924, depois de firmar uma reputação como boa comediante ela obteve o maior papel dramático de sua carreira em Ouro e Maldição / Greed / 1924 de Erich von Stroheim e continuou servindo ao grande cineasta (v. g. Lua de Mel / The Honeymoon / 1928, A Marcha Nupcial / The Wedding March / 1928). Ainda nos anos 30 esteve no elenco de bons filmes (v. g. Monte Carlo / Monte Carlo / 1930 e Não Matarás / Broken Lullaby / 1932 de Ernst Lubitsch e Vamos à América  Ruggles of Red Gap / 1935), sucedeu Edna May Oliver como a solteirona detetive da série Hildergard Withers; atuou em filmes com Slim Summerville) e principalmente nos exemplares da série que compartilhou com Thelma Todd. Nos anos 40 / 50 seus filmes mais importantes foram Nossa Vida com Papai / Life With Father / 1947 (Dir: Michael Curtiz) ao lado de William Powell, Irene Dunne, Elizabeth Taylor e … E O Mulo Falou / Francis com Donald O´Connor e Patricia Medina, primeiro filme de uma série de sucesso popular. Na década de quarenta trabalhou também no rádio e no teatro e no decênio seguinte na televisão, destacando-se no Gale Storm Show da CBS no papel de Elvira Nugent.

Patsy Kelly  e Thelma Todd

Patsy Kelly (1910-1981), cujo verdadeiro nome era Bridget Sara Veronica Kelly, nasceu no Brooklyn, Nova York, filha dos imigrantes irlandeses John e Delia Kelly. Ela começou sua carreira no vaudeville como dançarina aos doze anos de idade e desfrutou de muita popularidade na Broadway no início dos anos 30, notadamente nas revistas musicais Earl Carroll Vanities, Earl Carroll Sketch Books e Wonder Bar. Patsy estreou no cinema em uma comédia curta da série Vitaphone Varieties de 1931 e no mesmo ano Hal Roach contratou-a para substituir ZaSu Pitts como co-estrela de Thelma Todd para o período 1934-1935. Após a morte de Thelma, Patsy fomou dupla com Pert Kelton em uma comédia da série e depois em mais duas com Lyda Roberti. Quando a popularidade dos shorts começou a diminuir, Patsy passou para os longas-metragens, distinguindo -se com a cozinheira Etta em Sua Excelência, o Chofer / Merrily We Live / 1938 (Dir: Norman Z. McLeod), indicado para o Oscar em cinco categorias. Nos anos 50 aderiu à televisão e nos anos 60 participou de dois filmes classe A famosos, O Beijo Amargo / The Naked Kiss / 1964 de Samuel Fuller e O Bebê de Rosemary / Rosemary´s Baby / 1968 de Roman Polanski. Em 1971, ela retornou à Broadway em um relançamento de No, No Nanette, co-estrelando com sua amiga de infância Ruby Keeler. Patsy fez um tremendo sucesso como a criada piadista e sapateadora e ganhou o Tony Award de Melhor Atriz em um musical.

Thelma Todd e Patsy Kelly

Patsy e Thelma

Como observou Leonard Maltin (The Great Movie Shorts, Crown Publishers, 1972), Thelma e ZaSu forneceram o contraste certo para uma boa comédia, com a garota esperta Thelma geralmente tendo que livrar as duas de situações causadas pela ignorância inocente de ZaSu. Segundo Anke Sterneborg no Catálogo de uma Retrospectiva sobre Hal Roach publicado pela Stiftung Deutsche Kinemathek de Berlim em 1992, a substituição de ZaSu por Patsy Kelly implicou uma mudança radical no relacionamento entre as duas estrelas. ZaSu havia sido a vítima dos planos ambiciosos de Thelma; agora a própria Thelma é a vítima da turbulência e energia incontrolável de sua nova amiga. Seja qual for o esquema humorístico utilizado, o fato é que as três formidáveis comediantes conquistaram o público, particularmente em nosso pais.

ZaSu Pitts e Thelma Todd

FILMOGRAFIA THELMA TODD – ZASU PITTS

1931 – Let´s Do Things (Dir: Hal Roach); Amor a Muque / Catch As Catch Can (Dir: Marshall Neilan); Festa de Arromba / The Pajama Party (Dir: Hal Roach;) Companheiras de Guerra / War Mamas (Dir: Marshall Neilan); Farra de Praxe / On the Loose (Hal Roach). 1932 Bicho Precioso / Seal Skins (Gil Prat, Morey Lightfoot); Gripadas / Red Noses (Dir: Hal Roach); Criadinha de Confiança / Strictly Unreliable (Dir: George Marshall); Leão de Verdade / The Old Bull (Dir: George Marshall); Gente de Palco / Show Business (Dir: Jules White); Oh, Seu Doutor! / Alum and Eve (Dir: George Marshall); Ora Pílulas / Sneak Easily (Dir: Gus Meins). 1933 – Salão da Fuzarca / Asleep in the Fleet (Dir: Gus Meins); Vestidas à Francesa / Maids a la Mode (Dir: Gus Meins); A Grande Pechincha / The Bargain of the Century (Dir: Charley Chase); A Caminho de Hollywood / One Tracks Minds (Dir: Gus Meins).

Patsy e Thelma

FILMOGRAFIA THELMA TODD – PATSY KELLY

1933 – Beauty and the Bus (Dir: Gus Meins); Natureza Torta / Back to Nature (Dir: Gus Meins); Asas do Dia / Air Fright (Dir: Gus Meins). 1934 – Verifiquem Nossos Preços / Babes in the Goods (Dir: Gus Meins); Distintas Senhoritas / Soup and Fish (Dir: Gus Meins); A Caminho de Hollywood / Maid in Hollywood (Dir: Gus Meins;) Tua Perna Não Nega/ I´ll Be Suing You (Dir: Gus Meins); Bom Partido / Three Chumps Ahead (Dir: Gus Meins); Casinha Pequenina / One Horse Farmers (Dir: Gus Meins); Aberta por Engano / Opened by Mistake (Dir: James Parrott;) Pintado a Óleo / Done in Oil (Dir: Gus Meins); Viagem Acidentada / Bum Voyage (Dir: Nick Grinde). 1935 – Tesouro de Ilusão / Treasure Blues (Dir: James Parrott); Cante e Acalme-se / Sing, Sister, Sing (Dir: James Parrott); The Tin Man (Dir: James Parrott); Duas Desastradas / The Misses Stooge (Dir: James Parrott;) Slightly Static (Dir: William Terhune); Gêmeos por Encomenda / Twin Triplets (Dir: William Terhune); Hot Money (Dir: James W. Horne;) Top Flat (Dir: William Terhune); All -American Toothache (Dir: Gus Meins).

Pert Kelton e ZaSu

PATSY KELLY – PERT KELTON

1936 – Pan Handlers (Dir: William Terhune)

Lyda Roberti e Patsy Kelly

PATSY KELLY – LYDA ROBERTI

1936 – At Sea Ashore (Dir: William Terhune); Hill Tillies (Dir: Gus Meins); Hill Tillies (Dir:Gus Meins).

 

JEAN NEGULESCO

Ioan Negulescu (1900-1993) nasceu em Craiova, Rumênia, um dos oito filhos (teve seis irmãs e um irmão) do dono de um hotel e estudou no Colégio Nacional Carol I nesta mesma cidade. Aos quatorze anos de idade, como escoteiro, estava prestando serviços em um hospital militar durante a Primeira Guerra Mundial. Quando Georges Enesco veio tocar violino para os feridos, Negulesco desenhou um retrato dele, que o compositor famoso comprou. Ioan então decidiu ser pintor e estudar arte em Bucarest. Em 1920, ele foi para Paris, onde se matriculou na Academie Juliane e, para ajudar nas despesas, trabalhou como dançarino profissional no Hotel Negresco.

 

Jean Negulesco

Na sua autobiografia ”Things I Did and Things I Think I Did – A Holllywood Memoir”(Linden Press/Simon & Schuster, 1984) Negulesco conta que sua vida foi salva duas vezes pelo cinema. A primeira vez foi quando escapou de morrer em um desastre de automóvel porque, quando foi buscar sua mala para partir com seus amigos no Mercedes fatídico, passou diante de um cinema, onde estava sendo exibido Sangue por Glória / What Price Glory / 1926 com Dolores Del Rio e ele preferiu não viajar e ver o filme. A segunda vez foi quando mandou para o Salon d´Automne um nú artístico de sua autoria, que foi adquirido pelo famoso diretor da MGM Rex Ingram por três mil francos, quantia que garantiu sua subsistência por algum tempo.

Em 1927, Negulesco visitou Nova York para uma exposição de suas pinturas e depois se mudou para a Califórnia, onde ganhou a vida como retratista e começou a se interessar pelo cinema, realizando por contra própria um filme experimental, Three and a Day, ou seja, um dia na vida de três pessoas: um pintor (Mischa Auer), uma bailarina (Katya Sergaya) e um fazendeiro (John Rox).  Negulesco conseguiu convencer o talentoso cameramaniugoslavo Paul Ivano a fotografar sua “obra-prima” mas, sem aceitar seus conselhos técnicos, dirigiu o filme como bem queria e depois não conseguiu montá-lo, perdendo todas as suas economias, que haviam sido investidas na produção.

