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POLA NEGRI

Foi a estrela mais exótica do cinema nos anos vinte. Tinha uma vida de rainha da tela rica-e-famosa, em uma mansão luxuosa de Beverly Hills. Quando saía para dar uma volta pela cidade em uma limousine da marca Piece-Arrow conduzida por um chofer de libré, usava um casaco de pele, cobria-se de jóias caríssimas, e levava consigo seus dois cães russos, sentados um de cada lado de sua dona.

Pola Negri

Jeanine Basinger (Silent Stars, Wesleyan University, 1999) reforça a lenda de que ela desfilava com um tigre de coleira pelo Sunset Boulevard e confirma o fato real de que foi ela quem lançou a moda do turbante e também pintar as unhas dos pés e das mãos com um vermelho da cor de um carro de bombeiros. Sergio Delgado deu ao seu livro sobre a atriz – do qual extraí algumas informações – o subtítulo de “The Temptress of Silent Hollywood” (McFarland, 2016). Aquí no Brasil, onde desfrutava de muita popularidade, ela era chamada de “A Divina Dominadora”.

Pola

Pola Negri, cujo verdadeiro nome era Barbara Apolonia Chalupec, nasceu no dia 3 de janeiro de 1897 na cidade de Lipno em uma Polonia ocupada pelos russos, filha de Jerzy Mathias Chalupec e Eleonora de Kielczewska. Seu pai era um imigrante eslovaco e tinha sangue cigano nas veias. Ele foi preso em 1902 pelos russos por atividades revolucionárias, julgado por um tribunal militar, e mandado para a Prisão Pawiac em Varsóvia. Subsequentemente, Apolonia e sua mãe se mudaram para lá a fim de ficarem perto de Jerzy. Eleonora vendeu a casa da família e, com o dinheiro, comprou uma mercearia na Rua Browarna nº11 embora não tivesse a menor experiência neste negócio; a mercearia acabou fechando, e ela foi trabalhar como cozinheira na casa de uma senhora judia rica.

Pola

Em 1911, Apolonia foi aceita no Academia de Balé Imperial de Varsóvia e passou os próximos dois anos estudando a técnica e aguardando sua estréia profissional na dança. Durante este tempo, o recurso interposto por seu pai foi negado e as autoridades russas o tranferiram para uma prisão na Sibéria. Após sua graduação em 1913, Apolonia ingressou na Companhia de Balé de Varsóvia e sua primeira apresentação solo foi no papel da boneca dançarina no balé Coppelia, coreografado por Michael Folkine. Seu desempenho chamou a atenção do rico patrono das artes ucraniano Kazimierz Hulewicz. Ele se interessou pelo bem-estar da família e se tornou uma espécie de figura paterna substituta para Apolonia.

Pola

Quando ela foi vitimada pela tuberculose, Hulewicz pagou seu tratamento em um sanatório em Zakopane nos Cárpatos. Apolonia se recuperou da enfermidade, mas não ficou com um estado de saúde que lhe permitisse seguir a carreira de bailarina. Ela então decidiu entrar para a Academia Imperial de Artes Dramáticas, mas como sua mãe e Hulewicz, preocupados com sua saúde, se opuzessem, Apolonia inscreveu-se sem que eles soubessem, usando um pseudônimo. A escolha de “Pola” como primeiro nome era natural, mas ela precisava de um sobrenome para ocultar sua identidade. Lembrando-se de um livro da poetisa italiana Ada Negri, que admirava quando criança, Apolonia adotou seu último nome como uma homenagem. Assim, Apolonia Chalupec tornou-se “Pola Negri”.

Pola

Como performance para a sua graduação, Pola interpretou o papel de Hedwig em Vildanden (O Pato Selvagem) de Henrik Ibsen, e se saiu tão bem, que recebeu um convite para ingressar no Rozmaitosci, o teatro nacional da Polonia. Hulewicz aconselhou-a a recusar a oferta, sugerindo-lhe que aguardasse até que eles lhe fizessem uma proposta para interpretar papéis importantes. Ele persuadiu Kazimerz Zalewski, dono do Pequeno Teatro de Varsóvia, a dar a oportunidade para Pola. Ela estreou como Aniela na peça Sluby Panienskie. Logo depois, tal como Hulewicz previra, o Teatr Rozmaitosci voltou a fazer uma oferta, desta vez oferecendo a Pola o papel principal feminino em uma nova versão de O Pato Selvagem e em Hanneles Himmelfahrt de Gerhart Hauptmann.

Pola

Em 1914, Pola fez seu primeiro filme, Niewolnika zmysló, dirigido por Jan Pawlowski para uma pequena companhia denominada Sfinx Films. Em seguida, a Sfinx contratou-a para mais 8 filmes dirigidos por Aleksander Hertz: Zona /1915, Czarna ksiazecka / 1915, Studenci / 1916, Pokoj Nr. 13 / 1917, Bestia / 1917; Tajemnica Alej Ujazdowskioch / 1917, Arabella / 1917, e Jego ostatni czyn / 1917.

Pela em Bestia

Como resultado de sua atuação como “A Dançarina do Deserto” na versão do Rozmaitosci da patomima-balé Sumurun, Pola recebeu convite de Max Reinhardt para aparecer na reencenação da peça em Berlim. Sua personagem era interpretada inteiramente em pantomima, e para isso o seu treinamento de balé ajudou. A temporada de Sumurun, colocou-a em contato com Ernst Lubitsch, que fazia parte do elenco. Lubitsch estava ansioso para dirigir filmes e convenceu Pola a assinar um contrato com a UFA. Antes porém, ela fez seis filmes para Saturn Films: Sonho que se Desfaz / Nicht lange täuschte mich das Glück / 1917; Zügelloses Blut / 1917; Rosen, die der Sturm entblättert / 1917; Die toten Augen / 1917; Küsse, die Man stiehlt in Dunkeln / 1918; Wenn das Herz in Hass erglüth / 1918, todos dirigidos por Kurt Matull.

Emil Jannings e Pola Negri em Múmia

Harry Liedtke e Pola Negri em Carmen

Pola ficou três anos sob contrato na UFA fazendo filmes com e sem Lubitsch atrás das câmeras. Em 1918, ela apareceu em Mánia / Mania, Die Geschichte einer Zigarettenarbeiterin (Dir: Eugen Illés); Múmia / Die Augen der Mumie Ma (Dir: Ernst  Lubitsch); O Passaporte Amarelo / Der gelbe Schein (Dir: Eugen Illés, Viktor Janson) e Carmen / Carmen (Dir: Ernst Lubitsch). Em 1919: Madame DuBarry / Madame DuBarry (Dir: Ernst Lubitsch); O Circo da Vida / Das Karussell des lebens (Dir: Georg Jacoby); Crucificai-a / Kreuzig Sie! (Dir: Georg Jacoby); Condessa Doddy ou Meio Milhão por um Marido / Komtesse Doddy (Dir: Georg Jacoby); Vertigem / Rausch (Dir: Ernst Lubitsch) e Vendetta / Vendetta (Dir: Georg Jacoby). Em 1920: A Marquesa D’Armiani / Die Marchesa d’Armiani (Dir: Alfred Halm); Sumurum / Sumurun (Dir: Ernst Lubitsch); Martírio ! / Das Martyrium (Dir: Paul L. Stein); Die geschlossene Kette (Dir: Paul L. Stein) e Violeta / Arme Violetta (Dir: Paul L. Stein). Em 1921: Gatinha Amorosa / Die Bergkatze (Dir: Ernst Lubitsch); Sapho / Sappho (Dir: Dimitri Buchowetzki); A Modista de Montmartre / Die Flamme (Dir: Ernst Lubitsch).

Os melhores – segundo opinião dos que viram todos – foram os filmes dirigidos por Lubitsch, sobre os quais já me manifestei mais longamente no meu artigo Ernst Lubitsch I de 12 / 9/ 2011, ao qual remeto o leitor.

Madame DuBarry, causou sensação. Os críticos ficaram maravilhados com sua suntuosidade e elogiaram a habilidade de Lubitsch ao conduzir as cenas de multidão, o que lhe valeu o título de “O Griffith Alemão”. Pola recordou mais tarde um momento tenso durante a produção do filme. Em 1919, o nível de desemprego era muito alto na Alemanha. Quando Lubitsch pôs um anúncio recrutando mil figurantes para uma cena de multidão, mais de três mil se apresentaram no estúdio pela chance de ganhar alguns marcos por um dia de trabalho. Eles se recusaram a serem rejeitados, e a A UFA, temendo uma tumulto, contratou todos.

Cena de Madame DuBarry

Emil Jannings e Pola Negri em Madame DuBarry

Cena de Madame DuBarry

Gosto muito de uma cena do filme na qual a DuBarry, astuciosamente, senta no colo de Louis XV (Emil Jannings), deixando seu peito bem debaixo do nariz dele. Ela colocara sua petição sob o vestido a fim de que o rei tivesse que retirá-la dali. Ele faz isso, lê cuidadosamente o que está escrito no pedido, assina, e então, também espertamente, insiste em colocar o documento de volta no seu “envelope”.

Após terminar Madame DuBarry, Pola retornou ao seu país natal pela primeira vez em três anos. No final da guerra, a Polonia havia se libertado dos seus ocupantes russos e era agora uma nação independente. Pola estava muito contente em rever sua mãe e passou algum tempo visitando alguns velhos amigos. Logo a UFA estava chamando-a de volta para começar seu próximo filme, mas seu regresso à Alemanha foi retardado inesperadamente pelo seu casamento em 1920 com o Conde Eugene Dombski. O matrimônio durou menos de um ano.

