Arquivo diários:abril 22, 2020

A LEGIÃO ESTRANGEIRA NO CINEMA (1912-1960)

Ela foi criada por ordem do Rei Luís Felipe da França em 1831 e, na primeira década do século vinte, surgiram os primeiros filmes sobre esta corporação, disseminando ainda mais a sua já consideravel fama, promovida através da literatura ou do teatro.

P. C. Wren

A imensa popularidade de “Beau Geste”, romance publicado em 1924 por um ex-legionário, Percival Christopher Wren, estabeleceu as bases para a maioria dos filmes de Hollywood sobre a Legião Estrangeira. Entretanto, o livro considerado como o primeiro romance sobre a Legião, “Under Two Flags”, não era sobre ela, mas sim sobre os Chasseurs d’Afrique, a unidade de cavalaria ligeira do Exército Francês. Ele foi escrito por uma mulher, Maria Louise de la Ramée (que assinava sob o pseudônimo de “Ouida”) e publicado em 1867. O romance de Ouida foi levado à tela pela primeira vez em 1912 através de dois filmes lançados no mesmo mês, o primeiro pela Tanhouser (Dir: Lucius Henderson com um elenco no qual se destacavam Katherine Horn (Cigarette), William Garwood, William Russell, Florence La Badie) e o segundo pela Gem (Dir: George Nicholls com Vivian Preston (Cigarette), Herschel Mayall, Janet Salisbury, Charles Perley).

Theda Bara em Under Two Flags

Duas adaptações seguintes surgiram em 1915 pela Biograph (Dir: Travers Vale com Louise Vale (Cigarette) Franklin Ritchie, Helen Bray, Herbert Barrington) e em 1916 pela Fox (Dir: J. Gordon Edwards com Theda Bara (Cigarette), Herbert Hayes, Stuart Holmes, Claire Witney). Hoje ninguém poderá ver Theda com Cigarette, a mestiça que pratica o último sacrifício levando o tiro direcionado para seu amante, porque o filme (aquí lançado com o título de Sob Duas Bandeiras) é considerado perdido.

As versões mais famosas dessa aventura romântica, ambas exibidas no Brasil com o título de Sob Duas Bandeiras, foram a de 1922 da Universal-Jewel (Dir: Tod Browning com Priscilla Dean (Cigarette), James Kirkwood, Stuart Holmes Ethel Grey Terry, John Davidson) e a de 1936 da Twentieth Century-Fox (Dir: Frank Lloyd com Claudette Colbert (Cigarette), Ronald Colman, Rosalind Russell, Victor MacLaglen, Nigel Bruce, Gregory Ratoff).

Victor MacLaglen, Rosalind Russel e Ronald Colman em Entre Duas Bandeiras 1936

Ronald Colman e Claudette Colbert em Sob Duas Bandeiras 1936

Na primeira versão ocorreu um desastre na filmagem em locação na cidade de Oxnard ao norte de Los Angeles, onde a areia da praia parecia com o Sahara (desde que a câmera não focalizasse o Oceano Pacífico). Para dar realismo ao passeio de camelo de Priscilla Dean através deste cenário de deserto, o diretor Tod Browning transportou várias máquinas equipadas com hélices de avião para simular uma tempestade de areia; porém uma tempestade de verdade enterrou as máquinas de vento. Levou duas semanas para desenterrar as máqinas e colocá-las para funcionar novamente. Na segunda versão Colman é o legionário disputado por Colbert e Russell e alvo da inveja do enciumado major, interpretado por McLaglen. A atriz francesa Simone Simon, contratada para ser Cigarette, foi despedida após duas semanas de filmagem a pedido do diretor Frank Lloyd, que não aguentou suas atitudes temperamentais. Frase da publicidade: “Um amor tão quente quanto as areias do Saara”.