Entretanto, através de Mischa Auer, Negulesco conheceu Frank Tuttle em uma festa e este o convidou para desenhar sketches para a abertura de Esposa Improvisada / This is the Night / 1932 (produção da Paramount inicialmente intitulada Tonight We Sing). O fotógrafo Victor Milner gostou dos desenhos de Negulesco e lhe pediu sugestões para a colocação da câmera durante a filmagem. Contratado pela Paramount, o produtor Benjamin Glazer deu-lhe a incumbência de desenhar uma cena de estupro em Levada à Força / The Story of Temple Drake / 1933, que pudesse passar pela censura. Ele cumpriu muito bem sua tarefa e ainda supervisionou a filmagem desta sequência inesquecível, que perdurou na memória dos fãs de Miriam Hopkins, a Temple Drake nesta adaptação de “Sanctuary” de William Faulkner, bem dirigida por Stephen Roberts. Na Paramount, Negulesco atuou também como diretor de segunda unidade em Ondas Sonoras / The Big Broadcast / 1932; Beijos para Todos / Bed Time Story / 1933 e Adeus às Armas / Farewell to Arms / 1934 e co-dirigiu com Harlan Thompson Templo da Beleza / Kiss and Make Up / 1934.

Em 1936 Negulesco perdeu o emprego na Paramount. Seu protetor no estúdio, o executivo encarregado da produção, Sam Jaffe, também. Jaffe abriu uma agência e Negulesco lhe apresentou um argumento intitulado Rio, que ele conseguiu vender para Joe Pasternak (produtor da maioria dos filmes de Deanna Durbin na Universal) por dez mil dólares e ainda conseguiu que seu cliente fosse contratado para colaborar com o roteirista do filme que dele resultaria. Mas Negulesco, com os nove mil que lhe coube na transação (pois dez por cento dos dez mil ficou com o agente) preferiu conhecer o México, onde passou três meses no país, cujos aspectos pitorescos ele captou em 600 desenhos.

 

Em 1940 Negulesco ingressou na Warner Bros. como diretor de curtas-metragens para várias séries (Melody Masters; Technicolor Specials; Broadway Brevities e Featurettes), destacando-se os shorts sobre bandas, balés ou orquestras. Em 1941, ele fez seu primeiro longa-metragem Mulher Fatídica / Singapore Woman (com Brenda Marshall, David Bruce, Virginia Field), mas somente a partir de 1944, depois de reconhecida sua capacidade técnico-artística nos curtas, é que ele pôde demonstrar seu talento em sete longas-metragens (1944 – A Máscara de Dimitrios / Mask of Dimitrios; Os Conspiradores / The Conspirators. 1946 – Regeneração / Nobody Lives Forever; Três Desconhecidos / Three Strangers; Acordes do Coração / Humoresque. 1947 – O Vale do Destino / Deep Valley. 1948 – Belinda / Johnny Belinda) que, sem dúvida, constituíram a parte mais artisticamente eminente de sua filmografia.

Peter Lorre e Sidney Greenstreet em A Máscara de Dimitrios

Faye Emerson e Zachary Scott em A Máscara de Dimitrios

Baseado em um romance de Eric Ambler, A Máscara de Dimtrios é um drama criminal absorvente com um bom nível de suspense e originalidade. No enredo, o escritor de livros de mistério Cornelius Leyden (Peter Lorre) está viajando por Istanbul quando conhece o Coronel Haki (Kurt Katch), chefe da polícia secreta, que é um grande fã de seu trabalho. Através dele, Leyden fica sabendo que o corpo de um criminoso notório, Dimitrios Makroupolos (Zachary Scott), foi encontrado morto na praia. Parece que Makropoulos estava envolvido em toda espécie de atos ilegais imagináveis de homicídio, contrabando, chantagem a assassinato político. Fascinado, Leyden decide que Makroupolos seria um bom argumento para seu próximo livro e começa a pesquisar sobre sua vida, a partir do dossier de Haki sobre o criminoso. A investigação de Leyden o leva para muitos lugares da Europa, onde se encontra com várias pessoas que conheceram Makroupolos: Irana Prevaya  (Faye Emerson), a mulher que ele amou; Grodek (Victor Francen), que ele enganou; Bulic (Steve Geray), que ele desonrou e Mr. Peters (Sidney Greenstreet), que foi sua vítima e não está convencido da morte do criminoso. Este retrato de um personagem misterioso tal como foi visto por diversas pessoas o faz aparecer sucessivamente sob aspectos bem diferentes e mantém um interesse constante pelo relato, conduzido com vigor pelo cineasta. que contou com um excelente roteiro de Frank Gruber, uma câmara inspirada de Arthur Edeson e um elenco admirável.

Hedy Lamarr e Paul Henreid em Os Conspiradores

Os Conspiradores é um melodrama romântico em tempo de guerra mais ou menos na mesma linha de Casablancade Michael Curtiz. Após ter cometido um ato de sabotagem contra os nazistas, o holandês Vincent Van Der Lyn (Paul Henreid), foge para Lisboa, onde se encontra com Ricardo Quintanilla (Sidney Greenstreet) e seu grupo de conspiradores, que inclui Jan Bernaszak (Peter Lorre), Irene (Hedy Lamarr) e seu marido, Hugo Van Mohr (Victor Francen). Um dos conspiradores é assassinado por um traidor do grupo e Vincent é acusado do crime. Ele escapa da polícia portuguesa e, depois de vários acontecimentos, desmascara e mata o assassino, que não é outro senão o traidor Van Mohr, um nazista que se infiltrara entre os conspiradores. Negulesco teve dificuldades na filmagem depois que seu produtor Hal Wallis foi substituído, porém com o apoio de um conjunto de atores muito competentes (além dos citados, Steve Geray, Joseph Calleia e Eduardo Cianelli) e de uma fotografia (Arthur Edeson), cenografia (Anton Grot) e música (Max Steiner) apropriadas para criar uma atmosfera de intriga, ele conseguiu realizar um filme com uma ação movimentada. Curiosamente a nossa Aurora Miranda canta um fado em uma cantina de Lisboa.

John Garfield e Geraldine Fitzgerald em Regeneração

Walter Brennan e John Garfield em Regeneração

Regeneração é um drama criminal com um personagem bem conhecido nos filmes do imediato pós-guerra do veterano que retorna da Segunda Guerra Mundial e tenta retomar sua vida. Antes da guerra Nick Blake (John Garfield) era um escroque, criado nos quarteirões pobres de Nova York, que havia deixado uma certa quantia de dinheiro com sua amante Toni (Faye Emerson); mas esta encontrou um novo parceiro (Robert Shayne), dono de uma boate onde trabalha como cantora. Nick recupera à força seus dólares e, na companhia de seu amigo Al Doyle (George Tobias), vai para Los Angeles, onde eles encontram um velho mentor de Nick, Pop Gruber (Walter Brennan) e um grupo de golpistas chefiado por Doc Ganson  (George Colouris). Ganson propõe a Nick dar um golpe em uma viúva rica, Gladys Halvorsen (Geraldine Fitzgerald); porém Nick se apaixona por ela. Nick quer sair do acordo, mas Toni convence Ganson de que Nick está tentando trair o bando, resultando consequências trágicas. Com a ajuda de um bom roteiro (W. R. Burnett), de uma boa fotografia (Arthur Edeson) e de um elenco escolhido a dedo, Negulesco mantêm o interesse contínuo do espectador, embora a direção seja discreta, sem grandes efeitos cinematográficos.

Peter Lorre, Geraldine Fitzgerald e Sidney Greenstreet em Três Desconhecidos

Peter Lorre e Sidney Greenstreet em Três Desconhecidos

Três Desconhecidos é um drama criminal com elementos místicos tendo como tema a ambição de riqueza, ligando três destinos em contraste: o de Crystal Shakelford (Geraldine Fitzgerald) e o de dois homens – Jerome K. Arbutny (Sidney Greenstreet), advogado inescrupuloso e Johnny West (Peter Lorre), pianista alcoólatra – que ela atraiu para seu apartamento, a fim de fazer um pedido diante da estátua de uma deusa chinesa conhecida como Kwan Yin. Acredita-se que Kwan Yin fará realizar um desejo se ele for feito por três desconhecidos à meia-noite. Eles concordam em comprar mutuamente um bilhete de loteria e dividir o valor do bilhete premiado. Porém as coisas não ocorrem como planejado. Recebendo um excelente roteiro de John Huston e Howard Koch, contando mais uma vez com a fotografia primorosa  em preto e branco de Arthur Edeson e principalmente com três intérpretes perfeitos nos seus respectivos papéis, Negulesco, coordenou muito bem a passagem de um episódio para outro, realizando um filme inquietante com um final maravilhosamente irônico.