Pola Negri e Harry Liedtke em Sumurum

Pola Negri e Ernst Lubitsch em Sumurum

O próximo filme de Pola na UFA foi uma adaptação de Sumurun, dirigido por Lubitsch. O papel deu-lhe a oportunidade de expressar toda a sua sensualidade na tela. Na vida real, ela iniciou uma relação amorosa com Wolfgang Schleber, rico industrial alemão, que ela apelidou de “Polonius”, porque o perfil dele lembrava uma escultura romana.

Cena de A Gatinha Amorosa

PolaNegri e Alfred Abel em A Modista de Montmartre

Pola Negri em Sapho

Quando três dos seus filmes foram exibidos nos Estados Unidos: Carmen, reintitulado de Gypsy Blood; Madame DuBarry reintitulado de Passion e Sumurun, reintitulado de One Arabian Night, o público norte-americano ficou perplexo com a beleza e o magnetismo pessoal de Pola Negri. Diante da popularidade de Passion em Nova York, a Famous Players Lasky, obteve a concordância de Lubitsch e Pola de irem para a América, assim que seu contrato com a UFA expirasse. Os dois artistas fizeram ainda na Alemanha, Gatinha Amorosa na UFA e A Modista de Montmartre na Europäisch Film-Allianz (EFA), sendo que Pola ainda trabalhou para a UFA em Sapho sob a direção do russo Dimitri Buchowetzki. A saída da Alemanha significou o fim do relacionamento de Pola com Schleber que, na verdade, não quís mais saber dela. Na véspera de sua partida para a América, Pola recebeu a documentação a respeito de seu divórcio de Eugene Dombski.

Antonio Moreno e Pola Negri em A Dançarina Espanhola

Herbert Brenon orienta Pola na filmagem de A Dançarina Espanhola

Pola Negri e Adolphe Menjou em A Dançarina Espanhola

Dos vinte filmes de Pola na Famous Players Lasky (denominada Paramount Famous Lasky Corporation a partir de 1927) – A Bela Diana / Bella Donna / 1923 (Dir: George Fitzmaurice); Beijos que se Vendem / The Cheat / 1923 (Dir: George Fitzmaurice); A Dançarina Espanhola / The Spanish Dancer / 1923 (Dir: Herbert Brenon); Pecados de Paris / Shadows of Paris / 1924 (Dir: Herbert Brenon); Homens … / Men / 1924 (Dir: Dimitri Buchowetzki); Lírio do Lodo / Lily of the Dust / 1924 (Dir: Dimitri Buchowetzki); Paraíso Proibido / Forbidden Paradise / 1924 (Dir: Ernst Lubitsch); Escrava de sua Beleza / East of Suez / 1925 (Dir: Raoul Walsh); A Irresistível / The Charmer / 1925 (Dir: Sidney Olcott); Flor da Noite / Flower of the Night /1925 (Dir: Paul Bern); A Condessa Democrata ou A Condessa Tatuada / A Woman of the World / 1925 (Dir: Malcolm St. Clair);

Pola Negri e Noah Beery em Lírio do Lodo

Pola Negri em Beijos que se Vendem

Pola Negri em Mentiras

Mentiras / The Crown of Lies / 1926 (Dir: Dimitri Buchowetzki); A Viuvinha Americana / Good and Naughty / 1926 (Dir: Malcolm St. Clair) ; Hotel Imperial / Hotel Imperial / 1927 (Dir: Mauritz Stiller); Amai-vos uns aos Outros / Barbed Wire / 1927 (Dir: Rowland V. Lee); A Ré Amorosa / The Woman on Trial / 1927 (Dir: Mauritz Stiller); A Hora Secreta / The Secret Hour /1928 (Dir: Rowland V. Lee); Morta para o Mundo / Three Sinners / 1928 (Dir: Rowland V. Lee); Rachel ou Os Amores de uma Atriz / Loves of an Actress / 1928 (Dir: Rowland V. Lee); Coração de Eslava / The Woman from Moscow / 1928 (Dir: Ludwig Berger) – a maioria se perdeu; um filme ainda existe em versão muito reduzida (A Dançarina Espanhola); outros, completos, em arquivos europeus (A Bela Diana) ou americanos (Paraíso Proibido); e três, também na forma original, disponíveis em dvds de domínio público (A Condessa Democrata, Hotel Imperial, Amai-vos uns aos Outros).

Claude Gillingwater, Einar Hansen e Pola Negri em Amai-vos uns aos Outros

Pola na filmagem de Coração de Elsava com o diretor Ludwig Berger e Norman Kerry

Seus melhores filmes no período de sua permanência nos Estados Unidos foram Paraiso Proibido e Hotel Imperial. Sobre o primeiro, encaminho o leitor mais uma vez para o meu artigo sobre Lubitsch postado em 12 / 9/ 2011. Nesta combinação feliz de comédia, romance e intriga Pola interpretou o papel da Czarina Catarina da Rússia, papel perfeito para ela, e teve como coadjuvante um elenco excelente que incluía o simpático Rod La Roque como seu amante Alexei, Adolphe Menjou como um chanceler cortês, e Pauline Starke como a ingênua que ama Alexei. Segundo Janine Basinger, percebendo quanto Pola é eficiente neste filme, podemos dar crédito ao parecer expressado por alguns historiadores do cinema, segundo o qual Hollywood na verdade destruiu Pola Negri, porque não lhe proporcionou sempre um material sofisticado e inteligente, para que ela demonstrasse a amplitude de seu talento.

Rod La Rocque e Pola Negri em Paraíso Proibido

Ernst Lubitsch dirige Pola em Paraíso Proibido

Hotel Imperial, dirigido por Mauritz Stiller, produzido por Erich Pommer, roteirizado por Jules Furthman e fotogafado por Bert Glennon, foi refilmado em em 1939 como Hotel Berlim / Hotel Berlin / 1945 (Dir: Peter Godfrey) e sua trama não é muito diferente do entrecho de Cinco Covas no Egito / Five Graves to Cairo / 1943 (Dir: Billy Wilder). Durante a Primeira Guerra Mundial, seis hussardos húngaros, cansados de lutar, rumam para uma cidade da fronteira, e descobrem que ela está ocupada pelas tropas russas. Durante um combate intenso, o Tenente Paul Almasy (James Hall) foge, perseguido pelos russos. Ele os engana, saltando do seu cavalo, e procurando abrigo no Hotel Imperial, aparentemente abandonado. Paul adormece, e, na manhã seguinte, é descoberto pelos criados Anna (Pola Negri), Elias (Max Davidson) e Anton (Otto Fries), que o levam para um quarto no andar de cima. Quando Paul acorda, eles lhe dizem que ele terá que ficar ali, porque não há jeito de levá-lo de volta para a sua unidade. Os russos, sob o comando do General Juschkiewitsch (George Siegmann), entram na cidade e estabelecem seu quartel-general no hotel. Anna convence Paul a passar por garçom até que ele encontre um meio de fugir. O general tenta seduzir Anna com perfumes e roupas caras e ela pede que ele poupe Paul, quando este é preso por estar sem documentos oficiais. Chega ao hotel um espião russo, Tabakowitsch (Mikhail Vavich), que havia roubado os planos de ataque dos húngaros. Paul decide interceptá-lo antes que ele os revele para o general. Durante um festa, Anna defende-se do assédio sexual do general enquanto Paul mata o espião no seu banho. Quando a morte é descoberta, Paul é interrogado pelos russos. Anna salva-o, mentindo que ele passara a noite com ela. Paul escapa durante a noite e o exército austro-húngaro contra-ataca. Os russos são expulsos da cidade e a unidade de Paul chega como libertadora. Paul e Anna se encontram brevemente, sabendo que eles terão pouco de tempo juntos antes dele seguir novamente para a luta.

Mauritz Stiller orienta Pola na filmagem de Hotel Imperial. À direita de Pola: Erich  Pommer

George Siegmann e Pola Negri em Hotel Imperial

Pola Negri em Hotel Imperial

Neste filme, Pola tem a chance de mostrar, mais do que nunca, todo seu talento e beleza. Sua personagem é linda e graciosa e lhe permite uma interpretação naturalista nos seus gestos, particulamente nas suas expressões faciais de medo, amor e ódio. Na melhor cena do espetáculo, quando o general, ao ouvir o alibi que Anna forjou para Paul, tenta tirar do seu corpo as roupas que ele lhe dera e ela o surpreende rasgando-as dramaticamente na frente de todos, o olhar de fúria de Pola é aterrador.

Após seu divórcio do Conde Dombski, Pola apareceu em manchetes e colunas de mexericos envolvida em romances com celebridades, mais notadamente com Charles Chaplin e Rudolph Valentino.

Charles Chaplin e Pola Negri

Pola conheceu Chaplin no Palais Heinroth em Berlim em 1919 e depois seu relacionamento se tornou um caso muito noticiado pela imprensa, dando origem à muitos rumores sobre o noivado dos dois, reproduzidos pela imprensa brasileira. Mas isto não aconteceu.

