Ele era um exemplo típico de “diretor de estúdio”, artesão competente e cuidadoso, realizador de um punhado de obras de qualidade e lembrado particularmente pelos filmes que fez nos anos quarenta na Warner Bros. onde, por causa de sua habilidade para orientar os melodramas do estúdio, se tornou o diretor favorito de estrelas como Bette Davis, Joan Crawford, Ann Sheridan e Ida Lupino.
Vincent Sherman (1906 – 2006), cujo verdadeiro nome é Abraham Orovitz (na verdade Horovitz, mas seu pai tirou o H “para americanizá-lo”), nasceu em Vienna, Georgia. Estudou na Oglethorpe University em Atlanta e, quando sua família se mudou para esta cidade, ele arranjou um emprego na Enterprise Distributing Company como vendedor de westernsmudos de Buddy Roosevelt e Buffalo Bill Jr., filmes de ação com Reed Howes e alguns filmes “de sociedade”, como eram chamados aqueles nos quais os homens apareciam de terno e as mulheres com vestidos e todos ficavam parados mais ou menos no mesmo lugar e falavam por intertítulos – porque o som ainda não havia sido inventado (cf. Studio Affairs – My Life as a Film Director Vincent Sherman, University of Kentucky,1996).
Passado algum tempo, Abraham trabalhou como repórter policial no Atlanta Journal e se matriculou na Faculdade de Direito da cidade; porém acabou se convencendo de que seu destino era o teatro, e partiu para Nova York, onde viviam alguns parentes, na companhia de James Larwood, seu colega na Oglethorpe University, com o qual havia escrito uma peça intitulada “The Steeple”.
James arrumou um lugar em um jornal e Abraham procurou um agente ou produtor que o ajudasse a se tornar ator. O recepcionista do escritório do agente Chamberlain Brown lhe perguntou como se chamava e ele respondeu: “Abe Orovitz”. “Não vai dar, ninguém conseguirá pronunciá-lo e muito menos soletrá-lo. Vamos conseguir algo mais simples. Como é o nome de solteira de sua mãe?”. Abe falou: “Schurman or Sheerman, não tenho certeza”. O recepcionista pensou em voz alta: “Sherman, nada mau, Qual é o primeiro nome do seu pai?”. Abe disse: “Harry”. “Este é um nome muito comum. Qual o primeiro nome de sua mãe?”. A resposta foi: “Vinnie”. O recepcionista repetiu o nome várias vezes. “Vinnie, Vinnie, Vincent. … e concluiu: “Tudo bem, garoto. Este será o seu nome daqui em diante – Vincent Sherman. Volte amanhã e eu vou tentar marcar uma entrevista com Mr. Brown”. No dia seguinte, Sherman se encontrou com um ator que ele conhecera e lhe contou o que aconteceu. “Boa sorte”, ele lhe desejou, sorrindo. “Mas cuidado. Mr. Brown é bicha”. Espantado, Abe achou que era melhor ficar longe do escritório de Brown, e nunca mais voltou (cf. Studio Affairs).
Depois de muitas tentativas frustradas, Sherman finalmente atuou como figurante no Theatre Guild na peça “Marco Millions” de Eugene O’Neill, estrelada por Alfred Lunt no papel de Marco Polo e dirigida por Rouben Mamoulian e depois em “Volpone”, na versão de Stefan Zweig da peça de Ben Johnson, na qual Lunt fazia o papel de Mosca. Subsequentemente, Sherman foi contratado para estudar o papel de alguns atores para substituí-los em caso de necessidade, chegando a interpretar os pequenos papéis para os quais se preparara.
Após mais alguma atividade nos palcos – entre elas, como um rapaz judeu pobre que, espancado pela polícia e preso por fazer discursos comunistas, é defendido por um advogado também judeu (Otto Kruger) na peça de Elmer Rice “Counsellor at Law” -, Sherman foi convidado para repetir o mesmo papel na versão cinematográfica (aqui intituladaO Conselheiro), personificando o advogado (que Paul Muni também interpretara no teatro).