Joan Crawford e John Garfield em Acordes do Coração

Negulesco, John Garfield e Joan Crawford na filmagem de Humoresque

Acordes do Coração, é um melodrama baseado em um conto de Fannie Hurst e adaptado por Clifford Odets e Zachary Gold, no qual o amor deve ceder lugar a uma paixão mais forte. Paul Boray (John Garfield) é um violinista de grande talento mas desconhecido. Ele encontra Helen Wright (Joan Crawford) – mulher rica, neurótica e com pendor para o alcoolismo, vivendo um casamento sem amor com Victor Wright (Paul Cavanaugh) – e ela se torna sua patrocinadora e amante. Entretanto, seu relacionamento é abalado pela índole possessiva de Helen, pois Paul não quer ser dominado por ela, reafirmando sistematicamente uma dedicação inabalável à sua arte. Quando Helen compreende que está prejudicando sua carreira, ela decide por fim ao romance de um modo trágico: jogando-se no mar enquanto Paul está  executando em um concerto a Liebestod, ária final da ópera “ Tristão e Isolda” de Richard Wagner. A música clássica tem lugar de relevo na narrativa, ouvindo-se trechos de Dvorak, Rimsky-Korsakov, Wagner, Tchaikovsky, Brahms, Bach, Bizet, Sarazate, Mendelsohn, César Franck, Prokofiev, Shostakovski, Grieg etc. Negulesco teve um cuidado especial com o modo de encadear as sequências, usando a fusão (v. g. uma cortina de enrolar que se fecha transmuda-se em teclas de um piano, as cordas de um violino se transformam em trilhos, à batida de um copo na mesa faz irromper a orquestra, o sifão converte-se nas espumas das ondas). A sucessão das imagens descrevendo o desespero da heroína caminhando para a morte na praia enquanto ocorre o triunfo do músico no concerto é excelente. Franz Waxman foi indicado para o Oscar de Melhor Música (para filme não musical) e quem faz a platéia vibrar como os solos de violino é Isaac Stern. Joan Crawford com sua interpretação interiorizada tem aqui um de seus melhores papéis no cinema. As réplicas mordazes sobre arte e talento, a maior parte delas improvisadas por Oscar Levant (como Sid Jeffers, o melhor amigo de Paul), aliviam o clima  pesado do filme.

O fotógrafo Ted McCord dá instruções para Ida Lupino e Dane Clark emO Vale do Destino

Dane Clark e Ida Lupino em O Vale do Destino

O Vale do Destino é um melodrama romântico passado em uma área rural da Califórnia, onde Libby Saul (Ida Lupino), jovem tímida e gaga, vive com seus pais rudes (Henry Hull, Fay Bainter) em uma fazenda isolada. Afastada de todo convívio social, a moça tem como companhia apenas o seu cachorrinho até que avista Bary Burnette (Dane Clark), presidiário fugitivo que trabalha na construção de estradas. Ela o esconde de seus perseguidores e o breve idílio entre os dois resulta na cura da sua gagueira. Então os policiais chegam à procura do condenado, que morre ao tentar escapar. Com excelente fotografia em exteriores de Ted McCord o filme exigiu muito esforço físico por parte da atriz. As cenas supostamente passadas no verão foram filmadas sob um frio intenso em uma montanha e Ida, vestida com roupas leves, pegou uma gripe. Pouco depois, quando ela corria descalça sobre pedras, cortou o pé, desenvolvendo-se uma infecção, que afetou seus tornozelos. Ida insistiu em permanecer no local, para evitar que a filmagem se atrasasse e sua saúde frágil piorou, ao sofrer uma crise de bronquite crônica. Mesmo assim, ela proporcionou ao público uma de suas melhores interpretações, do tipo para o qual era singularmente dotada.

Lew Ayres e Jane Wyman em Belinda

Stephen McNally e Jane Wyman em Belinda

Belinda é um drama profundamente humano. Filha de um fazendeiro pobre, McDonald (Charles Bickford) de um povoado da Nova Escócia no Canadá, Belinda (Jane Wyman), é surda-muda de nascença. Um jovem médico, Dr. Robert Richardson (Lew Ayres), lhe ensina a falar por meio de sinais, revela sua inteligência e a liberta da solidão. A jovem é estuprada por Locky (Stephen McNally), rapaz de maus instintos, e ela dá à luz uma criança, Johnny, cuja paternidade é atribuída ao médico. Este, aborrecido com a situação, retira-se da cidadezinha. Locky se casa, mas como sua esposa não pode ter filhos, ele toma o filho de Belinda. Esta, para se defender, o mata; mas no final a verdade vem à tona e o médico pede Belinda em casamento. Negulesco narra esta história com delicadeza e sobriedade, valendo-se de uma fotografia de grande beleza (Ted McCord), de um fundo musical melodioso (Max Steiner) e sobretudo do desempenho de Jane Wyman que, sem pronunciar uma só palavra durante todo o transcurso do entrecho, conseguiu criar com grande veracidade a sua personagem, conquistando o prêmio da Academia. A produção ensejou mais onze indicações ao Oscar: Melhor Filme, Ator (Lew Ayres), Diretor, Ator Coadjuvante (Charles Bickford), Atriz Coadjuvante (Agnes Moorehead), Fotografia em preto e branco, Roteiro (Irmgard von Cube, Allen Vincent), Direção de Arte em preto e branco  (Robert Haas, William Wallace /decorador), Música de filme não musical, Montagem (David Weisbart), Som (Nathan Levinson).

Em 1948 Negulesco foi trabalhar para a 20thCentury-Fox, onde fez 22 filmes:  1948 – A Taverna do Caminho / Road House. 1949 – A Rua Proibida / Britannia Mews. 1950 – Vingança do Destino / Under my SkinFeras Que Foram Homens / Three Came Home; O Garoto e a Rainha / The Mudlark. 1951 – Clube de Moças / Take Care of My Little Girl. 1952 – Telefonema de um Estranho / Phone Call From a Stranger; Lydia Bailey, a Feticeira do Haiti / Lydia Bailey; Um Grito no Pântano / Lure of the Wilderness; Páginas da Vida / O. Henry´s Full House (episódio). 1953 – Náufragos do Titanic / Titanic; Como Agarrar um Milionário / How to Marry a Millionnaire. 1954 – A Fonte dos Desejos / Three Coins in the Fountain; O Mundo é da Mulher / A Woman´s World. 1955 – Papai Pernilongo / Daddy Long Legs; As Chuvas de Ranchipur / The Rains of Ranchipur. 1957 – A Lenda da Estátua Nua / Boy on a Dolphin. 1958 – A Angústia de Tua Ausência / The Gift of Love; Um Certo Sorriso / A Certain Smile. 1959 – Sob o Signo do Sexo / The Best of Everything. 1964 – Em Busca do Prazer / The Pleasure Seekers. 1970 – Um Instante, Adeus / Hello Goodbye. Negulesco participou ainda de dois filmes da MGM (Os Maridos da Mamãe / Scandal at Scorie / 1953 e Mesmo Assim Eu Te Amo / Count Your Blessings / 1959) e mais dois de outros produtores: A Greve do Sexo / Jessica  / 1962 (Prod: Dear Film, Les Films Ariane); Os Seis Invencíveis / The Invincible Six ou The Heroes/ 1969. A partir dos anos 50 a criatividade do cineasta foi se desgastando daí a irregularidade artística de sua filmografia desde então. Destaco em negrito seus melhores filmes nesta fase.

Ida Lupino e Richard Widmark em A Taverna do Caminho

A Taverna do Caminho é um drama com intriga psicológica contando uma vingança curiosa e inédita. Jefferson “Jefty” Robbins (Richard Widmark), dono de uma boate que tem uma pista de boliche adjacente, contrata Lily Stevens (Ida Lupino) como cantora e se apaixona por ela. Ao saber que Lily ama Pete Morgan (Cornel Wilde), seu amigo de infância e gerente do estabelecimento, ele o acusa falsamente de roubo e depois consegue obter com o juiz a custódia do condenado. Nesta condição, Lefty leva Pete, Lily e Susie (Celeste Holm), a moça que cuida da caixa do cabaré, para sua cabana de caça perto da fronteira canadense, com a intenção de fazer com que Pete e Lily tentem fugir atravessando a fronteira e ele então os mataria. Quando Pete e Lily resolvem escapar, Susie intervém para impedir a execução do plano diabólico de Lefty e é ferida por ele. Peter retorna e se confronta com Lefty. Enquanto os dois lutam, Lily se apodera da arma e mata Lefty, quando ele ia atacá-la com uma pedra.  Graças a Susie, que encontrou uma prova da inocência de Peter, este e Lily não serão mais incomodados. Negulesco expôe gradualmente esta história de amor não correspondido e obsessão, primeiramente com uma exposição um pouco longa mas animada por alguns atrativos como as duas canções interpretadas por Lily (com uma voz encantadoramente  rouca) e a briga na boate entre Peter e um grandalhão; na segunda parte da narrativa o ritmo do filme fica mais nervoso por causa das manifestações psicóticas de Jefty (com suas risadas insanas), resultando em um espetáculo atraente.

Sesse Kayakawa e Claudette Colbert em Feras Que Foram Homens

Feras Que Foram Homens é um drama de guerra com roteiro de Nunally Johnson, baseado no livro da escritora americana Agnes Newton Keith, que relata a angústia e os sofrimentos pelos quais ela e outras companheiras passaram como prisoneiras de um campo de concentração japonês em Borneo. A novidade aqui é a apresentação da figura do Coronel Suga (Sessue Hayakawa) não como um monstro, de acordo com a velha fórmula dos filmes do gênero, mas sim como um homem gentil e culto admirador da obra da escritora sem que a brutalidade de seus comandados deixe de estar presente. Sob o ponto de vista cinematográfico Negulesco construiu boas cenas como a chegada dos invasores no hotel, o metralhamento dos australianos na cêrca de arame farpado ou o encontro clandestino de Mrs. Keith com o marido sob um coqueiro sendo seguida por um sentinela pelo ruído das aves até ser agredida inesperadamente pelo soldado japonês. Trata-se de um espetáculo denso que desperta muita emoção.

