Alto, magro, reconhecido pelo público pela sua maneira de falar lenta e hesitante, James Stewart encarnou como ninguém a figura de um homem correto, tornou-se um símbolo do patriotismo como o primeiro ator de Hollywood a entrar para o serviço das Fôrças Armadas na Segunda Guerra Mundial, e conquistou uma popularidade consistente ao longo de toda a sua trajetória artística.
James Maitland Stewart (1908 – 1997) nasceu em Indiana, cidade da Pennsylvania, filho de Elizabeth Ruth Jackson e Alexander Maitland Stewart, dono de uma loja de ferragens muito próspera. Seus pais eram respectivamente de descendência irlandêsa e escocêsa e Stewart foi criado como Presbiteriano. Ainda bem jovem, ele aprendeu a tocar acordeão e, na escola secundária Mercersburg Academy, dedicou-se ao esporte, arte dramática e música. Durante as férias de verão, Stewart trabalhou com operário na construção de estradas. Posteriormente, na Universidade de Princenton, integrou o Triangle Club, trupe teatral da faculdade, passando rapidamente de acordeonista para papéis principais em comédias musicais. Formou-se em arquitetura em 1932.
A Depressão oferecia pouca procura por arquitetos, de modo que Stewart aceitou o convite de um colega de universidade, Joshua Logan, para ingressar na University Players, companhia intercolegial que apresentava peças teatrais apenas durante o verão em West Falmouth, Massachussetts. Ali ele conheceu Henry Fonda, que se tornaria um grande amigo por toda a sua vida.
No final da temporada, Stewart foi para Nova York, onde atuou brevemente em peças que ficavam pouquíssimo tempo em cartaz até que, a partir de 1934, recebeu um importante papel em “Yellow Jack”, como um soldado que servia de cobaia em uma pesquisa sobre febre amarela. Finalmente, na representação de “Divided by Three”, interpretando um jovem atordoado pelo adultério de sua mãe, chamou a atenção de um caçador de talentos da MGM. Depois de fazer alguns testes, ele assinou um contrato com “A Marca do Leão” em abril de 1935 com o salário de 350 dólares por semana. Por curiosidade, em 1934, ele já havia participado de uma comédia curta de Shemp Howard na Warner Bros., intitulada Art Troubles, que lhe serviu apenas para dizer no futuro, que havia contracenado com um dos Três Patetas. Como ele recordaria, “Eu não estava interessado em fazer o filme, mas a oferta de 50 dólares por dia parecia inacreditável para mim na época, e tive que saber se não era uma piada. Não era”.
O primeiro trabalho de Stewart no estúdio foi como participante de testes para as novas estrelinhas. A princípio ele teve dificuldade em ser escolhido para compor o elenco dos filmes por causa de sua aparência (muito alto – um metro e noventa um), magro, desajeitado, e uma presença na tela tímida e humilde. O ator relatou como a MGM tentou em vão aproveitá-lo no papel de um camponês chinês em Terra dos Deuses / 1937: “O trabalho de maquilagem durou toda a manhã. Eles colocaram uma careca de borracha na minha cabeça, puxaram minhas pálpebras com um adesivo, e cortaram minhas pestanas … Como eu era muito alto, eles tiveram que cavar uma vala, na qual eu entrei e caminhei lado a lado com o astro, Paul Muni. Então Muni começou a perder o equilíbrio, tropeçou, e caiu dentro da vala. Após três dias de tentativas, Mayer finalmente mandou parar, e deu o papel para Keye Luke”.
Stewart fez sua estréia em um longa-metragem como um repórter novato em Entre a Honra e a Lei / The Murder Man / 1935 ao lado de Spencer Tracy, que, percebendo sua aflição, lhe disse “para esquecer que a câmera estava lá” e depois recordaria que, desde a sua primeira cena, ele já demonstrava todas as aptidões para ser um bom ator.