No ano seguinte, Sherman apareceu em filmes B da Columbia – Asas da Velocidade / Speed Wings / 1934 (Dir: Otto Brower com Tim McCoy); Detetive Invisível / Hell Bent for Love/ 1934 também conhecido como Highway Patrol (Dir: D. Ross Lederman com Tim McCoy); Girl in Danger / 1934 (Dir: D. Ross Lederman com Ralph Bellamy); O Crime de Helen Stanley / The Crime of Helen Stanley / 1934 (D. Ross Lederman com Ralph Bellamy); One is Guilty / 1934 (Dir: Lambert Hillyer com Ralph Bellamy), estes três últimos da série Inspector Trent – e da Warner (Alibi da Meia-Noite / Midnight Alibi / 1934 (Dir: Alan Crosland com Richard Barthelmess); O Caso do Cão Uivador / Case of the Howling Dog/ 1934 (Dir: Alan Crosland com Warren William).
Entre 1935 e 1938, Sherman atuou em / ou dirigiu as peças: “Judgement Day”, “Volpone”, “Sailors of Catarro”, “Black Pit”, “Waiting for Lefty”, “Battle Hymn”, Bitter Stream”, “It Can’t Happen Here”, “Dead End” e outras. Em 1938, convidado por Bryan Foy, chefe do departamento de filmes classe B da Warner, ele escreveu scripts para alguns filmes: No Limiar do Crime / Crime School (Dir: Lewis Seiler com Humphrey Bogart e os Dead End Kids); Filhos Sem Lar / My Bill (Dir: John Farrow com Kay Francis); Coração do Norte / Heart of the North (Dir: Lewis Seiler com Dick Foran); Contra a Lei / King of the Underworld (Dir: Lewis Seiler com Humphrey Bogart e Kay Francis); O Orgulho do Turfe / Pride of the Blue Grass (Dir: William McGann com Edith Fellows); e finalmente assumiu a direção de A Volta do Dr. X / The Return of Dr. X. / 1939.
Neste filme de horror / ficção científica, Humphrey Bogart, ainda no início de carreira, interpreta o papel de um criminoso que morreu na cadeira elétrica e, ressuscitado por um cientista, necessita de sangue humano fresco para continuar sua ressurreição. Sherman ainda não dominava a técnica (não conhecia nada de lentes, ângulos, cortes) mas, com a ajuda do fotógrafo Syd Hickox, foi em frente, e fez um trabalho que agradou ao público e ao seu patrão, Jack Warner.
Graças aos irmãos gêmeos roteiristas Julius e Philip Epstein, que o indicaram para substituir Anatole Litvak na direção da comédia-dramática Desafio ao Destino/ Saturday’s Children / 1940 – baseada em uma peça de Maxwell Anderson sobre uma moça (Ann Shirley) que se casa com um inventor cheio de sonhos (John Garfield) e os dois enfrentam uma vida de privações econômicas -, Sherman obteve mais um sucesso de público e elogio dos patrões.
Porém Brian Foy não tinha a intenção de abrir mão dele e o trouxe de volta para o departamento B, onde ele fez: O Homem Que Falou Demais/ The Man Who Talked Too Much / 1940, drama de tribunal no qual um promotor (George Brent) que renunciou ao seu cargo por ter enviado um inocente para a cadeia, envolve-se com um gangster (Richard Barthelmess) e depois se volta contra ele para defender seu irmão (William Lindigan); Fugindo ao Destino/ Flight from Destiny/ 1941, drama criminal no qual um professor de filosofia (Thomas Mitchell), ao saber que só tem seis meses de vida, comete um assassinato, para ajudar dois jovens amantes (Geraldine Fitzgerald, Jeffrey Lynn); e A Voz da Liberdade / Underground/ 1941, drama de guerra sobre as atividades de uma estação de rádio clandestina na Alemanha e uma família (da qual fazem parte Jeffrey Lynn e Philip Dorn) separada pelo Nazismo.
Este último filme obteve o aplauso dos resenhistas e o apoio da bilheteria, e elevou Sherman à categoria de diretor de filme classe A. Seu primeiro compromisso nesta condição foi o divertido Balas Contra a Gestapo / All Trough the Night / 1942, estrelado por Humphrey Bogart (que a esta altura já havia feito O Último Refúgio / High Sierra e Relíquia Macabra/ The Maltese Falcon). Tal como A Voz da Liberdade, foi um filme de propaganda de guerra – só que, desta vez, conjugando ação, suspense e comédia -, focalizando um grupo de apostadores profissionais de Nova York que desbarata um bando de sabotadores nazistas (Conrad Veidt, Peter Lorre, Judith Anderson).
