Nos anos 1930-40, no Rio de Janeiro, cinco filmes ficaram em cartaz por dez ou mais semanas no seu lançamento. Por incrível que pareça, somente um era de procedência norte-americana e não se tratava de um dos grandes filmes produzidos por Hollywood nas referidas décadas.
1º SANTA ou O DESTINO DE UMA PECADORA / SANTA / 1943.
Baseado no romance de Federico Gamboa. Produção: Minerva. Dir: Norman Foster, Alfredo Gómez de la Vega. Rot: Francisco Cabrera, Alberto B. Crevenna. Foto: Agustin Martinez Solares. Mús: Gonzalo Curiel, Mario Ruiz Armengol. El: Esther Fernández, José Cibrián, Ricardo Montalban, Victor Manuel Mendoza, Stella Inda, Fanny Schiller, Manuel Arvide, Emma Roldán, Elías Jarber, Carolina Barret. 27 semanas em cartaz. Lançado em 29 de janeiro de 1945 nos Cinemas Odeon e Ipanema; depois passou para o Império.
Após ser engravidada por um militar, Marcelino (Victor Manuel Mendoza) e perder seu filho, Santa (Esther Fernández) chega ao bordel de D. Elvira (Fanny Schiller). As mulheres do local então lhe ensinam boas maneiras e lá conhece o pianista cego, Hipólito (José Cibrian), que se apaixona por ela. Convertida em amante de El Jarameño (Ricardo Montalban), famoso toureiro, Santa está prestes a partir com ele para Espanha, quando Marcelino reaparece em sua vida.
Em janeiro de 1946 foi ao ar uma novela da Rádio Nacional, com o título de Santa, O Destino de uma Pecadora, transmitida às 20hs.
2º SEMPRE EM MEU CORAÇÃO/ ALWAYS IN MY HEART / 1942.
Adaptação da peça “Fly Away Home” de Dorothy Bennett e Irving White. Prod: Warner Bros. Dir: Jo Graham. Rot: Adele Comandini. Foto: Sidney Hickox. Mús: Heinz Roemheld. El: Kay Francis, Walter Huston, Gloria Warren, Patti Hale, Frankie Thomas, Una O’Connor, Sidney Blackmer, Armida, Borrah Minevictch e seus Harmonica Rascals. 22 semanas em cartaz. Lançado em 3 de junho de 1943 simultaneamente nos cinemas Rian e Vitória, indo logo para o Capitólio e depois também para São Luis e Carioca.
O músico Mackenzie Scott (Walter Huston) foi condenado à prisão perpétua por um crime que não cometeu. Sua esposa Marjorie (Kay Francis) disse para seus filhos (Gloria Warren, Frankie Thomas) que ele morrera e ela agora tem a chance de se casar com um homem rico, Philip Ames (Sidney Blackder). Pensando na segurança financeira de sua família, Mackenzie, durante uma visita que recebe de sua mulher, aconselha-a a se casar com Philip. No dia seguinte, McKenzie fica sabendo que foi indultado e decide passar por sua cidade, apenas para rever os filhos e depois, partir. Ele se aproxima de sua filha Victoria (Gloria Warren), sem que a jovem o reconheça, e percebe na jovem um grande talento para a música, incentivando-a a cantar. No final, apesar de seus protestos, sua mulher e filhos insistem que McKenzie deve permanecer com eles e Philip libera Marjorie de seu noivado.
A canção “Always in my Heart” de Ernesto Lecuona e Kim Gannon, concorreu ao Oscar, mas perdeu para “White Christmas” de Irving Berlin. O sucesso do filme nos cinemas foi reproduzido no Cine-Rádio Teatro da emissora Mayrink Veiga – PRA-9 com a radiofonização de Celestino Silveira e um elenco do qual participaram: Olga Nobre, Edmundo Maia, Jair de Thaumaturgo, Sarah Nobre, Acacia Pais dos Santos, Sagramor de Scuvero, Armando Louzada, Antonio Nobre, Luis Ayala, Simone de Morais, Paulo Moreno. Em uma segunda transmissão, Maria Sampaio, Cesar Ladeira, Souza Filho e Lidia Matos substituiram respectivamente Sagramor de Scuvero, Armando Louzada, Urbano Loes e Olga Nobre. O maestro A. Lazzoli, com a orquestra da emissora, deu também a sua contribuição, registrando-se ainda a participação de Babi Oliveira, que fez acompanhamentos ao piano e de Edú e sua gaita. Gloria Warren veio ao Brasil em agosto de 1945, onde se apresentou no Cassino Atlântico e no Cassino Palace Hotel de Poços de Caldas.
3º SINFONIA INACABADA / LEISE FLEHEN MEINE LIEDER. / 1933.