Rudoph Valentino e Pola egri

Ela foi apresentada a Valentino em uma festa à fantasia organizada por Marion Davies e William Randolph Hearst em San Simeon e, segundo consta – mas pode ter sido um golpe promocional por parte dos dois -, teria sido amante dele até a morte do ator em 26 de agosto de 1926. Pola causou sensação na mídia no enterro do grande latin lover em Nova York, onde “desmaiou” várias vêzes, porém a imprensa, entendeu que se tratava de um lance de publicidade. Ela sempre afirmou, durante toda a sua existência, que Valentino foi o grande amor de sua vida, mas, logo depois da morte dele, casou-se com o “Príncipe” Serge Mdivani. Serge e seus irmãos, David e Alexis, eram notorious mau caráter, falsos príncipes exilados, hábeis em persuadir mulheres ricas a se casarem com eles. Pola e Midvani divorciaram-se em 1932. Serge esbanjou o dinheiro de Pola; David deu o golpe em outra estrela, Mae Murray, e também torrou o numerário dela

Pola Negri e Serge Mdivani

A popularidade de Pola de fato caiu devido principalmente a uma série de filmes medíocres que ela fez e pelo cansaço do público da publicidade cheia de exagêros que a consumira. Além disso, Pola não era uma garota tipicamente americana. Seu tipo de mulher mundana e sofisticada tinha um poder de atração limitado, desagradando o público das cidades pequenas. Portanto, não foi uma surpresa a Paramount ter desistido de renovar seu contrato.

Hans Rehmann e Pola Negri em Almas Perdidas

Quando a filmagem de seu derradeiro filme para a Paramount Famous Lasky terminou, Pola saiu do estúdio para sempre e, após passar algum tempo no seu castelo em Seraincourt (com seus 42 quartos, 22 criados, uma capela particular, vastos jardins floridos, riachos cheios de trutas, e uma rêde de labirintos subterrâneos que ligavam sua propriedade à cidade mais próxima), ela voltou para a frente das câmeras no Elstree Studio na Inglaterra como uma prostituta francêsa em Almas Perdidas ou A Rua das Almas Perdidas / The Way of Lost Souls (também conhecido como The Woman he Scorned) / 1929, produção de Charles E. Whittaker / Imperial Filmgesellschaft, dirigida por Paul Czinner. Foi seu último filme silencioso e um fracasso estrondoso, grande decepção para ela, que contava com uma carreira cinematográfica na Europa para melhorar sua reputação artística e recuperar sua glória nos Estados Unidos. Ao mesmo tempo, Pola sofreu outro dissabor, quando a Quebra da Bolsa de Valores de Nova York extirpou milhões de dólares de sua fortuna pessoal.

Ela retornou à América em maio de 1931, para assumir o maior risco de sua carreira profissional: o cinema falado. Porém agora possuia algo extra para oferecer aos produtores: uma voz de cantora aproveitável, para apoiar sua capacidade dramática.

Os testes na RKO mostraram que ela gravou com uma voz de contralto e com um forte sotaque, mas perfeitamente compreensível e, em consequência, propuzeram-lhe um contrato de três anos com um salário de 3 mil dólares semanais, menos da metade do que ela havia ganho no auge dos seus dias na Paramount. O projeto escolhido para a estréia de Pola no cinema sonoro foi Rainha e Mártir / A Woman Commands / 1932 (Dir: Paul Stein), a história de Maria Draga, cantora de cabaré que se tornou brevemente rainha da Sérvia. Apesar de todas as esperanças despositadas no novo projeto, o filme foi um desastre. O estúdio manteve Pola no seu quadro de artistas por algum tempo, e então deixou que o contrato dela expirasse.

Pola Negri e André Lafayette em Fanatisme

Em 1933, Pola foi para a França, onde fez Fanatisme (Dir: Tony Lekain e Gaston Ravel), no qual interpretava o papel de uma dançarina italiana, Rosine Savelli, que é envolvida em uma conspiração contra Napoleão III; mas o espetáculo afundou nas bilheterias e a sua produtora, Via Film, quebrou.

Sem perspectivas na América, aconselhada por Carl Laemmle, ela aceitou o convite para estrelar um filme alemão, Mazurka / Mazurka / 1935 produzido pela Cine-Allianz (companhia fundada por Arnold Pressburger e Gregor Rabinovitch) e dirigido por Willi Forst. Laemmle assegurou Pola que, como católica, ela não teria problemas com o governo nazista. Entretanto, dois dias antes do início da filmagem os produtores receberam a notícia de que Goebels a havia proibido de estrelar o filme sob o fundamento de que ela era “não ariana”. O Ministro da Propaganda alegou que teria em seu poder cartas detalhando sua participação em atividades anti-germânicas durante a Primeira Guerra Mundial. Furiosa, Pola dirigiu-se ao embaixador polonês e lhe pediu para informar ao Dr. Goebbels que, se não pudesse trabalhar no filme, ela deixaria a Alemanha imediatamente. Enquanto fazia as malas para deixar o país, o estúdio recebeu a informação de que Hitler havia assinado uma ordem contradizendo a interdição de Goebbels.

Pola Negri em Mazurca

Pola Negri em Mazurca

No enredo de Mazurka, Lisa (Ingeborg Theek), aluna do conservatório de música, envolve-se românticamente com um maestro famoso, Grigorij Michailow (Albrecht Schoenhals), que a leva para uma boate, onde Vera Kowalska (Pola Negri), ex-cantora de ópera, se apresenta todas as noites. Quando Vera avista Michailow beijando Lisa durante o seu número, ela desmaia, e é carregada para o seu camarim. Reanimada, Vera pega uma arma e, enquanto Lisa e Grigorij se dirigem para a saída da boate, ela grita o nome de Grigorij e o alveja mortalmente. Durante o julgamento de Vera, vem à tona o motivo do crime. No passado, Vera era pupila de Grigorij, seu admirador; porém se casara com outro, com quem teve uma filha, Lisa. Quando o marido foi para a guerra, Vera se embriagou em uma festa e se entregou ao maestro. O marido, sabendo de tudo, deixou-a, e se casou novamente, obtendo a guarda de Lisa, que nunca soube que Vera era sua verdadeira mãe. Ao ver Lisa com Grigorij, Vera o mata, para defender a filha de um canalha.

Mazurka foi um sucesso (disseram que era o filme favorito de Hitler) e, em consequência deste êxito, Pola fez mais cinco filmes na Alemanha: Moscou-Xangai / Moskau- Shanghai / 1936 (Dir: Paul Wegener), A Mulher que Amou Demais /  Madame Bovary / 1937 (Dir: Gerhard Lamprecht), Tango Noturno / Tango Notturno / 1937 (Dir: Fritz Kirchoff) e Falsária / Die fromme Lüge / 1937 (Dir: Nunzio Malasomma) e Die Nacht der Entscheidung /1938. (Dir: Nunzio Malasomma).

Refugiando-se da guerra, Pola voltou para a América. Cheia de dívidas, seu nome só era mencionado em relação a cobranças judiciais propostas contra ela. Acabou aceitando um pequeno papel coadjuvante como uma cantora de ópera de temperamento vulcânico em uma comédia maluca da United Artists, Casados sem Casa / Hi Diddle Diddle / 1943, dirigida por Andrew Stone.

Adolphe Menjou e Pola Negri em Casados sem Casa

Em Hollywood, Pola Negri “já era”. Então começou a cantar em boates, interpretando sempre sua canção mais conhecida, “Paradise”, e recordando incidentes ocorridos no seu tempo na “Cidade dos Sonhos” enquanto os colunistas recordavam sua “rivalidade” com Gloria Swanson, seu romance com Valentino, ou outros mitos como aquele passeio com um tigre pela rua. Um jornalista chegou a dizer que certa vez ela jogou o animal em cima de um repórter.

Margaret e Pola

Novamente sem dinheiro, Pola encontrou uma grande amiga em Margaret West, personalidade do rádio, muito famosa no começo dos anos 30, que fôra casada com um negociante de obras de arte. Margaret ajudou-a financeiramente, e insistiu para que Pola retornasse à Europa em 1948, a fim de vender as jóias e outros bens que ainda possuia lá, e trazer sua mãe, Eleonora, para a América. Na sua volta, mãe e filha mudaram-se com Margaret para uma casa de praia alugada em Santa Monica. Depois, Pola e Margaret viveram juntas em outros locais, e Eleonora preferiu alugar uma moradia só para si. Pola diria que este foi o período mais feliz da sua vida. Ela e Margaret viveram uma vida social ativa, investiram em imóveis, e levantaram fundos para campanhas de caridade católicas.

Pola Negri em O Segredo das Esmeralda Negras

Em 1951, Pola tornou-se cidadã naturalizada americana. Em 1955, Eleonora faleceu aos 93 anos de idade. Em 1960, Pola ficou novamente sob a luz dos refletores, quando recebeu uma estrela na Calçada da Fama do Holywood Boulevard. Em 1963, recebeu um convite da Walt Disney Company para aparecer em O Segredo das Esmeraldas Negras / The Moonspinners / 1964, a ser filmado na Inglaterra com Hayley Mills na frente do elenco. Ela inicialmente relutou em fazer uma viagem longa por uma pequena aparição, mas Margaret convenceu-a a fazer um último filme, para se retirar da tela formalmente como uma estrela. Pouco antes de Pola partir, Margaret morreu subitamente, vítima de um ataque cardíaco.

No seu derradeiro filme, Pola, aos 67 anos, está quase irreconhecível como Madame Habib, uma colecionadora de jóias pitoresca; porém seu solilóquio no final – quando, antes de se retirar para o seu quarto seguida por um leopardo de estimação, fala de seus casamentos fracassados e as guerras das quais sobreviveu – soa como um resumo de sua vida e uma homenagem à sua persona fílmica.

Em 1964, ela recebeu um prêmio pela sua contribuição para a indústria cinematográfica germânica. Em 1970, publicou a autobiografia, “Memoirs of a Star”, classificada pelos críticos como “uma obra de ficção”. Em 1975, o diretor Vincente Minelli ofereceu-lhe um pequeno papel em Questão de Tempo / A Matter of Life, mas Pola não pôde aceitar por causa de seu estado de saúde debilitado.