Sherman dirigiu em seguida seu melhor filme até então, É Difícil Ser Feliz / The Hard Way/ 1943, drama com Ida Lupino em grande forma no papel de uma mulher ambiciosa e dominadora que impele sua irmã (Joan Leslie) mais nova e talentosa para o mundo do entretenimento, a fim de que ambas possam sair da pobreza. Durante a filmagem, Ida se desentendeu com Sherman e, abalada também pela morte de seu pai, teve que ser internada em um hospital. No primeiro dia em que voltou para frente das câmeras, ela teve uma crise de histeria e, quando pôde voltar ao trabalho, as desavenças com o diretor aumentaram. Na estréia do filme, ela saiu no meio da projeção. Compreendendo muito bem as atrizes temperamentais, Sherman telefonou para Ida em busca de uma reconciliação. Ela estava encantadora, como se eles nunca tivessem brigado.
Ida fez mais dois filmes sob as ordens de Sherman, o drama Viveremos Outra Vez / In Our Time / 1944 e a comédia Que Falta Faz Um Marido / Pillow to Post / 1945, ambos passados em ambiente da Segunda Guerra Mundial, o primeiro na Polonia às vésperas da invasão nazista e o segundo nos Estados Unidos, na frente doméstica – o primeiro melhor do que o segundo, mas nenhum dos dois no mesmo nível artístico de É Difícil Ser Feliz.
Sherman precisou de muita autoridade para conduzir Bette Davis (a maior atração do estúdio) e Miriam Hopkins no sólido drama Uma Velha Amizade / Old Acquaintance / 1943, pois a dupla havia atuado antes em Eu Soube Amar / The Old Maid / 1939 (Dir: Edmund Goulding) e desde então, começaram a surgir comentários sobre a rivalidade entre elas. Houve de fato certa competição e ciúme na filmagem de Uma Velha Amizade, Miriam querendo chamar mais atenção do que Bette. Quando Miriam terminou sua participação no filme, ela e Bette não estavam mais se falando. No enredo, elas são duas amigas de infância: uma, romancista respeitada pelos críticos, mas pouco lida; a outra, autora de romances de amor populares que vendem bem. Só que, na tela, apesar das rivalidades e temperamentos diferentes, a amizade entre as duas continua através dos tempos.
Como Sherman revelou em sua autobiografia, foi durante a filmagem de Uma Velha Amizade, que Bette Davis declarou que estava apaixonada por ele, mas eles só iniciaram o caso, quando estavam filmando Vaidosa / Mr. Skeffington / 1944 -depois que o marido dela, Arthur Farnesworth faleceu. Sherman ainda teria um relacionamento tempestuoso com Joan Crawford e outro mais breve – apenas uma tarde – com Rita Hayworth, quando estavam filmando Uma Víuva em Trinidad / Affair in Trinidad/ 1952. Sua esposa Hedda, supostamente sabia desses casos, mas os aceitou como inevitáveis no ambiente cinematográfico.
Em Vaidosa, outro filme muito bom de Sherman, Bette protagoniza uma mulher da alta sociedade de Nova York muito cortejada e obcecada por sua própria beleza. Ela se casa por conveniência com um banqueiro judeu (Claude Rains). Os anos passam, ela envelhece, perde a beleza. Mas o marido fica cego, após ser torturado pelos nazistas e, para ele, ela será sempre bela. Bette Davis e Claude Rains foram ambos indicados para o Oscar.
Depois de Vaidosa, Sherman fez o já citado Que Falta Faz um Marido com Ida Lupino e, devido ao êxito comercial deste filme, o produtor Alex Gottlieb mandou chamá-lo quando Michael Curtiz se negou a dirigir a continuação de uma comédia que dirigira intitulada Janie Tem Dois Namorados / Janie/ 1944. A sequência também foi rejeitada por Joyce Reynolds, a jovem atriz que criou o papel. Sherman tentou se esquivar, mas Jack Warner insistiu, e ele acabou aceitando, porque gostou do elenco que incluia Joan Leslie (Janie), Robert Hutton (seu marido), Edward Arnold e Ann Harding (o pai e a mãe de Janie), Robert Benchley (o sogro de Leslie). Uma novata, Dorothy Malone, fez sua estréia no papel da “outra mulher”. O filme intitulou-se Janie Se Casa/ Janie Gets Married, mas foi um fracasso comercial.
Seguiram-se na filmografia de Sherman dois filmes que merecem destaque, produzidos especificamente para realçar a figura da “Oomph Girl”, Ann Sheridan: A Sentença / Nora Prentiss / 1947 e A Cruz de um Pecado/ The Unfaithful/ 1947.
