Sua obra como cineasta, acumulando quase sempre as funções de argumentista-roteirista-diretor, expressando com muita franqueza uma visão particular do mundo, foi marcada por uma ousadia e originalidade constantes, que o ajudaram a superar a precariedade dos valores de produção da maioria de seus filmes. Ele trabalhou também como produtor, atuou como ator e escreveu argumentos ou roteiros para outros diretores, publicou doze livros, entre os quais sua autobiografia, Samuel Fuller – A Third Face (A. A. Knopf, 2002), livro que nos ajuda muito a conhecer sua personalidade.
Samuel Michael Fuller (1912-1997) nasceu em Worcester, Massachusetts, filho de Rebecca Baum, natural da Polonia e Benjamin Rabinovich, natural da Rússia. Antes dele nascer, seus pais já haviam mudado seu sobrenome para o mais sonoramente-americanizado Fuller. Quando Samuel tinha 11 anos de idade, seu pai faleceu e Rebecca decidiu partir para Nova York, onde havia mais oportunidade de uma vida melhor para ela e seus sete filhos.
O primeiro emprego de Samuel foi como mensageiro em um hotel modesto nos fins de semana. Depois começou a vender por conta própria jornais nas ruas de Manhattan até ser aceito, aos treze anos de idade, como contínuo na redação do New York Evening Journal, um dos mais importantes da cadeia de William Randolph Hearst. Neste mesmo jornal trabalhou dois anos como contínuo sob as ordens diretas do lendário editor-chefe Arthur Brisbane, que foi uma figura paterna essencial para ele. Em 1928, após um período prestando serviço nos arquivos do jornal, Samuel realizou seu sonho de se tornar aos dezessete anos de idade um repórter, cujo ofício aprendeu com Rhea Gore, mãe de John Huston.
Fuller não conseguiu se formar em uma faculdade, mas se tornou um auto didata, lendo os clássicos. Na época da Depressão, resolveu conhecer melhor seu país, viajando para outros estados e subsistindo com a venda, não somente de seus artigos como repórter free lancer, mas também dos seu cartuns satirizando os assuntos políticos e sociais do momento. Porém o que ele realmente queria era escrever um livro e assim surgiu “Burn, Baby, Burn”, que o produtor da Broadway, Boris Petroff transformou no filme Feira de Sensações / Hats Off / 1936 com John Payne e Mae Clarke. Apesar do filme não ter quase nada a ver com a história concebida por Fuller, ele recebeu pela primeira vez crédito como argumentista e começou a receber ofertas para escrever histórias para o cinema.
Seguiram-se argumentos e/ou roteiros para: 1937 – Aconteceu em Hollywood / It Happened to Hollywood (Dir: Harry Lachman). 1938 – Bandos de Nova York / The Gangs of New York (Dir: James Cruz), Aventura no Sahara / Adventure in Sahara (Dir: D. Ross Lederman), 1941 – Correspondente Especial / Confirm or Deny (Dir: Archie Mayo), Juventude de Hoje / Bowery Boy (Dir: William Morgan). O Poder da Imprensa / Power of the Press (Dir: Lew Landers), Bandidos do Cais / Gangs of the Waterfront (Dir: George Blair), estes dois últimos somente lançados respectivamente em 1943 e 1945.
Fuller estava ganhando bem em Hollywood com a venda de seus argumentos e roteiros um após o outro, mas quando os Estados Unidos entraram na guerra, ele se alistou no Exército aos vinte e nove anos de idade, porque “seria uma bela oportunidade de cobrir a maior história de crime do século”. Ele poderia ter servido no staff do jornal das Forças Armadas ou como correspondente de guerra, mas preferiu continuar como soldado e acabou sendo designado para a First United States Infantry Division, conhecida como “the Big Red One”. Como integrante de um pelotão, participou de operações no Norte da Africa, Sicília, Normandia, Bélgica, Alemanha e Checoslováquia, onde libertaram o campo de concentração de Falkenau – experiência que influenciaria o conteúdo e o estilo de sua obra.
Após a guerra, Fuller casou-se com uma aspirante a atriz, Martha Downers, e escreveu alguns scripts, oferecendo-os para vários estúdios, mas somente em 1949 um chegou a ser filmado pela Columbia – sob direção de Douglas Sirk e estrelado por Cornel Wide – com o título de Apaixonados / Schockproof.
Foi também em 1949, que Fuller teve a oportunidade – oferecida pelo produtor independente Robert F. Lippert, – de dirigir seu primeiro filme, Matei Jesse James / I Shot Jesse James, melodrama com uma relação casual com o western, abordando o fato histórico da morte de Jesse James (Reed Hadley) sob o ângulo de seu assassino Robert Ford (John Ireland) e introduzindo uma história fictícia de rivalidade entre ele o xerife John Kelley (Preston Foster) pelo amor de Cinthia Waters (Barbara Britton), cantora de uma companhia de teatro itinerante. No final, Kelley confronta Bob em um duelo, no qual o traidor perece, sussurando nos braços de Cinthia: “Lamento pelo que eu fiz a Jesse. Eu o amava”. Bob matou seu melhor amigo para obter a anistia e a recompensa e se tornar suficientemente respeitável para se casar, porém seu crime traiçoeiro o desqualificou para o matrimônio, porque se tornou o “covarde sujo” da balada, que ouviu no bar em um momento marcante do filme. A violência não ocorre em cenas de ação, mas dentro da mente de um assassino atormentado pela culpa e pelo remorso.
Após haver abordado a lenda de Jesse James de um ponto de vista singular, no segundo filme que fez para Lippert, O Barão Aventureiro/ The Baron of Arizona / 1950, Fuller trouxe para a tela outro personagem que realmente existiu no Oeste americano: James Addison Reeves (Vincent Price), aventureiro audacioso e arrogante que, através da falsificação de documentos, tentou se apropriar do território do Arizona. Tal como em Matei Jesse James, o diretor usou um argumento escrito por ele mesmo – inventando desta vez o personagem do perito Griff (Reed Hadley) e os episódios espanhóis – e dispôs de um orçamento barato e um tempo exíguo para a filmagem. Em ambos os filmes a encenação é correta, mas bastante discreta, não se vislumbrando as cenas extravagantes de suas realizações posteriores. No caso de O Barão Aventureiro, Fuller contou com a colaboração preciosa do fotógrafo James Wong Howe, que se ofereceu para trabalhar com ele e deu ao filme a aparência sombria e gótica, que o diretor queria.
