Foi a estrela mais exótica do cinema nos anos vinte. Tinha uma vida de rainha da tela rica-e-famosa, em uma mansão luxuosa de Beverly Hills. Quando saía para dar uma volta pela cidade em uma limousine da marca Piece-Arrow conduzida por um chofer de libré, usava um casaco de pele, cobria-se de jóias caríssimas, e levava consigo seus dois cães russos, sentados um de cada lado de sua dona.
Jeanine Basinger (Silent Stars, Wesleyan University, 1999) reforça a lenda de que ela desfilava com um tigre de coleira pelo Sunset Boulevard e confirma o fato real de que foi ela quem lançou a moda do turbante e também pintar as unhas dos pés e das mãos com um vermelho da cor de um carro de bombeiros. Sergio Delgado deu ao seu livro sobre a atriz – do qual extraí algumas informações – o subtítulo de “The Temptress of Silent Hollywood” (McFarland, 2016). Aquí no Brasil, onde desfrutava de muita popularidade, ela era chamada de “A Divina Dominadora”.
Pola Negri, cujo verdadeiro nome era Barbara Apolonia Chalupec, nasceu no dia 3 de janeiro de 1897 na cidade de Lipno em uma Polonia ocupada pelos russos, filha de Jerzy Mathias Chalupec e Eleonora de Kielczewska. Seu pai era um imigrante eslovaco e tinha sangue cigano nas veias. Ele foi preso em 1902 pelos russos por atividades revolucionárias, julgado por um tribunal militar, e mandado para a Prisão Pawiac em Varsóvia. Subsequentemente, Apolonia e sua mãe se mudaram para lá a fim de ficarem perto de Jerzy. Eleonora vendeu a casa da família e, com o dinheiro, comprou uma mercearia na Rua Browarna nº11 embora não tivesse a menor experiência neste negócio; a mercearia acabou fechando, e ela foi trabalhar como cozinheira na casa de uma senhora judia rica.
Em 1911, Apolonia foi aceita no Academia de Balé Imperial de Varsóvia e passou os próximos dois anos estudando a técnica e aguardando sua estréia profissional na dança. Durante este tempo, o recurso interposto por seu pai foi negado e as autoridades russas o tranferiram para uma prisão na Sibéria. Após sua graduação em 1913, Apolonia ingressou na Companhia de Balé de Varsóvia e sua primeira apresentação solo foi no papel da boneca dançarina no balé Coppelia, coreografado por Michael Folkine. Seu desempenho chamou a atenção do rico patrono das artes ucraniano Kazimierz Hulewicz. Ele se interessou pelo bem-estar da família e se tornou uma espécie de figura paterna substituta para Apolonia.
Quando ela foi vitimada pela tuberculose, Hulewicz pagou seu tratamento em um sanatório em Zakopane nos Cárpatos. Apolonia se recuperou da enfermidade, mas não ficou com um estado de saúde que lhe permitisse seguir a carreira de bailarina. Ela então decidiu entrar para a Academia Imperial de Artes Dramáticas, mas como sua mãe e Hulewicz, preocupados com sua saúde, se opuzessem, Apolonia inscreveu-se sem que eles soubessem, usando um pseudônimo. A escolha de “Pola” como primeiro nome era natural, mas ela precisava de um sobrenome para ocultar sua identidade. Lembrando-se de um livro da poetisa italiana Ada Negri, que admirava quando criança, Apolonia adotou seu último nome como uma homenagem. Assim, Apolonia Chalupec tornou-se “Pola Negri”.