Keenan Wynn, Shelley Winters,Gary Merrill e Michael Rennie em Telefonema de um Estranho e em

Telefonema de um Estranho é um drama psicológico (ou melhor, quatro dramas diversos), escrito por Nunnally Johnson. Johnson seccionou o argumento em três partes, ligando-as por um desastre aéreo do qual escapa um único sobrevivente, o Dr. David Trask (Gary Merrill), que estabelecera uma camaradagem com outros três companheiros de viagem: Binky Gay (Shelley Winters), Dr. Robert Fortness (Michael Rennie) e Eddie Koke (Keenan Wynn). O Dr. Trask, é um advogado que deixa o lar para esquecer a infidelidade da esposa; Binky é uma atriz do teatro de variedades incompatibilizada com a sogra; o Dr. Fortness é um médico alcoólatra  que agora, cinco anos depois de ter enganado a justiça, tenciona apresentar-se ao promotor e confessar que ele foi o culpado do desastre automobilístico em que pereceu um colega e assim recuperar a confiança da mulher; e Eddie é um caixeiro- viajante extrovertido cuja consorte, Marie (Bette Davis), é uma semi-paralítica presa ao leito. O Dr. Trask telefona para as famílias dos três companheiros vitimados e as procura para relatar o que fôra a última noite que passaram juntos. Na casa do médico restabelece aos olhos da viúva e do filho do morto o respeito que este pretendia obter. No cabaré mantido pela sogra da atriz faz desaparecer o ódio que existia entre ela e a nora. Finalmente, na última casa, a do vendedor-viajante, Marie, cuja invalidez foi consequência de sua traição ao marido, enaltece o morto, como homem que sabia verdadeiramente amar e isto leva Trask a dar o seu último telefonema no filme: para dizer à esposa que a perdoou e voltará para casa. A direção de Negulesco, discreta e fluente, é muito feliz no uso dos flashbacks habilmente interligados, exprimindo em sequências comoventes o Poder do Amor e a Atratividade do Lar. Ajudaram-no, e muito, o bom desempenho de todos os seus intérpretes e uma fotografia (Milton Krasner) e música (Franz Waxman) que impressionam.

Betty Grable,Lauren Bacall e Marilyn Monroe em Como Agarrar um Milionário

Como Agarrar um Milionário é uma comédia romântica divertida e espirituosa,  satirizando a mulher americana ocupada em caçar um marido rico. Duas amigas, Loco (Betty Grable) e Pola (Marilyn Monroe) alugam com a inteligente Schatze (Lauren Bacall) um apartamento soberbamente mobiliado e, a partir desta base segura, pretendem fazer boas relações e conquistar o milionário de seus sonhos.  Elas viverão vendendo pouco a pouco os belos móveis do apartamento. Finalmente Loco se casa com um guarda florestal (Rory Calhoun) e Pola com um rapaz (David Wayne) que tem problemas com o fisco. Somente Schatz se dá bem e está prestes a se casar com um homem velho, mas rico (William Powell). Entretanto, no último instante, torna-se a esposa de um rapaz charmoso (Cameron Mitchell), que ela pensa que é um simples mecânico. As três amigas quase desmaiam, quando ficam sabendo que o mecânico, com o qual se casou por amor, é um industrial riquíssimo. Adaptado de uma peça teatral por Nunnally Johnson, esta segunda produção em CinemaScope da Fox, pela maneira inteligente pela qual foi fotografada (Joe MacDonald), mostrou que o então novo sistema de tela larga podia se adaptar a um ambiente quase todo em interiores. Negulesco mantém o filme bem ritmado, servindo-se dos diálogos espirituosos e da interpretação sutil do trio de atrizes formosas.

Van Heflin, Cornel Wilde, Fred MacMurray e Clifton Webb em O Mundo é da MUlher

O Mundo é da Mulher tem situações humorísticas se misturando com outras de ordem sentimental ou dramática, um certo suspense e uma sátira aos costumes (devassando o alto mundo da indústria automobilística). Três chefes de sucursais de uma fábrica de automóveis importante (Cornel Wilde, Fred MacMurray e Van Heflin) são convocados à sede da matriz em Nova York pelo diretor-presidente (Clifton Webb) para que, com as respectivas esposas (June Allyson, Lauren Bacall e Arlene Dahl), sejam submetidos ao teste para ocupar a vaga de gerente-geral da organização. Esta competição é conduzida com uma fluência suave por Negulesco, que nos oferece ainda uma viagem deslumbrante pela cidade dos arranha-céus, utilizando o CinemaScope com perfeição não somente nos exteriores mas também  nos interiores.

Na sua autobiografia Negulesco fornece mais estes dados: como autor da história original: Nova Orleans / New Orleans (Universal, 1947), Amores em Budapest / Fight For Your Lady (RKO, 1937), Dinheiro Demais / Beloved Brat (Warner Bros., 1938), Queijo Suiço / Swiss Miss (Hal Roach, 1938); como diretor de segunda unidade: Capitão Blood / Captain Blood (Warner, 1935), O Destemido Donovan / Crash Donovan (Universal, 1936); como diretor: The Dark Wave, 1956, documentário de curta-metragem produzido pela 20thCentury-Fox para a Variety Club Foundation to Combat Epilpesy. Elenco: Cornell Borchers, Charles Bickford, Nancy Reagan, Russ Conway.

 

SABU

Ele foi primeiro indiano a se tornar um astro de cinema internacional. Começou como ator infantil e subsequentemente apareceu em uma sucessão de produções britânicas antes de se transferir para Hollywood, onde foi repetidamente incluído em filmes technicoloridos de fantasias orientais e aventuras nas selvas.

Sabu

Sabu (1924-1963), cujo verdadeiro nome é Selar Sabu nasceu em Karapur no reino de Mysore, então um estado principesco da Índia Britânica, filho de um mahout (condutor ou domador de elefantes) indiano. Quando tinha treze anos de idade, o adolescente foi descoberto por Robert Flaherty, que lhe deu o papel do protagonista de O Menino e o Elefante / Elephant Boy, adaptação de “Toomai of the Elephants”, um conto de “The Jungle Book” (1894) de Rudyard Kipling. O filme foi originariamente concebido por Flaherty, diretor americano frequentemente considerado “o pai do filme documentário”, cuja reputação como um cronista dos povos “obscuros” e “primitivos” nasceu com a realização do seu famoso Nanook do Norte / Nanook of the North / 1922.

Sabe em O Menino e o Ellefante

Com o apoio financeiro de Alexander Korda, Flaherty começou a filmagem de O Menino e o Elefante em 1935 na Índia, porém transcorrido quase um ano o produtor húngaro, preocupado com a demora e os custos da produção, mandou a equipe de volta para seu estúdio em Denham, a fim de que o filme fosse ali completado, encarregando seu irmão Zoltan de dirigir cenas extras, para suplementar as cenas filmadas por Flaherty. O filme de 80 minutos, combinando cerca 40 minutos de cenas de Robert Flaherty e 40 minutos de cenas de Zoltan Korda, foi lançado em 1937, tendo sido ambos creditados como diretores. Durante o desenrolar da narrativa, tomadas de Sabu rodadas por Robert Flaherty na India alternam-se com tomadas de Sabu rodadas por Zoltan Korda na Inglaterra, sendo relativamente fácil distinguir as cenas de Flaherty das cenas de Korda. Enquanto Flaherty originariamente procurou fazer um retrato poético da relação de um menino indiano com seu elefante, que fosse o mais autêntico possível, o filme foi finalmente reconfigurado por Korda para ser uma adaptação fiel do conto de Kipling, que garantisse um sucesso comercial. As cenas mais impressionantes ocorrem no final, quando vemos a manada de elefantes enfurecidos e depois o ceremonial comovente homenageando o pequeno e corajoso herói.

Sabu, Valerie Hobson e Roger Livesey em Legião da Índia

Os três filmes britânicos technicoloridos nos quais Sabuy apareceu depois de O Menino e o Elefante foram produzidos como parte de acordo entre a London Films de Korda e a Technicolor do Dr. Herbert T. Kalmus. O segundo filme de Sabu, A Legião da Índia / The Drum foi o terceiro filme britânico totalmente em Technicolor. Sabu fez mais filmes em Technicolor do que qualquer outro astro  durante o período 1938-1944. Ele ficou identificado com o cinema em Technicolor e, depois que chegou a Hollywood em 1942, a Universal explorou a associação do seu novo contratado com esta tecnologia.

A Legião da Índia pertence mais explícitamente ao gênero empire film do que O Menino e o Elefante. É uma aventura colonial militar baseada em um livro de A. E. Mason e dirigida por Zoltan Korda. Planos de referência foram filmados na Índia e misturados com cenas rodadas com os atores no norte do País de Gales em locações escolhidas pelo exército como as mais parecidas com o terreno da Fronteira Noroeste. O filme tem início com a missão do Capitão Carruthers (Roger Livesey) em Tokot, para firmar um tratado de paz com o soberano. Porém este é assassinado pelo irmão, Ghul Khan (Raymond Massey), que usurpa o trono. Ghul planeja o massacre dos britânicos mas no momento crucial Azim (Sabu), o herdeiro legítimo do trono e amigo de Carruthers, toca seu tambor para avisar os britânicos, chega uma expedição de socorro, Ghul é morto e Azim colocado no trono.