Inspirado pela Guerra da Coréia então em curso, Fuller resolveu escrever uma história tendo como pano de fundo este conflito, utilizando sua experiência em primeira mão sobre a Segunda Guerra Mundial. Assim surgiu Capacete de Aço / The Steel Helmet / 1951, terceira produção da Lippert Pictures, realizada também com poucos recursos e premência de tempo. Fuller imaginou um pelotão de soldados americanos de diferentes raças e antecedentes, comandados pelo sargento Zack (Gene Evans), veterano da Segunda Guerra Mundial. Ele foi o único sobrevivente quando seus companheiros foram dizimados pelo inimigo; alvejado na cabeça, seu capacete de aço salvou-lhe a vida. A primeira imagem que aparece na tela, em primeiro plano (um dos célebres prólogos fullerianos pois Fuller, sendo antes de tudo um repórter, gostava de começar seus filmes com um lide), é este capacete com um buraco de bala, que se torna um símbolo essencial de sobrevivência durante todo o filme. Zack é descoberto por um jovem sul coreano orfão, Bouboule (William Chun), que o segue contra a sua vontade. No caminho os dois encontram outro soldado solitário, um enfermeiro negro (James Edwards) cuja unidade também foi eliminada e depois uma patrulha em um estado deplorável. Todos se refugiam em um templo budista e resistem a um cêrco dos seus adversários, antes que um destacamento americano venha libertá-los. Em uma das cenas mais fortes do filme, os homens de Zack capturam um oficial coreano do norte. No momento em que se trava um combate feroz, Bouboule é morto e Zack, em um acesso de raiva, abate seu prisioneiro. Na guerra vista por Fuller, o sofrimento humano se exprime a cada instante na vida dos soldados e o cineasta, com perspicácia cinematográfica, alterna abruptamente os planos muito próximos com os planos mais afastados para mostrá-lo.
Darryl F. Zanuck gostou de Capacete de Aço e encomendou a Fuller um novo filme sobre a Guerra da Coréia para a Twenty Century-Fox. Ele escreveu o argumento de Baionetas Caladas / Fixed Bayonets / 1951, inspirado em uma novela de John Brophy, que narra a história de um pelotão da infantaria americana cuja missão é cobrir o recuo de sua divisão no inverno glacial da Coréia. O momento é dramático porque os poucos homens têm de iludir forte exército vermelho, dando-lhe a impressão de que são muitos. Paralelamente, corre o problema psicológico do cabo Denno (Richard Basehart) que, apesar de já ter demonstrado bravura nos combates, teme a possibilidade de vir a assumir o comando, porque se julga incapaz de dar ordens. À medida em que seus superiores vão sucumbindo e se aproxima a hora de assumir a liderança, os comunistas vão descobrindo o truque. Fuller expõe essa intriga com clareza e energia dramática, forjando boas cenas de suspense (v. g. a caminhada sobre as minas enterradas na neve) e confere autenticidade aos personagens com suas preocupações, seus desejos e seus tormentos.
Fuller tentou em vão convencer Zanuck a produzir um filme sobre Park Row, a famosa rua na baixa Manhattan entre Bowery e Brooklyn Bridge, onde o jornalismo norte-americano nasceu e que ele conhecera muito bem na sua juventude. Como a concepção de Zanuck sobre como deveria ser o filme era bem diferente da sua, resolveu realizar seu projeto tão acalentado por contra própria. O enredo que ele escreveu, embora fictício, apoia-se em fatos autênticos da evolução da imprensa moderna – a manchete da primeira página, o aperfeiçoamento do linotipo etc. – e, sobretudo, no conhecimento que o cineasta tinha do exercício da profissão de jornalista. Em 1886, Phineas Mitchell (Gene Evans) é despedido do The Star, inconformado com a cobertura que levou um acusado à pena de morte injustamente, segundo ele. Phineas funda um novo diário, The Globe, e começa a cobrir o caso Steve Brodie, um homem que saltou da ponte do Brooklyn e sobreviveu. A reportagem chama a atenção de Charity Hackett (Mary Welch), poderosa proprietária do The Star, que despedira Phineas. Novas campanhas de sucesso do The Globe, aumentam enormemente suas tiragens e acirram a concorrência com Charity, provocando uma reação violenta contra Phineas, que sofre até “empastelamento”. Porém acontece que Charity e Phineas estão mutuamente apaixonados. Deste enredo resultou A Mulher de Preto / Park Row / 1952, belo tributo nostálgico ao jornalismo norte-americano narrado por uma câmera constatemente agitada e interpretado por atores pouco conhecidos, mas cujos tipos estão calculados com exatidão assim por exemplo, Ottman Mergenthaler (Bela Kovacs), o alemão inventor do linotipo; Josiah Davenport (Herbert Heyes), o velho repórter que escreve seu próprio obituário; e Mr. Spiro (Stuart Randall), o tipógrafo que não sabe ler.
Fuller voltou a trabalhar para Zanuck / Twenty Century-Fox Fuller, escrevendo e e dirigindo Anjo do Mal / Pick Up on South Street / 1953, excelente drama de espionagem que tem início no metrô, onde Skip McCoy (Richard Widmark) rouba uma carteira da bolsa de Candy (Jean Peters), a amante de Joey (Richard Kiley), agente comunista. Dentro da carteira está um microfilme que a moça carregava, inadvertidamente. Quando Joey verifica o roubo, ele pede a Candy que encontre McCoy e recupere o microfilme. Tanto Candy quanto os agentes do FBI que a estavam vigiando, localizam McCoy por intermédio de Moe (Thelma Ritter), uma velha vendedora de gravatas e informante amiga dele. Porém McCoy, percebendo o valor do microfilme, prefere negociar diretamente com Joey. A sequência de abertura, sem diálogos, do roubo da carteira no interior do trem cheio de gente em uma série de close-ups rápidos; a da morte serena de Moe escutando um disco arranhado de uma velha canção sentimental e pedindo ao assassino para acabar com sua fadiga (grande momento de interpretação de Thelma Ritter); o espancamento de Candy, empurrada contra os móveis, em um plano sequência admirável; e o acerto de contas no final, McCoy esmurrando Joey sem parar por toda estação do metrô, demonstram a virtuosidade técnica de um diretor sempre audacioso, contando desta vez com a contribuição valiosa do fotógrafo Joe MacDonald. O filme ganhou o Leão de Bronze no Festival de Veneza de 1953.
No começo dos anos 50, antes de realizar A Dama de Preto e Anjo do Mal, Fuller escreveu o argumento de Arrancada Final / The Tanks Are Coming / 1951 (Dir: D. Ross Lederman / Lewis Seiler) e adaptou o romance “Rear Guard” de James Warner Bellah para Sob o Comando da Morte / The Command (Dir: David Butler). Um terceiro filme, Escândalo / Scandal Sheet (Dir: Phil Karlson), foi baseado em uma história original de Fuller intitulada “The Dark Page”.
Depois de Anjo do Mal, Zanuck pediu a Fuller, como um favor pessoal, que filmasse a história de Hell and High Water, escrita por Jesse Lasky Jr. e Bernie Lay. Bernie era um piloto do exército amigo de Fuller do tempo da guerra e Zanuck sempre o apoiou, inclusive negando-se a cortar as cenas de Anjo do Mal, que desagradaram ao poderoso J. Edgar Hoover. Por isso Fuller concordou, desde que pudesse reescrever o script, para adequá-lo ao seu estilo. Zanuck aprovou sua versão, assim como Lasky e Lay. Zanuck apenas pediu que ele filmasse no novo processo do Cinemascope. No relato de Tormento sob os Mares, título brasieliro de Hell and High Water, um antigo comandante de submarino, Adam Jones (Richard Widmark), é contratado por 50 mil dólares, para conduzir o eminente cientista Prof. Montel (Victor Francen) e sua assistente Denise (Bella Darvi) a uma ilha vizinha do Japão, onde os comunistas chinêses teriam uma base atômica secreta. A bordo de um submarino japonês um tanto degradado, Adam parte em sua missão tendo como tripulação um grupo de ex-marinheiros mercenários de várias nacionalidades. No mar, eles são atacados por um submarino misterioso, que Adam, após hábeis manobras e um combate violento, consegue destruir. Desembarcando na ilha, Adam e seus homens são obrigados a se retirar, mas ficam sabendo, por um prisioneiro capturado, que um avião transportando uma bomba atômica, deve decolar de uma ilha vizinha. Adam resolve ir lá, para avisar seus companheiros, quando o avião vai decolar, a fim de que as armas do submarino possam abatê-lo; porém Montel penetra na ilha em seu lugar e graças à sua coragem heróica, o avião é destruido. Mas ele morre e, neste momento, ficamos sabendo que Denise é sua filha. A espinha dorsal do filme é o conflito entre o idealismo do cientista e o senso prático do comandante, bem demonstrado pelo diretor, que procurou também manejar com eficiência o Cinemascope em um ambiente claustrofóbico. Fiel ao seu estilo, Fuller construiu algumas cenas violentas (v. g. o dedo do cientista fica preso na escotilha do submarino e tem que ser cortado com uma faca pelo comandante; o prisioneiro chinês comunista mata a pancadas com uma chave de fendas um tripulante da mesma nacionalidade, que estava se fazendo passar como outro prisioneiro, para obter informações;) enquanto o departamento de feitos especiais, sob as ordens de Ray Kellog, fazia jús a uma indicação para o Oscar.