Como performance para a sua graduação, Pola interpretou o papel de Hedwig em Vildanden (O Pato Selvagem) de Henrik Ibsen, e se saiu tão bem, que recebeu um convite para ingressar no Rozmaitosci, o teatro nacional da Polonia. Hulewicz aconselhou-a a recusar a oferta, sugerindo-lhe que aguardasse até que eles lhe fizessem uma proposta para interpretar papéis importantes. Ele persuadiu Kazimerz Zalewski, dono do Pequeno Teatro de Varsóvia, a dar a oportunidade para Pola. Ela estreou como Aniela na peça Sluby Panienskie. Logo depois, tal como Hulewicz previra, o Teatr Rozmaitosci voltou a fazer uma oferta, desta vez oferecendo a Pola o papel principal feminino em uma nova versão de O Pato Selvagem e em Hanneles Himmelfahrt de Gerhart Hauptmann.
Em 1914, Pola fez seu primeiro filme, Niewolnika zmysló, dirigido por Jan Pawlowski para uma pequena companhia denominada Sfinx Films. Em seguida, a Sfinx contratou-a para mais 8 filmes dirigidos por Aleksander Hertz: Zona /1915, Czarna ksiazecka / 1915, Studenci / 1916, Pokoj Nr. 13 / 1917, Bestia / 1917; Tajemnica Alej Ujazdowskioch / 1917, Arabella / 1917, e Jego ostatni czyn / 1917.
Como resultado de sua atuação como “A Dançarina do Deserto” na versão do Rozmaitosci da patomima-balé Sumurun, Pola recebeu convite de Max Reinhardt para aparecer na reencenação da peça em Berlim. Sua personagem era interpretada inteiramente em pantomima, e para isso o seu treinamento de balé ajudou. A temporada de Sumurun, colocou-a em contato com Ernst Lubitsch, que fazia parte do elenco. Lubitsch estava ansioso para dirigir filmes e convenceu Pola a assinar um contrato com a UFA. Antes porém, ela fez seis filmes para Saturn Films: Sonho que se Desfaz / Nicht lange täuschte mich das Glück / 1917; Zügelloses Blut / 1917; Rosen, die der Sturm entblättert / 1917; Die toten Augen / 1917; Küsse, die Man stiehlt in Dunkeln / 1918; Wenn das Herz in Hass erglüth / 1918, todos dirigidos por Kurt Matull.
Pola ficou três anos sob contrato na UFA fazendo filmes com e sem Lubitsch atrás das câmeras. Em 1918, ela apareceu em Mánia / Mania, Die Geschichte einer Zigarettenarbeiterin (Dir: Eugen Illés); Múmia / Die Augen der Mumie Ma (Dir: Ernst Lubitsch); O Passaporte Amarelo / Der gelbe Schein (Dir: Eugen Illés, Viktor Janson) e Carmen / Carmen (Dir: Ernst Lubitsch). Em 1919: Madame DuBarry / Madame DuBarry (Dir: Ernst Lubitsch); O Circo da Vida / Das Karussell des lebens (Dir: Georg Jacoby); Crucificai-a / Kreuzig Sie! (Dir: Georg Jacoby); Condessa Doddy ou Meio Milhão por um Marido / Komtesse Doddy (Dir: Georg Jacoby); Vertigem / Rausch (Dir: Ernst Lubitsch) e Vendetta / Vendetta (Dir: Georg Jacoby). Em 1920: A Marquesa D’Armiani / Die Marchesa d’Armiani (Dir: Alfred Halm); Sumurum / Sumurun (Dir: Ernst Lubitsch); Martírio ! / Das Martyrium (Dir: Paul L. Stein); Die geschlossene Kette (Dir: Paul L. Stein) e Violeta / Arme Violetta (Dir: Paul L. Stein). Em 1921: Gatinha Amorosa / Die Bergkatze (Dir: Ernst Lubitsch); Sapho / Sappho (Dir: Dimitri Buchowetzki); A Modista de Montmartre / Die Flamme (Dir: Ernst Lubitsch).
Os melhores – segundo opinião dos que viram todos – foram os filmes dirigidos por Lubitsch, sobre os quais já me manifestei mais longamente no meu artigo Ernst Lubitsch I de 12 / 9/ 2011, ao qual remeto o leitor.