A “Divina Dominadora” sucumbiu a um câncer no cérebro em 1 de agosto de 1987, sendo enterrada perto de sua adorada mãe.

 

GÉRARD PHILIPE II

Ainda em 1952, Gérard Philipe fez um filme de esquetes, Os Sete Pecados Capitais / Les Septs Pechés Capitaux e outro filme dirigido por René Clair, Esta Noite é Minha / Les Belles de Nuit.

Gérard Philipe em Os Sete Pecados Capitais

No primeiro, realizado por diretores (Eduardo de Filippo, Jean Dréville, Yves Allégret, Carlo-Rim, Roberto Rosselini, Claude Autant-Lara, Georges Lacombe) e interpretado por atores (Isa Miranda, Eduardo de Filippo (ep. A Avareza e a Cólera); Noel-Noel (ep. A Preguiça); Viviane Romance, Frank Villard (ep. A Luxúria); Henri Vidal, Claudine Dupuis (ep. A Gula); André Debar (ep. A Inveja); Michèle Morgan, Françoise Rosay (ep. O Orgulho) francêses e italianos, Gérard participou do esquete de ligação, no qual, como meneur du jeu em um parque de diversões, ele atrai os curiosos e ilustra para eles os sete pecados capitais. Finda a ilustração, aconselha a multidão a não sucumbir ao oitavo pecado capital: a imaginação e a nunca fazer um julgamento baseado apenas nas aparências.

No segundo, ele é Claude, jovem professor de música da província, que acha a vida real muito difícil e dorme para poder sonhar. Ele se vê como maestro de sucesso em 1900 e amado por uma grande dama, Edmée (Martine Carol), na realidade a mãe de uma de suas alunas; oficial vitorioso na Conquista da Argélia em 1830 e amado por Leila (Gina Lollobrigida), uma odalisca, na realidade a moça da caixa de um café onde ele costuma se encontrar com seus amigos; tribuno revolucionário em 1793, raptando a filha de um marquês, Suzanne (Magali Vendeuil), na realidade a filha de um mecânico seu vizinho etc. Logo os seus inimigos o seguem através dos séculos até a pré-história.

Martine Carol e Gérard Philipe em Esta Noite é Minha

Gérard Philipe e Gina Lollobrigida em Esta Noite é minha

 

Esta aventura imaginária conta essencialmente um “sonho acordado”. Claude, o compositor de talento, mas sem êxito, sonha suas próprias quimeras, que o conduzem sucessivamente aos braços de lindas mulheres com a aparência corporal das personagens reais. A idéia de “como a gente era mais feliz antigamente” se repercute em cada época, remetendo para aquela que a precede. Até que essa fuga através dos séculos transforma-se em um pesadêlo angustiante. Um assunto como esse, que balança sem cessar entre o sonho e a realidade, deu a René Clair a possibilidade de fazer uma incrível demonstração de virtuosidade técnica, uma coreografia de imagens, cujas formas inventivas se associam com uma graça constante.

Quando se examina a filmografia de Gérard Philipe percebe-se sua fidelidade a alguns diretores como Yves Allégret, Claude Autant-Lara, René Clair e Christian-Jaque, pois ele fez três filmes com cada um. No restante da década de cinquenta, entre seus melhores trabalhos estavam  Les Orgueillleux / 1953, de Yves Allégret e As Grandes Manobras / Les Grandes Manouevres / 1955, de René Clair.

Gérard Philipe e Michèle Morgan em Les Orgueilleux

Em Os Orgulhosos, Gérard é Georges, médico francês que se tornou alcoólatra, e vive em uma pequena cidade mexicana como um mendigo. Um dia chega um carro trazendo um casal: Tom (André Toffel), o marido, está gravemente enfermo equanto sua mulher, Nellie (Michèle Morgan), está sozinha e sem recursos. Uma epidemia de meningite cérebro-espinhal se propaga pela cidade. Tom morre diante de Nellie e Georges, que acabara de conhecê-los. Nellie se sente atraída por Georges e procura compreender seus problemas. Georges aconselha Nellie a deixar a cidade, mas Nellie fica a seu lado e, daí em diante, ele ajuda o médico local a combater a epidemia.

Yves Allégret deu densidade dramática a essa história de amor e redenção, criando uma atmosfera asfixiante e ruidosa em torno dos personagens. Porém o equilíbrio do filme dependia da atuação dos dois intérpretes centrais. Cada qual tem seu momento solo excepcional. O de Michèle Morgan acontece no quarto de hotel enquanto Nellie , tentando se livrar do calor, se despe com certo erotismo. O de Gérard PHilipe ocorre quando Georges dança na taberna, servindo de espetáculo, abjetamente, em troca de uma garrafa de aguardente

Em As Grandes Manobras, em uma pequena cidade da provincia, nas vésperas da Primeira Guerra Mundial, Armand de la Verne (Gérard Philipe), tenente dos dragões reputado por seu donjuanismo, aposta com seus colegas de farda que vai seduzir, antes das grandes manobras, a mulher que o acaso designará. Assim, ele conquista Marie-Louise Rivière (Michèle Morgan), modista divorciada, que um burguês, Victor Duverger (Jean Desailly), hesita em esposar, com medo dos comentários. Armand não tarda a se apaixonar de verdade, mas quando Marie-Louise fica sabendo, através de uma careta anônima, de que foi objeto de uma aposta, ela prefere romper.

Gérard Philipe e Michèle Morgan em As Grandes Manobras

Cena de As Grandes Manobras

Dany Carrel e Gérard Philipe em As Grandes anobras

Passando do vaudeville ao drama com grande delicadeza, René Clair reconstitui de maneira perfeita a atmosfera das cidades do interior que têm tropas aquarteladas, nas quais, no início do século XX, os oficiais afugentavam o tédio cortejando as belas jovens provincianas. Entre um sarau beneficente e um concerto em praça pública, ata-se e desata-se um amor sem amanhã, que termina de maneira triste. A perfeição dos cenários e figurinos, o equilíbrio das cores, a interpretação contida de Michèle Morgan e o charme de Gérard Philipe põem em evidência o caráter sufocante de uma sociedade que aprisiona os protagonistas em uma rede de ritos, da qual eles não podem sair.

Nos anos cinquenta Gérard esteve ainda diante das câmeras sob as ordens de René Clément (Um Amante sob Medida / Monsieur Ripois / 1953; Sacha Guitry (Se Versalhes Falasse / Si Versailles m’était Conté / 1953 e Si Paris Nous était Conté / 1955); Gianni Franciolini (O Parque dos Amores / Les Amants de la Villa Borghese / 1953); Claude-Autant-Lara de novo (Vermelho e Negro / Le Rouge et le Noir / 1954);

Yves Allegret de novo (Correntes da Violência / La Meuilleure Part / 1955); Jacques Becker (Os Amantes de Montparnasse / Montparnasse 19 / 1956); Clément Duhout, (A Mentira do Amor / La Vie a Deux / 1957; Julien Duvivier (As Mulheres dos Outros / Pot Bouille / 1957; Claude Autant-Lara ainda mais uma vez (Le Joueur / 1958; Roger Vadim (Ligações Amorosas / Les Liaisons Dangereuses / 1959); Luis Buñuel (Os Ambiciosos / La Fièvre Monte a El Pao / 1959 e dirigiu e atuou em As Aventuras de Till / Till l’Espiègle / 1956.

Entre os filmes citados destacam-se Um Amante sob Medida, O Vermelho e o Negro, Os Amantes de Montparnasse e As Mulheres dos Outros.

Gérard Philipe e Joan Greenwood em Um Amante sob Medida

Em Um Amante sob Medida, cansada das infidelidades de seu marido, André Ripois (Gérard Philipe), Catherine (Valerie Hobson), uma inglesa rica, pede o divórcio. Enquanto isso, Ripois tenta seduzir Patricia (Natasha Parry), amiga de Catherine, contando-lhe seus amores passados Anne (Margaret Johnson), Norah (Joan Greenwood), Marcelle (Germaine Montero), e manifestando o desejo de se regenerar. A confissão de Ripois não produz sobre Patricia o efeito desejado. Ele faz uma última investida para conquistá-la simulando uma tentative de suicídio, mas cai de fato de uma varanda. Catherine pensa que o gesto do marido foi provocado pelo seu pedido de divórcio e resolve ficar ao lado dele, imobilizado para sempre em uma cadeira de rodas.

Gérard Philipe em Um Amante sob Medida

História de um Don Juan moderno abatido pelo golpe de uma justiça imanente e tardia. Vítima de sua última manobra, ele chama para si o castigo. E não haveria nada de mais cruel para esse homem sedento de liberdade, sempre em busca de alguma aventura, do que ficar prisioneiro em uma cadeira de rodas, enfraquecido e, por sua vez, à mercê de todos. Clément filmou Gérard Philipe às escondidas nas locações em Londres, mostrando aspectos da cidade raramente vistos no cinema inglês, e lhe retirou os atributos trágicos do Cid, para transformá-lo em uma espécie de anti-herói pré-Nouvelle Vague.

