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EDWARD G. ROBINSON

Emanuel Goldenberg (1893- 1973) nasceu em Bucareste na Romênia, filho de Morris e Sarah Goldenberg. Fugindo da opressão e segregação sofrida em sua terra natal, o casal emigrou com seus seis filhos para os Estados Unidos no início do século vinte. Eles não chegaram todos de uma vez. Primeiro vieram Morris e seus filhos mais velhos e depois, em 1903, é que chegaram Sarah e os outros filhos, entre eles, Manny, como Emanuel era chamado. Manny diria mais tarde: “Minha mãe pode me ter dado à luz na Romênia, mas eu nascí no dia em que pisei no solo americano”.

Edward G. Robinson

A família foi morar no Lower East Side de Nova York. Embora Manny falasse Yiddish, Romênio e Alemão e lesse Hebraico, ele não sabia uma palavra de inglês mas, como tinha facilidade para línguas, aprendeu este idioma rapidamente, livrando-se inclusive do seu sotaque, falando como se tivesse nascido na América. Manny estudou na Towsend Harris High School e depois no City College of New York City, onde descobriu seu dom para a oratória, que lhe proporcionou uma bolsa na Academy of Dramatic Arts. Abandonando seus planos de se tornar um rabino ou um advogado criminal, Manny dedicou-se inteiramente à profissão de ator e, após algumas semanas na Academia, foi aconselhado pelo diretor da escola, Franklin Sargent, a mudar seu nome para algo mais anglo-saxão. Assim surgiu o Edward G. Robinson, que todos os fãs de cinema iriam admirar.

Robinson e Claudette Colbert em O Grilhão Eterno

Sua estréia profissional com o novo nome artístico deu-se em 1912, na peça em um ato “Bells of Conscience” e, depois de mais estudo e algumas frustrações na ribalta, ele recebeu um convite para atuar como coadjuvante em um filme de John S. Robertson, O Chale da Sedução / The Bright Shawl / 1923, estrelado por Richard Barthelmess e Dorothy Gish. Robinson só voltaria para a frente das câmeras em 1929 no filme O Grilhão Eterno / The Hole in the Wall, dirigido por Robert Florey só que, desta vez já como ator principal, no papel de The Fox, o líder de um grupo de ladrões, ao lado de Claudette Colbert. Nesse intervalo de seis anos ele continuou fazendo teatro (destacando-se a peça “The Goat Song”, produzida pelo Theater Guild e estrelada por Alfred Lunt e Lynn Fontanne) e se casou, em 31 de janeiro de 1927, com Gladys Lloyd, divorciada e mãe de uma filha.

Robinson e Schildkraut em A Última Façanha

Quando veio a Depressão, ficou dificil encontrar trabalho no teatro e, acolhendo a sugestão de seu amigo Joseph Schildkraut, Robinson foi com ele para Hollywood, a fim de aparecerem no filme A Última Façanha / Night Ride / 1930, produzido pela Universal e dirigido pelo mesmo John S. Robertson, que havia escalado Robinson para O Chale da Sedução. .Em A Última Façanha, Robinson faz o papel de um gângster, Tony Garotta, que sequestra um repórter (Schildkraut), para escapar da polícia. Ele morre no final e o repórter fica com a mocinha (Barbara Kent).

Vilma Banky e Robinson em Mulher Ideal

Robinson chamou a atenção de Hollywood e Irving Thalberg lhe ofereceu o papel principal masculino ao lado de Vilma Banky em Mulher Ideal / A Lady to Love / 1930, adaptação de uma peça de Sidney Howard, dirigida por Victor Seastrom (Sjostrom). Ele era Tony, o viticultor italiano que corteja uma jovem da cidade por correspondência e lhe envia uma foto de seu capataz em vez da sua, o que traz complicações quando ela aceita sua proposta de casamento. Este mesmo personagem seria  interpretado em 1940 por Charles Laughton ao lado de Carole Lombard em Não Cobiçarás a Mulher Alheia / They Knew What they Wanted.

Mary Nolan e Robinson em Fora da Lei

Em seguida, Robinson fez: na Universal: Fora da Lei / Outside the Law  / 1930 (Dir: Tod Browning) como o gângster Cobra Collins (com Mary Nolan, Owen Moore) e Proibida de Amar / East is West / 1930 (Dir: Monta Bell) como Charlie Yong, chefe de uma quadrilha em Chinatown (com Lupe Velez, Lew Ayres); na First National, The Widow from Chicago / 1930 (Dir: Edward Cline) como Dominic, gângster dono de uma buate (com Alice White, Neil Hamilton) e Alma de Lodo / Little Caesar / 1931 (Dir: Mervyn LeRoy) com Douglas Fairbanks Jr., Glenda Farrell. Este último adaptado do romance de W.R. Burnett, estabeleceu, juntamente com Inimigo Público / The Public Enemy / 1931 e Scarface, A Vergonha de uma Nação / Scarface / 1932, as convenções do gênero no cinema falado e Robinson ficou identificado para sempre com o personagem central Cesare Enrico Bandello, o “Rico”, inspirado em Al Capone.

Robinson em Alma de Lodo

O filme foi um sucesso e a Warner logo colocou Robinson ao lado de James Cagney – que também se notabilizara no mesmo ano como um personagem de gângster em Inimigo Público -, em As Mulheres Enganam Sempre / Smart Money / 1931 (Dir: Alfred E. Green), no qual Robinson fazia o papel de Nick Venizelos, barbeiro imigrante grego de uma cidade do interior que tem muita habilidade no jôgo de poquer e vai tentar a sorte na cidade grande na companhia de seu amigo Jack (James Cagney), conseguindo se impor no submundo do jôgo ilegal; porém seu fraco por louras acaba acarretando a morte de Jack e sua prisão.

Robinson e James Cagney em As Mulheres Enganam Sempre

Robinson e Boris Karloff em Sede de Escândalo

Após As Mulheres Enganam Sempre, a Warner reuniu novamente Robinson e Mervyn LeRoy em Sede de Escândalo / Five Star Final / 1931, drama sobre jornalismo, indicado para o Oscar de Melhor Filme. Robinson é Joseph W. Randall, editor de um jornal sensacionalista que, por ordem do patrão, reabre um caso de homicídio não solucionado e acaba provocando uma tragédia. Sua eficiente atuação deu grande fôrça ao personagem principalmente quando no climax do filme, atormentado, explode de raiva contra todos os diretores e colegas de redação, demitindo-se do emprego.

Robinson e Loretta Young em Vingança de Buda

Robinson, Zita Johann, Richard Arlen em O Tubarão

Nos anos seguintes Robinson fez para a Warner-First National: 1932 – Vingança de Buda / The Hatchet Man (Dir: William Wellman) como o chefe de gangue chinês Wong Low Get (com Loretta Young, Dudley Digges); Dois Segundos / Two Seconds (Dir: Mervyn LeRoy) como John Allen, o condenado que recorda sua vida segundos antes de ser eletrocutado (com Preston Foster, Vivienne Osborne); O Tubarão / Tiger Shark (Dir: Howard Hawks) como o pescador português Mike Mascarenhas que se casa por piedade com uma jovem desencaminhada e ela se apaixona pelo seu melhor amigo (com Zita Johann, Richard Arlen); Sonho Prateado / Silver Dollar (Dir: Alfred E. Green) como Yates Martin,  fazendeiro do Kansas que se torna o barão da prata e ajuda a transformar Denver de campo de mineração em uma cidade pujante (Bebe Daniels, Aline MacMahon). 1933 – Precioso Ridículo / The Little Giant (Dir: Roy Del Ruth) como James Francis “Bugs” Ahearn, contrabandista de bebidas alcoólicas de Chicago que tenta se refinar e ingressar na alta sociedade da Califórnia (com Helen Vinson, Mary Astor); A Mulher Que Eu Amei / I Loved a Woman (Dir: Alfred E. Green) como John Mansfield Haydn, estudante de arte obrigado a assumir o comando da fábrica de empacotamento de carne de seu pai (com Kay Francis, Genevieve Tobin). 1934 – Sorte Negra / Dark Hazard (Dir: Alfred E. Green) como o viciado em jôgo Jim “Buck” Turner (com Genevieve Tobin, Glenda Farrell); O Homem de Duas Caras / The Man With Two Faces (Dir: Archie Mayo) com Damon Welles / Jules Chautard o ator brilhante que tenta proteger sua irmã de um marido sinistro (Mary Astor, Ricardo Cortez) e, usando um disfarce, o elimina.