Madame DuBarry, causou sensação. Os críticos ficaram maravilhados com sua suntuosidade e elogiaram a habilidade de Lubitsch ao conduzir as cenas de multidão, o que lhe valeu o título de “O Griffith Alemão”. Pola recordou mais tarde um momento tenso durante a produção do filme. Em 1919, o nível de desemprego era muito alto na Alemanha. Quando Lubitsch pôs um anúncio recrutando mil figurantes para uma cena de multidão, mais de três mil se apresentaram no estúdio pela chance de ganhar alguns marcos por um dia de trabalho. Eles se recusaram a serem rejeitados, e a A UFA, temendo uma tumulto, contratou todos.
Gosto muito de uma cena do filme na qual a DuBarry, astuciosamente, senta no colo de Louis XV (Emil Jannings), deixando seu peito bem debaixo do nariz dele. Ela colocara sua petição sob o vestido a fim de que o rei tivesse que retirá-la dali. Ele faz isso, lê cuidadosamente o que está escrito no pedido, assina, e então, também espertamente, insiste em colocar o documento de volta no seu “envelope”.
Após terminar Madame DuBarry, Pola retornou ao seu país natal pela primeira vez em três anos. No final da guerra, a Polonia havia se libertado dos seus ocupantes russos e era agora uma nação independente. Pola estava muito contente em rever sua mãe e passou algum tempo visitando alguns velhos amigos. Logo a UFA estava chamando-a de volta para começar seu próximo filme, mas seu regresso à Alemanha foi retardado inesperadamente pelo seu casamento em 1920 com o Conde Eugene Dombski. O matrimônio durou menos de um ano.
O próximo filme de Pola na UFA foi uma adaptação de Sumurun, dirigido por Lubitsch. O papel deu-lhe a oportunidade de expressar toda a sua sensualidade na tela. Na vida real, ela iniciou uma relação amorosa com Wolfgang Schleber, rico industrial alemão, que ela apelidou de “Polonius”, porque o perfil dele lembrava uma escultura romana.
Quando três dos seus filmes foram exibidos nos Estados Unidos: Carmen, reintitulado de Gypsy Blood; Madame DuBarry reintitulado de Passion e Sumurun, reintitulado de One Arabian Night, o público norte-americano ficou perplexo com a beleza e o magnetismo pessoal de Pola Negri. Diante da popularidade de Passion em Nova York, a Famous Players Lasky, obteve a concordância de Lubitsch e Pola de irem para a América, assim que seu contrato com a UFA expirasse. Os dois artistas fizeram ainda na Alemanha, Gatinha Amorosa na UFA e A Modista de Montmartre na Europäisch Film-Allianz (EFA), sendo que Pola ainda trabalhou para a UFA em Sapho sob a direção do russo Dimitri Buchowetzki. A saída da Alemanha significou o fim do relacionamento de Pola com Schleber que, na verdade, não quís mais saber dela. Na véspera de sua partida para a América, Pola recebeu a documentação a respeito de seu divórcio de Eugene Dombski.
