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GEORGE STEVENS

George Stevens (1904-1975) nasceu em Oakland, Califórnia filho de Landers Stevens e Georgie Cooper, ambos atores de teatro, e fez sua estréia no palco aos cinco anos de idade, aparecendo na ribalta ao lado da atriz dramática Nance O´Neill em “Sapho” no Alcazar Theatre de San Francisco. Aos nove anos de idade, George ganhou de presente da mãe uma câmera Brownie e filmou boa parte da temporada itinerante que seus progenitores fizeram por algumas cidades dos EUA e Canadá. Em 1921, quando George tinha dezesseis anos de idade, a família chegou em Glendale, perto de Los Angeles, onde o primo de Georgie, James Horne, já era um diretor de sucesso no Hal Roach Studios. Landers também tinha amigos na indústria de cinema inclusive David Wark Griffith, Alla Nazimova, Bert Lytell, e Hobart Bosworth, e eventualmente conseguiu trabalho em alguns filmes da Universal e da RKO.

George Stevens

Depois que chegou em Glendale, George teve que deixar o colégio, a fim de levar seu pai de carro para os testes nos estúdios. Nesta ocasião, ele iniciou um negócio de tirar e vender fotografias dos moradores e comerciantes locais e, com a ajuda de seu primo James Horne, ingressou em 1922 na Warner Bros. como aprendiz e assistente de câmera (O filme era Os Heróis das Ruas / Heroes of the Street, dirigido por William Beaudine).

Entre 1924 e 1932, Stevens trabalhou no Hal Roach Studios como assistente de câmera, cameraman, gag writer e então diretor. Como cameraman funcionou em 18 comédias curtas silenciosas e 16 faladas de O Gordo e o Magro (Stan Laurel e Oliver Hardy), 16 comédias curtas de Charley Chase, 4 comédias curtas da série Os Peraltas / Our Gang, 6 comédias curtas da série Max Davidson, 8 comédias curtas da série All Star, 13 comédias curtas de Harry Langdon e, como diretor, em 7 comédias curtas  – e mais 4 comédias sem ser creditado – da série The Boy Friends.

Entre 1932, Stevens deixou Roach e foi para a Universal, onde se revezou com James Horne e Fred Guiol como argumentista e diretor em 12 comédias curtas da The Warren Doane Comedy Series e, finalmente, dirigiu seu primeiro longa-metragem,  Abraços Traiçoeiros / The Cohens and Kellys in Trouble / 1933.

The Cohens And The Kellys In Trouble, poster, George Sidney, Charles Murray, Maureen O’Sullivan, 1933. (Photo by LMPC via Getty Images)

O filme foi bem recebido pelos comentaristas e trouxe o reconhecimento de que Stevens necessitava, mas antes que ele pudesse se beneficiar dele e assinar um contrato com o estúdio para realizar longas-metragens como havia sido prometido, a Universal interrompeu suas atividades devido ao fechamento dos bancos. Sem trabalho novamente, Stevens contratou um agente  (Milton Bren da Frank Orsatti Agency) e este lhe conseguiu um contrato com a RKO, onde ele dirigiu primeiramente 16 comédias curtas. Em setembro de 1933, a RKO emprestou-o à MGM para dirigir Laurel e Hardy em um segmento de Festa de Hollywood / Hollywood Party, lançado em 1934. Quando Stevens retornou para a RKO, o estúdio precisava de um diretor para uma comédia com Stuart Erwin, Bachelor Bait / 1934, e o convocou para esta tarefa.

Lupe Velez, Oliver Hardy e Stan Laurel em Festa de Hollywood

Seguiram-se mais duas comédias, Em Palpos de Aranha / Kentucky Kernels / 1934 e Na Pista da Viúva / The Nitwits  / 1935 ambas com a dupla Bert Wheeler e Robert Woolsey e uma comédia dramática, Nobreza Americana  / Laddie / 1935, sobre uma família da Indiana do final do século dezenove, focalizando o romance entre o filho mais velho da família, Laddie Stanton (John Beal) e Pamela Pryor (Gloria Stewart), filha do fazendeiro vizinho (Donald Crisp).

Katharine Hepburn  e Fred MacMurray em A Mulher Que Soube Amar

Embora já tivesse demonstrado  ser um diretor capaz de abordar um assunto mais sério em Nobreza Americana, foi quando Stevens dirigiu Katharine Hepburn em A Mulher Que Soube Amar / Alice Adams / 1935, que ele ingressou nas fileiras dos diretores mais importantes da RKO. Baseado em um romance de Booth Tarkington, esta sátira social comovedora conta a história de uma jovem pobre (Katharine Hepburn), que deseja ascender socialmente, mas é vítima do esnobismo de uma pequena cidade americana. Quando Arthur Russell (Fred MacMurray), rapaz da classe média alta, se interessa por Alice, ela pensa que deve esconder dele a situação financeira de sua família, mas finalmente é obrigada a encarar a vida de frente. O filme foi indicado para o Oscar e deu a Katharine Hepburn uma indicação para Melhor Atriz.