Prod: Cine-Allianz. Dir: Willi Forst. Rot: W. Forst, Walter Reisch. Foto: Albert Benitz, Franz Planer. Sup. Mús: Willy Schmidt-Gentner. El: Mártha Eggerth, Luise Ullrich, Hans Jaray, Hans Moser, Otto Tressler, Hans Olden, Os Meninos Cantores de Santo Estevão, Côro da Ópera Nacional de Viena, Orquestra Cigana Gyula Horvath. 20 semanas em cartaz. Lançado em 23 de julho de 1934 no Cinema Alhambra, onde foi exibido por 10 semanas. Depois passou sucessivamente no Glória, Pathé, Ipanema, Parisiense e outros cinemas, ficando em cartaz até janeiro de 1935
Episódio amoroso da vida do célebre compositor austríaco Franz Schubert (Hans Jaray) envolvendo a jovem condessa Esterahzy (Mártha Eggerth). Namorados apaixonados, eles curtem horas de profunda amargura, porque o pai da linda aristocrata não permitiu que seus corações se unissem pelo matrimônio.
Em dezembro de 1934 estreou no Teatro Recreio a revista Voto Secreto com Aracy Côrtes à frente do elenco. Um dos números mais aplaudidos foi a paródia de Sinfonia Inacabada que os autores intitularam de Samba Inacabado, “onde Aracy pôs à prova todo o valor de artista inigualável no gênero”.
Em agosto de 1940, Martha Eggerth e seu marido o tenor Jan Kiepura estiveram no Brasil ele, para se apresentar na temporada lírica do Teatro Municipal e ela no Cassino da Urca. Em 1941 a Cia. Dulcina-Odilon encenou a peça de Alejandro Casona “Sinfonia Inacabada”, baseada em um episódio da vida de Franz Schubert.
4º OS FILHOS MANDAM / LOS CHICOS CRECEN / 1942. Baseado na peça de Camilo Darthés e Carlos S. Damel. Prod: Lumiton. Dir: Carlos Hugo Christensen. Rot: C. H. Christensen, Francisco Oyarzábal, Julio Porter. Foto: Alfredo Traversa. Mús: George Andreani. El: Arturo Garcia Burh, Pepita Serrador, Santiago Gómes Cou, Maria Duval, Miguel Gómez Bao, Maruja Gil Quesada, Marina Marti, Quico Moyano, Aurelia Ferrer. 19 semanas em cartaz. Lançado em 28 de novembro de 1945 para inaugurar o novo Cinema São Carlos na rua Alcindo Guanabara (antigo Rio e Cineac OK que depois seria o Rivoli e finalmente Orly).
Um homem casado, Enrique Zapiola (Santiago Gomes Cou) aproveita da amizade do simplório Casenave (Arturo Garcia Burh), para fazê-lo passar por pai dos filhos que teve fora de seu matrimônio enquanto se faz passar por padrinho das crianças. Cazenave, que era um fracassado na vida e sonhava em ter um lar, se apaixona pelas três lindas criaturas, realizando-se como pai. Ele passa a viver na casa da amante de Enrique, Cristina (Pepita Serrador), que, embora contrariada, aceita sua presença por causa dos filhos. Quando o verdadeiro pai, após a morte da esposa, resolve recuperar os filhos e a amante, esta prefere ficar com Cazenave.
Em outubro de 1943, a peça espanhola de Darthés e Damel, traduzida por Armando Louzada, foi encenada no Teatro Regina do Rio com o título de “Serão Homens Amanhã”, tendo como intérprete principal Procópio Ferreira. Depois de mais de 500 representações no palco, foi transmitida com grande êxito pela Rádio Globo em forma de novela. Na Rádio Bandeirantes foi ao ar, no programa Cinema para Você, uma radiofonização de Ivani Ribeiro.
5º CASA DE BONECAS / CASA DE MUÑECAS / 1943. Baseado na peça do dramaturgo norueguês Henrik Ibsen. Prod: Estudios San Miguel. Dir: Ernesto Arancibia. Rot: Alejandro Casona. Foto: José Maria Beltrán. Mús: Julián Bautista. El: Delia Garces, Jorge Rigaud, Sebastián Chiola, Orestes Caviglia, Angelina Pagano, Alita Roman, Olga Casares Pearson, Mirtha Reid e as crianças: Jeannette Morel, Federico Iribarren e Emilio Casas Novas. 15 semanas em cartaz. Lançado em 30 de outubro de 1945 no Cinema Pathé.
Desafiando as convenções sociais do século dezenove, uma mulher casada, Nora (Delia Garcés) abandona a casa, os filhos e o marido Oswaldo (Jorge Rigaud), ao perceber que foi sempre reprimida, primeiro pelo pai e depois pelo marido. Ela se dscobre como pessoa e se recusa a continuar a ser apenas uma boneca. O adaptador, A. Casona, preferiu utilizar um final feliz alternativo com a volta de Nora ao lar.
Os outros dois filmes que ficaram em cartaz por longo tempo nos cinemas lançadores do Rio, nas décadas acima referidas, foram grandes produções norte-americanas.