Em seguida, Stewart ficou afastado das câmeras por três mêses, exceto para participar dos testes. Mas com Rose Marie / Rose-Marie / 1936, opereta estrelada por Jeanette MacDonald e Nelson Eddy, na qual fez um papel de destaque – o irmão fugitivo da heroína -, conseguiu garantir sua presença em mais oito filmes no mesmo ano: Amemos Outra Vez / Next Time We Love, emprestado para a Universal a pedido de Margaret Sullavan, a atriz principal do filme, que o estimulou a ser ele mesmo totalmente, e mais confiante nos seus dotes interpretativos; Ciúmes / Wife vs. Secretary, figurando em quarto lugar nos créditos, depois de Clark Gable, Jean Harlow e Myrna Loy, como um pretendente da secretária desempenhada por Harlow;
Garota do Interior / Small Town Girl, como rival romântico (e rústico) de Robert Taylor pelas afeições de Janet Gaynor; No Limite da Velocidade / Speed, no seu primeiro papel principal – como um mecânico obcecado em desenvolver um carburador mais aperfeiçoado – ao lado de Wendy Barrie; Mulher Sublime / The Gorgeous Hussy, como um dos namorados, além de Robert Taylor, Melvyn Douglas e Franchot Tone, da personagem de Joan Crawford; Nascí para Bailar / Born to Dance, como um marujo envolvido em um romance com Eleonor Powell, que é atrapalhado por Virginia Bruce – e ele canta “Easy to Love” para Eleonor, ajudado por Cole Porter; A Comédia dos Acusados / After the Thin Man, no papel surpreendente de um assassino em mais um filme da série The Thin Man, estrelada por William Powell e Myrna Loy.
Em 1937, Stewart foi novamente emprestado, desta vez para a 20thCentury-Fox, a fim de compor o elenco da refilmagem de Sétimo Céu / Seventh Heaven, como o limpador de esgotos enamorado de uma jovem sofrida das ruas de Montmartre (Simone Simon), e fez mais dois filmes na MGM: O Último Gangster / The Last Gangster e Juventude Valente / Navy, Blue and Gold, neles interpretando, respectivamente, um repórter que se casa com a ex-esposa de um gângster (Edward G. Robinson) e um cadete passando por atribulações na Academia Naval em Annapolis, ao tentar limpar a honra de seu pai.
O ano de 1938 foi muito vantajoso artisticamente para a carreira de Stewart, porque, depois de fazer na MGM: Ingratidão / Of Human Hearts, como o filho de um pregador religioso (Walter Huston) que se torna cirurgião graças aos esforços de sua mãe (Beulah Bondi) e O Último Beijo / The Shopworn Angel, como o inocente fazendeiro do Texas prestes a embarcar como soldado para a Primeira Guerra Mundial, relacionado sentimentalmente com uma irreverente artista do teatro de revista (Margaret Sullavan) e, na RKO: Que Papai Não Saiba / Vivacious Lady, como um professor de botânica assistente apaixonado por uma cantora de boate (Ginger Rogers), que custa a encontrar coragem para anunciar seu matrimônio a seus pais e à sua ex-noiva. Na RKO, ele se encontrou com Frank Capra, que seria responsável por três grandes sucessos do ator.
Foi o realizador nascido na Itália que solicitou Stewart da MGM para a adaptação da peça “You Can’t Take It With You” de George S. Kaufman e Moss Hart (intitulada no Brasil, Do Mundo Nada se Leva), na qual o ator, como o filho de um milionário (Edward Arnold) apaixonado pela neta (Jean Arthur) do patriarca (Lionel Barrymore) de uma família excêntrica, demonstrou uma espontaneidade maior do que a que Margaret Sullavan lhe havia sugerido e teve seu nome ligado pela primeira vez a uma produção premiada com o Oscar.