 

Fred Astaire e Ginger Rogers em Ritmo Louco

Katharine Hepburn e Franchot Tone em Rua da Vaidade

Ainda na RKO, Stevens fez: 1935 – A Mira de um Coração / Annie Oakley, rápida e agradável cinebiografia ficcionalizada da    exímia atiradora de Dark County, Ohio  (Barbara Stanwyck) que se tornou estrela do Wild West Show de Buffalo Bill no final do século dezenove e seu romance com o colega e competidor Frank Butler (no filme chamado de Toby Walker), interpretado por Preston Foster; 1936 – Ritmo Louco / Swing Time, boa comédia musical com a dupla Fred Astaire – Ginger Rogers   dsestacando-se a dança solo de Astaire em homenagem a Bill Robinson, “Bojangles in Harlem” (em que Astaire dança com sua sombra triplificada); “ A Fine Romance”  (com Astaire e Ginger cantando em dueto em um cenário de inverno e “Never Gonna Dance” (com Astaire fazendo uma serenata para Ginger). Dorothy Fields e Jerome Kern ganharam o Oscar de Melhor Canção (“The Way You Look Tonight”) e Hermes Pan teve um indicação para a categoria Melhor Direção de Dança. 1937 – Rua da Vaidade / Quality Street comédia romântica de época, adaptada de uma peça de J.M. Barrie conta – vagarosamente, apesar dos esforços do diretor para disfarçar a teatralidade – a história de Phoebe Throssel (Katharine Hepburn) que aguarda ser pedida em casamento pelo Dr. Valentine Brown (Franchot Tone) mas em vez disso ele parte para as guerras Napolônicas por dez anos. Quando retorna, encontra uma Phoebe envelhecida como diretora de uma escola para crianças. Para reconquistá-lo, ela se faz passar por sua sobrinha Livvie, mas descobre que o Capitão Brown prefere a verdadeira Phoebe no final. Cativa e Cativante / A Damsel in Distress, comédia musical com Fred Astaire sem a sua parceira habitual Ginger Rogers (substituída por Joan Fontaine depois de ter sido cogitada a britânica Jessie Mathews), mas com um score de George e Ira Gershwin e a dupla George Burns-Gracie Allen, que tem os seus fãs. Foi um fracasso de bilheteria, mais provavelmente pela ausência de Gingers embora o coreógrafo Hermes Pan tivesse obtido um Oscar pela sequência no parque de diversões (“Stiff Upper Lip”) e o Diretor de Arte Carroll Clark recebido uma indicação.

Nos seus três últimos filmes na RKO, 1938 – Que Papai Não Saiba / Vivacious Lady; 1939 – Gunga Din / Gunga Din. 1940 – Noites de Vigília / Vigil in the Night, Stevens acumulou as funções de produtor e diretor.

James Stewart e Ginger Rogers emQue Papai Não Saiba

O primeiro filme é uma comédia romântica aprazível (apesar de certas situações muito longas) na qual James Stewart interpreta o papel de um professor de botânica de uma cidade pequena chamado Peter Morgan Jr., que vai para a cidade de Nova York, conhece e se casa impetuosamente com uma cantora de cabaré chamada Francey (Ginger Rogers), mas não consegue dar a notícia para seu pai (Charles Coburn), o severo e autoritário reitor da universidade. Fotografia (Robert De Grasse) e som mereceram uma indicação para o Oscar.

Sam Jaffe

Douglas Fairbanks Jr, Victor MacLaglen,Eduardo Ciannelli e Cary Grant em Gunga Din

O segundo filme (com Douglas Fairbanks Jr., Cary Grant e Victor Mac Laglen nos papéis principais) é um clássico no gênero de aventura, tendo  como pano de fundo o colonialismo britânico. Os executivos do estúdios vinham pensando em realizá-lo desde 1936 e escalaram Howard Hawks como diretor. Depois, achando que ele trabalhava lentamente, entregaram o projeto a Stevens e, para surpresa de todos, este era ainda mais lento, por causa do seu perfeccionismo. O filme acabou custando quase dois milhões de dólares, a produção mais cara da RKO até então. O argumento da dupla Ben Hetcht-Charles MacArthur, sugerido por um poema de Rudyard Kipling, foi adaptado por Joel Sayre, Fred Guiol e, no anonimato, William Faulkner, entre outros. A área próxima de Lone Pine, na Califórnia foi transformada em um autêntico cenário indiano. Todo o elenco, que parece ter sido escolhido a dedo, atua com muita energia e entusiasmo, destacando-se Sam Jaffe (depois de ter sido cogitado Sabu) pela maravilhosa composição do fiel e valoroso aguadeiro.