6º POR QUEM OS SINOS DOBRAM / FOR WHOM THE BELLS TOLL / 1943. Baseado no romance de Ernst Hemingway. Prod: Paramount. Dir: Sam Wood. Rot: Dudley Nichols. Foto: Ray Rennahan, Mús: Victor Young. El: Gary Cooper, Ingrid Bergman, Arturo de Córdova, Akim Tamiroff, Vladimir Sokoloff, Mikhail Rasumny, Fortunio Buonanova, Victor Varconi, Katina Paxinou, Joseph Calleia. 9 semanas em cartaz. Lançado em 6 de setembro de 1944 em pré-estréia no Cinema Pathé.
Durante a Guerra Civil Espanhola, o americano Robert Jordan (Gary Cooper) combate na Brigada Internacional contras as forças do General Franco. Como tem muita experiência como dinamitador, é desginado para atravessar as linhas inimigas e destruir um ponte com a ajuda de um grupo de guerrilheiros anti-franquistas. Durante a missão, ele se apaixona pela jovem Maria (Ingrid Bergman), cujos pais foram mortos pelos franquistas. No desenlace, Jordan, ferido gravemente na perna, despede-se de Maria, assegura-se de que ela encontre a segurança com os guerrilheiros sobreviventes, e fica sozinho, armado de uma metralhadora, aguardando os soldados franquistas.
O filme foi indicado para o Oscar em nove categorias (Melhor Filme, Melhor Ator e Atriz, Melhor Ator e Atriz Coadjuvantes, Direção de Arte, Montagem, Canção), mas somente Katina Paxinou foi laureada como atriz coadjuvante.
7º … E O VENTO LEVOU / GONE WITH THE WIND / 1939. Baseado no romance de Margaret Mitchell. Prod: Selznick International Pictures – M-G.M. Dir: Victor Fleming. Rot: Sidney Howard. Foto: Ernest Haller, Ray Rennahan. Mús: Max Steiner. El: Vivien Leigh, Clark Gable, Leslie Howard, Olivia De Havilland, Thomas Mitchell, Hattie McDaniell, Butterfly McQueen, Evelyn Keyes, Ann Rutherford, Barbara O’Neil, Ona Munson, Laura Hope Crews, Victor Jory, George Reeves, Eddie “Rochester” Anderson, Jane Darwell, Ward Bond, Oscar Polk. 8 semanas em cartaz. Lançado em pré-estréia em 12 de setembro de 1940 no Cinema Metro (na rua do Passeio). Foi reapresentado comercialmente nos cinemas nos anos cinquenta, sessenta, setenta, oitenta e noventa (em Metroscope e depois em 70mm) sempre com muito sucesso. A ação se passa no período da Guerra da Secessão Americana e da era da Reconstrução dos Estados Unidos, contando a história de Scarlett O’ Hara (Vivien Leigh), jovem de temperamento forte, filha de Gerald O’Hara, proprietário de uma plantação na Georgia (Thomas Mitchell), sua perseguição romântica de Ashley Wilkes (Leslie Howard), que se casa com sua prima Melanie Hamilton (Olivia de Havilland), e seu subsequente casamento com Rhett Butler (Clark Gable).
O filme ganhou o Oscar em oito categorias: Melhor Filme, Diretor (VIctor Fleming), Atriz (Vivien Leigh), Atriz Coadjuvante (Hattie McDaniell), Roteiro (Sidney Howard), Fotografia em Cores (Ernest Haller, Ray Rennahan), Direção de Arte (Lyle Wheeler), Montagem (Hal C. Kern, James E. Newcom). Foram concedidos um Prêmio Especial para William Cameron Menzies pelo emprego da cor na dramatização das cenas e um Prêmio Técnico para Don Musgrave e Selznick International Pictures “pelo pioneirismo no uso de equipamentos coordenados na produção de … E O Vento Levou”.
Em maio de 1942, a Rádio Mayring Veiga levou ao ar, no Programa Romance do Mês, uma radiofonização de … E O Vento Levou feita por Carlos Medina. Em 1956, a TV Tupi São Paulo transmitiu ao vivo no teleteatro TV de Vanguarda, uma versão do mesmo filme com direção de Dionísio de Azevedo e Luiz Gallon e texto de D. Azevedo. No elenco: Maria Fernanda (Scarlet O’Hara); Lima Duarte (Rhett Butler), Lia de Aguiar (Melanie Hamilton), Fábio Cardoso (Ashley Wilkes), Jaime Barcelos (Gerald O’Hara).
Adendo: Graças a Eustáquio Nardini, que me honra sempre com sua visita, tenho a oportunidade de fazer um esclarecimento. Minha intenção foi abordar somente os filmes estrangeiros, mas devia ter mencionado isto no título do artigo. Mea culpa. Eustáquio estranhou a ausência do filme brasileiro O Ébrio, lançado em 28 de agosto de 1946 nos cinemas Vitória, América, Madureira, Floriano e Pirajá. Nos cinemas lançadores o filme nã.o ficou mais de 5 semanas, porém continuou sendo exibido por vários anos em outros cinemas por todo o país. Em setembro de 1946, Vicente Celestino e Gilda de Abreu encenaram a peça O Ébrio no Teatro João Caetano. Em 1996, o filme foi restaurado e relançado pela Riofilme.