A produção de Alexandre Korda recria em Technicolor toda a pompa do Império Britânico (o esporte do polo, a chegada do regimento em Tokot sob o som das gaitas e dos tambores, o baile do Governador em Peshawar, etc.) e tem boas cenas de ação notadamente o massacre final depois do banquete. No elenco, – além de Sabu com sua personalidade encantadora – destaca-se Raymond Massey no papel do fanático  ameaçador de duas caras que, em público, presta cumprimentos floridos aos ingleses (ele beija a mão da esposa de Carruthers (Valerie Hobson) dizendo “Eu beijo vossos pés… Eu sou vosso escravo”) e, em particular, despeja seu ódio com um olhar brilhante: “O Império está pronto para se esculpido em pedaços”.

 

Sabu em O Ladrão de Bagdad

Com O Ladrão de Bagdad / The Thief of Bagdad / 1940, Korda pretendeu realizar a sua produção mais esplêndida desde que o Technicolor foi inventado e, na verdade, a maior glória deste filme é a sua cor verdadeiramente magnificente. Este conto das Mil e Uma Noites, dirigido por Michael Powell, Ludwig Berger, Tim Whelan, repleto de aventura e fantasia romântica, já fora levado à tela de maneira magistral em 1924 por Raoul Walsh com Douglas Fairbanks; mas a versão de Korda também é excelente, não só pelo cuidado técnico-plático  – Oscar para fotografia em cores (George Perinal), efeitos especiais (Lawrence Butler / Jack Whitney), direção de arte em cores (Vincent Korda) – como pela magnífica partitura de Miklos Rposa e felicidade na escolha do elenco, em que se destacam John Justin (o rei destornado Ahmad), June Duprez (a Princesa), Sabu (Abu, o jovem ladrão), Conrad Veidt (o inesquecível Grão-Vizir Jaffar), Rex Ingram (o gênio negro) e Miles Maleson (o Sultão). Devido à guerra, Korda teve que desistir da idéia de filmar exteriores no Egito e na Arábia, transportando sua equipe para os Estados Unidos, onde Zoltan Korda e William Cameron Menzies, creditados como produtores associados, dirigiram as cenas finais no Grand Canyon. Os efeitos especiais tais como o gênio enorme saindo de uma garrafa, a luta entre contra uma aranha gigantesca, o tapete voador e o cavalo alado, são tão cativantes e convincentes quanto qualquer trabalho digital contemporâneo. A atmosfera das histórias orientais é realçada pelo Technicolor, que sublinha o luxo dos figurinos, a suntuosidade dos castelos e o mundo mágico e exótico descoberto pelo ladrãozinho das ruas de Bagdad.

Sabu em Mogli, o Menino Lobo

No terceiro filme de Sabu para Alexandre Korda, Mogli, o Menino Lobo / The Jungle Book, adaptação (por Laurence Stallings) da história de Rudyard Kipling, o jovem ator interpreta o papel de Mogli, jovem inocente sem nenhum conceito sobre o valor do dinheiro, criado pelos lobos de acordo com as leis da selva, capaz de matar um tigre, e imbuído de um respeito profundo pela natureza. O relato tem início com um velho indiano contando para uma mulher britânica a história de uma criança, Natu, que se perdeu na floresta e foi dada como morta pelo tigre Shere-Khan mas que, no entanto, foi encontrada e adotada por uma alcatéia de lobos. Chamado de Mogli pelos lobos, a criança cresceu e um dia retornou à cidade, onde sua mãe (Rosemary De Camp) a reconheceu como o filho perdido e o acolheu em sua casa A habilidade de Mogli falar com os animais tornou-o um objeto de fascinação pelos outros aldeões. Ele e a jovem Mahgala (Patricia O´Rourke) são atraídos um pelo outro, embora o pai de Mahal, Boldeo (Joseph Calleia ) considere Mogli como um animal selvagem. Mogli leva Mahala para o interior da selva e lhe mostra as ruínas de uma cidade perdida, que contém um tesouro. O problema surge quando ela retorna com uma moeda de ouro e Baldao se torna impiedosamente determinado a obrigar Mogli a lhe revelar o local daquela riqueza. Quando o velho indiano termina sua narrativa, verificamos que ele não é outro senão Boldeo.

Devido à guerra na Europa, Mogli, o Menino Lobo foi filmado inteiramente em um estúdio de Hollywood, sendo que a United Artists emprestou a Korda trezentos mil dólares para financiar a produção. O filme tem belos cenários, uma fauna e uma flora exuberantes e um trilha sonora envolvente, tendo ensejado indicações para o Oscar de Melhor Direção de Arte em cores (Vincent Korda), Melhor Fotografia em cores (W. Howard Greene), Melhor Trilha Sonora original (Miklos Rozsa) e Melhores Efeitos Especiais (Lawrence Butler, William H. Willmarth). O melhor momento é o do incêndio na floresta no desenlace com o uso espetacular do Technicolor. A única restrição que faço a este filme é a cobra que guarda o tesouro falar em língua de gente.

Maria Montez, Jon Hall e Sabu em uma pose para a publicidade deAs Mil e Uma Noites

Maria Montez, Sabu e Jon Hall em Mulher Satânica

Sabu em Mulher Satânica

Contratado pela Universal, Sabu apareceu ao lado de Maria Monrez e Jon Hall em uma sucessão de três filmes explicitamente escapistas: uma aventura oriental, As Mil e Uma Noites / Arabian Nights / 1942 (Dir: John Rawlings) e duas fantasias passadas em ilhas dos Mares do Sul, Branca Selvagem / White Savage  / 1943 (DIr: Arthur Lubin) e Mulher Satânica / Cobra Woman / 1944 (Dir: Robert Siodmak).  Essas fantasias pseudo-orientais ou tropicais tinham sempre os mesmo ingredientes: cenários grandiosos, fictícios e virtuais; fotografia em Technicolor de primeira ordem; histórias pitorescas com certas inverossimilhanças narradas em  uma média de oitenta minutos, com muita vivacidade; par romântico atraente formado por intérpretes sofríveis, mas que atuavam com sinceridade, sempre focalizados em lindos close-ups; coadjuvantes de origem estrangeira (v. g. Turhan Bey, nascido na Austria, filho de um diplomata turco e Sabu) e/ ou oriundos das comédias curtas (v. g. Bily Gilbert, Andy Devine, Shemp Howard) para os interlúdios cômicos ingênuos, porém espirituosos; figurinos belos e exóticos providenciados por Vera West e adornados pelas jóias de Eugene Joseff; música devidamente estridente para reforçar a ação (embora às vezes anacrônica); climaxes exictantes ( v. g. as centenas de cavaleiros, tendo à frente Ali Ben Ali, surgindo das montanhas em As Mil e Uma Noites, o terremoto em Branca Selvagem, a prova diante do rei Cobra e a erupção do vulcão em Mulher Satânica); propaganda para o esforço patriótico (eis que em todos os filmes subsistia subliminarmente o tema da resistência de um povo contra um tirano usurpador do poder); e, é claro, os finais felizes. Foram espetáculos muito populares e lucrativos na ocasião de seu lançamento, tendo sido reprisados algumas vezes, inclusive em nosso pais, apesar de serem fustigados pelos crítricos que, no entanto, reconheciam seu êxito como entretenimento.

Sabu recebendo a condecoração das mãos de Eleonor Roosevelt

Após se tornar cidadão americano em em 1944, Sabu se alistou no exército americano e serviu como artilheiro de cauda e de popa em bombardeiros e recebeu a Distinguising Flying Cross por seu valor e bravura.

Após o fim da Segunda Guerra Mundial e depois que seu contrato com a Universal expirou, Sabu continuou encontrando trabalho esporádico como ator. Em 1946 ele fez Tanger / Tangier (Dir: George Waggner), drama de intriga e espionagem convencional e claudicante em ambiente exótico, no qual um jornalista (Robert Paige), uma dançarina espanhola, Rita (Maria Montez) e Pepe (Sabu), jovem empresário, se unem para levar à justiça um tal de Balizar, fantoche nazista autor da morte de vários parentes de Rita durante a Guerra Civil Espanhola, que agora é o chefe de polícia da cidade sob o nome de Coronel José Artiego (Preston Foster). No mesmo ano, Sabu voltou para a Inglaterra onde participou de Narciso Negro / Black Narcissus e O Fim do Rio / The End of the River, filmes de qualidade artística bem diversas.