O terceiro filme, baseado em um romance de A. J. Cronin, é um drama sombrio e absorvente sobre a vida de duas irmãs enfermeiras em um hospital do interior da Inglaterra durante a Primeira Guerra Mundial. Anne Lee (Carole Lombard) é conscienciosa e dedicada e Lucy Lee (Ann Shirley), imatura e irresponsável, causa a morte de uma criança logo no início do relato. Anne assume a culpa para proteger a irmã, é demitida, e vai para uma outra cidade e um novo hospital, onde ao lado de um médico devotado (Brian Aherne) enfrenta com sacrifício e heroísmo uma epidemia.

Stevens assinou contrato com a Columbia em maio de 1940 e dirigiu e produziu três filmes neste estúdio: 1941 – Serenata Prateada / Penny Serenade. 1942 – E A Vida Continua / The Talk of the Town. 1943 – Original Pecado / The More the Merrier. Mas, entre a filmagem do primeiro e do segundo filme, ele deixou Harry Cohn enfurecido por ter ido á MGM dirigir A Mulher do Dia / Woman of the Year.

Cary Grant, Edgar Buchanan e Irene Dunne em Serenata Prateada

Serenata Prateada é um melodrama comovente e lacrimogêneo sobre um casal,  Julie e Roger (Irene Dunne, Cary Grant), que enfrenta uma dor contínua: perde um filho ainda por nascer em um terremoto no Japão e depois uma filha adotiva em um acidente. Stevens empregou bem uma idéia original a saber as lembranças evocadas pela audição sucessiva de vários discos e essas lembranças sendo vividas de novo e inseriu no dramalhão algumas cenas humorísticas como aquela, antológica, em que Julie não consegue dar banho na filhinha até que o tio Applejack  (Edgar Buchanan) se encarrega da tarefa maravilhosamente. O filme ensejou a Cary Grant uma indicação para o Oscar.

Cary Grant, Ronald Colman eJean Arthur em E A Vida Continua

E A Vida Continua é uma comédia dramática verbosa – mas atraente pela competência interpretativa do seu trio de astros e pelo comentário social -, envolvendo três personagens: Leopold Dilg (Cary Grant), fugitivo da polícia por ter cometido um incêndio causador da morte de um homem, que se refugia na casa de Nora Shelley (Jean Arthur), a qual ela acabara de alugar para o jurista, Michael Lightcap (Ronald Colman). Perturbada, ela esconde Dilg no sotão e o faz passar por Joseph, o jardineiro. Eventualmente os dois homens se encontram e se respeitam embora cada qual tenha uma visão radicalmente diferente do mundo enquanto Nora se envolve romanticamente com os dois. O espetáculo suscitou várias indicações ao Oscar: Melhor Filme, Fotografia em Preto e Branco, História Original, Direção de Arte em Preto e Branco, Música de Filme Não Musical.

Jean Arthur, Charles Coburn e Joel MacCrea em Original Pecado

Original Pecado é uma comédia romântica deleitosa com um roteiro inteligente, passada em Washington na época da Segunda Guerra Mundial quando, devido a  escassez de moradia, o industrial Benjamin Dingle (Charles Coburn) aluga metade do apartamento de uma funcionária do governo, Connie Miligan (Jean Arthur) e depois subaluga metade de sua parte a um sargento da Força Aérea, Joe Carter (Joel McCrea) e o resultado é que Connie logo se apaixona por Joe com a conivência de Benjamin. O filme funciona muito bem graças sobretudo às performances dos seus três intérpretes centrais enquanto Stevens mantém o ritmo sempre vivo, resultando várias indicações para o Oscar: Melhor Filme, Direção, Atriz, Ator Coadjuvante (Charles Coburn), História Original (Robert Russell, Lewis R. Foster, Frank Ross, Richard Flournoy) saindo vencedor apenas Coburn, merecidamente pelo seu papel de cupido.

A Mulher do Dia é uma comédia sobre a guerra dos sexos, enfocando o  relacionamento muito competitivo entre dois jornalistas, Tess Harding (Katharine Hepburn) e Sam Craig (Spencer Tracy). O casal discute, depois se casa e luta para ver quem (metaforicamente) usa as calças na família. Stevens dirigiu muito bem seus intérpretes, porém os diálogos, por sua abundância, retardam frequentemente a ação apesar de uma montagem hábil. Ficou famoso o final do filme, quando Tess tenta frustadamente – em uma sequência digna de Laurel e Hardy – providenciar o café da manhã como prova de sua intenção séria de que está domada. Hepburn foi indicada para o Oscar de Melhor Atriz e Ring Lardner Jr. e Michael Kanin conquistaram o Oscar de Melhor Roteiro Original. A alquimia entre Tracy e Hepburn é evidente neste seu primeiro dos nove filmes que fizeram juntos.

Stevens deixou Los Angeles na segunda semana de fevereiro de 1943 para servir como major no U.S. Army Signal Corp, que estava responsável por fotografar a atividade das Fôrças Aliadas durante a guerra. Ele cobriu primeiro o combate na campanha do Norte da África, depois, sediado em Londres, filmou cenas enquanto estava no teatro de guerra europeu e fotografou algumas das operações estratégicas do conflito mundial inclusive a invasão da Normandia, a libertação de Paris, a Batalha do Bulge e, finalmente, a libertação do campo de concentração de Dachau. Stevens ficou na Alemanha quase até o final da guerra em 1945, quando preparou, como o escritor Budd Schulberg, cenas filmadas em Dachau para o documentário The Nazi Plan, que foi apresentado como prova no Julgamento de Nuremberg.