A história da fraternidade inabalável entre três irmãos (Michael, Digby e John Geste) imaginada por P. C. Wren, cheia de aventura e mistério, foi transportada para a tela duas vêzes no período abordado neste artigo, resultando dois filmes excelentes, ambos produzidos pela Paramount: o Beau Geste / Beau Geste de 1926 (Dir: Herbert Brennon com Ronald Colman (Michael “Beau” Geste), Neil Hamilton (Digby), Ralph Forbes (John), Noah Beery, Mary Brian, Alice Joyce, William Powell, Victor MacLaglen) e o Beau Geste / Beau Geste de 1939 (Dir: William Wellman com Gary Cooper (Beau Geste), Robert Preston (Digby), Ray Milland (John), Brian Donlevy, Susan Hayward, J. Carrol Naish, Abert Dekker, Broderick Crawford).

Ralph Forbes, Ronald Colman e Neil Hamilton em Beau Geste 1926

Ray Milland, Gary Cooper e Robert Preston em Beau Geste 1939

O primeiro filme, foi rodado nas áreas desérticas de Yuma, no Arizona fotografadas com efeitos de luz e sombra (por J. Roy Hunt) que, somados às esplêndidas sequências de ação e ao desempenho dos atores, principalmente Noah Beery como o cruel Sargento LeJaune, abrilhantaram o espetáculo, fazendo com que o nome de Brennon ficasse tão conhecido do público como os de D.W, Griffith e Cecil B. De Mille. No segundo filme, fotografado por Theodor Sparkhul e Archie Stout, o Saara também foi reconstruído no deserto de Yuma, Arizona e mais uma vez o ator que interpretou o comandante sádico do Forte Zinderneuf, Brian Donlevy, se destacou em cena, merecendo uma indicação para o Oscar. Hans Dreier e Robert Odell também concorreram ao prêmio da Academia na categoria de Melhor Direção de Arte. O filme estava programado para ser o primeiro filme em Technicolor da Paramount, dirigido por Henry Hathaway em 1936, porém o estúdio depois mudou esta decisão.

Gary Cooper e Evelyn Brent em Beau Sabreur

“Beau Geste” foi o primeiro de uma tetratologia de romances de P.C. Wren, que seria seguido por “Beau Sabreur”, “Beau Ideal” e “Good Gestes”. O segundo e o terceiro foram adaptados para o cinema e o quarto nunca foi filmado. Beau Sabreur / Beau Sabreur / 1928, foi produzido pela Paramount (Dir: John Waters com Gary Cooper, Evelyn Brent, Noah Beery, William Powell). Beau Ideal / Beau Ideal / 1931 foi produzido pela RKO (Dir: Herbert Brenon com Lester Vail, Leni Stengel, Ralph Forbes, Don Alvarado, Loretta Young, Irene Rich).

A era silenciosa gerou outros filmes sobre a legião Estrangeira: The Dishonorable Medal  / 1914 (Dir: Christy Cabanne  (Supervisão de D. W. Griffith) com Miriam Cooper, George Gebhart, Raoul Walsh, Frank Bennett); Captain Macklin / 1915 (Dir: John O’Brien com Jack Conway, Lillian Gish, Spottiswoode Aitken, W.E. Lowery); The Unknown / 1915 (Dir: George Melford com Lou Tellegen, Theodore Roberts, Dorothy Davenport, Raymond Hatton); A Soldier of the Legion / 1917 (Dir: Ruth Ann Baldwin com Irene Hunt, Leo Pierson, Grace Marvin, Noble Johnson); Os Mouros do DesertoThe Man Who Turned White / 1919 relançado como  The Sheik of Araby (Dir: Park Frame com H.B. Warner, Barbara Castleton, Wedgewood Nowell, Carmen Phillips); O Filho do Sahara / A Son of the Sahara (Dir: Edwin Carewe com Claire Windsor, Bert Lytell, Walter McGrail, Rosemary Theby); Amor e Glória / Love and Glory / 1924 (Dir: Rupert Julian com Madge Bellamy, Charles de Roche, Wallace MacDonald, Ford Sterling); A Escada de CaracolThe Winding Stair / 1925 (Dir: Griffith Wray com Edmund Lowe, Alma Rubens, Warner Oland, Mahlon Hamilton); O Novo Mandamento / The New Commandment / 1925 (Dir: Howard Higgin com Blanche Sweet, Ben Lyon, Holbrook Blun, Clare Eames);  Paixão Oculta / The Silent Lover / 1926 (Dir: George Archimbaud com Milton Sills, Natalie Kingston, William Humphrey, Arthur  Edmund Carewe); A Mulher Fatídica / The Forbidden Woman /  1927 (Dir: Paul Stein com Joseph Schildkraut, Jetta Goudal, Victor Varconi, Ivan Lebedeff); A Legião Estrangeira / The Foreign Legion / 1928 (Dir: Edward Sloman com Lewis Stone, Mary Nolan, Norman Kerry, Crawford Kent).