Fuller foi sempre fascinado pelo Japão e quando Zanuck lhe propôs filmar na “Terra do Sol Nascente”, ele aceitou imediatamente. Aproveitando a estrutura de um filme da Fox de 1948, Rua Sem Nome / Street With No Name (Dir: William Keighley) – do policial que se infiltra em um bando de criminosos – Fuller escreveu seu próprio script, intitulando-o Casa de Bambú / House of Bamboo, incorporando no relato a idéia de ex-pracinhas planejando crimes, como se fossem operações militares. O tema principal do filme é a traição, porém ele introduziu ainda aspectos da vida japonesa contemporânea, um romance interracial uma cena homoerótica entre dois gângsteres, algo vedado em 1950. Nesta aventura policial o chefe da quadrilha é Sandy Dawson (Robert Ryan) e o policial infiltrado é eddie Spanier (Robert Stack). Auxiliado por uma jovem viúva japonesa, Marika (Shirley Yamaguchi), Spanier ganha a confiança de Dawson, mas também a animosidade de seu lugar-tenente Griff (Cameron Mitchell). Após um assalto frustrado, Dawson mata grife, achando que ele é um traidor, mas ao mesmo tempo descobre a verdadeira identidade de Spanier e os dois se confrontam em um final emocionante. A Narrativa é tensa e violenta, ficando na nossa memória duas cenas marcantes: a primeira é a morte de Griff quando está tomando banho em uma barrica. Dawson na verdade ama Griff, mas o mata assim mesmo. Ele desfere seis tiros na barrica, fazendo furos pelos quais a água jorra. Dawson segura a cabeça amolecida de Griff nas suas mãos e fala com ele enquanto acaricia gentilmente seu cabelo. A outra cena é a perseguição final em um parque de diversões no terraço de um edifício, onde Dawson é abatido a tiros e cai em cima de um mecanismo giratório.
Em 1956, com a concordância de Zanuck, que lhe pediu para escrever um roteiro para “Tigrero” de Sacha Siemel, Fuller viajou para Mato Grosso, a fim de conhecer o ambiente onde se desenrolaria a ação do filme. Infelizmente o projeto – que incluiria John Wayne, Ava Gardner e Tyrone Power no elenco – não foi avante, porque a seguradora achou que seria um risco muito grande levar artistas dessa magnitude a uma região selvagem.
Embora sob contrato com a Fox, Fuller tinha liberdade para realizar seus próprios filmes e ofereceu a William Dozier, o novo chefão da RKO, o script de Renegando o meu Sangue / Run of the Arrow / 1957, que pode ser resumido assim: o último tiro da Guerra de Secessão em 1865 é dado pelo soldado O’Meara (Rod Steiger) contra o tenente nortista Driscoll (Ralph Meeker), que fica apenas ferido. Mas O’Meara não quer aceitar a derrota e, com a ajuda do guia índio Walking Coyotte (Jay C. Flippen), decide se juntar aos índios Sioux, para continuar a luta contra os ianques. Após ter sido submetido à corrida da flecha, ele se casa com uma jovem índia, Yellow Mocassin (Sarita Montiel dublada por Angie Dickinson). O chefe Red Cloud (Frank de Kova) conclui a paz com os Americanos e aceita a construção de um forte ianque em seu território em um lugar designado por ele. Um índio dissidente, Crazy Wolf (H. M. Wynant) mata o capitão Clark (Brian Keith), chefe do destacamento e o tenente Driscoll, que assume o comando, decide construir o forte em outro lugar, sem o consentimento dos Sioux. Representando os indios, O’Meara protesta, mas é preso como traidor por Driscoll. Condenado a ser enforcado, ele é salvo pela chegada dos Sioux, que exterminam os americanos. Para evitar que Driscoll seja supliciado, O’Meara atira nele e desta vez o mata. Ele agora compreeende que seu lugar é entre os de sua raça. Os temas do choque e separação de raças e do nacionalismo versus individualismo são tratados com liberdade de espírito (v. g. no relato há sulistas anti-racistas, nortistas racistas e índios pró-americanos) e vigor de expressão. O filme é marcado pelo estilo seco do diretor. Fuller explora muito bem a paisagem do Utah, apresentando-a em planos gerais bastante espaçosos e por meio de movimentos de câmera deslizantes de grua. Essas imagens claras, simples e precisas contrastam com o distúrbio emocional e a confusão do herói. A cena mais tocante é aquela em que O’Meara e sua mãe estão conversando em uma ponte. O’Meara está profundamente abalado por ter perdido a guerra. O rosto de Rod Steiger está fervendo de frustração. A gente percebe nos olhos dele o dano terrível que os ianques causaram à sua família e ao Sul. “Onde está o seu orgulho, mãe?”, ele murmura. A cena mais impressionante e assustadora é quando O’ Meara abrevia os sofrimentos do homem que ele apenas feriu em Appomatox e que, nas mãos do Sioux, está sendo esfolado vivo. Renegando o meu Sangue foi reprisado no Brasil em 1975 com o título de O Chefe Bufalo Azul.
O projeto seguinte de Fuller na Fox intitulou-se No Umbral da China / China Gate / 1957, passado na Indochina em 1954, antes de se tornar Vetnã. Governada pelos franceses como uma de suas colônias, o país está sitiado pelos revolucionários apoiados pelos comunistas, liderados por Ho Chi Minh. Angie Dickinson interpreta o papel de Lea, apelidada de “Lucky Legs”, uma mestiça que recorreu ao contrabando de bebidas, para sustentar seu filho de cinco anos de idade. Como ela conhece bem seu caminho através da selva, Lea aceita a tarefa de conduzir um pelotão de legionários franceses dinamitadores por detrás das linhas inimigas, a fim de destruir o principal depósito de munição dos comunistas. Entretanto, os franceses devem primeiro lhe prometer que eles vão providenciar a evacuação de seu filho para a América. O pelotão é comandado por Brock (Gene Barry), um americano veterano da Guerra da Coréia, que se casara com Lea, mas a abandonara, quando o filho deles nasceu com traços chineses. Lea é tentada pelo ambicioso Major Cham (Lee Van Cleef), que oferece para ela e seu filho uma nova vida em Moscou. A missão de sabotagem no depósito é um sucesso, porém Lea morre. No final, Brock leva seu filho para fora da zona de guerra, rumo à América. No curso da caminhada pela selva, ocorrem várias ocasiões onde Brock e Lea tentam se reencontrar. Os corpos se atraem, mas logo se repelem. A missão se revela uma iniciação sentimental para Brock, que se torna enfim pai. Fuller mantém o interesse pela intriga o tempo todo e, em alguns momentos (auxiliado pelo fotógrafo Joseph Biroc) consegue transmitir o clima da Indochina bombardeada com as suas ruas quase vazias. A cena mais excitante é a da fuga no avião, quando o piloto, gravemente ferido é segurado à força pelos companheiros, que mantêm os seus olhos abertos e jogam uísque no seu rosto, para manter o cérebro funcionando o tempo necessário para uma aterrissagem forçada.