Irene Dunne em A Vida de um Sonho

Ao retornar para a América, Stevens formou com Frank Capra, William Wyler e o produtor Sam Briskin a Liberty Films. A companhia conseguiu fechar um acordo de distribuição com a RKO em troca de 15 milhões de dólares para a produção de três filmes, um para cada realizador. Devido a problemas financeiros, a Liberty acabou sendo vendida para a Paramount Pictures e Stevens, Wyler e Capra tornaram-se diretores contratados deste estúdio. Stevens foi emprestado para a RKO por um ano, para dirigir A Vida de um Sonho / I Remember Mama, que deu início ao ciclo do pós-guerra de filmes mais sérios e cada vez mais pessoais do cineasta. O filme é um retrato episódico e sentimental dos altos e baixos de uma família de imigrantes noruegueses na San Franciso da primeira década do século vinte, unida por uma matriarca (Irene Dunne) forte e sábia. Gerou quatro indicações para o Oscar: Melhor Atriz, Melhor Atriz Coadjuvante (Barbara Bel Geddes e Ellen Corby) e Melhor Fotografia (Nicholas Musuraca).

Elizabeth Taylor e Montgomery Clift em Um Lugar ao Sol

Shelley Winters e Montgomery Clift em Um Lugar ao Sol

Produzido pela Paramount, Um Lugar ao Sol, baseado no romance de Theodore Dreiser,“ An American Tragedy”, foi o primeiro filme que refletiu a transformação pessoal pela qual Stevens passou durante a Segunda Guerra Mundial.  É um drama social e humano, uma história de amor com dimensões trágicas que suscita ao herói  (George Eastman / Montgomery) um problema doloroso:  casar-se com aquela que ama (Angela Vickers / lizabeth Taylor) e satifazer assim suas ambições ou esposar a jovem de condição modesta (Alice / Shelley Winters) que ele seduziu, sem amá-la, e considerar em manter uma situação sem futuro. Contando com as interpretações impecáveis de seus três intérpretes centrais para manter o interesse do espectador  pela ação e utilizando  magnificamente a profundidade de campo, os travelings, os planos sequência e os closes,  sem falar nas longas e belas fusôes, Stevens realizou uma obra-prima do cinema que lhe deu o Oscar de Melhor Diretor. O filme foi indicado para o prêmio da Academia e houve indicações também para Melhor Ator (Montgomery Clift), Melhor Atriz (Shelley Winters), Melhor Roteiro  (Michael Wilson, Harry Brown), Melhor Música para Filme Não Musical (Franx Waxman).

Enquanto Um Lugar ao Sol ainda estava em produção, Stevens aceitou sem hesitação duas histórias que a Paramount lhe ofereceu: elas o ajudariam a cumprir sua obrigação e afrouxar seus laços com o estúdio. Uma história era o romance de Jack Schaefer, “ Shane”. A outra era “Something to Live For”, roteiro escrito por Dwight Taylor e supostamente baseado na vida de sua mãe, a atriz Laurette Taylor, e sua luta contra o alcoolismo.

Em Na Voragem do Vício, melodrama romântico desenvolvido em torno do problema da dualidade amorosa, um desenhista ex-acoólatra (Ray Milland) , designado  pelos Alcoólatras Anônimos (a sociedade que o ajudara a abandonar o vicio) para prestar assistência a uma atriz da Broadway (Joan Fontaine),  descobre uma grande identidade de temperamento entre os dois devido à necessidade que têm de apoio recíproco, surgindo um romance entre eles. Mas então manifesta-se um problema dramático: ele é casado e vive feliz ao lado da esposa (Teresa Wright) e os filhos. Stevens deu ao tema um tratamento a contento do ponto de vista psicológioco, voltando a empregar – como fez em Um Lugar ao Sol – de modo primoroso os closes e as as fusões demoradas.

Brandon De Wilde, Jean Arthur, Van Heflin, Alan Ladd em Os Brutos Também Amam

Jack Palance em Os Brutos Também Amam

Os Brutos Também Amam tem óbvias qualidades: o realismo dos cenários e das vestimentas, os exteriores magníficos, os planos de conjunto cuidadosamente compostos, a narrativa fluente, a grande cena de impacto na qual o pistoleiro (Jack Palance) mata o pobre colono metido a valente (Elisha Cook Jr.) etc. Entretanto, existe algo de forçado no filme, uma visão simplificada e idealizada da vida no Oeste tal como é vista por um menino, Para o crítico francês André Bazin, Os Brutos Também Amam é um “western em segundo grau em que a mitologia do gênero é conscientemente tratada como tema do filme. Procedendo a beleza do western da espontaneidade e da perfeita inconsciência da mitologia nele dissolvida como sal no mar, esta destilação laboriosa é uma operação contra-natura que destrói o que revela. Tanto como idolatria de uma criança por um adulto como tratamento criativo de um mito Os Brutos Também Amam não é uma historia do Oeste; é mais propriamente, o Oeste tal como nós acreditamos que ele deva ter sido”.  O filme teve várias indicações para o Oscar (Melhor Filme, Diretor, Fotografia em cores (Loyal Griggs), Roteiro (A. B. Guthrie Jr.), mas somente Griggs arrebatou a estatueta.