Dos vinte filmes de Pola na Famous Players Lasky (denominada Paramount Famous Lasky Corporation a partir de 1927) – A Bela Diana / Bella Donna / 1923 (Dir: George Fitzmaurice); Beijos que se Vendem / The Cheat / 1923 (Dir: George Fitzmaurice); A Dançarina Espanhola / The Spanish Dancer / 1923 (Dir: Herbert Brenon); Pecados de Paris / Shadows of Paris / 1924 (Dir: Herbert Brenon); Homens … / Men / 1924 (Dir: Dimitri Buchowetzki); Lírio do Lodo / Lily of the Dust / 1924 (Dir: Dimitri Buchowetzki); Paraíso Proibido / Forbidden Paradise / 1924 (Dir: Ernst Lubitsch); Escrava de sua Beleza / East of Suez / 1925 (Dir: Raoul Walsh); A Irresistível / The Charmer / 1925 (Dir: Sidney Olcott); Flor da Noite / Flower of the Night /1925 (Dir: Paul Bern); A Condessa Democrata ou A Condessa Tatuada / A Woman of the World / 1925 (Dir: Malcolm St. Clair);
Mentiras / The Crown of Lies / 1926 (Dir: Dimitri Buchowetzki); A Viuvinha Americana / Good and Naughty / 1926 (Dir: Malcolm St. Clair) ; Hotel Imperial / Hotel Imperial / 1927 (Dir: Mauritz Stiller); Amai-vos uns aos Outros / Barbed Wire / 1927 (Dir: Rowland V. Lee); A Ré Amorosa / The Woman on Trial / 1927 (Dir: Mauritz Stiller); A Hora Secreta / The Secret Hour /1928 (Dir: Rowland V. Lee); Morta para o Mundo / Three Sinners / 1928 (Dir: Rowland V. Lee); Rachel ou Os Amores de uma Atriz / Loves of an Actress / 1928 (Dir: Rowland V. Lee); Coração de Eslava / The Woman from Moscow / 1928 (Dir: Ludwig Berger) – a maioria se perdeu; um filme ainda existe em versão muito reduzida (A Dançarina Espanhola); outros, completos, em arquivos europeus (A Bela Diana) ou americanos (Paraíso Proibido); e três, também na forma original, disponíveis em dvds de domínio público (A Condessa Democrata, Hotel Imperial, Amai-vos uns aos Outros).
Seus melhores filmes no período de sua permanência nos Estados Unidos foram Paraiso Proibido e Hotel Imperial. Sobre o primeiro, encaminho o leitor mais uma vez para o meu artigo sobre Lubitsch postado em 12 / 9/ 2011. Nesta combinação feliz de comédia, romance e intriga Pola interpretou o papel da Czarina Catarina da Rússia, papel perfeito para ela, e teve como coadjuvante um elenco excelente que incluía o simpático Rod La Roque como seu amante Alexei, Adolphe Menjou como um chanceler cortês, e Pauline Starke como a ingênua que ama Alexei. Segundo Janine Basinger, percebendo quanto Pola é eficiente neste filme, podemos dar crédito ao parecer expressado por alguns historiadores do cinema, segundo o qual Hollywood na verdade destruiu Pola Negri, porque não lhe proporcionou sempre um material sofisticado e inteligente, para que ela demonstrasse a amplitude de seu talento.
Hotel Imperial, dirigido por Mauritz Stiller, produzido por Erich Pommer, roteirizado por Jules Furthman e fotogafado por Bert Glennon, foi refilmado em em 1939 como Hotel Berlim / Hotel Berlin / 1945 (Dir: Peter Godfrey) e sua trama não é muito diferente do entrecho de Cinco Covas no Egito / Five Graves to Cairo / 1943 (Dir: Billy Wilder). Durante a Primeira Guerra Mundial, seis hussardos húngaros, cansados de lutar, rumam para uma cidade da fronteira, e descobrem que ela está ocupada pelas tropas russas. Durante um combate intenso, o Tenente Paul Almasy (James Hall) foge, perseguido pelos russos. Ele os engana, saltando do seu cavalo, e procurando abrigo no Hotel Imperial, aparentemente abandonado. Paul adormece, e, na manhã seguinte, é descoberto pelos criados Anna (Pola Negri), Elias (Max Davidson) e Anton (Otto Fries), que o levam para um quarto no andar de cima. Quando Paul acorda, eles lhe dizem que ele terá que ficar ali, porque não há jeito de levá-lo de volta para a sua unidade. Os russos, sob o comando do General Juschkiewitsch (George Siegmann), entram na cidade e estabelecem seu quartel-general no hotel. Anna convence Paul a passar por garçom até que ele encontre um meio de fugir. O general tenta seduzir Anna com perfumes e roupas caras e ela pede que ele poupe Paul, quando este é preso por estar sem documentos oficiais. Chega ao hotel um espião russo, Tabakowitsch (Mikhail Vavich), que havia roubado os planos de ataque dos húngaros. Paul decide interceptá-lo antes que ele os revele para o general. Durante um festa, Anna defende-se do assédio sexual do general enquanto Paul mata o espião no seu banho. Quando a morte é descoberta, Paul é interrogado pelos russos. Anna salva-o, mentindo que ele passara a noite com ela. Paul escapa durante a noite e o exército austro-húngaro contra-ataca. Os russos são expulsos da cidade e a unidade de Paul chega como libertadora. Paul e Anna se encontram brevemente, sabendo que eles terão pouco de tempo juntos antes dele seguir novamente para a luta.