Helen Vinson e Robinson em Precioso Ridículo

O melhor desses filmes é Precioso Ridículo, comédia romântica pre-code com um enredo espirituoso e irreverente, narrado em ritmo ágil e valorizada por um elenco afinado, no qual se destaca a versatilidade do ator principal.  A certa altura da trama Killer Mannion mostra um quadro de pintura moderna para seu assistente Al Daniels (Russel Hopton) e pergunta: “Você já tinha visto algo como isso?” E ele responde: “Não, desde que me livrei da cocaína”.

Robinson e Robinson em O Homem Que Nunca Pecou

Quando Robinson rejeitou vários projetos do estúdio, acabou sendo suspenso, sob a alegação de que não havia histórias adequadas para ele; mas, necessitando de dinheiro, Jack Warner resolveu emprestá-lo para a Columbia, onde ele fez O Homem Que Nunca Pecou / The Whole Town’s Talking / 1935, dirigido por John Ford (com Jean Arthur). Baseado em uma história de W.R. Burnett, o filme gira em torno de uma troca de identidades entre um gângster, Killer Mannion, e um suave e pacífico escriturário (Arthur Ferguson), e Robinson soube aproveitar todas as vantagens do papel duplo. Entusiasmada pelo sucesso popular de seu contratado, (a Warner emprestou-o novamente, desta vez para Samuel Goldwyn usá-lo como Luis Chamalis, o todo poderoso dono do cassino Bella Donna, ao lado de Miriam Hopkins e Joel McCrea, em Duas Almas se Encontram / Barbary Coast / 1935, intriga contendo melodrama, aventura e romance, passada em San Francisco durante a corrida do ouro, imaginada por Ben Hecht e Charles MacArthur e conduzida por Howard Hawks.

Robinson e Miriam Hopkins em Duas Almas se Encontram

Os filmes que Robinson fez nos anos restantes da década de trinta foram: 1936 – Balas ou Votos / Bullets or Ballots / First National (Dir: William Keighley) como  detetive Johnny Blake que se infiltra em um bando criminoso (com Joan Blondell, Humphrey Bogart). 1937 – O Gigante de Londres / Thunder in the City / Produção britânica distribuída pela Columbia (Dir: Marion Gering) como Daniel “Dan” Armstrong,  americano em viagem de negócios na Inglaterra que se depara com seus parentes distantes,  aristocratas emprobrecidos, e os ajuda a recuperar sua fortuna, apaixonando-se pela prima (com Luli Deste, Nigel Bruce, Ralph Richardson); Talhado para Campeão / Kid Galahad / Warner (Dir: Michael Curtiz) como Nick Donati, promotor de lutas de boxe que faz de um modesto mensageiro um grande campeão no ringue (com Bette Davis, Humphrey Bogart, Wayne Morris, Jane Bryan); O Último Gangster / The Last Gangster / MGM (Dir: Edward Ludwig) como Joe Krozac, condenado que sai da prisão e fica sabendo que sua mulher se casou novamente e o novo marido dela adotou seu filho (com James Stewart, Rose Stradner). 1938 – Um Simples Assassinato / A Slight Case of Murder / Warner (Dir: Lloyd Bacon) como Remy Marco, contrabandista de bebidas que, com o fim da Lei Sêca, se torna um fabricante legítimo de cerveja e se envolve em muitas complicações (com Jane Bryan, Ruth Donnelly, Willard Parker); O Gênio do Crime / The Amazing Dr. Clitterhouse / Warner (Dir: Anatole Litvak) como Dr. Clitterhouse, o cirurgião respeitado, interessado nas sensações mentais e físicas dos criminosos nos momentos que praticam suas atividades (com Claire Trevor, Humphrey Bogart); Eu Sou a Lei! / I Am the Law / Columbia (Dir: Alexander Hall) como Professor Lindsay (com Barbara O Neil, John Beal). 1939 – Confissões de um Espião Nazista / Confessions of a Nazi Spy / Warner (Dir: Anatole Litvak) como  agente do FBI Edward Renard (com Francis Lederer, George Sanders, Paul Lukas); Escravo de um Erro / Blackmail / MGM (Dir: H. C. Potter) como John R. Ingram, um homem condenado injustamente que foge da prisão e inicia uma nova vida como petroleiro, mas vem a ser vítima de uma chantagem (com Ruth Hussey, Gene Lockhart). Seus melhores filmes nesta fase foram os dirigidos por Michael Curtiz, Anatole Litvak e Lloyd Bacon.

Robinson e Michael Curtiz

Bette Davis e Robinson em Talhado para Campeão

Talhado para Campeão é um drama, narrado com a eficiência de sempre por Curtiz, passado no ambiente do boxe, mostrando a ascenção para o título de campeão dos pesos pesados de um honesto campesino (Ward Guisenberry / Kid Galahad) e seu envolvimento com alguns personagens do meio. Louise “Fluff” Phillips (Bette Davis), namorada do empresário de Ward Nick Donati (Edward G. Robinson), apaixona-se pelo jovem atleta, mas ele está enamorado de Marie (Jane Bryan), irmã de Nick. A obsessão superprotetora de Nick pela irmã faz com que ele se volte contra seu pupilo, quase ocasionando uma derrota do campeão; depois, redimindo-se, Nick é vítima de uma confrontação homicida com Turkey Morgan (Humphrey Bogart), seu rival no submundo do pugilismo.

Robinson em Um Simples Assassinato

Um Simples Assassinato, é uma farsa macabra e satírica, baseada na peça de Damon Runyon e Howard Lindsay. Quando o ex-contrabandista de bebidas resolve se tornar um cidadão “respeitável”, ele tem que enfrentar uma série de problemas. Os principais são: a presença de quatro cadáveres que seus rivais haviam posto no quarto dos fundos de sua casa, a mulher (Ruth Donnelly) que quer passar por grã-fina e o embaraçoso noivado de sua filha (Jane Bryan) com um policial (Willard Parker). Auxiliado pelos saborosos diálogos do script, por Robinson e um elenco de coadjuvantes hilariante, Bacon mantém esta tumultuosa comédia engraçada o tempo todo.

Claire Trevor, Robinson e Humphrey Bogart em O Gênio do Crime

O Gênio do Crime é uma hábil mistura de drama criminal com humor negro, suspense e um final Pirandelliano, tratada com percuciência cinematográfica por Litvak, na qual um médico, Dr. Clitterhouse (Edward G. Robinson), para comprovar suas teorias científicas acaba se envolvendo com uma quadrilha de ladrões de jóias , chefiada por uma mulher, Jo Keller (Claire Trevor) e inicia uma carreira no crime com consequências surpreendentes.

Robinson e Paul Lukas em Confissões de um Espião Nazista

Confissões de um Espião Nazista é um filme de propaganda anti-nazista em formato de semi-documentário, sob astuta supervisão de Litvak, revelando as atividades dos alemães Dr. Karl Kassell (Paul Lukas) e Franz Schlager (George Sanders) e de um germano-americano Kurt Schneider (Francis Lederer), desertor do exército americano, que oferecem seus serviços ao Terceiro Reich. Através de Schneider, os agentes do FBI, comandados por Ed Renard (Edward G. Robinson) conseguem prender todo o bando de quinta-colunistas.

Robinson, Ruth Gordon, Otto Kruger em A VIda do Dr. Ehrlich

Na década de 40 Robinson ampliou seu prestígio artístico, participando de várias obras-primas de grandes diretores, além de dar a sua contribuição para o esforço de guerra. Seus filmes neste período foram: 1940 – A Vida do Dr. Ehrlich / Dr. Ehrlich’s Magic Bullet  / Warner (Dir: William Dieterle) como Dr. Paul Ehrlich, bacteriólogo alemão que criou um dos primeiros medicamentos para doenças infeciosas, comercializada sob a marca Salvarsan (com Ruth Gordon, Otto Kruger); Irmão Orquídea / Brother Orchid  / Warner (Dir: Lloyd Bacon) como  Little Joe Sarto,  gângster que se refugia em um monastério e fica gostando da vida simples entre os monges  (com Ann Sothern, Humphrey Bogart); Uma Mensagem de Reuter/ A Dispatch from Reuters / Warner (Dir: William Dieterle) como  Baron Julius Reuter, fundador da famosa agência de notícias (com Edna Best, Eddie Albert, Albert Basserman). 1941 – O Lobo do Mar / The Sea Wolf / Warner (Dir: Michael Curtiz) como “Wolf” Larsen, o capitão brutal da escuna “Ghost”, que recolhe no mar um intelectual e dois fugitivos da justiça  (com Alexander Knox, John Garfield, Ida Lupino);