Vermelho e  Negro, se passa por volta 1830, na província e em Paris. Julien Sorel (Gérard Philipe), filho de um carpinteiro, destina-se ao seminário. Por indicação do abade Chélan (André Brunot), ele obtém um emprego como preceptor dos filhos de M. de Rênal (Jean Martinelli), prefeito de Varrières. Humilhado por este homem sêco e arrogante, ele é atraído por Louise, Mme de Rênal (Danielle Darrieux), mulher muito bela, mas também muito distante, embora ele sinta a sua fragilidade. Julien decide conquistá-la e ela cede porém, como este relacionamento não pode durar porque na pequena cidade não se tarda a falar sobre o amor deles, Julien volta para o seminário. Aliando-se ao abade Pirard (Antoine Balpêtre), quando este cai em desgraça, Julien acompanha-o a Paris, onde Pirard lhe arruma um novo emprego desta vez como secretário do Marquês de la Mole (Jean Mercure). Mais uma vez, as humilhações não lhe são poupadas. Por espírito de revanche, Julien seduz a filha do marquês, Mathilde (Antonella Lualdi). Ele mantém a jovem à sua mercê mesmo se em público ela se mostre altiva. Graças a M. de la Mole, Julien torna-se o cavaleiro Sorel de La Vernaye, tenente dos hussardos e o marquês aceita seu casamento com sua filha; porém pede referências sobre seu futuro genro à Mme. de Rênal. Esta, aconselhada por seu confessor, denuncia Julien como um intrigante. O orgulhoso Julien não pode admitir essa acusação e mais ainda o desmoronamento de suas ambições. Na igreja de Varrières ele desfecha dois tiros de revólver contra Mme. De Rênal, mas o ferimento de Louise não põe sua vida em perigo. No tribunal, Julien, resignado, assume sua culpa, sabendo que é toda uma casta que o julga. E que esta casta, injuriada, será impiedosa. Mme de Rênal, vai visitá-lo na prisão, e ele a acolhe com alegria. Depois, caminha sem medo para a guilhotina. Três dias depois, Mme de Rênal, morre abraçando seus filhos.

Gérard Philipe e Danielle Darrieux em  Vermelho e  Negro

Gérard Philipe e Antonella Lualdi em  Vermelho e  Negro

Danielle Darrieux e Gérard Philipe em  Vermelho e  Negro

Cena de Vermelho e  Negro

Os argumentistas Jean Aurenche e Pierre Bost, habituais colaboradores de Claude Autant-Lara, limitaram-se a conservar o espírito do autor. O script mantém apenas os episódios principais da obra de Stendhal e expõe com clareza as atitudes dos personagens em um ritmo que, embora lento, não chega a ser cansativo. As reações psicológicas de Julien (Gérard Philipe), Mathilde (Antonella Lualdi) e Louise (Danielle Darrieux), o estudo de suas personalidades, é o que há de mais importante no espetáculo. E, de fato, os três possuem temperamentos adversos. Julien Sorel é o arrivista perfeito. O amor para ele é apenas um meio de atingir certa confiança em si mesmo, necessária à consecução de seus fins, e a sua própria satisfação. Já o amor de Mathilde de la Môle é, todo ele, cerebral. Para ela, Julien representa um ser superior, sendo, portanto, o único que poderia dominá-la. Louise de Rênal, por sua vez, é uma mulher frágil. Passa a adorar o jovem preceptor, com a mesma ingenuidade com que cederá, mais tarde, a outros conselhos. Por outro lado, os cenários imaginados por Max Douy, a cor, o vestuário e a música do filme recriam, com perfeição, a atmosfera da época. Os diálogos (às vêzes substituidos por monólogos interiores) acentuam o caráter subjetivo da narrativa. Pode-se dizer que Gérard Philipe e Danielle Darrieux são protagonistas insubstituíveis.

Gérard Philipe e Anouk Aimée em Os Amantes de Montparnasse

Em Os Amantes de Montparnasse, Amedeo Modigliani (Gérard Philipe) tem um relacionamento com a escritora inglesa Beatrice Hastings (Lili Palmer) e depois conhece Jeanne Hébuterne (Anouk Aimée), uma estudante que abandona sua família burguêsa para ir morar com ele. Léopold Sborowsky (Gérard Sety), amigo de Modigliani, tenta em vão vender os quadros do pintor. Após um período de felicidade ao lado de Jeanne, Modigliani, alcoólatra, tuberculoso e miserável, morre em um hospital. O mercador de quadros Morel (Lino Ventura) procura Jeanne imediatamente e compra todas as telas do pintor.

Jacques Becker filma Os Amantes de Montparnasse

Anouk Aimée e Gérard Philipe em Os Amantes de Montparnasse

Gérard Philipe e Anouk Aimée em Os Amantes de Montparnasse

A cinebiografia de Modigliani ia ser filmada por Max Ophüls, porém a morte de Ophüls pôs fim ao projeto. Escolhido para substituí-lo, Jacques Becker não poderia trabalhar com um roteiro que não fôsse próprio, pois seu estilo cinematográfico não tinha nenhuma afinidade com o de Ophüls. Becker despojou sua encenação ao extremo, preocupando-se mais com o ângulo humano e suprimindo todo o pitoresco tradicional do gênero – o cineasta recusou-se inclusive a usar a cor, o que parece a priori um contrassenso em um filme sobre pintura, o que levou André Bazin a dizer que este é o filme mais bressoniano do diretor.

Em As Mulheres dos Outros, na segunda metade do século XIX, um jovem arrivista, Octave Mouret (Gérard Philipe), vindo de sua Provença natal, hospeda-se no terceiro e último andar de um imóvel burguês de Paris. Sedutor e cínico, ele conquista as mulheres (solteiras e casadas) que passam diante de sua porta, não só por prazer, mas porque elas são úteis para quem tomou a inabalável decisão de vencer na vida no mundo dos negócios. Octave torna-se logo uma presa ideal para Mme. Josserand (Jane Marken), ansiosa para casar suas filhas, entre as quais Berthe (Dany Carrel), que se apaixona pelo belo rapaz. Diante da indiferença de Octave, Berthe, decepcionada, casa-se com um homem pouco atraente, Auguste Vabre (Jacques Duby). Empregado na loja deste último, Octave fará sua fortuna tornando-se ao mesmo tempo amante de Berthe. Entrementes, a ascenção social de Octave prossegue graças ao seu poder de sedução sobre as mulheres e a sua aptidão para os negócios. Ele conquista o coração de Caroline Hédouin (Danielle Darrieux), proprietária de uma loja luxuosa, casa-se com elae faz prosperar o seu comércio, com o qual irá inaugurar mais tarde a primeira grande loja de departamentos parisiense: “Au Bonheur des Dames”.

Gérard Philipe e Danielle Darrieux em As Mulheres dos Outros

Gérard Philipe e Dany Carrel em As Mulheres dos Outros

Nessa adaptação do romance de Emile Zola, Julien Duvivier afastou-se do naturalismo da obra original e encaminhou – com a ajuda dos diálogos cáusticos de Henri Jeanson – , esse quadro de costumes para o vaudeville sarcástico. Gérard Philipe, um novo Rastignac, passeia com desembaraço nesse universo decadente, seduz todas as mulheres sem qualquer esforço, e domina o filme totalmente. Jane Marken é, como sempre, impressionante. Danielle Darrieux também, cúpida e calculista sob suas maneiras de grande dama irreprensível.

Gérard Philipe como D’Artagnann em Se Versalles Falasse

Em Se Versalhes Falasse e Si Paris m’était Conté, aulas de História (e Pequena História) da França à maneira de Sacha Guitry, ilustradas por um elenco notável de astros e estrelas, Gérard Philipe encarnava respectivamente D’Artagnan e um cantor de rua. Em outro filme constituido por episódios, O Parque dos Amores, Gérard Philipe contracenava com Micheline Presle em um momento de ruptura de um casal no parque famoso de Roma. Em Correntes de Violência, Gérard é o engenheiro Perrin, inteiramente dedicado à construção de uma barragem nos Alpes, mesmo quando abatido por uma doença cardíaca.

Claude Autrant-Lara e e Gérard Philipe nafilmagem de Le Joueur

Cena de Le Joueur

Em A Mentira do Amor, Gérard Philipe é Désiré, o criado de quarto de uma cantora interpretada por Lili Palmer em um dos esquetes do filme, que foi baseado em uma peça de Sacha Guitry. Em Le Joueur é Alexei Ivanovitch, o célebre personagem de Dostoievski. Em Ligações Amorosas, versão modernizada do romance de Choderlos de Laclos, Gérard é o libertino Valmont ao lado de Jeanne Moreau no papel de Juliette. Em Os Ambiciosos, Gérard é Ramon Vasquez, secretário do ditador de uma cidade mexicana que, após este ser assassinado, envolve-se com sua viúva (Maria Felix) e com uma revolta para derrubar o novo governador cruel e despótico (Jean Servais).

Gérard Philipe e Jeanne Moreau em Ligações Amorosas

Durante muito tempo Gérard Philipe pensou em encarnar na tela Thil Uylenspiegel, o herói criado pelo romancista belga Charles de Coster. Uma adaptação feita por René Wheeler deveria ter sido realizada por Christian-Jaque com Gérard no papel principal mas, por falta de capital, o projeto não foi adiante. Entretanto, Gérard não desanimou, e após negociações com a firma DEFA da Alemanha Oriental, ficou decidido que Gérard, além de intérprete, seria co-produtor e diretor do filme com a assistência do documentarista holandês Joris Ivens.

Les aventures de Till l’espiègle – 1956 (de Gérard Philipe et Joris Evens)

O personagem de As Aventuras de Till / Les Aventures de Till L’espiegle / 1955 é um jovem ágil, audaz e astuto que, na Flandres do século XVI, jurou vingar a morte de seu pai, Cloes (Fernand Lewdoux), queimado vivo pelos espanhóis ocupantes de seu país. Ele abandona sua noiva, Nele (Nicole Berger) e, acompann bhado de seu amigo Lamme (Jean Carmet), percorre as aldeias incitando os habitantes à rebelião e salvando os que se encontram em perigo. Till se introduz como bufão no palácio do Duque de Alba (Jean Vilar) e consegue salvar o Príncipe de Orange (W. Koch-Hooge) e seus partidários da morte certa. Os estrangeiros são perseguidos e expulsos enquanto o Principe reune os representantes das províncias e proclama a independência dos Países Baixos. Till regressa ao seu povoado, onde o aguarda sua prometida.