Em Dragões da Violência / Forty Guns / 1957, escrito, dirigido e produzido por Fuller para a Fox, Griff Bonnell (Barry Sullivan) e seus irmãos Wes (Gene Barry) e Chico (Robert Dix), chegam em Cochise County, domínio da toda-poderosa Jessica Drummond (Barbara Stanwyck). Griff é um ex-pistoleiro regenerado agora a serviço da lei e veio prender Howard Swain (Chuck Roberson), assaltante da mala do correio, que vem a ser um dos quarenta homens armados que trabalham para Jessica. Antes disso, Griff é obrigado a intervir, quando Brockie (Leif Erickson), irmão de Jessica, alveja o velho xerife (Hank Warden) e faz uma arruaça na cidade acompanhado por seus amigos bêbados. Griff prende Brock, porém Jessica, com sua influência, consegue libertá-lo. Wes se apaixona por Louvenie Spanger (Eve Brent), filha do armeiro da cidade e decide se casar com ela enquanto Griff e Jessica são atraídos um pelo outro durante uma forte tempestade. No dia do seu casamento, Wes é morto por Brockie e este é preso por assassinato. Wes tenta fugir, usando sua irmã como escudo, achando que Griff não vai atirar, mas ele faz exatamente isto. Chico fica na cidade para ser o novo xerife e Griff parte, certo de que Jessica o odeia por ter matado seu irmão; porém ela corre atrás dele e os dois rumam para a Califórnia. Diretor sempre criativo, Fuller insere neste western incomum – com magnífica fotografia de Joseph Biroc em CinemaScope – , algumas cenas antológicas (v. g. a aparição tonitruante dos 40 cavaleiros tendo à frente Jessica logo no início; Louvenie vista através da mira do revólver de Wes e em seguida o corte para os dois se beijando; a morte de Wes no dia do seu casamento quando vemos, por uma tomada de cima, o fotógrafo e os noivos saindo da igreja e depois, mais de perto, Wes sendo alvejado por um tiro no instante em que seu irmão Griff vai beijar a nova cunhada; Griff atirando certeiramente na perna de Jessica para apenas ferí-la e, depois que ela cai no solo, em Brock, que morre, dizendo: “Mr. Bonnell, estou morto!” Griff passa por cima do corpo de Jessica e diz para um espectador da cena: “Chame um médico. Ela vai viver”. No desfecho original de Fuller Griff matava ambos, porém esta conclusão foi barrada pelo estúdio.
Proibido / Verbotten! / 1959 foi mais um filme escrito, produzido (na verdade uma co-produção da sua Globe Enterprise com a RKO), distribuído pela Columbia e dirigido por Fuller. Perto do final da Segunda Guerra Mundial na Europa, o soldado americano Sargento David Brent (James Best), ferido enquanto caçava um franco atirador, cai inconsciente diante de uma jovem alemã, Helga Schiller (Susan Cummings), que cuida de seus ferimentos e o esconde dos agentes da SS., para provar que não é uma nazista. David se apaixona por Helga, mas como é proibido aos soldados americanos se confraternizarem com as mulheres alemãs, ele deixa o Exército e vai trabalhar como civil no Escritório de Alimentação do Governo Militar. Para evitar que sua mãe doente (Anna Hope) e a seu irmão Franz (Harold Daye), rapazinho mutilado por um bombardeio aéreo aliado, morram de fome, Helga se casa com David, para usufruir dos mantimentos, que ele lhe traz; mas acaba se apaixonando por seu marido. Enquanto isso, Franz cai sob a influência de Bruno Eckart (Tom Pittman), jovem ex-combatente nazista conhecido de Helga, muito raivoso porque toda a sua família morreu sob as bombas americanas. Sob a bandeira de resistência ao ocupante, ele organiza e lidera um grupo denominado “Werwolves”, que provoca demonstrações anti-americanas e ataca os depósitos de víveres e de medicamentos, destinados de fato a alimentar o mercado negro. Bruno consegue se empregar durante o dia no QG do Exército Americano, onde planeja seus ataques e tenta persuadir David de que Helga, ao se casar com ele, simplesmente se prostituiu por interesse. Tal insinuação perturba David, quando justamente se alegrava de saber que ia ser pai. Helga leva Franz para assistir aos julgamentos de Nuremberg, os olhos do adolescente se abrem para os reais motivos dos Werwolves e ele ajuda as autoridades americanas, a por um fim nas atividades da quadrilha dos delinquentes fascistas. Helga e David se reconciliam. Verdadeiro relato histórico habilmente romanceado, o filme evoca com vigor os dias dramáticos que se seguiram à capitulação do hitlerismo assim como as tentativas desesperadas ou cínicas de reconstituição de movimentos de resistência do tipo “Werwolves”. Uma história de amor evolui em contraponto a esta página pouco conhecida da Segunda Guerra Mundial. Fuller, sempre criativo, usa cenas de atualidades e a música classica para transmitir as emoções caóticas da época. A abertura do filme mostra quatro soldados (David e seus companheiros) tentando matar os francos atiradores sob o som de uma sinfonia de Beethoven. Mais tarde, quando David propõe casamento a Helga ouve-se de novo a música do grande compositor germânico. A entrada em cena de Bruno é acompanhada para uma ouverture Wagneriana. O próprio Fuller narra em voz over o montage das cenas de guerra e dos campos de concentração.