George Raft, Marlene Dietrich e Robinson em Aquela Mulher

Aquela Mulher! / Manpower / Warner (Dir: Raoul Walsh) como Hank “Gimpy” McHenry, um dos dois eletricistas que disputam a mesma mulher  (ela é Marlene Dietrich e o outro, George Raft); A Suprema Cartada / Unholy Partners / MGM (Dir: Mervyn LeRoy) como Bruce Corey, repórter que volta da guerra e funda um jornal financiado por um gângster (com Laraine Day, Edward Arnold, Marsha Hunt). 1942 – Vale a Pena Roubar? / Larceny, Inc. / Warner (Dir: Lloyd Bacon) como J. Chalmers “Pressure” Maxwell, ex-presidiário que abre uma loja de malas ao lado de um banco, para cavar um túnel e chegar ao cofre; a loja prospera  e ele descobre que a vida honesta até que não é má (com Jane Wyman, Broderick Crawford, Jack Carson); Seis Destinos / Tales of Manhattan / 20thCentury-Fox (Dir: Julien Duvivier) como Avery “Larry” Browne, mendigo alcoólatra convidado para uma reunião de ex-alunos (com George Sanders, James Gleason). 1943 – Destroyer / Destroyer / Columbia (Dir: William A. Seiter) como Steve Boleslavski, soldador de estaleiro naval de meia idade que se alista para servir no navio que ele ajudou a construir e se distingue em ação (com Glenn Ford, Marguerite Chapman); Mistérios da Vida / Flesh and Fantasy / Universal (Dir: Julien Duvivier) como Marshall Tyler, advogado que, segundo um quiromante previu, vai matar alguém (com Thomas Mitchell, Anna Lee, C. Aubrey Smith).

Robinson, Lynn Bari e Victor McLaglen em  Tampico

Glenn Ford, Marguerite Chapman e Robinson em Destroyer

Allene Roberts e Robinson em A Casa Vermelha

Burt Lancaster e Robinson em Resgate de uma Consciência

Robison em Sangue do Meu Sangue

1944 – Tampico / Tampico / 20thCentury-Fox (Dir: Lothar Mendes) como Bart Manson, capitão de um navio petroleiro que se casa com a sobrevivente de um navio afundado pelos alemães, suspeita de ser uma espiã (com Lynn Bari, Victor McLaglen). Mister Winkle Vai para a Guerra / Mr. Winkle Goes to War /Columbia) como Mr. Winkle, bancário de meia idade que se alista para lutar na Segunda Guerra Mundial; (com Ruth Warrick, Ted Donaldson, Hugh Beaumont); Pacto de Sangue / Double Indemnity/ Paramount (Dir: Billy Wilder) como Barton Keye, o astuto investigador da companhia de seguros (com Barbara Stanwyck, Fred MacMurray); Um Retrato de Mulher / The Woman in the Window / RKO (Dir: Fritz Lang) como Richard Wenley, professor de criminologia que se envolve em um crime estimulado por uma mulher fatal (com Joan Bennett, Raymond Massey, Dan Duryea). 1945 – O Roseiral da Vida / Our Vines Have Tender Grapes / MGM (Dir: Roy Rowland) como o fazendeiro noruegês imigrante Martinius Jacobson, patriarca que cuida de sua família no Wisconsin durante a Segunda Guerra Mundial (com Margaret O’Brien, James Craig); Almas Perversas / Scarlet Street / Universal (Dir: Fritz Lang) como Christopher Cross, homem casado com uma mulher rabugenta e pintor nas horas vagas que, explorado por uma bela mulher que conheceu na rua, defendendo-a de um rufião, dá um desfalque na firma onde trabalha (Joan Bennett, Dan Duryea). Jornada Heróica / Journey Together / Filme britânico (Dir: John Boulting) como Dean McWilliams, o instrutor de vôo civil (com Richard Attenborough, Bessie Love; O Estranho / The Stranger / RKO (Dir: Orson Welles) como Mr. Wilson, investigador da Comissão de Crimes de Guerra que persegue um nazista foragido em Connecticut, EUA (com Loretta Young, Orson Welles). 1947 – A Casa Vermelha / The Red House / United Artists. (Dir: Delmer Daves) como Peter Morgan, velho aleijado que faz de tudo para impedir que sua filha adotiva descubra um terrível segredo (com Lon McCallister, Allene Roberts, Judith Anderson). 1948 – Resgate de uma Consciência / All My Sons  / Universal (Dir: Irving Reis) como  Joe Keller, empresário que vendeu peças para construção de aviões danificadas, causando várias mortes durante a Segunda Guerra Mundial (com Burt Lancaster, Mady Christians); Paixões em Fúria / Key Largo / Warner (Dir: John Huston) como Johnny Rocco, gângster sádico que, durante uma tempestade, mantém um grupo de pessoas aprisionadas em um hotel na Florida,  de onde pretende fugir para Cuba (com Humphrey Bogart, Lauren Bacall, Lionel Barrymore, Thomas Gomez, Claire Trevor; A Noite Tem Mil Olhos / Night Has a Thousand Eyes / Paramount (Dir: John Farrow) como o vidente John Triton que prevê a sua própria morte  (com Gail Russell, John Lund, Virginia Bruce, John Lund). 1949 – Sangue do meu Sangue / House of Strangers / 20thCentury-Fox (Dir: Joseph L. Mankiewicz) como o banqueiro usurário Gino Monetti (com Susan Hayward, Richard Conte, Luther Adler); Mademoiselle Fifi / It’s a Great Feeling / Warner (Dir: David Butler) como ele mesmo em um cameo (com Doris Day, Jack Carson, Dennis Morgan).

Seus melhores filmes nesta fase foram os dirigidos por Michael Curtiz, Fritz Lang, Orson Welles e John Huston.

John Garfield, Ida Lupino e Robinson em O Lobo do Mar

O Lobo do Mar é uma adaptação com alterações do romance de Jack London, combinando aventura e melodrama psicológico com uma reflexão sobre o perigo do fascismo no mundo de 1940. O filme foi beneficiado por um excelente elenco (além de Robinson, Garfield, Lupino e Knox, dispôs de dois excelente coadjuvantes, Barry Fitzgerald e Gene Lockhart), fotografia esplêndida de Sol Polito recriando a atmosfera nebulosa e fantasmagórica e uma partitura de Erich Wolfgang Korngold que ajuda a manter o clima de tensão constante. Robinson dá vida à complexa personalidade de Wolf Larsen, o capitão tirânico e cruel do navio misterioso.

Fred MacMurray e Robinson em Pacto de Sangue

Pacto de Sangue é um influente modelo de filme noir com todos os ingredientes típicos: o sujeito de caráter fraco   (Fred MacMurray) arrastado para o crime por uma mulher ambiciosa e calculista (Barbara Stanwyck); a narração na primeira pessoa; a iluminação contrastada, o investigador persistente e perspicaz . Baseado no romance de James M. Cain, o roteiro manteve o clima e os detalhes da intriga e absorveu os toques pessoais de seus autores, Billy Wilder e Raymond Chandler. Bastante inspirado, o fotógrafo John F. Seitz elaborou formidáveis contrastes de preto e branco. Outra colaboração importante foi a do compositor Miklos Rozsa, cuja música essencialmente trágica se adaptou ao cinema noir, contribuindo para reforçar os efeitos dramáticos do filme. O desempenho de Edward G. Robinson deu uma dimensão imprevista ao personagem do investigador de sinistros.

Joan Bennett e Robinson em Um Retrato de Mulher

Robison de Joan Bennett em Almas Perversas

Em Retrato de Mulher, Fritz Lang acompanha a aventura infernal do pacato professor que passa a agir como um criminoso, mantendo o espectador na mesma angústia e tensão do protagonista e em Almas Perversas o mesmo diretor retoma o tema da criminalidade latente em um cidadão aparentemente respeitável e pacífico, obetno um resultado artístico idêntico. Em ambos os filmes constata-se a presença dos requisitos necessários para a configuração de um filme noir, inclusive o uso da fotografia expressionista, com toda a força, pelo experiente Milton Krasner. E Robinson compõe os dois tipos semelhantes com o seu inegável domínio da arte de representar.

Robinson, Loretta Young e Orson Welles em O Estranho

O Estranho é um thriller de mistério e suspense com motivos políticos, valorizado pela imaginação sempre fértil do cineasta sob o ponto de vista cinematográfico como, por exemplo, o final no campanário, quando o nazista é transpassado pela espada de uma das figuras do relógio. Outro atributo positivo  da realização é a fotografia expressionista de Russell Metty, que reforça o clima de horror crescente do filme. Robinson tem um papel pequeno em comparação com Welles e L. Young, mas sua presença se impõe em todas as cenas nas quais aparece.