Ainda na década de trinta, Stewart fez mais cinco filmes: Nascidos para Casar / Made for Each Other, como um advogado as voltas com problemas no seu casamento (com a personagem de Carole Lombard); Folia no Gelo / The Ice Follies of 1939, compondo com Joan Crawford, um par de patinadores no gelo que vê seu matrimônio abalado quando ela busca o estrelato no cinema; Que Mundo Maravilhoso / It’s a Wonderful World, como um detetive particular que, ao fugir da polícia, depois de ter sido preso por uma acusação injusta, sequestra uma poetisa (Claudette Colbert), por quem se apaixona; A Mulher Faz o Homem / Mr. Smith Goes to Washington (com Jean Arthur na Columbia) e Atire a Primeira Pedra / Destry Rides Again (Com Marlene Dietrich na Universal), assumindo em ambos os traços de um jovem honesto, que luta contra a corrupção.
No primeiro filme (orientado mais uma vez por Frank Capra), como o senador idealista do interior, Stewart expressou admiravelmente as virtudes do bom moço americano, atingindo excepcional eloquência nas cenas finais, quando discursa por horas a fio. Stewart tinha que ficar rouco nos momentos derradeiros de sua obstrução, mas teve dificuldade em fingir sua rouquidão, principalmente quando tinha que projetar sua voz. Capra consultou um otorrinolaringologista e perguntou: “Doutor, o senhor sabe como reduzir a rouquidão, mas será capaz de induzí-la? “. “Sim, eu acho que posso”, ele respondeu. Duas vêzes ao dia a garganta de Stewart foi esfregada com algodão embebido de uma detestável solução de mercúrio, que inchava e irritava suas cordas vocais. O resultado foi espantoso. Pelo seu trabalho, Stewart recebeu sua primeira indicação para o Oscar.
No segundo filme, seu primeiro western, gênero com o qual se tornaria identificado mais tarde na sua carreira, Stewart também interpretou um rapaz decente, desta vez como o xerife pacifista de uma pequena cidade do faroeste, que expõe um bando de assassinos e impõe a justiça – pelo menos até o final da trama – sem necessidade de usar armas. Esses dois filmes foram até então os mais expressivos da carreira do ator.
Os últimos sete filmes de Stewart antes de os Estados Unidos entrarem na Segunda Guerra Mundial, foram: A Loja da Esquina / The Shop Around the Corner; Tempestades d’Alma / The Mortal Storm; A Vida é uma Comédia / No Time for Comedy (na Warner); Núpcias de Escândalo / The Philadelphia Story; Pede-se um Marido / Come Live With Me; Ouro do Céu / Pot O’ Gold (United Artists) e Este Mundo é um Teatro / Ziegfeld Girl, todos, salvo as duas exceções apontadas, produzidos pela MGM. Nos dois primeiros filmes Stewart foi respectivamente um húngaro, balconista de uma loja de calçados e um alemão anti-nazista (sem fazer nenhum esforço para imitar os sotaques), contracenando em ambos com Margaret Sullavan. Juntamente com Núpcias de Escândalo, no qual faz o papel de um repórter encarregado de cobrir um casamento na alta sociedade com sua colega (Celeste Holm), estes filmes se destacam dos outros cinco, principalmente pelo encaminhamento cinematográfico primoroso que lhe deram seus diretores, respectivamente Ernst Lubitsch, Frank Borzage e George Cukor.