Os quatro últimos filmes de Stevens, 1956 – Assim Caminha a Humanidade / Giant (Warner Bros.) 1959 – O Diário de Anne Frank / The Diary of Anne Frank (Twentieth Century-Fox). 1965 – A Maior História de Todos os Tempos / The Greatest Story Ever Told (United Artists). 1970 – Jogo de Paixões / The Only Game in Town (Twentieth Century-Fox) alcançaram índices artisticos variados.

Elizabeth Taylor e James Dean em Assim Caminha a Humanidade

Assim Caminha a Humanidade é um vasto, longo e lento afresco ao mesmo tempo histórico (evolução do Texas) e familiar (três gerações sucessivas de uma família, os Benedict). O diretor encontrou dificuldades com o volume do romance e com um elenco de atores jovens (James Dean, Rock Hudson, Elizabeth Scott|) esforçando-se por passar por pais de outros atores de idades semelhantes, produzindo um espetáculo decepcionante.

Cena de O Diário de Anne Frank

O Diário de Anne Frank mostra, por meio de retrospecto, aqueles dois anos vividos por Anne Frank (Millie Perkins, depois de cogitada Romy Schneider), familiares e amigos (Shelley Winters, Joseph Skildkraut, Ed Wynn, Richard Beymer, Lou Jacobi, Gusti Huber, Diane Baker) na promiscuidade de um esconderijo confinado, sob constante ameaça e em pânico, com choques de toda ordem, provocados pelo medo, pela fome e pela tensão nervosa nascida do pavor da captura. Toda esta situação dramática é mostrada em termos de bom cinema, da utilização inteligente do contraste entre o silêncio e os ruídos e de fusões muito bem imaginadas, que fazem com que o espectador esqueça o tamanho demasiado longo da narrativa. Stevens que fracassou no filme anterior, volta aos seus domínios do cinema-arte nos quais logrou filmes como Um Lugar ao Sol e Os Brutos Também Amam.

Max Von Sydow em A Maior História de Todos os Tempos

A Maior História de Todos os Tempos é uma versão visualmente majestosa (seguindo a linhagem clássica) e por vezes de ritmicamente arrastada da Vida de Cristo, com alguns momentos de grande efeito como a ressureição de Lázaro, cenas de massa eficientemente coreografadas, boa utilização dos cenários naturais, fotografia em cores proporcionada por dois mestres (Loyal Griggs, William C. Mellor) e perfeito apoio musical de Alfred Newman. Ao ator sueco Max von Sydow coube o papel de Jesus, cercado por uma parada de atores bem conhecidos. Jean Negulesco e David Lean filmaram algumas cenas enquanto Stevens estava se ocupando da filmagem em locação.

Elizabeth Taylor e Warren Beatty em Jogo de Paixões

Jogo de Paixões é uma comédia romântica intimista de origem teatral (a peça de Frank Gilroy), quase que inteiramente confinada em interiores, com desenvolvimento lento e intérpretes  principais visivelmente inadequados para os respectivos papéis. A trama tem início quando Fran Walker (Elizabeth Taylor),  corista de boate que há anos espera o divórcio do amante (Charles Braswell) para casar-se com ele, conhece em um bar o jogador e pianista Joe Grady  (Warren Beatty depois de cogitado Frank Sinatra); após os incidentes habituais em qualquer intriga desse tipo, eles se unem para sempre.

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JOHN M. STAHL

Ele foi um especialista do melodrama e do woman’s picture (filme para mulheres) nos anos 20-30, mas como seus filmes mudos eram considerados como  perdidos e seus filmes sonoros foram ofuscados pelo glamour das refilmagens de Douglas Sirk  nos anos cinquenta, somente há pouco tempo sua obra começou a ser melhor conhecida e celebrada.