Gary Cooper, Marlene Dietrich e Adolphe Menjou em Marrocos

O advento do som no final dos anos vinte não interrompeu a produção de filmes sobre a Legião Estrangeira. O filme mais importante nesta época foi Marrocos / Morocco / 1930 (Dir: Josef von Sternberg com Marlene Dietrich, Gary Cooper, Adolphe Menjou, Ulrich Haupt, Juliette Compton). Esta aventura romântica foi o primeiro filme americano de Marlene Dietrich, com momentos de refinamento estético do diretor austríaco que a trouxe para Hollywood. A cena em que Marlene canta vestida de cartola e casaca e dá um beijo na boca de uma mulher, inspirou os publicistas, que a anunciaram como “a mulher que todas as mulheres querem ver”. A ambiguidade sexual se tornaria a marca registrada da estrela, e seus trajes masculinos ditaram a moda. O fotógrafo Lee Garmes filmou nuitas das cenas ao meio-dia. Aproveitando a luz natural do sol, coisa rara na época. Ele, o cenógrafo Hans Dreier, Marlene e Sternberg foram indicados para o Oscar. Adolph Zukor confessaria mais tarde a Sternberg que Marrocos salvou a Paramount da falência.

John Boles e Carlotta King em A Canção do Deserto

No período sonoro foram ainda realizados: Amor no Deserto / Love in the Desert / 1929 (Dir: George Melford com Olive Borden, Hugh Trevor, Noah Beery, Frank Leigh); Dois Homens e Uma Mulher / Two Men and a Maid / 1929 (Dir: George Archainbaud com William Collier Jr., Alma Bennett, Eddie Gribbon, George E. Stone); A Canção do Deserto / The Desert Song / 1929 (Dir: Roy Del Ruth, musical com John Boles, Carlotta King, Louise Fazenda, Johnny Arthur); Homem dos Meus Sonhos / Women Everywhere / 1930 (Dir: Alexander Korda com Fifi D’Orsay, J. Harold Murray, George Grossmith, Rose Dione); A Ilha do Inferno ou A Ilha do Inferno  / Hell’s Island /  1930 (Dir: Edward Sloman com Jack Holt, Ralph Graves, Dorothy Sebastian, Richard Cramer); Renegados / Renegades / 1930 (Dir: Victor Fleming com Warner Baxter, Myrna Loy, Noah Beery, Bela Lugosi); Beija-me Outra Vez / Kiss Me Again / 1931 (Dir: William Seiter, musical com Walter Pidgeon,  Bernice Claire,  Edward Everett Horton, June Collyer); The Red Shadow / 1931 (Dir: Roy Mack, curta metragem musical com Alexander Gray, Bernice Claire, Max Stamm, Grace Worth;  Os Três Mosqueteiros / The Three Musketeers / 1933 (Seriado da Mascot com Jack Mulhall. Raymond Hatton, Francis X. Bushman Jr., John Wayne, Ruth Hall, Lon Chaney Jr.); Vidas sem Rumo / The Devil’s in Love / 1933 (Dir: William Dieterle com Victor Jory, Loretta Young, Vivienne Osborne, David Manners); A Legião dos Perdidos / The Legion of Missing Men / 1937 (Dir: Hamilton MacFadden com Ralph Forbes, Ben Alexander, Hala Linda, George Regas); Legionário à Força / Trouble in Morocco / 1937 (Dir: Ernest B. Schoedsack com Jack Holt, Mae Clarke, C. Henry Gordon, Harold Huber); Aventura do Sahara / Adventure in Sahara / 1938 (Dir: D. Ross Lederman com Paul Kelly, C. Henry Gordon, Lorna Gray, Marc Lawrence, Dick Curtis); Tambores do Deserto / Drums of the Desert / 1940 (Dir: George Waggner com Ralph Byrd, Lorna Gray, Mantan Moreland, George Peter Lynn); A Canção do Deserto / The Desert Song / 1944 (Dir: Robert Florey, musical com Dennis Morgan, Irene Manning, Bruce Cabot, Lynne Overman, Gene Lockhart, Faye Emerson, Victor Francen); Legião Sinistra / Rogue’s Regiment / 1948 (Dir: Robert Florey com Dick Powell, Vincent Price, Marta Toren, Stephen McNally);