Núpcias de Escândalo proporcionou a Stewart o Oscar de Melhor Ator. O próprio Stewart disse para todo mundo que o prêmio de melhor ator deveria ser concedido a seu grande amigo Henry Fonda pelo seu papel como Tom Joad em Vinhas da Ira / The Grapes of Wrath / 1940. Após ter perdido com A Mulher Faz o Homem no ano anterior, ele também deixou óbvio que não tinha desejo de presenciar outra noite agonizante, vendo os apresentadores abrindo envelopes. Stewart mudou de idéia, somente quando recebeu um telefonema enigmático de um representante da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas pouco antes da cerimônia marcada para acontecer no Biltmore Hotel. Segundo o ator, o homem disse, “Sei que não é da minha competência dizer isto, mas realmente acho que é do seu maior interesse comparecer”. Stewart pensou em dois significados para este convite: uma indicação de que ele ganhara o Oscar ou um aviso de que, se um indicado não comparecesse à cerimônia, poderia esquecer sobre outras indicações. Stewart era o único candidato a Melhor Ator presente no Biltmore Hotel em 27 de fevereiro de 1941, quando o apresentador Alfred Lunt anunciou o seu nome como vencedor. Antes mesmo dele subir ao palco para aceitar seu prêmio, já existia um consenso de que estava sendo honrado como compensação por ter sido recusado com A Mulher Faz o Homem doze mêses atrás.
Em A Vida é uma Comédia, Stewart é o autor de uma comédia de sucesso para uma atriz (Rosalind Russell), com quem se casa; mas as coisas se complicam, quando ele resolve escrever um drama de “significação social”. Em Pede-se um Marido, é um escritor maltrapilho que aceita um “empréstimo semanal” de uma imigrante (Hedy Lamarr), em troca de se casar com ela, salvando-a de ser deportada para o seu país controlado pelos nazistas. Em Ouro do Céu, é o gerente de uma loja de instrumentos musicais que, aliado à filha (Paulette Goddard) do dono de uma pensão, ajuda uma banda a fazer sucesso no rádio. Em Este Mundo é um Teatro, é um chofer de caminhão namorado de uma (Lana Turner) das três (as outras são Judy Garland e Hedy Lamarr) aspirantes a corista no Ziegfeld Follies.
Stewart, que já obtivera um brevê de piloto particular (em 1935) e um de piloto comercial (em 1938), foi convocado em outubro de 1940 para o Exército, mas não alcançou o peso exigido para os novos recrutas. Para chegar aos 65 quilos necessários, ele procurou ajuda do professor de musculação do ginásio da MGM, Don Loomis, que era famoso por sua capacidade de ajudar as pessoas a adicionar ou subtrair peso. Finalmente, Stewart conseguiu ser aceito, e se tornou o primeiro astro do cinema americano a vestir um uniforme na Segunda Guerra Mundial. Depois de prestar serviço militar, exercendo funções de propaganda no rádio e em curtas-metragens (v. g. Quem Quiser ter Asas / Winning your Wings) bem como de treinamento de pilotos de bombardeiros, ele foi promovido a capitão em 9 de julho de 1943, e designado comandante de esquadrilha. Após vários treinamentos, voou na sua primeira missão de combate em 13 de dezembro de 1943, para bombardear instalações de submarinos em Kiel na Alemanha e, três dias depois, Bremen.
Em 22 de março de 1944, executou sua décima segunda missão de combate, liderando uma esquadrilha em um ataque sôbre Berlim. Ele foi um dos poucos americanos a emergir de soldado raso a coronel em apenas quatro anos durante a Segunda Guerra Mundial, recebeu por duas vêzes a Distiguinshed Flying Cross, e foi agraciado também com a Croix de Guerre Francêsa e a Air Medal. Depois do fim do conflito mundial, Stewart foi promovido a coronel em 1953 e serviu como Comandante da Reserva da Fôrça Aérea. Em 23 de julho de 1959, foi promovido a general brigadeiro. Em 20 de fevereiro de 1966, voou como um observador em um B-52 em uma missão durante a Guerra do Vietnã. Após 27 anos de serviço, reformou-se em 31 de maio de 1968, recebendo a United States Air Force Distinguished Service Medal.