Humphrey Bogart, Robinson, Lionel Barrymore e Lauren Bacall em Paixões em Fúria

Paixões em Fúria é uma adaptação modernizada da peça de Maxwell Anderson, com maior força dramática e um clima de angústia que permanece em um ambiente úmido e sufocante durante todo o transcorrer da narrativa, graças à direção competente de Huston que se serviu muito bem dos magníficos enquadramentos proporcionados por Karl Freund, da música de Max Steiner e principalmente dos atores. Robinson encontrou em Johnny Rocco um papel à altura de seu imenso talento, mas foi Claire Trevor que arrebatou um Oscar pela sua cena antológica na qual é obrigada pelo gângster a cantar, para poder obter um drinque.

Robinson e Paulette Goddard em O Segredo de uma Amante

Após passar por momentos difíceis, incomodado pela HUAC (House Un-American Activities Committee), Robinson teve dificuldade de arranjar trabalho. Ele fez um filme na Inglaterrra, e depois interveio em filmes de orçamento barato ou funcionou apenas como coadjuvante: 1950 – Minha Filha / My Daughter Joy / Columbia (Dir: Gregory Ratoff) como George Constantin, um magnata às voltas com problemas familiares  (com Nora Swinburne, Peggy Cummins, Richard Greene). 1952 – Bastidores e PecadoresActors and Sin / United Artists (Dir: Ben Hecht-Lee Garmes) como Maurice Tillayou, ator decadente da Broadway cuja filha tem mais talento do que ele  (com Marsha Hunt, Dan O’ Herlihy). 1953 – O Segredo de um Amante / Vice Squad / United Artists (Arnold Laven) como Capitão Barnie Barnaby, o chefe dos detetives que investiga a morte de policiais (com Paulette Goddard, K.T. Stevens); Big Leaguer / MGM (Dir: Robert Aldrich) como o treinador de basebol Hans Lobert (com Vera Ellen, Jeff Richards); O Crime da Semana / The Glass Web / Universal (Dir: Jack Arnold) como Henry Hayes, diretor de pesquisas de um programa de TV que desmascara o assassino de uma atriz chantagista  (com John Forsythe, Marcia Henderson).

Peter Graves, Jean Parker e Robinson em Terça-Feira Trágica

Glenn Ford, Brian Keith, Barbara Stanwyck e Robinson em Um Pecado Em Cada Alma

Jayne Mansfield, Robinson e Nina Foch em Trágica Fatalidade

Your Brynner e Robinson em Os Dez Mandamentos

1954 – Terça-Feira TrágicaBlack Tuesday / United Artists (Dir: Hugo Fregonese) como Vincent Canelli, assassino  condenado à morte que foge da prisão na noite de sua execução, levando cinco reféns, inclusive um padre (com Peter Graves, Jean Parker). 1955 – Um Pecado em Cada Alma / The Violent Men / Columbia (Dir: Rudolph Mate) como Lew Wilkison, fazendeiro aleijado, cuja mulher mantém uma ligação adúltera com o cunhado, que pretende se tornar dono de todo o vale, mas encontra resistência por parte de um jovem veterano da Guerra Civil (com Glenn Ford, Barbara Stanwyck, Brian Keith). Ratos Humanos / Tight Spot / Columbia (Dir: Phil Karlson) como Lloyd Hallett, promotor público que tenta convencer uma modelo condenada à prisão, a testemunhar contra um gângster  (com Ginger Rogers, Brian Keith); Cada Bala Uma Vida / A Bullet for Joe / United Artists) como Inspetor Raoul Leduc, que investiga as atividades de agentes comunistas no Canadá (com George Raft, Audrey Totter); Trágica Fatalidade / Illegal / Warner Bros (Dir: Lewis Allen) como Victor Scott,  promotor público  que se torna um advogado criminal, para defender  sua antiga assistente de um crime de homicídio (com Nina Foch, Hugh Marlowe, Jayne Mansfield). 1956 – Horas Sombrias / Hell on Frisco Bay / Warner Bros (Dir: Frank Tuttle) como Victor Amato, o gângster que domina o sindicato do crime no porto de San Francisco (com Alan Ladd, Joanne Dru); Pesadelo / Nightmare / United Artists (Dir: Maxwell Shane) como Rene Bressard, o policial que desvenda um caso estranho ocorrido com seu cunhado (com Kevin McCarthy, Connie Russell); Os Dez Mandamentos / The Ten Commandments / Paramount (Dir: Cecil B. DeMille) como Dathan, supervisor dos escravos (com Charlton Heston, Yul Brynner). 1959 – Os Viúvos Também Sonham / A Hole in the Head / United Artists (Dir: Frank Capra) como Mario Manetta, negociante bem sucedido que ajuda financeiramente seu irmão, dono de um hotel decante em Miami, impondo algumas condições (com Frank Sinatra, Eleanor Parker).

Robinson, Rod Steiger, Joan Collins e Eli Wallach em Sete Ladrões

Claire Trevor e Robinson em A Cidade dos Desiludidos

Diane Baker, E. G. Robinson e Elke Sommer em Os criminosos Não Merecem Prêmio

Richard Widmark e Robinson em Crepúsculo de uma Raça

Steve McQueen e Robinson em A Mesa do Diabo

David Garfield e Robinson em O Ouro de MacKenna

Charlton Heston e Robinson em No Mundo de 2020

Nos anos finais de sua carreira, Robinson continuou na mesma situação, atuando em produções modestas ou em segundo plano: 1960 – Sete Ladrões / Seven Thieves / 20thCentury-Fox (Dir: Henry Hathaway) como Theo Wilkins, o gângster que planeja roubar o casino de Monte Carlo  (com Rod Steiger, Joan Collins, Eli Wallach); Pepe / Pepe / Columbia (Dir: George Sidney) como ele mesmo (com Cantinflas). 1962 – Minha Doce Gueixa / My Geisha / Paramount (Dir: Jack Cardiff) como o produtor de cinema Sam Lewis (com Shirley MacLaine, Yves Montand, Robert Cummings); A Cidade dos Desiludidos / Two Weeks in Another Town / MGM (Dir: Vincente Minnelli) como o diretor de cinema Maurice Kruger  (com Kirk Douglas, Cyd Charisse, Claire Trevor). 1963 – Criminosos Não Merecem Prêmio / The Prize / MGM (Dir: Mark Robson) como Dr. Max Stratman o físico germano-americano laureado com o prêmio Nobel e seu sósia (com Paul Newman, Elke Sommer, Diane Baker). 1964 – Um Amor de Vizinho / Good Neighbour Sam / Columbia (Dir: David Swift) como o empresário Simon Nurdlinger (com Jack Lemmon, Romy Schneider); Robin Hood de Chicago / Robin and the Seven Hoods / Warner Bros. (Dir: Gordon Douglas) como o gângster Big Jim Stevens  (com Frank Sinatra, Dean Martin, Sammy Davis Jr, Bing Crosby); Quatro Confissões / The Outrage / MGM (Dir: Martin Ritt) como  Con Man, uma das quatro testemunhas da morte de um bandido (com Paul Newman, Laurence Harvey, Claire Bloom); Crepúsculo de uma Raça / Cheyenne Autumn / Warner Bros. (Dir: John Ford) como o Secretário do Interior Carl Schurz (com Richard Widmark, Carroll Baker, James Stewart, Arthur Kennedy). 1965 – Sózinho Contra a África / A Boy Ten Feet Tall / Paramount (Dir: Alexander MacKendrick) como o contrabandista de diamantes Cocky Wainwright, que dá lições de vida a um menino (com Steve McQueen, Ann Margret, Karl Malden; A Mesa do Diabo / The Cincinatti Kid (Dir: Norman Jewison) como o jogador de pôquer Lancey Howard (com Steve McQueen, Ann-Margret). 1968 – A Mulher de Pequim / La Blonde de Pékin / Paramount (Dir: Nicholas Gessner) como Douglas, o chefe da C.I.A. (com Mireille Darc, Claudio Brook); Cinco Milhões de Erros / The Biggest Bundle of Them All / MGM (Dir: Ken Annakin) como Professor Samuels (com Robert Wagner, Raquel Welch, Vittorio de Sica; A Qualquer Preço / Ad Ogni Costo / Paramount (Dir: Giuliano Montaldo) como professor aposentado James Anders que planeja um roubo no Brasil (com Janet Leigh, Robert Hoffman. Adolfo Celi, Klaus Kinski); Uno Sacco Tutto Matto / Robert Riz) como chefe de uma quadrilha de ladrões de banco (com Terry Thomas); Operação São Pedro / Operation St. Peter / Paramount (Dir: Lucio Fulci) como o criminoso americano Joe Ventura (com Lando Buzanca); Como Roubar Milhões sem Fazer ForçaNever a Dull Moment / Buena Vista (Dir: Jerry Paris) como o gângster Leo Joseph Smooth (com Dick Van Dyke, Dorothy Provine). 1969 – O Ouro de MacKenna / MacKenna’s Gold / Columbia (Dir: J. Lee Thompson) como o Velho Adams (com Gregory Peck, Omar Shariff, Telly Savalas). 1970 – Canção do Sol da Meia-Noite / Song of Norway / Cinerama (Dir: Andrew L. Stone) como o vendedor de pianos Krogstad  (com Toralv Maurstad, Robert Morley). 1973 – No Mundo de 2020 / Soylent Green / MGM (Dir: Richard Fleischer) como o detetive Sol Roth (com Charlton Heston, Chuck Connors, Joseph Cotten).