Jean Simmons e Sabu em Narciso Negro

Sabu em Narciso Negro

No primeiro filme, muito melhor que o segundo, um grupo de freiras, comandado pela irmã Clodagh (Deborah Kerr), é encarregado de instalar uma escola e um hospital no pico de uma montanha do Himalaia, no palácio Mopu – sede de um antigo harém – que lhes fôra doado pelo General local Toda Raí (Esmond Knight). Apesar da ajuda do agente britânico local, Mr. Dean (David Farrar), logo surgem  as dificuldades. O vento, a natureza, o ambiente exótico e sensual – a linda Indiana Kanchi (Jean Simmons) cortejada pelo jovem Rai (Sabu), sobrinho do General – influem irresistivelmente sobre o comportamento das freiras. Após a morte de uma delas – a histérica irmã Ruth (Kathleen Brown), que manifestara um desejo obsessivo por Mr. Dean e, rejeitada, tentara matar, por ciúme, a madre superiora, as religiosas deixam o lugar, admitindo o fracasso da missão. O cenário indiano foi todo recriado nos jardins subtropicais de Leonardslee em Horsham, West Sussex e no estúdio de Pinewood. Os diretores Michael Powell e Emeric Pressburger achavam que, neste filme, a atmosfera era tudo e eles e sua equipe técnica tinham que controlá-la inteiramente. Vento, altitude, beleza do cenário – tudo tinha que estar sob rígido controle. Os cenários básicos – o templo / convento de Mopu e a aldeia nativa debaixo dele – foram construídos em tamanho natural, com o panorama dos vales e montanhas pintados em telas e depois fotografado por trás dos atores por meio de transparências. Disciplinando com segurança o trabalho dos técnicos – Oscar para Jack Cardiff (fotografia em cores) e Alfred Junge (direção de arte em cores) – Powell e Pressburger dotaram esse drama psicológico sobre o velho conflito entre o sagrado e o profano de um espendor visual empolgante e criaram cenas de notável intuição cinematográfica. Assim é, por exemplo, o longo episódio do desvario da irmã Ruth, quase sem diálogos; a tentativa de matar a irmã Clordagh na torre do sino e a queda de seu corpo na folhagem, assustando os pásaros; o desenlace, com os pingos de chuva caindo sobre as enormes folhas verdes e, pouco a pouco, aumentando de intensidade, enquanto a pequena caravana de religiosas desce a encosta, fugindo daquela atmosfera inadequada para seu objetivo.

Sabu e Bibi Ferreira em O Fim do |Rio

No segundo filme (rodado em preto e branco), cuja ação transcorre no Brasil (mais precisamente no Amazonas e Belém do Pará) Michael Powell e Emeric Pressburger atuaram apenas como produtores, confiando a direção para Derek Twist e outros auxiliares menos competentes. O resultado foi uma realização apenas sofrível com Sabu no papel de um índio chamado Manoel, da tribo Akuna, a nossa Bibi Ferreira, como uma cabocla chamada Teresa, e a história contada através de retrospectos, nos quais os personagens, prestam seus depoimentos no tribunal, onde Manoel está sendo acusado de assassinato.

Retornando aos EUA, Sabu fez mais dois filmes não technicoloridos nos anos 40: A Fera de Kumaon / Man-Eater of Kumaon / 1948 (Dir: Byron Haskin) e Canção da Índia / Song of India / 1949 (Dir: Albert S. Rogell). No primeiro filme, Sabu é Narain, marido da jovem Lali (Joanne Page) que, grávida, é vítima de um tigre, perde a criança e não poderá mais engravidar. Este acidente priva Narain de sua primogenitura: segundo a lei de sua tribo é preciso um herdeiro ou a separação de sua esposa. A fera é caçada pelo Dr. John Collins (Wendell Corey) e por Narain, sendo finalmente abatida e o casal adota um órfãozinho. No segundo filme, os habitantes de Combi e os animais ditos ferozes se entendem bem. Porém Gopal (Turhan Bey), a princesa Tara (Gail Russell) e sua comitiva vêm caçar (e ela fotografar) neste território. Ramdar (Sabu) liberta as feras enjauladas pelos caçadores. Para obrigar estes últimos a deixar a floresta, ele rapta Tara. Perseguido por Gopal, Ramdar trava uma luta de faca com ele. Um tigre ferido anteriormente por Gopal, o mata. A paz volta a reinar em Combi e Ramdar se casa com a princesa. O segundo filme tem, andamento ligeiro e ação suficiente para manter o espectador sempre interessado na intriga, o que não acontece infelizmente com o primeiro.  Em 19 de outubro de 1948, Sabu casou-se com uma atriz pouco conhecida, Marilyn Cooper, companheira  até o fim de sua vida, com a qual teve dois filhos.

Sabu em Jaguar

Os anos 50 e 60 não foram bons cinematograficamente para Sabu. Ele continuou a desempenhar os mesmos papéis exóticos indiano / asiáticos, a maioria deles em  produções de orçamento modesto: 1951 – Savage Drums(Dir: William Berke com Lita Baron, H. B. Warner). 1952 – Hello Elephant (Dir: Gianni Franciolini  com Vittorio De Sica, Maria Mercader); Baghdad (Dir: Nanabhai Bhatt com Master Bhagwan, Anwar Hussein, Bharati  Davi). 1953 – Il Tesoro del Bengali (Dir: Gianni Vernucci com Luisella Boni, Luigi Tosi). 1956 – Jaguar / Jaguar (Dir: George Blair com Chiquita Johnson, Barton Maclane)). 1957 – Jungle Hell (Dir: Norman A. Cerf com K. T. Stevens, David Bruce); The Black Panther  (curta-metragem Dir: Ron Ormond com Carol Varga, Don C. Harvey); Sabu e o Anel Mágico / Sabu and the Magic Ring (Dir: George Blair com Daria Massey, William Marshal). 1960 – A Senhora do Mundo / Mistress of the World (Dir: William Dieterle com Martha Hyer, Carlos Thompson, Micheline Presle, Gino Cervi). 1963 – Maldita Aventura / Rampage (Dir: Phil Karlson com Robert Mitchum, Elsa Martinelli, Jack Hawkins). 1964 – Um Tigre Caminha pela Noite / A Tiger Walks (Dir: Norman Tokar com Brian Keith, Martha Hyer). Merecem destaque A Senhora do Mundo e Maldita Aventura pelo prestígio de seus diretores

Martha Hayer, Gino Cervi e Sabu em A Senhora do Mundo

Sabu, Robert Mitchum e Jack Hawkins em Maldita Aventura

O filme de William Dieterle é uma refilmagem de um seriado do cinema mundo alemão A Soberana do Mundo / Die Herrin Der Welt / 1919 dirigido por Joe May. O produtor Arthur Brauner ofereceu o projeto primeiramente a Fritz Lang com Pola Negri no papel da maléfica Madame Latour, mas o cineasta não aceitou sua proposta e William Dieterle assumiu a direção, porque precisava urgentemente de dinheiro, resultando um filme 185 minutos, que não tinha quase nada de comum com o original. Insatisfeito com a intervenção de Brauner na filmagem, Dieterle abandonou o filme nas mãos do fotógrafo Richard Angst. Quanto ao conteúdo da realização, trata-se de um sub-James Bond. A ação transcorre em Estocolmo com as explosões nucleares em uma central termonuclear, onde o professor Johansson (Gino Cervi) acaba de descobrir um procedimento capaz de suprimir a gravidade terrestre. O sábio e seu assistente anamita (Sabu) são sequestrados por um bando de espiões internacionais sob as ordens da cruel Madame Latour (Micheline Presle). Um agente da contra-espionagem sueco (Carlos Thompson) e a filha do professor (Martha Hyer) se lançam à procura da quadrilha, deixando mortos a cada combate até o final no templo de Angkor no meio de maravilhas da arquitetura khmer. O filme de Phil Karlson é um filme de aventura passado na selva malaia, onde um caçador ingles, Otto Abbot (Jack Hawkins), se opõe a um capturador de animais americano, Harry Stanton (Robert Mitchum), para aprisionar um espécime raro, misto de tigre e leopardo, para um jardim zoológico alemão, disputando, ao mesmo tempo, o amor de Ana (Elza Martinelli), a secretaria e amante do caçador. Sabu faz o papel de Talib, guia da expedição. O filme tem uma trilha musical persistente de Elmer Bernstein, o cenário natural (na verdade o Havaí) enche os olhos, mas Karlson não consegue criar nenhuma cena excitante, dando primazia aos diálogos, salvo nos momentos finais.

 

Sabu faleceu subitamente de um ataque do coração aos 39 anos de idade, três meses antes de seu derradeiro filme ser lançado.

William Beaudine

Ninguém trabalhou por mais tempo e dirigiu mais filmes do que ele. Durante seus quase sessenta anos de cinema teve seu nome nos créditos de mais de 500 filmes e 350 programas de televisão. Por ocasião de seu falecimento aos 78 anos de idade era o diretor mais velho em atividade.

William Beaudine

William Washington Beaudine (1892-1970) nasceu no Upper East Side de Nova York, filho de William Pryor Beaudine e Ella Louise Moran e sentiu pela primeira vez o gôsto pelo cinema quando tinha apenas oito anos de idade e ele e seu irmão de sete anos Harold apareceram em um short patriótico de 1 rolo produzido pela Edison Company. Quando seu pai faleceu em 1905, Beaudine se tornou arrimo da família aos treze anos de idade. Quando terminou o ensino médio, seu tio Charles, que era carpinteiro na Biograph, lhe arrumou um emprego neste estúdio, onde começou, em 1909, como um faz tudo ou quebra galho (v. g. limpando o chão cheio de celulóides, buscando adereços ou carregando latas de filmes e os tripés das câmeras) e logo passou a segundo assistente de Bobby Harron, que na época era ainda o aderecista de D.W. Griffith. Depois foi assistente de Frank Powell, Mack Sennett e Dell Henderson, atuando também com ator (inclusive em três melodramas de Griffith) e escrevendo enredos.