John M. Stahl

Em agosto de 1981 o British Film Institute organizou a mostra  “John M. Stahl: The Romantic Image”, com 17 filmes do diretor, sendo dois filmes mudos que tinha em seus arquivos e mais 15 filmes sonoros. Em 1999, no Festival de San Sebastian na Espanha, houve uma retrospectiva mais abrangente, inclusive cobrindo mais o período silencioso. Finalmente, em 2018, realizou-se uma Retrospectiva Stahl, compreendendo um seleção de filmes sonoros na Semana do Cinema Ritrovato em Bologna e outra, de filmes silenciosos, em Pordennone. Neste mesmo ano saiu o livro editado por Bruce Babington e Charles Barr, intitulado “The Call of the Heart – John M. Stahl and Hollywood Career”, publicado pela John Libbey e distribuido mundialmente pela Indiana University Press, que fornece sinopses e informações sobre todos os filmes do cineasta, valendo a pena assinalar ainda a existência de duas publicações anteriores: “John M. Stahl: The Man Who Understood Women”, ensaio de George Morris publicado em Film Comment (Maio / Junho 1977) e “Home is Where the Heart is: Studies in Melodrama and Woman’s film”, editado por Christine Gledhill e publicado pelo BFI em 1987.

Jacob Morris Strelitzky (1886-1950) nasceu em Baku (no atual Azerbaijão) e, no início do século vinte, imigrou para os Estados Unidos onde, ainda jovem, foi condenado e preso por vários delitos em Nova York e Pensilvânia sob os cognomes de Jack Stalll e John Stoloff. Em algum momento Jacob deve ter passado de ator teatral para ator de cinema, mas não existem registros para confirmar isto. Segundo uma história contada pelos publicistas de um estúdio, em um filme no qual estava atuando como ator, o diretor caiu doente, e ele assumiu a direção tão bem, que seu futuro ficou decidido.

Antes de ter seu nome  – já mudado para John M. Stahl – creditado pela primeira vez na tela como diretor de Noivado Trágico / Wives of Men / 1918 (melodrama com Florence Reed, Frank Mills), ele sempre alegou ter dirigido dois filmes sem receber crédito: A Boy and the Law / 1914 e The Lincoln Center ou The Son of Democracy/ 1917. Quanto ao primeiro filme, hoje perdido, sabemos que tinha como protagonista o Juiz Willis Brown, titular de uma vara de menores, que resgatava delinquentes juvenis, mantendo “Cidades de Meninos”, onde eles aprendiam a ter responsabilidade e disciplina através do trabalho como fazendeiros e de uma vida comunitária – porém não existe prova cabal de que Stahl tivesse sido o diretor. Com relação ao segundo filme – na verdade uma série de dez filmes de dois rolos dramatizando acontecimentos na vida de Abraham Lincoln -, apesar de constar dos anúncios de publicidade como tendo sido escrito, dirigido e produzido por Benjamin Chapin, o que se sabe hoje é que ele pode ter filmado algumas cenas, mas precisou de um diretor com mais habilidade para  conduzir o restante do filme e este homem foi John M. Stahl.

Depois de Noivado Trágico, Stahl dirigiu mais alguns melodramas (1918 – Suspicion com Grace Davison, Warren Cook. 1919 – Páginas de Ontem / Her Code of Honor com Florence Reed, William Desmond; The Woman Under Oath com Florence Reed, Hugh Thompson. 1920 – Suspicious Wives com Mollie King, Rod La Rocque (filmado e anunciado em 1920 como Greater Than Love, mas devido a uma disputa sobre direitos, o filme foi engavetado e só lançado em 1921 com novo título, para distinguí-lo de um filme de Fred Niblo de título idêntico); Women Men Forget com Mollie King, Edward Langford.

Ramon Novarro e Alice Terry em Amantes

 

Ainda em 1920 Stahl assinou contrato com a companhia produtora recentemente formada por Louis B. Mayer, para a qual dirigiu onze filmes, que foram distribuidos pela First National, e mais três para a MGM quando Mayer passou a integrar esta companhia em 1925: 1920 – The Woman in His House com Mildred Harris Chaplin, Ramsey Wallace.  1921 – Quem Vento Semeia / Sowing the Wind com Anita Stewart, James Morrison; O Filho do Pecado / The Child Thou Gavest Me com Barbara Castleton, Lewis Stone; Suspicious Wives com Mollie King, Rod La Rocque. 1922 – A Flor do Mal ou Canção da Vida / The Song of Life com Gaston Glass, Grace Darmond;  O Desprezado / One Clear Call com Milton Sills, Claire Windsor; A Idade Perigosa / The Dangerous Age com Lewis Stone, Cleo Madison. 1923 – Os Ricos Necessitados / The Wanters com Marie Prevost, Robert Ellis. 1924 – Por Que os Maridos se Aborrecem de Casa / Why Men Leave Home com Lewis Stone, Helene Chadwick; Maridos e Amantes / Husbands and Lovers com Lewis Stone, Florence Vidor. 1925 – Amor a Crédito / Fine Clothes com Lewis Stone, Alma Rubens. 1926 – Evitando o Pecado / Memory Lane; O Adorável Mentiroso / The Gay Deceiver com Lew Cody, Marceline Day. 1927 – Amantes / Lovers com  Ramon Novarro e Alice Terry; Gratidão de Filho / In Old Kentucky com James Murray e Helene Costello. O sucesso dos primeiros filmes levou Mayer a dar uma unidade própria para Stahl: John M. Stahl Productions e, desde seus filmes mudos, ele ficou associado com o melodrama e o “filme para mulheres”, girando quase sempre em torno de problemas familiares, infidelidade conjugal, ciúme, divórcio, devoção feminina, auto-sacrifício. Seu método de trabalho, como ele próprio dizia era: “emoção no lugar da ação”.