Durante esse tempo, Robinson divorciou-se de Gladys, que exigiu metade do valor de sua famosa coleção de obras de arte e ele teve que vender para o grego Stavros Niarchos 58 dos 72 quadros de grandes pintores, para atender tal exigência; casou-se com Jane Robinson; atuou no teatro, no rádio e na televisão (onde esteve reespectivamente desde 1911, 1933 e 1953; escreveu (com Leonard Spigelglass) sua autobiografia, “All My Yesterdays”; foi contemplado com o Screen Actors Guild Life Achievement Award e com um Oscar Honorário da Academia que não pôde receber pessoalmente, porque faleceu dois meses antes da cerimônia, vítimado pelo cancer, aos 79 anos de idade.

IVAN MOSJOUKINE

Todo estudante de cinema o conhece, por ter emprestado seu rosto para a experiência, que o cineasta e teórico do filme Lev Kuleshov fez, justapondo por meio da montagem a mesma imagem do ator a diversos objetos: um prato de sopa, uma mulher no seu leito de moribunda e uma criança sorrindo. O rosto de Mosjoukine mantido propositadamente em uma atitude inexpressiva, pareceu exprimir: fome, pena e ternura. Este foi um dois experimentos que demonstrou o chamado efeito Kuleshov; porém, ironicamente, na arte de representar, Mosjoukine destacou-se como um dos intérpretes mais eloquentes da tela.

Ivan Mosjoukine

Ele foi também diretor e roteirista mas, acima de tudo, um dos grandes astros da época do cinema mudo. Suas características principais eram o olhar penetrante, uma imensa presença na tela e sua incrível versatilidade, encontrando sempre a expressão apropriada para transmitir as emoções de seus personagens.

Ivan Ilyich Mozzhukhin (1889-1939) nasceu em Kondol (hoje Penza Oblast) na Rússia Czarista, filho de Rachel Ivanovna Mozzhukhina e Ilya Ivanovich Mozzhukhin,  administrador da propriedade dos Obolensky, posição herdada de seu pai, um servo cujos filhos ganharam a liberdade como gratidão pelo serviço que ele prestou a esta nobre família.

Enquanto seus outros três irmãos cursaram o seminário, Ivan foi enviado para um ginásio em Penza e depois estudou direito na Universidade de Moscou. Em 1910, ele deixou a vida acadêmica e ingressou em uma trupe de atores itinerantes de Kiev com a qual viajou durante um ano, adquirindo experiência e uma reputação por sua presença dinâmica no palco. Retornando a Moscou, Mosjoukine iniciou sua carreira cinematográfica com o produtor Alexandre Khanjokov como Trukhachevski em Kreytserova sonata / 1911 e, entre 1911-1919 atuou em mais 55 filmes (dos quais somente A Dama do Punhal / Zhenshchina  s Kinzhalom e Padre Sergio / Otets Esergiyforam exibidos no Brasil), tornando-se uma figura predominante no cinema russo, principalmente por sua atuação neste útimo filme e em Pikovaya dama / 1916  (trad. literal: A Dama de Espadas). Em 1919, juntou-se a um grupo de refugiados, que emigrou para a França após a Revolução Russa.

Mosjoukine em Padre Sergo

As maiores companhias francesas, Pathé e Gaumont, instaladas solidamente no solo russo nos anos anteriores à Primeira Guerra Mundial, prepararam o terreno para uma colaboração longa e fraternal, cuja importância seria explorada na década de crise do pós-guerra. Um dos primeiros artífices da ligação profissional franco-russa foi Josef Ermolieff, que em 1907 iniciou sua carreira como assistente técnico na sucursal da Pathé em Moscou e em 1912 foi promovido a chefe de vendas desta empresa. Na véspera da guerra, ele fundou sua própria companhia e estúdio e reuniu em torno de si um núcleo de artistas e técnicos, que se tornaria a colônia fílmica russa de Paris. Entre eles estavam Yakov Protazanov, Alexandre Volkoff e Viatcheslav Tourjansky, o mestre da animação Ladislas Starevitch, os cinegrafistas Nicolas Toporkoff, Fedote Bourgassoff e Nicolas Roudakoff, o decorador Alexander Lochakoff e os atores Natalya Lisenko, Nathalie Kovanko, Nicolas Rimsky e especialmente Ivan Mosjoukine.

Josef Ermolieff

Após a Revolução de Outubro, o avanço do exército bolchevista obrigou Ermolieff e sua companhia a partir para Yalta na Criméia, onde ele inaugurou um novo estúdio, no qual foram rodadas 16 produções durante os anos de 1918-1919, inclusive alguns filmes de propaganda anti-bolchevista. Usando seu antigo relacionamento com a Pathé, Ermolieff fez várias viagens a Paris, a fim de preparar a evacuação de toda a sua companhia para a França. Em fevereiro de 1920, ele e sua trupe embarcaram para o exílio e se instalaram no antigo estúdio da Pathé no subúrbio parisiense de Montreuil-sous-Bois, onde a Ermolieff-Cinéma começou a fazer filmes. Seu co-fundador desta companhia foi Alexandre Kamenka, outro exilado russo e quando, em 1922, Ermolieff transferiu-se para a Alemanha, Kamenka, juntamente com seus colegas Noé Bloch e Maurice Hache, assumiu a companhia e a rebatizou como Societé des Films Albatros. Ele formou também uma distribuidora denominada Les Films Armo, para controlar a distribuição de seus próprios filmes. Em 1920, Protazanov terminou a primeira produção dos emigrados, L’Angoissante Aventure (que ele havia iniciado em Yalta), história dramatizada da jornada dificultosa e perigosa de atores, diretores e outros artistas de cinema, quando partem da Criméia para o caos da Turquia Otomana na ocasião da queda do Sultanato depois da Primeira Guerra Mundial. O grupo era liderado pelo diretor Protazanov e além de Mosjoukine, incluia a sua parceira frequente Natalya Lisenko, com a qual ele se casou e depois se divorciou em 1927. Em 1928, ele contraiu matrimônio com a atriz Agnes Petersen. Sua terceira esposa foi a atriz Tania Fedor, por um breve período de tempo.

Mosjoukine consolidou seu estrelato durante os anos vinte, período no qual fez mais 19 filmes, inclusive os de maior destaque de sua carreira, funcionando quase sempre como roteirista e dirigindo dois deles: 1921 – O Menino do Carnaval / L’enfant du carnaval (Dir: Ivan Mosjoukine) com Natalya Lisenko, conhecida na França como Nathalie Lissenko; O Justiceiro / Justice d’abord (Dir: Yakov Protazanov com Nathalie Lissenko, Nicolas Koline. 1922 – Tempestade / Tempêtes (Dir: Robert Boudrioz) com Nathalie Lissenko, Charles Vanel. 1923 –Morphine  / Chlan parlamenta  / produção franco-soviética (Dir: Yakov Protazanov) com Nathalie Lissenko; A Casa do Mistério / La Maison du Mystère (Dir: Alexandre Volkoff) seriado de 10 episódios com Charles Vanel, Hélène Darly, Nicolas Koline; Chamas Ardentes  / Le Brasier Ardent. (Dir: Ivan Mosjoukine) com Nathalie Lissenko, Nicolas Koline; 1924 – Kean ou Desordem e Gênio / Kean (Dir: Alexandre Volkoff) com Nathaie Lissenko; Sombras Passageiras / Les Ombres qui Passent (Dr: Alexandre Volkoff) com Nathalie Lissenko; O Príncipe Encoberto ou O Leão de Mongol / Le Lion des Mogols (Dir:  Jean Epstein) com Nathalie Lissenko, François Viguier; 1926 – O Morto que Ri / Feu Mathias Pascal (Dir: Marcel L’Herbier) com Marcelle Pradot, Lois Moran; Miguel Strogoff, o Correio do Czar / Miguel Strogoff (Dir: Viktor Tourjanski) com Nathalie Kovanco; 1927 – Casanova ou Casanova, o Príncipe dos Amantes / Casanova (Dir: Alexandre Volkoff) com Suzanne Bianchetti, Diana Karenne, Jenny Jugo, Rina de Liguoro; Capitulando ao Amor / Surrender (Dir: Edward Sloman) com Mary Philbin, Nigel De Brulier. 1928 – Sua Excelência o Presidente ou O Presidente / Der Präsident (Dir: Gennaro Righelli) com Suzy Vernon, Nikolai Malikoff; Rouge et Noir ou O Correio Secreto / Der geheime Kurier (Dir:  Gennaro Righelli) com Lil Dagover, Agnes Petersen; O Ajudante do Czar / Der Adjutant des Zaren (Dir: Vladimir Strizhevsky) com Carmen Boni.  1929 – Manolesco / Manolescu (Dir: Viktor Tourjanski) com Brigitte Helm, Heinrich George, Dita Parlo.  Graças à magnífica caixa da Flicker Alley, “French Masterworks – Russian Émigrés in Paris 1923 -1928”, pude ver três dos melhores filmes de Mosjoukine produzidos pela Albatros, O Braseiro Ardente, Kean e O Morto Que Ri.