Retornando da guerra no final de 1945, Stewart não renovou seu contrato com a MGM e recorreu, como free lancer, à agência MCA, comandada por Lew Wasserman. Como seu primeiro filme depois de cinco anos, ele apareceu no terceiro e último filme com Frank Capra, A Felicidade Não Se Compra / It’s Wonderful Life / 1946. Capra comprou os direitos da história da RKO e formou (com Samuel Briskin e depois William Wyler e George Stevens) sua própria companhia produtora, Liberty Films. Stewart deu vida a George Bailey, um jovem banqueiro de uma pequena cidade, com dificuldades financeiras e existenciais que, levado ao suicídio na véspera do Natal, é salvo por um “anjo de segunda classe”, Clarence Odbody (Henry Travers), que o ajuda a reavaliar sua vida.
Embora tivesse sido indicado para o Oscar em cinco categorias (inclusive a terceira nomeação de Stewart para Melhor Ator), o filme recebeu críticas divergentes (alguns o julgaram demasiadamente sentimental) e obteve apenas um sucesso moderado na bilheteria. Entretanto, a partir da década de setenta, devido às suas constantes exibições na televisão na época do Natal, atingiu imensa popularidade, passou a ser considerado um clássico, e Stewart declarou em uma entrevista de 1973, que ele era seu filme favorito. Porém, como consequência do mau resultado financeiro da produção, a Liberty faliu.
Por intermédio de Wasserman, Stewart estrelou cinco filmes para diversas companhias: Cidade Encantada / Magic Town / 1947 (RKO com Jane Wyman), como um pesquisador de opinião pública que tenta encontrar a cidade que reflita perfeitamente o ponto de vista médio da população americana; Sublime Devoção / Call Northside 777 / 1948 (20thCentury-Fox com Richard Conte), como um jornalista que, convencido da inocência de um condenado, reabre um caso policial para prová-la; No Nosso Alegre Caminho / On Our Merry Way / 1948 (United Artists com Henry Fonda), com um músico de jazz em um dos três episódios nos quais um repórter pergunta às pessoas qual o impacto que uma criança teve nas suas vidas; Festim Diabólico / Rope / 1948 (Warner Brothers com Farley Granger e John Dall, depois de cogitados Cary Grant e Montgomery Clift), como ex-professor de dois assassinos, que matam um colega somente pela emoção de praticar o ato, e se desafiam a si próprios, oferecendo um jantar para os amigos e familiares do morto – com o cadáver escondido no local; A Conquista da Felicidade / You Gotta Stay Happy / 1948 (Universal com Joan Fontaine), como um piloto de avião de carga envolvido com uma noiva fugitiva. Sublime Devoção e Festim Diabólico foram os mais interessantes, não pela atuação de Stewart, mas pela adoção do estilo semidocuentário, no caso do primeiro e pela experiência técnica hitchcockiana de ausência recortes, no caso do segundo.
Os dois últimos filmes de Stewart nos anos quarenta, Sangue de Campeão / The Stratton Story e Malaia / Malaya, produzidos pela MGM em 1949, mostraram, pela ordem, o ator como o jogador de basebol que teve uma perna amputada em virtude de um acidente, mas não interrompeu sua carreira e como um jornalista que, juntamente com um presidiário (Spencer Tracy), transformado em mercenário, contrabandeavam a borracha dos japonêses na península malaia durante a Segunda Guerra Mundial. O primeiro obteve um êxito enorme na bilheteria e era ligeiramente melhor do que o segundo; porém ambos proporcionaram um bom divertimento.
No mesmo ano, Stewart casou-se com Gloria Hatrick, filha de Edgar Hatrick, responsável pelo cinejornal Metrotom Atualidades / Hearst Metrotone News (depois conhecido como Notícias do Dia / News of the Day) de William Randolph Hearst. Gloria era divorciada e tinha dois filhos e, com Stewart, teve gêmeas. Eles permaneceram casados até a morte de Gloria em 1994.