George Raft em Posto Avançado em Marrocos

GiIbert Roland e Burt Lancaster emHomens do Deserto

Carlos Thompson e Yvonne De Carlo em O Forte da Coragem

Posto Avançado em Marrocos / Outpost in Morocco / 1949 (Dir: Robert Florey com George Raft, Marie Windsor, Akim Tamiroff, John Litel); Homens do Deserto / Ten Tall Men / 1951 (Dir: Willis Goldbeck com Burt Lancaster, Gilbert Roland, Jody Lawrence, Kieron Moore,  Mike Mazurki); O Forte da Coragem / Fort Algiers / 1953 (Dir: Lesley Selander com Yvonne De Carlo, Carlos Thompson, Raymond Burr,Leif Erickson, Anthony Caruso); Legião do Deserto / Desert Legion / 1953 (Dir: Joseph Pevney com Alan Ladd, Richard Conte, Arlene Dahl, Akim Tamiroff, Anthony Caruso); A Canção do Sheik / The Desert Song / 1953 (Dir: Bruce Humberstone, musical com Kathryn Grayson, Gordon MacRae, Steve Cochran, Raymond Massey); Um Salto no Inferno / Jump into Hell / 1955 (Dir: David Butler com Jack Sernas, Kurt Kasnar, Arnold Moss, Peter Van Eyck, Marcel Dalio); Areias do Deserto / Desert Sands / 1958 (Dir: Lesley Selander com Ralph Meeker, Marla English, J. Carrol Naish, John Smith, John Carradine); No Umbral da China / China Gate / 1957 (Dir: Samuel Fuller com Gene Barry, Angie Dickinson, Nat “King” Cole, Lee Van Cleef); Desert Hell / 1958 (Dir: Charles Marquis Warren com Brian Keith, Barbara Hale, Richard Denning, John Desmond); Legion of the Doomed / 1958 (Dir: Thor Brooks com Bill Williams, Dawn Richard, Anthony Caruso, Kurt Kreuger).

Como a Legião Estrangeira combateu em várias partes do globo era natural que surgissem filmes sobre ela em outros países, porém, neste artigo, vou mencionar apenas os mais importantes realizados na França.

Em 1924 o seriado Os Filhos do Sol / Les Fils du Soleil, produzido pela Societé des Cineromans / Pathé-Consortium-Cinema (Dir: René le Somptier com Marquisette Bosky, Leila Djali, Georges Charlin, Joe Hamman, Mario Nasthasio), eletrizou as platéias, não só da França como do Brasil, contando em 8 episódios como um sheik árabe cruel, Abd el Kassem (Mario Nasthasio) governava uma região do Marrocos graças às armas vendidas para ele pelo Barão von Horn (Joe Hamman), financista internacional igualmente cruel até que Hubert de Beauvoisin (Georges Charlia), cadete brilhante de Saint-Cyr (o equivalente francês a West Point) é obrigado a ingressar na Legião. após ter sido vítima de uma armação por von Horn, que estava apaixonado por sua noiva Aurore (Marquisette Bosky). Ela e seu pai também são obrigados a partir para o Marrocos, onde o sheik se apaixona pela moça e a sequestra. No final, de Beauvoisin consegue libertar sua noiva, vencer o sheik e punir von Horn. Os capítulos receberam os seguintes títulos em português: 1. Desonrosa Intriga. 2. O Capitão Youssouf. 3. Cristão e Muçulmana. 4. A Justiça do Emir. 5. A Evasão. 6. A Guerra Santa, 7. A Derrota, 8. A Honra Triunfa.