Neste filme, Pola tem a chance de mostrar, mais do que nunca, todo seu talento e beleza. Sua personagem é linda e graciosa e lhe permite uma interpretação naturalista nos seus gestos, particulamente nas suas expressões faciais de medo, amor e ódio. Na melhor cena do espetáculo, quando o general, ao ouvir o alibi que Anna forjou para Paul, tenta tirar do seu corpo as roupas que ele lhe dera e ela o surpreende rasgando-as dramaticamente na frente de todos, o olhar de fúria de Pola é aterrador.
Após seu divórcio do Conde Dombski, Pola apareceu em manchetes e colunas de mexericos envolvida em romances com celebridades, mais notadamente com Charles Chaplin e Rudolph Valentino.
Pola conheceu Chaplin no Palais Heinroth em Berlim em 1919 e depois seu relacionamento se tornou um caso muito noticiado pela imprensa, dando origem à muitos rumores sobre o noivado dos dois, reproduzidos pela imprensa brasileira. Mas isto não aconteceu.
Ela foi apresentada a Valentino em uma festa à fantasia organizada por Marion Davies e William Randolph Hearst em San Simeon e, segundo consta – mas pode ter sido um golpe promocional por parte dos dois -, teria sido amante dele até a morte do ator em 26 de agosto de 1926. Pola causou sensação na mídia no enterro do grande latin lover em Nova York, onde “desmaiou” várias vêzes, porém a imprensa, entendeu que se tratava de um lance de publicidade. Ela sempre afirmou, durante toda a sua existência, que Valentino foi o grande amor de sua vida, mas, logo depois da morte dele, casou-se com o “Príncipe” Serge Mdivani. Serge e seus irmãos, David e Alexis, eram notorious mau caráter, falsos príncipes exilados, hábeis em persuadir mulheres ricas a se casarem com eles. Pola e Midvani divorciaram-se em 1932. Serge esbanjou o dinheiro de Pola; David deu o golpe em outra estrela, Mae Murray, e também torrou o numerário dela
A popularidade de Pola de fato caiu devido principalmente a uma série de filmes medíocres que ela fez e pelo cansaço do público da publicidade cheia de exagêros que a consumira. Além disso, Pola não era uma garota tipicamente americana. Seu tipo de mulher mundana e sofisticada tinha um poder de atração limitado, desagradando o público das cidades pequenas. Portanto, não foi uma surpresa a Paramount ter desistido de renovar seu contrato.
Quando a filmagem de seu derradeiro filme para a Paramount Famous Lasky terminou, Pola saiu do estúdio para sempre e, após passar algum tempo no seu castelo em Seraincourt (com seus 42 quartos, 22 criados, uma capela particular, vastos jardins floridos, riachos cheios de trutas, e uma rêde de labirintos subterrâneos que ligavam sua propriedade à cidade mais próxima), ela voltou para a frente das câmeras no Elstree Studio na Inglaterra como uma prostituta francêsa em Almas Perdidas ou A Rua das Almas Perdidas / The Way of Lost Souls (também conhecido como The Woman he Scorned) / 1929, produção de Charles E. Whittaker / Imperial Filmgesellschaft, dirigida por Paul Czinner. Foi seu último filme silencioso e um fracasso estrondoso, grande decepção para ela, que contava com uma carreira cinematográfica na Europa para melhorar sua reputação artística e recuperar sua glória nos Estados Unidos. Ao mesmo tempo, Pola sofreu outro dissabor, quando a Quebra da Bolsa de Valores de Nova York extirpou milhões de dólares de sua fortuna pessoal.