Os anos cinquenta foi o período dourado profissional de James Stewart, graças à negociação esperta de seu agente Lew Wasserman, que lhe abriu caminho para papéis mais variados – ex-entregador de correspondência a cavalo e batedor do exército que intermedia um acordo de paz com os Apaches em Flechas de Fogo / Broken Arrow / 1950 (20thCentury-Fox); vencedor de um concurso radiofônico que não consegue pagar os impostos sobre os prêmios que ganhou em Radiomania / The Jackpot (1950 20thCentury-Fox); solteirão que gosta de beber acima da conta, amigo de um coelho gigante invisível em Meu Amigo Harvey / Harvey / 1950 (Universal), atuação que rendeu mais uma indicação para o Oscar;
engenheiro que tenta desesperadamente convencer o piloto e os passageiros de que o avião que os transporta corre o risco de cair em Na Estrada do Céu / No Highway in the Sky / 1951 (20thCentury-Fox); palhaço com um passado misterioso em O Maior Espetáculo da Terra / The Greatest Show on Earth / 1952 (Paramount); inventor de um rifle famoso em Dupla Redenção / Carbine Williams / 1952 (MGM); célebre aviador Charles A. Lindbergh em Águia Solitária / The Spirit of St. Louis / 1957 (Warner Brothers); ex-funcionário de uma ferrovia cujo irmão (Audie Murphy) tenta roubá-la em Passagem da Noite / Night Passage / 1957 (Universal); editor assediado por uma bela feiticeira em Sortilégios do Amor / Bell, Book and Candle / 1958 (Columbia); agente do FBI em A História do FBI / The FBI Story / 1959 (Warner Brothers); advogado de defesa de um militar em Anatomia de um Crime / Anatomy of a Murder / 1959 (Columbia), suscitando mais uma recomendação para o prêmio da Academia – e para o seu trabalho, sob as ordens de dois grandes diretores: Anthony Mann e Alfred Hitchcock.
Eles o ajudaram a formar uma nova persona na tela, uma imagem mais complexa: seus personagens deixaram de ser aqueles inocentes tímidos que ele interpretou no final dos anos trinta e anos quarenta e deram lugar para protagonistas amargurados, irritados ou obsessivos, como os que ele interpretou nos cinco westerns maravilhosos de Anthony Mann, Winchester 73 / Winchester 73 / 1950 (Universal), ganhando uma fortuna pela participação nos lucros em vez de receber salário; E O Sangue Semeou a Terra / Bend of the River /1952 (Universal); O Preço de um Homem / The Naked Spur / 1953 (MGM); Região do Ódio / The Far Country / 1955 (Universal); Um Certo Capitão Lockhart / The Man from Laramie /1955 (Columbia) – ver meu post Os Westerns de Anthony Mann de 22 de março de 2010.
No anos cinquenta, ele fêz mais três filmes, nos quais foi: inventor (com Dan Duryea) de uma plataforma de perfuração de petróleo à prova de tempestades em confronto com pescadores de camarão na Louisiana em Borrasca / Thunder Bay / 1953 (Universal); famoso chefe de orquestra em Música e Lágrimas / The Glenn Miller Story / 1954 (Universal); jogador de basebol reconvocado para a Fôrça Aérea em Comandos do Ar / Strategic Air Command / 1955 (Paramount). Com Hitchcock, Stewart chegou ao auge de sua trajetória artística, participando de: Janela Indiscreta / Rear Window / 1954 (Paramount); O Homem Que Sabia Demais / The Man Who Knew Too Much / 1956 (Paramount) e Um Corpo Que Cai / Vertigo / 1958 (Paramount). Neste último filme, mais do que um homem obcecado, o personagem de Stewart é a própria obsessão personificada.