Pierre Richard-Willm e Françoise Rosay em A Última Cartada

Em 1934, Última Cartada / Le Grand Jeu (Dir: Jacques Feyder com Marie Bell, Pierre Richard-Willm, Françoise Rosay, Charles Vanel, Georges Pitöeff, Line Clévers, Pierre Larquey) desenvolvia o seguinte enredo: Pierre Martel  (Pierre Richard-Willm) se desonrou por Florence (Marie Bell), amante indigna. Ele se alista na Legião Estrangeira e encontra Irma (Marie Bell), prostituta desmemoriada muito parecida com Florence, no cabaré de Clément (Charles Vanel) e de sua esposa Madame Blanche (Françoise Rosay), que é cartomante. Ao receber uma herança, ele decide voltar para a França na companhia de Irma, mas se depara com Florence, que o rejeita novamente. Ele dá todo o seu dinheiro para Irma e promete seguí-la nos próximos dias. Após a partida do navio, Pierre se alista de novo na Legião Estrangeira e Blanche prediz sua morte. Impregnado de fatalismo e desesperança existencial, o filme já anuncia o realismo poético. Feyder deu credibilidade a uma trama romântica convencional e a elevou ao nível de um drama pirandelliano, utilizando os cenários e o quadro geográfico para completar a psicologia dos personagens. Na cena final, Pierre se embebeda com Blanche no cabaré. Ele pede a ela que leia as cartas. Um par de noves – prenúncio da morte – aparece. Pierre se despede, sabendo que vai partir em sua última missão. Blanche espalha as cartas e elas caem no chão. Ela se ajoelha, soluçando, e as apanha uma a uma. Ouve-se a marcha do regmento que parte. A câmera recua lentamente, afastando-se de Blanche, como se estivesse com medo de ser contagiada pelo seu desespêro.

Annabella, Jean Gabin e Robert Le Vigan em A Bandeira

Em 1936, a história de A Bandeira / La Bandera (Dir: Julien Duviviver com Jean Gabin, Annabella, Robert Le Vigan, Aimos, Pierre Renoir, Viviane Romance) tem início quando, depois de matar um homem em Montmartre, Pierre Gilieth (Jean Gabin) se alista na Legião Estrangeira espanhola, onde se liga a dois compatriotas, Mulot (Aimos) e Lucas (Robert Le Vigan). Em um café, Gilieth apaixona-se por Aischa (Annabella), uma jovem dançarina berbere e se casa com ela no meio das prostitutas e dos soldados. Seu companheiro de armas, Lucas, é na realidade um policial, que seguia sua pista desde Paris, visando a uma recompensa. O batalhão é enviado para um posto avançado. O forte é cercado, os legionários caem um após o outro. Só resta Lucas, de pé, no meio de seus camaradas mortos. Desde o início, Gilieth está marcado pelo destino e pela fatalidade, pedras angulares sobre as quais uma faceta essencial do “mito Gabin”vai ser construída. Embora tendo de lidar com certos convencionalismos do gênero aventura colonialista, Duvivier cria algumas sequências notáveis : o crime contado por meio de uma elipse – a jovem embriagada e a mancha de sangue que ela descobre no seu vestido; o tumulto no café apanhado por uma câmera oblíqua oscilante; a cusparada no rosto do policial encoberto sob a bandeira da legião; Mulot bebendo a água envenenada debaixo do fogo inimigo e morrendo feliz com a sede aliviada; a chamada geral terminada a luta, a que só um homem responde.