Ela retornou à América em maio de 1931, para assumir o maior risco de sua carreira profissional: o cinema falado. Porém agora possuia algo extra para oferecer aos produtores: uma voz de cantora aproveitável, para apoiar sua capacidade dramática.
Os testes na RKO mostraram que ela gravou com uma voz de contralto e com um forte sotaque, mas perfeitamente compreensível e, em consequência, propuzeram-lhe um contrato de três anos com um salário de 3 mil dólares semanais, menos da metade do que ela havia ganho no auge dos seus dias na Paramount. O projeto escolhido para a estréia de Pola no cinema sonoro foi Rainha e Mártir / A Woman Commands / 1932 (Dir: Paul Stein), a história de Maria Draga, cantora de cabaré que se tornou brevemente rainha da Sérvia. Apesar de todas as esperanças despositadas no novo projeto, o filme foi um desastre. O estúdio manteve Pola no seu quadro de artistas por algum tempo, e então deixou que o contrato dela expirasse.
Em 1933, Pola foi para a França, onde fez Fanatisme (Dir: Tony Lekain e Gaston Ravel), no qual interpretava o papel de uma dançarina italiana, Rosine Savelli, que é envolvida em uma conspiração contra Napoleão III; mas o espetáculo afundou nas bilheterias e a sua produtora, Via Film, quebrou.
Sem perspectivas na América, aconselhada por Carl Laemmle, ela aceitou o convite para estrelar um filme alemão, Mazurka / Mazurka / 1935 produzido pela Cine-Allianz (companhia fundada por Arnold Pressburger e Gregor Rabinovitch) e dirigido por Willi Forst. Laemmle assegurou Pola que, como católica, ela não teria problemas com o governo nazista. Entretanto, dois dias antes do início da filmagem os produtores receberam a notícia de que Goebels a havia proibido de estrelar o filme sob o fundamento de que ela era “não ariana”. O Ministro da Propaganda alegou que teria em seu poder cartas detalhando sua participação em atividades anti-germânicas durante a Primeira Guerra Mundial. Furiosa, Pola dirigiu-se ao embaixador polonês e lhe pediu para informar ao Dr. Goebbels que, se não pudesse trabalhar no filme, ela deixaria a Alemanha imediatamente. Enquanto fazia as malas para deixar o país, o estúdio recebeu a informação de que Hitler havia assinado uma ordem contradizendo a interdição de Goebbels.
No enredo de Mazurka, Lisa (Ingeborg Theek), aluna do conservatório de música, envolve-se românticamente com um maestro famoso, Grigorij Michailow (Albrecht Schoenhals), que a leva para uma boate, onde Vera Kowalska (Pola Negri), ex-cantora de ópera, se apresenta todas as noites. Quando Vera avista Michailow beijando Lisa durante o seu número, ela desmaia, e é carregada para o seu camarim. Reanimada, Vera pega uma arma e, enquanto Lisa e Grigorij se dirigem para a saída da boate, ela grita o nome de Grigorij e o alveja mortalmente. Durante o julgamento de Vera, vem à tona o motivo do crime. No passado, Vera era pupila de Grigorij, seu admirador; porém se casara com outro, com quem teve uma filha, Lisa. Quando o marido foi para a guerra, Vera se embriagou em uma festa e se entregou ao maestro. O marido, sabendo de tudo, deixou-a, e se casou novamente, obtendo a guarda de Lisa, que nunca soube que Vera era sua verdadeira mãe. Ao ver Lisa com Grigorij, Vera o mata, para defender a filha de um canalha.