Em A Sentença, um médico casado, Dr. Richard Talbot (Kent Smith) atende uma cantora de boate, Nora Prentiss (Ann Sheridan), e os dois iniciam um romance. Quando ele não cumpre sua promessa de pedir o divórcio, Nora resolve aceitar o convite de seu patrão e admirador, para atuar na nova boate em Nova York. Talbot então forja sua própria morte, trocando de identidade com um paciente morto, e parte com Nora. Mas acaba sendo condenado por ter matado a si mesmo. O desespero do médico e seu fim patético e irônico dão certo conteúdo noirao filme, sem falar na fotografia expressionista de James Wong Howe.
A Cruz de um Pecado, refilmagem disfarçada de A Carta / The Letter / 1940 de William Wyler, conta a mesma história de uma mulher aparentemente irrepreensível (Ann Sheridan) que foi infiel ao marido e mente sobre as circunstâncias que a levaram a matar um homem, mas transfere a ação para Los Angeles logo após a Segunda Guerra Mundial, e tem um desfecho diferente, a adúltera reconciliando-se com o esposo (Zachary Scott). Mesmo sem contar com um roteiro pronto, Sherman deu início à filmagem, e conseguiu realizar um drama eficiente, no qual analisa mais uma vez com êxito a psicologia feminina.
Após ter sido contemplado com um novo contrato mais vantajoso, Sherman foi requisitado – a pedido de Errol Flynn por recomendação de Ann Sheridan – para dirigir As Aventuras de Don Juan / The Adventures of Don Juan / 1949, projeto que já vinha sendo desenvolvido pela Warner desde 1945, mas que não pudera ser concretizado por falta de um bom scripte de uma greve de diretores de arte. Aos 38 anos de idade, Flynn já estava começando a sofrer os efeitos do que ele chamaria nas suas memórias de “My Wicked, Wicked Ways”, e precisou ser dublado em várias cenas de ação. Durante o climático duelo com o vilão (Robert Douglas), Sherman não conseguia encontrar alguém para dar aquele salto de uma imensa escadaria até que o futuro Tarzan Jock Mahoney aparecesse. Apesar de todos os problemas Sherman e o produtor Jerry Wald conseguiram realizar um filme suntuoso (com indicações para o Oscar de Figurinos, Direção de Arte e Decoração de Interiores) e movimentado, embelezado pelo glorioso Technicolor e com o acompanhamento da música inspirada de Max Steiner.
Depois de um grande espetáculo de reconstituição histórica como As Aventuras de Don Juan, Sherman quis abordar uma história simples, que investigasse somente a condição humana e escolheu uma adaptação de “The Hasty Heart”, peça de John Patrick que a Warner havia comprado há alguns meses; porém Jack Warner lhe pediu que fizesse também um outro filme, para dar trabalho a seis atores que estavam ganhando sem fazer nada: Edmond O’Brien, Gordon Mac Rae, Virginia Mayo, Viveca Lindfors, Dane Clark e Richard Rober.
Assim surgiram Coração Amargurado / The Hasty Heart/ 1949 e Alguém Deixou Este Mundo / Backfire / 1950. O primeiro, produzido pela ABPC (Associated British Pictures Corporation), da qual a Warner detinha 40% das ações, e rodado em Elstree, é um drama de guerra supercomovente com Ronald Reagan, Patricia Neal e Richard Todd, este último em uma performance que lhe proporcionou uma indicação para o Oscar como um escocês orgulhoso e nada sociável, mortalmente ferido que não sabe que vai morrer, mas acaba descobrindo o seu destino. O segundo, com aqueles atores citados que estavam na boa vida, é um drama criminal com o tema noir – mas sem o estilo visual dark– do veterano de guerra envolvido com o desaparecimento de um amigo e uma narrativa com sete retrospectos, cheia de peripécias que se sucedem em um ritmo rápido, fazendo com que o espectador se esqueça do excesso de coincidências.
Os três próximos filmes, dirigidos como sempre com segurança e sapiência técnica por Sherman, tiveram como estrela Joan Crawford, dois deles, Os Desgraçados Não Choram / The Damned Don’t Cry/ 1950 (Joan como uma mulher humilde que se torna amante do líder de uma quadrilha que explora o jôgo, a prostituição e o tráfico de entorpecentes) e Adeus, Meu Amor/ Goodbye My Fancy / 1951 (Joan como uma deputada que retorna à escola que cursara para receber um título honorário e renova um antigo romance), foram produzidos pela Warner, e o terceiro, A Dominadora / Harriet Craig/ 1950 (adaptação da peça laureada de George Kelly com uma interpretação correta de Joan no papel da mulher egoísta e despótica, mas não tão persuasiva quanto a de Rosalind Russell na versão anteriormente levada à tela com maior precisão por Dorothy Arzner) para a Columbia.