Durante os anos cinquenta, Fuller recebeu convites para grandes produções adaptadas de livros best sellers e estreladas por atores de prestígio, mas recusou uma por uma, a fim de manter sua independência. Seu filme seguinte, O Quimono Escarlate / The Crimson Kimono / 1959, foi uma co-produção da Globe Entreprise com a Columbia. No enredo, em resumo, uma dupla de detetives, Charlie Bancroft (Glenn Corbett) e Joe Kojaku (James Shigeta), ambos veteranos da Guerra da Coréia, procuram o assassino de Sugar Torch (Gloria Pall), dançarina de strip-tease no bairro japonês de Los Angeles – mas um triângulo amoroso ameaça sua amizade. Apesar de ser um drama criminal de mistério, o filme se concentra quase essencialmente sobre o romance interracial – entre Joe, o policial nisei e a artista Christine Down (Victoria Shaw), que havia pintado o retrato da vítima – e a amizade tensa entre os dois homens, pois Charlie também está apaixonado por Chris. Ela admite que ama Joe, mas este, confuso acerca de seu amor por uma mulher branca, está inseguro acerca das reações de seus amigos e interpreta mal as palavras e ações de Charlie e Chris. No final, os policiais descobrem que foi Roma (Jacqueline Greene), uma mulher, que matara Sugar Torch, porque pensou erroneamente que seu amante tinha um relacionamento amoroso com ela. Esta revelação faz Joe compreender que ele tembém se enganou sobre o comportamento de Charlie e Chris e imediatamente se reconcilia com Charlie e beija Chris. O espetáculo contém algumas cenas do gôsto do cineasta como, por exemplo o prólogo, no qual se vê um número de strip-tease seguido pelo assassinato brutal da dançarina nas ruas de Los Angeles; o confronto entre os dois amigos na exibição de arte marcial kendo, espécie de esgrima com espadas de bambú, na qual eles se atacam violentamente; a luta com o japonês colossal; a perseguição final no meio de um desfile japonês na Little Tokyo. Verifica-se mais uma vez a curiosidade de Fuller pela cultura japonesa e um detalhe inusitado: a mulher que intervém na vida dos dois amigos é uma criatura doce e sensível, muito distante de uma femme fatale típica.
Em 1959, Fuller perdeu sua mãe, divorciou-se de Martha e estava à beira de um acêrto milionário com a Warner Brothers para escrever, dirigir e produzir The Big Red One, o projeto mais desejado de toda a sua vida. Jack Warner aprovou seus planos e escolheu John Wayne para ser o sargento que conduz a tropa durante as campanhas da First Division na Segunda Guerra Mundial. Porém Fuller rejeitou a escolha de Wayne, porque ele transformaria a sua história sobre uma luta tenebrosa pela sobrevivência em um filme de aventura patriótico e o projeto não foi adiante.
Seu primeiro filme nos anos 60, A Lei dos Marginais / Underworld USA / 1961, produzido pela Columbia, é uma história de vingança. Aos 14 anos, um ladrãozinho de rua, Tolly Devlin (David Kent), vê seu pai, ladrão como ele, ser espancando até à morte em um beco escuro. Embora só tivesse identificado um dos agressores, um gângster chamado Vic Farrar (Peter Brocco), o rapaz se recusa a cooperar com o representante da promotoria pública John Driscoll (Larry Gates), pois rapretende se vingar por conta própria. Vinte anos depois, Tolly (Cliff Robertson) encontra Farrar moribundo na enfermaria de uma prisão e consegue obter dele o nome dos outros três assassinos de seu pai, Smith (Allan Gruener), Gunther (Gerald Milton) e Gela (Paul Dubov), que fazem parte de um sindicato do crime. Tully então realiza metodicamente e com requinte sua vingança implacável aos três bandidos que, sob uma fachada de honorabilidade, se enriqueceram pela extorsão, pela prostituição e pelo tráfico de droga. Colaborando com a polícia, ele ajuda Driscoll a desmascarar o chefe da mafia novaiorquina, o temível Connors (Robert Emrardt), que ele tem o prazer de executar com suas prórias mãos; porém depois é abatido por um guarda costas e vai morrer nos braços de Cuddles (Dolores Dorn), uma garota meio confusa, testemunha de um crime, que ele usara para chegar aos criminosos responsáveis pela morte de seu progenitor. Reflexão lúcida sobre as engrenagens de uma poderosa organização criminosa, vista segundo uma ótica intimista (Tully não tem intenção de livrar seu país da corrupção e do crime; ele age sózinho e somente por seus interesses) e exposta com inteligência cinematográfica, A Lei dos Marginais contém momentos de brutalidade apenas insinuada como aquele em que Gus (Richard Rush), o capanga de óculos escuros, persegue de carro uma menina de bicicleta: com um ritmo cada vez mais ofegante, Fuller alterna os planos da rodas da bicicleta com as rodas do carro em disparada, terminando por um grito da mãe assustada, que assiste à tudo da janela de um prédio, sem poder fazer nada e finalmente o plano da menina morta no asfalto. Porém quando Tully afoga friamente o chefão do crime obeso na piscina luxuosa de sua mansão, a crueldade é explícita.
Fuller escreveu o roteiro e dirigiu seu próximo filme, Mortos que Caminham / Merril’s Marauders / 1962, para a Warner Brothers. O contexto desta vez é a Segunda Guerra Mundial. Um regimento de infantaria, comandado pelo General Frank Merrill (Jeff Chandler) – militar experiente, respeitado pelos seus homens, mas muito exigente -, é encarregado de se infiltrar no território birmanês, a fim de atacar a Fortaleza de Myitkyina, objetivo importante na luta contra os japonêses. Trata-se de um filme de guerra bem realista, no qual sobressai o estudo psicológico dos sofrimentos dos soldados. Ele narra o avanço custoso em perdas humanas do regimento de voluntários composto por três mil soldados através dos pântanos e da selva espessa birmanêsa. À medida em que os homens de Merrill caminham, enfrentando o inimigo e as doenças, acentua-se a sensação de cansaço da tropa, levada à exaustão pelo rigor do general, inflexível no cumprimento de sua missão. A certa altura o médico (Andrew Duggan) diz para Merrill: “Esses homens estão no final da linha e você também… Eles estão física e psicologicamente esgotados”. Merrill responde: “Quando estiver no final da linha tudo o que você tem que fazer é por um pé na frente do outro e dar o próximo passo. Só isso”. Tendo a opção por ordens superiores de atacar ou não a fortaleza, Merrill ordena o ataque. Seus homens que estão deitados no chão extenuados, enfermos e estressados, ao ouvir a ordem do tenente Stockton (Ty Hardin), levantam-se e avançam. Merrill sofre um ataque cardíaco, o médico o acode e reflete em voz alta: “Como eles conseguem. Como podem conseguir?”. Eles realmente conseguem tomar Myitkyina, mas dos três mil combatentes, só permaneceram cem em ação. No decorrer do espetáculo surgem alguns achados insólitos ou pungentes do diretor: o tecido de nylon do paraquedas servindo de mortalha sobre o cadáver do soldado que, desobedecendo às instruções de Merrill, se aproximara das caixas de mantimentos jogados do ar; o combate no meio de imensos blocos de concreto formando um labirinto, dentro do qual americanos e japonêses se enfrentam e caem uns sobre os outros; o momento de tristeza quando o sargento Kolowicz (Claude Akins) recebe uma tijela de arroz de uma velha e chora, comovido pela ternura da anciã e pelo olhar do menino que o observa enquanto ele está comendo.