James Murray, Stahl e Helene Costello em Gratidão de Fãilho

No final de 1927 Stahl deixou a MGM, para assumir o cargo de Vice-Presidente e Supervisor Geral da Produção da Tiffany Productions, pequeno estúdio independente que, a partir de então mudou de nome para Tiffany-Stahl.  O ingresso de Stahl foi acompanhado pela compra pela Tiffany do Fine Arts (ex-Reliance-Majestic) estúdio e um investimento de 250 mil dólares para reformá-lo

Genevieve Tobin e John Boles em Filhos

No começo da era do som Stahl desligou-se da Tiffany-Stahl, iniciando a segunda parte de sua carreira sob contrato da Universal, onde dirigiu primeiramente um drama romântico, Vencida pelo Amor / A Lady Surrenders / 1930, com Genevieve Tobin, Rose Hobart, Conrad Nagel, Basil Rathbone e um drama, Filhos / Seed / 1931, com John Boles, Genevieve Tobin, Lois Wilson, Zasu Pitts, dedicando-se depois, em um desvio inesperado, a uma comédia, Más Intenções / Strictly Dishonorable  / 1931, com Paul Lukas, Sidney Fox, Lewis Stone, George Meeker.

O passo seguinte na trajetória artística do diretor nos anos 30 foi a realização de cinco dos seus seis grandes melodramas: 1932 – A Esquina do Pecado / Back Street; Nós e o Destino / Only Yesterday; 1934 – Imitação da Vida/ Imitation of Life. 1935 – Sublime Obsessão / Magnificent Obsession. 1939 – Noite de Pecado / When Tomorrow Comes.

Irene Dunne e |John Boles em Esquina do Pecado

Em A Esquina do Pecado, baseado em um romance de Fannie Hurst, em 1905, uma jovem (Irene Dunne) torna – se amante de um homem casado (John Boles) e se contenta em permanecer no anonimato, sacrificada pelo egoismo dele e pelas convenções sociais. Stahl narra a história por meio de cenas lentas, que produzem efeito cumulativo na platéia , atingindo grande intensidade no final. A interpretação de Irene Dunne, na solitária e taciturna vítima do infortúnio, também contribuiu muito para o sucesso do filme.

John Boles e Margaret Sullavan em Nós e o Destino

Nós e o Destino / Only Yesterday, indicado como tendo sido inspirado em um livro de Federick Lewis Allen, mas com intriga muito parecida com a do romance de Stefan Sweig “Brief einer Unbekannter, levado à tela por Max Ophuls como Carta de uma Desconhecida / Letter from an Unknown Woman / 1948, tem como pivô a jovem (Margaret Sullavan) que, em consequência de uma noite de amor com um soldado (John Boles) de partida para a Primeira Guerra Mundial, engravida; quando o pai da criança retorna, não a reconhece. Sem se preocupar com a credibilidade dos fatos que está narrando, Stahl sabe fazer as mulheres chorarem e, dirigindo com simplicidade, mexeu com as emoções delas. Como não pôde contar com Claudette Colbert e Irene Dunne, pois ambas rejeitaram o papel, escolheu Margaret Sullavan nos palcos de Nova York e o desempenho desta ultrapassou todas as expectativas.

Louise Beavers e Claudette Colbert em Imitação da Vida

Imitação da Vida, foi baseado em um romance de Fannie Hurst, que conjuga problema racial com sacríficio materno. Uma viúva (Claudette Colbert) enriquece vendendo panquecas feitas pela empregada negra (Louise Beavers), mas ambas têm problemas com as filhas. A da patroa (Rochelle Hudson) apaixona-se pelo namorado da mãe; a da criada (Fredi Washington) quer passar por branca, envergonhando-se da progenitora. Stahl soube explorar todos os convencionalismos e extrair desempenhos convincentes das atrizes. O filme foi indicado para o Oscar.

Irene Dunne e Robert Taylor em Sublime Obsessão

Sublime Obsessão adaptação de compasso um pouco arrastado do romance de Lloyd Douglas conta a história implausível do rico playboy (Robert Taylor,) que se torna cirurgião, para operar a jovem (Irene Dunne) que ficara cega em virtude de um acidente de automóvel causado por ele.  Inegavelmente um mestre no gênero lacrimogêno, Stahl expõe a intriga de forma direta, sem se preocupar com floreios estilísticos, alcançando seu objetivo. O filme foi um extraordináriuo sucesso popular.

Charles Boyer e Irene Dunne em Noite de Pecado

Noite de Pecado reuniu Charles Boyer e Irene Dunne em uma história de amor baseada em um romance de James Cain. Dunne vive a garçonete sindicalista apaixonada por Boyer, um pianista cuja esposa sofre das faculdades mentais. Embora cheio de lugares-comuns, o filme é dirigido com a sobriedade e a sinceridade caraterística do cineasta e muito bem interpretado, atingindo os seus fins.