Stewart participou de treze filmes nos anos sessenta: O Homem Que Destrói / The Mountain Road / 1960 (Columbia), como um major encarregado de comandar um grupo de demolição na China, a fim de impedir o avanço dos japonêses durante a Segunda Guerra Mundial; Terra Bruta / Two Rode Together / 1961 (Columbia), como um xerife contratado para resgatar crianças e mulheres de pioneiros capturados pelos comanches, uns dez anos depois do rapto; O Homem Que Matou o Facínora / The Man Who Shot Liberty Valance / 1962 (Paramount), como um senador que se tornou famoso por ter eliminado um bandido perverso e, no enterro de um velho amigo (John Wayne), revela para um jornalista toda a verdade sobre seu feito;
As Férias de Papai / Mr. Hobbs Take a Vacation / 1962 (20th Century-Fox), como um banqueiro que deseja passar férias tranquilas em uma praia, porém sua esposa convida toda a família para ficar com eles; A Conquista do Oeste / How The West Was Won /1963 (20thCentury-Fox), como um caçador de ursos que ajuda uma família de pioneiros a se livrar de bandidos; Papai Não Sabe Nada / Take Her, She’s Mine /1963 (20thCentury-Fox), como presidente do conselho de diretores de uma escola que se mete em encrencas, tentando defender a virtude de sua filha adolescente;
Crepúsculo de uma Raça / Cheyenne Autumn / 1964 (Warner Brothers), como Wyatt Earp em um interlúdio de quatorze minutos; Minha Querida Brigitte / Dear Brigitte / 1965 (20thCentury-Fox), como professor adepto das ciências humanas cujo filho é um gênio da matemática com uma paixão por Brigitte Bardot; Shenandoah – Paraíso Perdido / Shenandoah / 1965 (Universal), como fazendeiro viúvo indiferente à Guerra Civil até sua família ser envolvida no conflito; O Vôo do Fênix / The Flight of the Phoenix / 1966 (20thCentury Fox), como piloto de um avião que caiu no deserto do Sahara ao transportar um grupo de trabalhadores de um campo de petróleo; Raça Brava / The Rare Breed / 1966 (Universal), como um vaqueiro de má sorte que concorda em levar um touro Hereford para um rancheiro; O Último Tiro / Firecreek / 1968 (Warner Brothers), como fazendeiro que enfrenta um bando de foras-da-lei; O Preço de um Covarde / Bandolero! / 1968 (20thCentury-Fox), como irmão de um bandido que procura ajudar a se regenerar, mas tem como ele, um fim trágico. O melhor filme foi O Homem Que Matou o Facínora, apesar da pobreza dos cenários de interiores e das cenas de exteriores terem sido rodadas dentro do estúdio.
Nos anos setenta, Stewart trabalhou um pouco mais na televisão, onde já vinha aparecendo desde 1955, e fez de início Cheyenne / The Cheyenne Social Club / 1970 (National General), como o caubói que recebe como herança deixada por um irmão, um clube que não passa de um bordel disfarçado e O Olho da Justiça / Fool’s Parade / 1971 (Columbia), como ex-presidiário que, com dois amigos, resolve abrir um negócio com o cheque de vinte e cinco mil dólares que economizou, mas tem que enfrentar um grupo de assassinos de ôlho no seu dinheiro, liderados por um policial corrupto e pelo dono do banco onde a importância vultosa seria sacada – ambos os filmes de pouca relevância na sua folha corrida cinematográfica. Depois de O Olho da Justiça, Stewart foi um dos narradores de Era Uma Vez em Hollywood / That’s Entertainment / 1974.
Na sua fase crepuscular como ator, Stewart apenas contribuiu com participações especiais, para enriquecer o elenco de alguns filmes: O Último Pistoleiro / The Shootist / 1976 (Warner Brothers), como médico que informa o pistoleiro protagonista (John Wayne) de que ele está morrendo de câncer; Aeroporto 77 / Airport’ 77 / 1977 (Universal), como bilionário que aguarda ansiosamente que a Marinha dos Estados Unidos remova seu jato luxuoso do fundo do oceano; A Arte de Matar / The Big Sleep / 1978 (Winkast/ITC), como milionário que contrata o detective Philip Marlowe (Robert Mitchum) para desmascarar um chantagista; A Magia de Lassie / The Magic of Lassie / 1981 (Lassie Productions), como viticultor que se esforça para reunir Lassie com sua neta; Afrika Monogatari, produção japonesa intitulada The Green Horizon nos EUA/ 1981 (Sanrio Communications), como veterano das regiões selvagens da África, que detesta cidades e adora animais.