Após ter escrito e dirigido um episódio da série O Homem de Virginia / The Virginian / 1962 para a televisão (Obs. em 1979, foi exibido no Brasil uma união de dois episódios de O Homem de Virginia sob o título de Os Piores Homens do Oeste / The Meanest Men of the West, saindo nos créditos o nome de Fuller e Charles S. Dubin como diretores) a pedido de seu colega Charles Marquis Warren, Fuller escreveu e dirigiu Paixões que Alucinam / Shock Corridor para a Allied Artists – F&F Productions (Sam Firks-Leon Fromkess). Nele, um jornalista ambicioso, Johnny Barrett (Peter Breck), interna-se em um hospital psiquiátrico, para elucidar a morte misteriosa de um paciente, escrever um livro sobre o assunto e ganhar o Prêmio Pulitzer. Para realizar seu projeto, aprende como deve fazer para se fazer passar por maníaco sexual e é ajudado por sua namorada, Cathy (Constance Towers), dançarina de strip tease que, apesar de contrariada, finge ser sua irmã e o acusa na polícia de comportamento incestuoso. O plano dá certo e, uma vez internado, Johnny torna-se amigo de três testemunhas do crime e tenta fazê-las falar nos seus breves momentos de lucidez. Já quase completamente esquizofrênico, ele consegue que um dos enfermeiros confesse o crime; porém não o deixam sair do asilo, porque sua mente se deteriorou progressivamente (ao receber a visita de Cathy ele a repele com desgôsto, quando ela vai abraçá-lo, acreditando que ela é mesmo sua irmã e depois começa a ter alucinações, vendo “a Rua” – um corredor onde ficam os internos – inundada pela chuva durante uma tempestade, na verdade inexistente) e ele se tornou incapaz de viver no mundo real. O filme é uma alegoria sociológica. Através do personagem principal e dos alienados que ele encontra, Fuller mostra as diferentes males sofridos pela sociedade americana dos anos 50-60 (v. g. um negro (James Edwards), na sua alucinação, se julga um membro da Ku Klux Klan e prega a supremacia racial; um jovem sulista (James Best) acusado de comunista pelo Macarthismo, ao voltar da Guerra da Coréia, enlouqueceu e acha que é um general da Guerra de Secessão; um cientista atômico (Gene Evans), angustiado pela paranóia da Guerra Fria, voltou à infância; as ninfomaníacas enraivecidas simbolizam o puritanismo, que prescreve às mulheres seu comportamento sexual) e, quanto a Johnny, seu arrivismo desmesurado é uma visão da América como uma sociedade que dá muita ênfase ao sucesso. A encenação de Fuller é delirante, misturando preto e branco e cor, fotografia ultra contrastada (de Stanley Cortez) close-ups impressionantes, montagem agitada, uso do som sempre surpreendente e contando ,com um atuação convincente do elenco, que ajuda a dar credibilidade à história, apesar dela conter algumas improbabilidades.
Embora insatisfeito com Firks e Fromkess, que não lhe pagaram o que haviam prometido, Fuller escreveu e dirigiu mais um filme para eles, O Beijo Amargo / The Naked Kiss / 1964. Este foi o enredo em síntese: após uma desavença com seu cafetão, a prostituta Kelly (Constance Towers) deixa a cidade grande e chega de ônibus em Grantville, New England, onde conhece o capitão de polícia local Griff (Anthony Eisler). Este, depois de ser seu cliente por uma noite, a encaminha para um prostíbulo situado logo depois da fronteira do Estado. Porém Kelly decide levar uma vida respeitável, tornando-se enfermeira em um hospital para crianças deficientes. Kelly se apaixona por J. L. Grant, rico e bem apessoado filantropo, veterano da guerra da Coréia e melhor amigo de Griff. Depois de um namoro de sonho, os dois decidem se casar, mesmo quando ela revela seu passado para ele. Kelly convence Griff de que ama realmente Grant e ele aceita ser padrinho de casamento deles. Pouco antes da cerimônia nupcial, Kelly chega na mansão de Grant e o surpreende molestando uma menina. Quando Grant tenta persuadí-la a se casar com ele, argumentando que, sendo ela também uma depravada, compreenderá sua anormalidade, Kelly o mata, golpeando-o na cabeça com o receptor do aparelho telefônico. Ao ser presa, seu passado é divulgado pela imprensa e a populacão se volta contra ela, por ter matado um benfeitor local. Para se livrar de uma condenação, Kelly tem que identificar a menina, para esclarecer a verdade. Quando finalmente isso acontece, ela se torna uma heroína, por ter atacado um molestador de crianças. Entretanto, Kelly olha friamente para a multidão, que contempla em silêncio sua libertação da cadeia, e vai pegar um ônibus, para sair de Grantville. Antes de aparecerem os créditos na tela, a câmera – nas mãos de Stanley Cortez – se mantém no rosto de Kelly furiosa, batendo com sua bôlsa no seu cafetão bêbado, para recuperar o dinheiro,, que ele lhe deve. No curso da altercação, a peruca de Kelly cai, revelando seu crânio raspado como punição do seu proxeneta, que ela agora está agredindo. Este foi o prólogo mais célebre do diretor e mostra bem o temperamento de sua heroína, mulher indignada que tenta escapar de uma vida de exploração no lenocínio para encontrar uma corrupção mais insidiosa em uma sociedade respeitável. Grant é um pedófilo, que esconde seu caráter perverso com uma aparência de charme e generosidade. Quando ele beija Kelly, ela o afasta, e olha para ele estranhamente. Há algo de desconfortável no beijo de Grant, sem que Kelly possa dizer ainda o que é. Mais tarde, ela percebe que é o “beijo frio” de um pervertido sexual.
Depois de O Beijo Amargo, Fuller, recebeu proposta de um jovem chamado David Stone, para filmar uma adaptação de Lysistrata de Aristófanes em Paris. David lhe assegurou que seu sócio, Mark Goodman, já tinha obtido de seu pai milionário a promessa de financiar o filme e, com um adiantamento monetário que lhe deram, partiu para a Cidade da Luz, já com a idéia de modernizá-la, transformando-a em uma história – com o título de Flowers of Evil, inspirado em Baudelaire – sobre uma sociedade secreta internacional de lindas mulheres que usa sexo, ciência e violência para manter a paz no mundo. Nesse período de sua carreira, foi que ele conheceu o pessoal da Nouvelle Vague (que fez dele um diretor cult) e apareceu em uma ponta em o Demônio das Onze Horas / Pierrot Le Fou de Jean Luc Godard no qual, ao ser apresentado a Jean Paul Belmondo como um diretor de cinema americano, Belmondo pergunta: “O que é Cinema?”. “Cinema é como um campo de batalha. Amor. Ódio. Ação. Violência. Morte. Em suma, emoção”. Na sua autobiografia Fuller diz que “teria ficado rico se tivesse recebido um centavo de cada revista de cinema e programa de festival que publicou esta maldita frase”. Ainda nessa sua passagem por Paris, Fuller conheceu sua futura esposa, um jovem atriz alemã, Christa Lang, com que viveria até o fim de sua vida. Já o projeto de Flowers of Evil não saiu do papel, porque o velho Goodman não quís ver seu filho envolvido com o negócio de cinema.
Ao retornar da França, escreveu e dirigiu dois episódios da série de TV, Cavalo de Ferro / The Iron Horse / 1966 e depis só voltou a filmar nos anos 70, quando fez Shark / 1970 e Em Ritmo de Assassinato / Dead Pigeon on Beethoven Street / 1972.