Ivan Mosjoukine, Nathalie Lissenko em Chamas Ardentes

Mosjoukine e Koline em Chamas Ardentes

No seu filme Chamas Ardentes Mosjoukine mistura, com muita inventividade a audácia, o surrealismo, o fantástico, a comédia, o romance e o melodrama. O filme tem início com uma mulher (Nathalie Lissenko) tendo um pesadêlo no qual ela não consegue escapar de um homem, que lhe aparece sob diversas formas. Ao despertar, ela descobre que o homem, que a perseguia no seu sonho, é o inspetor Z, (Ivan Mosjoukine) personagem principal do romance que se encontra na sua mesa de cabeceira. Por coincidência, o marido (Nicolas Koline), um velho ricaço desconfiado da fidelidade de sua esposa, contrata um detetive para seguí-la, que não é outro senão o detective Z. A partir daí o fantástico  desaparece e a narrativa passa a satirizar outros gêneros (v. g. o seriado policial e o melodrama burguês). Visualmente, o filme é impressionante. Mosjoukine integrou as últimas novidades do cinema de vanguarda com seus cenários fantasmagóricos e a montagem rápida. Em uma sequência deslumbrante, ele se senta ao piano em dá início  a uma competição de dansa cujo ritmo se acelera até atingir um frenesí inacreditável. Percebe-se no decorrer do entrecho uma homenagem à cidade de Paris a cujo charme, uma mulher casada com um homem que ela não ama, não consegue resistir. Mosjoukine como ator está em plena forma: somente na cena de pesadelo inicial ele interpreta um herege sendo queimado na fogueira, um cavalheiro elegante, um bispo e um mendigo. No restante do filme, tranforma-se em um brilhante detetive, um palhaço bobo, um professor de dança cruel, um amante tímido e um filhinho da mamãe. Depois de assistir O Braseiro Ardente em 1923, Jean Renoir desistiu do seu trabalho, que era a cerâmica, para se dedicar ao cinema.

Ivan Mosjoukine em Kean

Ivan Mosjoukine em Kean

Kean, o filme mais caro e de prestígio feito pela Albatros, dirigido por Alexandre Volkoff, gira em torno do ator inglês do século dezenove, cuja vida foi marcada pela desordem e pelo gênio como indicado pelo título. Na Inglaterra, por volta de 1830, Edmund Kean (Ivan Mosjoukine) é o intérprete shakespereano mais aclamado pelo público londrino. A mulher do embaixador da Dinamarca, condessa de Koefeld (Nahalie Lissenko) assim como a jovem Anna Damby (Mary Odette), rica herdeira prometida a um velhote, estão apaixonadas por ele. Kean passa suas noites na taverna – vestido de marinheiro, bebendo e dançando na companhia de seu amigo Salomon (Nicolas Koline), que exerce a função de “ponto” no teatro – e os dias, perseguido pelos seus credores. Versão modificada da peça de Alexandre Dumas, eliminando o final feliz, que mostra Kean partir para a América com Anna Damby, o novo roteiro o faz terminar seus dias na miséria e morrer em uma noite de tempestade, corroído pela tuberculose.

Ficamos conhecendo de início Kean em uma representação de Romeu e Julieta por uma série de vinhetas pontuadas de intertítulos reproduzindo os versos originais de Shakespeare. Estas sequências de teatro filmado são seguidas por uma série de situações trágicas ou cômicas filmadas com primor cinematográfico, cujo melhor exemplo é a sequência excitante na taverna Trou de Charbon cuja montagem cada vez mais rápida, transmite perfeitamente a loucura e a vertigem sentida por Kean, ao se embriagar dançando a jiga (dança popular muito animada). Outro momento marcante é aquele em que Kean, destruído por sua paixão louca pela condessa, devorado pelo ciúme, perde a razão interpretando Hamlet no palco, e é rejeitado pelo público, que o bombardeia com projetéis diversos. Como se trata de um filme mudo, não ouvimos sua voz: ele fala apenas com o seu olhar magnético. Depois, ele nos oferece uma das cenas de morte mais longas (quase o tempo todo em close-up) do cinema, mas também uma das mais belas. Agonizante, ele pede ao seu fiel Salomon para ler um trecho de Shakespeare enquanto um cão uiva sob a tempestade. A parte cômica fica a cargo do formidável Nicolas Koline, que nos diverte em várias cenas, como aquelas em que se disfarça de tigre para assustar os credores de seu amigo ou quando se veste de mulher para escapar dos mesmos  credores.

Mosjoukine em O Morto Que Ri

Mosjoukine e Marcele Prado em O Morto Que Ri

O Morto Que Rí, inspirado no romance de Luigi Pirandello, dirigido por Marcel L’Herbier e co-produzido com a sua Cinégraphic, alterna comédia e tragédia, realidade e fantasia, para contar a história do jovem bibliotecário, Mathias Pascal (Ivan Mosjoukine), um sonhador excêntrico, enfronhado na redação de uma História da Liberdade que, após a ruína financeira de sua família, vive na pequena cidade de Miragno na companhia da mãe (Marthe Mellot) e da tia (Pauline Carton). Ele se casa quase por acaso com Romilde (Marcelle Pradot), pois tinha por missão pedir a mão da moça para seu amigo Jérôme Pomino (Michel Simon). Fazendo isto, abdica de toda liberdade e passa a sofrer com a falta de afeição da esposa e a fúria da sogra rabugenta (Mireille Barsac). Quando sua mãe e sua filha recém-nascida morrem no mesmo dia, ele resolve fugir e vai parar aleatoriamente em Monte Carlo, onde ganha uma fortuna no cassino.  Quando volta para casa, fica sabendo que foi dado como morto e decide aproveitar a chance e iniciar uma nova vida em Roma. Lá, sob o nome de Adrien, ele se apaixona por Adrienne Paleari (Lois Moran), filha do seu senhorio e noiva de um arqueologista, Terence Papiano (Jean Hervé). O pai de Adrienne promove sessões de espiritismo e, em uma dessas sessões, Papiano e seu irmão Scipion (Pierre Batcheff) roubam o dinheiro de Adrien. Sem poder recorrer à polícia, pois já morreu, Adrien / Mathias se resigna, volta para Miragno, e verifica que Romilde havia se casado com Pomino e que eles têm um filho. Mathias então decide deixá-los em paz e partir de novo em busca de Roma e de Adrienne.

A obra de Pirandello fornece a estrutura básica para a narrativa e adaptação de L’Herbier segue o texto original, apenas se desviando dele no final, que mostra Mathias Pascal retornando à sua vida antiga, mas não para Romilde e sim para seu trabalho na biblioteca, onde escreve suas memórias, que constituem o livro. O filme foi particularmente bem sucedido na sua mistura equilibrada de estilos e isso dependeu em grande parte dos cenários, tanto os naturais quanto os construídos, estes últimos pelo nosso Alberto Cavalcanti e Lazare Meerson: a casa apertada de Mathias e Romilde; a biblioteca baseada em uma igreja abandonada, cheia de poeira e ratos roendo as páginas de pilhas de livros espalhados em desordem por todo canto; o festival ao ar livre diante das muralhas e torres medievais de San Gimignano;  o cassino ultramoderno de  Monte Carlo e as ruas e interiores de Roma.

Uma das cenas mais belas  (e também mais tristes) envolve a reação de Mathias às mortes simultâneas de sua mãe e de sua filha. Seu estado mental desordenado é expresso  por uma série de panorâmicas e travelings – ligados por dissolvências -, através das ruas da cidade. Quando ele volta para casa, sua alucinação o faz imaginar que a criança está viva.  Ele carrega o corpo dela, arrastando um longo véu do berço e sai para a rua. Uma série de tomadas descrevem sua jornada noturna fantástica, carregando a filhinha morta para a casa de sua mãe. Ali chegando, ele passa por um grupo de mulheres de luto e coloca o corpinho inanimado nos braços do cadáver de sua avó.