Cena de As Aventuras de Till

Fracasso artístico e crítico, esse filme foi visto como um erro na carreira do ator. Ele tentou reencontrar a receita mágica que fez o sucesso de Fanfan-la-Tulipe, porém não soube lhe imprimir o ritmo esfuziante daquela realização. Nem o próprio Gérard conseguiu repetir sua atuação: Till não foi um pândego e espadachim tão emocionante como Fanfan. Os pontos positivos do espetáculo foram os cenários, os figurinos e as paisagens magníficas mas, com seu roteiro mal costurado e sua mise-en-scène pesadamente teatral, todos os esforços do ator-diretor malograram.

Em 25 de novembro de 1959, no apogeu de sua popularidade, assim que acabou a filmagem de Os Ambiciosos no México, Gérard foi vitimado por um câncer no fígado fulminante, poucos dias antes do seu 37º aniversário, deixando seus fãs inconsolados. Conforme suas declarações de última vontade, ele foi enterrado, vestido com a roupa de Don Rodrigue (o Cid), no pequeno cemitério de Ramatuelle.

 

GÉRARD PHILIPE I

Ele foi um dos grandes atores do cinema francês ao lado de Harry Baur, Raimu, Louis Jouvet, Fernandel, Jean Gabin, Jean Marais e Pierre Fresnay, sobre os quais já me pronuncei em artigos anteriores. Sua imagem juvenil e romântica permanece na mente de todos os que o viram representar no teatro ou na tela.

Gérard Philipe

Gérard Philipe nasceu no dia 4 de dezembro de 1922 em Cannes, França, filho de Marcel Philip e Marie Elisa Villette (“Minou”), de ascendência tcheca e tida como uma cartomante notável. O pai era advogado e depois se tornou um hoteleiro rico, proprietário de diversos estabelecimentos na Côte d ‘Azur e em Paris. Gérard e seu irmão mais velho, Jean, estudaram no colégio interno Stanislas dos irmãos maristas. Gérard terminou seu ensino secundário no início da Segunda Guerra Mundial e seu pai o matriculou na Faculdade de Direito em Nice, mas o rapaz já pensava em seguir uma carreira de ator.

Minou, Gérard e seu irmão Jean

Durante a Ocupação, vários diretores, produtores e atores se refugiaram na Côte d’Azur, que estava situada na Zona Livre. Em 1941, Marc Allégret, um desses diretores, soube por acaso das sessões de vidência de Mme. Philip no Hôtel Parc de propriedade de seu marido, e foi com seus amigos consultá-la. Sabendo que seu filho queria fazer teatro, “Minou” persuadiu Allégret a fazer um teste com Gérard.

Entre os anos 30 e 50, Marc Allégret era considerado um grande descobridor de talentos, pois foi ele quem deu a primeira chance à maioria das vedetes da época: Simone Simon, Jean-Pierre Aumont, Michèle Morgan, Jean-Louis Barrault, Louis Jourdan, Daniel Gélin, Dany Robin, Jeanne Moreau e muitos outros, sem esquecer Brigitte Bardot. Por telefone, Allégret pediu a Gérard que aprendesse uma cena da peça de Jacques Deval, “Etienne”, e após a prova ficou surpreso com os dons do rapaz, muito raros em um principiante, faltando-lhe apenas a prática e as manhas do ofício de ator.

Allégret aconselhou-o a seguir o curso de arte dramática de Jean Wall e Jean Huet em Cannes. Um dia. Jean Huet aconselhou-o a procurar Claude Dauphin, que estava para encenar “Une Grande Fille Tout Simple” de André Roussin no Cassino de Nice. “O quê você preparou?”, perguntou Dauphin. Gérard lembrou-se de um poema, Les Poissons Rouges, de Franc-Noain. O nome do poeta arrancou um sorriso dos lábios de Dauphin, que era sensível às recomendações de Allégret e Huet, porém mais ainda ao nome de Franc-Noain. Gérard recitou o poema e Dauphin lhe confiou o papel de Mick, um jovem adolescente. Ele se revelou um ator completo, que não tardaria a mostrar que era capaz de interpretar qualquer papel.

Em 1941, Marc Allégret contratou-o para fazer uma “ponta” no filme A Tentadora / La Boîte aux Rêves (lançado somente em 1945) de seu irmão Yves Allégret. Em 1943, Gérard teve sua verdadeira primeira oportunidade na tela em Les Petites du Quai aux Fleurs de Marc Allégret, filme sobre uma juventude ardente que desperta para a vida e para o amor, no qual abundam os namoricos, rivalidades e reconciliações das quatro filhas (Odette Joyeux, Simone Sylvestre, Danièle Delorme, Colette Richard) de um livreiro (André Lefaur), em torno das quais gravitam vários rapazes (Louis Jourdan, Bernard Blier, Jacques Dynam, Gérard Philipe), fazendo com que o livreiro fique por vezes a ponto de perder a sua costumeira serenidade.

Gérard Philipe e Colette Richard em Les petites du Quai aux Fleurs

No mesmo ano, Gérard obtém seu primeiro sucesso e a celebridade, aos vinte anos de idade, no papel do anjo em “Sodome et Gomorre” de Jean Giraudoux, e entra para o Conservatório Nacional de Arte Dramática, onde acompanhou os cursos de Denis d’Inès e depois o de Georges Le Roy, o homem que iria marcar sua carreira teatral e orientá-la de maneira definitiva. A confiança mútua era tão grande que, a cada etapa importante de sua carreira, Gérard ia consultar Le Roy.

Antes das provas do final de ano, Gérard pediu seu desligamento do Conservatório porque o teatro e o cinema o solicitavam, e ele iria se consagrar a eles com todo o seu entusiasmo. Em 1945, participou de uma nova peça, “Fédérigo”, de René Laporte, um filme de Georges Lacombe, Le Pays sans Étoiles e, finalmente, de outra peça, “Caligula”, de Albert Camus. Atendendo ao conselho de “Minou”, Gérard acrescentou um “e” ao seu nome, para obter treze letras com o seu nome e prenome, uma cifra de boa-sorte, segundo sua progenitora.

Gérard Philipe em Le Pays sans Etoiles

Le Pays sans Étoiles é um filme no gênero fantástico, com um roteiro muito inventivo, no qual, Simon (Gérard Philipe), jovem ajudante de escrivão sonhador e romântico, tem uma visão perturbadora de um crime cometido em 1830, no qual um tal de Frédéric (Gérard Philipe) assassinara o irmão, Frédéric-Charles (Pierre Brasseur) por causa de uma mulher, Aurélia (Jany Holt). Ele revive no tempo presente o mesmo drama do passado, ao qual é atraído por sonhos premonitórios e um sentimento inquietante de reencarnação. Agora, seu irmão chama-se Jean-Thomas (Pierre Brasseur) e Aurélia, atende pelo nome de Catherine (Jany Holt).

Em 24 de dezembro de 1945, o pai de Gérard foi condenado à morte por contumácia por ter colaborado com o inimigo e pertencer a um grupo antinacional, sem que nenhuma prova tivesse instruído seu processo. Ele se refugiou em Barcelona na Espanha, onde se tornou professor de francês. Posteriormente, veio a ser anistiado pelo General de Gaulle.

Gérard Philipe no palco como Calígula

A interpretação de Gérard Philipe em “Caligula”, de Albert Camus, foi uma espécie de revolução. Gérard fez uma composição inesquecível, metade-anjo, metade-demônio, elogiado por uma crítica entusiasmada e aclamado pelos espectadores e por seus próprios colegas. Foi então que Georges Lampin lhe deu sua segunda boa chance no cinema: o papel do príncipe Muichkine de O Idiota / L’Idiot / 1946.

A história é muito conhecida. Em síntese, o príncipe Muichkine volta a São Petersburgo, depois de passar cinco anos em uma clínica. Sofrendo de epilepsia e acreditando na bondade, ele passa por um idiota. Seu parente, o general Epantchine (Maurice Chambreuil), quer casar sua filha Aglaé (Nathalie Nattier) com Totsky (Jean Debucourt), mas é preciso afastar a amante deste, Nastasia Philippovna (Edwige Feuillère). O secretário do general, Gania (Michel André), aceita, mediante uma polpuda soma, casar-se com Nastasia. Humilhada e infeliz, Nastasia propõe se vender a quem pagar mais. Para salvá-la dessa humilhação, Muichkine lhe propõe casamento, porém ela prefere aceitar a proposta do mercador Rogojine (Lucien Coëdel), que lhe oferece cem mil rublos.

Gérard Philipe em O Idiota

Edwige Feuillère e Gérard Philipe em O Idiota

Gérard Philipe e Lucien Coëdel em O Idiota

O romance de Dostoiévski foi despojado de sua profundidade espiritual, porém Lampin, cineasta de origem russa, conseguiu reconstituir uma atmosfera plausível. O filme vale, sobretudo pelas interpretações de Edwige Feuillère e Gérard Philipe, notadamente em duas sequências de grande impacto dramático. A primeira, na residência de Nastasia Philippovna, quando ela joga o pacote dos cem mil rublos no fogo da lareira diante dos convidados atônitos, depois de relembrar, emocionada, incidentes de sua vida infeliz. A segunda, no final, quando Rogojine, com uma vela na mão, conduz Muichkine pelos corredores de sua casa até o quarto onde jaz o corpo de Nastasia. Aí termina o drama, com o primeiro plano do rosto do príncipe, chorando com um riso de louco nos lábios.