Após passar algum tempo longe das câmeras, Fuller deixou-se convencer por Skip Steloff e Mark Cooper (Heritage Entertainment) e o sócio deles, o mexicano Jose Luis “Pepe” Calderon (Cinematográfica Calderon S.A), a aderir ao projeto de uma produção baseada no romance de Victor Cunning, “Bones Are Coral”. Quando assumiu a direção, ele refez um roteiro prexistente, que dava ao filme o título de Twist of the Knife, mudando-o para Caine. Na intriga, Burt Reynolds era Caine, traficante de armas com dificuldades financeiras em um pequeno porto no Mar Vermelho. Ele conhece Anna (Silvia Pinal), mulher atraente que lhe propõe mergulhar nas águas infestadas de tubarões para uma pesquisa científica; mas Caine descobre que Anna e seu parceiro (Barry Sullivan) são na verdade caçadores de tesouros. A filmagem teve lugar em Manzanillo, México (como se fosse o Sudão). Durante a produção um dos stuntmen do filme, Jose Marco, foi atacado por um tubarão, que rompeu a rede de proteção. O ataque foi captado pela câmera e uma foto publicada na revista Life. ajudou a publicidade do filme, cujo título foi depois mudado para Shark! e Man-Eater. Fuller supervisionou a montagem, mas ela foi reeditada pelos produtores sem sua concordância. Quando ele viu a versão exibida nos cinemas, achou-a horrível e exigiu que o corte original fosse restaurado. A resposta não foi positiva e ele então pediu ao Sindicato que retirasse seu nome dos créditos.
Em Ritmo de Assassinato é um episódio escrito e dirigido por Fuller (inspirado no caso John Profumo – Christine Keeler, um escândalo político britânico ocorrido em 1961) para a longa série policial da televisão germânica chamada Tartot, exibido também nos cinemas. Na trama, um detetive particular busca uma foto comprometedora de um senador americano, aspirante à Presidência dos Estados Unidos, que está na posse de uma quadrilha internacional de chantagistas e também a loura que serve de isca para os chantageados. O detetive é assassinado na Beethovenstrasse em Colônia na Alemanha, onde seu sócio Sandy (Glenn Corbett) chega, para descobrir o culpado. Ele se infiltra na quadrilha de chantagistas através da tal loura, chamada Christa (Christa Lang), e eles começam a trabalhar em equipe para os extorcionistas. Sandy e Christa se apaixonam e ela promete ajudá-lo a obter o negativo da foto comprometedora do senador mas, na sua tentativa, parece que ela foi morta por Mensur (Anton Diffring), o chefe da organização criminosa. Sandy e Mensur travam um duelo com espadas antigas e lanças, e Mensur é morto. Christa reaparece com uma arma. Ela não só está viva, mas quer todos os negativos, para que possa controlar ela mesma a quadrilha. Christa fere Sandy e quando está prestes a eliminá-lo, ela é atingida por ele com um tiro certeiro. Fuller tomou certas liberdades, substituindo o protagonista alemão habitual da série por um personagem americano e conduzindo a maior parte da história em um tom satírico e muitas vêzes simplesmente cômico. Ainda nos anos 70, Fuller forneceu scripts para Fúria no Sangue / The Deadly Trackers / 1973 (Dir: Barry Shear) e Os Homens Violentos do Klan / The Klansman / 1974 (Dir: Terence Young).
Nos anos 80, Fuller escreveu o roteiro de Resgate Infernal / Let’s Get Harry / 1986 (Dir: Stewart Rosenberg sob o pseudônimo de Alan Smithee) e fez seus últimos quatro filmes: Agonia e Glória / The Big Red One / 1980, O Cachorro Branco (na TV) / White Dog / 1982, Ladrões do Amanhecer / Les Voleurs de la Nuit / 1984, Street of No Return / 1989.
Em Agonia e Glória o diretor finalmente concretiza o grande projeto de sua vida, recriando com autenticidade episódios da Segunda Guerra Mundial, que ele mesmo viveu, como soldado integrante da famosa Big Red One. Durante todo o percurso do sargento Possum (Lee Marvin), veterano da Primeira Guerra e seus homens sobre várias frentes de batalha não se nota nenhuma exaltação ao heroismo ou ao patriotismo: vemos simplesmente um grupo de soldados fatigados pelos combates e habituados a ver os mortos em toda parte, tentando subsistir no curso de diferentes confrontos com o inimigo, deixando de lado seus sentimentos e sensibilidade. “A única glória da guerra é sobreviver”, diz a frase final do filme. O roteiro de Fuller enfatiza as ações de quatro soldados – Griff / Mark Hammil , Zab / Robert Carradine (personagem no qual o diretor se encarnou, já com seu charuto na boca, e que serve como narrador), Vinci / Bobby Di Sico e Johnson / Kelly Ward – comandados por Possum, surgindo imagens fortes, estranhas ou emocionantes (v. g. a morte do soldado alemão que se rendia sob o enorme crucifixo de madeira e o cavalo assustado pelo bombardeio; soldados a cavalo atacando um tanque em um anfiteatro romano; as mulheres italianas cortando com foices os cadáveres dos soldados alemães; o soldado atingido na virilha e perdendo um de seus testículos e o ventre aberto de outro; o braço de um soldado com o relógio de pulso boiando no mar; o suspense no episódio da bazuca e quando os soldados alemães se fingem de mortos perto do crucifixo; a menina italiana trazendo o capacete de Possum coberto de flores; o parto de uma mulher dentro de um tanque de guerra; o menino que troca uma inofrmação importante por um caixão para enterrar sua mãe;todas as as cenas no asilo de loucos; o menino da juventude hitlerista muito jovem para ser fusilado, recebendo umas palmadas, por ter abatido um soldado americano; a descoberta estarrecedora dos prisioneiros no campo de concentração; o soldado americano atirando sem parar no soldado alemão que se escondera no fôrno crematório), admiravelmente filmadas pelo diretor.
A primeira montagem de Fuller tinha seis horas de duração, mas ele depois entregou-a aos executivos do seu estúdio original, Lorimar, com quatro horas e meia. Ainda assim, eles acharam o filme muito longo e inviável comercialmente e, sob protesto do diretor, assumiram o processo de reedição, reduzindo-o para uma hora e cinquenta e três minutos. Felizmente, em 2005, depois da morte de Fuller, o filme foi restaurado pelo crítico de cinema Richard Schikel e por Brian Jamieson, executivo da Warner Bros. – que adquiriu os direitos do filme -, passando a ter duas horas e quarenta e dois minutos, o suficiente para demonstrar o alto valor da realização.