Cena em silhueta de A Casa do Mistério

Mosjoukine e  Hélène Darly em A Casa do Mistério

Charles Vanel e Mosjoukine emA Casa do Mistério

A Flicker Alley nos proporcionou também, em outro dvd, o seriado A Casa do Mistério, cujos dez episódios passaram no Brasil com estes títulos: 1. O Amigo Desleal. 2. O Segredo da Lagoa. 3. Ódio e Ambição. 4. A Sentença Implacável. 5. A Ponte Viva. 6. A Voz do Sangue. 7. Caprichos da Sorte. 8. Luta sem Tréguas. 9. A Angústia do Criminoso. 10. O Amor Triunfa. A trama pode ser assim resumida: Julien Villandrit (Ivan Mosjoukine) é um empresário da indústria textil e feliz no amor, mas atormentado por dificuldades financeiras. Sua esposa Régine de Bettiny (Hélène Darly) é, sem seu conhecimento, objeto de um grande segredo: o velho banqueiro Marjory (Bartkévitch) vem a ser seu pai, devido a uma ligação secreta no passado. Porém suas lliberalidades para o jovem casal e seu amor pela filha despertam suspeitas a Henri Corradin: o melhor amigo de Julien, que foi sempre apaixonado por Régine, muito ciumento e intrigante como o Iago de Shakespeare. Após ter revelado suas desconfianças de que Marjory é amante de Régine a Julien, Corradin assiste a uma luta entre os dois homens e quando Julien recobra a compostura e vai embora, seu amigo mata friamente o banqueiro. Julien é acusado do crime e condenado a vinte anos de trabalhos forçados. Porém Corradin não contou com duas coisas: Julien está decidido a fugir da prisão e o lenhador local, Rudeberg (Nicolas Koline) é um fotógrafo amador, captou o momento do crime e vai querer ganhar algum dinheiro com isso. Esta história folhetinesca de Jules Mary contendo peripécias emprestadas de O Conde de Monte Cristo de Alexandre Dumas (um homem injustamente acusado de um crime, condenado e enviado para uma colônia penal, da qual escapa e depois retorna disfarçado, para levar o verdadeiro culpado à Justiça) está recheada de reviravoltas e momentos emocionantes (v. g. o encontro de Julien disfarçado de mendigo com a filhinha; Julien como palhaço no circo encarando a mulher, a filha já crescida, o namorado desta, filho de Rudeberg, e o vil Cardin na platéia), narrados com vivacidade, tornando-se por vêzes espetacular (v. g. a fuga angustiante da prisão em um trem com a “ponte humana” sobre o desfiladeiro). Sob o aspecto visual, chama atenção o casamento de Julian e Regine em forma de silhueta, uma cena verdadeiramente linda. O score de piano de Neil Brand sustenta as imagens e Mosjoukine e Charles Vanel, compõem seus tipos de mocinho e vilão com arrebatamento dramático.

Pude ver ainda Mosjoukine em Miguel Strogoff, Casanova, O Príncipe Encoberto, Capitulando ao Amor (seu único filme americano), O Ajudante do Czar e O Diabo Branco.

Cenas de Miguel Strogoff

Natalie Kovanco e Mosjoukine em Miguel Strogoff

Baseado no romance famoso de Jules Verne sobre o intrépido mensageiro do czar que cumpre perigosa missão na Sibéria, Miguel Strogoff, produção franco-germânica, é um bom filme de aventura, rodado na Letônia e Noruega, com cenários suntuosos (v. g. o baile no Palácio de Alexandre II logo no início), centenas de figurantes (v. g. na batalha dos soldados russos com os tártaros), um delírio fantasmagórico  (na qual Strogoff se vê com um prisioneiro das bruxas) e muitas peripécias em ambientes variados, sempre observadas por dois jornalistas, um inglês Harry Blount (Henri Debain) e um francês, Alcide Jolivet (Gabrel de Gravonne). O espetáculo beneficia-se sobretudo da interpretação de seu ator principal. Mudando regularmente de aparência, charmoso, heróico, patético, Miguel Strogoff passa por todos estas condições e Ivan Mosjoukine está sempre perfeito. A cena mais empolgante do filme acontece no festim do Emir Féofar-Khan (Boris de Fast) quando Strogoff, amarrado em um poste, fica cego, atingido nos olhos pela espada do carrasco esquentada no fogo, diante do traidor Ivan Ogareff (Acho Chakatouny, de sua mãe (Jeanne Brindeau) e de sua amada Nadia Fedor (Natalie Kovanko), a jovem que ele socorreu e que o acompanha em vários incidentes de perigo durante o relato.  Graças à intensa publicidade, a estréia no Cinema Odeon do Rio de Janeiro, com a projeção acompanhada pela orquestra conduzida pelo maestro Wolf Gordasser, iniciou uma carreira triunfal para o filme em nosso país.

Cena de Casanova

Rina de Liguoro e Mosjoukine

Tal como Miguel Strogoff, Casanova é uma produção franco-germânica e um bom filme de aventura com cenários luxuosos (v. g. o baile no Palácio de Pedro III), muitos extras (v. g. o Carnaval de Veneza), e vários incidentes (entremeados com lances cômicos a cargo de um negrinho criado de Casanova) passados em lugares diferentes (Veneza, a côrte de Catarina I).  A grande imperatriz (Suzanne Bianchetti) se interessa por ele e entre as conquistas do lendário sedutor: a dançarina Corticelli (Rina de Liguoro), Bianca (Diana Karennne), Carlotta (Jenny Jugo) e, ao escapar da prisão com a ajuda de amigos, antes de embarcar em um navio, ele quase não resiste de levar uma linda cigana consigo. Mais uma vez os talentos de Mosjoukine como ator impressionam, tanto em momentos dramáticos, quanto em cenas de ação ou burlescas. O personagem de Casanova foi bem adequado para ele, permitindo-lhe explorar seu pendor por múltiplas personalidades através de disfarces (v. g. como um costureiro francês).  Percebe-se no decorrer da intriga uma cena erótica em silhueta quando, em um jantar, Corticelli e uma dúzia de outras mulheres executam uma dança totalmente despidas. No final da apresentação, Casanova sai da sala com Corticellli nua nos braços. A Companhia Brasil Cinematográfica distribuiu gorros iguais aos que Mosjoukine usou no filme e eles foram uma das notas predominantes no Carnaval. Os jornais anunciaram: “Por toda parte, nos automóveis que fazem o corso, nos foliões que brincam nas ruas se vêm desses gorros em que se lê “Eu sou Casanova – o príncipe dos amantes”.

Mosjoukine e Alexiane

Mosjoukine em O Príncipe Encoberto

Mosjoukine e Nathaie Lissenko

História rocambolesca misturando melodrama romântico, conto de fadas das Mil e Uma Noites e um pouco de comédia satírica, O Príncipe Encoberto tem início em uma cidade do Tibete, o Grande Khan (François Viguier), um usurpador do trono muito cruel, ordena que a jovem Zemgali (Alexiane), amada pelo Príncipe Roundghito-Sing (Ivan Mosjoukine), seja conduzida ao seu palácio. O príncipe liberta-a, mas ela é recapturada, e ele tem que deixar o país. No navio que o conduz para a França, ele se apaixona pela estrela de cinema Anna (Nathalie Lissenko), que o convence a se tornar ator e atuar a seu lado. O banqueiro Morel (Camille Barodu), produtor do filme, fica com ciúme e se aproveita da ingenuidade do príncpe, fazendo-o passar um cheque sem fundos. Para acalmar Morel, Anna lhe diz que não ama o príncipe, o qual fica arrazado ao ouvir esta conversa. Depois de vários acontecimentos, entre eles a morte de Morel, Anna revela que é a irmã do príncipe, que fugira quando o usurpador assassinou o pai deles. No final, Roundghito-Sing recebe a notícia que se tornou o novo soberano de seu país após a morte do usurpador. Ele volta para o Tibete na companhia de Anna e se casa com Zamgali.

 

Mosjoukine e Nathalie Lissenko em O Príncipe Encoberto

O filme começa com um Prólogo, constituido por uma sucessão de cenas antecipando eventos futuros e de primeiros planos do rosto do príncipe captados em três momentos da história. Após esta abertura original, segue-se uma narrativa em ritmo lento, de feitura acadêmica, explorando o exotismo dos cenários da cidade sagrada tibetana e das indumentárias da massa de figurantes orientais. Porém quando a ação se transfere para a Cidade-Luz, Epstein nos oferece alguns toques de vanguarda que, embora discretos, vêm romper com a monotonia que estava se instaurando  (v. g. um plano de detalhe mostrando os elos de uma corrente para simbolizar a a submissão de Anna à Morel; a caracterização deste último por um cabo de bengala que representa um cão uivando; o uso da sobreimpressão para enfatizar o sentimento de isolamento do herói na metrópolis vibrante ou para mostrar sua embriaguês em uma boate parisiense; emprego da montagem rápida na corrida desenfreada de taxi pela madrugada).