Gérard repousava em uma pequena cidade dos Pireneus, quando recebeu um telegrama de Paris. Claude Autant-Lara desejava lhe confiar o papel de François em Adúltera / Le Diable au Corps / 1947. O enredo tratava do seguinte: no enterro de Marthe Lacombe, um rapaz, François Jaubert (Gérard Philipe), cheio de tristeza, recorda o passado. Em 1917, ele conheceu e se apaixonou por Marthe (Micheline Presle), mas ela estava noiva. Alguns meses mais tarde, François reencontra Marthe já casada e os dois se tornam amantes enquanto o marido dela, Jacques (Maurice Lagrenée) está lutando na guerra. Marthe engravida, porém François hesita em assumir suas responsabilidades e Marthe morre no parto, pronunciando o nome do amante. Jacques vai educar a criança, sem saber que ela não era sua.

Gérard Philipe e Micheline Presle em Adúltera

Micheline Presle e Gérard Philipe em Adúltera

Micheline Presle e Gérard Philipe em Adúltera

Tal como o romance de Raymond Radiguet, o filme provocou o escândalo por abordar uma relação de adultério entre dois jovens enquanto milhares de homens estavam morrendo para salvar a pátria. Os defensores da moral não perceberam que tanto o livro como o filme proclamavam antes de tudo o direito ao amor e ao prazer reprimidos pelas guerras e que os dois amantes eram vencidos pelo que Jean Cocteau chamou de “furor público contra a felicidade”. A adaptação e a realização são impecáveis, sobressaindo a utilização muito feliz do retrospecto por meio da diminuição do som dos sinos da igreja. Micheline Presle e Gérard Philipe transmitem com emoção um relacionamento ao mesmo tempo tórrido e imaturo. Os protestos moralistas se atenuaram quando Gérard Philipe ganhou o Grande Prêmio de Interpretação Masculina no Festival de Bruxelas.

Logo depois de Adúltera, Gérard foi convidado por Christian-Jaque para filmar em Roma La Chartreuse de Parme / 1948, que aqui levou o título de A Sombra do Patíbulo ou Amantes Eternos. O argumento conta como em Parma, Fabrice del Dongo (Gérard Philipe), conquistador impenitente, apaixona-se por Clélia Conti (Renée Faure), enquanto sua bela tia, La Sanseverina (Maria Casarès), arde de um amor secreto pelo sobrinho. Ocorrem muitas peripécias, envolvendo ainda: o primeiro-ministro, conde Mosca (Tullio Carminatti), amante de La Sanseverina; o sinistro chefe de polícia Rassi (Lucien Coëdel), que quer ocupar o lugar de Mosca; o monarca Ernest IV (Louis Salou), interessado em La Sanseverina; e o anarquista Ferrante Palla (Attilio Dottesio), que durante uma revolução assassina Ernest. Finalmente, Fabrice se interna para o resto de sua existência em um convento.

Gérard Philipe e Maria Casarès em A Sombra do Patíbulo

Gérard Philipe em A Sombra do Patíbulo

Gérard Philipe e Renéee Faure em A Sombra do Patíbulo

Christian-Jaque adaptou com muita liberdade a obra de Stendhal, transformando um grande romance em um mero filme de aventuras. Concentrado no simples jogo das intrigas, o espetáculo é muito bom, graças aos acontecimentos rocambolescos – aos quais o diretor deu bastante vivacidade -, aos esplêndidos cenários, ao cuidado com que foram compostas as imagens e aos serviços prestados por intérpretes experientes. Entre eles, destaca-se a presença de Gérard Philipe, um Fabrice ardente e romântico à altura do herói stendhaliano.

Os dois filmes seguintes de Gérard, Une Si Jolie Petite Plage / 1948 e Tous les Chemins Mènent à Rome / 1948, tiveram resultados diferentes: o primeiro filme, resultou bem melhor do que o segundo.

Em Une Si Jolie Petite Plage, dirigido por Yves Allégret, Pierre Monet (Gérard Philipe) chega em uma noite chuvosa a uma praia no norte da França. Ele se dirige ao hotel de Mme. Mayeu (Jane Marken), sobrinha do antigo proprietário paralítico, que parece reconhecer o rapaz, mas não pode falar. Mme. Mayeu maltrata um órfão de 15 anos da Assistência Pública, que uma ricaça usa para seus caprichos sexuais. Pierre esteve outrora nessa mesma situação. Foragido da Assistência Pública, maltratado pelo velho hoteleiro, ele fugiu com uma cantora mais velha, assassinou a amante e, procurado pela polícia, voltou ao lugar de sua adolescência. Marthe (Madeleine Robinson), uma criada do hotel, tenta ajudá-lo, mas ele se suicida.

Gérard Philipe e Madeleine Robinson em Une Si Jolie Petite Plage

Trata-se de um drama profundamente triste, típico do realismo negro, que sucedeu no pós-guerra ao realismo poético. A história que tem suas raízes no passado, é contada em um estilo indireto, sem nenhum retrospecto. A verdade é revelada pouco a pouco, através do comportamento de Pierre e da cantora assassinada, evocada por um velho disco, que os clientes do hotel costumam escutar. A ação transcorre em uma atmosfera pesada de chuva e nevoeiro incessantes, criada por uma excepcional fotografia em preto e branco. Gérard Philipe vive um de seus melhores papéis no cinema, compondo com muita sobriedade o perfil do jovem criminoso atormentado, que retorna àquela “pequena praia tão bonita”, para encontrar seu destino

Em Tous le Chemins Mènent à Rome, dirigido por Jean Boyer, Gabriel Pégase (Gérard Philipe), jovem geômetra amalucado, vai para Roma com sua irmã Hermine (Marcelle Arnold), a fim de participar de um congresso. No caminho, eles encontram Laura Lee (Micheline Presle), uma atriz. Obcecado por romances policiais, Gabriel pensa que esta última está sendo perseguida por gangsters e se oferece para protegê-la. Laura, que procura viajar incógnita, aproveita da ingenuidade do jovem para escapar dos jornalistas. Depois de perseguições inverossímeis, Gabriel e Laura chegam a Roma, onde eles descobrirão a felicidade.

Micheline Presle e Gérard Philipe em Tous les Chemins Mènent a Rome

Infelizmente, um ponto de partida inteligente e situações originais imaginadas pelo roteirista Jacques Sigurd foram desperdiçados por uma direção fraca, que transformou a possibilidade de uma boa comédia à moda americana em um espetáculo que suscita tímidos sorrisos apesar do esforço dos intérpretes para dar credibilidade aos seus personagens.

Entre a Mulher e o Diabo / La Beauté du Diable / 1949 marcou o primeiro encontro de Gérard Philipe com René Clair. Embora costumasse escrever sozinho o argumento e os diálogos de seus filmes, o cineasta apelou para a colaboração do conhecido dramaturgo Armand Salacrou, para ajudá-lo a atar e desatar os fios das maquinações deste Fausto moderno. Na versão deles, o velho professor Fausto (Michel Simon) recebe a visita de Mefistófeles (Gérard Philipe). Fausto se recusa a lhe vender sua alma em troca da juventude, o que, no entanto, Mefistófeles lhe concede sem fazer nenhuma exigência. Fausto recupera sua aparência de vinte anos e encontra a cigana Margarida (Nicole Besnard), que se apaixona por ele. Porém, ele se dá conta de que a juventude não vale nada sem dinheiro e assina o pacto com o diabo. Mefistófeles, que tomou as feições do velho Fausto, ensina-lhe a fabricar ouro e o introduz na corte do príncipe regente. Fausto recebe todas as honrarias e se torna amante da princesa (Simone Valère). Quando Mefistófeles cobra a sua parte no acordo, Fausto não quer mais cumprí-lo.

Gérard Philipe em Entre a Mulher e o Diabo

Gérard Philipe e Michel Simon em Entre a Mulher e o Diabo

René Clair dirige Gérard Philipe e Nicole Besnard em Entre A Mulher e o Diabo

Nicole Besnard e Gérard Philipe em Entre Deus e o Diabo

Gérard Philipe e Simone Valère em Entre a Mulher e o Diabo

Eis aqui a velha lenda do Fausto, que exprime dois grandes temas da humanidade: a nostalgia da juventude perdida e a tentação do poder. Apesar da magnitude e da seriedade do assunto, René Clair tratou seu filme em um tom de fantasia. O espetáculo propicia um confronto entre dois atores absolutamente fora de série: Gérard Philipe como um Fausto diabolicamente rejuvenescido e Michel Simon como um diabo truculento. As cenas nas quais Fausto ainda não está habituado com o seu corpo de jovem e conserva a maneira de andar e os tiques de um ancião ou aquelas nas quais, até então desligado dos bens deste mundo, ele é subitamente habitado por um anjo do mal barbudo, debochado e concupiscente, bastam para demonstrar o talento extraordinário dos dois intérpretes.