O Cachorro Branco foi baseado em uma história verdadeira. Quando estava residindo em Hollywood com seu marido, o escritor Romain Gary, a atriz Jean Seberg trouxe para casa um grande cão branco que ela encontrou na rua, e que parecia manso. Entretanto, quando o animal viu o seu jardineiro negro, ele o atacou cruelmente, ferindo-o. O casal manteve o cão preso no seu quintal, mas um dia ele fugiu, e atacou outro homem negro, somente ele e ninguém mais. Depois que isto aconteceu uma terceira vez, eles perceberam que alguém o havia treinado para atacar e ferir somente pessoas de cor. Gary escreveu um artigo em uma revista sobre esses acontecimentos e depois um livro de ficção. No filme, cujo roteiro foi escrito por Fuller e Curtis Hanson, Julie Sawyer (Kristy McNichol), jovem atriz que mora em Hollywood Hills, atropela acidentalmente um cão pastor alemão branco, leva-o a um veterinário, e depois o traz para sua casa, esperando localizar o dono posteriormente. O cão se recupera e a salva de um estuprador, que penetrara no seu apartamento. Em outras ocasiões ele ataca, sem motivo algum, um chofer de caminhão e uma colega sua, negra, durante uma filmagem. Julie descobre aos poucos que o animal foi treinado para atacar pessoas negras e resolve levá-lo para a Arca de Noé, um centro de adestramento de animais, na esperança de que possa ser reeducado. Um dos sócios do centro, Carruthers (Burl Ives), lhe explica que se trata de um “cão branco”, isto é, especialmente treinado para atacar os negros e que ela deveria matá-lo. Porém seu parceiro, Keys (Paul Winfield), um antropologista negro, concorda em tentar reverter o treinamento do cão, como um desafio científico. Mas o racismo pode ser recondicionado? Como diz Keys para Julie em certo momento da narrativa: “Quem o tornou doente, o tornou doente para sempre” – e o final pessimista confirma isto. A direção simples e direta de Fuller, tirando bom partido dos close-ups e da câmera subjetiva (Bruce Surtees) e de uma música triste e assustadora (Ennio Morricone), contém momentos cinematográficos memoráveis: o ataque do cão ao chofer de caminhão, a cena angustiante da criança negra no fundo do quadro sendo espreitada pelo cão em primeiro plano; a perseguição do homem negro em uma igreja terminando com a vítima toda ensanguentada sob o vitral de São Francisco de Assis, santo patrono dos animais, como testemunha inerte do ato; e o encontro entre a jovem atriz e o legítimo proprietário do cão, que não tem a aparência de um vilão estereotipado: ele é um avô aparentemente inofensivo, ainda mais porque acompanhado de suas duas netinhas (uma das quais interpretada por Samantha, filha do cineasta), mas se trata na verdade de um perigoso racista, que transformou o animal em um instrumento do ódio dos Supremacistas Brancos contra os Negros. Quando a NAACP (National Association for the Advancement of Colored People) protestou contra o filme, alegando que ele incitava a violência racista, o estúdio – após umas pré-estréias e uma semana de exibição em um cinema de Detroit – a Paramount engavetou o filme. Mais tarde, ele foi exibido na Europa e nos EUA (apenas em cinemas de arte) e aqui no Brasil (apenas na televisão). Em 2008 saiu o dvd da Criterion. Fuller ficou arrazado com a falta de determinacão e coragem dos executivos do estúdio – pois O Cachorro Branco era, isto sim, um drama instigante, expondo a estupidez e irracionalidade do racismo na sociedade americana -, e foi para Paris, onde havia recebido a proposta de realizar Ladrões do Amanhecer.
Este antepenúltimo filme de Fuller, conta as aventuras de dois jovens: François (Bobby Di Cicco), um rapaz desempregado que sonha em ser um grande violinista e Isabelle (Véronique Jannot), uma moça que está igualmente à procura de um emprego. Eles recorrem à uma agência de empregos do serviço público (ANPE), mas são humilhados pelos funcionários, e decidem se vingar. Sua desforra é bem sucedida, quando eles assaltam com êxito dois funcionários, Mussolini (Rachel Salik) e Desterne (Jacques Maury), porém se dão mal, quando um terceiro funcionário, Tartuffe (Claude Chabrol), morre acidentalmente durante o assalto. François e Isabelle tentam escapar, fugindo para as montanhas, perseguidos pela polícia. Cada vez mais enrascados, eles terão um destino fatal. Não conheço o filme, mas segundo o próprio Fuller conta na sua autobiografia, ele foi vaiado no Festival de Berlim de 1982.
Street of no Return, projeto financiado pelos francêses, rodado em 1897 durante sete semanas em Sintra, Lisboa com um elenco multinacional, é uma adaptação de um romance de David Goodis, escritor de romances policiais que foram a fonte de Prisioneiro do Passado / Dark Passage / 1947 de Delmer Daves e Atirem no Pianista / Tirez sur le Pianiste / 1960 de François Truffaut entre outros filmes no gênero. Eis a história: Michael (Keith Carradine), cantor de rock, conhece uma jovem sensual, Celia (Valentina Vargas), que ele havia esquecido que aparecera em um video para uma de sua canções. O relacionamento amoroso entre os dois é truncado pelo amante de Célia, Eddie (Marc de Jonge), um traficante de droga. Os capangas de Eddie ferem a garganta de Michael, pondo um fim na sua carreira. Ele se torna um vagabundo e alcoolatra, obcecado pela idéia de recuperar sua amante e se vingar dos bandidos. O filme só foi lançado três anos deppois em Paris e desapareceu virtualmente sem deixar traço nos Estados Unidos. Foi um desastre em termos de bilheteria.
Nos anos 90, Fuller dirigiu o telefilme The Madonna and the Dragons / 1990; escreveu de parceria com sua esposa, Christa Lang, o roteiro de The Day of Reckoning / 1990 e Girls in Prison / 1994 (ambos produzidos para a TV); trabalhou como ator; apareceu em documentários; publicou um livro; e até desfilou para o costureiro Yohji Yamamoto. Um enfarte em 1994 limitou suas capacidades físicas e, com aprovação do seu médico, ele voltou para a Califórnia em 1995, onde faleceu dois anos depois.
SAMUEL FULLER COMO ATOR:
O Demônio das Onze Horas / Pierrot le Fou / 1965, como ele próprio (Dir: Jean-Luc Godard); Brigitte e Brigitte / Brigitte et Brigitte / 1966, como ele próprio (Dir: Luc Moullet); O Último Filme / The Last Movie / 1971, como Sam (Dir: Dennis Hopper); The Young Nurses /1973 como Doc Haskell (Dir: Clint Kimbrough); O Amigo Americano / The American Friend / 1977, como Derr Amerikaner (Dir: Wim Wenders); 1941 / 1941 / 1979 como Interceptor Commander (Dir: Steven Spielberg); O Cachorro Branco (TV) / White Dog / 1982 como Charlie Felton (Dir: Samuel Fuller); O Estado das Coisas / The State of Things / 1982 como Joe (Dir: Wim Wenders); Ladrões do Amanhecer / Les Voleurs de la Nuit / 1983, como Zoltan (Dir: Samuel Fuller); Hammett, Mistério em Chinatown / Hammett / 1983, como O Velho no salão de bilhar (Dir: Wim Wenders); Trapalhões do Futuro / Slapstick of Another Kind / 1984 como Coronel Sharp (Dir: Steven Paul); Os Vampiros de Salem – O Retorno / A Return to Salem’s Lot / 1987 como Dr. Van Meer (Dir: Larry Cohen); Helsinki Napoli All Night Long / 1987 como Boss (Dir: Mika Kaurismäki); Falkenau, Vision of the Impossible, como ele próprio e narrador (Dir: Emil Weiss); Sons / 1989 como Pai (Dir: Alexandre Rockwell); David Lansky (L’Enfant Americain) / 1990 como Capodagli (Dir: Hervé Palud (TV); Golem, l’esprit de l’exil / 1992 como Elimelech (Dir: Amos Gitai); A Vida da Boêmia / La Vie de Bohème / 1992 como Gassot (Dir: Aki Kaurismäki); Tigrero: O Filme Que Nunca foi Feito / Tigrero: A Film That Was Never Made / 1994, como ele próprio (Mike Kaurismäki); An American in Normandy – D-Day Revisisted by Samuel Fuller / 1994 como ele próprio (Dir: Jean-Louis Comolli); The Typewriter, the Rifle and the Movie Camera / 1996, como ele próprio (Dir: Adam Simon); Alguém para Amar / Somebody to Love / 1996, como Sam Silverman (Dir:Alexandre Rockwell); O Fim da Violência / The End of Violence / 1997, como Louis Bering (Dir: Wim Wenders).