Mazurka foi um sucesso (disseram que era o filme favorito de Hitler) e, em consequência deste êxito, Pola fez mais cinco filmes na Alemanha: Moscou-Xangai / Moskau- Shanghai / 1936 (Dir: Paul Wegener), A Mulher que Amou Demais / Madame Bovary / 1937 (Dir: Gerhard Lamprecht), Tango Noturno / Tango Notturno / 1937 (Dir: Fritz Kirchoff) e Falsária / Die fromme Lüge / 1937 (Dir: Nunzio Malasomma) e Die Nacht der Entscheidung /1938. (Dir: Nunzio Malasomma).
Refugiando-se da guerra, Pola voltou para a América. Cheia de dívidas, seu nome só era mencionado em relação a cobranças judiciais propostas contra ela. Acabou aceitando um pequeno papel coadjuvante como uma cantora de ópera de temperamento vulcânico em uma comédia maluca da United Artists, Casados sem Casa / Hi Diddle Diddle / 1943, dirigida por Andrew Stone.
Em Hollywood, Pola Negri “já era”. Então começou a cantar em boates, interpretando sempre sua canção mais conhecida, “Paradise”, e recordando incidentes ocorridos no seu tempo na “Cidade dos Sonhos” enquanto os colunistas recordavam sua “rivalidade” com Gloria Swanson, seu romance com Valentino, ou outros mitos como aquele passeio com um tigre pela rua. Um jornalista chegou a dizer que certa vez ela jogou o animal em cima de um repórter.
Novamente sem dinheiro, Pola encontrou uma grande amiga em Margaret West, personalidade do rádio, muito famosa no começo dos anos 30, que fôra casada com um negociante de obras de arte. Margaret ajudou-a financeiramente, e insistiu para que Pola retornasse à Europa em 1948, a fim de vender as jóias e outros bens que ainda possuia lá, e trazer sua mãe, Eleonora, para a América. Na sua volta, mãe e filha mudaram-se com Margaret para uma casa de praia alugada em Santa Monica. Depois, Pola e Margaret viveram juntas em outros locais, e Eleonora preferiu alugar uma moradia só para si. Pola diria que este foi o período mais feliz da sua vida. Ela e Margaret viveram uma vida social ativa, investiram em imóveis, e levantaram fundos para campanhas de caridade católicas.
Em 1951, Pola tornou-se cidadã naturalizada americana. Em 1955, Eleonora faleceu aos 93 anos de idade. Em 1960, Pola ficou novamente sob a luz dos refletores, quando recebeu uma estrela na Calçada da Fama do Holywood Boulevard. Em 1963, recebeu um convite da Walt Disney Company para aparecer em O Segredo das Esmeraldas Negras / The Moonspinners / 1964, a ser filmado na Inglaterra com Hayley Mills na frente do elenco. Ela inicialmente relutou em fazer uma viagem longa por uma pequena aparição, mas Margaret convenceu-a a fazer um último filme, para se retirar da tela formalmente como uma estrela. Pouco antes de Pola partir, Margaret morreu subitamente, vítima de um ataque cardíaco.
No seu derradeiro filme, Pola, aos 67 anos, está quase irreconhecível como Madame Habib, uma colecionadora de jóias pitoresca; porém seu solilóquio no final – quando, antes de se retirar para o seu quarto seguida por um leopardo de estimação, fala de seus casamentos fracassados e as guerras das quais sobreviveu – soa como um resumo de sua vida e uma homenagem à sua persona fílmica.
Em 1964, ela recebeu um prêmio pela sua contribuição para a indústria cinematográfica germânica. Em 1970, publicou a autobiografia, “Memoirs of a Star”, classificada pelos críticos como “uma obra de ficção”. Em 1975, o diretor Vincente Minelli ofereceu-lhe um pequeno papel em Questão de Tempo / A Matter of Life, mas Pola não pôde aceitar por causa de seu estado de saúde debilitado.
A “Divina Dominadora” sucumbiu a um câncer no cérebro em 1 de agosto de 1987, sendo enterrada perto de sua adorada mãe.