Nos anos cinquenta, os filmes em esquetes estava na moda e Gérard participou de dois: Lembranças do Pecado / Souvenirs Perdus / 1950 de Christian-Jaque e Conflitos de Amor / La Ronde / 1950 de Max Ophuls

No primeiro filme, quatro objetos perdidos e depois encontrados – uma estatueta de Osiris, uma corôa mortuária, uma echarpe de peliça e um violão – fornecem os temas de quatro esquetes, cada qual interpretado por grandes atores do cinema francês (Edwige Feuillère, Pierre Brasseur, François Périer, Bernard Blier, Yves Montand. Suzy Delair, Armand Bernard). Gérard Philipe participou do episódio da echarpe, como um homem que estrangulou sua antiga amante e depois o médico que mandou interná- lo em um asilo. Ao fugir da polícia, ele encontra uma jovem (Danièle Delorme) prestes a se suicidar nas margens do Sena, e a leva para um quarto, onde lhe revela que foi internado por sórdidas questões de interesse: sua família colocou-o no asilo para se apropriar de sua fortuna. Ele acaba estrangulando a jovem com a echarpe.

Simone Signoret e Gérard Philipe em Conflitos de Amor

No segundo filme, um narrador (Anton Walbrook) faz a A Roda do Amor girar como um carrossel e apresenta os amores da prostituta Léocadie (Simone Signoret) com o soldado Franz (Serge Regiani). Depois, Franz seduzindo a empregadinha Marie (Simone Simon) que iniciará no sexo o jovem de boa família Alfred (Daniel Gélin) que, por sua vez, faz sucumbir a virtude de Emma (Danielle Darrieux), uma mulher casada. Emma se reune com seu marido Charles (Fernand Gravey) em seu leito conjugal. Charles busca uma aventura amorosa com a costureirinha Anna (Odette Joyeux), que é presa fácil do poeta-dramaturgo Robert Kuhlenkampf (Jean-Louis Barrault), que a abandona, para se encontrar com a atriz (Isa Miranda) que, a seu turno, se entregará ao conde (Gérard Philipe). Ele não voltará para um segundo encontro, passando a noite com Léocadie. E assim a Roda termina, precisamente onde havia começado.

Gérard já era um ator célebre quando atuou em Juliette ou la Clé des Songes / 1950 e seu diretor, Marcel Carné, desde o primeiro dia de filmagem ficou surpreso com a atitude deste jovem tão diferente dos outros, que procurava aprofundar, sem cessar, seu personagem. Durante seu trabalho, ele não deixava nada ao acaso ou à improvisação, tudo era estudado, calculado, anotado. “Um dia em que nós discutíamos calmamente – como sempre era o caso com ele – a entonação de uma frase, ele abriu a sua cópia do roteiro e me mostrou o que havia escrito à margem de uma cena, neste lugar preciso, o sentimento que ele pretendia exprimir. Ele não podia modificá-la, porque – ele virava as páginas procurando – dez páginas mais adiante uma outra réplica, que estava igualmente anotada, um outro sentimento expresso, contrabalançava com o anterior. Todo o roteiro era assim repleto de reflexões, de observações ou de reações, formando um todo bastante meditado, do qual ele não tinha intenção de se afastar.”(Marcel Carné em Ma Vie À Belles Dents – Mémoires, l’Archipel, 1996).

Gérard Philipe e Suzanne Cloutier em Juliette ou la Clé des Songes

No filme de Carné, Gérard Philipe é Michael Grandier, um jovem vendedor, que ama Juliette (Suzanne Cloutier), sua companheira de trabalho. Para oferecer à sua colega algumas horas de perfeita felicidade à beira mar, ele rouba dez mil francos da caixa registradora de seu patrão, Monsieur Bellanger (Jean-Roger Caussimon). Quando retornam, Michel é preso e na prisão, ele adormece e sonha. Subitamente, o rapaz se vê livre e do lado de fora depara com um ambiente campestre, céu azul e o canto dos pássaros. Ele chega ao topo de uma montanha e avista uma aldeia totalmente branca. Todos os habitantes perderam a memória. Apenas um acordeonista (Yves Robert) é capaz de lembrar do passado enquanto está tocando seu instrumento. Na aldeia, Michel encontra Juliette novamente, mas ela também perdeu a memória. Ele a segue até um castelo, habitado por um nobre estranho e barbudo, (Jean Roger Caussimon), que é uma espécie de Barba Azul. Ao saber que o Barba Azul subjuga Juliette e vai se casar com ela, Michel subleva os aldeões e os lança em um assalto ao castelo. Arrombando as portas dos armários, eles encontram vestidos sujos de sangue e alianças. Quando finalmente Michel tenta arrancar Juliette do poder do Barba Azul, ouve-se um som estridente. Este toque, que é o da prisão, desperta Michel na sua cela. Ele é conduzido à presença do comissário, que é o retrato vivo de um guarda que ele encontrara no País das Pessoas Sem Memória, e lhe informa que seu patrão, a pedido de Juliette, retirou a queixa contra ele. Michel vai ser libertado. Um pouco mais tarde, ele ouvirá da própria Juliette, que ela vai se casar com seu patrão, que ele reconhece como o Barba Azul do seu sonho. Michel foge de novo. Juliette corre atrás dele. Michel para diante de uma placa, onde está escrito: Perigo de Morte. Juliette passa sem vê-lo, e ele empurra uma porta, que atravessa sem hesitar. Suicídio ou evasão, Michel volta para o País das Pessoas Sem Memória.

Gérard Philipe em Juliette ou la Clé des Songes

 

Jean Cocteau havia adaptado para o cinema a peça de Georges Neveu. Sob direção de Marcel Carné, André Paulvé deveria ser o produtor e Jean Marais o intérprete principal. Dificuldades impediram a realização do filme, que só veio a ser produzido mais tarde por Sacha Gordine, sem Jean Marais, e com uma adaptação de Jacques Viot, bem diferente daquela feita por Cocteau. Selecionado para o Festival de Cannes, o filme foi um fracasso retumbante. Entretanto, Juliette ou la Clef des Songes não é um filme desprezível. Embora não tivesse sido um espetáculo perfeito, por causa da percepção de uma certa frieza no conjunto desse conto de fadas, os cenários soberbos de Alexandre Trauner, iluminados e filmados por Henri Alekan, (as cenas na floresta são absolutamente maravilhosas), a música melodiosa de Joseph Kosma, e a técnica experiente do diretor, conseguiram criar uma atmosfera onírica, que não deixa de ter o seu encanto. Quanto à Gérard Philipe, ele teve uma interpretação digna do seu talento nos limites do papel que lhe foi confiado.

Gérard Philipe no palco como Le Cid

Em 1951, Jean Vilar, que assumira a direção do Théâtre National Populaire (TNP), convida Gérard a integrar sua trupe e interpretar “Le Prince de Hombourg” de Kleist e “Le Cid” de Pierre Corneille, e ele aceita com entusiasmo. Os que viram “Le Cid” e a performance de Gérard no papel mais mumificado da tragédia francêsa, jamais o esquecerão. Fogoso, apaixonado, sensível, romanesco, ele conseguiu o que o teatro não havia conhecido desde Mounet-Sully: uma criação de instantes perfeitos”. (Armand Gatti – Paris-Match, citado por Maurice Périsset no seu magnífico livro Gérard Philipe ou la jeunesse du monde, Ouest-France 1985).

Gérard Philipe e Jean Vilar

Gérard Philipe no palco com Gaby Silvia em Ruy Blas

Gérard garantiu um imenso sucesso popular ao repertório clássico em Paris, em excursões, e no Festival de Avignon, participando de várias peças também como diretor ou sob as ordens de Jean Vilar, notadamente em Ruy Blas (1954), dizendo com perfeição os belos versos tão numerosos de Victor Hugo.

Gérard e sua esposa Anne

Em 29 de novembro de 1951 Gérad se casou com Nicole Fourcade, uma etnóloga com a qual já vivia desde 1946, na prefeitura de Neuilly-sur-Seine, após o divórcio dela. Ele pediu a sua esposa que readotasse seu primeiro prenome, Anne, que ele achava mais poético. Eles tiveram dois filhos, Anne-Marie Philipe, que se tornou escritora e atriz e Olivier Philipe.

Gérard não abandonou o cinema e em 1952 fêz Fanfan la Tulipe / Fanfan la Tulipe de Christian-Jaque. Eis o resumo do argumento: a bela cigana Adeline (Gina Lollobrigida) revela a Fanfan (Gérard Philipe) que ele se cobrirá de glória no exército e se casará com a filha do rei. Fanfan consegue salvar de uma emboscada a Marquesa de Pompadour (Geneviève Page) e a própria Henriette de France (Sylvie Pélayo). Desejoso de rever Henriette, Fanfan penetra clandestinamente no castelo, mas é preso e condenado à fôrca. Adeline, que o ama, obtém a graça do rei. Mas como ela se recusa a “agradecer” o gesto do monarca, este encarrega seu homem de confiança, Fier-à-Bras (Nöel Roquevert), de raptá-la. Mas Fanfan vai salvá-la.

Gérard hilipe em Fanfan la Tulipe

Gérard Philipe e Gina Lollobrigida em Fanfan la Tulipe

Gérard Philipe e Gina Lollobrigida em Fanfan la Tulipe

Seguindo a fórmula de Alexandre Dumas, Christian-Jaque entrecruza personagens da história da França, em particular Luis XV e madame de Pompadour, com criaturas de ficção, em um redemoinho de peripécias cheias de charme, fantasia e humor. Fanfan torna-se, graças ao talento de Gérard Philipe, uma espécie de herói saltitante à maneira de Douglas Fairbanks, pronto para enfrentar o irascível ferrabrás (magnificamente composto por Nöel Roquevert) com uma agilidade e um entusiasmo que eletrizam o público. É preciso render homenagem ao diretor, que impôs ao espetáculo uma animação que não se enfraquece em nenhum momento, seja nas cenas de ação ou nas passagens mais intimistas.