Clark Gable e Myrna Loy em Parnell, O Rei Sem Corôa

Andrea Leeds e Adolph Menjou em Dia de Promessa

Além deles, cedendo ao apelo de Louis B. Mayer para dirigir na MGM um projeto inabitual para o cineasta, Stahl realizou uma cinebiografia frustrada do nacionalista irlandês Charles Parnell, Parnell, O Rei Sem Corôa / Parnell /1937 com Clark Gable e Myrna Loy e terminou a década, de novo na Universal, com uma comédia dramática, Dia de Promessa / Letter of Introduction / 1938, interrompendo a todo instante o drama vivido por Adolphe Menjou e Andrea Leeds com as gracinhas de Edgar Bergen e seu boneco.

Gracie Fields e Monty Woolley em A Palheta da Vida

Gregory Peck em As Chaves do Reino

Maureen O´Hara e Rex Harrison em Débil é a Carne

Cornel Wilde e Linda Darnell em Muralhas Humanas

Nos anos 40, antes de ingressar na 2Oth Century-Fox, onde ficaria até o final de sua carreira, Stahl realizou na Columbia A Noiva de Meu Marido / Our Wife / 1941, comédia romântica fraquinha com Melvyn Douglas, Ruth Hussey e Ellen Drew. Na Fox ele fez nove filmes variados: 1943 – O Sargento Imortal / The Immortal Sergeant, filme de propaganda de guerra com Henry Fonda, Maureen O’Hara e Thomas Mitchell, que devota boa parte do tempo para um melodrama romântico na frente doméstica; A Palheta da Vida / Holy Matrimony,  boa comédia com Monty Woolley, Gracie Fields e Eric Blore sobre um pintor inglês célebre (Woolley) que se faz passar por morto e usurpa  a identidade de seu falecido mordomo (Eric Blore). 1944 – A Véspera de São Marcos / The Eve of St. Mark, filme de propaganda de guerra com William Eyth e Anne Baxter que intercala cenas no quartel e na frente de batalha e incorpora um romance entre um soldado e sua namorada na sua cidade natal; As Chaves do Reino / The Keys of the Kingdom,  adaptação  (por Joseph L. Mankiewicz) de um romance de A. J. Cronin tendo como figura central um padre católico missionário na China (Gregory Peck), com algumas cenas individuais bem sucedidas (v. g. o adeus do padre à madre superiora (Rose Stradner) com a qual ele teve um relacionamento tenso), interpretação convincente de Peck (indicado ao Oscar) e boa fotografia (Arthur Miller) também indicada para o prêmio da Academia, mas prejudicada por um ritmo as vêzes arrastado; 1945 – Amar foi Minha Ruína Leave Her to Heaven. 1947– Débil é a Carne / The Foxes of Harrow, drama de época baseado em um romance de Frank Yerby, aproveitando bem a atmosfera sugestiva de New Orleans no tempo da escravidão, que serve de cenário para o romance agitado entre um jogador audacioso (Rex Harrison) e uma fidalga arrogante (Maureen O’Hara), porém com desequilíbrio rítmico; 1948 – Muralhas Humanas / The Walls of Jericho, drama evocando com mordacidade o ambiente de uma pequena cidade do Centro Oeste americano, que um bom grupo de atores (Anne Baxter, Linda Darnell, Cornel Wilde, Kirk Douglas, Ann Dvorak, Marjorie Rambeau) tenta em vão animar durante o desenrolar monótono do espetáculo. 1949 – Papai foi um Craque / Father Was a Fullback, comédia familiar e esportiva bem modesta; Bonequinha Linda / Oh, You Beautifull Doll, musical baseado em episódios da vida do compositor Fred Fisher (interpretado por S. Z. Sakall) com June Haver e Mark Stevens compondo o par romântico, conduzida sem grande vivacidade, mas repleta de boas canções, sem falar na presença sempre divertida de Sakall.

Gene Tierney em AS,mar foi Minha |

Deixei para o final o sexto grande melodrama de Stahl, Amar Foi Minha Ruína, de conteúdo sombrio, explorando uma situação tipicamente freudiana: um pai falecido e a filha que o idolatra. Esta heroína (Gene Tierney) com complexo de Édipo, casa-se com um homem (Cornel Wilde) que parece físicamente com seu progenitor e sua obsessão amorosa por ele (um verdadeiro incesto por interposta pessoa) leva-a até ao crime, ao aborto e ao suicídio. O filme contém algumas cenas antológicas (a cavalgada da heroína neurótica espalhando as cinzas de seu pai, o afogamento do jovem cunhado no lago sem que ela lhe preste socorro, a sua queda voluntária da escada) e uma belíssima fotografia em cores de Leon Shamroy (premiada com o Oscar), absolutamente crucial para o impacto do filme, pois realça e estiliza as paixões excessivas da heroína.