Na primavera de 1926, Mosjoukine assinou um contrato com a Universal e partiu para Hollywood, onde fez Capitulando ao Amor / Surrender, sob a direção de Edward Sloman, baseado nas peça de Alexander Brody “Lea Lyon”. Na trama, Lea Lyon (Mary Philbin), filha do Rabino Mendel (Nigel De Brulier), conselheiro espiritual de uma aldeia da Galícia perto da fronteira com a Rússia, está molhando os pés em um riacho, quando encontra Constantine (Ivan Mosjoukine), um príncipe russo em trajes de camponês. Eis que chega o rabino e se opõe a este relacionamento, insultando o príncipe. Mais tarde a guerra é declarada e os russos, sob o comando de Constantine, ocupam a cidade. O príncipe se convida para a casa do rabino, exigindo Lea, mas fica sabendo de que ela está prometida para Joshua (Otto Matieson), um jovem da sua comunidade. Ele ameaça Joshua que implora a Lea que se submeta ao príncipe, mas ela se recusa. Furioso, Constantine ameaça incendiar a aldeia e seus habitantes e ela cede às súplicas da população, Impressionado como o caráter de Lea, o príncipe percebe que a ama, poupa a cidade e a moça. Quando o exército austríaco chega, Lea esconde Constantine e é apedrejada pela multidão indignada; o rabino morre, mas o príncipe escapa. Depois da guerra, ele retorna para os braços de Lea.

Mary Philbin e Mosjoukine em Capitulando ao Amor

Mosjoukine, Mary Philbin, Carl Laemmle e Nigel De Brulier em primeiro plano durante a filmagem de Capitulando ao Amor

Mary Philbin, Mosjoukine e Nigel De Brulier em Capitulando ao Amor

Trata-se de um melodrama romântico com fundo histórico, muito bem narrado e com duas cenas que merecem destaque. A primeira ocorre logo no início: Constantine é visto caçando esquilos em um bosque. De repente, seu cão esquece o esquilo, toma outra direção e lhe traz um sapato feminino. Intrigado, o príncipe descobre Lea molhando os pés em um riacho. A outra cena é aquele na qual estão presentes Constantine, o rabino, Lea e Joshua. Constantine pergunta para Lea: “Você ama este homem?”. O rabino é quem responde: “Eles estão prometidos há muitos anos. Amá-lo é dever dela”.  Constantine replica: “É este o seu ensinamento – que o amor é um dever? O seu amor por ela é um dever? Pobre velho! O Dever é ensinado – o Amor nasce espontaneamente do nada”. Gosto também de outros momentos (v. g. a invasão dos cossacos, os cidadãos trancados à força em suas casas na iminência de morrerem queimados e, particularmente, os belos close-ups de Mary Philbin, aquela que encarou o Fantasma da Ópera de Lon Chaney. Infelizmente, o filme não proporcionou o êxito comercial esperado pelo estúdio e Mosjoukine voltou para a Europa.

Fritz Alberti e Mosjoukine em O Ajudante do Czar

Carmen Boni e Mosjoukine em O Ajudante do Czar

Carmen Boni, Daniel Dolki e Mosjoukine em  O Ajudante do Czar

Em O Ajudante do Czar, após um noivado desfeito, o Príncipe Boris Kurbsky (Ivan Mosjoukine), ajudante do czar, viajando em um trem com destino a São Petersburgo, enamora-se de uma jovem encantadora, Helena di Armore (Carmen Boni), cujo passaporte foi roubado e a ajuda a passar pela fronteira, como se ela fosse sua esposa. Os dois acabam se casando de verdade e quando Boris descobre que Helena é uma revolucionária que prepara um atentado contra o czar, ele se sente fortemente dividido entre seu dever e seus sentimentos.  Esta história romântica passada em ambiente histórico é contada em um compasso lento, mas não cansativo, graças à capacidade interpretativa dos atores, tanto os dois principais, como os excelentes coadjuvantes:  Daniel Dolski (o criado do príncipe), os generais Koloboff (George Seroff) e Trunoff (Fritz Alberti) e a figura autoritária do Barão Korff (Eugen Burg), que começa a suspeitar do relacionamente entre Boris e Helena. O diretor Strizhesvky não produz nenhuma cena digna de antologia, porém conduz o relato com pulso firme, mantendo a tensão sobre o que vai acontecer até o final.

Nos anos trinta Mosjoukine fez mais 7 filmes: 1930 – O Diabo Branco / Der weisse Teufel  (Dir: Alexandre Volkoff) com Lil Dagover, Betty Amann. 1932 – Das Geheimnis des Fremden legionärs (Dir: Vladimir Strizhesvky) com Trude von Molo, Peter Voss (versão francesa: Le Sergent X com Suzy Vernon, Jean Angelo). 1933 – La Mille et Deuxième Nuit (Dir: Alexandre Volkoff) com Tania Fédor; 1934 – Casanova, o Príncipe do Amor / Casanova (Dir: René Barberis) com Jeanne Boitel, Madeleine Oseray; L’Enfant du Carnaval (Dir: Alexander Volkoff) com Tania Fédor. 1936 – Agonia do Submarino / Nitchevo (Dir: Jacques de Baroncelli) com Harry Baur, Marcelle Chantall, George Rigaud.

O Diabo Branco é uma adaptação livre da novela  “Hadji Murat “ de Leon Tolstoi, realizada como filme mudo, tendo sido depois acrescentada uma trilha sonora. Neste drama histórico  (que tem Anatole Litvak como assistente de direção e Curt Courant entre os fotógrafos) a população das montanhas do Cáucaso defende ferozmente sua independência contra as tropas do czar Nicolau I (Fritz Alberti). Os aldeões depositam toda sua esperança na pessoa de Hadji Murat (Ivan Mosjoukine), apelidado “o Diabo Branco”. A dançarina Saira (Betty Amann), sobrinha de Schamil (Acho Chakatouny), chefe da população local, demonstra interesse pelo belo caucasiano, para desgosto de seu tio. Este insulta Hadji mas, antes que dois homens venham prendê-lo, a aldeia é invadida pelos soldados russos. Muitos homens e mulheres são levados pelos invasores inclusive Saira. Hadji e seus cavaleiros surpreendem o inimigo e fazem prisioneiros. Quando Hadji retorna à aldeia aponta Schamil como traidor, porque ele mandou matar os prisioneiros sem sua permissão. Eles lutam e Hadji, isolado, foge acompanhado por alguns companheiros. Quando Hadji fica sabendo que Schamil aprisionou seu filho, Jussuf (Kenneth Rive), o Diabo Branco fica furioso e pede uma audiência com o czar, que está disposto a lhe conceder seu perdão, desde que ele lute contra os caucasianos. Hadji descobre a vida ostentatória na corte de São Petersburgo e, no curso de um balé da escola de dansa imperial, avista Saira no palco como uma das bailarinas. Esta está sendo assediada por Nicolau I, mas é salva por Hadji, graças à informação da amante do imperador, a bela Nelidowa (Lil Dagover). Hadji e Saira se casam e ele comanda seu povo contra os russos, porém é ferido gravemente. Seus companheiros colocam-no no seu cavalo branco e o levam para a aldeia, onde reencontra Jussuff livre (pelas súplicas de Saira ao tio) e lhe apresents sua nova mamãe, Saira. Hadji e Schamil se reconciliam e o Diabo Branco morre.

Cena de O Diabo Branco

Embora um tanto inverossímel, a história é interessante e foi contada com destreza por Volkoff, servindo-se do fascínio majestoso de Mosjoukine como o herói folclórico, bem secundado por Betty Amann, Lil Dagover e principalmente Fritz Alberti como o czar despótico e sensual. Cenas mais pictóricas e  movimentadas surgem em intervalos regulares como a dança de Saira na aldeia logo no início e depois no balé da escola; a cerimônia da Páscoa; os confrontos entre as tropas do czar e dos revoltosos.

O advento do som soou como uma sentença de morte para a carreira de Mosjoukine como astro do cinema silencioso por causa de seu sotaque carregado. Depois de alguns filmes insignificantes (no último dos quais atuou apenas como coadjuvante) ele terminou seus dias na solidão e na miséria e morreu de tuberculose em 1939 aos 50 anos de idade.