Em 1915, Beaudine assumiu a direção na primeira das 27 comédias de 1 rolo que fez na Kalem. Quando a Kalem fechou as portas, ele conseguiu ser admitido por H. O. Davis na Universal, onde ficou encarregado de dirigir as Joker Comedies e duas comédias (com argumento de King Vidor) com a gorducha Mathilde Comont, comediante francesa que viera para a América com Max Linder. Quando Davis foi recrutado para salvar a Triangle de uma má situação financeira, contratou Beaudine, colocando-o à frente de uma das oitos unidades de comédia.  Quando o contrato de Davis com a Triangle expirou, todos que vieram com ele também ficaram desempregados, Beaudine entre eles. Por sorte, Henry Lehrman ofereceu-lhe emprego na Fox, onde ele dirigiu algumas Sunshine Comedies, primeiramente em colaboração com Noel Smith. Lamentavelmente, após apenas cinco semanas de trabalho, Beaudine foi despedido, porque Lehman se aborreceu por ele ter cochilado durante as reuniões para se discutir a respeito dos gags, ou seja, as piadas visuais que seriam usadas nos filmes.

Cena de Toma Cuidado

O próximo emprego de Beaudine foi na Christie Comedies, companhia fundada por Al Christie e seu irmão Charles. Após três anos dirigindo comédias curtas para a Christie, Beaudine assinou contrato para dirigir dois filmes para Goldwyn e, finalmente, assumiu a direção de seu primeiro longa-metragem, Toma Cuidado / Watch Your Step (com Cullen Landis e Patsy Ruth Miller), lançado em 1922. Infelizmente o filme não foi o que Goldwyn esperava e Beaudine não realizou o segundo filme previsto no contrato.

Marie Prevost e Wesley Barry em Os Heróis das Ruas

 

Quando Toma Cuidado estreou, Beaudine havia completado uma comédia de 2 rolos para Sennett-First National e estava realizando duas comédias de 1 rolo para a Pathé-Roach. Beaudine voltou para a Christie em 1922 e lá ficou por um tempo até que o produtor Harry Rapf da Warner Bros. o contratou para dirigir o ator infantil Wesley “Freckles” Barry na Warner Bros. em Os Heróis das Ruas / Heroes of the Street. Foi primeiro filme de Beaudine onde uma parte substancial do elenco era composta por crianças. Com este filme ele e todo mundo iria descobrir que o cineasta possuia uma habilidade única para trabalhar com crianças (Beaudine dirigiria W. Barry em mais dois filmes, O Pequeno Tipógrafo / The Printer´s Devil  / 1923 e Valor de Criança  / The Country Kid / 1923). Antes porém, ainda em 1922, Beaudine foi emprestado para a Fox a fim de dirigir Tom Mix em A Volta do Vaqueiro / Catch My Smoke e, em 1923, foi a vez da Metro, onde ele dirigiu Viola Dana na comédia dramática Pagando na Mesma Moeda / Her Fatal Millions.

A Warner chamou-o de volta depois de adquirir os direitos de filmagem de dois êxitos da George M. Cohan no palco,” Little Johnny Jones” e “George Washington Jr.” e do romance de Charles Dickens, “David Copperfield”, que seria interpretado por Wesley Barry, anunciando que Beaudine iria dirigir os três filmes. Entretanto, diante do sucesso da ótima recepção de Homens de Amanhã / Penrod (a história de Booth Tarkington sobre a infância americana) dirigido por Marshal Neilan e estrelado por Wesley Barry, a Associated First National obteve os direitos de filmagem de outra história de Tarkington, “Penrod and Sam” e pediu Beaudine emprestado à Warner para dirigir a versão cinematográfica, aqui intitulada As Aventuras de Chiquinho, com Ben Alexander no papel principal, coadjuvado por mais dez meninos e pelo fox terrier Cameo, usado em Os Heróis das Ruas. O espetáculo excedeu as expectativas da First National e foi considerado um dos melhores filmes do ano.

Conhecendo a reputação de Beaudine como um diretor com uma capacidade especial para lidar com atores infantís, Mary Pickford o escolheu – com a permissão da Warner – para dirigir Sua Vida Pelo Seu Amor / Little Annie Rooney / 1925 e Aves Sem Ninho / Sparrows / 1926, que foram precisamente os melhores de suas carreiras.

William Beaudine e Mary Pickford

Mary Pickford

No primeiro filme – uma comédia que provoca lágrimas – a filha de um policial, Annie Rooney (Mary Pickford) – uma menina irlandesa de doze anos de idade -, passa o tempo brigando com os meninos da vizinhança e cuidando de seu pai viúvo  (Walter James) e seu irmão Tim (Gordon Griffith). Depois que seu pai é morto, Annie e Tim buscam vingança. Quando  eles eroneamente acreditam que o culpado foi Joe Kelly (William Haines), o rapaz que Annie ama, Tim pega a arma de seu pai e fere Joe. Enquanto isso, Annie captura o verdadeiro assassino. Ela encontra Joe no hospital e doa seu sangue para uma transfusão, que salva a vida dele. É impressionante como Mary aos 33 anos de idade, depois de ter ter interpretado papéis de adulta em Rosita / Rosita e Entre Duas Rainhas / Dorothy Vernon of Haddon Hall, penetra no corpo de uma garota levada. Beaudine armou algumas sequências formidáveis como, por exemplo, aquela em que o pai de Annie é morto e depois quando ela recebe a notícia desta tragédia. Muito interessante é o uso de estereótipos étnicos (chineses, negros, judeus), porque embora a meninada esteja sempre brigando, os pais são unidos pela ansiedade e todos buscam o conselho do pai de Annie como se ele fosse o médico das redondezas. A produção é de primeira ordem, contando com dois excelentes fotógrafos, Charles Rosher e Hal Mohr, respectivamente primeiro e segundo cinegrafista.

Em Aves sem Ninho, em uma região pantanosa do Sul dos Estados Unidos, um casal de camponeses, os Grimes (Gustav von Seiffertitz, Charlotte Mineau) e seu filho Ambrose (Spec O´Donnell), exploram um grupo de crianças abandonadas, obrigando-as a trabalhar na sua fazenda. Os menores são tratados como prisioneiros, para não dizer escravos, e são muitas vezes brutalizados e privados de comida. Uma adolescente chamada Mollie (Mary Pickford) cuida dos pequenos   “pardais” da melhor maneira possível, os reconforta, e lhes assegura que Deus vela sobre eles. Doris (Mary Louise Miller), uma menininha, é raptada da cidade e entregue aos Grimes. A fim de que a polícia não descubra seu paradeiro, Grimes manda seu enteado afogá-la no pântano. Mollie salva Doris e, depois de se opor violentamente contra Grimes, organiza a fuga de seus protegidos. Percorrendo o pantano infestado de crocodilos, as crianças passam por situações, difíceis  livrando-se de todos os perigos. A polícia prende os Grimes e persegue os raptores, que encontrarão a morte nas areias movediças. Mollie tem a felicidade de ver todos os seus “ pardais” adotados pelo milionário Dennis Wayne (Roy Stewart), pai de Doris.

Cena de Aves sem Ninho

Nossas emoções atingem o auge durante a fuga no final, cheia de suspense, quando Mollie conduz as crianças através do pântano para a liberdade. Perseguida pelo cão de Grimes, a meninada usa uma corda como cipó para atravessar a area de areia movediça, trepa nas árvores e se arrasta pelos seus galhos, pairando pouco acima dos répteis ferozes, que escancaram suas terríveis mandíbulas. Porém a cena que mais me impressionou foi aquela na qual Mollie embala um bebê morto em seus braços enquanto Jesus Cristo aparece no fundo do quadro com um rebanho de ovelhas. Ela adormece, Jesus se aproxima, toma o bebê nos seus braços, e se afasta. É uma das cenas mais lindas que eu já vi no cinema. O espetáculo foi realizado por Beaudine com muito acêrto, auxiliado pela extraordinária direção de arte de Harry Oliver e pela excelente fotografia de Charles Rosher e seus colaboradores Hal Mohr e Karl Struss, influenciados pelo expressionismo alemão dos anos vinte. Estes dois filmes com Mary Pickford colocaram Beaudine no tôpo dos diretores então em exercício em Hollywood, porém nenhum outro filme seu chegou ao nível deles.

Durante a sua longa e altamente prolífica carreira ele realizou centenas de filmes de uma ampla varidedade de gêneros para várias companhias e inclusive na Inglaterra de 1934 a 1937. Ao voltar para a América, Beaudine teve dificuldade de se restabelecer nos grandes estúdios. A partir do início dos anos 40 ele trabalhou principalmente para estúdios da chamada Poverty Row tais como PRC, Monogram e Allied Artists e foi responsável, entre outros numerosos filmes, por exemplares das séries East Side Kids, Bowery Boys, Philo Vance, Michael Shayne Private Detective Torchy Blane, Charlie Chan, Jiggs and Maggie, Kitty O´Day. Em 1944, ele dirigiu um filme de higiene sexual muito controvertido, Mom and Dad, produzido por Kroger Babb e em 1950 o drama religioso Again … Pioneers! e outros filmes  produzidos pela Protestant Film Comission. Sua eficiência era tão conhecida que Walt Disney contratou-o para dirigir alguns de seus projetos televisivos e um longa-metragem do gênero western, Ten Who Dared / 1960. Beaudine também dirigiu numerosos episódios para séries de TV inclusive The Green Hornet, Lassie e Rin-Tin-Tin, que foram exibidas no Brasil. Seus últimos filmes de longa-metragem, lançados em 1966, foram os horror-westerns Billy the Kid vs. Dracula e Jesse James Meets Frankenstein´s Daughter.