Danielle Darrieux e Geroges Marchal em História de um Pecado

Outro filme francês muito conhecido foi História de um Pecado / Bethsabée / 1947 (Dir: Leonide Moguy com Danielle Darrieux, Georges Marchal, Jean Murat, Paul Meurisse, Andrée Clement, Pierre-Louis), adaptação de um romance de Pierre Benoit, inspirado na história da heroína bíblica.  No melodrama, Arabella (Danielle Darrieux) reune-se com seu noivo, o capitão Dubreil (Georges Marchal) em um quartel de spahis nos confins do Marrocos. Arabella está separada de seu primeiro marido, Lucien Sommerville (Paul Meurisse), que sucumbiu ao alcoolismo, porque ela o deixou e ignora que Sommerville é colega de Dubreil. Arabella suplica-lhe que lhe conceda o divórcio, mas ele se recusa. Quando Sommerville vê Arabelle nos braços de Dubreil, passa a atormentá-la, acusando-a de ter sido a causa do suicídio de um amigo, que era loucamente atraído por ela. O comandante do forte (Jean Murat), também sensível aos encantos de Arabella, tem uma filha, Évelynne (Andrée Clement) que, apaixonada por Sommerville, sente ciúmes de Arabella. Esta tenta explicar a Dubreil que não é responsável pelas paixões que desperta, porém ele acusa sua noiva de traição. O pai de Évelyne envia Sommerville para uma missão no lugar de Dubreil e o militar encontra a morte, mas a tempo de perdoar Arabella. Évelyne, enraivecida, mata então Arabella com um tiro de revólver. Moguy não se compara a Feyder e Duvivier, mas o elenco sustenta o espetáculo.

No decorrer dos anos 30/40, surgiram outros filmes francêses sobre a Legião, : Les Hommes Sans Nom /1937 (Dir: Jean Vallére com Constant Remy, Tania Fodor, Thomy Bourdelle, Lucas Gridoux); Legions D’Honneur / 1938 (Dir: Maurice Gleize com Charles Vanel, Abel Jacquin, Marie Bell, Pierre Renoir, Jacques Baumer); Le Chemin de L’Honneur / 1939 (Dir: Jean-Paul Paulin com Renée Saint Cyr, Henri Garat, Marcelle Geniat, Constant , André Lefaur, Fernand Charpin); Face au Destin / 1939 (Dir:  Henri Fescourt com Georges Rigaud, Jules Berry,  Gaby Paul Bernard, Gaby Sylvia, Joselyne Gael, Jean Max); Fort de la Solitude / 1948 (Dir: Robert Vernay com Claudine Dupuis, Alexandre Rignault, Lucien Nat. Em 1954 Robert Siodmak dirigiu sem inspiração a refilmagem de Le Grand Jeu, aqui intitulada A Grande Paixão, com Gina Lollobrigida, Jean-Claude Pascal, Arletty, Peter Van Eyck, Raymond Pellegrin.

Oliver Hardy e Stan Laurel em Paixonite Aguda

Desde os tempos do cinema mudo a Legião Estrangeira serviu de motivo para os comediantes: O Gordo e o Magro (Beau Gênio ou Dois Recrutas no Deserto / Beau Hunks / 1931; Os Três Patetas (Legionários de Ocasião / We We Monsieur / 1938; Abbot e Costello (Abott e Costello na Legião Estrangeira / Abott and Costello in the Foreign Legion / 1950; Charles Chase (Arabian Tights / 1933), Fernandel (Un de la Legion) e não posso deixar de terminar este artigo citando uma sequência antológica de Stan e Oliver em Paixonite Aguda / The Flying Deuces / 1939 (Dir: Edward Sutherland), como os dois recrutas cantando e dançando “Shine on Harvest Moon” com uma graça e leveza encantadoras, um dos instantes inesquecíveis da maior dupla cômica do Cinema.