Este último filme foi o projeto mais bizarro da carreira de Stewart e marcou sua derradeira aparição na tela grande, não se contando o uso de sua voz para o personagem do xerife Wylie Burp, uma década depois, no desenho animado Um Conto Americano: Fievel Vai Para o Oeste / An American Tail: Fievel Goes West.
Em outubro de 1980, em visita ao Rio de Janeiro, para promover o relançamento de quatro filmes de Alfred Hitchock, James Stewart concedeu entrevista coletiva à Imprensa. Nesta ocasião, tive oportunidade de lhe fazer algumas perguntas e, no final, entreguei-lhe uma foto de Janela Indiscreta, pedindo seu autógrafo. Ele colocou sua assinatura no ombro de Grace Kelly, e se desculpou, com aquela voz calma e pousada que todos nós conhecemos: “I hate to do this with Grace”.
Stewart nos cativou a todos pela sua simplicidade e honestidade, ao relatar fatos de sua vida particular e profissional, deixando bem claro sua admiração pelo sistema de estúdio, que lhe permitiu aprender seu ofício com os melhores diretores e técnicos da indústria.
Entre outras homenagens, Stewart recebeu o Life-Achievement Award do American Film Institute em 1980, um Oscar especial “por 50 anos de desempenhos memoráveis, por seus nobres ideais, ambos dentro e fora da tela em 1985” e a Presidential Medal of Freedom, a honraria mais alta da nação americana concedida a um cidadão que não é militar.
Excelente matéria sobre um grande ator.james Stewart sempre será lembrado pela sua simpatia e su simplicidade.
Obrigado pela visita Expedito. Dê uma olhada de novo no post, pois acrescentei várias fotos.
Saudações Mestre A.C.
Magnífico documentário sobre uma das grandes legendas não somente de Hollywood, mas de toda a cinematografia mundial. Muito pouco a dizer a respeito deste grande astro que legou grandes trabalhos e atuou para diversos cineastas. De parágrafo a parágrafo, não tem como não se emocionar com sua trajetória de vida. Obrigado A.C por nos presentear com a vida e a obra deste grande artista, que em vida também foi um verdadeiro espírito superior, de hombridade e caráter inigualáveis.
Abraços deste admirador
Paulo Telles
Blog Filmes Antigos Club
http://articlesfilmesantigosclub.blogspot.com.br/
PS- E minhas congratulações por vc estar perto deste grande ídolo e ainda conseguir um autógrafo. Respeitosamente, o invejo, meu amigo!
Abraços
Paulo Telles
Blog Filmes Antigos Club – A Nostalgia do Cinema
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Olá Paulo. Obrigado pela visita e comentário.Oseu filmesantigos club merece todo o meu respeito. Um forte abraço.
Foi uma grande emoção poder apertar a mão (enorme) daquele artista que tanto aprecio.Fiz-lhe algumas perguntas que o deixaram espantado (como é que você soube disto?, ele me indagou) como, por exemplo, o fato dele ter feito um filme no Japão e o protesto que sofreu por parte de uma senadora com relação à sua promoção na Aeronáutica. Perguntei-lhe ainda o que ele achava de trabalhar com Hitchock e da declaração do mestre de que os atores eram gado. Ele me disse que fez a mesma pergunta a Hitchcock e recebeu uma resposta que tinha a ver mais com o processo de trabalho do cineasta. Ao comentar os métodos diretoriais de Hitch, ele contou que, quando este queria que ele falasse mais depressa, mostrava-lhe os rushes de determina cena, e lhe dizia:”Olhe lá Jim, a tela está cansada!”.