John Carradine em Billy the Kid vs Dracula

 

Em maio de 1969, Kewin Brownlow e David Shepard do American Film Institute  descobriram uma cópia de Serás Minha Algum Dia / The Canadians, dirigido por Beaudine em 1926, entre um grupo de filmes silenciosos  doados para a Biblioteca do Congresso pela Paramount. O filme foi incluído em uma Retrospectiva do AFI e teve uma recepção calorosa por parte do público, sendo posteriormente agraciado com o New York Film Critics Award como um dos melhores filmes da era pré-som.

FILMOGRAFIA

Sergio Leemann facilitou meu trabalho, enviando-me a extensa filmografia de William Beaudine, que faz parte de seu monumental DIretores do Cinema Americano Clássico (contendo verbetes e filmografias de mais de mil diretores, dos pioneiros até o fim da era dos grandes estúdios, e centenas de fotos deles em filmagem), que será publicado brevemente.

1922 – Toma Cuidado / Watch Your Step; A Volta do Vaqueiro / Catch MY Smoke; Os Heróis das Ruas / Heroes of the Street. 1923 – Pagando na Mesma Moeda / Her Fatal Millions; Aventuras de Chiquinho / Penrod and Sam; O Pequeno Tipógrafo / The Printer´s Devil; Valor de Criança / The Country Kid; O Fruto da Discórdia / Boy of Mine. 1924 – Audácia e Mocidade / Daring Youth; Maridos Extraviados ou Maridos Descontentes / Wandering Husbands; Filhas do Prazer / Daughters of Pleasure; Sorte ou Azar? / A Self Made Failure; O Mistério da Broadway / Cornered. 1925 – A Encantadora Intrusa / The Narrow Street; Borboletas da Broadway / A Broadway Butterfly; Como se Fazem Heróis  / How Baxter Butted In; Sua Vida Pelo Seu Amor / Little Annie Rooney. 1926 – Quem é o Pai da Criança? / That´s My Baby; Aves Sem Ninho / Sparrows; Ladrão de Casaca / The Social Highwayman; Herói à Força /  Hold That Lion; Serás Minha  Algum Dia / The Canadian. 1927 – O Intruso / Frisco Sally Levy; Rabo de Saia / The Life of Riley; O Amante Irresistível / The Irresistible Lover. 1928 – Dois Forasteiros em Paris / The Coehns and the Kellys in Paris; Frente à Frente / Heart to Heart; Casamento ou Cadeia / Home, James; Com a Boca na Botija / Do Your Duty; Lucros e Perdas / Give and Take. 1929 – Os Evadidos / Fugitives; Falsa Glória / Two Weeks Off; Fraquezas de Mulher / Hard to Get; Não Faça Isso Meu Bem / The Girl from Woolworth´s; Alianças de Amor / Wedding Rings. 1930 – A Danca da Morte ou O Baile da Morte / Those Who Dance; A Outra / Road to Paradise. 1931 – Nosso Filho/ Father´s Son; Apuros da Realeza / Misbeheaving Ladies; The Lady Who Dared; The Mad Parade; Gente Levada / Penrod and Sam; Homens na Sua Vida / Men in Her Life. 1932 – Três Garotas Ladinas / Three Wise Girls; Quero Ser Estrela / Make Me a Star. 1933 – O Crime do Século / The Crime of the Century; De Guarda ao Seu Amor / Her Bodyguard. 1934 – No Tempo do Onça / The Old Fashioned Way. 1935 – Two Hearts in Harmony; So You Won´t Talk; Dandy Dick; Boys Will Be Boys; Get Off My Foot; Mr. Cohen Takes a Walk. 1936 – Where There´s a Will; Educated Evans; It´s in the Bag; Windbag the Sailor. 1937 – Feather Your Nest; Said O´Reilly to McNab; Take It from Me (estes doze filmes rodados na Inglaterra). 1938 – Caçando um Homem / Torchy Gets Her Man. 1939 – Vendo o China / Torchy Blane in Chinatown. 1940 – Maridos Travessos / Misbehaving Husbands. 1941 – Fugitivos Federais / Federal Fugitives; Aterrisagem Forçada / Emergency Landing; Desperate Cargo; Mr. Celebrity; The Miracle Kid; Blonde Comet. 1942 – Duke of the Navy; Brtoadway Big Shot; Lucky Ghost; Professor Creeps; The Panther´s Claw; Homens Segregados / Men of San Quentin; Martírio de Médica / Gallant Lady; Noite de Suplício; One Thrilling Night; Phantom Killer; Foreign Agent; The Living Ghost. 1943 – O Homem Gorila / The Ape Man; Clancy Street Boys; Spotlight Revue; Fantasmas às Soltas / Ghosts on the Loose; Here Comes Kelly; Mr. Muggs Steps Out; Mystery of the 13th Guest. 1944 – What a Man!; Os Mistérios da Magia Negra / Voodoo Man; Hot Rhythm; Detetive Kitty O´Day / Detective Kitty O´Day; Follow the Leader; Leave It To The Irish; Ladrões e Granfinas / Oh, What a Night; A Sombra da Suspeita / Shadow of Suspicion; Campeões de Arrabalde / Bowery  Champs; Crazy Nights. 1945 – Mom and Dad; As Aventuras de Kitty O´Day / Adventures of Kitty O´Day; Fashion Model; Lourinha e Perigosa / Blonde Ranson; Swingin´on a Rainbow; O Rei do Ringue / Come Out Fighting; MercadoNegro de Crianças / Black Market Babies. 1946 – Garota Providencial / Girl on the Spot; Cara de Mármore / The Face of MarbleOne Eciting Week; Finórios do Pano Verde / Don´t Gamble with Strangers; Vítimas do Jogo / Below the Deadline; Cientistas da Fuzarca / Spook Busters; Macumba / Mr. Hex. 1947 – Philo Vance Returns; Os Anjos e a Necromante / Hard Boiled Mahoney; Too Many Winners; Killer at Large; Gas House Kids Go West; Aposta de Má Fé / News Hounds; O Tesouro Maldito / Bowery Buckaroos; O Anel Chinês / The Chinese Ring. 1948 – Os Anjos do Beco / Angel´s Alley; Guarda-Chuva Fatal / Jinx Money; Crime por Alfabeto / The Shanghai Chest; O Olho de Ouro / The Golden Eye; Herança Atrapalhada / Smuggler´s CoveEncontro Fatal / Incident; Maldição da Torre / Kidnapped; Pafúncio e Marocas em Apuros / Jiggs and Maggie in Court; Charlie Chan e o Tesouro Asteca / The Feathered Serpent. 1949 – The Lawton Story; Fúria do Mar / Tuna Clipper; Mulheres Esquecidas / Forgotten Women; Caçadores de Ouro / Trail of the Yukon; Pafúncio e Marocas na Televisão / Joggs and Maggie in Jackpot Jitters; Tough Assigment. 1950 – Raça e Fidalguia / Blue Grass of Kentucky; Loura de 18 Quilates / Blonde Dynamite; A Voz do Espírito / Jiggs and Maggie Out West; Felizardos no Azar / Lucky Looser; County Fair; A Wonderful Life; Second Chance; Os Anjos no Cabaré / Blues Busters; Again … Pioneers!. 1951 – Os Anjos e os Espiões / Bowery Batallion; Foguete Cubano / Cuban Fireball; Caçadores de Fantasmas / Ghost Chasers; Somos da Marinha / Let´s Go Navy!; Nas Garras de Cupido / Havana Rose; Veio, Viu e Venceu / Crazy Over Horses. 1952 – The Congregation; Nascido para Cowboy / Born to the Saddle; Rodeo; Aguenta a Mão / Hold that Line; Aventureiros das Nuvens / Jet Job; Fuzileiros da Fuzarca / Here Come the Marines; The Rose Bowl Sory; O Satânico Dr. Zabor / Bela Lugosi Meets a Brooklyn Gorila; Fazendeiros Fracassados / Feudin´Fools; Vale Tudo / No Holds Barred. 1953 – Corrida às Avessas / Jalopy; Roar of the Crwod; Murder Without Tears. 1954 – Garras Assassinas / Yukon Vengeance; Farristas de Paris / Paris Playboys; O Amor Sempre Vence / Pride of the Blue Grass. 1955 – Anjos Granfinos / High Society; Escola de Vigaristas / Jail Busters. 1956 – Odisséia do Oeste / West Ho the Wagons!. 1957 – Up in Smoke. 1958 – In the Money. 1960 – Ten Who Dared. 1963 – Lassie´s Great Adventure. 1966 – Jesse James Meets Frankenstein´s Daughter; Billy the Kid versus Dracula. 1974 – Kato, o Dragão Invencível / The Green Hornet  (compilação de episódios da sperie de TV, exibida nos cinemas brasileiros – co-direção de Norman Foster).