Após filmar um western apenas regular, Estrela do Destino / The Lone Star/ 1952, na MGM com Clark Gable e Ava Gardner, Sherman dirigiu Rita Hayworth em Uma Viúva em Trinidad / Affair in Trinidad/ 1951 na Columbia, quase uma refilmagem de Gilda/ Gilda / 1946) que, sem ser espetáculo desprezível, é inferior ao filme de Charles Vidor.
Tal como muitos indivíduos talentosos de Hollywood durante os anos cinquenta, Sherman sofreu os efeitos da HUAC (House Un-American Activities), tendo sido colocado, não em uma lista negra, mas em uma lista cinza menos conhecida, sob a alegação de ter apoiado organizações e roteiristas comunistas. Apesar de todos os esforços para limpar seu nome, ele não conseguiu arrumar emprego em Hollywood, e partiu para a Europa, onde dirigiu Defendo o Meu Amor/ Difendo il Mi Amore/ 1955 (com Martine Carol, Gabrielle Ferzetti, Vittorio Gassman), tendo sido filmadas cenas adicionais, com as quais não concordava, por Giulio Macchi. Sherman nunca viu o filme finalizado.
Quando seu nome foi retirado da lista cinza (por interferência de um congressista que fazia parte da HUAC e era amigo de seu agente), Sherman pôde trabalhar novamente, refilmando 70% do que Robert Aldrich havia rodado de Clima de Violência / The Garment Jungle / 1957 / Columbia (drama criminal sobre a influência de escroques na atividade dos sindicatos da indústria de roupas, valorizado pela admirável fotografia em preto-e-branco de Joseph Biroc e as interpretações de Lee J. Cobb e Richard Boone); Sementes de Paixão / The Naked Earth / 1958 / Twentieth Century-Fox (aventura africana rotineira com Richard Todd e Juliette Greco) e O Moço de Filadélfia / The Young Philadelphians / 1959 / Warner (melodrama desenrolado na alta sociedade com um herói arrivista (Paul Newman) e alguns conflitos de classe, com bom acabamento cenográfico e interpretações consciensiosas de Newman, Barbara Rush e Alexis Smith).
Nos anos sessenta, Sherman dirigiu corretamente, mas com pouco ardor, O Gigante de Gelo/ Ice Palace/ 1960 / Warner (história melodramática de Edna Ferber abordando a amizade de dois homens (Richard Burton, Robert Ryan), que se torna rivalidade paralelamente à transformação do Alaska de território em Estado) e Escândalos Ocultos/ A Fever in the Blood / 1961 / Warner, drama focalizando um julgamento criminal, onde vários candidatos a governador (um senador (Don Ameche), um promotor (Jack Kelly) e um juiz da Suprema Côrte (Efrem Zimbalist) usam para favorecer suas ambições políticas. Ainda na mesma década, a Twentieth Century-Fox requisitou Sherman para dirigir Debbie Reynolds (por sugestão dela) em Furacão de Saias/ The Second Time Around / 1961 / Twentieth Century-Fox (western cômico tendo como centro das atenções uma jovem viúva (Debbie Reynolds) que parte para uma pequena cidade do Oeste, trabalha em uma fazenda, é cortejada por um vizinho (Andy Griffith) e pelo dono do cassino local (Steve Forrrest), e acaba se elegendo xerife).
O último filme de Vincent Sherman foi Cervantes, O Jovem Rebelde / The Young Rebel / 1967, co-produção ítalo-franco-espanhola (Landau-Unger/Alexander Salkind) perturbada por problemas financeiros (devido ao qual, por exemplo, em vez das quatro semanas previstas a colossal batalha naval de Lepanto foi filmada em apenas três dias) e com o ator alemão Horst Buchholz sem vigor interpretativo para personificar uma figura de tanta personalidade como o autor do imortal Don Quixote. O filme foi remendado grosseiramente na montagem à revelia do cineasta e, apesar de contar no seu elenco com atores de prestígio como Gina Lollobrigida, José Ferrer, Louis Jourdan, Francisco Rabal e Fernando Rey, encerrou melancolicamente a carreira cinematográfica do cineasta. Ele continuou trabalhando na televisão até 1983.